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Afinal, a mulher pode ou deve usar véu? (José Carlos Jacintho de Campos)

Está se tornando usual, em nossos dias, a aplicação indevida dos verbos poder e dever. Conforme a conveniência ou ponto de vista que se queira defender, dissimuladamente fazem a substituição desses verbos em artigos ou comentários bíblicos que passam desapercebidos pelos menos atentos, gerando costumes ou tradição ao arrepio da sã doutrina.

O verbo poder representa a faculdade ou possibilidade de fazermos alguma coisa de acordo com o nosso livre-arbítrio. Tanto é verdade que esse verbo não é conjugável no modo imperativo. Já o verbo dever tem o significado absoluto de ter a obrigação de fazer-se aquilo que está determinado ou sugerido.

Para exemplificar: podemos cometer pecado? Sim, porque isso faz parte da influência carnal que possuímos, está dentro da nossa capacidade física ou mental; por isso pecamos e diariamente temos de confessar nossos pecados a Deus (1Jo 1.8-10). Por outro lado, devemos viver assiduamente no pecado? Claro que não, pois isto está claramente determinado na Palavra de Deus que não devemos permanecer no pecado, tendo em vista que é nisto que se diferenciam os filhos de Deus e os filhos do diabo (1Jo 3.9,10). Portanto, nem tudo que se pode fazer é o que deve ser feito, sob pena de estarmos pecando e nos identificando com os desobedientes a Deus.

Ninguém, em sã consciência, discordará da afirmação de Paulo que os maridos devem amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja a ponto de se entregar por ela (Ef 5.22-33). Sabiamente, as mulheres dão grande ênfase a esta passagem, tendo em vista que a elas é determinado que sejam submissas ao marido, como ao Senhor, logo a recíproca tem de ser verdadeira, ou seja, as mulheres se submetem por obediência ao Senhor e, em nome dessa mesma obediência, o marido lhes deve amor na mesma plenitude que Cristo amou a Sua Igreja.

Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.

O que causa estranheza é que o mesmo vernáculo – deve – usado em Efésios 5.28, que, no original grego, denota uma inquestionável obrigação moral, não é aceito, principalmente pelas mulheres, em 1Coríntios 11.10, que afirma que a mulher deve trazer um sinal de submissão ou autoridade em sua cabeça por causa dos anjos. Nesta passagem o verbo está conjugado no modo imperativo afirmativo, que não deixa nenhuma dúvida quanto à ordem nele contida. Como é possível o mesmo verbo ter sentidos diferentes em Efésios 5.28 e em 1Coríntios 11.10? Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.

É impressionante como muitas pessoas têm gasto um precioso tempo levantando argumentos, até mesmo absurdos, para justificar o descumprimento da determinação bíblica que a mulher deve cobrir a cabeça nas reuniões da igreja. Esses argumentos geram uma confusão tamanha que faz com que as lideranças de algumas igrejas locais deixem o uso do véu a critério pessoal de cada irmã, como se houvesse duas verdades na Bíblia.

A isto chamamos de a Síndrome de Pilatos, ou seja, conhece-se a verdade, porém é “politicamente correto” não a aplicar; com isso, “lavam-se as mãos” jogando a responsabilidade da decisão sobre as mulheres. Esse procedimento, de não assumir responsabilidades, foi utilizado por Pilatos para encaminhar Jesus Cristo para a morte. Por definição: responsabilidade não se transfere, assume-se para não se tornar um irresponsável.

Creio ser oportuno avaliarmos alguns dos argumentos apresentados por aqueles que procuram justificar a desobediência do não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas realizadas pela igreja local.

O Argumento Restritivo

“O assunto era específico à igreja em Corinto.”

Os que assim argumentam se estribam no erro de que a Primeira Epístola aos Coríntios se prende obstinadamente a fatos locais; logo, o uso do véu pelas mulheres seria específico para aquela igreja local.

Sem dúvida, essa afirmação é absurda, pois é claríssima a universalidade da epístola: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome do Senhor Jesus, Senhor deles e nosso” (1.2). Será por demais pretensioso afirmar que os males que afligiam aquela igreja jamais ocorreriam em outras. O Espírito Santo orientou Paulo nesse sentido a fim de que as demais igrejas aprendessem com os erros cometidos por aqueles irmãos e evitassem os mesmos procedimentos.

Sabemos que, apesar dessas admoestações, esses erros não deixaram de ser praticados, pois, ainda hoje, cometem-se os mesmos pecados apesar das advertências contidas nesta carta. Dizer-se que assuntos correlatos à ordem nos cultos, à participação na ceia, ao ordenamento dos dons espirituais, à sublimidade do amor, à ressurreição dos mortos e aos assuntos pertinentes à coleta seriam específicos à igreja em Corinto é, no mínimo, por desconhecimento bíblico, pois, se for de caso pensado, é má-fé.

O Argumento Cultural

“O uso do véu era um costume social da época em Corinto.”

Pelo fato de Paulo fazer uma referência quanto ao costume social do tamanho do cabelo a ser usado por homens e mulheres (1Co 11.14,15), isto não significa que ele estivesse fazendo o mesmo com o véu.

A comparação é uma figura de linguagem que facilita o ensino ou a explicação sobre determinado aspecto. Um quilo de ilustração vale por uma tonelada de explicações, porém, quando o espírito farisaico prevalece não há ilustração que dê jeito. Lembremo-nos das parábolas de Cristo e a rebeldia dos judeus.

Se a afirmação que o uso do véu para as mulheres é coisa do passado e era aplicado somente naqueles dias, isto vale dizer que o inverso também é verdadeiro, ou seja, os homens de hoje deveriam orar com a cabeça coberta, pois Paulo teria determinado somente para aquela época que o homem devia, ao contrário das mulheres, orar com a cabeça descoberta (v. 4). Teriam, porventura, os homens de hoje de usar o “tallith” (um xale de quatro pontas) sobre a cabeça como faziam e fazem atualmente os judeus que oram com a cabeça coberta nas sinagogas, tendo em vista que o costume da cabeça descoberta seria somente para aquela época?

Percebam o absurdo dessa interpretação! Se não bastasse isso, se o uso fosse válido somente para aquela época, isto equivale dizer que hoje em dia os anjos do Senhor não mais estariam ao redor daqueles que O temem. O verso 10 de 1Coríntios 11 é claríssimo: a mulher deve trazer a cabeça coberta por causa dos anjos. Ensinar que a mulher não deve usar véu é o mesmo que dizer que os anjos não existem ou não atuam mais!

O escritor de Hebreus não deixa dúvida quanto ao ministério dos anjos junto à igreja: “São todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Os anjos do Senhor não podem contemplar a desobediência das servas, pois o uso do véu pela mulher é um sinal da sua submissão, assim como eles são submissos e se cobrem com suas asas ao comparecerem perante o Trono de Deus (Is 6.2).

Com base nesse mesmo trecho de Isaías 6.2, há afirmações incorretas de que o homem também deveria cobrir a cabeça em suas orações a Deus. A Palavra de Deus é claríssima a esse respeito: “Na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus” (1Co 11.7).

É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância!

Convém ressaltar que o citado verso 10 de 1Coríntios 11 contém uma profunda sabedoria. O vernáculo grego exousia significa “o direito de fazer alguma coisa”, ou seja, a cabeça coberta da mulher lhe outorga autoridade para orar, adorar e exercer os seus dons espirituais e, com essa atitude, ela se legitima perante os anjos e concomitantemente perante a igreja, conforme os versos 13 e 16 de 1Coríntios 11. Portanto, fica extremamente claro que essa legitimidade é manifestada pelo véu que a mulher trouxer na sua cabeça, pois o exercício da sua autoridade está sendo demonstrado pelo sinal da sua submissão. Isto é sabedoria de Deus!

É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância! Submissão não é sinônimo de inferioridade. Jesus sujeitou-se ao Pai, porém jamais Lhe foi inferior porque Ele – assim como o Pai – é Deus. Jesus deixou claro isso ao afirmar que, enquanto Ele aqui estivesse, o Pai seria maior e não melhor que Ele. Isto diferencia sujeição de inferioridade (Jo 10.30; 17.11,21-23). Qualquer outra interpretação fica por conta do inimigo de nossa alma.

O Argumento da Substituição

“O cabelo comprido substitui o uso do véu na igreja.”

Jamais Paulo fez tal afirmação. O uso da figura de linguagem do cabelo comprido das mulheres, que para elas era uma glória, pois a cabeleira lhes fora dada em lugar da mantilha (1Co 11.15), é uma explicação à sua própria indagação. “Julgai entre vós mesmos: é conveniente que uma mulher ore com a cabeça descoberta a Deus?” (v. 13). Essa figura de linguagem em hipótese nenhuma anula a obrigatoriedade do cumprimento do verso 10.

É erro grotesco afirmar-se que o cabelo comprido do verso 15 substitui o véu do verso 6, pois os vernáculos usados no original grego para essas vestimentas não são os mesmos; ou seja, no verso 6 trata-se realmente de um véu, peça de tecido mais leve, e, no verso 15, de mantilha, vestimenta feminina mais pesada.

Aprendemos em hermenêutica que, em nenhuma hipótese, devemos fixar uma doutrina ou norma tendo como base uma figura de linguagem, pois ela serve somente para ilustrar. Aquilo que está sendo ilustrado é que deverá prevalecer.

O Argumento da Ausência

“Se não houver varão presente às reuniões, a mulher pode orar sem véu.”

Outra afirmação improcedente. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? A mulher não usa véu por causa do homem, mas por causa dos anjos, como sinal da sua autoridade e submissão à ordenança contida na Palavra de Deus. Os versos 5 e 6 de 1Coríntios 11 são extremamente claros: “Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também; se, porém, para a mulher é vergonhoso ser tosquiada ou rapada, cubra-se de véu.”

Paulo ilustra a cabeça descoberta com a punição que era dada às mulheres devassas [rapar o cabelo]. O Espírito Santo levou Paulo a ser extremamente enérgico nessas colocações. De fato, ele está afirmando que seria vergonhoso para a mulher orar com a cabeça descoberta porque, desta forma, estaria se colocando no mesmo nível daquelas que, por viverem no pecado, eram excluídos da sociedade.

O Argumento Indecoroso

“Paulo não gostava de mulher.”

Sem dúvida, essa afirmação vem do inferno. O movimento feminista infiltrado em algumas igrejas denominacionais tem lançado essa leviandade, com a maldosa insinuação de que Paulo era casto por não gostar de mulher.

Quanta maldade somente para justificar o uso do púlpito e o não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas da igreja local! As revelações contidas na Palavra de Deus não são de entendimento humano, mas por inspiração do Espírito Santo. Paulo afirma em 2Timóteo 3.16: “Toda Escritura é divinamente inspirada”. Pedro reafirma em 1Pedro 1.20.21: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.”

Portanto, quem manda as mulheres se cobrirem nas reuniões públicas da igreja com o véu não é Paulo, mas o Espírito Santo que é de Deus. A maledicência lançada contra Paulo é indecente, pois ele jamais se desagradou das mulheres ou as menosprezou, como ele mesmo escreve em Gálatas 3.28: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois de Cristo Jesus.”

Propositadamente as feministas se esquecem da menção que Paulo faz em suas epístolas às valorosas e dedicadas servas que, como ele, gastaram a vida em prol do Evangelho, e que, por certo, oravam com a cabeça coberta. É torpeza colocar dúvida sobre a masculinidade de Paulo pelo fato de ele praticar a castidade (1Co 7.7-9). Por trás de toda essa desavença criada pelas feministas em torno do uso do véu, está o velado descontentamento das mulheres em usá-lo por entenderem que Paulo teria sido extremamente injusto com elas na medida em que as colocou em sujeição ao homem. Essa idéia é absurdamente errada! A sujeição da mulher ao homem vem desde a criação, e não se trata de uma “invenção” de Paulo, mas é uma determinação de Deus.

Desde o princípio da criação a liderança do homem e a sujeição da mulher são determinadas por Deus, tendo em vista que o homem é a imagem e glória de Deus e a mulher, a glória do homem (11.7). O homem foi colocado no mundo como representante de Deus para exercer domínio sobre a terra e a sua cabeça descoberta é um testemunho silencioso desse fato.

Portanto, o homem não deve cobrir a cabeça, pois tal ato seria um grande insulto a Deus porque estaria cobrindo a Sua glória. À mulher nunca foi dada essa liderança. Deus a colocou como ajudadora do homem. O diabo, em sua astúcia, induziu Eva a usurpar a liderança que pertencia a Adão na medida em que ela, sozinha, decidiu manter aquele fatídico diálogo. Por isso, Deus determinou à mulher: “Ele [o homem] te dominará” (Gn 3.16). Eliminar essa sujeição é coisa do diabo; desde o princípio ele persiste nisso.

O Argumento do Paradigma

“Nas igrejas denominacionais históricas as mulheres não usam véu.”

Se somos como somos é porque entendemos que assim devemos ser como igreja de Cristo que somos; ou seja: se nos reunimos dessa forma é porque cremos que devemos ter por modelo a igreja primitiva, que é algo sobremodo difícil em nossos dias em virtude das muitas tradições que foram criadas no meio tido como evangélico.

Assim como ocorreu no judaísmo e no catolicismo, o protestantismo se tem conduzido mais pelas tradições humanas do que propriamente pelas revelações contidas na Palavra de Deus. Amamos os irmãos denominacionais, porém, se nos reunimos procurando o padrão autêntico das igrejas neo-testamentárias, isso significa que não devemos aceitar tradições humanas misturadas ao ajuntamento solene.

As mesmas vozes que evocam o costume das denominacionais históricas para o não uso do véu pelas mulheres são as mesmas que não concordam, dentre tantas outras coisas, com a diferenciação que é feita entre o clérigo e o leigo cujo princípio eclesiástico nega, de fato, a unidade de todos os crentes. O vocacionamento clerical é estranho aos ensinamentos contidos na Palavra de Deus, pois “como pedras vivas, somos edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pe 2.5). Portanto, todos os cristãos nascidos espiritualmente de novo possuem o mesmo sacerdócio.

Que diremos, então, acerca de distorções doutrinárias? Por que, então, somente determinada prática nos serve, como o não uso do véu, e não há concordância em relação às demais? Não seria uma hipocrisia pensarmos dessa forma, ou seja, naquilo que atende aos anseios das mulheres as tradições das igrejas denominacionais devem ser seguidas? Creio que Paulo nos dá essa resposta em 1Coríntios 11.16: “Se alguém quiser ser contencioso [ao permitir que a mulher ore sem véu], nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus.”

O Argumento Doutrinário

“A obrigatoriedade do uso do véu não é um ponto doutrinário por estar revelado em apenas uma passagem da Palavra de Deus.”

É sobremodo estranho o ensino que surgiu em nosso meio de que uma doutrina bíblica somente é válida quando existe no mínimo mais de uma passagem que confirme a sua condição como tal.

O nosso assunto aqui não é o de abrir um debate sobre hermenêutica, porém, se essa afirmação fosse verdadeira, a maioria das citações escatológicas não seria doutrinária. Basta lermos o Apocalipse e veremos que grande parte dos assuntos nele contidos estão revelados somente lá; ou ainda, não poderemos afirmar que os mortos não serão arrebatados antes dos vivos simplesmente pelo fato de isso estar revelado apenas em 1Tessalonicenses 4.15-17.

É impressionante como se inventa tanto por causa de algo tão simples que é o uso do véu pelas mulheres.

O Argumento da Concorrência

“O tamanho e a cor do véu promovem um desfile de moda na igreja.”

Por último, justifica-se o não-uso do véu pelo fato de que poderá haver entre as mulheres uma concorrência ou desfile de moda pela multiplicidade de cores e tamanhos dos véus. Justificar que o uso do véu criaria uma disputa de moda entre as irmãs é uma afirmação temerária. Os vestidos, as calças compridas (por vezes coladas ao corpo), as saias (por vezes curtas demais), as bluas, os sapatos, as meias, os brincos, os anéis, os colares, os esmaltes, os batons, etc. não causam concorrência, mas o véu promoverá isso?! Não devemos subestimar a Deus dessa forma, pois é o Espírito Santo que determina o uso do véu.

Quanto ao tamanho gerar um modismo, pelo fato de que, quanto menor o véu, mais elegante a mulher fica, particularmente pode-se entender que se é ruim usar um véu pequeno, pior será não usar nenhum. Porém, é verdadeiro que está havendo um abuso em nossos dias pelo uso de véus minúsculos, que os descaracterizam como a cobertura estabelecida na Palavra de Deus.

Pelo fato do seu tamanho não ser determinado explicitamente no citado trecho, isto não significa que qualquer coisa que se coloca sobre a cabeça estaria cumprindo com a divina determinação. Convém lembrar que o uso do véu ordenado por Deus não é uma mera vestimenta, mas um sinal (1Co 11.10) e, por inferência, sabemos que qualquer que seja um sinal, ele somente atinge seu objetivo na medida que revela nitidamente aquilo que ele se propôs mostrar.

A prudência e a moderação são virtudes recomendadas para cercear qualquer tipo de exagero tanto para mais como para menos, pois há que se ter acentuado cuidado com as posições extremistas.

Segundo o consagrado servo do Senhor William MacDonald (The Believer’s Bible Comentary), “o véu somente é válido quando o seu uso exterioriza a graça interior da mulher. A coisa mais importante no uso do véu deve ser a certeza de que o coração está realmente submisso: o véu sobre a cabeça das mulheres possui esse real significado (…)”.

Portanto, o tamanho e a cor não são coisas fundamentais; o que verdadeiramente importa é a sujeição das mulheres às determinações contidas na Palavra de Deus. As cores e tamanhos serão adequados por elas próprias segundo a graça que interiormente possuem pela habitação do Espírito Santo.

Isto equivale dizer que o não-uso do véu significa a inexistência de reverência e temor a Deus, e é uma questão definitiva e incontestável na Palavra de Deus. A recusa ou omissão das mulheres com respeito ao uso do véu nas reuniões públicas da igreja são demonstrações de rebeldia a Deus. As vozes discordantes são por conta de interpretações de particular elucidação, não por revelação divina.

Que diremos, pois, à vista destes argumentos? Atentemos para o convite de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1Co 11.1). Permita Deus que assim seja!

 

(Extraído de um xerox desse artigo na revista Amados…, 32, sem identificação de editora ou de local de publicação. Se alguém conhecer os detentores dos direitos autorais desse texto ou se a revista ainda é publicada, favor entrar em contato.)

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Vida cristã Watchman Nee

Vivendo pela vida de Deus (Watchman Nee)

A. Vivendo pela Vontade do Homem ou pela Vida de Deus

“Constituído, não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder da vida indissolúvel”. (Hb 7:16)

“Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno”. (Ap 1:17,18)

“Ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; por quanto não era possível fosse ele retido por ela”. (At 2:24)

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt 26:41)

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim; ainda que morra viverá”. (Jo 11:25)

“Para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte”. (Fp 3:10)

“E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais”. (Ef 1:19-20)

“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. (Cl 1:29)

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado”. (Rm 7:14)

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e, sim em Deus que ressuscita os mortos”. (II Co 1:8-9)

“Então ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. (II Co 12:9a)

“Posto que buscais prova de que em mim Cristo fala, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso em vós”. (II Co 13:3)

Muitas pessoas estão vivendo pela vontade própria, e não pela vida de Deus. Eles são cristãos porque decidiram sê-lo. Decidiram por sua vontade. Eles querem santificação e estão determinados a obtê-la. Resolveram experimentar vitória em suas vidas. Por melhor que isso possa parecer, estas pessoas estão vivendo pela sua vontade. Suas vidas estão totalmente dentro da esfera de suas vontades. Semelhantemente, muita obra cristã é realizada também nesta esfera.

Você deveria ser um bom cristão, deveria ter vitória, e deveria ser cheio com o Espírito. Mas o máximo que consegue alcançar é somente desejar isso. “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41b). “Pois o querer fazer o bem está em mim; não, porém o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:18b – 19). O desejo da vontade não pode lhe dar o poder de fazê-lo, pois a carne é mais forte.

Aquele que confia na vontade certamente será derrotado. A vontade é muito fraca; ela não pode levar alguém a ser vitorioso. Ela somente consegue funcionar à medida em que algo a move ou empurra. Esta não é a vida de Cristo; é a vida da vontade. Ela está destinada à derrota.

A vida de Cristo, no entanto, está acima do plano da vontade. A Sua vida nos ampara; nos leva consigo e nos conduz naturalmente. Nós nada fazemos; Ele tudo faz. Sua vida flui e transborda sobre a vontade e as circunstâncias. Não lutamos nem nos esforçamos para trilhar o caminho. Ele simplesmente nos carrega consigo, em Seus braços.

Em relação à nossa fraqueza física, a mesma regra se aplica. Não podemos nos forçar a vencer nossas fraquezas ou a viver acima delas.. A vida de Cristo, porém, simplesmente flui e nos carrega consigo. Não precisamos nos reanimar e prosseguir, pois Cristo o faz por nós. Como descrito em II Coríntios 1:8-9, Paulo estava em completo desânimo tanto interna quanto externamente. Ele estava verdadeiramente em uma condição desesperadora, onde acabara-se toda a esperança. Então ele declarou que confiava na vida de ressurreição do nosso Senhor Jesus. Apenas a vida não é suficiente, é necessária a vida de ressurreição. Enquanto Romanos 7 nos mostra que a vontade é impotente – pois ela não consegue nos levar à vitória, Romanos 8 nos fala que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus nos livrou da lei do pecado e da morte” (v. 2).

B. Vivendo pela Sabedoria Humana ou pela Vida de Deus
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas na graça divina, temos vivido no mundo, e mais especialmente para convosco”. (II Co 1:12)

“Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência; os egípcios, quando te virem, vão dizer: É mulher dele, e me matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que me considerem por amor a ti e, por tua causa, me conservem a vida”. (Gn 12:11-13)

“Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar, sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos, e o argüiram nestes termos: Dize-nos: Com que autoridade fazes estas cousas? ou quem te deu esta autoridade? Respondeu-lhes: Também vos farei uma pergunta; dizei-me: O batismo de João era dos céus ou dos homens? Então eles arrazoavam entre si: Se dissermos: Do céu, ele dirá: Porque não acreditastes nele? Mas se dissermos: Dos homens, o povo todo nos apedrejará; porque está convicto de ser João um profeta. Por fim disseram que não sabiam. Então Jesus lhes replicou: Pois nem eu vos digo com que autoridade faço estas cousas”. (Lc 20:1-8)

“Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e sim, a vontade daquele que me enviou”. (Jo 6:36)

Vimos que não é pela vontade do homem que vivemos. Agora veremos que também não é a sabedoria humana o princípio que governa a vida. Todo aquele que age baseado em sua sagacidade está no caminho errado. A única pergunta que deveríamos fazer é: “Qual é a vontade de Deus?” Não permitamos de modo algum que nossa esperteza se envolva nisso. Você teme dificuldades ou problemas? Se teme, a sagacidade ou a sabedoria humana imediatamente aparecem. Você busca a gloria dos homens? Se busca, então a sagacidade se introduz rapidamente.

No entanto, se o seu desejo é seguir somente a vontade de Deus (após esta lhe ter sido mostrada), então você não será afetado pelas críticas dos homens. Atenha-se apenas à vontade de Deus. Não se importe com o que o mundo pensa; nem considere que conseqüências podem haver.

Não confie na vontade ou sabedoria humana; confie apenas na graça de Deus. Quando você cometer um erro grave, e estiver em dificuldades, simplesmente clame a Deus: “Senhor, tem misericórdia de mim e ajuda-me.” Não tente se desembaraçar com mais manobras, mas lance-se sobre a misericórdia de Deus. Ele dispersará as nuvens e o livrará.

Aqueles que são brilhantes são os que se metem em mais problemas, por que confiam em sua sabedoria. Pessoas que são bem menos brilhantes têm poucos problemas, na medida em que confiam somente em Deus. Porém, onde há sagacidade, sempre haverá desonestidade, engano e pecado. Pesar a questão olhar seus vários ângulos, calcular o que pode acontecer se dissermos ou fizermos isto ou aquilo – tudo isso é sagacidade. Todavia, para o cristão isso é pecado. Deus não permitirá que você aja de acordo com sua própria forma de pensar e, sim, segundo Sua vontade. Algumas vezes você pode sentir como se estivesse caminhando diretamente contra algo pavoroso, mas se esta for Sua vontade e o Seu caminho, então não tente discutir, mas simplesmente obedeça, com a fé de uma criança.

C. A Lei do Espírito da Vida
“Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”. (Rm 7:22-23)

“Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto ao que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando a seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado. A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Rm 8:2-4)

O homem apresentado em Romanos 7 vive pela sua vontade. Toda a sua vida e conduta são controladas por ele mesmo. Embora sua vontade possa ser boa, sua conduta é má. Ele se conforta dizendo, “eu anseio por Deus; minha vontade é dEle; eu odeio o pecado, não desejo fazer nada errado; desejo a vontade de Deus e quero glorificá-Lo em todas as coisas”. Contudo, isso é o máximo que essa pessoa pode fazer. Ele não viu que tudo isso está na esfera da vontade. Por esta razão, ele continua debaixo da lei. O poder da sua vontade se torna o único poder da sua vida; sendo assim, ele não é capaz de sair da fraqueza para a consecução.

Muitos cristãos controlam-se bem. Eles mantêm um forte domínio sobre si. Estão determinados a não pecar, nem a ofender os outros.. Com força eles se seguram, refreiam e controlam, querendo fazer de si mesmos pessoas que agem de determinada maneira e falam com um certo tom de voz, que eles aprovam. Eles, portanto, forçam a si mesmos a fazer o que não querem e se reprimem sob o poder da vontade. Mas tudo isso não passa da lei, a lei da vontade natural. Contudo, Romanos 8:2 nos diz que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte.” Se alguém não tem experimentado isso, ou é porque não nasceu de novo ou porque não foi bem instruído no evangelho pleno de Jesus Cristo. Ele conhece apenas um evangelho imperfeito, ou então não crê realmente na Palavra de Deus, por falta de revelação.

Como a lei do Espírito da vida vence a lei do pecado e da morte? No momento em que você é salvo, você sabe o que deve fazer. Você não precisa pesar e raciocinar para saber se uma palavra ou atitude é correta ou não. Há algo dentro de você que lhe diz tudo. Portanto, não é uma questão de saber, mas sim de obedecer ou não a essa voz interior, essa luz interior. A lei do Espírito da vida está operando dentro de você o tempo todo, mas pode ser que você não tenha aprendido a obedecê-la. A forma com que esta lei vence a outra é simples, natural, sem esforços. Ao reconhecer e crer nesta lei da vida que está operando em seu interior, você simplesmente eleva sues olhos e diz ao Senhor: “Senhor, eu não posso; mas Tu podes”. Isso é tudo o que você tem que fazer. Não é uma questão de tentar, mas de reconhecer esta vida em você, a qual é Cristo. Você apenas a observa viver, fluir e operar naturalmente sem esforço algum.

Imagine que você seja convidado para ir a uma casa onde, no passado, você sempre falava de maneira carnal e fazia coisas que não glorificavam ao Senhor. Será que você precisa se preparar orando muito sobre esse assunto, decidindo não repetir o que dizia ou fazia antes, e clamando ao Senhor para ajudá-lo? Não, você simplesmente crê que há uma nova lei operando em você – a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus. E esta lei o libertará. Descanse no poder da lei da vida. Não fique tentando, nem fique ansioso. Apenas confie totalmente nesta vida, nessa lei. E se você se esquecer, o Espírito o lembrará, pois isto é Sua responsabilidade. A lei opera naturalmente e sem esforço. Confie Nele com uma fé de criança, livre dos esforços, das lutas ou do empenho da vontade.

Será que essa lei espontânea está operando em você? Será que tem fluido de você, sem esforço, uma vida simples e espontânea?

D. Deixe de Tentar
“Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé” (Mt 6:26-30)

“Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. (Rm 8:1)

Há uma nova lei operando em nós que é maior que a lei antiga. Creia nesta nova lei. Creia que ela está operando, e que continuará a operar. Simplesmente siga essa lei. É assim que os cristãos vivem.

As pessoas não salvas, por outro lado, precisam controlar-se. Elas precisam refrear e ordenar as suas vidas pelas suas vontades. Os salvos, no entanto, podem soltar-se. Eles podem abandonar todo esforço próprio e desistir de tentar e lutar com suas vontades. Eles se renderão nas mãos de Deus. Deixe de tentar e deixe Deus agir.

E. A Palavra de Deus é Viva
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. (Hb 4:12)

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. (Sl 139:23-24)

“A revelação das tuas palavras esclarece, e dá entendimento aos simples”. (Sl 119:130)

“Mas todas as cousas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz”. (Ef 5:13)

“Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva”. (Gn 23:30)

“A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens”. (Jo 1:4)

Como vamos saber que parte de nossos pensamentos ou decisões é de Deus e que parte é nossa? Algumas vezes há apenas uma diferença mínima e conseqüentemente descobrimos que não podemos diferenciá-las. Podemos nos perguntar: “Isso sou eu, ou é o Senhor, em mim? Isso procede do meu espírito ou da minha alma?” Tentamos dissecar nossos pensamentos, palavras e ações a fim de saber qual parte é natural e qual é espiritual. Esta é uma tarefa extremamente difícil, e ficamos desesperados quando tentamos fazer a discriminação.

Tentar fazer isso é fatal. Somente resulta em perplexidade e hesitação. Nada é exato ou firme; é como estar sempre num labirinto ou em um nevoeiro. Toda essa abordagem, porém, está errada. Deus nunca nos disse que podemos distinguir dentro de nós o que é alma e o que é espírito. Tal abordagem está errada e a pessoa que tenta fazê-la também estará errado. Deus nunca quis que fizéssemos isso, porque se olharmos para dentro de nós mesmo, só veremos trevas. Examinar-se a si mesmo a esse respeito nunca nos levará a achar luz. Pois tudo é escuridão dentro em nós. Seguir este caminho não nos levará a lugar algum. É um beco sem saída. Portanto precisamos parar com essa prática.

“A palavra de Deus é viva e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Quando dizemos ou sentimos que estamos certos ou errados, o ponto fundamental é: Como sabemos? De onde veio a luz – ou seja, o conhecimento de que isso ou aquilo está certo ou errado? De dentro de nós ou da palavra de Deus? Houve revelação? Tem que haver revelação ou luz baseada na Palavra de Deus para que possamos realmente ver. No momento em que o Espírito Santo envia luz sobre a Palavra de Deus, vemos e sabemos.

Devemos ter a luz que mata. Sob tal luz vemos que tudo o que é nosso está centralizado na alma. Portanto precisamos de revelação, porque ela mata e realiza a obra. Deus não opera de outra maneira à parte da revelação. Obter revelação é suficiente, pois a obra então é realizada. No momento em que a recebemos e nos vemos como Deus nos vê, somos enfraquecidos e nossa vida da alma morre. A luz que vem da revelação traz consigo o poder; ou melhor, ela mesma é o poder. Sendo assim, tudo depende de revelação. Depois que a recebemos nada mais resta para Deus fazer. Não há um segundo passo a tomar – a revelação é a chave de tudo.

Em Peniel, Jacó disse: “Vi a Deus face a face.” Esse é o local de revelação. Não apenas uma experiência, é estar face a face com o próprio Deus. Não é meramente uma operação de Deus, é a própria Luz. A luz mata, mas melhor ainda, a luz purifica. A única razão para não termos luz é não termos lugar para ela. Fechamos a porta. Estamos fechados para a luz. Ore para que possamos estar abertos a ela. Não obteremos luz até que estejamos abertos para ela. E quando a luz vem, ela mata. Portanto, após recebermos a luz, não mais devemos olhar para dentro de nós e nos perguntar se estamos certos ou errados, se é da alma ou do espírito. Somente ore: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”

Você deve aprender a se abrir. Não engane a si mesmo, nem seja soberbo. Seja humilde e aprenda a ser sincero. Muitas vezes não somos sinceros para com Deus e com Sua Palavra. Algumas vezes a luz vem devagar, pouco a pouco. Mas quando ela vier, renda-se a ela. Ande mansamente com temor e tremor. Lide com o eu até o limite máximo, ou melhor, deixe o Espírito Santo lidar com você sem restrições. A razão pela qual somos carentes de discernimento em relação às situações de outros é porque não permitimos que Deus nos dê luz com respeito a nós mesmos. Precisamos primeiro discernir nosso próprio eu. Então poderemos ajudar outros a ver.

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Vida cristã Watchman Nee

Vida nas profundezas (Watchman Nee)

Leitura da Bíblia: Mc 4:5-6, 16-17; Os 14:5-7; Ct 4:12.

A partir das três passagens acima, podemos refletir sobre que tipo de viver entre os cristãos agrada a Deus, que tipo de viver e perseverante e imutável, e que tipo de viver pode sobreviver aos infortúnios e suportar testes. Por que alguns cristãos no inicio de sua experiência parecem tão brilhantes, mas depois de algum tempo não se pode encontrá-los? Por que é que alguns desistem na metade do caminho durante sua peregrinação? Por que é que alguns não conseguem seguir o Senhor ate o fim? Isto tem um relacionamento muito íntimo com o modo como vivem. Se um cristão não tem vida normal, ele e inseguro e é fácil desistir. Portanto, não devemos negligenciar esta questão.

UMA VIDA SUPERFICIAL

Marcos 4:5-6 diz: “Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o Sol a queimou; e porque não tinha raiz, secou-se”. Esta e uma das parábolas do Senhor Jesus sobre a semeadura de sementes. Nos versículos 16-17, o Senhor explica aos discípulos esta parábola: “Semelhantemente São estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo antes de pouca duração; em lhes chegando a angustia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”. Pela explicação do Senhor, vemos que esta e uma vida superficial que não pode suportar ou resistir ao teste das provações. Este tipo de vida aparentemente tem um bom começo, mas acaba miseravelmente. De acordo com este fenômeno, é algo que “logo nasceu”. Assim que brotou, obviamente a casca exterior da semente rompeu-se, e ela germinou. Isto quer dizer: a palavra não e mais simples doutrina para esta pessoa, mas foi transformada em vida. Como germinou e germinou rapidamente, igualmente, é como se o desenvolvimento fosse tão rápido e o progresso tão maravilhoso que ela tem razão de sentir-se satisfeita. Contudo, o fim é decepcionante, porque quando o sol está alto, ela é queimada e seca. Ela é a mais rápida para germinar, bem como para secar. Brotos que não podem resistir ao calor do sol têm pouca esperança de amadurecer e estão sujeitos a secar muito cedo. A condição da vida de muitos cristãos e exatamente assim. Muitos cristãos, imediatamente após ouvirem a palavra, prontamente a recebem com alegria sob a ilusão de que obtiveram tudo, entenderam tudo, estão preparados para pagar qualquer preço, e estão prontos para andar em qualquer caminho. Diante de Deus, eles têm a vontade e a consagração; diante dos homens, eles dão testemunho e são bastante zelosos. Contudo, quando menos esperam, quando lhes sobrevém alguma provação, eles logo começam a ficar abalados, sentem-se um tanto desanimados, acham insuportável, fogem diante do medo e, inevitavelmente, caem.

Irmãos e irmãs, para nós que já somos cristãos, o queimar do sol e indispensável porque ajuda nosso crescimento e auxilia nosso amadurecimento. Se você não pode manter-se em pé, e cai assim que encontra o calor do sol, isto indica quão superficial você é. o queimar do sol apenas exporá sua verdadeira condição; ele não roubará o que você realmente possui. É possível que a Palavra de Deus seja incapaz de suportar o queimar do sol? Não. O problema é como a Palavra de Deus é recebida. Por que ela germinou imediatamente, e secou assim que foi exposta ao calor do sol? Qual é a causa? Na Palavra do Senhor, podemos ver três razões para isto.

Primeira razão: Superficialidade do solo

A primeira razão é a superficialidade do solo. Isto significa que não há terreno e conseqüentemente nenhuma profundidade. Um cristão cujo solo é superficial nada tem interiormente. Quando tal pessoa ouve a palavra, toda frase parece ser prontamente recebida e bem compreendida. Ele está apto para transmiti-la a outras pessoas e pronto a dar testemunho diante delas. É tão fácil tal pessoa perder a verdade que ouviu, destruí-la, e desfazer o que disse a outras pessoas. Ela é facilmente satisfeita e também, sente fome facilmente; ela torna-se feliz e triste facilmente; ela com facilidade se entusiasma e também esfria; facilmente ri e chora. Tal pessoa é superficial; tal pessoa está vivendo em suas emoções e circunstâncias.

Sabemos que se uma árvore é alta, suas raízes devem ser profundas. Algumas podem atingir a profundidade de até três ou quatro quilômetros. Uma árvore que não consegue absorver água da superfície, sabe-se que aprofunda suas raízes até atingir a fonte de água. As palmeiras no Deserto da Arábia, apesar do calor do sol, permanecem com folhagem verde, porque extraem água descendo as profundezas, capacitando­-as a resistir ao sol ardente. Se um cristão aprofundou suas raízes, ele também será capaz de resistir ao calor do sol. Oh! Todos aqueles que vivem nos seus sentimentos ou influenciados pelas circunstâncias são pessoas sem profundidade. Também aqueles que são propensos a oscilar por suas emoções, e são influenciados pelo ambiente, não tem profundidade. Aqueles cuja vida está profundamente enraizada não prestam atenção as circunstâncias, nem vivem por sentimento, mas somente por fé. Eles não olham nem dependem das circunstâncias, mas vêem o Senhor atrás delas. Tais pessoas têm o amparo, o suporte e o poder que vem de Deus, em vez de serem influenciados pelas circunstâncias. Se uma pessoa não vive olhando para o Senhor por trás das circunstâncias, mas para as emoções e circunstâncias, não haverá uma única verdade ou ensinamento que ela seja capaz de possuir profundamente. Quando as circunstâncias São favoráveis, ela é ativa e eufórica, mas assim que encontra provações, torna­-se desanimada, depressiva e melancólica. Assim que a cruz a confronta, tal pessoa cai. Irmãos e irmãs, se vocês ficam abatidos e recuam quando encontram provações, isto prova que estão sem profundidade. Quando o sol os queima, imediatamente vocês murcham.

Segunda Razão: Falta de Raiz

A segunda razão e a ausência de raiz. Que é raiz? A parte de uma árvore exposta à vista é o tronco e o que está fora da vista, no solo, é a raiz; aquela parte com vida e que é visível são os galhos; a parte com vida, mas que é invisível é a raiz. Portanto, a raiz representa a vida escondida. Todo aquele que não tem raiz no Senhor, sua vida deve ser seca. Todo aquele que não tem vida oculta espiritualmente, e nada tem, além do que é manifesto diante dos homens, não tem raiz. Raiz e a parte invisível oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Raiz é a invisível parte oculta; o que e exposto e visível não é raiz. Irmãos, vocês devem perguntar-se: além daquela parte de sua vida que é visível diante dos homens, quanto de vida oculta você tem diante do Senhor? Se tudo o que você tem é o pouco que é o exposto, nada há de maravilhoso porque você murcha assim que o sol se levanta e esquenta. Em nosso viver espiritual não há nada capaz de nos sustentar como a vida escondida. Se encontrarmos um irmão ou irmã que caíram, não olhemos a queda como um acontecimento acidental ou repentino. Ao invés disso, devemos perceber que anteriormente havia algo errado com sua vida oculta diante de Deus. Desde que ele não tem raiz, ele cai quando o sol se levanta para queimá-lo.

Em Mateus 6:6, o Senhor Jesus diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, oraras a teu Pai que esta em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensara”. Fechar a porta é a vida oculta, e isso é raiz. Aqui, o Senhor fala de um modo peculiar: o Pai vê em secreto. Oh! a oração pode ser vista! Sempre pensamos que a oração é ouvida mas o Senhor diz que ela e vista. Portanto, algumas vezes não temos palavras na presença de Deus, mas apenas uma atitude – isto e precioso também. Oh! irmãos e irmãs, que proporção de sua vida é vista por Deus em secreto? Ou tudo o que vocês tem e visível diante dos homens? Quanto de sua vida espiritual diante de Deus nunca foi divulgado? Quanto da experiência que vocês tem é comparado com a que Paulo manteve em segredo das outras pessoas por quatorze anos? (2 Co 12:2). Se nada têm, isto indica que você não tem raiz. Se você e uma pessoa sem raiz, você imediatamente cairá quando o sol se levanta para queimá-lo. Irmãos e irmãs, daquilo que vocês possuem, apenas o que Pode sobreviver ao teste das provações é digno de confiança. Se vocês não aprofundaram suas raízes o bastante, vocês estão sujeitos a fracassar.

Terceira Razão: Empedramento do Solo

A terceira razão é que embaixo da superfície terrestre também há pedras. Não é que uma pessoa com pouca terra esteja sem vontade de aprofundar suas raízes, mas as pedras lá estão para obstruí-las. Superficialmente, ela é como as outras pessoas, mas em seu interior há pecados escondidos e ego endurecido. Na Bíblia, pedra tem diversos sentidos, um dos quais e o coração de pedra (Ez 36:26). Se desejamos aprofundar nossas raízes, não devemos endurecer nossos corações (Hb 3:8). Muitos cristãos nunca foram contrariados em seu modo de pensar e nunca foram quebrados. Eles sempre têm muitas razões para rejeitar a vontade de Deus e insistir em seus próprios pontos de vista, se uma coisa deve ser feita deste ou daquele modo. Eles têm pedras interiormente, e seu coração é muito duro. Deus tem de destruir suas pedras interiores antes que possam aprofundar suas raízes. Há apenas uma espécie de pessoa que aprofunda as raízes: aquele que teme a Palavra do Senhor (Is 66:5). Irmãos e irmãs, vocês precisam saber que um coração insubmisso a Deus e um coração de pedra. Devemos pedir a Deus que nos ilumine para ver quão grandes são as pedras em nós. Se temos pedras interiormente, não podemos aprofundar raízes. Então, quando o sol se levanta e esquenta, como não murchar?

As pedras não existem apenas por causa de um coração endurecido, mas também por causa de pecados ocultos. Talvez, em sua vida, haja um determinado pecado do qual você não se livrou, porque o preço é alto demais para que você tenha coragem de tratar com ele. Ou talvez a exigência de Deus seja forte demais para você ceder, resultando em argumentação e discussão com Deus. Se você tolera que seu pecado oculto permaneça, você não pode aprofundar raízes. Como, então, evitar de murchar quando o sol aparece e esquenta?

O QUEIMAR DO SOL

Irmãos e irmãs, sem luz nós não compreenderíamos quão superficiais somos. Se não fosse pelo queimar do sol, não poderíamos entender porque aqueles que desabrocham mais rapidamente, são também aqueles que murcham mais rapidamente. Quantas vezes nos enganamos sendo complacentes com nosso estado espiritual e vemo-nos como pessoas maravilhosas! Contudo, para nossa grande surpresa, quando o sol aparece e esquenta, imediatamente murchamos.

Por que Deus permite o queimar do sol e também consente que dificuldades nos sucedam? Irmãos, vocês devem saber que esta é a expressão final e máxima do amor do Senhor – a cruz. Oh! nada há que possa cultivar nossa vida espiritual tão bem quanto a cruz; nenhum teste pode ser melhor que a cruz. Um dia, quando ouvimos a palavra da verdade, aceitamo-la com alegria, imediatamente, e também consagramo-nos a Deus. Supomos que somos muito certos e super valorizamo-nos; assim Deus especialmente nos envia os testes e a cruz para que sejamos capazes de ver-nos. Conseqüentemente, um dia nós até mesmo temos uma controvérsia com Deus. O que esperamos de Deus não é esta direção, mas Ele verdadeiramente faz assim. Aonde Deus quer que vamos, não é aonde gostáramos de ir; o que Ele nos designa para fazer não é o que estamos dispostos a fazer. Portanto, não estamos satisfeitos; e inevitavelmente entendemos mal e culpamos Deus, e temos uma controvérsia com Ele. Irmãos, por favor, lembrem-se de que esta controvérsia é que os leva a condição de murchar. Todo murchar espiritual começa com desentendimento com Deus. Oh! se Deus cede e você vence, você esta condenado a murchar. Portanto, a cruz é-nos um teste para decidir se nossa vida penetrará nas riquezas ou murchara. Em outras palavras, se nossa vida será abundante ou secará depende de como tratamos com nossa divergência com Deus. Se você prevalece e Deus cede, não há outro resultado para sua vida a não ser murchar. Portanto você nunca deve regozijar-se por sua vitória aparente nem se deleitar em sua liberdade. Você precisa saber que isto simplesmente mostra que sua vida logo murchará, e que seu viver degenerar-se-á em breve. Isto e o que a experiência de muitos cristãos confirma. Não há uma vez em que Deus cede, e que sua vida permanece abundante. Portanto, se entre Deus e você ainda existe uma negociação não concluída, um problema não resolvido, e um ponto obscuro sobre a vontade de Deus, você deve ser extremamente cuidadoso. Se está em dúvida, insatisfeito com os arranjos de Deus e escolhe o caminho que você mesmo considera bom, então não precisa esperar ate o resultado tornar-se aparente; anteriormente você já começou a murchar.

Irmãos e irmãs, não devemos imaginar que realmente adquirimos algo simplesmente por ouvir uma mensagem. Deus terá de criar circunstâncias tais que vocês verdadeiramente sentirão a necessidade da palavra que ouviram, de maneira a testar se aceitaram realmente ou superficialmente a palavra. Deus tem de arquitetar uma circunstância para revelar-lhes que nenhum preceito da Escritura pode ser adquirido sem pagar-se um preço. Por exemplo, depois que ouviram uma palavra sobre paciência, Deus arranjar-lhes-á tribulação porque “tribulação produz paciência” (Rm 5:3). Quando ouvirem a palavra sobre obediência, Deus ira prová-los com situações difíceis para que aprendam a obediência pelas coisas que sofrem (Hb 5:8). Após ouvirem a palavra sobre doçura, Deus, um dia, leva-os, face a face com muitas pessoas e problemas irritantes, que os fazem aprender a “ser brando para com todos” (2 Tm 2:24). Depois de ouvirem a palavra que diz que devem ter fé, Deus parecera ocultar-Se e não lhes dar atenção quando chamarem por Ele, para que não vacilem por incredulidade, mas sejam fortes na fé, dando gloria a Deus (Rm 4:20). Cada vez que vocês ouvirem alguma palavra, se suportarem o teste, a palavra então estará garantida em vocês.

Deus nunca permitirá que paremos no estágio de ouvir uma mensagem e consagrar-nos. Ele deve testar-nos. Deus somente pode fazer uso daqueles vasos que ainda podem permanecer firmes após passar pelo teste da provação. Certa vez uma irmã idosa, ha muito tempo a serviço do Senhor, falou a um irmão jovem que começava a servir: “Todo pão colocado nas mãos do Senhor, Ele primeiramente parte, e então distribui a outras pessoas. Um pão não partido não pode tornar-se sustento para a vida de outras pessoas. E muito comum que, por um lado consagremo-nos a Deus, mas por outro lado, nosso corarão silenciosamente fala com esperança: Oh! Senhor, eu realmente já me consagrei a Ti, mas peço-Te que nunca me quebres! Todos nós esperamos que o pão permaneça intacto para sempre, e que fique permanentemente onde foi colocado. Mas nenhum pão nas mãos do Senhor fica inteiro. Se você não deseja ser quebrado pelo Senhor; então, não se coloque em Suas mãos”. Irmãos e irmãs, estas são palavras ditas pela experiência pessoal daqueles que conhecem o Senhor. Todo pão colocado nas mãos do Senhor é partido por Ele. Aqui é onde esta a dificuldade de muitos irmãos: após ouvir um sermão, alguém alegremente diz: “Oh! Senhor, eu ofereço-Te tudo o que tenho”. Mas, quando o Senhor esta partindo-o, esperava que isto não acontecesse. Irmãos e irmãs, enquanto estão nas mãos de Deus, vocês não estão dispostos a ser quebrados por Ele. Tal vida é a mais dolorosa. Se vocês esperam que sua vida seja abundante, devem permitir que Deus ordene muitos testes para prová-los.

VIDA NAS PROFUNDEZAS

Oséias 14:5-7 diz: “Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como lírio, e lançará as suas raízes como o cedro do Líbano. Estender-se-ão os seus ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e a sua fragrância como a do Líbano. Os que se assentam de novo a sua sombra voltarão; serão vivificados como o cereal, e florescerão como a vide; a sua fama será como a do vinho do Líbano”. Nesta passagem, Líbano e mencionado três vezes: uma vez como um lírio, uma vez como uma oliveira e uma vez como o vinho. Por que e dada tal ênfase ao Líbano aqui? E porque o cedro da montanha do Líbano e muito alto e suas raízes são muito profundas. A Bíblia usa o cedro do Líbano para representar a maior e mais alta árvore na terra; ele também é apresentado como símbolo daquelas pessoas que aprofundam suas raízes. Nesta passagem, o lírio é a primeira alusão ao Líbano, depois a oliveira e finalmente o vinho. o fato de a Bíblia falar desta maneira tem um profundo significado. Apenas falaremos brevemente a esses respeito aqui.

Por que o lírio é comparado ao Líbano? Um lírio e puro e bonito. O lírio referido aqui cresce no deserto e não no jardim de uma casa. Não há jardineiro para cultivá-lo, mas depende unicamente do calor do sol, da chuva e do orvalho para sustento. Nós, cristãos, somos os lírios dos vales (Ct 2:1), confiando totalmente no cultivo e sustento de Deus. Uma vida espiritual pura e bela provém de uma comunhão ininterrupta com Deus. Portanto, é dito para crescer como o lírio e lançar suas raízes como o cedro do Líbano.

Por que uma oliveira é citada junto ao Líbano? Aos olhos dos homens, uma oliveira não tem beleza. Se dissermos que a beleza e a peônia (N.R. – erva com grandes flores, de grande beleza ornamental), e fácil para as pessoas entenderem, mas dever-se-ia dizer o contrário em relação a uma oliveira. Contudo, a Bíblia mostra que a beleza aos olhos de Deus não e a beleza superficial, mas o fruto na realidade. A oliveira e uma árvore que gera um fruto que produz óleo – sua beleza esta no seu fruto. A beleza de um cristão está em gerar o fruto do Espírito. Isto pode ser adquirido apenas lançando e fixando raízes nas profundezas. Portanto, é dito que sua beleza é como a oliveira e seu aroma como o Líbano.

Por que o vinho está relacionado ao Líbano? E dito: “florescerão como a vide”. Alguma vez já vimos a flor da vide? Sua flor é minúscula! Logo apos o florescer, as uvas aparecem. Nunca vimos a flor da vide num vaso de flores. Por que não é dito que a flor e como a do pessegueiro ou como o crisântemo? Porque a flor que Deus honra não e para as pessoas apreciarem, mas a que pode produzir fruto como a vida. O que Deus requer de um cristão e que lance raízes e produza frutos abundantemente. Eis porque é dito que eles florescerão como a vide, e a sua fragrância será como a do vinho do Líbano.

Líbano é citado três vezes aqui – todas com o propósito de chamar nossa atenção à vida nas profundezas. Embora esta vida nas profundezas seja como o lírio crescendo num vale isolado, como a oliveira que não é bonita exteriormente e como a vide que não se sobressai ao florescer, ainda assim ela e o resultado de olhar para Deus com simplicidade, e é capaz de produzir muito fruto. Este e o tipo de viver que um cristão deve ter. E impossível ter esta espécie de viver, a não ser que aprofundemos as raízes. Para atingir este tipo de viver deve haver um exercício regular diário. Separe pelo menos um pequeno tempo somente para orar ler a Palavra lendo e orando simultaneamente na presença de Deus. Se possível, também reserve algum tempo para orar pelos santos, pelas igrejas em vários lugares, e pela obra de Deus. Se um cristão não lê a Escritura e não ora toda manhã, é inútil falar sobre vida em profundidade. Lançar raiz não são meras palavras, mas uma prática verdadeira em nosso viver diário. Quando você começa a aprender, é necessário pagar um preço por isto. Possa o amor de Deus atrair-nos para as profundezas, dia após dia, para que possamos aprofundar nossas raízes cada vez mais.

Para viver uma vida nas profundezas, é necessário ter comunhão íntima e direta com o Senhor. Cantares 4:12 diz: “Jardim fechado es tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada”. Aqui é falado sobre um jardim. Como é visto na Bíblia, um jardim foi a primeira idéia de Deus.

Diferente de uma terra comum para plantação de um modo geral, ou de um campo especifico para lavoura, um jardim é somente para beleza e desfrute. Num jardim pode haver árvores, mas o propósito não é a madeira; ou pode haver árvores frutíferas, mas ainda o propósito não é gerar frutos. A importância de um jardim esta relacionada a suas flores. Elas foram plantadas apenas por sua beleza. Plantar flores e, portanto, para a satisfação dos olhos. Descrever este jardim como um “jardim fechado” significa que ele não é um parque público ao qual todos tem acesso para ter prazer, mas é fechado exclusivamente para Cristo. A beleza interior e para ser vista e apreciada somente por Cristo. Este tipo de viver não pretende agradar aos homens mas apenas a Cristo.

Este tipo de vida e “um manancial recluso”. Um manancial é para as pessoas usarem; embora seja assim, ainda está reservado para o Senhor.

Esta espécie de vida e “uma fonte selada”. Um manancial é produzido pelo trabalho humano, mas uma fonte não. Um manancial é para os homens, mas uma fonte e para Deus. Uma fonte e para a alegria e o contentamento que adquirimos na presença de Deus. Tal experiência não é para ser deliberadamente exposta a outras pessoas porque ela e uma fonte selada.

Resumindo, um cristão nunca deveria, intencionalmente, exibir sua beleza, busca e experiência espirituais para que outros vejam. Por outro lado, tudo deveria ser silenciosamente selado para o Senhor. Somente esta espécie de vida nas profundezas satisfará o coração do Senhor.

Irmãos e irmãs, nossa vida e muitas vezes tão superficial e uma grande parte dela é exposta na superfície. Possa o Senhor conceder-nos graça permitindo que a cruz faça uma obra profunda em nosso interior para que possamos firmar raízes a fim de ter vida nas profundezas para cumprir as exigências de Deus e satisfazer Seu coração.

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Doze Cestos Cheios, vol. 4, Editora Árvore da Vida.

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A. W. Tozer Vida cristã

Nunca se defenda (A. W. Tozer)

Todos nós nascemos com o desejo de defender-nos. E, caso insista em defender a si mesmo, Deus permitirá que você o faça. Porém, se você entregar sua defesa a Deus, então, Ele o defenderá. Ele disse a Moisés certa vez: “Serei inimigo dos teus inimigos e adversários dos teus adversários” (Êx 23.22).

Muito tempo atrás, o Senhor e eu chegamos juntos ao capítulo 23 do livro de Êxodo, e Ele me mostrou essa passagem. Já faz trinta anos que ela tem sido uma fonte de bênçãos indizíveis para mim. Não tenho de lutar. O Senhor é Quem luta por mim. E Ele certamente fará o mesmo por você. Ele será o Inimigo dos seus inimigos e Adversário de seus adversários, e você nunca mais precisará defender a si mesmo.

O que defendemos? Bem, defendemos nosso serviço e, particularmente, defendemos nossa reputação. Sua reputação é o que os outros pensam que você é, e se surgir alguma história sobre você, a grande tentação é tentarmos correr para acabar com ela. Mas, como você bem sabe, tentar chegar até a fonte de uma história assim é uma tarefa inútil. Absolutamente inútil! É como tentar achar o passarinho, depois de ter encontrado uma pena no gramado. Não poderá fazer isso. Porém, se se voltar completamente ao Senhor, Ele o defenderá completamente e providenciará para que ninguém lhe cause dano. “Toda arma contra forjada contra ti, não prosperará”, diz o Senhor, “toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás” (Is 54.17).

Henry Suso foi um grande crente em dias passados. Um dia, ele estava buscando o que alguns crentes têm-me dito que também estão buscando: conhecer melhor a Deus. Vamos colocar isso nestes termos: você está procurando ter um despertamento religioso no íntimo de seu espírito que o leve para as coisas profundas de Deus. Bem, quando Henry Suso estava buscando a Deus, pessoas começaram a contar histórias más sobre ele, e isso o entristeceu tanto que ele chorou lágrimas amargas e sentiu grande mágoa no coração.

Então, um dia, ele estava olhando pela janela e viu um cão brincando no terraço. O animal tinha um trapo que jogava por cima de si, e tornava a alcançá-lo apanhando-o com os dentes, e corria e jogava, e corria e jogava muitas vezes. Então, Deus disse a Henry Suso: “Aquele trapo é sua reputação, e estou deixando que os cães do pecado rasguem sua reputação em pedaços e a lancem por terra para seu próprio bem. Um dia desses, as coisas mudarão”.

E as coisas mudaram. Não demorou muito tempo até que os indivíduos que estavam atacando a reputação de Suso ficassem confundidos, e ele foi elevado a um lugar que o transformou num poder em seus dias e numa grande bênção até hoje para aqueles que cantam seus hinos e lêem suas obras.

(Artigo extraído do livreto Cinco Votos Para Obter Poder Espiritual, de A. W. Tozer, Editora dos Clássicos, julho de 2004).

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Encorajamento Vida cristã

O inexplicável sofrimento dos justos (Norbert Lieth)


O sofrimento de um justo não pode ser explicado, mas muitas e muitas vezes sua razão de ser foi interpretada de maneira incorreta. Muitos cristãos que estão sofrendo se preocupam demais em achar a “causa” de sua angústia e se esgotam de tanto questionar. Minha doença é castigo pelo meu pecado? Ou será que Deus quer me disciplinar, educar, purificar, transformar através do sofrimento, me preparar para Seu Reino e Sua glória? – É claro que existem castigos mandados por Deus, mas nem de longe todo o sofrimento físico ou emocional, toda derrota, fome ou tormento podem ser explicados dessa maneira. Quem recebeu a Jesus Cristo em sua vida por meio da fé não sofre por causa da ira de Deus ou por castigo, mas o sofrimento é uma provação e é igualmente um meio pedagógico que o Senhor usa na vida dos crentes (Hb 12.1-11; Rm 8.31-39). Mas não são raras as vezes em que o agir de Deus e a Sua direção em nossas vidas continuará sendo um mistério para nós, principalmente quando Ele manda sofrimento e tristeza.

Não queremos deixar passar despercebido o fato de que nem todo o sofrimento tem a amável correção do Senhor como alvo final. Existem sofrimentos que nascem do ódio satânico, e se os mesmos nos alcançam foi porque o Senhor o permitiu. Os sofrimentos de Jó, por exemplo, não vieram de Deus. Também não havia motivo para correção na vida desse homem, pois Jó vivia completamente dentro do que agradava ao Senhor e era irrepreensível, o que foi confirmado pelo próprio Senhor. Seus sofrimentos eram provocados pelo maligno (comp. Jó 1.1,6-19).

Os Salmos e Provérbios também falam do sofrimento do justo: “Muitas são as aflições do justo!” (Sl 34.19a; comp. também Pv 11.31). A Bíblia nos exorta a não considerarmos todo e qualquer sofrimento dos justos como conseqüência automática de culpa e pecado em suas vidas, pois com isso estaríamos condenando a maneira justa de viver dos retos de coração. Asafe orou: “Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência. Pois de contínuo sou afligido, e cada manhã castigado. Se eu pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de teus filhos” (Sl 73.13-15). Também no Salmo 44 encontramos uma das muitas indicações da Palavra de Deus de que sofrimento nem sempre tem sua origem em pecado ou culpa diante de Deus e nem sempre é castigo por erros cometidos: “Tudo isso nos sobreveio, entretanto não nos esquecemos de ti, nem fomos infiéis à tua aliança. Não tornou atrás o nosso coração, nem se desviaram os nossos passos dos teus caminhos… Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus ou tivéssemos estendido as mãos a deus estranho, porventura não o teria atinado Deus, ele que conhece os segredos dos corações? Mas, por amor a ti, somos entregues à morte continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro” (vv. 17-18, 20-22). Mas todo esse sofrimento estava sob a permissão de Deus: “…para nos esmagares onde vivem os chacais, e nos envolveres com as sombras da morte… Pois a nossa alma está abatida até ao pó, e o nosso corpo como que pegado no chão. Levanta-te para socorrer-nos, e resgata-nos por amor da tua benignidade (vv. 19,25-26).”

Antes que eu mencione o testemunho do irmão Lee, da Coréia do Sul, perguntemo-nos: todos esses sofrimentos foram resultado de pecado na vida desse irmão? Ele conta:

Eu tinha 18 anos de idade quando os norte-coreanos invadiram a Coréia do Sul. Presenciei quando 7.000 cristãos foram mortos, inclusive meu pai e minha irmã. Durante três dias minha irmã ficou pendurada de cabeça para baixo em uma corda. No terceiro dia, ela estava quase desacordada. Todos os dias os comunistas nos levavam para fora para que pudéssemos ver como eram tratados os cristãos presos. Todos tínhamos sido presos e interrogados: “Você é cristão?” Naquela época minha irmã tinha 22 anos de idade. E naquele dia em que fui obrigado a ficar na sua frente, ela me reconheceu. Sangue já escorria de sua cabeça. Me senti impotente diante dela, pois estava amarrado. Mas ela cantava num sussurro: “Em Jesus amigo temos…” e “Mais perto quero estar, meu Deus de Ti…” E foi dessa maneira que ela morreu, mas sua morte vitoriosa deixou uma profunda impressão em minha vida. – Uma semana depois meu velho pai de 72 anos foi executado. Ele foi queimado vivo, depois de ter passado fome por um mês. Jogaram-no em uma cova, cobriram-no com querosene e tocaram fogo. Antes de perder os sentidos, gritou com suas últimas forças: “Você tem de acabar o que eu não consegui levar até o fim!” Então levantou suas mãos e orou: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem!”

Esses dois acontecimentos deixaram marcas em toda a minha vida futura, marcas que nunca mais puderam ser apagadas. Não posso descrever os sofrimentos que tive que passar. Durante um mês inteiro meus carrascos me espancaram, queimaram e quebraram meus ossos. Quando eles finalmente acharam que eu estava morto, jogaram-me em um pântano. Fiquei oito dias inconsciente no meio de cadáveres. Os ratos passavam por cima de nós e o sofrimento era infernal. Mas nessa hora eu entreguei minha vida ao Senhor Jesus. Reconheci o que significa na vida de uma pessoa um relacionamento pessoal com Jesus: no mais profundo sofrimento pode nascer a alegria da fé!

Os terríveis sofrimentos e a angústia de sua irmã e de seu pai e seus próprios sofrimentos contribuíram para que o Dr. Lee chegasse a crer no Senhor Jesus Cristo – que maravilhoso fruto de sofrimento por amor ao Senhor!

Será que você anda encurvado sob o fardo de sofrimentos e pressões do dia-a-dia que pesa sobre os seus ombros? Você se angustia com problemas e infortúnio? Você sofre por fracassos, decepções, esperanças frustradas? Ou você sofre por amor a Cristo? Existe uma cruz pesada sobre sua vida, cruz que você tem de carregar?

Qual é a causa do sofrimento, se não é o pecado?

Sofrimento por amor a Jesus. Foi dito ao apóstolo Paulo que ele iria sofrer muito por amor a Jesus (At 9.16). O Senhor o usou de modo extraordinário como instrumento muito útil, mas os sofrimentos de Paulo foram igualmente extraordinários. Os profundos sofrimentos por amor a Jesus faziam parte de sua elevada vocação.

Sofrimentos por amor a Jesus não são motivo de tristeza, mas de alegria: “… alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória vos alegreis exultando” (1 Pe 4.13). E sofrer pelo Evangelho é um tipo de sofrimento por amor a Jesus (2 Tm 1.8), assim como sofrimentos por praticar o bem (1 Pe 2.20), sofrimentos por causa da justiça (Mt 5.10) e os sofrimentos como servos de Deus (2 Co 6.4 ss.).

Sofrimentos por amor aos outros (à Igreja). É isso o que nos relata Colossenses 1.24: “Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja.” Sofrimentos suportados com paciência por um cristão servem de exemplo e testemunho para toda a Igreja, pois é nisso que o caráter de Jesus mais se reflete. E é por isso que as pessoas mais santificadas têm de sofrer mais, por estarem muito próximas do Senhor e por terem condições de suportar o sofrimento. Epafrodito, cooperador de Paulo, ficou gravemente enfermo por causa da obra do Senhor e por servir ao apóstolo por parte dos filipenses (comp. Fl 2.25-30).

Sofrimentos por testemunhar da fé para a glória do Senhor. Para provar isso quero citar novamente 1 Pedro 4.13: “…alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória vos alegreis exultando.” O salmista Asafe testemunha em meio ao seu sofrimento: “Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho, e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfalecem, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre… Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos”(Sl 73.23-26, 28).

Será que conseguimos imaginar o testemunho glorioso e elogiado que um servo de Deus que sofre por amor ao Senhor tem diante do mundo invisível dos anjos, quando se firma no Senhor e espera nEle em meio aos sofrimentos, e quando consegue dizer “Senhor, apesar de tudo eu quero ficar perto de Ti”? Como é grandioso e maravilhoso o reflexo desses sofrimentos na eternidade! Isso é mostrado em Romanos 8.18: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.”

O que devemos fazer no sofrimento?

Como é que a nossa alma consegue ficar consolada e quieta em tempos de angústia? Em tempos de sofrimento ninguém mais consegue ajudar aquele que sofre a não ser o Senhor. Isso o salmista também sabia, pois orava: “Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia a minha causa… Pois tu és o Deus da minha fortaleza” (Sl 43.1a,2a). Jesus Cristo sofreu fora da porta – e, nesse sentido, cada um que sofre está sozinho com seus sofrimentos, sofre “fora da porta” como Jesus. O salmista também tinha reconhecido isso, e encomendou sua alma juntamente com toda a sua angústia ao fiel cuidado de Deus. Ele sabia que a ajuda real, a ajuda que traz resultados não pode vir de pessoas, mas única e exclusivamente do Deus vivo. E era a Deus que ele queria entregar seu sofrimento. Ele não foi obrigado a se deixar enlouquecer e inquietar pelos outros e por seus bons conselhos, mas foi capaz de se entregar plenamente à vontade divina, e de se sentir abrigado e seguro no Senhor.

Ficamos consolados e tranqüilos quando entregamos nossa angústia ao Senhor, quando nos aquietamos e esperamos nEle.

Dificilmente o sofrimento pode ser explicado humanamente, ele só pode ser compreendido de dentro do santuário. Por isso o salmista orou: “Por que me rejeitas? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos. Então irei ao altar de Deus, de Deus que é a minha grande alegria; ao som da harpa eu te louvarei, ó Deus, Deus meu. Por que estás abatida, ó minha alma? por que te perturbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 43.2b-5). O coração do salmista estava repleto de porquês. Ele não conseguia entender o porquê de seus sofrimentos; mas parece que, de repente, ele passou a entender, passou a não mais precisar de uma resposta para suas muitas perguntas – mas precisava somente de uma profunda comunhão com seu Deus no santuário (vv. 3b-4a). Essa foi a solução. Foi dessa maneira que sua alma conseguiu ficar quieta e consolada e cheia de gratidão para com o Senhor apesar do sofrimento pelo qual estava passando (vv. 4b-5). Nem sempre existe uma resposta, mas sempre existe consolo e luz na escuridão de nossa alma quando nos achegamos ao Senhor, quando entramos no santuário. E é por isso que filhos de Deus santificados conseguem dizer: “O Senhor está tão perto de mim!” Para o salmista passou a ser secundário conhecer ou não a causa de seus sofrimentos. Para ele passou a ser prioridade saber que era Deus que conduzia sua vida, passou a ser prioridade andar na luz do Senhor, andar na verdade do Senhor e ser dirigido pelo Senhor para alcançar seu alvo de vida.

Asafe estava cheio de dúvidas e questionamentos. Parecia-lhe que o sofrimento ela algo sem lógica, algo incompreensível e absurdo. Ele não era capaz de entendê-lo nem explicá-lo: “Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus…” (Sl 73.16-17). No santuário nem sempre recebemos a explicação para o porquê de nossos sofrimentos, mas em compensação recebemos consolo, recebemos fortalecimento e uma profunda paz. Até um homem como Elias chegou ao ponto de se sentir desesperado e questionava o motivo de tanto sofrimento. Ele não recebeu uma resposta para suas perguntas, mas recebeu comida e bebida para sua longa jornada em busca de um novo encontro com o Senhor. João Batista foi tomado de dúvidas quando estava no cárcere. E ele também não recebeu resposta ao porquê de seus sofrimentos, dúvida que certamente ocupava sua mente. Mas ele recebeu a palavra do Senhor: “…bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Mt 11.6).

Agora me dirijo a você, especialmente a você que tem sofrimento e dor em sua vida, que passa por angústias e enfermidades – você não quer simplesmente entrar no santuário para receber ali o consolo que vem de Deus? Em pouco tempo se cumprirá em sua vida o que o Senhor glorificado diz no último livro da Bíblia: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as cousas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras… O vencedor herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho” (Ap 21.4-5,7).

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A. B. Simpson Cristo Vida cristã

O próprio Cristo (A. B. Simpson)

Gostaria de levar o pensamento de cada um a focalizar-se em Jesus, e somente nEle.

É comum ouvirmos os crentes dizerem: “Ah, como eu gostaria de obter a bênção da cura divina. Mas ainda não a obtive.”

E outros afirmam: “Eu já.”

Mas quando lhes pergunto: “O que obteve?”, não sabem responder.

Alguns dizem: “Recebi a bênção.” “Recebi a cura.” “Recebi a santificação.”

Mas, graças a Deus, o que devemos desejar não é a bênção, nem a cura, nem a santificação, nem outra coisa qualquer, mas Alguém muito superior. Devemos desejar Cristo, o próprio Cristo.

PRECISAMOS DE UMA PESSOA

Encontramos na Palavra a afirmação “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mt. 8:17); “Carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (I Pe. 2:24). É a Pessoa de Jesus Cristo que devemos desejar. Muitos indivíduos têm uma idéia sobre Cristo, mas não passam disso. Têm um conceito na mente, na consciência e na vontade, mas Ele mesmo ainda não faz parte da vida deles. Assim só possuem um símbolo e uma expressão material de uma realidade espiritual.

Certa vez vi uma reprodução da Constituição dos EUA feita sobre uma chapa de cobre. Quando se olhava de perto, via-se apena um texto impresso. Mas quando se afastava um pouco, divisava-se na chapa a efígie de George Washington. Vistas de certa distância, as letras formavam os traços de Washington, e quem olhasse para elas enxergava apenas a pessoa e não as palavras, nem as idéias. Então ocorreu-me um pensamento: “É assim que devemos olhar para a Bíblia, para entender os pensamentos de Deus. Neles vemos o amoroso rosto de Jesus delineando-se em meio às palavras. Ali está o próprio Jesus, que se apresenta como a Vida, a Fonte de Vida, e a presença constante que a sustenta.”

Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. É que estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo.

Às vezes, nos cultos, via pessoas dando testemunho sobre o gozo espiritual, e até achava que eu também o experimentara, mas não conseguia conservá-lo. É que minha fonte de alegria não era Jesus. Afinal, um dia, ele me disse com muita mansidão:

“Meu filho, receba-me, e eu próprio serei a fonte constante de tudo isso.”

Então resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que tendo Cristo tinha quem era maior do que uma necessidade do momento, tinha o Cristo que era tudo de que necessitava. E ali O recebi, de uma vez para sempre.

Assim que O vi por esse prisma, experimentei um revigorante descanso. Tudo ficou acertado de uma vez por todas. Nele tinha tudo de que precisava, não apenas para aquele momento, mas para o outro, e o outro, e o outro, e assim por diante. Vez por outra, Deus me deixa entrever como será minha vida daqui a um milhão de anos, quando resplandeceremos “como o sol, no reino de (nosso) Pai (Mt. 13:43) e teremos “toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:19).

MEU GRANDE SEGREDO

Se eu afirmasse agora que possuo uma fórmula secreta para se obter riqueza e sucesso, que recebi diretamente do céu, e que, por meu intermédio, Deus daria grandes quantidades dela a quem quisesse, todo mundo ficaria muito interessado. Pois quero mostrar-lhes na Palavra de Deus uma oferta muito mais valiosa que essa suposta fórmula. Inspirado pelo Espírito, o apóstolo Paulo diz que existe um “mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações” (Cl. 1:26). Trata-se de um segredo que o mundo tem procurado, mas não encontra; um segredo que os sábios estão sempre desejando. E o Senhor nos garante que “agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. E Paulo viajou pelo Império Romano entregando essa mensagem a quem estivesse apto para recebê-la. Eis o segredo: “Cristo em vós, esperança da glória” (vs. 27).

O grande segredo é: “Cristo em vós”. E eu o passo a você agora, se quiser crer no que Deus diz. Para mim, ele tem sido maravilhoso. Faz alguns anos busquei a Deus, cheio de temores e de sentimentos de culpa. Apliquei esse segredo à minha vida e foi a solução para todas as minhas preocupações e meu fardo de pecados. Mas depois, após algum tempo, vi-me outra vez dominado pelo pecado, e a tentação me parecia forte demais. Busquei a Deus, e de novo Ele me disse: “Cristo em vós”.

Foi assim que obtive a vitória, o descanso, as bênçãos.

Antes era a bênção, agora é o Senhor.
Antes era o que eu sentia; agora é a Palavra.
Antes eu queria os dons; agora o Doador.
Antes queria a cura; agora basta-me o próprio Jesus.

Antes era o esforço penoso; agora, a confiança perfeita.
Antes era uma salvação incompleta; agora é a perfeição.
Antes me segurava nEle; agora Ele me segura firmemente.
Antes estava sempre à deriva; agora minha âncora está firme.

Antes era um plenejamento incessante; agora a oração da fé.
Antes era uma preocupação constante; agora Ele cuida de tudo.
Antes era o que eu queria; agora é o que Jesus disser.
Antes era uma petição constante; agora, adoração incessante.

Antes era eu quem trabalhava; agora Ele age por mim.
Antes eu tentava usá-Lo; agora é Ele que me usa.
Antes queria o poder; agora tenho o Todo-Poderoso.
Antes trabalhava por vaidade; agora, tão somente para Ele.

Antes tinha esperança de conhecer Jesus; agora sei que Ele é meu.
Antes minha luz era intermitente; agora brilha intensamente.
Antes esperava a morte; agora anseio por Sua volta.
E minhas esperanças estão firmadas no céu.

(Extraído do livro Jesus Cristo, Ele Mesmo, Editora Betânia)

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Testemunho Vida cristã Watchman Nee

Minha jornada espiritual (Watchman Nee)

Não tendo ainda passado dois anos após sua conversão, Watchman Nee escreveu esse testemunho, o qual foi publicado na revista Spiritual Light, em dezembro de 1921.

Uma vez habitei “nas tendas da perversidade” (Sl 84:10), andei “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, e do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2:2), eu vivi “segundo as inclinações da [minha] carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e [era] por natureza [filho] da ira, como também os demais” (Ef 2:3).

Então ouvi “a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4:14) que está construindo uma morada para mim, pois “na casa de meu Pai”, Ele disse, “há muitas moradas” (Jo 14:2).

Uma vez eu estive completamente desesperado, exatamente “como escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, e à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos há destruição e miséria, desconhecem o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz para os que vivem na lei o diz, para que se cale toda a boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Rm 3:10-19). Fiz, então, uma investigação: “Jesus lhes perguntou: Credes que eu posso fazer isso? Responderam-lhe: sim, Senhor” (Mt 9:28).

Agora eu ando como tendo sido depurado do “velho fermento, para que [fosse] nova massa, como [sou] de fato sem fermento. Pois também Cristo, [meu] Cordeiro pascal, foi imolado” (I Co 5:7). Eu “[recebi] o dom do Espírito Santo” (At 2:38) que habita dentro de mim.

Hoje eu percorro “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6). Agora vejo a Deus, pois “Quem me vê a mim”, disse Jesus, “vê o Pai” (Jo 14:19).

Finalmente encontrei a casa que havia a tanto procurado – “da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (I Co 5:1). Esta casa tem somente uma porta, pois vejo que “se alguém entrar por mim”, declarou Jesus, “será salvo” (Jo 10:9). Agora eu compreendo a verdade da declaração de Jesus: “batei e abrir-se-vos-á” (Mt 7:7).

A casa em que hoje eu vivo, possui um quarto de música – “Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. Buscai o Senhor e o seu poder; buscai perpetuamente a sua presença” (Sl 105:3-4). Possui um aposento para conversação – onde eu devo orar “sem cessar” (I Ts 5:17). Tem, da mesma forma, um quarto de leitura – para examinar “as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram de fato assim” (At 17:11). Tem um salão para preleções – “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (I Co 9:22). Meu quarto, para finalizar, é “o peito de Jesus” (Jo 13:25). Minha atual residência é onde “estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vivem em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20-21). Meu endereço é os “lugares celestiais” (Ef 2:6). Sempre que você me visitar no espírito de “feliz o homem que me dá ouvidos [isto é, ouve a Sabedoria, que é Cristo], velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada” (Pv 8:34), você encontrará não apenas a mim, mas também os santos meus companheiro. Dê ouvidos ao que o servo diz: Vinde, porque tudo já está preparado” (Lc 14:17).

Então “nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim, estaremos para sempre com o Senhor” (I Ts 4:17). Depois de serem cumpridas estas palavras, eu terei meu lar onde “vi também tronos, e nestes sentaram-se… Vi ainda a alma dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e nem receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade: pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos” (Ap 20:4-6). E o cântico que entoarei será “…um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhes os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5:9).

Não muito depois, juntamente com meus amados mudarei para “um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe” (Ap 21:1). Pois “segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (II Pe 3:13).

“E assim,” nessa ocasião, a palavra – “se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas velhas já passaram; eis que se fizeram novas” – será plenamente realizada, e de forma gloriosa experimentarei a verdade desta palavra: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo alegrai-vos” (Fl 4:4).

Da mesma forma os santos do passado fizeram sua jornada espiritual. No entanto, estas linhas também representam o que eu mesmo tenho experimentado e ardentemente espero. Na verdade, ao escrever esta última parte, eu me encontrava com lágrimas de regozijo. Suponho, porém, que você, que é salvo, possui o mesmo sentimento em relação à volta do Senhor Jesus. Aqueles que são lavados pelo sangue de Jesus são, naturalmente, otimistas para com a vida. Mas, onde você, que não possui a segurança de estar salvo, passará a morte eterna? Por favor, considere este assunto.

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Vida cristã

Último dia do ano!

Escrevi este texto há três anos. Muita coisa do que escrevi então é válida, uma vez mais, à virada de ano.

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Há um hino antigo que diz:

Finda-se este dia
Que meu Pai me deu,
Sombras vespertinas
Cobrem já o céu!
Ó Jesus bendito,
Se comigo estás,
Eu não temo a noite,
Vou dormir em paz.

São quatro estrofes que revelam fragilidade diante da vida, reconhecimento de pecados e fé no cuidado do Senhor. Cantadas em ritmo lento, quase choroso, confessional, são uma bela oração para o final de cada dia, bem como um declaração de confiança no Senhor que prepara o dia de amanhã.

Gosto desse hino, e o conheço desde a infância. Mas no último dia do ano ele me parece especialmente necessário. Mudo a palavra “dia” para “ano” e tenho: “Finda-se este ano que meu Pai meu deu”.

Sim, 2005 foi-me dado por meu Pai, meu amoroso, santo, justo e bondoso Pai. Ele não me deu tudo de uma vez só, mas ao longo de 365 dias, no amanhecer dos quais Suas misericórdias se renovaram e foram a causa de eu não ser consumido. Nesses 365 dias, fui guiado por meu Pai, tanto para as águas de descanso, para os pastos verdejantes, quanto pelo vale da sombra da morte, pelos caminhos que feriram meus pés, machucaram meu coração, arrancaram-me lágrimas dos olhos. Em todos os caminhos Ele esteve comigo.

Este não foi um ano fácil. Mas foi dado por Deus. Quantas lições preciosas aprendi — e quantas desperdicei. Quantas vezes preferi o sono a Seu doce chamado à comunhão. Quantas vezes deixei-O de lado para preocupar-me comigo mesmo. Quantas vezes Ele me envergonhou, presenteando-me em Sua bondade quando eu estava indiferente a Ele. Mas também quantas vezes me alegrei em vê-Lo operar, em vê-Lo ser bondoso, em vê-Lo em meus irmãos, em ouvi-Lo em um versículo do Livro Santo. E quantas vezes eu não O vi, mas Ele lá estava, guardando a mim e a minha família, produzindo “coincidências”, livrando-me do mal.

Este é meu Deus. Este é meu Pai.

Houve muitas alegrias e tristezas: reencontrei antigos amigos e colegas, fiz novos amigos, amizades se esfriaram, amigos não eram amigos… Coisas do nosso coração corrupto, inconstante. Provavelmente eu tenha falhado com muitos, ferido outros tantos, sem perceber, sem notar. Desculpem-me. Projetos maravilhosos foram frustrados, frustrações se revelaram grandes projetos. Dores foram alternadas com alegrias, sofrimentos com consolações, lágrimas com as costas de uma mão amiga a enxugá-la, muitas perguntas, algumas respostas, anseios com orações respondidas, orações não-respondidas com respostas à oração não-feita. “Quão variadas são Tuas obras!” Deus esteve lá, em cada um dos 365 ciclos de luz e trevas, sono e atividades, silêncio e multidão.

Eu preferia não ter feito muita coisa que fiz em 2005. Mas agora já as fiz. A segunda estrofe é minha confissão:

Com pecados hoje [este ano]
Eu Te entristeci,
Mas perdão Te peço
Por amor de Ti.

Hoje gostaria de não os ter praticado, mas no momento pareceram-me tão necessários! Como dizia o irmão Lawrence, há quase 400 anos, “esta é minha natureza; é o que sei fazer melhor”. E sei que, sem a graça do Senhor, continuarei caindo todos os dias. Pecados por “pensamentos, palavras, obras e omissões” como diz antiga liturgia. O principal deles, o que mais me fere a mim, e sei que a Ele especialmente: o pecado de não confiar Nele. Quantas vezes a meu coração subiram pensamentos de desconfiança, de incredulidade…

Por essa razão, oro o restante da estrofe:

Sou Teu pequenino,
Livra-me do mal;
Em Ti mesmo eu tenha
Proteção real.

Sim, somente se Ele me guardar verei o raiar de outro dia e depois de outro, outro e outro.

Há quem imagine que, pelo simples fato de um novo ano ter-se iniciado, tudo será diferente, assim, de modo automático, instantâneo. Grande tolice. As resoluções de ano novo não sobrevivem a duas quinzenas de férias ou às primeiras dificuldades da rotina. As misericórdias do Senhor não se renovam anualmente, mas a cada manhã. Portanto, precisamos de um recomeço a cada manhã, a cada despertar. A cada meia-noite, temos um novo “atá aqui nos ajudou o Senhor”. E, renovadas Suas misericórdias, recomeçamos: uma nova oportunidade de andarmos com Ele, de sermos mais Dele, de O conhecermos mais, de sermos mais conformados à imagem de Seu Filho, de vivermos na expectativa da volta de nosso amado Senhor!

Estamos mais próximos, cada dia mais próximos da realização de nossa bendita esperança: nosso Senhor voltará! Não importando a que escola escatológica pertençamos, não importando o que digam os homens descrentes, o fato é que Ele está às portas. E ao alvorecer de cada manhã, é-nos dada mais uma oportunidade de estarmos prontos para o grande dia. Pode ser em 2006!

Com certeza, em 2006 também haverá dias difíceis, dias sem sol, dias em que nos sentiremos em trevas, desamparados, sozinhos, desanimados até para abrir os olhos e sair da cama. Mas nosso Senhor estará lá. “Nada chega a nós sem ter antes passado por Ti, ó Deus.” Essa verdade pode guardar nosso coração nos dias de escuridão e fraqueza. “Meu Pai, eu não Te entendo, mas confio em Teu amor” é uma doce e simples oração, mas muito necessária. Muitas vezes teremos oportunidade de dizê-la no ano que começa amanhã. Aquele que, como este que se encerra em 11 horas, nos foi dado por nosso Pai, nosso querido, amoroso, justo, santo e bondoso Pai, que nos presenteou com Seu único Filho para poder se tornar nosso Pai.

É isto. Receba essas idéias soltas, um tanto desconexas, como meu desejo de que, em 2006, você experimente a mais doce, ampla, rica, profunda realidade de ser filho de Deus, o Pai misericordioso que prepara cada dia.

Seu conservo,

francisco nunes

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Charles Spurgeon Vida cristã

“Venha a Mim e beba!” (Charles Spurgeon)

“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

A paciência tem o seu perfeito trabalho no Senhor Jesus, e até o último dia da festa Ele proclamou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos proclama e espera ser gracioso para conosco. É verdadeiramente admirável a longanimidade do Salvador em suportar alguns de nós ano após ano, apesar de nossas provocações, rebeliões e resistência ao Seu Espírito Sano,. Maravilha das maravilhas é estarmos na terra da misericórdia!

A piedade expressa-se mais claramente, pois Jesus exclamou, o que implica não somente a altura da sua voz, mas a ternura de seus tons. Ele suplicou para que fôssemos reconciliados. “Oramos por vocês”, disse o apóstolo, “como se o próprio Deus suplicasse a vocês por nosso intermédio”. Que termos fervorosos, emocionantes, são estes! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e como uma mãe embale seus filhos em seu regaço! Certamente a cada apelo do Senhor nosso coração desejoso atenderá.

A provisão é feita mais abundantemente; tudo é providenciado para que o homem possa mitigar a sede da sua alma. Para sua consciência, a expiação traz paz; para sua compreensão, o exemplo traz a mais rica instrução; para seu coração, a pessoa de Jesus é o mais nobre objeto de afeição; para todo homem, a verdade como é encontrada em Jesus provê a nutrição mais pura. A sede é terrível, mas Jesus pode removê-la. Embora a alma esteja totalmente faminta, Jesus pode restaurá-la.

A proclamação é feita mais livremente para que cada sedento seja bem-vindo. Nenhuma outra distinção é feita senão a da sede. Quer seja a sede da avareza, da ambição, do prazer, do conhecimento ou de descanso, aquele que sofre disso é convidado. A sede pode ser má em si mesma, e não ser um sinal de graça, mas antes um sinal de pecado imoderado ansiando para ser gratificado com goles mais profundos de lascívia; mas não é a bondade na criatura que leva ao sedento o convite; o Senhor Jesus envia-o, gratuitamente, sem acepção de pessoas.

A personalidade é declarada mais plenamente. O pecador deve vir a Jesus, não a trabalhos, ordenanças ou doutrinas, mas para um Redentor pessoal, que carrega nossos pecados em seu próprio corpo sobre a cruz. O Salvador sangrando, morrendo e ressurgindo é a única estrela da esperança para um pecador. Oh! como anelo por graça, a vir agora e beber, antes que o Sol se ponha no último dia deste ano!

Beber representa uma recepção para a qual nenhuma aptidão é requerida. Um louco, um ladrão, uma prostituta podem beber; e tal pecaminosidade de caráter não é empecilho para o convite ao crente em Jesus. Não precisamos de taça de ouro, nem de cálice adornado, no qual transportar a água para o sedento; a boca da pobreza é convidada a inclinar-se e tomar goles da corrente que flui. Lábios cheios de bolhas, leprosos, sujos podem tocar a corrente do amor divino; eles não podem poluí-la, mas eles serão purificados. Jesus é a fonte da esperança. Caro leitor, ouça a voz amorosa do amado Redentor quando proclama a cada um de nós:

“SE ALGUÉM TEM SEDE, VENHA A MIM E BEBA”.

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A. W. Tozer Oração

Orar até orar de verdade é o desafio do cristão (A. W. Tozer)

O Dr. Moody Stuart, um homem de oração, certa vez estabeleceu regras que o guiassem em suas orações. Entre essas regras, havia a seguinte: `Ore até orar de verdade´. A diferença entre orar até o momento em que você pára de orar, e orar até você realmente orar é ilustrada pelo evangelista americano John Wesley Lee. Ele sempre comparava um período de oração com um culto na igreja, e insistia que muitos de nós terminamos a reunião antes do culto ter terminado. Ele confessou que certa vez saiu cedo demais de uma reunião de oração e foi indo por uma rua para cuidar de alguns negócios urgentes. Ele não tinha caminhado muito quando uma voz em seu interior o repreendeu. `Filho,´ – a voz parecia perguntar – `você pronunciou a bênção quando a reunião não havia ainda terminado?´ Ele caiu em si e imediatamente voltou correndo ao lugar da reunião de oração, onde permaneceu até que toda a carga que sentia saiu e a bênção sobre si desceu.

O hábito de interromper nossas orações antes de termos realmente orado é algo tão comum quanto infeliz. Com freqüência os últimos dez minutos podem significar mais para nós do que a primeira meia hora, porque temos que gastar um bom tempo até atingirmos a verdadeira condição para uma oração efetiva. Pode ser que tenhamos que lutar com os nossos pensamentos de forma a retirá-los das muitas distrações que resultam do fato de habitarmos num mundo todo em desordem.

Aqui, assim como em todas as demais questões espirituais, temos que ter certeza de que estamos distinguindo o ideal do real. O ideal seria vivermos a cada momento num estado de perfeita união com Deus de forma que nenhum preparo fosse necessário. Mas na verdade são poucos os que honestamente podem dizer que é isso o que acontece em sua vida. Para sermos francos, a maioria de nós tem de admitir que com freqüência enfrentamos uma luta antes de ter condições de escapar de uma alienação emocional e de um senso de irrealidade que às vezes prevalecem em nós.

Não importando o que um idealismo sonhador possa dizer, somos forçados a encarar as coisas no nível da realidade prática. Se quando vamos orar o nosso coração sente-se endurecido e não espiritual, não deveríamos convencer-nos do contrário. Antes, devemos admitir a situação com franqueza, e então orar até o fim. Alguns cristãos chegam a sorrir diante da expressão `orar até o fim´, mas isso ou algo parecido com isso, é encontrado nos escritos de quase todos os grandes santos de oração, dos dias de Daniel até hoje.´

Não podemos parar de orar antes de termos orado de verdade.

(Extraído do livro Este mundo: lugar de lazer ou campo de batalha, Danprewan Editora)

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C. H. Mackintosh Encorajamento Vida cristã

Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina

(Umas palavras para os que trabalham na obra do Senhor)

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persiste nela, pois fazendo isto, te salvarás a ti mesmo e aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16).

As palavras do texto citado são muito solenes e devem ser examinadas por todos aqueles que tem que apresentar ás almas a Palavra de Deus e a doutrina. O inspirado apóstolo dirige estas palavras á seu amado filho Timóteo, as quais contém a mais preciosa instrução para cada um dos que são chamados por Deus para ministrar na assembléia ou para pregar o Evangelho. Com toda segurança, tomar parte de tal ministério é um santo e elevado privilégio; mas ao mesmo tempo, o que o exerce tem uma enorme responsabilidade. A passagem citada na epígrafe expõe ante o obreiro do Senhor dois deveres sumamente importantes; deveres absolutamente essenciais aos quais deve prestar atenção com diligente oração e vigilância, se quer ser um obreiro útil na igreja de Deus, um “bom ministro de Jesus Cristo” (1ª Timóteo 4:6).

Primeiramente, deve cuidar de si mesmo, e logo cuidar do ensinamento ou doutrina.

1 – “Tem cuidado de ti mesmo” Consideremos em primeiro lugar este solene mandamento: “Tem cuidado de ti mesmo”. Seria difícil expressar todo o alcance moral destas palavras. É importante que todo crente as observe, mas principalmente um obreiro do Senhor, pois a este se dirigem em particular. Este, mais do que nada, necessita cuidar de si mesmo. Deve cuidar do estado de seu coração, de sua consciência, de seus afetos, seu espírito, seu caráter, sua linguagem, tudo deve manter-se embaixo do santo controle do Espírito e da Palavra de Deus. É necessário que esteja instruído com a verdade e vestido com a couraça da justiça. Sua condição moral e sua marcha prática devem concordar com a verdade que ministra; do contrário, o inimigo, com segurança, ganhará vantajem sobre ele. O mestre deveria ser a expressão vivente do que ensina; ao menos, tal deveria ser o objeto perseguido por ele com sinceridade, com veemência e com perseverança. É de desejar que esta santa medida esteja constantemente ante “os olhos de seu entendimento” (lit. coração) (Efésios 1:18).

Desgraçadamente, o melhor comete faltas e permanece sempre por debaixo dessa medida; mas se seu coração é sincero, se sua consciência é delicada, se o temor de Deus e o amor de Cristo ocupam nele seu devido lugar, o obreiro do Senhor não se sentirá satisfeito com nada que esteja abaixo da medida divina, seja em seu estado interior ou em seu andar exterior. Em todo tempo e em todo lugar, seu ardente desejo será manifestar em sua conduta o efeito prático de seu ensinamento, e ser “exemplo dos crentes em palavra, conduta, amor, espírito, fé e pureza” (1ª Timóteo 4:12). E quanto á seu ministério, todo obreiro do Senhor deveria poder dizer:

“Não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus” (2 Coríntios 4:5). Todavia, jamais devemos perder de vista o tão importante fato moral de que o mestre deve viver a verdade que ensina. Moralmente, é extremamente perigoso que um homem ensine em público o que sua vida prática desmente – perigoso para si mesmo, desonroso para o testemunho e prejudicial para aqueles a quem ensina. Que deplorável e humilhante é para um homem, quando contradiz com sua conduta pessoal e sua vida doméstica a verdade que apresenta publicamente na Assembléia. Isto é algo que há de se temer sobremaneira e que terminará indefectivelmente nos resultados mais trágicos. Que o firme propósito e o vigoroso desejo de todos os que ministram a Palavra e apresentam a doutrina seja pois a de alimentar-se com a preciosa verdade de Deus, de apropriar-se dela, e de viver e mover-se em sua atmosfera, de modo que seu homem interior seja fortalecido e formado por ela; que ela habite ricamente neles, e que desse modo possa correr em direção aos demais com seu vivo poder, sabor, unção e plenitude. É algo muito pobre, e inclusive perigoso, sentar-se ante a Palavra de Deus como um mero estudante, com o objetivo de preparar conferencias ou sermões para pregar aos demais. Nada poderia ser mais cansativo e seco para a alma. O uso meramente intelectual da verdade de Deus, acumular na memória certas doutrinas, pontos de vista e princípios, e logo expo-los com alguma facilidade de palavras, é por sua vez desmoralizador e enganoso. Poderíamos estar extraindo água para os demais e ao mesmo tempo ser, nós mesmos, como encanamento enferrujado. Não há nada mais triste que isso. O Senhor disse “Se alguém tem sede, venha a mím e beba”. Não disse extrai-a. A verdadeira fonte e o poder de todo ministério da Igreja se achará sempre ao beber nós mesmos da água vivificante e não extraí-la para os demais. O Senhor segue dizendo: “Quem crê em mím, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (João 7: 37-38). É necessário que permaneçamos muito perto da fonte eterna, o coração de Cristo, e beber dela longos goles e continuamente. Desse modo nossas próprias almas se refrescarão e serão enriquecidas; rios de benção correrão delas para refrigério dos demais, e torrentes de louvor subirão ao trono e ao coração de Deus por Jesus Cristo. Este é o ministério cristão, o cristão mesmo; e toda outra coisa carece absolutamente de valor.

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George Müller

George Müller – O apóstolo da fé

“Pela fé, Abel… Pela fé, Noé… Pela fé, Abraão…” Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nEle. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: “Pela fé, George Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”.

George Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda.

Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os cristãos, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair a Sua bênção sobre a reunião. Ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus.

Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no orfanato do famoso A. H. Frank. Mais ou menos no mesmo tempo em que George Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as suas atividades que davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.

Logo depois chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses”. E acrescentou: “A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma”.

George Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. “Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço da carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor”.

Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: – “O irmão precisa de dinheiro?” Foi uma grande prova de sua fé, porém, o pastor respondeu: – “Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito de minhas necessidades”. – “Mas”, respondeu a senhora, “Ele me disse que lhe desse isto”, e colocou 42 xelins na mão do pregador.

Nessa ocasião, George Müller fez para si a seguinte regra, da qual nunca mais se desviou: “Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica (Rm. 13:8). Assim sempre saberemos quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar”.

Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiar em Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que era destinado.

“Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão me deu dez libras”. Muitos anos antes de sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.

Era seu costume, e recomendava também aos fiéis, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Desse modo, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.

“Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos fiéis, mas que não era demasiado para o Senhor conceder”. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: “Senhor, olha para as necessidades de teu servo”. Essa foi uma oração que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de 30 minutos.

Muitas pessoas perguntavam a George Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois nada fazia sem antes ter a certeza da vontade do Senhor. Ele respondia:

1) “Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Qaundo chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a Sua vontade.

2) “Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos”.

3) “Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio de Sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões”.

4) “Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do Seu Espírito, indicam claramente a Sua vontade”.

5) “Peço a Deus em oração para que me revele a Sua própria vontade”.

6) “Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas transações de maior responsabilidade, sempre acho esse método eficiente”.

George Müller, três anos antes de sua morte, escreveu: “Não me lembro, em toda a minha vida de cristão, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, SINCERAMENTE E COM PACIÊNCIA, saber a vontade de Deus pelo ENSINAMENTO DO ESPÍRITO SANTO POR INTERMÉDIO DA PALAVRA DE DEUS, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, SINCERIDADE DE CORAÇÃO E PUREZA PERANTE DEUS, ou se eu não olhava para Deus, com PACIÊNCIA, ou se eu preferia o CONSELHO DO PRÓXIMO AO DA PALAVRA DO DEUS VIVO, então errava gravemente”.

Em resposta a muitos que queriam saber como o cristão pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:

1) “Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio da oração”.

2) “Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência”.

3) Se desejamos que nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortalecida”.

“Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria libertação”.

(Extraído da Revista Plenitude, Ano 5, nº 31, de agosto de 1986).

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