Categorias
Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (2)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Eu vindico o santo direito de desapontar os homens a fim de evitar desapontar Deus.

(A. W. Tozer)

Deus escreve com uma pena que nunca borra, fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha.

(C. H. Spurgeon)

Se você fosse preso por ser cristão, haveria provas suficientes para condená-lo?

(David Otis Fuller)

As melhores ações do homem natural são apenas pecados espetaculares.

(Agostinho)

Tentar ser feliz sem uma percepção da presença de Deus é como tentar ter um dia radiante sem o Sol.

(A. W. Tozer)

Categorias
Amor Consolo Deus Disciplina Encorajamento Soberania Sofrimento Thomas Watson

Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso?

Todas as coisas, sem exceção…

O supremo motivo pelo qual todas as coisas cooperam para o bem é o íntimo e carinhoso interesse que Deus tem por Seu povo

O Senhor fez uma aliança com os membros de Seu povo. “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Jr 32.38). Em virtude desse pacto, todas as coisas cooperam, e devem mesmo cooperar, para o bem deles. “Eu sou Deus, o teu Deus” (Sl 50.7). Esta expressão, “o teu Deus”, é a mais doce expressão em toda a Bíblia; ela revela as melhores relações, e é impossível haver tais relações entre Deus e Seu povo e, ainda assim, todas as coisas não cooperarem para o bem deles. Esta expressão, “Eu sou o teu Deus”, implica:

1. A relação com um médico: “Eu sou o teu Médico”.
Deus é um Médico habilidoso. Ele sabe o que é melhor. Deus observa os diferentes temperamentos dos homens, e sabe o que irá funcionar com mais eficácia. Alguns são de uma disposição mais dócil e são conduzidos pela misericórdia. Outros são vasos mais ríspidos e complicados; com esses, Deus trata de uma maneira mais forçosa. Algumas coisas se conservam em açúcar; outras, em salmoura. Deus não trata com todos de maneira indistinta; Ele tem provações para o forte e consolos para o fraco. Deus é um Médico fiel, e portanto usará todas as coisas para o melhor. Se Deus não lhe dá aquilo de que você gostaria, Ele dará aquilo de que você precisa. Um médico não estuda tanto tempo para satisfazer os gostos do paciente, mas para curá-lo de sua enfermidade. Nós nos queixamos de que provações muito dolorosas vêm sobre nós; lembremo-nos de que Deus é nosso Médico; portanto, Seu trabalho é para nos curar, em vez de para nos entreter. A maneira de Deus tratar com Seus filhos, embora seja severa, é uma maneira segura e que visa nos curar; ” para te humilhar, e para te provar, e, afinal, te fazer bem” (Dt 8.16).

Deus é nosso Médico; portanto, Seu trabalho é para nos curar, em vez de para nos entreter

2. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Pai.
Um pai ama seu filho; portanto, seja um sorriso, seja uma palmada, tudo é para o bem da criança. “Eu sou o teu Deus, o teu Pai; portanto tudo o que Eu faço é para teu bem”. “Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (v. 5). A disciplina de Deus não é para destruir, mas para aperfeiçoar. Deus não pode causar dano a Seus filhos, pois Ele é um Pai de terno coração: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem” (Sl 103.13). Acaso um pai buscará a ruína de seu filho, do filho que veio dele mesmo e que carrega sua imagem? Todo o seu cuidado e disposição são para o filho. A favor de quem ele deixa sua herança, senão para o filho? Deus tem um terno coração e é o “Pai de misericórdias” (2Co 1.3). Ele derrama todas as misericórdias e toda a bondade nas criaturas.

Deus é um Pai eterno (Is 9.6). Ele era nosso Pai desde a eternidade; antes que nós fôssemos crianças, Deus era nosso Pai, e Ele será nosso Pai por toda a eternidade. Um pai provê para o filho enquanto vive; mas o pai morre, e então o filho pode ser exposto a danos. Mas Deus nunca cessa de ser Pai. Você, que é cristão, tem um Pai que nunca morre; e, se Deus é seu Pai, você nunca ficará desamparado. Todas as coisas devem cooperar para o seu bem.

3. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Marido.
Essa é uma relação íntima e doce. O marido busca o bem da esposa; seria antinatural que ele vagueasse para destruir sua mulher. “Porque ninguém jamais odiou a própria carne” (Ef 5.29). Há uma relação marital entre Deus e Seu povo. “Porque o teu Criador é o teu marido” (Is 54.5). Deus ama plenamente Seu povo. Ele o tem gravado na palma das mãos (49.16). Ele o põe como um selo sobre o coração (Ct 8.6). Ele dará reinos por seu resgate (Is 43.3). Isso mostra quão próximo ele está do coração de Deus. Se Ele é um Marido cujo coração é pleno de amor, então, Ele irá buscar o bem de Sua esposa. Ou Ele a protegerá de um dano ou Ele o converterá para um fim melhor.

4. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Amigo.
“Tal [é] o meu amigo” (Ct 5.16, ARC). Um amigo é, como diz Agostinho, metade do nosso eu. Ele é atento e desejoso acerca de como pode fazer bem a seu amigo; ele promove o bem-estar dele como se fosse o seu próprio. Jônatas enfrentou o aborrecimento do rei por seu amigo Davi (1Sm 19.4). Deus é nosso Amigo; portanto, Ele converterá todas as coisas para nosso bem. Existem falsos amigos; Cristo foi traído por um amigo; mas Deus é o melhor Amigo.

Ele é um Amigo fiel. “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel” (Dt 7.9). Ele é fiel em Seu amor. Ele deu Seu próprio coração a nós, quando entregou o Filho de Seu amor. Ali estava um padrão de amor sem paralelo. Ele é fiel em Suas promessas. “O Deus que não pode mentir prometeu” (Tt 1.2). Ele pode mudar Sua promessa, mas não pode quebrá-la. Ele é fiel em Seu proceder; mesmo quando está afligindo, Ele é fiel. “Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Ele está nos peneirando e nos refinando como a prata (66.10).

Deus é nosso Amigo; portanto, Ele converterá todas as coisas para nosso bem. Existem falsos amigos; Cristo foi traído por um amigo; mas Deus é o melhor Amigo.

Deus é um Amigo imutável. “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Amigos às vezes falham numa emergência. Muitos procedem com os amigos como as mulheres, com as flores: enquanto estas estão frescas, elas as põem junto ao peito, mas, quando começam a murchar, elas as jogam foram. Ou como um viajante faz com o relógio de sol: se o sol brilha sobre o relógio, o viajante sai da estrada para consultar o relógio; mas se o sol não brilha sobre ele, ele segue dirigindo, sem sequer se lembrar do relógio. Assim, se a prosperidade brilha sobre um homem, então, os amigos atentam para ele; mas, se uma nuvem de adversidade paira sobre ele, eles não se aproximarão. Mas Deus é um Amigo para sempre; Ele disse: “De maneira alguma te deixarei”. Embora Davi andasse pelo vale da sombra da morte, ele sabia que tinha um Amigo a seu lado. “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Sl 23.4). Deus nunca afasta completamente Seu amor de Seu povo. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13.1). Sendo Deus tal Amigo, Ele fará todas as coisas cooperarem para nosso bem. Não há amigo que não busque o bem do amigo.

5. Esta expressão, “o teu Deus”, implica uma relação ainda mais íntima, a relação entre a Cabeça e os membros.
Há uma união mística entre Cristo e os santos: Ele é chamado “o Cabeça da igreja” (Ef 5.23). Não é verdade que a cabeça delibera pelo bem do corpo? Todas as partes da cabeça estão dispostas para o bem do corpo. O olho é posto como se estivesse numa torre de guarda; ele fica a postos para vigiar qualquer perigo que possa advir ao corpo, e preveni-lo. A língua serve tanto para provar como para discursar. Se o corpo fosse um microcosmo, ou um pequeno universo, a cabeça seria o sol desse universo, da qual procederia a luz da razão. A cabeça está posta para o bem do corpo. Cristo e os santos compõem um único corpo místico. Nossa Cabeça está nos céus, e certamente Ele não irá permitir que Seu corpo sofra dano, mas irá deliberar para a segurança dele e fará com que todas as coisas cooperem para o bem do corpo místico.

(Thomas Watson)

(Fonte)

(Pequenos aperfeiçoamentos e correções foram feitos, por Francisco Nunes, no artigo original. Consulte a fonte para outros artigo desta série.)

Categorias
Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (1)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

A referência a gotas de orvalho está em Jó 38.28: “A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do orvalho?” Nesse capítulo, Jó é desafiado por Deus a responder perguntas simples sobre a criação. Jó, que supunha compreender os arcanos de Deus e que O chamava para debater questões profundas sobre Seus desígnios, é confrontado com a própria ignorância: se não sabe como a chuva ou o orvalho é gerado, como entender os misteriosos arranjos de Deus sobre a vida de Seus servos ou das pessoas em geral? Ao final, Jó reconhece sua absoluta ignorância e que só conhecia Deus de ouvir falar.

O orvalho é mencionado em várias passagens das Escrituras. Era com ele que o maná, o pão do céu, vinha (Êx 16). O maná precisava ser colhido antes que o orvalho se evaporasse. Em Oséias 14.5, Deus mesmo se apresenta como orvalho: “Eu serei para Israel como o orvalho. Ele florescerá como o lírio e lançará as suas raízes como o [cedro do] Líbano.” Deus como orvalho seria suficiente para fazer de Israel um lírio (uma flor frágil) com raízes de cedro do Líbano (árvore muito grande, resistente a tempestades graças a suas raízes que podem alcançar centenas de metros de profundidade). Ou seja, Israel seria aparentemente, naquilo que é visível, frágil, mas seria vigoroso em suas raízes. Não é esta uma excelente descrição da vida cristã bíblica?

Aquelas gotículas de água depositadas sobre a vegetação são para ela suprimento, alimento, garantia de vida. É o que esta nova seção, que será atualizada toda quarta-feira, se propõe ser: frases curtas de servos de Deus que sirvam de suprimento espiritual para os leitores. Não são frases de efeito, trocadilhos bobos, frases pensadas em laboratório para palestras ou livros de sucesso; não são frases vazias ou óbvias como as dos livros de auto-ajuda. Elas são um pouco da colheita do que esses homens aprendaram com Deus no caminho da cruz, da submissão, da obediência. Por isso, elas têm a aparência despojada de um lírio, mas são sustentadas por raízes profundas em Deus e em Sua Palavra.

Na extinta revista cristã À maturidade havia uma seção com esse nome. É nela que nos inspiramos, dando prosseguimento a seu propósito: refrescar os filhos de Deus logo pela manhã com gotas que vêm do céu.

De duas coisas a igreja necessita: mais morte e mais vida. Mais morte a fim de viver; mais vida para poder morrer.

(C. A. Fox)

Nas ambições humanas, os homens constantemente mencionam: “Onde há uma vontade certamente há um caminho!” Senhor, seja nosso ditado ainda mais excelente: “Onde nossa vontade morreu, podemos certamente encontrar Teu caminho!”

(E. L. Bevir)

Ó Senhor, Teu desejo não é transformar o deserto, mas, sim, guardar nossos passos para que não nos desviemos do caminho que Teus próprios pés antes trilharam.

(F. E. Bevan)

Categorias
Cristo Deus Evangelho Jonathan Edwards Salvação

Deus fez tudo!

Jonathan Edwards

O ponto é este: ou nós devemos morrer eternamente ou o Filho de Deus deve derramar Seu sangue; ou nós ou o próprio Filho de Deus deve sofrer a ira de Deus, um dos dois: ou vermes miseráveis ​​do pó que mereceram isso ou o Filho glorioso, amável, belo e inocente de Deus.

A queda do homem trouxe a esse ponto. Uma ou outra forma tem de ser determinada, e foi determinado, pela graça estranhamente livre e sem limites de Deus, que Seu próprio Filho deveria morrer para que os ofensivos vermes pudessem ser libertados, e postos em liberdade de sua punição, e que a justiça poderia fazê-los felizes. Aqui é a graça de fato; bem podemos gritar: “Graça, graça!” para isso.

E, ademais, Deus não fez isso pelos amigos, mas por Seus inimigos e por quem O odiava. Ele não fez isso por súditos leais, mas pelos rebeldes; ele não fez isso por aqueles que eram Seus filhos, mas pelos filhos do diabo. Ele não fez isso por aqueles que eram excelentes, mas por aqueles que eram mais odiosos do que sapos ou víboras. Ele não fez isso por aqueles que poderiam ser, de alguma maneira, rentáveis ou vantajosos para Ele, mas por aqueles que eram tão fracos que, em vez de dar lucro para Deus, não eram capazes de nem ao menos ajudarem a si mesmos.

Deus deu ao homem caído um presente tal que Ele não deixou nada para o homem fazer a fim de poder ser feliz, mas apenas receber o que lhe é dado. Embora o homem tenha pecado, Deus não requer reparações a serem feitas por ele. Deus não exige dele nenhuma restituição. Se os homens vão receber Seu Filho, Ele não exige dinheiro nem preço, nem que faça qualquer penitência a fim de ser perdoado. Deus oferece-se para salvá-los a troco de nada, apenas que eles recebam a salvação como ela é oferecida, ou seja, livremente por meio de Cristo, pela fé Nele.

(Jonathan Edwards, 1703–1758))

Categorias
Cruz Deus Igreja Serviço cristão Soberania Sofrimento T. Austin-Sparks Testemunho Vida cristã

Cativeiro no Senhor (T. Austin-Sparks)

Plantado como semente na prisão

“Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (Ef 3.1).

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (4.1).

“Sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa” (2Tm 2.9).

“Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8).

Há um sentido muito real em que o apóstolo Paulo, em sua pessoa e experiência, foi uma corporificação da história da Igreja nesta era. Na verdade, parece ser um princípio na economia divina que aqueles a quem uma revelação foi confiada devem tê-la tão trabalhada em seu próprio ser e em sua história que sejam capazes de dizer: “Eu sou um sinal para vocês”. Ao considerar os trechos citados, vemos que o fim da vida de Paulo experimentou um processo de estreitamento e limitação operando por meio de “uma grande apostasia”, por um lado, e um confinamento do geral para o específico, em que ele, Paulo, representou o testemunho do outro. Isso é precisamente o que está predito quanto às condições relativas ao “fim”, e não é sem importância que seja especialmente mencionado nas declarações proféticas a Timóteo, na carta final. Desse modo, a ocorrência da expressão “o prisioneiro do [no] Senhor” nos últimos escritos é profética em seu significado, e maravilhosamente explicativa da forma final da soberania do Senhor.

O que temos aqui, então, é

1. O instrumento do testemunho do Senhor em um lugar de limitação, pela vontade de Deus.

Ao lermos o registro dos incidentes que levaram Paulo a Roma como prisioneiro – especialmente quando lemos as palavras de Agripa: “Bem podia soltar-se este homem, se não houvera apelado para César” (At 26.32) –, não podemos deixar de sentir que houve erros e acidentes, mas para os quais poderia ter havido um resultado muito mais propício, e o ministério geral do apóstolo poderia ter-se estendido. Pode ter havido momentos de estresse, quando o próprio Paulo foi tentado a se perguntar se não tinha sido impulsivo ao apelar ao imperador. Mas, conforme avançava, e quando o Senhor falou com ele, ocasionalmente, dando-lhe luz, ficou claro que, apesar da coisa ter sido humanamente realizada, havia o governo soberano de Deus em tudo e que ele estava na prisão, não como prisioneiro do imperador, mas como o prisioneiro no Senhor.

Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.

Talvez Paulo não tenha aceito isso tudo de uma vez. Possivelmente ele não tenha percebido como isso iria operar. Um julgamento e uma libertação mais ou menos rápidas podiam ter estado em sua mente. Alguma esperança de um ministério posterior entre os amados santos parece não estar ausente de sua correspondência. (Provavelmente, havia decorrido um curto período desde a libertação da primeira prisão.) Por fim, no entanto, ele aceitou totalmente que estava se tornando cada vez mais claro como o caminho do Senhor, e cresceu nele a certeza de que esse caminho estava de acordo com os maiores interesses do Corpo de Cristo. Assim, vemos que, quando vem o momento do povo do Senhor ser colocado face a face com as coisas últimas e supremas da revelação de Jesus Cristo – coisas além da salvação pessoal, coisas que se relacionam com a mente de Deus desde os tempos eternos e bem além de ser salvo –, então, tem de haver um estreitamento, um confinamento, um limitante. Muita atividade que foi feita, e tudo que foi feito a fim de trazer coisas para determinada posição e estado, agora cessam para levá-los mais adiante, e algo mais intensivo é necessário.

O que representa o testemunho em sua aproximação mais completa e mais próxima do propósito final de Deus, então, tem de ser despojado de muito do que tem sido bom, necessário e de Deus numa forma preparatória, e deve ser encarcerado para o que é final . O cativeiro não é uma verdade concebida ou uma aceitação doutrinária imposta. Ele é operado em cada fibra do ser pela experiência que segue à revelação, e a revelação interpreta a experiência. Não é a vitória de alguma interpretação defendida: é a própria vida dos instrumentos, e o instrumento é aquilo em seu próprio ser. Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.

2. A importância e o valor de ver e aceitar as coisas na luz de Deus

Isso se aplicava a Paulo e àqueles que estavam com ele. Para o apóstolo, estar confortável na soberana ordenação de Deus em sua prisão resultava em iluminação crescente que levava à emancipação espiritual.

Ninguém pode deixar de reconhecer o enorme enriquecimento do ministério como o contido nas que são chamadas de “epístolas da prisão”: [ Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom]. Se ele tivesse sido obstinado, ressentido, rebelde ou amargo, não teria havido o céu aberto, e um espírito de controvérsia com o Senhor teria fechado e selado a porta para as mais plenas revelações e aclaramentos divinos.

Quando tudo foi aceito de acordo com a mente do Senhor, logo “os lugares celestiais” se tornaram as extensões eternas de sua caminhada sobre a terra, e servidão terrena deu lugar à liberdade celestial. Assim deve ser com cada instrumento separado para os interesses superiores do testemunho do Senhor.

A leitura de certas passagens em suas cartas e o registro de sua prisão mostra como isso se aplicava aos outros. Considere as seguintes:

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu” (2Tm 1.8).

“E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo […] e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo” (At 28.30,31).

“O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou, e não se envergonhou das minhas cadeias. Antes, vindo ele a Roma, com muito cuidado me procurou e me achou” (2Tm 1.6,7).

É evidente que essas passagens indicam que tinha de haver uma compreensão divina e não apenas uma apreciação humana da posição de Paulo. Níveis humanos de mentalidade teriam produzido uma atmosfera de dúvida, desconfiança, questionamentos, e teriam deixado elementos de falsa imputação. Considerada em linhas meramente naturais, a associação com o prisioneiro teria envolvido tais associados em suspeita e preconceito. A dúvida sobre o servo do Senhor era muito difundida, e até mesmo muitos do povo do Senhor não tinham certeza sobre ele. Mas o Senhor estava fechando uma revelação muito importante para esse canal, e para os que estavam realmente em necessidade espiritual; estes que tinham de permanecer em uma relação viva com a plenitude do testemunho da identificação com Cristo na morte e na ressurreição, na união no trono com Ele, o poder sobre principados e potestades, e para o ministério “nos séculos vindouros”, tinham de ser postos de lado de todas considerações humanas, pessoais e diplomáticas, e permanecer bem ali com o instrumento com que Deus os colocou na prisão honrosa. Para a posse do que estava por vir por meio do vaso, tinha de haver uma ida ao lugar em que o vaso1 estava, sem consideração por reputação, influência ou popularidade.

Dessa forma, o Senhor peneira Seu povo e encontra quem realmente é inteiramente para Ele e para Seus testemunho, e quem age em qualquer medida por outras considerações e interesses. O instrumento nessa posição de rejeição popular é, portanto, a ferramenta de busca do Senhor pelos realmente necessitados e pobres de espírito. Eles serão encontrados e terão suas necessidades satisfeitas.

A outra verdade que permanece aqui, então, é que

3. Vergonha, desprezo e limitação são muitas vezes formas de Deus enriquecer todo o Corpo de Cristo.

Tem sido sempre assim. A medida de aproximação à plenitude da revelação tem sido sempre acompanhado por um custo relativo. Cada instrumento do testemunho tem sido colocada sob suspeita e desprezo em uma medida proporcional ao grau de valor para o Senhor, e isso fez com que, humanamente, eles sejam limitados a esse ponto. Muitos têm apostatado, caído, se afastado, duvidado, temido e questionado. Mas, como Paulo pôde dizer: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória” (Ef 3.13.), ou: “Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (v. 1), então, a medida de limitação no Senhor é a medida de enriquecimento de Seu povo. Quanto mais completa a revelação, menos aqueles que a apreendem ou maior o número daqueles que permanecem ao longe. Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação, e tê-los experimentalmente significa compartilhar o custo de alguma forma. Mas essa é a maneira divina de garantir para Deus um lote2 de semente espiritual.

Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação.

Um lote de sementes é uma coisa intensiva. Ali as coisas são reduzidas a dimensões muito limitadas. Não é algo visível de grande extensão que está imediatamente em vista, mas as coisas são consideradas, em primeiro lugar, à luz da semente. O verdadeiro significado das coisas não é sempre reconhecido , mas você pode viajar por todo o mundo e encontrar um grande número de jardins que são a expressão daquele intensivo e restrito lote de sementes. Se alguma vez houve tal lote de semente, foi a prisão de Paulo em Roma.

Tudo isso pode se aplicar a vidas individuais em relação ao testemunho do Senhor. Muitas vezes pode haver um atrito contra a limitação, o confinamento, e um desejo inquieto por aquilo que chamaríamos de algo mais amplo ou menos restrito. Se o Senhor nos quer no lugar em que estamos, nossa aceitação disso em fé pode provar que isso se torna uma coisa muito maior do que qualquer avaliação humana pode julgar. Gostaria de saber se Paulo tinha alguma idéia de que sua prisão significaria sua contínua expansão de valor para o Senhor Jesus ao longo 1.900 anos? O que se aplica a indivíduos também se aplica aos ajuntamentos, assembléias ou grupos do povo do Senhor espalhados na terra, mas um em sua comunhão com respeito ao testemunho pleno do Senhor.

Que o Senhor esteja graciosamente agradado de fazer com que o aspecto meramente humano dos muros da prisão sejam expulso e nos dê a percepção de que, longe de ser limitada por homens e circunstâncias, é prisão no Senhor, e isso significa que todas as era e todos os reinos entram por essa prisão.

(De Toward a Mark (Em direção à marca), jan-fev 1980, vol. 9-1.)

(Traduzido por Francisco Nunes. Original aqui. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)

_____

1Instrumento e vaso, como visto neste artigo, são termos normalmente usados por Austin-Sparks para se referir aos servos de Deus. (N.T.)

2No sentido de um canteiro, um terreno pequeno. (N.T.)

Categorias
Consolo Deus Encorajamento Salvação T. Austin-Sparks

Um Deus que se oculta (T. Austin-Sparks)

O Deus que se oculta sempre se revela

“Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15).

É como se o profeta tivesse sido subitamente intimidado e maravilhado com o que ele estava fazendo para profetizar! No meio de seu ministério, algo de maravilhoso abriu-se sobre ele e interrompeu essa declaração.

Deixando, por um momento, muito do que isso poderia implicar tanto como profecia quanto como previsão e sua vindicação, vamos ficar com a própria exclamação. Essa declaração é única, em princípio, com vários exemplos nas Escrituras. Olhando para o presente contexto, vemos que é a libertação de Israel do cativeiro e o retorno à Terra Prometida para reconstruir Jerusalém e o templo que está em vista. Sem dúvida, houve muita especulação e discussão a respeito de como as profecias do retorno dos judeus seria cumprida. Setenta anos tinham sido determinados e dados a conhecer como a duração do cativeiro. Os poderes gentios estavam em indubitável ascensão, e parecia muito pouco provável ou possível que Israel reconquistasse seu poder e glória nacionais entre as nações. O estado de coisas em seu próprio país – o templo destruído, a cidade queimada, a terra invadida por feras, os emissários do inimigo instalados – e a desintegração entre o povo no exílio criaram um panorama repleto de problemas aparentemente insuperáveis, e isso poderia muito bem ter levado à completa perplexidade e, até mesmo, ao desespero.

Então, o profeta é chamado para prever tudo o que ia acontecer – esta restauração – pelas mãos ou pela vontade do próprio poder gentio; que o Espírito soberano de Deus desceria sobre um homem que, por enquanto, não estava em posição de fazer isso e, provavelmente, cujo nome ainda não era totalmente conhecido. Babilônia ainda não fora derrubada: o império babilônico ainda não fora destruído; as profecias de Daniel ainda não haviam sido cumpridas. Mas aquele que faria isso foi mencionado pelo nome, e os detalhes de sua conquista são dados neste 45o. capítulo de profecias de Isaías. (Leia-o trecho por trecho.) E, em seguida, muito embora esse homem seja ignorante quanto a Deus, ele seria constrangido e compelido por Deus como um ungido para cumprir as Escrituras, libertar o povo, fornecer os meios e facilitar amplamente a restauração.

Como o profeta vê tudo em sua “visão” (“a visão de Isaías”, 1.1, uma visão que inclui tudo), ele está sobrecarregado com admiração. Todos os problemas são resolvidos, as perguntas, respondidas, as “montanhas”, aplainadas! Quem teria pensado nisso? Quem teria sonhado com tal coisa? Oh, quão profundos são os caminhos de Deus, inferiores a nossa imaginação, escondidos de nossas especulações mais intensas. “Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador”.

Quem teria pensado na cruz para o Deus Encarnado como o método e os meios de resolver o maior problema já conhecido neste universo?

Houve vários outros grandes e notáveis exemplos do mistério dos caminhos de Deus no cumprimento de Seus principais propósitos. Toda a raça [humana] tinha se afastado Dele e se envolvido em impiedade e idolatria. Foi universal. Como Deus iria atender Sua própria necessidade? Bem, Ele moveu-se para colocar a mão sobre um homem, e desse homem Ele fez uma nação. Em graça soberana, Ele fez dessa nação Seu mistério, Seu segredo, entre as nações. Israel era o mistério de Deus, o caminho oculto de Deus. Sempre havia algo misterioso sobre Israel. Paulo, contemplando esse método de Deus e vendo-o erguer-se com tal poder esmagador, fez exatamente o que Isaías fez. Enquanto escrevia o verso a seguir, ele o interrompeu com uma exclamação forte e retumbante:

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33).

Ele poderia muito bem ter acrescentado: “Tu és um Deus que te ocultas”. Quem poderia ter pensado na Encarnação, e nela, não em glória, mas em humilhação até ofender toda a expectativa do homem? Quem teria pensado na cruz para o Deus Encarnado como o método e os meios de resolver o maior problema já conhecido neste universo? Quem teria suspeitado que tudo isso estava incorporado naquele Homem de Nazaré, “o filho do carpinteiro” como O chamavam? Foi o maior mistério de Deus! Funcionou? Tem provado ser o caminho, o único caminho, e o caminho transcendentemente bem-sucedido?

E o que é verdade quanto ao mistério de Israel e ao mistério de Cristo, também é verdade quanto ao mistério da Igreja. Há um ocultamento sobre a verdadeira Igreja. Nenhum olho natural pode discerni-la. Nenhuma mente natural pode explicá-la. Reduza-a ao senso e à descrição humanos e você a perde, você capta a coisa errada. “A sabedoria de Deus (é) em mistério”, disse Paulo. Tente confiar a Igreja ao mundo sem fé, e você terá retirado da Igreja seu poder secreto! A menos que os homens consigam se dar bem vindo contra o Deus inescrutável que os esmaga, aquilo que afirma ser morada Dele é uma concha vazia.

E gostaríamos de lembrar você que aquilo que é verdadeiro nessas grandes épocas de progresso soberano ao longo dos séculos, essas intervenções e esses adventos na história da vida espiritual do mundo, é verdade na vida de cada um do verdadeiro povo de Deus. Eles serão constantemente confrontados com o “como?” de situações impossíveis, a fim de que sejam compelidos a repetidas exclamações na presença das soluções simples de Deus:

“Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas.”

“Profundamente, em minas insondáveis,
com perícia que nunca falha,
Ele entesoura Seus esplêndidos desígnios
e opera Sua vontade soberana.”1

“Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o SENHOR, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome” (Is 45.3).

(Traduzido por Francisco Nunes. Original aqui. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)

1 Segunda estrofe do hino God Moves in a Mysterious Way (Deus se move de uma maneira misteriosa), de William Cowper (1731–1800). (N.T.)

Categorias
Andrew Murray Encorajamento Vida cristã

Deus aceita sua entrega (Andrew Murray)

Deus a opera no secreto de nosso coração, Deus exorta-nos, pelo poder oculto de Seu Espírito Santo, a vir e falar dela, e nós temos de trazer e dar a Ele essa entrega absoluta. Mas lembre-se: quando você vir e trouxer a Deus a entrega absoluta, isso pode, conforme seus sentimentos ou sua consciência avançam, ser algo de grande imperfeição, e você pode duvidar, hesitar e perguntar-se: “É absoluta?”

Mas, oh, eu lembro que houve uma vez um homem a quem Cristo disse: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.” E o coração do homem estava com medo, e ele gritou: “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade.”

Essa foi uma fé que triunfou sobre o diabo, e o espírito maligno foi expulso. E, se você disser: “Senhor, eu me entrego em entrega absoluta a meu Deus”, mesmo que seja com um coração trêmulo e com a consciência que diga: “Eu não sinto o poder, eu não sinto a determinação, eu não sinto a certeza”, ela será realizada. Não tema, mas apenas venha como você é, e até mesmo no meio de seu tremor o poder do Espírito Santo irá operar.

Você ainda não aprendeu a lição de que o Espírito Santo trabalha com grande poder enquanto, no lado humano, tudo parece fraco? Olhe para o Senhor Jesus Cristo no Getsêmani. Nós lemos que Ele, “pelo Espírito eterno”, ofereceu a Si mesmo como sacrifício a Deus. O Todo-poderoso Espírito de Deus estava habilitando-O a fazê-lo. E, ainda que agonia, medo e excessiva tristeza tenham se apoderado Dele, como Ele orou! Externamente, você pode não ver sinal algum do grande poder do Espírito, mas o Espírito de Deus estava ali. Do mesmo modo, quando você estiver fraco e lutando e tremendo, com fé na operação oculta do Espírito de Deus, não tenha medo, mas renda-se.

E quando você entregar-se em absoluta rendição, faça-o na fé de que Deus irá aceitá-la. Este é o grande ponto, e é isso que tantas vezes esquecemos: que os crentes devem estar ocupados com Deus neste assunto de rendição. Eu oro para que você esteja ocupado com Deus. Queremos obter ajuda, cada um de nós, de modo que em nossa vida diária Deus seja claramente por nós, que tenha o lugar correto e seja “tudo em todos”. E, se quisermos ter isso ao longo da vida, vamos começar agora e olhar para longe de nós mesmos e olhar para Deus. Que cada um creia que, mesmo sendo um pobre verme na terra e um temeroso filho de Deus, cheio de falhas e de pecado e de medo, ajoelhando-se aqui, e ninguém sabendo o que se passa em seu coração, e, na simplicidade, disser: “Ó Deus, eu aceito Teus termos; tenho implorado por bênção para mim e para os outros, eu aceitei a Teus termos para a rendição absoluta – enquanto seu coração diz isso em profundo silêncio, lembre-se de que existe um Deus presente que toma nota disso e o escreve em Seu livro, que existe um Deus presente que naquele exato momento toma posse de você. Você pode não sentir isso, você pode não perceber isso, mas Deus toma posse, se você confiar Nele.

Deus não só vindica minha rendição, e a opera e a aceita quando levo a Ele, mas Ele a mantém.

(Traduzido de God Accepts Your Surrender por Francisco Nunes. O uso deste artigo é livre desde que seja feito de forma gratuita, conservando-se as informações de autoria, tradução e endereço do original, sem alterações no texto.)

Categorias
Bíblia Citações Encorajamento Sofrimento Steven Lawson

A Palavra (Steven Lawson)

Quanto mais fundo cavarmos na Palavra, mais elevada será nossa adoração e mais perseverantes seremos nas provações.

Categorias
Citações Evangelho João Calvino

Evangelho (João Calvino)

Sem o evangelho, tudo é inútil e vão. Sem o evangelho, não somos cristãos. Sem o evangelho, todas as riquezas são pobreza; toda a sabedoria é tolice diante de Deus; a força é fraqueza, e toda a justiça do homem está sob a condenação de Deus. Mas, por meio do conhecimento do evangelho, somos feitos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, conterrâneos dos santos, cidadãos do reino dos céus, herdeiros de Deus com Jesus Cristo; por meio de quem os pecadores são justificados e os desolados, consolados; os duvidosos obtêm certeza, e os escravos são libertos. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

Categorias
Charles Spurgeon Deus Salvação Vida cristã

Misericórdia (Charles Spurgeon)

Eu devo crer firmemente que o Senhor Deus mostrará misericórdia a quem quiser mostrar misericórdia e que terá compaixão de quem quiser ter compaixão; mas eu também sei com certeza que em qualquer lugar onde há uma oração genuína, é porque Deus a concedeu; que onde quer que haja alguém que esteja buscando, é porque Deus o conduziu a buscar; portanto, se Deus levou o homem a buscar e o conduziu a orar, há de imediato uma evidência da eleição divina; e é um fato verdadeiro que ninguém que busque ficará sem encontrar.

Categorias
J. C. Ryle Oração

Oração que alcança Deus (J. C. Ryle)

Quero me dirigir àquelas pessoas que oram. Creio que alguns leitores deste artigo já têm o Espírito de adoção e sabem bem o que significa a oração. Para tais pessoas, ofereço apenas algumas palavras de conselho e exortação fraternal. Deus ordenou que o incenso oferecido no tabernáculo fosse preparado de maneira muito específica. Não poderia ser qualquer tipo de incenso. Lembremo-nos disso e sejamos cuidadosos com a nossa maneira de orar.

Em primeiro lugar, então, chamo a sua atenção para a importância da reverência e da humildade na oração. Nunca nos esqueçamos daquilo que realmente somos e de como é sério falar com Deus. Tenhamos cuidado para não entrar correndo na sua presença de forma irrefletida e leviana. Digamos antes para nós mesmos: “Estou em terra santa. Aqui não é outro lugar senão a própria porta do céu. Se eu não estiver falando com sinceridade, estarei brincando com Deus. Se eu contemplar iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá” (Êx 3.5; Gn 28.17; Sl 66.18).

Observemos as palavras de Salomão: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra” (Ec 5.2). Quando Abraão se dirigiu a Deus, ele disse: “sou pó e cinza” (Gn 18.27). De maneira semelhante, Jó disse: “Sou indigno [ou vil]” (Jó 40.4). Tenhamos a mesma atitude.

Chamo a sua atenção, em seguida, para a importância de orar espiritualmente. Com isso, quero dizer que devemos buscar sempre a ajuda do Espírito nas nossas orações e vigiar, sobretudo, contra a formalidade. Não há nada tão espiritual que não possa transformar-se numa fórmula mecânica, especialmente em se tratando de oração individual. É muito fácil formar o hábito inconsciente de usar as palavras mais adequadas possíveis e oferecer petições totalmente bíblicas e, ao mesmo tempo, fazer de tudo isso uma mera rotina sem qualquer sentimento interior, repetindo diariamente os mesmos passos no mesmo caminho batido.

Quero tocar neste ponto com cautela e delicadeza. Sei que há certas necessidades que aparecem na nossa vida diariamente; não significa necessariamente que estou sendo formal porque peço as mesmas coisas com as mesmas palavras. O mundo, o diabo e o nosso coração são iguais todos os dias. É necessário pisar diariamente no mesmo terreno. Contudo, quero reafirmar que devemos ser muito cuidadosos neste ponto. Se o esqueleto e o esboço das orações precisam ser repetidos a ponto de se tornarem praticamente uma fórmula, esforcemo-nos para que a roupagem e o conteúdo delas sejam sempre gerados pelo Espírito, no máximo possível.

Considere, também, a importância de fazer da oração uma atividade regular da vida. Cabe aqui dizer algo sobre o valor de ter horários fixos no dia reservados para a oração. Deus é um Deus de ordem. O fato de ter uma hora certa para o sacrifício da manhã e o da tarde, no templo dos judeus, não era um detalhe insignificante. A desordem é um dos frutos mais notórios do pecado. Ao mesmo tempo, não estou sugerindo nenhum tipo de obrigação opressiva. Só quero afirmar isto: é essencial para a saúde do homem interior incluir a oração como parte imprescindível de sua atividade em cada ciclo de vinte e quatro horas da sua vida.

Assim como você reserva um horário para comer, para dormir e para trabalhar, separe igualmente um tempo para a oração. Escolha seu próprio horário no dia a dia e faça-o, também, em ocasiões especiais. Fale com Deus, ao menos no primeiro instante do dia, de manhã, antes de falar com o mundo; e fale com ele à noite, depois de encerrar seu contato com o mundo. Determine em sua mente que a oração é uma das atividades mais importantes do seu dia a dia. Não a relegue para um lugar secundário. Não lhe dê as sobras do seu tempo nem as pontas das outras obrigações. Sejam quais forem as demais atividades prioritárias de sua vida, coloque a oração como uma delas.

Considere agora a importância da perseverança na oração. Uma vez iniciado o hábito, nunca desista dele. O seu coração poderá lhe dizer algumas vezes: “Você já orou com a família; que grande mal haveria em deixar de fazer sua oração pessoal?”. Outras vezes, seu corpo poderá reclamar: “Você não está sentindo bem, está com sono, cansado; não precisa orar”. A sua mente tentará argumentar: “Você tem negócios importantes para tratar hoje; encurte as orações”. Encare todas essas sugestões como procedentes diretamente de Satanás. Elas estão passando, com efeito, esta mensagem: “Negligencie a sua alma”.

Não estou defendendo que as orações devam ter sempre a mesma duração; quero encorajá-lo apenas a nunca permitir que desculpa alguma o faça desistir de orar. Paulo disse: “Perseverai na oração” e “Orai sem cessar” (Cl 4.2; 1 Ts 5.17). Ele não estava dizendo que todos deveriam estar o tempo inteiro de joelhos, mas exortava os discípulos para que suas orações fossem como os holocaustos contínuos, mantidos regularmente todos os dias; que fossem tão constantes quanto o tempo de semeadura e de colheita, de inverno e verão, despontando infalivelmente em ocasiões regulares; que se tornassem como o fogo do altar, o qual, mesmo quando não consumia sacrifícios, nunca se apagava completamente.

Mantenha sempre em mente que você pode formar uma corrente ininterrupta, ligando as orações matutinas com as da noite, por meio de pequenas orações e súplicas oferecidas ao longo do dia. No lugar em que estiver, seja no trabalho, seja com outras pessoas ou até mesmo na rua, você pode disparar silenciosamente pequenas mensagens a Deus, como flechas voadoras, assim como fez Neemias quando estava diante do próprio rei Artaxerxes (Ne 2.4).

Pense agora na importância da intensidade na oração. Não é uma questão de gritar, berrar ou falar muito alto a fim de provar que sua oração realmente é intensa. Significa que devemos ter entusiasmo, fervor e paixão, que nossas súplicas devem ser feitas com uma demonstração clara de que estamos envolvidos de coração naquilo que estamos pedindo. É a oração “fervorosa e enérgica” que “muito pode por sua eficácia” (Tg 5.16).

É essa lição que nos é ensinada pelas expressões usadas nas Escrituras para descrever a oração. Orar é “clamar, bater na porta, afadigar-se, empenhar-se, labutar, lutar, guerrear”. É também a lição que aprendemos com os personagens da Bíblia. Jacó foi um deles. Ele disse para o anjo em Peniel: “Não te deixarei ir se me não abençoares” (Gn 32.26). Daniel foi outro. Ouça como ele suplicou diante de Deus: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, pelo amor de ti mesmo, ó Deus meu” (Dn 9.19). Nosso Senhor Jesus Cristo demonstrou isso também. Está escrito a respeito dele: “Nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas…” (Hb 5.7).

Lamentavelmente, a maioria das nossas súplicas não possui quase nada dessa intensidade! Como parecem inofensivas e mornas em comparação! De fato, Deus poderia perfeitamente dizer a muitos: “Vocês não querem de verdade aquilo que estão pedindo”.

Vamos nos empenhar para corrigir esse erro. Vamos bater com força na porta da graça, assim como fez a Misericórdia naquele clássico, O Peregrino, como se fôssemos perecer caso não fôssemos ouvidos. Deixemos esta verdade bem firme em nossas mentes: orações frias são o mesmo que um sacrifício sem fogo.

Chegamos agora à importância de se orar com fé. Devemos nos empenhar para crer que nossas orações serão ouvidas e que certamente teremos resposta se estivermos pedindo de acordo com a vontade de Deus. Esta é a ordem explícita de nosso Senhor Jesus Cristo: “Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco” (Mc 11.24). A fé está para a oração assim como a pena está para a flecha – sem ela, a oração não acerta o alvo. Em nossas orações, devemos cultivar o hábito de suplicar com base nas promessas de Deus. Podemos tomar algumas promessas e dizer: “Senhor, aqui está o teu compromisso com a tua Palavra. Faze por nós assim como prometeste”. Esse era o hábito de Jacó, de Moisés e de Davi. O Salmo 119 está cheio de petições, feitas “segundo a tua palavra”.

Acima de tudo, devemos cultivar o hábito de esperar respostas às nossas orações. Precisamos ter a atitude de um comerciante que envia seus navios ao mar. Não devemos ficar satisfeitos, a menos que tenhamos algum retorno. Lamentavelmente, há poucos aspectos em que os cristãos falham mais do que neste. Há uma expressão solene de Robert Traill: “Não há maior marca de menosprezo pela oração do que quando as pessoas são indiferentes em relação àquilo que pedem na oração”.

Peço que considere também a importância da ousadia na oração. Há uma familiaridade imprópria nas orações de algumas pessoas que não posso elogiar. Por outro lado, existe uma ousadia santa, que é algo extremamente desejável. Uma ousadia tal qual aquela de Moisés, quando suplicou a Deus para que não destruísse Israel. “Por que”, disse ele, “hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes… Torna-te do furor da tua ira” (Ex 32.12). Refiro-me também à ousadia de Josué, quando os filhos de Israel foram derrotados diante dos homens de Ai: “Então”, disse ele, “que farás ao teu grande nome?” (Js 7.9).

Foi essa ousadia que marcou a vida de Lutero. Uma pessoa que o ouviu enquanto orava disse: “Que espírito, que confiança transparecia até nas expressões do rosto! Seus pedidos eram feitos com reverência e humildade, como faria um suplicante; ao mesmo tempo, falava com esperança e segurança como quem pede a um pai amoroso ou a um amigo”. Foi essa ousadia, também, que caracterizou Bruce, um clérigo escocês do século 17. Diziam que suas orações eram “como dardos disparados para o céu”.

Temo que aqui também falhamos lamentavelmente. Não compreendemos suficientemente os privilégios do crente. Não suplicamos com tanta frequência quanto poderíamos: “Senhor, não somos teu povo? Não é para tua glória que devemos nos santificar? Não é para tua honra que teu Evangelho deve crescer?”

Voltemos nossa atenção, agora, para a importância da plenitude na oração. Não ignoro o fato de que nosso Senhor advertiu os discípulos contra o exemplo dos fariseus, os quais, por pretensão, faziam longas orações. “Orando”, ele instruiu, “não useis de vãs repetições” (Mt 6.7). Por outro lado, também não posso esquecer que ele deixou um claro endosso a longas e intensas devoções quando permanecia a noite toda em oração a Deus. Em todo caso, é pouco provável nos dias de hoje que erremos no extremo de orar demais. Não deveríamos, na nossa geração, ter muito mais receio de estar orando de menos? A quantidade de tempo que os cristãos realmente separam para oração, individualmente ou em conjunto, não é muito pequena?

Tenho receio de que essas perguntas não possam ser respondidas satisfatoriamente. Temo que as devoções particulares da maioria sejam lamentavelmente escassas e limitadas; só o suficiente para provar que estão vivos, mas nada além disso. Parecem querer muito pouco de Deus. Aparentemente, têm pouco para confessar, pouco para pedir e pouco para agradecer. Que situação lamentável!

É muito comum ouvir os crentes se queixando que não conseguem avançar na vida espiritual. Dizem que não crescem na graça como desejariam. Porém, não poderíamos suspeitar de que possuem exatamente o tanto de graça que pediram do Senhor? O fato verdadeiro não seria que têm pouco porque pediram pouco? A causa de sua fraqueza pode ser encontrada em suas próprias orações que são mirradas, mesquinhas, reduzidas, superficiais, apressadas, abreviadas, acanhadas e vazias. Nada têm porque não pedem (Tg 4.2). A triste realidade é esta: não somos limitados por causa de Cristo, pois os limites estão em nós mesmos (2 Co 6.12,13). O Senhor diz: “Abre bem a boca, e ta encherei” (Sl 81.10). Somos como o rei de Israel que feriu a terra três vezes e parou, quando a deveria ter ferido cinco ou seis vezes (2 Rs 13.14-19).

Veja agora a importância de ser específico na oração. Não devemos nos contentar em fazer petições gerais. Devemos detalhar nossas necessidades diante do trono da graça. Não é suficiente confessar que somos pecadores; precisamos dar nomes aos pecados dos quais nossa consciência nos faz sentir culpados. Não devemos nos dar por satisfeitos quando rogamos ao Senhor por santidade em geral; precisamos mencionar as graças e qualidades das quais nos sentimos mais deficientes. Não é correto apenas contar ao Senhor que estamos em dificuldades; precisamos descrever a nossa situação em todas as suas peculiaridades.

Foi isso que Jacó fez quando teve medo de seu irmão Esaú. Ele contou para Deus exatamente o que temia (Gn 32.11). Foi isso o que o servo de Abraão fez quando foi procurar uma esposa para o filho do seu senhor. Ele expôs diante de Deus exatamente aquilo de que precisava (Gn 24.12). Foi isso, também, o que Paulo fez quando tinha um espinho na carne. Rogou ao Senhor que o afastasse dele (2 Co 12.8). É essa atitude que demonstra fé e confiança verdadeiras.

Devemos acreditar que nada é tão pequeno ou tão insignificante que não possa ser mencionado diante de Deus. O que você acharia de um paciente que fosse ao médico dizer que estava doente, mas não quisesse contar detalhe algum de sua enfermidade? O que você pensaria da esposa que dissesse ao marido que estava infeliz, mas não especificasse a causa? Ou que diríamos do filho que reclamasse ao pai que estava em dificuldades, mas nada além disso?

Cristo é o nosso verdadeiro Noivo, o Médico do coração, o Pai perfeito e amoroso de cada um de nós. Vamos demonstrar correspondência sendo totalmente abertos na nossa comunicação com ele. Não esconda dele segredo algum. Conte-lhe tudo o que está no seu coração.

Considere, agora, a importância da intercessão nas nossas orações. Somos egoístas por natureza, e o nosso egoísmo continua se manifestando em nós, mesmo depois da conversão. Há uma tendência para pensar somente na própria vida, nos próprios conflitos espirituais, no próprio progresso, e de esquecer-se dos outros. Contra essa tendência, todos nós precisamos vigiar e lutar, inclusive nas orações.

Devemos nos empenhar para despertar interesse no nosso coração pelo bem comum. Precisamos desenvolver o hábito de mencionar outros nomes, além do nosso, diante do trono da graça. Procuremos carregar sobre o coração e os ombros o encargo espiritual de todo o mundo, dos pagãos, de judeus, católicos e evangélicos, de toda a Igreja de Jesus, do país onde vivemos, da congregação à qual pertencemos, da casa onde moramos, dos amigos e parentes com quem temos vínculos. Por cada um e por todos, devemos suplicar. Essa é a maior caridade que se possa dar a alguém! Os que me amam orando por mim é que me amam melhor. Orar em favor dos outros traz saúde para a própria alma. Aumenta nossa compaixão e alarga o coração. Traz benefício para toda a igreja.

As engrenagens de todos os ministérios e funções que fazem o Evangelho avançar são movidas por meio da oração. Aqueles que intercedem como Moisés no monte são tão eficazes pela causa do Senhor quanto os que lutam como Josué no calor e no perigo da batalha. Isso é ser semelhante a Cristo. Ele apresenta diante do Senhor os nomes de suas ovelhas, como o Sumo Sacerdote. Que tremendo privilégio é assumir funções semelhantes às de Jesus! É assim que podemos, de fato, apoiar outros ministros do Senhor. Se eu pudesse escolher uma congregação, escolheria um povo que orasse.

Um aspecto que não pode ser esquecido é a importância da gratidão na oração. Sei muito bem que pedir a Deus é uma coisa e louvá-lo é outra. Mas vejo na Bíblia uma conexão tão próxima entre oração e louvor que não teria coragem de dizer que uma oração é verdadeira se não inclui a gratidão. Não foi sem motivo que Paulo disse: “Sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6, ênfase acrescentada). “Perseverai na oração, vigiando com ações de graça” (Cl 4.2).

É pela misericórdia divina que não estamos no inferno. É pela misericórdia que temos a esperança do céu. É pela misericórdia que temos acesso à luz de Deus. É pela misericórdia que fomos chamados pelo Espírito e não abandonados para colher o fruto dos nossos próprios caminhos. É pela misericórdia que ainda vivemos e temos oportunidades de glorificar a Deus, tanto passiva quanto ativamente.

Com certeza, esse tipo de pensamento deve encher nossa mente sempre que falamos com Deus. Nunca deveríamos abrir nossos lábios em oração sem glorificar a Deus pela graça que nos dá a vida, e pela misericórdia e bondade do Senhor que duram para sempre. Nunca houve um grande servo ou serva de Deus que não transbordasse de gratidão. Quase todas as epístolas de Paulo começam com ações de graça. Querido leitor, se quisermos ser luzeiros resplandecentes a brilhar nas trevas da nossa geração, precisaremos cultivar um espírito de louvor. Que nossas orações sejam repletas de gratidão.

Finalmente, peço que considere a importância da vigilância constante sobre sua vida de oração. A oração é o aspecto da vida espiritual, acima de todos os outros, que requer atenção especial. É aqui que começa a religião verdadeira; aqui ela floresce e aqui ela decai. Conte-me como são as orações de alguém, e logo eu lhe direi o estado de sua alma. A oração é o pulso da vida espiritual. Por ela, a saúde espiritual pode ser aferida. A oração é o barômetro espiritual. Por ela, podemos saber se as condições no coração são de tempo bom ou tempo ruim.

Que atenção especial precisa ser dada ao seu tempo individual com o Senhor! Aqui está o coração da nossa vida cristã na prática. Sermões, livros, folhetos, reuniões de diretorias e a companhia de pessoas de bem são elementos importantes, cada um com sua função; entretanto, nenhum deles conseguirá compensar a negligência da oração individual.

Marque muito bem os lugares, as companhias e os ambientes que prejudicam e impedem seu coração de ter comunhão com Deus e fazem com que suas orações se tornem pesadas, sem espontaneidade. Coloque uma vigilância dobrada nestes pontos de sua vida. Observe cuidadosamente que amigos e atividades o deixam mais afinado espiritualmente, mais disposto a falar com Deus. A essas pessoas e a essas atividades você deve se ligar e permanecer firme. Se você cuidar bem de sua vida de oração, as demais áreas da vida dificilmente se desencaminharão.

Ofereço estes pontos para sua consideração pessoal. Faço-o com toda a humildade. Não há ninguém que precise ser mais lembrado deles do que eu mesmo. Mas creio que representam a própria verdade de Deus, e meu anseio é para que eu mesmo e todos aqueles que eu amo os coloquem em prática com intensidade cada vez maior.

(Fonte)

Categorias
C. H. Mackintosh Estudo bíblico

Dois homens, duas ofertas

Gênesis 4.3-5 mostra que Caim ofereceu ao Senhor o fruto de uma terra amaldiçoada, e sem qualquer sangue para remover a maldição. Ele apresentou um sacrifício sem sangue simplesmente porque não tinha fé. Se ele possuísse esse princípio divino, teria compreendido, mesmo naquele tempo tão remoto, que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22).

Esta é uma verdade fundamental: a pena para o pecado é a morte. Caim era pecador e, como tal, a morte estava entre ele e o Senhor. Porém, em sua oferta não havia nenhum reconhecimento desse fato. Não havia a apresentação de uma vida sacrificada para atender às exigências da santidade divina ou para responder a sua verdadeira condição de pecador. Caim tratou o Senhor como se este fosse inteiramente igual a ele, alguém que pudesse aceitar o fruto da terra amaldiçoada maculado pelo pecado.

Quando olhamos para o ministério do Senhor Jesus, percebemos, imediatamente, que, se Ele não tivesse morrido na cruz, todo o Seu trabalho teria se revelado inteiramente inútil quanto a estabelecer nosso relacionamento com Deus. Na verdade, Ele “andou […] fazendo o bem” (At 10.38) toda a vida, mas foi Sua morte que rasgou o véu (Mt 27.51). Nada a não ser Sua morte podia fazê-lo. Se Ele tivesse continuado, até este momento, apenas fazendo bem, o véu permaneceria inteiro para impedir que os adoradores se aproximassem do Santo dos Santos.

Consideremos agora o sacrifício de Abel. “Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura” (Gn 4.4). Em outras palavras, ele entrou, pela fé, na gloriosa verdade de que podia aproximar-se de Deus mediante um sacrifício, de que havia como um pecador pôr a morte de outrem entre si mesmo e a consequência de seu pecado, para que as exigências da natureza de Deus e os tributos de Seu caráter fossem satisfeitos pelo sangue de uma vítima imaculada – uma vítima oferecida para cumprir as exigências de Deus e as profundas necessidades do pecador. Essa é, em palavras breves, a doutrina da cruz, unicamente na qual a consciência de um pecador pode encontrar descanso, porque nela Deus é plenamente glorificado.

Tudo isso era muito simples. Abel merecia morte e juízo, porém achou um substituto. Assim é com todo o pecador carente, perdido, que tem em si a condenação e cuja consciência o acusa. Cristo é seu substituto, sua redenção, seu mais excelente sacrifício, seu tudo! Ele saberá, assim como Abel, que o fruto da terra nunca lhe poderá valer, que, mesmo que pudesse oferecer a Deus os mais saborosos frutos da terra, ainda teria uma consciência manchada pelo pecado, já que “sem derramamento de sangue não há remissão”. Os frutos mais requintados e as flores mais fragrantes, na maior profusão, não podiam remover uma simples nódoa da consciência. Nada senão o sacrifício perfeito do Filho de Deus pode dar alívio ao coração e à consciência. Todo aquele que pela fé se assegura dessa realidade divina desfrutará a paz que o mundo não pode dar nem tirar. É a fé que põe a alma na posse atual dessa paz. “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).

“Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício que Caim” (Hb 11.4).

(Condensado de C. H. Mackintosh, Notes on the Pentateuch)

Sair da versão mobile