É extremamente importante a maneira que uma pessoa se porta em casa. Não se deve ser um santo lá fora e um demônio em casa! Existem alguns desse tipo. Eles são extremamente meigos na reunião de oração, mas são terrivelmente amargos com a esposa e com os filhos. Isso não pode ser assim! Todo crente genuíno deveria dizer de coração: “Eu vou andar em minha casa com um coração perfeito”. É em casa que encontramos as mais verdadeiras provas de santidade. Alguém perguntou a George Whitefield: “Que espécie de homem é ele?” E Whitefield respondeu: “Não sei dizer, pois nunca morei com ele”. Esta é a maneira de testar uma pessoa: conviver com ela.
(C. H. Spurgeon)
O orgulho é a roupagem que a alma veste primeiro, e da qual se despe por último.
(George Swinnock)
Se Deus colocou nossos pecados sobre o Filho de Seu amor, você pode descansar seguro de que Ele jamais os colocará novamente sobre você; pois, se Cristo os suportou e fez expiação por eles pela justiça divina, eles não poderão mais ser encontrados.
(Otávio Winslow)
Toda a vida do cristão deve ser nada mais além de louvores e ações de graças a Deus. Não devemos simplesmente comer e beber, mas comer para Deus, e dormir para Deus, e trabalhar para Deus e falar para Deus – fazer tudo para Sua glória e Seu louvor.
(Richard Sibbes)
Aqueles anos, meses, dias e horas que não são preenchidos com Deus, com Cristo, com graça e com obediência, certamente serão preenchidos com vaidade e tolice. A negligência de um dia, de uma sujeição, de uma hora, nos destruiria, se não tivéssemos um Advogado junto ao Pai.
(Thomas Brooks)
Eu posso fazer mais que orar depois de ter orado, mas não posso fazer mais que orar até que tenha orado!
(John Bunyan)
Dos tempos bíblicos até hoje, pessoas piedosas sempre foram pessoas espiritualmente disciplinadas.
Como Cristo nos capacita a viver da maneira que Deus quer que vivamos?
Quase sempre pensamos em Cristo como uma Pessoa separada de nós mesmos que nos ouve e nos ajuda. O próprio Jesus, entretanto, na parábola da Videira e dos Ramos fala sobre a vida que Cristo vive em nós. “Eu sou a videira e vós sois os ramos”, Ele diz em João 15:5.
O que pode ser mais íntimo do que a união entre a videira e o ramo? Há muitos tipos de uva, mas em todas elas a seiva que está na videira é exatamente a mesma que está no ramo. Assim sendo, a mesma vida e Espírito que estão em Cristo têm de estar em nós.
Muitos vêem a Cristo como um Salvador que é separado e externo. Tais pessoas nunca poderão desfrutar da Sua salvação totalmente. Eu preciso crer no Salvador que vive dentro de mim. Eu preciso saber que da mesma maneira que Cristo está no Céu, Ele está dentro de mim, Seu ramo. Ele está no mais íntimo da minha vida. Ele vive em mim, e por viver ali capacita-me a viver como filho de Deus.
Alguns acham que quando Cristo habita dentro de nós Ele vive em algum lugar na região do coração. Eles pensam em uma pessoa separada dentro deles, que de vez em quando atua ali.
Esta não é a verdade. Cristo vive dentro de mim e se torna a minha própria vida! Ele entra na própria raiz do meu coração e do meu ser. Ele entra na minha vontade, pensamento, sentimento e viver, e vive em mim no poder que somente o Deus onipresente pode exercer.
Quando entendo isto, minha alma se prostra em adoração e confiança em Deus. Eu vivo na carne a vida de carne e sangue, mas Cristo habitando em mim é a verdadeira Vida da minha vida.
As Escrituras dizem isto de uma maneira muito bonita: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:19- 20).
Agora, o ponto crucial é este: se Cristo vive em mim, Ele não vive em mim à força, nem sem que eu saiba disto.
Ele me convida a chegar e ver o que é a Sua vida. Se eu desejo a Sua vida, eu preciso desistir da minha.
Eu também preciso desistir de todas as idéias errôneas sobre o que é a verdadeira vida de Cristo. Eu não posso ter a vida de Cristo em mim com poder, a menos que eu procure conhecer realmente que tipo de vida Ele viveu.
Ah, venha e deixe o Cristo vivo viver em você! Para este fim, procure conhecer a vida que Ele colocou diante de você pelo Seu exemplo. Não que seremos capazes de imitar a Cristo. Mas Cristo viveu Sua vida por nós e agora implanta em nós e por esta razão podemos compartilhar a Sua vida.
Que tolice seria para uma criança de três anos dizer: ‘Tudo o que meu pai pode fazer, eu também posso.” Como, então, posso dizer: “Eu posso viver como viveu o poderoso Cristo”?
Porém, a Bíblia me diz que devo fazê-lo. A Bíblia também me diz que posso fazê-lo, não por mim mesmo, mas porque “Cristo vive em mim”. Se eu permitir que o Cristo vivo tome conta da minha vontade e de meus desejos, poderei andar como Ele andou.
Vamos, portanto, examinar a vida que Ele viveu na terra com Seu Pai. Não há dois Cristos, somente um; o Cristo que viveu na terra. Ele é o Cristo que vive no coração de acordo com João 15 e Gálatas 2:19-20.
Olhe atentamente para a vida de Cristo como está registrada nas Escrituras e você verá que a grande marca daquela vida é que Ele a viveu na mais profunda humildade e dependência do Pai Celestial. Ele disse: “Eu não posso fazer nada por Mim mesmo.” Em tudo Ele derivava Sua vida de Deus.
Note cinco pontos na Sua vida: Seu nascimento, Sua vida e caminhar na terra. Sua morte, Sua ressurreição e Sua ascensão. Em cada um dos aspectos havia uma parceria com o Deus Santo no Céu.
Do início ao fim do ministério de Cristo na terra, Deus, o Pai, era tudo. Se eu entendo isto, que o Cristo que vai viver em mim é o Cristo que honrou a Deus em tudo, Ele trabalhará para implantar a mesma disposição em mim.
Esta será a beleza, a bem- aventurança e a força da minha vida, quando eu aprender, como Cristo, a saber que em tudo Deus é tudo. O lema da Sua vida se tornará o meu: “Por Deus, para Deus e através de Deus são todas as coisas.”
Seu Nascimento
Olhe para o nascimento de Cristo. Deus operou o poder do Espírito Santo na virgem Maria. Foi pelo tremendo poder de Deus que Cristo nasceu como um bebê em Belém. Ele foi a obra-prima de Deus.
Cristo sempre se lembrou disto. Ele sempre disse às pessoas que Seu Pai O tinha enviado. Ele sempre reconheceu que Sua vida viera de Deus. “O Pai entregou todas as coisas nas mãos do Filho,” Ele disse. Depois acrescentou: “Por isso Ele concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo.”
Este foi o seu ponto de partida. “Minha vida vem de Deus. Eu venho de Deus. Não tenho nada em Mim mesmo, e tudo que preciso, devo procurar em Deus.”
Se Cristo seguiu este padrão, devemos fazer o mesmo. Devemos dizer em profunda sinceridade: “Esta nova vida é a vida que tenho de Deus. Ele a deu para mim. Deus está iniciando uma obra no meu coração, pelo Espírito Santo, em regeneração. Eu tenho uma nova vida que veio de Deus.”
E quanto a esta vida que Deus deu? Quem vai sustentá-la? Somente Deus pode terminar o que Ele começou. Ele a levará até ao fim. Ele deve aperfeiçoá-la.
Para mim, a maior tolice seria pensar que posso mantê-la sozinho. Eu recebi do Deus vivo o Cristo vivo em mim, e não posso viver fora desta vida. Devo entregá-la a Deus e reconhecer: “Meu Deus, Tu a plantaste em mim; Tu, somente, podes mantê-la.”
Faça isto se você quer compreender como Cristo vive toda Sua vida na dependência da vontade, força e poder de Deus. Ele disse, com relação à questão de força: “O Filho não pode fazer nada de si mesmo” (Jo 5.19).
Isto era verdade? Sim. Ele disse: “As palavras que falo, não as falo de Mim mesmo, mas como o Pai as deu. O Pai mostrou as obras. Eu as faço.” (Ver João 14.10).
Ele disse a respeito do que fez: “Não vim para fazer a Minha vontade. Espero inteiramente no Pai, para que Ele possa realizar o que é certo.” Se Cristo, o Santo, precisou dizer isto, você não acha que você e eu temos que dizer a mesma coisa dez mil vezes mais? Para isto queremos que Cristo entre em nós: para soprar em nós exatamente esta disposição.
A maior virtude de qualquer vida cristã é deixar Deus fazer a Sua vontade. Precisamos dar a Deus a oportunidade de fazer Sua obra em nós. Precisamos vir dia após dia, hora após hora, ao lugar de absoluta dependência de Deus. Precisamos aprender uma lição: “Oh, Deus, não tenho nada! Não sei nada, não sou nada, e só posso fazer o que Tu me capacitares a fazer.”
E como é que Cristo me leva para perto de Deus? Ele não pode me levar para perto de Deus de outra maneira a não ser daquela em que Ele mesmo andou. Como foi isto? O caminho da mais profunda abnegação; o caminho de completa entrega a Deus.
Ele estava sempre esperando Deus, o Pai, trabalhar nEle. Ele buscava em Deus a Sua força. Ele orava a Deus pedindo direção. Ele clamava a Deus quando estava em apuros, Deus era tudo, tudo para Ele e Cristo estava contente em não ser nada.
Eu não posso deixar isto mais claro. A grande razão pela qual nossa vida cristã não avança mais é que tentamos demais fazer as coisas por nós mesmos. Temos muita energia própria e somos muito auto-confiantes. Nunca aprendemos a lição elementar que a única posição para nós diante de Deus é a de ser nada. Então Deus operará em nós.
Pense nos anjos do Céu, os serafins e querubins. Por que eles são chamas tão brilhantes diante do trono de Deus? Porque não são nada; não há nada neles para obstruir a Deus, e dessa forma Ele pode deixar a glória da Sua presença brilhar através deles.
Por que Cristo era tão perfeito, e por que Cristo alcançou tamanha vitória, e por que Cristo satisfez a Deus, o Pai? Por uma razão: Ele permitia que Deus trabalhasse Nele de manhã até a noite. Cada passo era em dependência de Deus, o Pai.
“Pai, guia-Me”, Ele dizia. “Pai, espero em Ti,” e “Pai, opera em Mim.”
Quando Cristo vem viver em nós, a primeira e principal coisa que Ele quer operar em nós é dependência absoluta Dele. Você, cristão não terá de confessar: “Eu nunca percebi isto. Eu não tenho posto isto em prática. Eu não entendi que, de manhã até a noite, eu devo deixar Deus trabalhar em mim. Não posso fazer nada.”
“Como vamos então fazer o nosso trabalho?”, você pode perguntar. Você acha que Cristo também foi inativo? O grande apóstolo era inativo? Com um propósito intenso ele viajou pelo mundo, e contudo, o tempo todo ele dizia: “Não sou nada.” Esperar em Deus não nos tornará inativos. Pelo contrário, gerará em nós muita atividade.
Ore a Deus para nos ensinar que se quisermos conhecer o poder de Cristo em nós, precisaremos de uma vida de dependência total e absoluta de Deus.
A Morte de Cristo
O que a morte de Cristo nos mostra com relação à nossa dependência de Deus? Mostra que a vida que Deus deu ao Seu Filho foi por Ele entregue inteiramente a Deus. “Eu não considero a Minha vida como Minha,” Ele disse. “Se o Pai a quer, apesar de tanto sofrimento, tanta vergonha, e de tanta agonia pelo sofrimento da morte, Eu a dou novamente a Ele.”
Isto é justo. Isto é certo. Se tudo o que tenho é de Deus, então tudo deve retornar a Ele.
Foi assim com Jesus. Quando Ele tinha doze anos, lembre-se que Ele disse a Maria: “Você não sabe que devo cuidar dos negócios de Meu Pai?” Mais tarde Ele disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que Me enviou e terminar Sua obra.”
Novamente Ele disse: “Eu desci do céu não para fazer a Minha própria vontade, mas a vontade daquele que Me enviou.” No Getsêmani, naquelas últimas horas de angústia antes de Sua morte, Ele disse ao Pai: “Não se faça a Minha vontade, e sim, a Tua.”
Nós, como crentes, nunca reconhecemos os direitos que Deus tem.
Nós nunca sequer entendemos que todo o poder que temos vem de Deus.
Minha vida toda vem dEle, e cada momento da minha vida deve ser entregue de volta a Ele. Toda força que recebo na vida espiritual vem de Deus, assim como a luz do sol vem do sol, cada coisa deve voltar a Deus para que toda ação seja para a glória de Deus.
Um cristão que tem Cristo vivendo nele será verdadeiramente santo, uma pessoa dedicada totalmente a Deus. Isto não é fácil. Por que? Porque o nosso eu é muito forte. O pecado nos colocou nesta condição terrível. Ao invés de considerar uma honra e um privilégio não ser nada e fazer a vontade de Deus, na verdade nós a consideramos difícil.
Temos pensado na submissão do ego como uma alta realização, algo fora de alcance. Porém, se uma pessoa desistir de si mesma, e render-se a Deus, ela pode experimentar a vida de Cristo nela.
O companheiro de Paulo, Epafras, orou pelos crentes colossenses, para que eles permanecessem perfeitos e plenamente convictos em toda vontade de Deus (Cl 4:12). Pense nisso! Paulo esperava que isto fosse verdade em cada cristão.
Cristo viveu somente para a vontade de Deus. E você, quer este Cristo em seu coração ou quer tentar viver um pouco por sua própria vontade? Você quer o Cristo vivo, o Cristo que revela Deus, que entregou tudo?
Se já houve alguém que teve o direito de dizer: “Eu viverei por mim mesmo,” este alguém foi Cristo. Mas Ele não agiu assim. Este é o Cristo que eu quero que viva em mim, um Cristo que me capacitará a viver na dependência de Deus.
Deus te dará este Cristo se, de coração, você entregar a sua vida, o seu tempo, e a sua vontade para que Ele faça exatamente isto em você.
Pense na bela e perfeita vida de Cristo, uma vida sem pecado algum! Foi necessário entregar a Sua própria vida? Sim!
Agora Cristo diz: “Se você quer que Eu viva em você, você deve fazer o que Eu fiz. Você deve entregar a sua vida própria até a morte, e morte de cruz, para ser crucificado.” Nós devemos ser verdadeiros participantes da morte de Cristo.
Por isso, a Palavra de Deus diz: “Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6:5).
Portanto, eu como cristão devo dizer para Deus: “Eu quero perder a minha vida. Eu quero morrer para mim mesmo. Eu quero que Cristo entre em mim com Sua morte, e me envolva de tal maneira que Ele possa viver em mim.”
A Ressurreição de Cristo
O próximo passo é a ressurreição. Quando Cristo entregou Sua vida, Deus a deu de volta para Ele de uma maneira muito mais gloriosa. Depois que Cristo desceu à sepultura, Deus O exaltou dando-Lhe uma nova vida, infinitamente maior e melhor do que aquela que entregara.
A ressurreição de Cristo me traz este ensinamento: que se eu estiver disposto a negar minha vida pecaminosa, minha vontade perversa, meu coração e suas afeições, todo o meu poder neste mundo, para entregar tudo isto a Deus, Ele trará a nova vida ressurreta de Cristo ao meu coração aqui na terra. Cristo, o Deus Vivo, que foi levantado da morte, virá e morará em meu coração.
Estude o túmulo de Jesus. O que significa? Cristo se entregou até a morte, completamente desamparado, para não ser nada diante de Deus. Lá Ele ficou, apenas permitindo que Deus tomasse o tempo necessário para fazer a Sua obra.
O que Deus fez? Ele cumpriu Sua promessa e deu-Lhe uma vida milhares de vezes mais gloriosa do que Sua vida antes do Calvário. Se você quer que Cristo realmente viva em seu coração, então você quer aquele Cristo que desceu à sepultura. Você quer que o Cristo com a vida ressurreta entre em você e seja um com você, o Cristo que foi morto e está vivo para sempre.
Ele é aquele que vem e traz o poder da Sua morte para dentro de mim, para que tudo morra para si mesmo e para o pecado, e traz o poder da Sua vida, para que tudo em mim possa viver com a nova vida de Deus.
Não se contente com meros pensamentos a respeito da presença de Jesus. Deixe Sua vinda ser uma realidade. Deixe-0 ser uma presença viva.
Quem é este Cristo que vive em mim? Ele é um Homem que recebeu Sua vida de Deus, que viveu uma vida de íntima dependência de Deus, um Homem que entregou a Sua vida inteira e a Sua vontade para Deus, o Homem levantado da morte pelo poderoso poder de Deus. Este é o Cristo que quer viver em você.
Ele é o Deus-Homem que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, que viveu na terra em íntima dependência do Pai no Céu, o Deus encarnado que entregou a Sua vida inteira e a Sua vontade para o Pai, o Deus levantado da morte pelo grande poder daquele que é Eterno. Este é o Cristo que quer viver em você.
Ascensão de Cristo
Após a ressurreição de Cristo, Ele ascendeu aos Céus. Deus levou-0 para um lugar de poder, para compartilhar Seu trono de glória, fazendo dEle o parceiro do poder Divino. Ele enviou o Espírito Santo.
Muitos perguntam: “Como eu posso ser uma bênção para os meus companheiros?” Como Cristo se tornou uma bênção para o mundo? Ele entregou a Si mesmo para Deus, morreu para Si mesmo e para Sua vida natural e esperou que Deus O exaltasse.
Porque Ele agiu assim, Deus O exaltou para o lugar de bênção. Por causa de Sua morte e ressurreição Ele pôde nos enviar o Espírito Santo.
Você quer a Cristo mas não pode tê-Lo até que aprenda a lição da dependência de Deus. Você deve morrer, e então aprender pela fé a tomar posse de Cristo na sua ressurreição e ascensão.
Portanto, quando Jesus Cristo vive em você em sua vida terrena, você passa a partilhar da glória do Seu amor celestial. A vida de Cristo na sua totalidade em você, a dependência de Cristo em Deus, o Cristo entregue a Deus, o Cristo levantado por Deus e o Cristo exaltado acima com Deus, este Cristo quer viver em você.
Para Cristo me levar para perto de Deus, Ele não pode ficar do lado de fora da minha vida. Ele deve viver dentro de mim, unido (comigo) em harmonia e obediência no serviço de Deus. Este é um mistério espiritual mas Deus é um Ser Santo e Espiritual e eu não posso ser atraído a Ele pelo meu pensamento ou por pensar em uma certa localização do Céu.
Ser levado para Deus significa que Cristo entra em mim e vive Sua vida em mim. Ele me introduz a um relacionamento pessoal com o Deus vivo. A grande pergunta que mexe com a igreja é: “Por que os cristãos são tão frágeis?” E a grande pergunta em muitos é: “O que podemos fazer para conseguir a vida plena de Cristo, e viver como Deus promete que podemos viver? 0 que podemos fazer para nos tornarmos aqueles filhos de Deus que o Pai é capaz de gerar, galhos da Videira Verdadeira?”
O que temos que fazer? Primeiro, devemos contemplar este Cristo e nos perguntar: “Será que quero entregar tudo para que este Cristo viva em mim?” Você sabe como Cristo viveu em Paulo. Era como se Cristo tivesse se encarnado em Seu apóstolo, o mesmo zelo por Deus, o mesmo amor pelas almas, a mesma prontidão para sacrificar tudo. Tudo de notável em Paulo era a completa vida de Cristo nele. Você deseja ter este Cristo em você?
Suponha que você fosse tão pobre quanto Cristo, tão perseguido quanto Ele foi, e suponha que Deus dissesse: “Meus filhos, Eu darei a maior glória ao homem que permitir que Cristo venha e viva nele para viver a vida de sofrimento que Ele viveu.” Quantos diriam: “Sim, Senhor, eu daria tudo para que Cristo pudesse se apossar de mim”?
Quantos diriam: “Aqui, onde vivo, custaria muito caro deixá-Lo viver em mim desta maneira”?
Amigo, Deus vem a nós com esta pergunta: “Você deseja ter o Meu Filho Jesus, da maneira como você O encontra na Palavra, em Sua humildade, Sua dependência, Sua submissão e obediência, Sua renúncia até a morte e sepultura, e na Sua espera até que Eu 0 ressuscitasse? Você deseja que este Cristo viva em seu coração?”
Você deseja? Se você não deseja, você quer passar a desejar? Se sua resposta é sim, diga-Lhe: “Eu quero que Cristo viva Sua vida em mim e me faça exatamente como Ele é.” Ele está pronto a fazê-lo.
Não se contente mais com um cristianismo de meio coração, dizendo: “Eu estou salvo e perdoado. Eu tenho um pouco de Cristo. Eu dou o melhor de mim.”
Venha para a vida completa que Cristo oferece! Deixe Cristo tomar conta de tudo. Deixe Cristo entrar, o Humilde, o Obediente, o Sofredor, o Agonizante, Aquele que viveu na dependência de Deus, e diga: “Esta será a minha vida, se Cristo vivê-la em mim.”
Eu tenho tendência a desenvolver cistos sebáceos. Já fui operado algumas vezes disso, para extraí-los.
Duas bolinhas, uma no lóbulo de cada orelha. Eu sabia: mais dois cistos. Nada alarmante, mas precisava ser operado. Consulta, cirurgia marcada. Lá fui eu.
Cirurgia ambulatorial, sem nenhum drama maior. (Às vezes passo mal nessas circunstâncias corriqueiras. Eu e agulhas não nos damos muito bem.) Saí eu do hospital com curativos em ambas orelhas, visíveis, indisfarçáveis. E voltei para a empresa em que eu trabalhava, uma editora.
Essa empresa pertence à denominação (hoje eu a chamo de seita) em que eu me congregava na época. A maioria quase absoluta dos funcionários também pertencia à denominação, e seus diretores eram os grandes líderes dela na América do Sul. Éramos, aos nossos próprios olhos, o melhor tipo de cristão que havia.
Ao encontrar com meus colegas, recebi três tipos diferentes de reação. Grande parte dos que comentaram alguma coisa disseram: “Ih, tá usando brinco!” Depois, um único colega me disse: “Puxa, você permitiu que furassem sua orelha na porta, como o escravo de Deuteronômio. Agora, você pertence para sempre ao Senhor!” Eu mesmo nem havia pensado nessa passagem, mas a relação com ela me alegrou.
Fui trabalhando durante o dia. Mais tarde, tive uma reunião rápida com o diretor, um dos tais grandes líderes. Sua observação? Nenhuma. Absolutamente nada. Como se fosse a coisa mais comum do mundo eu ir trabalhar com pontos e esparadrapo nas orelhas.
Essa situação me faz pensar no modo como nos relacionamos com os irmãos, e creio serem três os modos, ilustrados por cada uma das reações.
Talvez a maneira mais comum com que nos relacionemos com nossos conservos, os outros redimidos pelo Senhor, seja mundana, segundo a carne, superficial. Fazemos comentários que qualquer pessoa faria, falamos sobre assuntos da moda, fazemos piadas de gosto duvidoso, criticamos e zombamos de maneira descuidada. Muitas vezes, parece-me que a única forma de alguns filhos de Deus terem assunto para conversar é depois de verem um capítulo da novela ou assistido a um filme ou lido o jornal do dia. Para muitos, a grande maioria talvez, é difícil conseguir ter Cristo de forma viva e real como o centro e o ambiente de seu contato com outros filhos de Deus.
O segundo comentário, ligando minha cirurgia à consagração testemunhada pelas orelhas furadas no umbral da porta, indica-me a maneira correta de nos relacionarmos com outros a quem nosso Senhor redimiu. A Palavra tem de ser nosso ambiente, Cristo tem de ser o assunto e o limite, Sua glória tem de sempre ser respeitada. Isso não significa, é óbvio, que tenhamos de sempre estar citando versículos ou falando de assuntos “espirituais”. Significa, sim, que devemos estar permeados pela Palavra de tal modo que, de modo sábio e espontâneo, saibamos ligar todos os fatos a ela e, a partir deles, apresentá-la.
“A boca fala do que o coração está cheio” é verdade indiscutível revelada pelo Senhor. Se a primeira idéia que nos vem à mente é de brincos, é sinal evidente de que o coração está cheio de determinados conceitos. A boca não consegue falar de outra coisa.
Por outro lado, se a reação espontânea é relacionar tudo à Palavra, é sinal de que ela ocupa um bom lugar no coração, determinando, assim, o que a boca vai dizer. Somente desse modo poderemos ver em cada situação uma oportunidade de falar algo de Cristo, de Seu amor ou de Sua justiça, de Sua vida ou vinda. Do contrário, faremos apenas comentários bobos que qualquer incrédulo faria. Melhor seria ficar calado.
Precisamos de gigantes pequeninos!
Há a última reação. E ela foi a que mais me chocou, escandalizou mesmo. Poucas coisas ferem mais os filhos de Deus do que a indiferença por parte de outros cristãos. Há quem deseje ser tão espiritual, ou que quer que outros pensem que é, que, para alcançar isso, supõe ser necessário viver isolado deste mundo, indiferente às pessoas, avesso a reações muito “humanas”. Não sei se aquele líder fingiu alguma coisa, mas, no mínimo, refreou sua curiosidade – sim, uma característica humana, de gente que ainda está deste lado da eternidade! Há algum problema em perguntar a alguém: “Que é isso na sua orelha?” Seria menos celestial?
Esse mesmo líder, quando meu pai faleceu, falou comigo sobre o trabalho, mas nada disse, uma palavra sequer, sobre o que havia acontecido. Nem o mais tradicional e burocrático “meus pêsames” saiu daquele homem espiritual, maduro e equilibrado. Capaz de lidar com assuntos complexos do governo da seita, mas incapaz de se enternecer com alguém que havia ficado órfão de pai. Estranho, muito estranho.
Somos seres humanos. Sim, redimidos pelo sangue de Cristo, salvos para habitar com Ele pela eternidade na glória, povo escolhido de Deus, propriedade exclusiva de Deus – mas ainda seres humanos. Ainda gente de carne e osso, emoções e dores, sofrimentos e dúvidas, angústias e medos, sonhos e carências. Ainda não somos anjos. Ainda sofremos todas as limitações da carne. E ainda precisamos de gente que nos compreenda e se interesse por nós.
Não estou falando aqui de desequilíbrios emocionais, como a autocomiseração, a síndrome do ninguém-me-ama. Mas refiro-me a necessidades comuns, pés-no-chão, como: um ombro para chorar, alguém com quem rir ou orar, um amigo para ouvir um desabafo. Não precisamos de gigantes espirituais inatingíveis, que assustam por sua inacessibilidade, por seu padrão tão alto que, em lugar de atrair outros, repele-os. Precisamos de gigantes pequeninos, gigantes que se humilham, poderosos homens de Deus capazes de sentar no chão e chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram. Não é esta a ordenança bíblica?
A igreja primitiva atraía as pessoas por ser humanamente celestial e celestialmente humana. Ela não era desencarnada, indiferente, fria. Mas era muito viva. Ela se importava com mulheres que pediam comida e era comovida com a necessidade de irmãos pobres. Vemos como o apóstolo Paulo era preocupado com gente. Basta ler Romanos 16 para ver a maneira tão humana e cheia de vida com que ele fala de muitos irmãos. Este é o evangelho!
Um dos autores publicados por aquela editora em que eu trabalhei disse que não devemos ter amigos na igreja. E acrescentou, sem disfarçar o orgulho, que nunca trocou um presente ou uma brincadeirinha sequer com outro irmão, ao lado de quem serviu por 18 anos. Sinto muita pena dele. Triste alguém que nunca teve amigos, mas apenas irmãos, cooperadores, esposas (teve duas) e filhos. Pena ter desperdiçado muitas oportunidades de presentear alguém a quem amava. Que tolice não ter trocado um gracejo com alguém em quem confiava.
Não quero ser como esses homens espirituais. Quero, antes, o evangelho que torna o homem a plenitude daquilo que Deus concebeu que ele fosse. Quero um evangelho cheio da Palavra de Deus e de amigos, de troca de presentes e de boas risadas. Quero um evangelho que me autorize a perguntar: “Irmão, que é isso na sua orelha?” e a lhe dar os pêsames e abraçá-lo quando estiver triste pela morte do pai. E isso sem fazer com que eu seja menos espiritual, menos santo ou menos consagrado.
(Francisco Nunes, 20.12.04, publicado originalmente em 15.11.07, atualizado e republicado em 3.12.15. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)
Recentemente, num domingo à tarde, rodeado de muitos amados irmãos, enquanto eu lavava louça me vieram dois pensamentos.
1) Nosso ajuntamento cristão não tem aquilo que o mundo tem.
Quando cristãos – e aqui me refiro a cristãos sérios, bíblicos, que levam a santidade a sério, que têm temor do Senhor, que honram Seu nome por meio do viver prático que têm – estão juntos, em ambiente informal (num almoço ou numa convivência, por exemplo), não há aquilo que caracteriza eventos mundanos semelhantes: bebedeira, palavrões, insinuações maldosas, piadas de baixo calão, fofocas, adultérios, crianças largadas a si mesmas, etc. Cristãos que honram a Deus em todos os aspectos da vida, começando com a linguagem, reúnem-se e conversam amenidades, trocam idéias sobre as questões mundiais, dicas sobre educação de filhos, riem de si mesmos, buscam orientação profissional, trocam receitas, dicas de tratamento médico, corujices sobre os filhos… É aquilo que chamam de ambiente saudável.
Isso é, sem dúvida, para quem teme a Deus, mil vezes melhor do que um ambiente mundano. (Infelizmente, sei de muitos cristãos que se sentem completamente à vontade em ambientes mundanos, que os preferem àqueles “crentes”, que estão plenamente conformados a este mundo, pensando, falando, rindo e vivendo como se a ele pertencessem.) Há ali segurança, respeito mútuo, alegria saudável, domínio próprio, ambiente propício para as crianças e tantas outras vantagens. É muito bom, é muito vantajoso estar em um lugar assim. E eu estava alegre com essa percepção e grato a Deus por estar ali.
Mas algo mais me veio ao coração:
2) Mas será que nosso ajuntamento cristão tem aquilo que o mundo não tem?
Isso me foi um choque instantâneo. O que há de distintivo, único, exclusivo dos cristãos? O que há nos cristãos que não há, de modo algum, naqueles que não obedecem à fé? A presença do Senhor Jesus, por meio do Espírito; a vida de Cristo Jesus habitando naqueles que Lhe pertencem. E é isto que faz a verdadeira e prática comunhão cristã: Cristo ser “servido” pelos cristãos uns aos outros. Quando Cristo é nosso centro e a esfera de nossa comunhão, podemos dizer que, de fato, estamos em comunhão. Do contrário, teremos, talvez, apenas um bom ajuntamento cristão (que, repito, é muito melhor do qualquer ambiente mundano).
Mas, tenho de reconhecer, é tão difícil termos genuína comunhão! É tão difícil sairmos da esfera natural, das coisas desta vida, e partilharmos das celestiais, daquilo que é nossa rica herança em Cristo, das riquezas insondáveis Daquele que nos salvou! Parece pouco espontâneo (perdoem-me se generalizo; falo, em primeiro lugar, de mim mesmo) voltar-se de um assunto desta vida para a Bíblia, como se fosse possível mantê-los separados, como se fossem antagônicos.
Como cristãos, temos algo único: um relacionamento vivo e real com Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo! Isso nenhum ajuntamento secular tem. No entanto, é possível que um ajuntamento de cristãos também não o tenha, caso não falemos entre nós “com salmos, e hinos e cânticos espirituais”, que é modo de nos enchermos do Espírito (Ef 5.19); se não tivermos um falar que denuncie que estivemos com Jesus (At 4.13). Os primeiros discípulos não podiam deixar de falar do que tinham visto e ouvido (4.20). E nós, cristãos do século 21, por que deixamos tão facilmente? É possível que seja resultado de vermos e ouvirmos pouco nosso Senhor, de termos pouca comunhão com Ele, por Sua Palavra não habitar em nós ricamente (Cl 3.16), e como a boca fala do que está cheio o coração…
Os primeiros cristãos caíram na graça de todo o povo (At 2.47), pois seu viver diário e prático não tinha aquilo que o mundo tinha, era distinto, atraente. No entanto, “dos outros [os não-cristãos], porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (5.13), certamente porque naquele ajuntamento havia algo que no mundo não havia: Deus mesmo, real, manifestado palpavelmente por meio de Seus filhos – um Deus tão santo que não tolerava mentira entre eles (vv. 1-11). As pessoas de fora viam, naquele novo grupo, características que as atraíam, mas viam que havia também uma realidade interior, um padrão dela derivado, que impedia que qualquer um se achegasse e por ali ficasse se não fosse um “deles”, um discípulo, um nascido do alto, um filho de Deus.
No que depender de mim e de você, que tipo de ajuntamento cristão o mundo verá?
Lições de vida do apologista cristão William Lane Craig.
William Lane Craig, de seu boletim de julho de 2013.
Ninguém – ou quase ninguém, dependendo de a quem você perguntar – bate William Lane Craig em um debate sobre a existência de Deus, ou a ressurreição de Jesus ou qualquer outro assunto desse tipo. Durante o debate em Notre Dame, em abril do ano passado, o neo-ateísta Sam Harris referiu-se a Craig como “o único apologista cristão que parece ter colocado o temor de Deus em muitos de meus companheiros ateus”.
Durante o desenvolvimento do trabalho em meu livro sobre como as pessoas procuram por provas da existência de Deus, tive a oportunidade de passar bastante tempo com Craig, tanto na área de Atlanta, onde ele vive, como na Universidade Biola, uma escola evangélica nos arredores de Los Angeles, onde ele ensina algumas semanas por ano. Para o livro, eu comecei a escrever sobre idéias como seu “argumento cosmológico Kalam”, uma das ideias mais citados de sua geração em filosofia da religião, que funde os muçulmanos medievais com a cosmologia moderna. Eu também falei de sua habilidade empreendedora em tornar a Sociedade Filosófica Evangélica em uma organização acadêmica que tem um trabalho extra de uma plataforma apologética lisa-como-uma-banana para mudar corações, como o seu e o meu. Mas nada disso capta o papel do homem como um sábio e exemplar, no qual ele torna algo como o serviço de apoio que Oprah oferece às mulheres americanas que ficam em casa, exceto que os acólitos de Craig são um grupo de precoces conservadores, evangélicos, jovens adultos. Ele quase me faz desejar ser esse tipo de evangélico conservador – o que é, para ele, o ponto.
Craig se veste impecável e professoralmente, muitas vezes com camisa abotoada e blazer, ou suéter ou colete e suéter. Suas covinhas sugerem uma inocência básica que pode ser surpreendente quando ela rompe a fachada da lógica. Vejo em Craig a decência associada a uma época em relação à qual sou muito jovem para ser nostálgico, época que fui ensinado a imaginar como imperialista, sexista, homofóbica, intolerante, ou retrógrada por outro lado. Suas racionalizações de certas partes da Bíblia hebraica podem soar como se ele concordasse com o genocídio. No entanto, nenhuma dessas acusações se apegam a ele; nenhuma é mesmo compreensível no cósmico globo de neve1 dentro do qual ele habilmente pensa seu caminho pela vida, cujo único e constante enredo é trazer mais e mais almas a um conhecimento salvífico do único e verdadeiro Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
Eu moro em um globo de neve diferente de Craig. No entanto, ganhei muito com as lições que aprendi com ele, e de seus conselhos cuidadosamente elaborados e de suas respostas a minhas perguntas. (“Eu posso não responder, mas você pode perguntar”, avisou-me uma vez.) Eles melhoraram minha produtividade, minha relação com os entes queridos e minha aptidão física. Seria egoísta se eu não passasse algumas dessas lições, de forma sintetizada e praticável, para você.
1. Fazer tudo como um ministério
Craig começa com uma breve reflexão devocional cada dia de seu curso de duas semanas, no inverno, em que ensina os mestrandos de filosofia os alunos de apologética em Biola. Em meu primeiro dia na classe, o texto que ele recitou veio de Howard Hendricks, professor famoso do Seminário Teológico de Dallas: “Homens, não estudem para uma classe, estudem para uma vida de ministério”. Isso ter sido dirigido para “homens” era quase apropriado, pois, das quinze ou mais pessoas na classe naquele dia, apenas duas eram mulheres: uma visitante representando outra e uma dona de casa aposentada. Mas, para qualquer um, a mensagem é a mesma: Perseguir o elevado chamamento de servir a Deus, e o sucesso se seguirá.
O que, porém, devemos pensar como sucesso? Esse foi o tema de outras reflexões devocionais durante aquela quinzena do mês de aulas. Craig citou Bill Gothard, ministro e fundador do Instituto de Princípios Básicos de Vida, como tendo dito: “O sucesso não é medido pelo que você é comparado aos outros; sucesso é o que você é comparado com o que poderia ser”. Embora se possa ser tentado a tomar essa máxima como licença para baixas expectativas, a interpretação de Craig era, naturalmente, mais sábia. Considere essa “humildade para o orgulhoso”, disse ele – pois onde muito é dado, mais é esperado – e “encorajamento para desencorajado”.
A reflexão em outra manhã ofereceu ainda outro ponto de vista sobre o sucesso, dessa vez a partir de 1Coríntios: “A loucura de Deus é mais sábia do que os homens”. Craig estava certamente falando de sua própria experiência, quando advertiu seus alunos a não esperar respeitabilidade acadêmica acima de tudo. “Não busquem o louvor dos homens, mas o louvor de Deus.” E: “Vocês não estão realmente prontos para serem usados de Deus”, ele avisou, numa sintaxe tipicamente antiga, “até que estejam pronto para ser visto loucos por Cristo”. Aqui ele fala da experiência. “Meu encargo é evangelismo”, disse-me certa vez durante o almoço. Pregar seu evangelho tem muitas vezes conflitado com as tendências atuais das expectativas acadêmicas, mas, pelos padrões de ministério, ele tem sido um servo eminentemente fiel.
Certamente, devemos usar cada repreensão que pudermos contra o carreirismo e todo o incentivo para fazer do serviço nossa ocupação. É tarefa de cada um de nós discernir os ministérios que temos a oferecer e realizá-los – como loucos, se necessário.
2. Faça uma aliança com sua esposa
Essa lição não é nenhuma surpresa vinda de um evangélico da estirpe de Craig. Mas, entre os filósofos, que são notoriamente criaturas solitárias, sem dúvida vale a pena repeti-las. “Eu não sou um filósofo da mente; então, não tenho nenhuma grande percepção sobre as características das pessoas”, ele observou certa vez, enquanto driblava uma questão esotérica de um aluno em sala de aula. Mais do que isso, porém, é sua esperança “de você não se tornar tão orientado para o trabalho que deixará o outro ser negligenciado, e não colocar a carreira antes dessa pessoa a quem você se comprometeu amar e cuidar.” O título da primeira seção em seu currículo é Família, em que são listados sua esposa, Jan, e os dois filhos.
Ele conta histórias sobre os tempos em que teve problemas com Jan nessa área. Quando era estudante de pós-graduação, ele costumava comprar um monte de livros para si, mesmo que a família não tivesse muito dinheiro. Jan viu que já era demais quando ele chegou em casa com um exemplar de Oser e o nada, de Sartre. Ela o repreendeu por aquele provável desperdício. A partir de então, ele se comprometeu a comprar apenas livros que foram indicados para a aula, e até hoje ele compra muito poucos desses.
Ele recomenda aos alunos: “Façam uma aliança com sua esposa.” Prometam-lhe que você não vai “sacrificar seu relacionamento no altar do sucesso acadêmico”. Certifiquem-se de que ela sabe que você está disposto a desistir da carreira por completo, se ela precisar que você o faça. Uma vez que prometeu aquilo a Jan, explica Craig, ela se tornou muito mais tolerante com sua necessidade de se concentrar no trabalho, por agora saber que, em última instância, suas necessidades importavam mais para ele. Craig instrui também a que “fala a uma mulher é muito diferente de falar com outros caras”. Ao fazer a aliança, olhe-a longa e firmemente nos olhos.
Um dos estudantes esse ano tinha acabado de noivar e, ao longo da aula, ele e Craig tiveram um vibrante diálogo, em termos filosóficos, claro, sobre se Deus escolhe uma pessoa em particular com que nós deveríamos casar ou se, nas palavras do aluno, Deus quer que nós “apenas escolhamos uma mulher e a amemos”. Craig, que é um defensor de uma teoria do século 16 sobre a presciência de Deus conhecida como Molinismo, argumentou que Deus sabe exatamente o que é certo para cada um de nós. O critério de Deus para essa determinação, além disso, não está ligado apenas à questão da pessoa que vai fazer você mais feliz – Deus não está aí para fazer da vida “uma tigela de cerejas” –, mas, sim, a encontrar a pessoa com quem você vai trazer à salvação mais almas.
Para esse fim, Craig especialmente incentiva seus alunos a pensar em casar com uma missionária. Ele, por exemplo, conheceu Jan enquanto eles estavam trabalhando juntos na Campus Crusade for Christ. “Aquelas solteiras na equipe do Campus Crusade for Christ são realmente mulheres escolhidas”, ele me explicou. “Elas são jovens, solteiras, inteligentes, graduadas, muito atraentes, independentes e capazes de gerir as próprias finanças e um ministério.” Se tudo é para um ministério, afinal, essa é sua parceria.
3. Organize o dia
Houve um tempo, diz Craig, quando começou a se preocupar por estar perdendo sua habilidade com a filosofia. “Querida”, lembra-se de ter dito a Jan, “não sei o que se passa comigo. Eu simplesmente não consigo mais me concentrar. Eu conseguia estudar o dia todo, sem nenhum problema, e agora simplesmente não consigo mais me concentrar. Minha mente divaga, e eu estou cansado.” Ele foi tentado a se desesperar.
“Não, não, não seja ridículo!”, ela lhe disse. “Você só precisa organizar seu dia.”
Como de costume, ela estava certa. Ela o colocou em um novo cronograma: começar o dia de trabalho com a tarefa filosófica mais difícil na parte da manhã, depois materiais mais leves, como seus textos para públicos populares, após o almoço. Ele não olha a caixa de e-mail até o final da tarde, “quando meu cérebro está realmente frito”. (Por medo de ser bombardeado com e-mail, ele nem sequer partilha seu endereço eletrônico com os alunos de pós-graduação.) Pouco depois de tentar este regime, ele recuperou seus poderes filosóficas completamente.
A vida do casal, em uma casa nos subúrbios de Atlanta, é uma imagem de (certo tipo de) trabalho em equipe. Craig acorda todos os dias às 5h30 e começa o dia com um tempo devocional, lendo os Pais da Igreja e o Novo Testamento em grego; depois, ora pela propagação do evangelho em alguma parte não-alcançada do mundo, com o ajuda do manual Operation World (Operação Mundo). Logo, Jan está de pé. Eles tomam café2 juntos (o que ele não gosta, mas recomenda para a saúde e por benefícios sociais); depois, ele desce para a sala de musculação para uma hora de exercício. Quando ele sai de lá, ela tem um café da manhã quente pronto e esperando – por vezes, tão elaborado, diz ele, como presunto e ovos e waffles de abóbora com chantilly e morangos. (“Ela é uma cozinheira fabulosa.”) Ele desce novamente, para uma manhã intensa de atividades escolares, e ressurge para o almoço quente que Jan preparou. Então, ele desce outra vez para o trabalho mais leve da tarde, culminando nos e-mails, que ele responde à mão e ela muitas vezes é quem digitar e envia, uma vez que sua rara doença neuromuscular, muito seguidamente, o torna incapaz de digitar. Entre as refeições e sessões de digitação, Jan mexe com o mercado de ações. Pouco tempo depois, o jantar está pronto, e eles comem e passam a noite juntos, assistindo TV e bebendo vinho tinto (de que ele também não gosta, mas também recomenda para a saúde e por benefícios sociais).
“Ela não é uma intelectual”, diz Craig da esposa, “mas ela aprecia o valor do que eu faço, e isso é o que importa.” Seria de esperar que isso fosse verdade, porque ela digitou todos os seus artigos, livros e ambas dissertações de doutorado. Seria bom se todos nós tivemos essa devotada ajuda, embora possa ser insustentável no atual clima econômico para os estudiosos entre nós, incapazes de acumular valores de cinco dígitos por palestrar. Podemos, pelo menos, adiar o e-mail por algumas horas, o que eu tenho feito desde então, com um enorme benefício.
4. Transforme fraqueza em força
Um dos fatos que definem a vida de William Lane Craig é a síndrome de Charcot-Marie-Tooth, acima mencionada, que tem afligido o seu sistema nervoso, desde o nascimento, causando atrofia nas mãos e nos pés. Seu caso é relativamente leve, mas debilitante, sem dúvida. Quando era menino, ele não podia correr normalmente, impedindo-o de distinguir-se nos esportes.
“As crianças podem ser muito cruéis, e zombarem e chamar-lhe de nomes”, ele me disse, enrugando a testa com sinceridade, mas sem perder o equilíbrio emocional. “Isso faz você se sentir como lixo, alguém inútil.”
No início da década de 1980, Craig trocou com um amigo lições de apologética por algumas sessões de aconselhamento matrimonial com Jan, e foi só então que ele percebeu o efeito que essas memórias da infância tiveram sobre ele. “Emoções brotaram de dentro de mim, e eu comecei a chorar”, disse ele. “Eu não sabia quão mal eu ainda me sentia. Eu ainda tinha os sentimentos dentro de mim.” Essas sessões o ajudaram a entender que sua impulsividade e determinação como adulto também são resultado daquelas primeiras frustrações.
“Bem, eu vou mostrar pra eles”, imaginava-se pensando, sob a superfície. “Eu vou fazer alguma coisa da minha vida, e eles não vão zombar de mim.”
É por isso que ele começou a debater no ensino médio. “Eu não era bom em atletismo”, ele me disse, “mas eu poderia representar minha escola por estar na equipe de debate.” Lá, ele se destacou, e viajou por todo Illinois para competições, debatendo os quatro anos do ensino médio e também nos quatro anos na Faculdade Wheaton também. “O Senhor tem usado isso em minha vida para me ajudar”, Craig agora pode dizer sobre sua doença. E agora, no início dos sessenta anos, exercitar-se seis manhãs por semana (exceto domingo) significa que ele está em melhor forma do que quando na casa dos vinte anos.
“O exercício corporal para pouco aproveita”, foi o texto de uma das devoções matinais em sua classe, 1Timóteo 4.8. “Mas isso não quer dizer que não é proveitoso!” Craig continuou, como se aliviado, e, então, começou a delinear seu programa de exercícios para os alunos, recomendando boletins informativos da Clínica Mayo e o programa Body for Life, do fisiculturista Bill Phillips.
Craig observou certa vez que ele realmente gosta da idéia de como as placas tectônicas, vulcões e terremotos são parte do que Deus usou para fazer a vida na Terra possível, lançando os elementos necessários a partir de debaixo da crosta. É a mesma lógica que aplica a própria vida: um trauma transformado por um propósito maior. Mesmo o tsunami de Natal de 2004 “seria ótimo”, disse ele, se Deus pudesse usá-lo para trazer mais pessoas para Cristo. Nesse caso, “graças a Deus pelo sofrimento”.
5. Esteja preparado
Confrontar sofrimentos horríveis assim filosoficamente, e também espiritualmente, requer prática. Parte do curso de duas semanas concentrou-se no assim chamado problema do mal, que lida com o fato de que Deus pode ser consistente com a experiência de tanta dor e crueldade do mundo. “O estudo da filosofia pode ajudar a preparar uma pessoa para o sofrimento”, disse Craig a sua classe. Esse estudo ajuda a ver a obra de Deus no mundo, ou pelo menos a confiar na insondável providência divina. Ele prometeu: “Isso tem um aspecto devocional real.”
A arena em que a inclinação de Craig para estar preparado é especialmente vista, é claro, é o debate. Ao longo de determinado debate, muitas vezes contra um valoroso desafiante ateu, ele nunca parece perder sua confiança inabalável, exceto se aventurar no ridículo. Ele tem uma resposta pronta para todas as objeções, com uma citação relevante em suas notas para deixar bem claro, como se algum dos pré-conhecimentos molinistas de Deus acerca dos movimentos do adversário estivesse passando sobre ele.
Realmente, porém, o processo é muito simples: é que ele aprendeu na equipe de debate do ensino médio e praticou por anos, mesmo antes de, mais tarde, ir ao debate sobre religião. Antes de um debate, às vezes por meses antes do tempo, Craig faz questão de ler a obra do oponente, e “explorar a Internet” por vídeos do estilo de fala e dos maneirismos que ele vai enfrentar. Em alguns casos, ele contrata assistentes para ler os escritos do adversário e preparar sinopses que ele possa refinar. Ele metodicamente estabelece o que acha que o oponente vai tentar argumentar e que objeções podem ser levantadas contra seus próprios argumentos e, em seguida, prepara réplicas de acordo, fazendo anotações para cada uma, a fim de que elas estejam prontas durante o debate. Caso contrário, ele diz, “eu tenho grande dificuldade de lembrar essas coisas.”
Note bem: se você está se preparando para enfrentá-lo, pode, de alguma forma, transformar a meticulosidade dele em vantagem para você. É difícil imaginar como, no entanto, exceto que vamos ter ainda mais do mesmo. Mesmo o mais inteligente cara com réplicas rápidas não consegue acompanhá-lo.
6. Lembre-se de que tempo é tudo – e nada
Não há arma que Craig maneje de forma mais eficaz em um debate do que o relógio. Quando eu perguntei sobre seus segredos, ele me disse: “A capacidade de saber como dizer algo de forma sucinta, chegar ao ponto e passar para o próximo ponto, é muito, muito importante.” Ele planeja exatamente o que pretende dizer e avança metodicamente, certificando-se de que pode ir do início ao fim sem apressar ou saltar de um ponto para outro e ter de voltar. Quando seu oponente começa a ir para a frente e para trás em algumas objeções e não responde a cada um dos pontos Craig apresenta, Craig pode lembrar o público ao final que muitos de seus pontos permanecem em pé, sem contestação.
Ele faz isso em quase todos os debates, e é tão eficaz que as pessoas se queixam. Defendeu-se para mim: “Acho que agora você pode ver, Nathan, que isso não é um truque de retórica! Isso não é um dispositivo inteligente!” É apenas uma técnica, e ela funciona.
O tempo, porém, nem sempre está do lado de William Lane Craig. Durante as discussões da classe sobre temporalidade, ele citou a passagem de Macbeth sobre a brevidade da vida humana como “um conto contado por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”.
“Isso realmente repercute em mim”, disse ele.
Em seu sugestivo artigo “On the Argument for Divine Timelessness from the Incompleteness of Temporal Life” (Sobre o argumento para a intemporalidade divina a partir da incompletude da vida temporal), ele sugere: “Está longe de ser óbvio que a experiência da passagem temporal é só uma melancólica atração por um Deus onisciente, como é para nós. De fato, há alguma evidência de que a consciência do fluxo do tempo pode realmente ser uma experiência enriquecedora.” Repita-se: É “óbvio” que o próprio fluxo do tempo é “melancolia […] para nós”, exceto, talvez, por “alguma evidência” de que pode “realmente” existir ao contrário.
A pesquisa pelo infinito e o eterno, e a insatisfação com nada menos, é um tema constante no ensino de Craig e em sua retórica. Ou algo é eternamente significativo, ou valioso, ou não é nada. Ao contrário do que as legiões de filósofos não-religiosos (e outros), que parecem achar benefício na reflexão sobre a ética e a moral, em um debate com o filósofo Louise Antony, Craig descreveu o pensar sobre a moralidade no contexto do ateísmo como sendo “cadeiras sendo arrastadas no convés do Titanic”. O que fazemos com nossa vida na terra não vale nada para ele a não ser que ela seja notado por um Deus infinito e eterno.
O amor é uma possível exceção. Na sala de aula, ele às vezes fala (como um exemplo filosófico, é claro) sobre os momentos em que você está com a pessoa a quem ama, e está gostando tanto que o momento parece durar para sempre. Mesmo assim, porém, o valor de tais momentos passageiros só vem de sua semelhança com a eternidade.
Alguns dos alunos discordaram. Eles tentaram argumentar que o amor só é possível dentro do tempo. O que o amor será sem memória, ou envelhecimento ou a possibilidade de perda? Em uma discussão sobre o amor sentido entre as pessoas da Trindade antes da criação do universo, os estudantes afirmaram que a Trindade deve ter existido no tempo, a fim de que Seus membros amassem um ao outro. Mas o Deus de Craig, pelo contrário, está muito mais em casa na intemporalidade.
7. Amar a Deus e a autoridade
Bill e Jan Craig mudou-se para o condado de Cobb, na Georgia, graças a um processo de dedução: é o mais adequado a cada um dos vários critérios que eles procuraram satisfazer. Agora Bill não pode imaginar uma escolha melhor. Ele ama o condado, que é um subúrbio ao norte de Atlanta. Ele também ama os Estados Unidos em geral, um amor que, por vezes, se expressa pelo uso de sua gravata com uma águia voando, assim como no ensino médio ele desejava trazer honrar a sua escola pela guerra de debates. Seu patriotismo se estende a todos as áreas da vida, e sua filosofia defende, de modo devido, as autoridades corretamente ordenadas que ele reconhece: Deus, família, país, igreja, escola.
A razão, como ele a brande, apoia cada uma delas e, assim, é também apoiada por elas. Ao defender o Deus do cristianismo histórico, ele tem atrás de si dois milênios da verdade cristã em toda seu poder e majestade acumulados. Por amar a família, ele ganha a provisão material e as proezas de digitação de Jan. Por amar seu país, ele pode manter a cabeça erguida no condado de Cobb, uma das capitais do complexo militar-industrial, onde o maior empregador é a fábrica da Lockheed Martin, onde é construído o desastroso caça F-22. (Até meu motorista de táxi lá, um africano que recentemente migrou, me acusou de ser comunista por questionar a utilidade do caça.) Por amar sua igreja, a Batista Johnson Ferry, ele tem uma grande e bem organizada congregação na qual lota uma classe apologética semanal semi-litúrgica; prestando os cultos no santuário, vislumbrando o batistério por trás de portas retráteis, a comunidade reforça as atividades acadêmicas solitárias dele. Por amar a instituição em que trabalha, a Universidade Biola, suas idéias tornam-se a munição para os esforços estratégicos a fim de preparar um grande número de estudantes inteligentes para a conquista acadêmica e cultural.
Cada um desses poderes estão por trás de Craig, em perfeita ordem, com cada palavra que ele pronuncia, incutindo nele, por sua vez, a autoridade e a gravidade dele. Apesar da aparência de ser principalmente um acadêmico independente, ele está sempre enredado na nobre submissão a eles [os poderes, as autoridades que reconhece], e eles o defendem. Sua filosofia não é só dele, mas a deles também, o que a torna muito mais formidável. Como seu campeão, ele a carrega de modo dominante e bem-sucedido, com a disposição de ajudá-lo, se você aceitar, a subir ao patamar dele. Mas, se você preferir não fazer isso, a perda será sua.
Não há ninguém como Craig, com certeza, mas tudo o que ele faz é inseparável dos poderes a que ele serve. Em uma conversa em sala de aula em Biola, sobre noção de Saul Kripke de “designadores rígidos”, a dona de casa aposentada, por exemplo, perguntou: “O que faz Bill Craig ser Bill Craig?”
Craig, como um monte de filósofos, eu descobri, tem uma maneira de dizer coisas reveladoras em pronunciamentos técnicos, inconsciente da frase com seus próprios significados quando tomados por si sós, fora de contexto, e interpretada literalmente. Toda a filosofia, penso às vezes, pode ser considerada um grande ato falho.
Para o estudante, ele respondeu: “Eu não sei bem como responder a uma pergunta como essa.”
(Traduzido por Francisco Nunes de 7 Habits of a Highly Effective Philosopher (original aqui).
1Snow-globe, enfeite de mesa comum nos Estados Unidos, em que a reprodução de alguma construção famosa ou uma cena natalina está dentro de um globo de acrílico, envolvida por um líquido, no qual há um material em suspensão, que imita neve. O girar desse globo faz a “neve” cair. (N.T.)
Um lado da verdade de nossa união com Cristo é a necessidade de contar, momento após momento, com o fato da nossa morte com Ele, mas também precisamos examinar o outro lados dessa verdade: nossa união com o Senhor ressurreto em Sua vida.
Você está lembrado de como Romanos 6.11 divide-se naturalmente em duas partes, ambas necessárias uma a outra? “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado.” Essa é a primeira parte, porém não é tudo: “mas vivos para Deus, em Cristo Jesus”.
Antes de um homem nascer de novo, ele está “em Adão” (1Co 15.22), isto é, ele herdou de Adão uma natureza pecaminosa e vive e se move nos pensamentos e caminhos de um mundo caído. Quando o Senhor Jesus Cristo veio a este mundo, Ele foi “achado na forma de homem” (Fp 2.8-VRC) e como o “segundo Adão” (1 Co 15.45). Ele, antes de tudo, venceu a luta contra o mal e Satanás – luta que Adão perdeu – e viveu uma vida sem pecado. Depois, ele morreu em nosso lugar e, fazendo assim, deu fim a uma velha raça, e quando ressuscitou da morte, Ele foi o primeiro de uma nova raça. Quando, então, um homem nasce de novo e, por ser “plantado na semelhança da Sua morte” (Rm 6.5 –VRC) é ressuscitado pelo pode de Deus “em (…) ressurreição” (VRA). Ele está “em Cristo”. Isso significa que tão logo a nova vida é concebida – e aquela nova vida tem de ser vivida aqui, neste mundo -, ele passa a viver e a se mover nos pensamentos e caminhos dos céus, do qual se tornou um cidadão (Fp 3.20), e herda do segundo Adão a nova natureza, que é a natureza de Deus.
Vamos ver, então, algumas das coisas que são nossas “em Cristo”, palavras que são usadas repetidas vezes nas epístolas [de Paulo]. Enquanto escrevo, tenho a Epístola aos Efésios aberta a minha frente, e penso que não podemos fazer nada melhor do que listar as bênçãos e graças que podemos contar como nossas por estarmos “em Cristo”, alegres na novidade de vida de nosso Senhor ressurreto.
A epístola é escrita “aos santos que vivem em Éfeso e fiéis (significando aqueles que são cheios de fé) em Cristo Jesus” (1.1).
É-nos dito que Deus nos abençoou com “toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (v.3) e é-nos dito também que fomos “escolhidos Nele” (v.4), o que significa que os eleitos são aqueles que, por meio do novo nascimento, não estão mais em Adão, mas em Cristo, o Escolhido de Deus.
Fomos adotados como filhos1 de Deus através de Cristo Jesus por causa do nosso ser Nele e unido a Ele (v.5).
Somos aceitos Nele (v.6).
Temos redenção através do Seu sangue Nele (v.7).
Está-se aproximando o dia quando “todas as coisas (…) nos céus e na terra” serão convergidas Nele (v.10).
Temos “uma herança” Nele (v.11).
Temos o selo do “Espírito Santo da promessa” Nele (v.13).
Fomos “unidos com Cristo” (2.5)
Fomos “ressuscitados juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (v.6), o que significa que Nele somos possuidores de uma vida que reina, maior e mais poderosa do que qualquer padrão terreno.
Fomos “criados para boas obras em Cristo Jesus” (v.10), o que significa que há algo a ser feito por você e por mim neste mundo, que não pode ser feito por mais ninguém, e pode ser feito somente em união com Ele.
Fomos aproximados de Deus “em Cristo Jesus” (v.13).
Somos edificados juntamente com nossos companheiros cristãos em uma casa na qual Deus é visto neste mundo através do Espírito Nele (vs. 20-22).
Todos os propósitos eternos de Deus para as bênçãos e enriquecimento dos homens estão em Cristo Jesus (3.8-11).
Podemos ter ousadia Nele para ir direto à presença do próprio Deus (v.12).
Glória é trazida ao nosso Deus na igreja “e em Cristo Jesus” (v.21).
Somos fortalecidos Nele para enfrentar e vencer todos os adversários (6.10).
Quantas riquezas já encontramos! Imagine uma mina de diamante. Naquela mina podem ser encontradas riquezas que são absolutamente impossíveis de serem achadas em qualquer outro lugar. Se você deseja diamantes, é lá que você tem que ir. Se você necessita de qualquer coisa em sua vida cristã, há uma mina em que você pode encontrar o que precisa, e somente uma; mas lá você certamente achará: em Cristo Jesus. Nele, você pode contar com todas as coisas que o farão ser verdadeiramente como Ele. “porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm Nele o sim; porquanto também por Ele é o amém para glória de Deus” (2 Co 1.20).
Não é difícil ler as epístolas procurando por estas duas palavras – em Cristo ou por meio de Cristo – e depois pegar uma folha de papel e escrever as coisas que são nossas em Cristo, como fiz com a Epístola aos Efésios. não exige considerável grau de instrução, mas somente um coração faminto que anela por Deus e está preparado para receber Sua Palavra, e busca que isso se torne real em [sua própria] vida. Algumas vezes, penso que um dos maiores triunfos que Satanás está tendo nestes dias é impedir os cristãos de olhar para a Bíblia dessa forma.
Deus trabalha na graça como Ele o faz na natureza. Ele pôs no mundo a semente necessária para termos o trigo, que pode se tornar pão, mas se o homem não plantar, colher, moer e assar, ele continuará faminto. Deus colocou em Sua Palavra tudo o que o cristão pode, possivelmente, necessitar para manter sua nova vida, mas o cristão tem de ler, orar e aplicar em sua própria vida a verdade que encontra ou viverá num deserto estéril, nunca crescendo na graça nem sendo regozijo para ele mesmo ou para outros. “Para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido”, clama o escritor do livro de Provérbios, “e para inclinares o teu coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus” (2.2-5). Pregar é necessário, testemunho é válido, comunhão uns com outros tem seu lugar, mas não há nada que possa edificar a nova vida em Cristo a não ser um conhecimento pessoal da Palavra de Deus e um espírito humilde de aplicação pessoal à vida de tudo o que é encontrado na Palavra.
Agora, olhemos juntos Gálatas 2.19,20: “Estou crucificado com Cristo, (…) logo já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. A nova vida, dada a nós quando nascemos de novo, está em Cristo, e se torna nossa quando Ele habita dentro de nós por Seu Espírito.
Agora, vamos à prática exterior desses fatos maravilhosos – e não estamos falando de algo estranho e misterioso, mas de algo que faz de nossa vida neste mundo uma vida rica e alegre para nós mesmos, e também enriquece aqueles em nossa casa, aqueles com quem trabalhamos e nos encontramos diariamente e aqueles da igreja a que pertencemos.
“E a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (2.20b – VRC). Em outras palavras, nossa vida diária, que vivemos entre os homens, é, agora, uma vida de fé. Alguns estudiosos da Bíblia dizem que a fé pela vivemos é a fé do Filho de Deus, o qual está vivendo em nós pelo Seu Espírito. Outros traduzem estas palavras como “Vivo pela fé no Filho de Deus”. Em ambos os casos, o princípio é o mesmo. Nossa vida neste mundo, por sermos filhos de Deus, não é vivida por nossos próprios esforços e empenho, mas por extrair [o que precisamos], para qualquer necessidade, dos recurso que Deus nos deu em Cristo Jesus.
O que isso Significa? deixe-me ilustrar, usando um versículo da Escritura. Em 1 Coríntios 1.30 lemos: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. Suponha que eu me depare com uma situação em que não sei o que fazer e que direção tomar. O que faço? Antes de qualquer coisa, deixo de lado meu próprio entendimento (Pv 3.5). Então confesso a Deus que diante de mim há um problema que me é muito difícil, e O lembro de que fui crucificado com Cristo e agora creio que Ele é minha sabedoria, e que posso enfrentar meu problema sem medo, pois, uma vez que tenho uma necessidade, Ele irá dar a direção quanto ao que dizer e quanto ao que fazer. Em tempos de tentação, devo, da mesma maneira, desviar-me do meu próprio poder para resistir, e tomar Cristo como minha justiça. Quando consciente de que posso estar afastado de Deus e fora de Seu plano e vontade para mim, devo também me lançar sobre Ele como minha santificação e me deixar ser levado, acima de todas as coisas, a amar e desejar o anelo de Deus. No dia em que não puder fazer nada por mim mesmo e for chamado a passar do tempo para eternidade, ou através da sepultura ou em Sua vinda, posso também olhar para Ele e dizer “Ele é a minha redenção; estou salvo agora, na presença de Deus, para sempre”.
“Considerai como crescem os lírios do campo”, disse o Senhor Jesus, tendo feito primeiro uma pergunta – “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” – para a qual todos temos de responder: “Eu não posso!” A figura de um homem sentado com ar solene, pensando seriamente para se ver crescendo bastante, sempre me diverte. E isso e a única coisa que muitos cristãos tentam fazer em sua vida espiritual. Depois, Jesus continua: “Eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles” (Mt 6.27-30). A razão é que seu crescimento e sua beleza são dadas pelo poder de Deus. É somente desta maneira que você e eu poderemos viver dia a dia: extraindo do que Deus nos deu em Cristo. devemos considerar-nos “vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.11b).
Essa é a simplicidade deste considerar de fé, que é a principal dificuldade de muitos de nós. Nós gostamos de coisas difíceis e complicadas, mas o Senhor Jesus disse: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25). Depois, quase imediatemente, Ele fez o maior e mais maravilhoso convite jamais dado ao homem: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (vs. 28-30). A aceitação habitual deste convite é, com toda certeza, o único caminho para o viver cristão saudável e útil.
1A palavra grega “huiotesia” significa “em lugar de filho”. apesar de conservarmos a expressão original do autor, entendmos que o mais acurado biblicamente seria dizer que “fomos feitos filhos”. Essa alteração, porém, não tida de modo nenhum o valor espiritual e a revelação de tudo o que o autor escreve em seu artigo.