A cura divina é bíblica ou anti-bíblica? O Senhor é “socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1): isso significa apenas que o cristão deve buscar Dele graça para, pacientemente, suportar aflições? As Escrituras têm muito mais a dizer com relação ao corpo; será uma grande perda se ignorarmos isso.
1. Nossos deveres na enfermidade
É claro para nós que muitos cristãos estão vivendo abaixo de seus privilégios nessa questão. Jeová-Rafah (“o Senhor que te sara” [Êx 15.26]) é, verdadeiramente, um dos Seus títulos tanto quanto Jeová-Tsidkenu (“o Senhor justiça nossa” [Jr 23.6]).
Quais são os deveres e privilégios do cristão quando ele adoece? Primeiro, esforçar-se para determinar a ocasião e a causa de sua enfermidade. É fácil descobrir se a doença advém de ignorar as ordens da prudência comum (Pv 23.21; Gl 6.7,8). Se não conseguimos atribuir nosso atual problema de saúde à negligência física ou à insensatez, então, procuremos identificar a causa moral. “Esquadrinhemos nossos caminhos, e provemo-los” (Lm 3.40), fazendo um esforço honesto para descobrir o que tem entristecido o Espírito (Ef 4.30). É provável que haja algo contrário em mim sobre o que Ele está indicando Sua desaprovação (Mc 7.21-23), e pelo que Ele requer que eu me humilhe (Sl 139.23,24). O ponto de lepra de minha alma que precisa ser purificado pode ser um espírito de egoísmo, a permissão ao orgulho, as obras da vontade própria, as agitações da rebeldia quando a providência divina cruza meu caminho, o exercício da justiça própria.
Se nós temos estabelecido algum ídolo, ele precisa ser lançado fora (1Co 10.14; Sl 32.5);
– se nós temos cedido à lascívia, isso precisa ser mortificado (Cl 3.5);
– se nós tomamos um caminho proibido, ele precisa ser abandonado (Pv 14.12);
– se nós temos intencionalmente deixado um dever, ele precisa ser retomado.
Se temos sido descuidados, então, não devemos nos surpreender se ficarmos acamados por algum tempo. Isso é a fim de que haja tempo para relações estreitas entre a alma e Deus, para que as “coisas ocultas das trevas” sejam trazidas à luz e tratadas fielmente (1Co 4.5).
Algumas aflições são produzidas pelo diabo. Nós lemos em Jó, e de uma mulher “a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa” (Lc 13.16). Está escrito: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7) – ao que deve ser adicionado “Ao qual resisti firme na fé” (1Pd 5.9).
Algumas enfermidades físicas são enviadas sobre os santos para seu aperfeiçoamento em vez de correção, para que eles produzam algum fruto espiritual superior (Gl 5.22,23). Portanto, o crente que deseja luz sobre sua situação deve esperar no Senhor para que este lhe mostre por que contende com ele (Jó 10.2).
2. 2Crônicas 7.14
“E se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.”
Alguns podem contestar que tal passagem não é aplicável a nós, pois Deus lidava com Israel de acordo com a Lei, ao passo que lida conosco de acordo com as riquezas da graça. Essa afirmação é completamente anti-bíblica. Manter os requisitos de santidade e exercer misericórdia com respeito ao penitente sempre caracterizou os caminhos de Deus em todas as épocas. O ensino do Novo Testamento nesse assunto é precisamente o mesmo que o do Antigo.
“Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem [que morreram]” (1Co 11.29,30).
Os coríntios eram culpados de transformar a Mesa do Senhor em um banquete carnal. Deus não toleraria tal irreverência. Ele os visitou com um julgamento temporal, punindo-os fisicamente. Portanto, esta passagem é estritamente análoga àquela em 2Crônicas 7.
Porém, tanto na primeira, quanto nesta o remédio é graciosamente revelado: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” (1Co 11.31). Se os coríntios se condenassem honestamente por sua conduta indecorosa diante de Deus, o julgamento divino seria removido e os muitos enfermos, curados. “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (v. 32). Deus está nos castigando aqui para que escapemos da dor eterna futuramente.
Ora, em 2Crônicas 7.14 nós encontramos o povo de Deus sendo tratado por seus pecados. Como a libertação seria obtida? Primeiro, eles deveriam “se humilhar”. Isso tem o mesmo significado da expressão “julgar a nós mesmos” em 1Coríntios 11.31. Uma palavra em Levítico 26.41,42 fornecerá a ajuda necessária: “Se então o seu coração incircunciso se humilhar, e então tomarem por bem o castigo da sua iniqüidade, também Eu Me lembrarei da minha aliança”.
Humilharmos a nós mesmos sob a vara de Deus é parar de perguntar: “O que eu fiz para merecer isso?”, é parar de resistir à vara e curvar-se humildemente, reconhecendo que minha conduta vil merece isso. Davi se humilhou quando declarou: “Bem sei eu, ó Senhor, que os Teus juízos são justos, e que segundo a Tua fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Julgar a nós mesmos é tomar posição do lado de Deus contra nós mesmos. Enquanto não o fizermos, a vara não terá completado o efeito para o qual foi designada (Hb 12.11).
“E orar” é a próxima coisa. Nós oramos com um senso mais profundo da santidade divina e de nossa vileza, por um coração contrito e quebrantado (Sl 34.18; 51.17), por fé na misericórdia de Deus, por purificação e restauração para comunhão.
“E buscar a Minha face”. Isso é um passo adicional. Expressa termos ainda mais diligência e fervor. O Onisciente não pode ser enganado por meras palavras. Ele requer uma busca de coração, para que nós tenhamos, de fato, um encontro face a face com Aquele a quem desagradamos. Deus não encobrirá nossos pecados; nós também não deveríamos fazê-lo.
“E se converter dos seus maus caminhos”. Se eles precisam ser libertados do julgamento de Deus, eles devem necessariamente abandonar seus pecados, sem nenhuma reserva secreta, com o firme propósito no coração de não retornar para eles jamais (Sl 85.8). Arrependimento é mais do que lamentar pelo passado. Inclui a resolução de que não haverá repetição no futuro.
“Então, Eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” Aqui está a graciosa promessa: é certo que será ouvido por Deus, o perdão é assegurado e a cura está disponível para ser reivindicada por fé. Deus concederá cura imediata e completa em toda situação? Não; 2Crônicas 7.14 não se compromete nem com a cura imediata nem completa.
Auxílio de médicos e uso de medicamentos
Os homens de Jericó buscaram a Eliseu dizendo: “As águas são más” (2Rs 2.19). E o profeta disse: “‘Trazei-me um prato novo, e ponde nele sal’. E lho trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas, e deitou sal nele e disse: ‘Assim diz o Senhor: Sararei a estas águas; e não haverá mais nelas morte nem esterilidade’” (2Rs 2.20,21).
Deus podia ter curado aquelas águas sem qualquer sal, assim como Ele poderia ter tornado doce as águas amargas de Mara sem ordenar que Moisés lançasse certa árvore nelas (Êx 15.23-35). Às vezes o Senhor se agrada de usar meios (tais como médicos e medicamentos), e, em outros momentos, Ele os dispensa, pois exerce Sua soberania tanta de uma forma como de outra.
A doutrina da soberania torna o assunto mais intrigante, e Deus assim o deve ter planejado. O homem natural quer que tudo lhe seja facilitado. Mas o modo de Deus é manchar o orgulho humano, fazer-nos perceber nossa insuficiência, colocar-nos de joelhos. “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque Dele vem a minha esperança” (Sl 62.5). Deus é soberano e não age de modo uniforme. Nós somos agentes responsáveis e dependentes Dele, e portanto não devemos agir nem irracional nem presunçosamente.
Quando sarou a terra de Israel, Deus por vezes usou certos meios; em outros momentos, foi sem o uso de qualquer meio. O mesmo se dá quando Ele cura nosso corpo. A um homem cego Cristo deu visão instantaneamente (Mc 10.46-52), mas, a outro, Ele colocou as mãos nos olhos do homem uma segunda vez antes da completa restauração (8.22-25).
Longe de nós afirmar que todos os que recorrem a médicos e a remédios estão perdendo o melhor do Senhor. Mas é Sua vontade que alguns O glorifiquem “em meio ao fogo” (Is 24.15). Deus enviou um anjo para libertar Pedro da prisão, mas permitiu que Estêvão fosse apedrejado até a morte.
Nós devemos nos apropriar da promessa de 2Crônicas 7.14, humildemente e não presunçosamente. Tendo corrigido qualquer erro diante de Deus, agora implore com Sua Palavra:
“Senhor, eu tenho buscado me humilhar diante de Ti e orar, buscar Tua face e renunciar a meus caminhos iníquos. E Tu me asseguraste que irás me perdoar e me curar. Faz como disseste. Mas, Senhor, eu não conheço Teus pensamentos. É Tua vontade pôr Tua mão restauradora sobre mim neste momento? Caso seja, habilita-me a confiar em Ti de todo o coração. Ou Tu gostarias que eu usasse alguns recursos, como médicos e medicamentos? Sendo assim, faz com que eu conte que Tu os torna eficazes para mim, para que eu confie em Ti e não neles, para que a glória seja toda Tua”.
Dois aspectos da fé
“Seja-vos feito segundo a vossa fé” (Mt 9.29). Deus promete honrar a fé onde quer que Ele a encontre. Mas qual é a fé aqui mencionada? É aquela que descansa sobre a segura Palavra de Deus e é composta por dois elementos principais: submissão e expectativa.
Alguns supõem que submissão – como expressa em: “Todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22.42) – faz de expectativas reais coisas impossíveis. Mas isso está errado e se deriva de uma concepção equivocada do que consiste a expectativa espiritual. Comecemos por afirmar que onde não há uma genuína submissão à vontade de Deus não pode haver uma expectativa verdadeira. Submissão espiritual é apresentar uma causa diante do Senhor e pedir-Lhe que lide com ela da maneira que Ele achar melhor. Se há dependência de Sua sabedoria e de Sua bondade, isso é o exercício da fé. E se houver confiança de que Ele assim o fará, isso é a expectativa de fé, a expectativa, não de que Ele conceder o que a natureza carnal deseja, mas que Ele dará o que Lhe trará mais glória e será para o bem maior de quem pede. Qualquer coisa além disso é presunção.
3. Tiago 5.14-16
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (vv. 14,15).
Uma lista de dons sobrenaturais durante o período apostólico é encontrada em 1Coríntios 12.9,10, incluindo o de cura. Os reformadores consideraram [que a função desses] dons sobrenaturais era principalmente autenticar o cristianismo e confirmá-lo em países pagãos. O propósito deles foi apenas temporário; assim que as Escrituras foram escritas, eles foram revogados (1Co 13.8). Mas Tiago 5.14-16 é colocado à parte. Cremos que esse princípio e essa promessa gerais são válidos para todas as gerações, com exceção apenas dos períodos de grande declínio espiritual. Em tempos normais, é privilégio do santo, quando gravemente doente, chamar os presbíteros (pastores, ministros) da igreja local à qual pertence. Os que pregam a Palavra de Deus a ele certamente seriam os mais aptos para apresentar sua causa diante do Senhor (Jó 42.8). Eles devem orar por ele, encomendando-o à misericórdia de Deus e buscando restauração para ele, se isso estiver de acordo com a vontade divina. Se o enfermo deseja ser ungido com óleo, seu pedido deve ser atendido.
Deve-se ressaltar que essas promessas de Deus relacionadas às misericórdias temporais e terrenas são diferentes daquelas relativas às coisas eternas e espirituais. As primeiras são gerais e indefinidas, e não incondicionais e absolutas como são muitas das últimas. Portanto, nós devemos pedir em completa submissão à soberana vontade de Deus, com a qual Ele tem a liberdade para torná-las reais quando e a quem Ele quer.
Desse modo, a oração de fé aqui não é uma expectativa definida de que Deus irá curar, mas uma garantia pacífica de que Ele fará o que Lhe dá mais glória e para o bem do enfermo.
Fé é confiança e submissão, bem como expectativa. Não há fé mais forte do aquela que tem tanta confiança na sabedoria e na bondade de Deus que conduz a pessoa a dizer: “Faze-nos aquilo que te pareça bom e reto” (Js 9.25). Naqueles aspectos em algumas necessidades específicas não estão cobertas por uma promessa expressa, a fé deve contar com a misericórdia e o poder do próprio Deus (Sl 59.16).
O mais doce relacionamento que existe entre um homem e uma mulher é o de esposo e esposa. O mais doce relacionamento que existe entre Deus e o homem é o de esposo e esposa. Israel é a esposa de Deus e a Igreja será a esposa do Senhor Jesus Cristo. Existem muitas esposas no Antigo Testamento que, em seu relacionamento com o marido, tipificam, simbolizam ou ilustram algum aspecto particular do relacionamento entre Cristo e Sua Noiva. Neste artigo, queremos considerar Eva como um tipo da Igreja, a Noiva de Cristo.
Nossa convicção, nascida de oração e estudo da Palavra, é que, embora as expressões noiva e igreja possam ser sinônimas, elas são diferentes; porém, semelhantes a corpo. Eva como a noiva de Adão tipifica a igreja, a Noiva de Cristo em dois aspectos:
1. Como a Noiva em predestinação. Quando Deus criou Adão e Eva, eles eram uma pessoa. Eva estava em Adão. Seu nome, embora sendo duas pessoas numa, era Adam (singular). Para que Adão fosse socialmente completo, Eva precisou ser tirada dele e feita uma personalidade distinta e depois levada a ele para que ele pudesse ter comunhão com ela. Efésios 1.4 fala da igreja como estando em Cristo antes da fundação do mundo. Assim, para que Jesus fosse socialmente completo, a igreja precisava ser tirada Dele e feita uma personalidade distinta e apresentada a Ele para comunhão por toda a eternidade.
Deus fez com que um profundo sono caísse sobre Adão e, durante esse período de tempo, Ele abriu-lhe o lado e tirou uma porção de seu corpo, do qual fez Eva, sua noiva. Ela era o universo e o complemento de Adão – seu outro ego. Da mesma forma, quando Cristo morreu, Seu lado foi aberto e surgiu aquela parte de Seu corpo que trouxe à existência Sua Noiva, a Igreja. Assim como Adão era incompleto sem Eva, assim Cristo era incompleto sem Sua noiva, a Igreja, Seu corpo e plenitude Daquele que a tudo enche. Por meio de Adão, Eva recebeu toda a sua dignidade, posição e bênção. Por meio de Cristo, a igreja na mente de Deus como a noiva de Cristo, foi predestinada e pré-ordenada desde a eternidade. Eva estar em Adão desde o dia da criação tipifica e ilustra maravilhosamente a Igreja na predestinação.
2. O segundo fato tipificado por Adão e Eva é relativo à composição ou constituição da Igreja. Tudo o que Deus faz é segundo um modelo, em número, peso e medida. Quando arquiteta um plano ou modelo, Ele nunca o muda, mas prossegue ao longo das eras, operando segundo Seu próprio modelo, que é perfeito desde o princípio. Tem-se tornado axiomático entre os estudantes de tipologia que, a primeira vez que um tipo ocorre, o modelo é estabelecido. Mas, nos tempos de Adão e Eva, temos muito mais do que simplesmente um tipo de ilustração. Aqui está uma norma divina e perfeita que nunca é mudada. Aqui está uma prova infalível e confirmada por muitas outras Escrituras que a companhia escolhida que há de formar a noiva de Cristo é apenas uma pequena parte do corpo de Cristo. A noiva é tirada do corpo e, no mais elevado sentido, o corpo de Cristo, assim como Eva é o corpo de Adão, mas não todo o seu corpo. Considere o relacionamento proporcional entre uma costela e o resto do corpo. Quando Eva foi tirada do corpo de Adão, ela foi chamada de isha, que significa “tirada do homem”, que era chamado de ish. Temos a mesma expressão em inglês: ela foi chamada de woman (man significa homem), porque foi “tirada do homem”. [Algumas traduções em português trazem varoa e varão para indicar esse fato registrado no hebraico. (N. do E.)]
Em 1Coríntios, Paulo chama nossa atenção para o fato de haver muitas ordens ou companhias de indivíduos na terra. Todos os salvos do Antigo e os do Novo Testamentos não constituem um só grupo. Existem diferentes grupos de salvos no Antigo Testamento e diferentes grupos de salvos no Novo Testamento! Todos os santos do Novo Testamento formam o Corpo de Cristo, mas certo grupo (por sua própria escolha de sofrer com Ele, vencer o mundo, a carne e o diabo, e manter obediência fiel a Seus mandamentos e conquistar coroas concedidas por Deus) constitui aqueles que serão tirados do grande corpo dos santos do Novo Testamento para compor a Noiva de Cristo. Isso segue o modelo de Eva sendo tirada do corpo de Adão e se tornando sua noiva.
Possivelmente, nenhuma outra interpretação incorreta tem resultado num viver relaxado e num total desprezo para com os mandamentos do Senhor do que o ensinamento de que todo cristão, a despeito de como vive, é um membro da Noiva de Cristo e reinará com Ele. Esteja informado e saiba que, embora a vida eterna seja uma dádiva de Deus, os galardões e o governo são baseados na fidelidade a nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.7,8).
Nesta passagem, a ênfase é totalmente colocada na idoneidade moral da noiva para a grande ocasião. “Já a Sua esposa se aprontou” para a união; “e foi-lhe dado que se vestisse”.
A veste nupcial não é aquele esplendor vulgar da grande prostituta: roupas de púrpura e escarlata, brilhando com jóias e pérolas (17.4), que apenas escondem deformidade e corrupção ocultas. A noiva santa usa apenas linho fino, resplandecente e puro. A veste do sumo sacerdote no passado era assim, quando ele entrava anualmente no Santo dos Santos diante da Presença (Lv 16.4). Aquele linho fino era tecido por mãos humanas (Êx 35.25) e, semelhantemente, a veste da noiva é feita por ela mesma: “O linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.8).
A própria tradução na Almeida Corrigida e Fiel (ACF) não permite que essa justiça seja a de Deus, a qual é imputada ao pecador pela fé em Cristo, pois diz: “Justiça dos santos”, e não a justiça de Deus. O sentido do termo é fixado por seu uso anterior em 15.4. A ACF traduz de modo inexato: “Teus juízos são manifestos”, mas a Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduz corretamente: “Teus atos de justiça [ta dikaiomata] se fizeram manifestos” . “Este tecido puro, brilhante e feito de bisso, representa os atos justos dos santos […] a soma dos atos santos dos membros de Cristo, operados neles pelo Espírito Santo” (Swete). E também William Milligan (Expositors Bible, Revelation, 322):
Estes atos não são a justiça imputada de Cristo, embora só sejam realizados em Cristo. Eles expressam a condição moral e religiosa daqueles que constituem a noiva. Justiça alguma exterior apenas, com a qual possamos ser vestidos, é suficiente preparação para a bênção futura. Uma mudança interior é não menos necessária que uma idoneidade pessoal e espiritual para a herança dos santos na luz. Cristo deve ser não apenas como uma roupa, mas como vida em nós, se quisermos usufruir a esperança da glória (Cl 1.27). Não tenhamos medo de palavras como estas. Vistas corretamente, elas não interferem com nossa perfeição só no Amado, ou com o fato de que não pelas obras de justiça que tenhamos realizado, mas pela graça, é que somos salvos por meio da fé, e isto não vem de nós; é dom de Deus (Ef 2.8). Toda a nossa salvação é de Cristo, mas a mudança em nós deve ser interior como também exterior. Os eleitos são pré-ordenados para serem conformes a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29); e a condição cristã é expressa nas palavras que dizem não somente “fostes justificados”, mas também “vós vos lavastes, mas fostes santificados […] em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11, ARA).
E a tradução literal desta última parte, “vós vos lavastes”, enfatiza ainda mais a verdade em questão e mostra harmonia de Paulo e João sobre essa verdade.
Deve-se observar que a justiça imputada que justifica é colocada sobre o crente por Deus, não por si mesmo, sendo considerada por ele e não assumida por ele. Romanos 4.6 diz: “O homem a quem Deus imputa a justiça”. Mais ainda: esta imputação acontece no primeiro ato de fé de cada indivíduo, enquanto que o atavio dele só acontece no dia das bodas, no término da carreira de toda a igreja de Deus, e é visto como um ato unido ao primeiro.
Existe uma precisão nas palavras de Deus correspondendo exatamente ao fato das coisas. A esposa “se aprontou” e, todavia “foi-lhe dado” fazer isso. Se o Espírito de santidade não tivesse tornado possível, nenhum membro da igreja poderia realizar atos justos; mas, embora cada ato santo seja realizado pela graça do Espírito, é o santo quem o realiza. É Deus quem opera em nós o querer e o efetuar; mas somos nós quem devemos desenvolver essa salvação numa vida de atos justos (Fp 2.12,13); e, se entristecermos ou apagarmos o Espírito e assim frustrarmos a obra de Deus em nosso interior, então, o linho fino não será tecido. E nenhuma outra veste terá participação de qualquer um na glória nupcial, embora justificado na lei pela justiça imputada. Pois o perdão de uma mulher outrora rebelde não é o mesmo que se tornar, mais tarde, a esposa de seu soberano, nem tampouco existe necessidade de que o rei pensasse em tal honra para ela.
Tudo isso é ilustrado na história de Ester. De cativa ela é exaltada à posição de rainha. Com respeito às vestes e aos enfeites de que ela precisava, tudo era presente do rei, pois ela não tinha nada adequado. Mas ela tinha de vesti-los a fim de se aproximar do rei; como está escrito: “Ester se vestiu de trajes reais” (Et 5.1)
A justificação é um benefício inicial, concedido de uma vez por todas; a santificação é um processo para a vida toda: o sacerdote deve lavar as mãos e os pés até o fim de sua carreira.
Essa obra graciosa e indispensável no crente é operada por aquilo que Cristo fala à Igreja. Assim, é dado a ela se tornar pura. Porém, as palavras devem ser obedecidas, senão permanecerão inúteis, e por isso “é dado a ela vestir-se”, realizando os atos justos direcionados pela Palavra de Deus. Tudo é pela graça; mas é a graça usada e não abusada; é a graça obedecida e não negligenciada. Pois a graça “se manifestou […] ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa e piamente”, e só vivendo assim é que estaremos verdadeiramente “aguardando a bem-aventurada esperança e [até mesmo] o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, o qual se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo todo Seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.11-14). Portanto, “todo o que Nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como Ele é puro” (1Jo 3.3).
Aos justificados, “que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pd 1.1-4), Pedro acrescenta o encorajamento de que Deus “nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e a piedade”, tornando assim a santidade de vida possível. Para este fim, Deus “nos tem dado as Suas grandíssimas e preciosas promessas”. Como um pai, que ao iniciar seu filho nos negócios lhe concede várias notas promissórias emitidas por um banco e pagáveis à vista, assim Deus enriqueceu Seus filhos para todas as exigências de uma vida santa. É pela oração e pela obediência às instruções de nosso Pai Celestial que asseguramos a riqueza espiritual prometida; e, à medida em que Seu caráter se torna desenvolvido progressivamente em nós, então, nos tornamos “participantes da Sua natureza divina”. Isso não é o mesmo que ter vida eterna, embora seja uma conseqüência dela. Todos os seres humanos têm vida humana, mas a natureza deles difere: alguns são rudes por natureza, outros, amáveis; uns são ativos, outros, indolentes; e assim por diante. Todos da família de Deus têm a vida do Pai, mas diferem no grau em que aquilo que é natural para Deus (como ser santo ou amar os inimigos) se torna natural neles. E essa diferença é proporcional à medida de apropriação de cada uma das promessas divinas. A negligência das promessas deixa a alma pobre, assim como negligenciar as promissórias do banco deixam o bolso vazio.
O padrão é alto, embora atingível pelo Espírito, por meio da obediência à Palavra. As histórias de José, Samuel e Daniel são narradas com detalhes. Cada um deles estava cercado de depravação moral e grosseira, mas Deus não registrou nada contra eles. Não quer dizer que não tinham pecado; só Cristo não pecou. E Paulo escreveu aos crentes numa cidade pagã e ímpia: “Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa” (Fp 2.12-16). É possível ao crente “guardar-se imaculado do mundo” (Tg 1.27), e aquele que assim anda de vestes brancas aqui e agora terá permissão de vestir-se para comunhão com Cristo como parte da noiva no final (Ap 3.4,5; 2Co 7.1; Ap 22.2,3). Cada um deve tecer sua veste nupcial própria e pura pela graça de Deus, e somente para o louvor e glória daquela graça. A noiva será, então, para o prazer e a honra do Noivo.
“Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que Lhe assiste e O ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.29,30).
João tirou essa doce figura das passagens do Antigo Testamento que descrevem Jeová como o marido, e os homens simples, perdoados e santificados como a esposa: “Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra” (Is 54.5). Nesta união tão íntima e santa, Jesus era uma parte. Portanto, a aplicação da figura a Ele significa que João sabia ser Jesus o Jeová do Antigo Testamento. João se regozijara grandemente com a voz do noivo e, neste sentimento, cumpriu a parte do “amigo do Noivo”, isto é, aquele que, segundo o costume oriental, procurava a noiva e a trazia ao noivo.
Assim fez o servo de Abraão, que buscou e encontrou Rebeca; com fidelidade zelosa ele encheu o coração dela de pensamentos sobre Isaque, não pensamentos sobre si mesmo. E, com cuidado vigilante, ele a protegeu na longa jornada, até apresentá-la a Isaque. Este servo não é uma figura do Espírito Santo, mas, antes, de pessoas como João, que sempre direcionam os homens para Jesus, atraindo-lhes as afeições para Ele, de modo que muitos como André, ouvindo João, seguem a Jesus.
Paulo aplica a si mesmo essa figura precisa de um servo de Deus, dizendo: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2Co 11.2). Ele os havia levado a se apaixonarem por Cristo, e estava “zeloso (deles) com zelo de Deus […] mas”, disse ele, “temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (v. 2).
Satanás deseja ardentemente que nosso coração se volte para qualquer outro objeto que não seja nosso Amado celestial. Não importa quem ou o que seja tal objeto. O amigo do Noivo tem preocupação ainda maior em manter os corações comprometidos com Cristo. Este é nosso bem-aventurado e verdadeiro trabalho: levar os outros a amarem a Cristo e mantê-los satisfeitos com Ele. O meio para isto, Paulo o indica nas palavras: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus” (2Co 4.5).
“Eu sou servo de Abraão” (Gn 24.34).
“É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30).
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos” (Hb 12.22).
Durante o reino de Cristo na terra, Jerusalém, a “cidade do grande Rei” será sua metrópole terrena e o centro do mundo. Mas nas regiões celestiais haverá outra “cidade”, da qual aquela na terra é apenas um reflexo. Naquela região onde a essência do ser é espírito, Deus terá uma metrópole espiritual, sendo Ele mesmo o arquiteto que desenhou e o construtor que a edificou (Hb 11.10). E as pessoas da igreja dos primogênitos, espíritos aperfeiçoados habitando corpos espirituais incorruptíveis, formarão aquele lugar de habitação de Deus.
Durante a visão de Apocalipse, João ouvira uma grande multidão no céu regozijando-se porque a hora havia chegado para o tão esperado casamento do Cordeiro, mas ele ainda não havia visto a Noiva. E pode ser que, à medida que as poderosas visões progrediam, e a era milenar passava para o estado eterno, ele interiormente estranhasse tal omissão. Mas, depois que tudo fora mostrado a ele, a Noiva foi revelada para seu olhar extasiado, pois ele diz: “E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das sete últimas pragas, e falou comigo dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro. E levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me” – mostrou-me o quê? Uma noiva? Não – “uma cidade, a santa cidade de Jerusalém” (Ap 21.9,10).
Então, a “cidade” é a “noiva”, e visto que a última é figura de uma companhia de pessoas, a primeira também o é. A afirmativa de que a “cidade” é uma interpretação da figura de linguagem “noiva” não tem fundamento na passagem. O anjo não disse a João: “Vou interpretar ou explicar para você a metáfora da noiva”; porém, ele disse: “Mostrar-te-ei a noiva”, isto é,“vou te dar uma visão dela”. Assim “a cidade” é uma segunda visão em símbolo da mesma companhia da qual a “noiva” era o símbolo anterior. Tal duplicação de metáforas oriental é comum na Escritura. A figura da noiva não era mais adequada para revelar a glória da Igreja, nem seu mais elevado ofício como o lugar de habitação de Deus num universo reconciliado, do qual todos os ímpios haviam sido banidos. Por isso a cidade entra em cena; e a natureza, a arte e a linguagem se esgotam para descrever seu esplendor.
Ao interpretar a visão, um erro é particularmente comum, a saber: falar da cidade como sendo um lugar no qual todos os membros da igreja de Deus entrarão e serão abençoados. Essa noção efetivamente impede qualquer entendimento correto do assunto. A noiva, isto é, a igreja celestial glorificada dos primogênitos é a cidade. Outros salvos entram por suas portas; estes a compõem.
Pode ser difícil especificar um sentido exato para cada um dos detalhes dados, mas as principais características descritas prontamente oferecem seu ensino.
Em Seus santos celestiais, Deus habitará tão pessoalmente e estará presente de modo tão real, que eles serão para Ele o que uma cidade-capital era para um monarca: um lugar de residência, um cenário para a demonstração de Sua majestade, um lugar a que Seus súditos poderão vir para negociação com Ele e um centro de governo ao redor do qual a vida corporativa do império pode girar.
“E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (21.14). Para os membros da igreja, esse não era um pensamento novo, pois lhes fora ensinado anteriormente que eles, como um corpo coletivo, eram “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20). Historicamente, é sobre a pregação, o ensino, o labor e os sofrimentos dos apóstolos que a igreja é edificada; e de seus ensinos Cristo Jesus mesmo era o tema todo proeminente (a principal “pedra de esquina”), unindo o fundamento e proporcionando unidade e estabilidade ao edifício.
“As nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória” (Ap 21.24). Será sob a direção beneficente dos santos celestiais que as nações, por tanto tempo separadas“da vida de Deus pela ignorância que há” nelas (Ef 4.18), aprenderão a andar em Seu temor; e elas, por sua vez, honrarão estes que são assim a causa da sua eterna bênção.
Mas assim como será por reconhecerem a Israel como a principal nação sobre a terra pela vontade de Deus, é que os gentios reconhecerão a soberania de Deus. Portanto, por meio de Israel como intermediário é que eles desfrutarão das bênçãos dispensadas por meio da igreja; e por isso, nos portais da cidade está escrito o nome das doze tribos de Israel. Para os gentios, o meio de acesso às bênçãos celestiais será honrando a Israel (Is 14.2; 49.22,23; 60.12; 66.20; 66.20; Sf 3.10; Zc 8.20-23). Seria tão irracional “espiritualizar” o Israel literal desta figura (Ap 21.12) como “espiritualizar” os doze apóstolos do Cordeiro que são mencionados em seguida (v. 14).
O Espírito Santo de Deus fluirá assim através da igreja para a vivificação de todos, conforme a figura do rio da água da vida; e será em resposta à obediência que os povos terão seus benefícios do Rio, pois este procede do trono de Deus e do Cordeiro.
Na Jerusalém terrena dois montes são proeminentes: o monte Moriá e o monte Sião. O monte Moriá foi coroado com o templo de Salomão; porém, na Jerusalém celestial não é visto templo algum (v. 22), pois Deus não mais habita oculto atrás de um véu, visto que o Calvário tornou possível Sua habitação com os homens (21.3). Mas o monte Sião é fundado em Sua esfera eterna. Naquele monte, na cidade terrena, ficava o palácio de Davi (2Sm 5.7-9) e era a suprema corte de justiça para o reino, pois “ali estão postos os tronos e juízo, os tronos da casa de Davi” (Sl 122.5). Não um trono, mas tronos são mencionados. Quão preciso é o quadro profético das coisas que ainda hão de acontecer; pois Cristo, o Filho de Davi, associará consigo mesmo, em Seu ofício real, aqueles que foram considerados dignos de Seu chamamento e alcançaram este pináculo de honra, para reinar com Ele para todo o sempre (Ap 22.5). E, assim como muitos habitavam em Jerusalém e poucos comparativamente no monte Sião, não há aqui novamente a indicação de que os que hão de alcançar a bem- aventurança da “cidade” serão em número muito maior do que aqueles que serão coroados de honra e reinarão num trono no monte Sião? “Uma estrela”, mesmo sendo uma estrela de verdade, isto é, um ser celestial, “difere em glória de outra estrela” (1Co 15.41).
Daquele estado glorioso, eterno e supremo é declarada uma sétupla perfeição (Ap 22.3-5): “Ali não haverá mais maldição” – bênção e perfeição plenas –; “nela estará o trono de Deus e do Cordeiro” – governo perfeito –; “e os seus servos o servirão” – serviço perfeito –; “e verão a sua face” – comunhão perfeita –; “e nas sua frontes estará o seu nome” – semelhança e identificação perfeitas –; “e ali não haverá mais noite” – conhecimento e força perfeitos –; “e reinarão pelos séculos dos séculos” – glória perfeita.
“Cristo amou a Igreja”! Aqui está a fonte da qual fluem todas as bênçãos; “e a Si mesmo se entregou por ela”, a fim de libertá-la para sempre de suas misérias.
A figura nos faz pensar na jovem escrava que conquista o coração do príncipe, o qual paga o preço do resgate libertando-a de toda escravidão para ele mesmo. Porém, antes que possa cumprir o propósito de seu amor e recebê-la em seu palácio, algo mais é exigido além da redenção dela. Ela não pode passar direto do mercado de escravos para o trono. Primeiro, deve ser purificada, educada e vestida adequadamente para tal mudança de esfera e de posição. E essa é a obra que o Senhor realiza atualmente na Igreja. A obra de redenção foi absoluta, legal e eternamente consumada, e assim a possibilidade foi aberta para a escrava se tornar rainha.
A redenção tem em vista a santificação, e ambas visam à apresentação da Noiva a seu amado Noivo em glória. Nem todos serão encontrados “sem mácula” no dia das Bodas do Cordeiro. O termo foi tomado emprestado de Levítico 22, onde é dito que o sacerdote examinava minuciosamente o animal e, encontrando-o “sem mácula”, declarava-o “irrepreensível”, isto é, em condições de ser apresentado ao Senhor. O direito da jovem escrava ao trono e à alegria nupcial estava no preço do resgate oferecido pelo príncipe, segundo sua boa vontade; mas a aptidão dela para aquele dia ele deve assegurar de outro modo. Por isso, Cristo santifica Seu povo pelo “lavar de água pela Palavra” (Ef 5.26).
A pia para a lavagem no tabernáculo não visava garantir o perdão e a isenção do julgamento merecido ao israelita culpado. Isso era realizado no altar de bronze. Quando, porém, se tratava de comunhão com Deus e da entrada nos lugares santos, o lavar-se era tão essencial quanto o derramamento de sangue no altar (Êx 30.17-21; Lv 8.6; 2Cr 4.6).
A Igreja deve ser redimida e também santificada pelo Senhor. É Sua graça infinita que provê das riquezas de Sua glória os meios de purificação. A pia do lavatório era composta de duas coisas: (1) a água que estava na (2) pia. A “Palavra” é o vaso pelo qual entramos em contato com a água, que é o Espírito de Deus (Jo 7.38,39). “Santifica-os na verdade: a Tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Já Pedro menciona a “santificação no Espírito” (1Pe 1.2). Somente quando utilizamos na prática a Palavra de Deus, sendo obedientes a seus preceitos, é que conhecemos a energia purificadora do Espírito Santo. Ele está na Palavra, assim como a água estava na pia; a Bíblia é soprada pelo Espírito de Deus, o qual está perpetuamente nela, prova de Sua influência purificadora universal. Infelizmente, existe a possibilidade do discípulo negligenciar a Palavra de Deus ou habitualmente desobedecer a suas ordens e, assim, entristecer o Espírito Santo, impedindo a lavagem que assegura a santificação. Quando um pai vê algo errado no filho, ele lhe fala sobre aquele ponto. Se o filho obedece à palavra do pai, a palavra atua como água que realiza purificação.
Pedro havia seguido o Senhor por alguns anos e O amava ardentemente. Ele podia dizer o que poucos podem: “Tudo deixamos e Te seguimos” (Mt 19.27). Observe, porém, as palavras que nosso Senhor lhe disse: “Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés” (Jo 13.10). Entretanto, para gozar de maior participação com o Senhor, algo mais é necessário: “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo” (v. 8). Em outras palavras, era necessário que Pedro estivesse disposto a receber de modo humilde a purificação pessoal da sujeira diária. Por que a oposição de Pedro foi quebrada imediatamente, a ponto dele pedir mais do que era necessário? Se você é um crente que tem negligenciado a Palavra do Senhor, pondere nestas palavras, e pode ser que o Senhor repita a seu coração novamente, por Seu Espírito com poder restaurador.
O Senhor não disse: “Se Eu não te lavar, não tens parte em Mim”. Isso significaria a perda de tudo, até mesmo da vida eterna e de sua segurança. Isso faria com que a justificação fosse dependente da santificação, como se a superestrutura da casa pudesse sustentar o fundamento. Mas observe que Ele disse: “Não tens parte [metémou] Comigo”. Esse termo não tem nenhuma relação com salvação de um pecador da perdição, mas sim com os privilégios dos salvos (Lc 15.31; 11.7; 12.13; Tt 3.15; Mc 16.18; Jo 15.27; Lc 22.28; Mt 24.38; Jo 17.24; Ap 3.20; 3.4,21; 22.12). A fim de nos tornarmos “participantes [companheiros] de Cristo” (Hb 3.14), devemos nos submeter à purificação contínua que nosso Senhor realiza por meio do Espírito Santo e da Palavra. Caso contrário, não seremos achados “igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem qualquer outra coisa semelhante […] santa e irrepreensível” (Ef 5.27).
Uma confirmação clara disso está em Apocalipse 19, onde a ceia das bodas do Cordeiroé proclamada para alegria no céu. A circunstância que ocasiona o casamento e a festa é manifestada nas palavras: “E já a Sua noiva se preparou” (v. 7). Ela era uma pobre escrava sem recursos, mas seu Amado providenciou o tecido caríssimo e as jóias a fim de que ela se vestisse dignamente para aquela hora. Somente pela graça do Senhor Jesus é que poderemos ser encontrados vestidos com vestes de beleza e glória. Entretanto, é verdade também que cabe a nós usar aquilo que a graça nos oferece. A virgem deve fazer seu próprio vestido de noiva com o material fornecido por seu abastado Noivo. O tipo pode ser encontrado nas vestes sacerdotais, pois com elas os sacerdotes compareciam nos lugares santos; tais roupas eram feitas pelo próprio povo com o tecido e as jóias com que Deus os havia enriquecido. Há quanto tempo a Igreja está envolvida com tal trabalho? Quão pouco vemos de santidade em nossa vida, nós que somos “chamados santos” (1Co 1.2)!
O processo de uma vida santa é simples: obediência à Palavra de Deus. É possível a preparação de nossa veste nupcial, e a glória e a alegria das bodas podem ser alcançadas. Assim, esquecendo das coisas que ficam para trás, sejam fracassos ou vitórias, prossigamos para a perfeição, procurando nos manter no caminho da obediência irrestrita à Palavra Daquele que nos redimiu de toda iniqüidade e cujo prazer é agora nos purificar para Si mesmo e fazer de nós um povo de Sua própria possessão, cuja característica são as boas obras.
A união de Assuero e Ester realizou-se na privacidade do palácio real; a festa das bodas aconteceu depois (Et 2.16-18). Aqui também (Ap 19.9) há somente um anúncio da honra de ser um dos convidados do rei. Não é dito que as bodas se realizam naquele momento, pois parece que os convidados incluirão pessoas na terra quando o Noivo retornar (Mt 22.1-14; 25.1-13), e parece que “a festa” se realizará na terra, na abertura da era do reino (Lc 22.18,30).
Aqui, portanto, temos três idéias distintas:
Os convidados não são a noiva;
deve haver um intervalo entre o “casamento” e a “festa”;
a festa deve ser na terra.
Conforme tem sido mostrado, estas características fornecem indícios para o significado exato de algumas das parábolas proféticas de Cristo.
A ausência da noiva e de sua união naquelas parábolas é significativa, mas o significado foi grandemente perdido pelo ensino posterior do Novo Testamento quanto à noiva, conforme tem sido lido nas parábolas. A omissão harmoniza-se com a característica atribuída à noiva noutra parte, de que ela deve ser composta, não de todos os salvos, mesmo desta era, mas daqueles entre os salvos que são, pela graça, sempre vigilantes, devotos, separados do mundo, imaculados e andando de roupas brancas tecidas por eles mesmos. Dentro da vasta companhia do restante dos salvos está a esfera em que as parábolas do Senhor, e muitas outras passagens, têm sua aplicação. Bem-aventurados os que são convidados, e infelizes os que perdem tal privilégio, tal como o convidado sem a veste nupcial, as virgens imprudentes e o servo infiel. E além dessa região, jaz uma esfera ainda mais ampla daqueles do tempo do fim, que nem mesmo ouviram da fama do Noivo ou viram Sua glória (Is 66.19), mas que receberão a chamada de Isaías 55.1: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas”.
Tais distinções foram sugeridas no Antigo Testamento. Nas bodas de Ester havia somente uma multidão geral de convidados, mas eles foram diferenciados entre “príncipes e servos” (Et 2.18). Todos destas duas classes foram honrados com o convite real; todavia, é óbvio que eles não eram Ester, a rainha, tampouco incluíam todos os súditos do rei. E se alguns dos convidados à ceia das bodas do Cordeiro forem aqueles anjos príncipes, que serviram fielmente nos conflitos espirituais contra o príncipe rebelde destas eras anteriores? E se os servos incluírem aqueles espíritos ministradores, que mesmo agora prestam serviço diaconal aos santos, com vistas a prepará-los para a herança vindoura (Hb 1.14)? De qualquer forma, estes não seriam a noiva. Um deles se denominou “conservo” de João e de seus irmãos (Ap 19.10). O programa do Altíssimo é bem mais amplo e majestoso do que muitos pensam, e inclui todas as Suas criaturas, celestiais e terrenas.
Salmo 45
O salmo 45 é o cântico do Noivo Real. Observe a pessoa apresentada. O Noivo é simultaneamente o Guerreiro Poderoso com uma espada (vv. 3-5), como no contexto de nossa passagem (Ap 19.11-16), e também Deus (v. 6). Todavia, Seu Deus O abençoou e ungiu (vv. 2,7), de modo que Ele é Deus exaltado por Deus, um ministério do Novo Testamento manifestado pela revelação mais clara do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Depois, o Noivo tem uma rainha cujo lugar de honra é à Sua mão direita. Em seguida, Ele tem “companheiros” (Hb 3.14 – participantes, deveria ser “companheiros de”; veja Ap 3.4,5; 14.4; 17.14; 1Rs 12.8). Assim também a rainha tem “as virgens, suas companheiras que a seguem” (v. 14), como em Mt 25.1-13, e estas participarão da “alegria e regozijo”, isto é, da festa dentro do palácio (v. 15). Os outros mencionados são certamente princesas (v. 9), o povo e a família da rainha (v. 10), e além destes círculos mais íntimos estão os povos de fora, como os de Tiro, isto é, gentios que são vistos se aproximando e honrando o Rei (v. 12), em cuja nobre ocupação a rainha é chamada a liderar: “Ele é o teu Senhor, presta-Lhe, pois, homenagem” (v. 11).
Tudo isso é altamente sugestivo da realidade e da variedade que caracterizará aqueles dias futuros, quando o céu e a terra serão unidos, um Reino, em relação com Aquele que é o Senhor de todos. Uma vasta variedade é introduzida, que eleva a mente muito além da fundamental, mas apenas inicial, distinção entre salvo e não salvo, que é o máximo que muitos penetraram nos maravilhosos conselhos do Altíssimo.
“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade correm, mas um só é que recebe o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis”, isto é, o prêmio (1Co 9.24; Fp 3.12-16).
Encontrar o Noivo envolve a preparação para o casamento, e essa preparação é manifesta em termos bastante descritivos no conselho de Noemi a Rute: “Lava-te, pois, unge-te e veste os teus melhores vestidos” (Rt 3.3). Lembramos que Rebeca, em sua viagem com Eliezer para a casa de Isaque, ao vê-lo se aproximar, desceu do camelo e pôs o véu sobre si. Apocalipse 19.7,8 fala da preparação para o encontro com o Noivo, e Mateus 22.11-14 fala do que acontece aos salvos que não estão preparados para o casamento.
Tomemos o conselho de Noemi e Rute e consideremos mais detalhadamente suas palavras.
(1) Rute deve se lavar
Esse tipo é tirado do uso do lavatório de bronze usado pelos sacerdotes se purificarem da sujeira acumulada nas mãos e nos pés, após oferecerem o sacrifício para expiação sobre o altar de bronze. O modo de purificação no Novo Testamento é a lavagem da água pela Palavra, que é claramente expresso em 1João 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”. O ato de Rute lavar-se tipifica o cristão se purificando dos pecados não perdoados. E, visto que nós, cristãos, prevemos a vinda próxima do Noivo, a primeira coisa que devemos fazer é nos purificar de todo pecado e injustiça conhecidos. Isso é feito pela confissão de nossos pecados.
(2) Em segundo lugar, Rute, após se lavar, deve se ungir
Essa unção era feita com óleo, símbolo do Espírito Santo. Não é suficiente lavar-nos. Devemos ser ungidos com óleos perfumados, como complemento na preparação para o encontro com o Noivo. Nós, que somos cristãos, precisamos não apenas da habitação do Espírito Santo (que temos desde a ocasião em que fomos salvos), mas precisamos de um derramamento especial do Espírito de Deus para serviço e poder. Isso nós recebemos depois que nos lavamos. O Espírito Santo é dado em poder àqueles que obedecem ao Senhor. Tal indivíduo já recebeu o Espírito de habitação quando creu (Jo 7.37-39). Essa unção sobre parte dos cristãos é tipificada pelos vasos extras que as virgens prudentes levaram e que as néscias negligenciaram (Mt 25.1-13).
(3) Em terceiro lugar, após se lavar e se ungir, Rute deve se vestir
Isto é, colocar o vestido de casamento. Consultando novamente Apocalipse 19.7,8 e também Mateus 22.1-14, entendemos que a veste nupcial é feita das boas obras, dos atos de justiça resultantes de uma vida de obediência. Existem cristãos hoje aguardando, esperando e ansiando pela vinda do Senhor, mas, por causa da ignorância sobre esse assunto, ainda não se lavaram, não se ungiram e não prepararam sua veste nupcial.
Talvez a necessidade mais premente dos cristãos hoje seja a preparação para a vinda do Noivo por meio de lavarem-se, ungirem-se e colocarem a veste nupcial.
Quando esta pergunta é feita, todos respondem: “É a Igreja”, ou:“O Corpo de Cristo”, dando a entender, naturalmente, que ela é todos os salvos. Porém, as provas bíblicas para tal nunca são dadas, nem tampouco é possível fazê-lo, pois a Igreja nunca é chamada na Bíblia de “a Noiva de Cristo”. A Igreja é chamada de “Seu corpo” em Efésios 1.22,23; todavia, o Corpo e a Noiva não são sinônimos, como se tem imaginado.
Se observarmos a “lei da primeira menção”, termo com o qual todos os estudiosos da Bíblia estão familiarizados, e lembrarmos que as coisas escritas no Antigo Testamento são tipos para nosso ensino (Rm 5.4; 1Co 10.11), veremos que a noiva é tirada do corpo. Dois exemplos no Antigo Testamento ilustram esta verdade, como também muitos outros.
A primeira noiva, Eva, não era o corpo de Adão, mas foi tirada de seu corpo. Adão é um tipo de Cristo (Gn 2.21-23). Em Gênesis 24, temos a história de Abraão, que enviou seu servo para buscar uma noiva para seu filho Isaque. Muitos usam isso como um tipo de Deus, o Pai, enviando o Espírito Santo ao mundo para chamar a Igreja. É verdade que Ele faz isso, porém esse não é o ensino de Gênesis 24. O Evangelho deve ser levado ao mundo inteiro, mas nessa história Abraão não enviou seu servo aos cananeus, e, sim, a seu próprio povo, a fim de tomar uma noiva para seu filho. Os que estão familiarizados com os tipos na Bíblia podem logo ver que Gênesis 24 manifesta o seguinte: Abraão, um tipo do Pai, envia o servo, tipo do Espírito Santo, a seu próprio povo, um tipo da Igreja, para tomar uma noiva para Isaque, um tipo de Cristo.
Se a mensagem é de salvação, ela é anunciada a todos; porém, quando Deus chama para serviço, entrega, comunhão, pureza de vida, amor, devoção e muitos outros termos que são aplicáveis à palavra “noiva”, Ele não chama o mundo, mas Seu próprio povo ou família.
Nosso Senhor usou o termo “família” por causa de seu significado para nós na vida física. Nascemos a primeira vez em uma família física. Quando cremos no Senhor Jesus Cristo, confiando que Ele morreu em nosso lugar, nascemos de novo, na família de Deus. Eu creio que a palavra noiva é usada no mesmo sentido da palavra família. Sabemos que bênçãos a vida em família traz. Sabemos também que a noiva e o noivo, enquanto estão na família, compartilham de uma união e intimidade que não é partilhada pelos outros membros da família. Com esses pensamentos em mente, podemos ver como o Senhor chama aqueles que são Seus para chegarem mais perto de Si. Não é a este mundo, mas sim aos Seus que Ele diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2). Não serão muitos os cristãos que darão ouvidos a esse mandamento direto. Muitos que são salvos nunca experimentarão doce comunhão com o Senhor Jesus e, como Esaú, perderão as recompensas espirituais futuras por causa de satisfações carnais do momento.
Escrevendo aos coríntios carnais, Paulo diz que eles estão desposados a um marido, isto é, estão prometidos em casamento, ou, como diríamos, noivos. Isso certamente nos mostra a possibilidade de todos os cristãos serem a Noiva de Cristo. Paulo continua dizendo que teme que eles sejam enganados por satanás e tenham a mente corrompida. Esta é a situação de muitos cristãos hoje. Isto mostra a possibilidade de muitos falharem em preencher as qualificações para serem chamados a ser a Noiva de Cristo. A palavra desposados é a mesma palavra que foi usada em Mateus 1.18, onde é dito que Maria estava desposada com José. Antes de se unirem, intentou deixá-la, pois pensava que ela lhe havia sido infiel. Muitos crentes hoje são infiéis e, em certo sentido, o Senhor “os deixará”. Isto não significa a perda da salvação. Em Apocalipse 16.15 lemos: “Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua nudez”. Isso não se refere à justiça com a qual somos vestidos para a salvação (Is 61.10), mas, sim, uma vestimenta de boas obras que pode ser mantida com um resultado proveitoso, ou perdida para nossa vergonha e perda de recompensas no aparecimento de Cristo (1Jo 2.28; Tt 3.8; 2Jo 1.8).
Apocalipse 19.7 mostra que a noiva se atavia para o casamento e para as bodas do casamento, providenciando para si mesma uma vestimenta de boas obras. Nos dias em que isso foi escrito, a noiva fazia literalmente seu vestido de casamento, dedicando muitas horas de trabalho a ele. Nem todos os cristãos trabalham para Cristo, por isso nem todos serão a Noiva. A falta dessa vestimenta levará um cristão infiel a ser “deixado”, por assim dizer, nas trevas do lado de fora da festa de casamento. As trevas exteriores não representam o inferno, pois há servos inúteis lá. São trevas do lado de fora da festa onde o servo infiel estará, enquanto aqueles que foram fiéis desfrutarão da comunhão e do companheirismo não partilhados por todos. Em Mateus 25.14-30, o Senhor está tratando com Seus servos, e vemos os servos inúteis lançados nas trevas exteriores. Temos uma passagem paralela em Mateus 22, na qual alguém sem a veste nupcial é lançado em trevas exteriores. Lembre-se de que ele não poderia estar lá se não pertencesse ao Senhor. Isso tem a ver com a ocasião do arrebatamento da Igreja, quando cristãos darão conta dos feitos por meio do corpo, sejam bons ou maus (2Co 5.10). Sem dúvida, cristãos desinteressados e infiéis chorarão por suas falhas, pois só depois do Milênio de Cristo é que Deus limpará de seus olhos toda a lágrima (Ap 21.4).
Apocalipse 3.18 nos aconselha a comprar roupas brancas para nos vestirmos a fim de que nossa nudez não apareça. Conforme já vimos, as vestes brancas representam os atos de justiça e as ações do povo de Deus (19.8). A palavra comprar é usada para mostrar ao filho de Deus que ele terá de pagar um preço para estar entre os que compõem a Noiva de Cristo. Sim, uma vida separada e submissa custa muito, mas quão grande será a recompensa daqueles que ousarem pagar esse preço. Isaías 55.1 será a recompensa daqueles que ousarem pagá-lo. Isaías 55.1 fala de comprar sem preço. Não falamos de dinheiro, mas o cristão que determinou em seu coração viver completamente para o Senhor Jesus Cristo sabe que custa muito. Pode custar seus amigos, parentes, pois não são muitos os que trafegam o caminho separado. O preço pode estar em muitas horas de estudo bíblico, oração e testemunho. Falando de testemunho, Apocalipse 22.17 diz: “O Espírito e a esposa dizem: Vem!” Nem todos os cristãos trabalham para o Senhor, provendo para si mesmos uma veste de boas obras, e nem todos convidam outros para virem a Cristo. Portanto, os cristãos em sua totalidade não podem ser a Noiva de Cristo.
A palavra corpo é usada para mostrar unidade. Hoje muitos cristãos estão espalhados pelo mundo; entretanto, há um só corpo. Um dia, e eu creio que será muito em breve, o Senhor Jesus Cristo virá nos ares e levará Seus filhos deste mundo, e nós estaremos com Ele para sempre (1Ts 4.15-18). Prestaremos conta de nossa vida e seremos recompensados (2Co 5.10). Os cristãos trabalham e servem ao Senhor em vários níveis e serão recompensados dessa forma. Alguns não O servem em nada e sofrerão a perda dos galardões. Os que não se proveram de uma veste nupcial estarão espiritualmente despidos e envergonhados, mas não perdidos. Em Romanos 8.35-39 aprendemos que até mesmo a nudez, que se refere à perda da veste de boas obras, não nos separará do Seu amor. Entretanto, Tito 3.8 nos diz que o aplicar-se às boas obras é proveitoso. O proveito ou perda, de acordo com o caso, se manifestará no tribunal de Cristo, onde todos os cristãos darão conta de seus feitos no corpo, se bons ou maus.
A salvação (vida eterna) é dom de Deus. É eterna e não pode ser perdida. Os galardões, as coroas e a herança no reino são baseados em nossa fidelidade a Ele. A recompensa mais elevada será estar entre aqueles que compõem a Noiva de Cristo. Esse é um termo figurativo e simplesmente se refere àqueles que têm sido puros, limpos, submissos e que vivem em comunhão e companheirismo com Ele. Em outras apalavras, aqueles que têm sido para Seu Senhor tudo aquilo que está implicado na palavra noiva.
Foi a isso que Paulo se referiu em Filipenses 3.11. Ele certamente não temia perder a ressurreição, mas desejava estar entre os chamados para fora dentre os ressuscitados para receberem o prêmio da suprema vocação de Deus. A salvação não é um prêmio, e sim a dádiva da vida eterna.
Posso dizer que a Igreja é um corpo, composto de todos os crentes em Cristo? As epístolas foram escritas para a Igreja. A igreja em Corinto, como todas as demais, era composta de duas classes de crentes: os carnais e os espirituais (1Co 3.1-3). Muitos, embora pertencendo à Igreja, permanecem carnais até o fim e serão salvos como que pelo fogo. Não pensem tais cristãos que eles serão a Noiva de Cristo.
Quem é, pois, a noiva de Cristo? Aqueles que estão provendo para si mesmos uma veste nupcial de boas obras; aqueles que estão convidando outros para virem a Cristo. Encaremos a questão, cristão amigo: nem todos estarão qualificados. E quanto a você?