A verdadeira simplicidade, que é a honra e a força do crente, é o efeito de uma percepção espiritual das verdades do evangelho.
(John Newton)
A igreja apostólica [primitiva] pensava mais na Segunda Vinda de Jesus Cristo do que na morte e no céu. Os primeiros cristãos procuravam não uma fenda no chão chamada sepultura, mas uma fendidura no céu chamada Glória.
(Alexander MacLaren)
É bom deixar que a oração seja a primeira tarefa da manhã e a última da noite.
(Martinho Lutero)
Rogo a Deus que nenhum de nós ceda à estreiteza de espírito, mas olhe para Jesus em busca de poder sobre o ego em todas as suas formas.
(George Whitefield)
O amor tira o tédio do dever.
(Thomas Watson)
A obra de um verdadeiro convertido não está concluída. Ele encontra uma grande obra para fazer e grandes desejos a serem supridos. Ele ainda se vê como uma criatura pobre, vazia e indefesa, que ainda necessita grande e continuamente da ajuda de Deus. Ele sabe muito bem que sem Deus nada pode fazer. Após uma conversão verdadeira, a alma toma cada vez mais consciência de sua própria impotência e de seu vazio. Ainda está consciente da sua dependência universal de Deus para tudo.
(Jonathan Edwards)
Não se glorie na sua própria fé, nos seus próprios sentimentos, no seu próprio conhecimento ou na sua própria diligência. Glorie-se em nada além de Cristo.
(J. C. Ryle)
Aqueles que têm problemas com a Bíblia quase sempre não conhecem a Bíblia.
Então, disse Jesus a Seus discípulos: “Se alguém quiser…”. A palavra “quiser” aqui significa “desejam”, como no versículo “todos os que piamente querem viver” (2Tm 3.12). Isso significa “estar determinado”. “Se alguém quiser [desejar] vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz [não uma cruz, mas a sua cruz] e siga-Me”. E em Lucas 14.27, Cristo declarou: “E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Portanto, não é uma opção. A vida cristã é muito mais do que subscrever um sistema de verdades, adotar um código de conduta ou submeter-se a ordenanças religiosas. Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus. E, apenas na proporção em que sua vida é vivida em comunhão com Cristo, você estará vivendo a vida cristã – somente nesta medida.
A vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz e siga-Me”. Espero que você e eu ganhemos distinção pela proximidade com que seguimos a Cristo, e então teremos de fato comunhão íntima com Ele. Existe um grupo descrito nas Escrituras do qual é dito: “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que vá”. Mas, infelizmente, há um grupo, um grande grupo, que parece seguir o Senhor de forma irregular, espasmódica, ocasional e distante, não de todo o coração. Há muito do mundo e deles mesmos na vida deles, e tão pouco de Cristo. Três vezes mais feliz será aquele que, como Calebe, perseverar em seguir o Senhor.
Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus.
Ora, amados, nosso principal interesse e objetivo é seguir a Cristo, mas existem dificuldades pelo caminho. Existem obstáculos na vereda, e é a eles que a primeira parte de nosso texto se refere. Você nota que a palavra “siga-Me” vem no final. “A si mesmo” fica no caminho, e o mundo com suas milhares de atrações e distrações é um obstáculo; portanto, Cristo diz: “Se alguém quiser vir após Mim [primeiro], renuncie-se a si mesmo [segundo], tome sobre si a sua cruz e [terceiro] siga-Me”. E aí nós aprendemos a razão pela qual tão poucos cristãos professos seguem a Cristo de perto, clara e consistentemente.
O primeiro passo em direção ao seguir diário a Cristo é o negar a si mesmo. Há uma grande diferença, meus irmãos e irmãs, entre negar-se a si mesmo e a assim chamada auto-negação. A idéia popular, tanto para o mundo como entre os cristãos, é a de desistir das coisas que gostamos. Existe uma grande diversidade de opiniões sobre o que deveria ser abandonado. Há alguns que limitariam isso ao que é caracteristicamente mundano, como ir ao cinema, dançar e assistir às corridas. Há outros que limitariam isso a determinado período de tempo quando a diversão e outras coisas que são seguidas durante o resto do ano são rigidamente evitadas naquela época. Mas tais métodos, assim como os outros, só promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito se desisto de tanta coisa! Ah, meus amigos, o que Cristo fala em nosso texto (que o Espírito de Deus aplique isso a nossa alma) como sendo o primeiro passo para segui-Lo é a negação do próprio eu, não simplesmente algumas coisas que agradam o eu, não algumas coisas que o eu deseja, mas a negação do próprio eu.
O que significa “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo”? Significa, em primeiro lugar, abandonar sua própria justiça, mas quer dizer muito mais que isso. Significa parar de insistir sobre os próprios desejos, significa repudiar o próprio eu. Significa parar de considerar o próprio conforto, o sossego, a satisfação, o engrandecimento, os próprios benefícios. Significa acabar com o eu. Significa, amados, dizer com o apóstolo: “Para mim, o viver é…” , não o eu, mas “Cristo”. Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele. Esse é o significado! E, “se alguém quiser vir após Mim”, diz nosso Mestre, “renuncie-se, a si mesmo se negue”, ou seja, deixe o eu ser repudiado, ser aniquilado. Vemos isso, em outras palavras, em Romanos 12.1: “Apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.
Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele.
Agora o segundo passo para seguirmos a Cristo é tomar a cruz. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz”. Ah, meus amigos, viver a vida cristã é algo mais do que ter uma vida fácil e tranqüila; é um compromisso sério. É uma vida que tem de ser disciplinada com sacrifício. A vida de discipulado começa com a auto-renúncia e continua com a auto-mortificação. Em outras palavras, nosso texto se refere à cruz não apenas como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como um distintivo do discipulado, como uma experiência da alma. E, atentem! Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz. Os benefícios legais do sacrifício estão assegurados pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós quando nós a tomamos diariamente.
Eu quero chamar sua atenção para o contexto. Mateus 16.21 diz: “Desde então, começou Jesus a mostrar a Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-O de parte, começou a reprendê-Lo”. Pedro vacilou e disse: “Tem compaixão de Ti, Senhor”. Isso expressa a lógica do mundo. Este é o teor da filosofia do mundo: auto-proteção e egoísmo. Mas o que Cristo pregou não foi “poupar-se”, e sim “sacrificar-se”. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás e afastou-o de Si: “Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”. Em outras palavras, o que Cristo disse foi: “Eu estou subindo para Jerusalém, para a cruz; se algum de vocês quiser Me seguir, há uma cruz para ele. E, como Lucas 14 diz: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo” (v. 27). Não apenas Jesus devia subir para Jerusalém e ser morto, mas todo aquele que o seguir deve tomar sua cruz. O “deve” é tão imperativo em um caso como no outro. A cruz de Cristo permanece única em seu caráter expiatório, mas, no viver diário, ela é compartilhada por todo aquele que passou da morte para a vida.
Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz.
Então, o que “a cruz” significa? O que Cristo quis dizer com “qualquer que não levar a sua cruz”? Meu amigos, se é deplorável que nesses últimos tempos uma pergunta como esse precise ser feita, é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha concepções anti-bíblicas da razão da existência da “cruz”. O crente em geral parece considerar a cruz a que se refere o texto como qualquer aflição ou dificuldade que possa lhe sobrevir. Qualquer coisa que venha perturbar nossa paz, que seja desagradável à carne, que nos irrita, é vista como uma cruz. Um diz: “Bem, essa é minha cruz!”; outro diz que outra coisa é a cruz dele. Meus amigos, a palavra nunca é utilizada dessa forma no Novo Testamento. A palavra “cruz” nunca é encontrada na forma plural, nem precedida por um artigo indefinido: “uma cruz”. Note também que no texto, nossa cruz está ligada a um verbo na voz ativa, e não na passiva. Não é uma cruz que é colocada sobre nós, mas uma cruz que deve ser “tomada”. A cruz significa realidades definidas que incorporam e expressam as principais características da agonia de Cristo.
Outros entendem que “a cruz” se refere a deveres desagradáveis que eles cumprem sem disposição ou a hábitos carnais que rejeitam. Eles imaginam que tomam “a cruz” quando, empurrados pela consciência, se abstêm de coisas realmente desejadas. Tais pessoas invariavelmente transformam suas “cruzes” em armas para agredir outras. Elas ostentam sua auto-negação e andam por aí insistindo que as demais deveriam imitá-las. Tais concepções da “cruz” são tão farisaicas quanto falsas, e tão prejudiciais quanto errôneas.
Agora, na medida em que o Senhor me permitir, deixem-me mencionar três coisas que a cruz significa.
Primeiro, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiou o Cristo de Deus, e seu ódio foi plenamente manifesto na crucificação. Em João 15, sete vezes Cristo faz referência ao ódio do mundo contra Si e contra Seu povo; e apenas na proporção em que você e eu seguimos a Cristo, em que nossa vida seguir a Dele, em que deixarmos o mundo e estivermos em comunhão com Ele, então, o mundo nos odiará.
Nós lemos no Evangelho que um homem veio e apresentou-se a Cristo para ser Seu discípulo e pediu que primeiro pudesse ir e enterrar o pai, um pedido muito natural, realmente louvável, e a resposta do Senhor é quase atordoante. Disse Ele àquele homem: “Segue-me. […] Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos” (Lc 9.59,60). O que teria acontecido àquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Eu não sei se ele obedeceu ou não, mas, se obedecesse, o que aconteceria? O que teriam pensado dele seus parentes e amigos? Seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que fez com que ele seguisse a Cristo e negligenciasse o que o mundo chamaria de um dever filial? Ah, meus amigos, se vocês seguem a Cristo o mundo pensará que estão loucos, e algumas pessoas encontram muita dificuldade em suportar as censuras contra sua sanidade. Sim, algumas que encontram na reprovação dos vivos uma provação mais difícil do que a perda dos mortos.
Outro jovem apresentou-se a Cristo para o discipulado e pediu ao Senhor que primeiro lhe deixasse ir despedir-se dos seus, um pedido muito natural. Então, o Senhor apresentou a “cruz”: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (vv. 61,62). Pessoas de temperamento afetuoso se ressentem dos puxões que desatam os laços do lar, e os acham difíceis de suportar; mais difíceis ainda são as suspeitas dos amados e amigos de terem sido desprezados. Sim, a censura do mundo se torna muito real se estivermos seguindo a Cristo de perto. Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.
Outro jovem veio e apresentou-se a Cristo e, ajoelhando-se a Seus pés, O adorou e disse: “Bom Mestre, que hei de fazer …?”, e o Senhor apresentou-lhe a cruz: “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres […] vem e segue-me” (18.18,22). E o jovem retirou-se triste. E Cristo ainda continuou a dizer, a vocês e a mim, hoje: “E qualquer que não levar a sua cruz, e vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. A cruz significa a reprovação e o ódio do mundo. Mas, assim como a cruz foi voluntária para Cristo, ela é voluntária para Seu discípulo. Ela tanto pode ser evitada quanto aceita, ignorada quanto “tomada”.
Mas, em segundo lugar, a cruz significa uma vida que é voluntariamente rendida à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte foi um sacrifício voluntário. Em João 10.17,18, lemos: “Por isto o Pai me ama: porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou. Tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la”. Porque Ele deu a vida? Veja o final do versículo 18: “Este mandamento recebi de Meu Pai.” A cruz foi a última exigência de Deus sobre a obediência de Seu Filho. Por isso, em Filipenses 2 é dito que Ele, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a Si mesmo, tomando a forma de escravo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte…” – esse foi o clímax, esse foi o fim do caminho da obediência – “… e morte de cruz.”
Cristo nos deixou exemplo para que seguíssemos Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão – voluntária, não compulsória – voluntária, contínua, fiel, sem nenhuma reserva, até a morte. A cruz, portanto, significa obediência, consagração, rendição, uma vida à disposição de Deus. “ Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”, e: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo”. Em outras palavras, caros amigos, a cruz significa o principio do discipulado, nossa vida sendo dirigida pelo mesmo principio que dirigiu a vida de Cristo: Ele veio aqui e não agradou a Si mesmo, nem devo eu procurar agradar a mim mesmo. Ele a Si mesmo se esvaziou; então, assim devo eu fazer. Ele ia por toda parte fazendo o bem: o mesmo deveria eu fazer. Ele não veio para ser servido, mas para servir: assim deveríamos agir. Ele se tornou obediente até a morte, e morte de cruz. É isto que a cruz significa: primeiro, a reprovação do mundo, porque nós nos opomos a ele e incitamos sua ira por nos separarmos dele, e por andarmos por uma direção diferente e por sermos dirigidos por princípios diferentes daqueles pelos quais ele é dirigido. Segundo, significa uma vida sacrificada a Deus – devotada a Ele.
Em terceiro lugar, a cruz significa sacrifício e sofrimento vicários. Vejamos 1João 3.16: “Conhecemos o amor nisto: que Ele [Cristo] deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Essa é a lógica do Calvário. Nós somos chamados à comunhão com Cristo, e devemos viver segundo os mesmos princípios que Ele: obediência a Deus e sacrifícios pelos outros. Ele morreu para que tivéssemos vida e, meus amigos, nós temos de morrer para que vivamos. Mateus 16.25 diz: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á” – isso diz respeito a todo cristão, pois Cristo estava ali falando aos discípulos. Todo o crente que tem vivido uma vida egocêntrica, preocupado com seu próprio conforto, sua própria paz de consciência, seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios, essa “vida” irá se perder para sempre – tudo desperdiçado à luz da eternidade; madeira, feno e palha, que virarão fumaça. Mas, “quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”, que quer dizer, alguém que não tem vivido considerando seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio benefício, sua própria promoção, mas tem sacrificado e gastado a vida a serviço dos outros por causa de Cristo; esse achará – o quê? –, ele a achará, não alguma outra coisa a mais: sua vida, não outra – a sua vida. Essa vida foi imortalizada, perpetuada, foi feita de materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste do fogo do dia por vir. Ele “a” achará. Cristo morreu para que pudéssemos viver, e nós devemos morrer se quisermos viver! “Quem perder a vida por minha causa, achá-la-á”.
Novamente, em João 20, Cristo disse a Seus discípulos: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (v. 21). Para que Cristo foi enviado? Para glorificar ao Pai, para expressar o amor de Deus, para manifestar a graça de Deus, para lamentar sobre Jerusalém, para ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho, para labutar tão diligentemente que Ele não tinha tempo nem para comer, para viver uma vida de tão alto sacrifício que Seus familiares disseram: “Está fora de Si”, e: “Assim como o Pai Me enviou”, Ele diz, “também Eu vos envio”. Em outras palavras, “Eu vos envio de volta para o mundo do qual vos salvei. Eu vos envio de volta para o mundo para viverdes com a cruz estampada em vós”. Ó irmãos e irmãs, quão pouco “sangue” há em nossa vida! Quão pequeno é o levar o morrer de Jesus em nosso corpo (2Co 4.10)!
Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós?
Já começamos, de algum modo, a “tomar a cruz”? Estamos surpresos com o fato de estarmos seguindo Cristo tão de longe? Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós? Há uma razão para tudo isso. Em seu caráter expiatório, a cruz de Cristo permanece única, mas no viver diário a cruz deve ser compartilhada por todos os Seus discípulos. Legalmente, a cruz do Calvário anulou e afastou de nós nossa culpa, a culpa de nosso pecado, mas, meus amigos, eu estou perfeitamente convencido de que a única maneira de nos libertarmos do poder do pecado sobre nossa vida e de obter domínio sobre o velho homem dentro de nós é tornando a cruz parte da experiência de nossa alma. Foi na cruz que o pecado foi tratado legal e judicialmente; somente na medida em que a cruz for “tomada” pelo discípulo é que ela se torna uma experiência – matando o poder e a corrupção do pecado que habita em nós. E Cristo diz: “Qualquer que não tomar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo!”. Oh, que necessidade tem cada crente de ficar a sós com o Senhor e consagrar-se a Seu serviço!
A maioria de nós comete o erro de tentar mudar nossas circunstâncias, em vez de mudar a nós mesmos.
(Vance Havner)
A percepção de que meu relacionamento diário com Deus é baseado no infinito mérito de Cristo, e não em meu próprio desempenho, é uma experiência muito libertadora e alegre.
(Jerry Bridges)
A Igreja não tem como objetivo atrair as pessoas para si mesma. A Igreja tem como objetivo conduzir as pessoas a Cristo.
(Stephen Kaung)
Cuidado com você mesmo mais do que com qualquer outro homem; carregamos dentro de nós nossos piores inimigos.
(Charles H. Spurgeon)
Tudo o que fazemos é para a eternidade.
(Thomas Brooks)
Os que querem crescer na graça precisam ter sede de saber.
(Matthew Henry)
A natureza da esperança é esperar no que a fé crê.
O trecho escolhido começa com eu [subentendido]. Existem dois grandes eus nas Escrituras, os quais são exatamente opostos. Um é o eu daquele querubim: é a primeira vez que a palavra eu foi usada no universo de Deus e foi quando o rebelde a pronunciou. O outro eu é o de nosso Senhor, o qual Ele usou com Seus discípulos, quando disse “Eu em vós”. O que Satanás realmente queria dizer quando usou pela primeira vez a palavra eu foi: “Não mais Deus, mas eu”. Isso fez dele o arqui-traidor. Quando ele continuou dizendo “Eu irei”, isso foi um ato de auto-traição.
Adão e Eva fizeram a mesma escolha que o diabo já tinha feito: o eu em lugar de Deus. O eu se tornou o centro da visão deles, e eles também disseram: “Não mais Deus, mas eu”. Esse eu é também o centro da sua vida e da minha, e quer viver para si mesmo. Para haver uma nova história em nossa vida, deverá haver primeiro uma mudança no nosso relacionamento tanto com o eu quanto com Deus. Nossa vida devem ser reajustadas de tal maneira que, em vez de “Não mais Deus, mas eu”, seja o: “Já não sou eu, mas Cristo” de Gálatas 2.19,20.
Mas o eu nunca sairá do trono por si mesmo. Ele nunca se rebaixará ou se retirará em favor de Cristo. Ele deve ser removido a fim de ser substituído por Cristo como centro de nossa vida. Como se pode fazer isso? Existe somente um lugar onde isso pode ser feito, e esse lugar é a cruz de Cristo. O caminho de Deus é o caminho da cruz, e o caminho da cruz significa morte. Nós não podemos dizer de uma forma real: “Cristo vive em mim” antes de dizermos: “Eu estou crucificado com Cristo”. Essa é a ordem de Deus, e não pode ser mudada. Quando o velho eu se retira por meio da crucificação, a nova vida entra pela ressurreição. Quando o velho eu cai e morre, o novo eu surge e vive.
Por que razão o velho eu é tão abominável e odioso aos olhos de Deus, para que deva tratar tão drasticamente com ele? Eu estou sempre procurando uma visão nova desse versículo. Alguns anos atrás, compreendi esse verso de uma maneira bem definida como um padrão para minha vida diária. Recentemente, li um folheto e recebi uma nova luz nesse versículo, o qual deu lugar a uma nova linha de pensamento com respeito à razão pela qual Deus teve de levar o velho eu à cruz para ser crucificado com Jesus Cristo. Vou pedir a você que abra a Bíblia em Marcos 10.32-45, e leia esse trecho antes de continuar a ler este artigo.
Nessa passagem, o Senhor Jesus falou a Seus discípulos do sofrimento que O esperava; da zombaria, do tormento e dos acoites, que terminariam em morte de crucificação. Alguém poderia pensar que o coração deles tivesse sido comovido enquanto visualizavam a agonia que esperava o Senhor. Mas muito pelo contrário! As palavras do Senhor Jesus pareciam não dizer nada a eles. Por quê? Porque eles estavam preocupados consigo mesmos. Dois deles, Tiago e João, vieram ao Senhor dizendo: “Mestre, queremos que nos conceda o que Te vamos pedir”. Isto é o ego falando: “Que Tu nos concedas!” Não há nenhum desejo de fazer algo para Ele.
O eu sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O eu quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias e, mesmo ocasionalmente, o tempo.
O Senhor Jesus perguntou: “Que quereis que vos faça?” Quanta graça! Que incomparável altruísmo e humildade! Então, os dois disseram: “Permite-nos que na Tua glória nos assentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.” “Permiti-nos! Não importa que tipo de lugar os outros dez tenham; qualquer lugar será bom para eles; mas cuida para que nós tenhamos os melhores lugares, por obséquio. Depois que o Senhor nos houver colocado assentados, pode, então, assentar os outros em qualquer lugar.” Lembre-se que estes dois eram ardentes fundamentalistas. Eles acreditavam no céu. Haveria de vir uma Terra Gloriosa, e eles queriam se assegurar de que teriam os melhores lugares ali; eles iriam reservá-los, e queriam obter essa solicitação antes mesmo que os outros tivessem uma chance.
O Senhor fez dessa solicitação uma ocasião para ensinar-lhes mais alguma coisa: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo?” “Sim! Vocês estarão Comigo na Terra Gloriosa, mas há alguma coisa antes da Terra Gloriosa. Há o cálice: a cruz! Vocês estão prontos para ir à cruz? Os lugares que vocês terão na glória irão depender de vocês irem àquela cruz Comigo ou não, de vocês beberem aquele cálice Comigo.”
Eles não tinham pensado nisto! Eles pensaram somente nos lugares que iriam ocupar na glória – puro e extremo egoísmo. Mas a cruz vem antes da glória; o cálice precede o lugar, não somente para eles, mas também para você e para mim. Quando os dez ouviram a conversa, ficaram muito aborrecidos pelo fato dos dois terem se antecipado a eles e pedido os melhores lugares. A raiva deles suscitou do Senhor Jesus estas palavras maravilhosas, as quais prefiguram a cruz e colocam-na bem no centro da experiência cristã:
“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos” (vv. 43-45).
Não pensariam vocês que a palavra “próprio” os teria atingido até o âmago? O próprio Filho do homem! Ele tinha o direito de vir esperando ser servido, porque era o Filho de Deus. Mas Ele veio também como o Filho do homem, e é assim que Ele próprio se chama aqui. O ego espera obter, Cristo veio para dar. Ele veio não para ser servido, mas para servir, até mesmo para dar a Si próprio à morte na cruz.
O eu sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O eu quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias e, mesmo ocasionalmente, o tempo.
O velho eu tem um grande senso de sua própria importância, e uma presunçosa avaliação das próprias habilidades. Ele fica terrivelmente chateado se sua importância não é reconhecida, se seus dons não são valorizados, se seus direitos não são admitidos ou se não é considerado apropriadamente; tudo porque ele veio para ser servido, e não para servir.
O velho eu sabe muita coisa da Bíblia, mas nada da parte que diz: “Preferindo-vos em honra uns aos outros”, ou de: “Não procurando o que é propriamente seu”, ou de: “Alegrai-vos com os que se alegram”. Sendo assim, isso dá lugar ao ciúme e à inveja, talvez até mesmo à falta de perdão, ressentimento e ódio, tudo porque ele veio para ser servido, não para servir. Ele pode finalmente até fazer uma bondade a alguém, e então quase ter um colapso nervoso porque não foi suficientemente apreciado. Os agradecimentos não foram bastante profusos, porque ele veio para ser servido, não para servir.
Ele se orgulha de seu firme julgamento e sábio conselho e ama ser consultado. Se as pessoas se dão bem sem seu conselho, ou se seu conselho é dado, mas ignorado, então, sua reputação sofre. Ele veio para ser servido. Ele tinha de falar numa reunião e esperava uma grande audiência, mas não havia uma grande audiência; ou talvez a grande audiência estivesse lá, mas simplesmente saiu sem dizer qualquer palavra de como a reunião tinha sido um sucesso ou comentado da mensagem maravilhosa que tinha sido dada. Então, o velho eu foi para casa cabisbaixo e triste, julgando-se falho e sentindo-se extremamente deprimido e aborrecido. Ele não veio para servir, mas para ser servido, e estava desapontado.
Ele queria se entregar ao trabalho cristão, tinha esperado ardentemente por isso, mas pelo quê ele iria ganhar disso e não pelo quê ele representaria ao trabalho. Logo, ele ficou desapontado e cansado, e queria desistir. Por quê? Porque ele não veio para ministrar, mas para ser ministrado; e não recebeu o que esperava.
A Principal Causa do Problema
O problema que você e eu temos em nossa vida e em nosso serviço é devido principalmente ao eu. Naturalmente não pensamos assim! Nós continuamos a fazer exatamente aquilo que começou no Éden: nós tentamos colocar a culpa noutro lugar (cf. Gn 3.12). Mas nenhum de nós pode jamais ser roubado de qualquer paz, alegria, descanso, poder, ou qualquer outra coisa que pertence a nós pelo fato de sermos cristãos, a não ser por causa do velho eu. Ele fica tão inquietado por pequenas coisas. A água é cortada justamente na hora que alguém começa a lavar a louça; a carta não vem no dia exato em que é esperada; ou até mesmo alguém começa a escrever uma carta e acaba a tinta da caneta! Como o velho eu se indigna e se enfurece! Que momentos difíceis! Por quê? Ele está ocupado consigo mesmo, toda a vida gira em torno dele. Ele veio, não para ministrar, mas para ser ministrado. É, então, de estranhar que, para Deus, haja outro lugar para ele a não ser a cruz do Calvário?
Agora voltemos ao nosso verso. “[Eu] estou crucificado com Cristo.” Creio que Paulo estava dando um testemunho pessoal. Ele nos deu a doutrina que está em Romanos 6.6, mas aqui ele dá seu testemunho pessoal de que isso é um fato e de que isso passou a ser sua própria realidade de vida. Paulo está dizendo aqui: “Eu, Paulo, fui crucificado com Cristo, e não é mais o velho homem que é o centro de minha vida; Outro veio para tomar seu lugar. Já não sou eu, mas Cristo!” Podemos dizer o mesmo como uma realidade viva?
Mas quem é Cristo? Qual é Sua vida? Uma vida assim humilde, santa, pura, justa, tal vida de amor: isto é Cristo. Aquele que é tudo isso – este Cristo, não outro – vive em você e em mim. Que espécie de vida Ele vive? Exatamente a mesma espécie de vida que viveu aqui na terra. Não é outra vida. Ele vive exatamente a vida que está vivendo agora à mão direita de Deus. E Cristo vive em mim!
Existem certos princípios que governaram a vida de Cristo quando Ele viveu aqui na terra; princípios bem definidos e afirmados muito claramente na Palavra de Deus, e vou mencionar cinco deles. Eu creio que, se deixar Cristo viver completamente em mim, então, Ele vai viver de acordo com esses mesmos princípios.
Primeiro:Ele vivia puramente para a glória de Deus. Não havia um simples traço de auto-glorificação no Filho do homem. Ele disse em Sua oração sacerdotal: “Eu terminei o trabalho que Tu me deste”. Isso nos ensina que, mesmo antes do desejo de fazer a obra do Pai, o desejo ardente de Seu coração era glorificar Seu Pai. Ele tanto glorificou o Pai que pôde dizer a Felipe, quando este perguntou se poderia ver o Pai: “Aquele que vê a Mim vê o Pai”. Assim, este é o primeiro princípio da vida de nosso Senhor: glorificar a Deus, e não auto-glorificação.
Segundo: Ele viveu para agradar ao Pai. Não houve nenhum agrado próprio em Sua vida. “Eu sempre faço as coisas que Lhe aprazem”; sempre, e não algumas vezes. Este foi um princípio permanente em Sua vida: viver para agradar ao Pai.
Terceiro: Ele viveu em completa obediência a Seu Pai. Não navia nenhum traço de vontade própria Nele. Ele continuamente dizia: “Não seja feita a Minha vontade, mas a Tua”. Em todas as coisas e em todo momento, este também era um princípio permanente na vida do Filho do Homem aqui na terra.
Quarto: Ele vivia em absoluta dependência de Seu Pai. Não havia auto-confiança. Ele disse: “O Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão aquilo que vir o Pai fazer”.
Quinto: Ele viveu somente para Seu Pai. Não havia apenas nenhuma vontade própria, mas também nenhum caminho próprio. Ele disse: “O Pai enviou-Me” e “Eu terminei a obra que o Pai me deu a fazer”.
Ora, o Cristo que vive em você e em mim pretende viver exatamente em acordo com esses cinco princípios, de maneira que em nossa vida haverá glorificação do Senhor Jesus Cristo, e não auto-glorificação: nosso viver será somente para agradá-Lo, e não para agrado próprio, mas uma vontade completamente entregue em submissão ao Senhor Jesus Cristo. Nós seremos realmente Seus escravos. Será uma vida vivida sem auto-confiança, nunca fazendo nada de nós mesmos. Crendo que Ele vive Sua vida em nós, nossa dependência estará totalmente Nele.
Paulo aplicou isso a si mesmo. O mesmo Cristo deve viver a mesma vida em você e em mim. Isso é tão profundo, e assim mesmo tão simples: apenas uma Pessoa divina vivendo Sua vida num ser humano. Não é que Cristo vai viver Sua vida em nós com nossa ajuda. Não é que Ele vai nos ajudar a viver a vida cristã. Não é nenhuma dessas duas coisas. É exatamente o que nosso verso diz: Cristo vivendo plenamente Sua vida em nós. Cremos nisso? É essa a vida que você e eu temos vivido até o dia de hoje? Temos estado conscientes de que há uma Pessoa divina dentro de nós, realmente vivendo Sua vida em nós?
Isso não poderia ser afirmado de maneira mais simples. Ainda temos nossa personalidade humana, mas existe outra Pessoa vivendo, e vivendo em todas as áreas de nossa vida, não em uma pequena parte, mas em toda parte. O velho eu está crucificado e, portanto, deve ser despojado como lemos em Efésios. O novo eu, o qual é Cristo em nós, a vida sobrenatural de uma Pessoa sobrenatural deve ser vivida plenamente em nós. Isso é verdade para você e para mim?
Antes que Ele forneça o abundante suprimento, primeiro devemos ser feitos conscientes de nosso vazio. Antes que Ele nos dê força, devemos sentir nossa fraqueza. Devagar, dolorosamente devagar, vamos aprender essa lição; e mais devagar ainda reconhecer nossa insignificância e tomar o lugar de impotência diante do Poderoso.
(A. W. Pink)
A salvação é simples, mas não é fácil.
(Oliver Smith)
Quando, enfim, eu confessei: “Sou pecador!”,
ante a graça me prostrando,
Cristo, então, me declarou: “Sou Salvador!”,
meu pecado retirando.
(John Dickie)
Todas as virtudes de um cristão emergem da morte do ego.
(Madame Guyon)
Em oração, nós agimos como homens; em louvor, nós agimos como anjos.
(Thomas Watson)
Não há qualquer tipo de obediência que prestemos a Deus contra o qual o pecado não se oponha. E quanto mais espiritualidade ou santidade houver no que fazemos, maior é esta oposição. Assim, aqueles que buscam oferecer o melhor a Deus são os que experimentam a oposição mais forte.
(John Owen)
Não há orgulho tão perigoso, tão sutil e traiçoeiro, como o orgulho da santidade.