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Vida cristã

Em que confiamos?

Em que depositava Saul mais confiança, no Senhor ou na armadura? Na armadura, sem dúvida; e é assim com todos aqueles que não andam verdadeiramente por fé; apoiam-se nos meios, e não em Deus.
O homem dos meios e o homem da fé estão realmente diante de nós, e nós percebemos imediatamente como o último está longe de agir segundo os meios. Ora Davi sentiu que os vestidos de Saul e a sua couraça não representavam esses meios, e portanto recusou-os. Se ele tivesse partido com eles, a vitória não teria sido tão claramente do Senhor. Mas Davi havia confessado a sua fé na libertação do Senhor, e não na armadura de Saul.

Tem-se dito, e muito bem, que o perigo para Davi não foi quando se encontrou com o gigante, mas quando se viu tentado a usar a armadura de Saul. Se o inimigo tivesse sido bem sucedido em o induzir a ir com ela, tudo estava perdido; mas, mediante a graça, ele rejeitou-a, e assim entregou-se inteiramente nas mãos do Senhor, e nós sabemos qual a segurança que encontrou nelas. É isto que a fé sempre faz; deixa tudo, inteiramente, ao cuidado de Deus. Não se trata de confiar no Senhor e na armadura de Saul, mas somente no Senhor.

E não podemos nós aplicar este princípio ao caso de um pobre pecador desamparado, a respeito do perdão dos seus pecados? Creio que sim. Satanás procura tentar o pecador a acrescentar alguma coisa à obra consumada de Cristo – alguma coisa que diminua a glória do Filho de Deus como o único Salvador de pecadores. Ora àqueles que assim fazem eu gostaria de dizer que seja o que for que se acrescente à obra de Cristo só consegue inutilizá-la.

Em resumo: devemos ter, por tanto, somente Cristo; e não Cristo e as nossas obras, mas simplesmente Cristo, porque Ele é suficiente; não precisamos de nada mais, e não podemos passar com menos. Desonramos a suficiência do Seu sacrifício expiatório sempre que procuramos ligar alguma coisa nossa com ele, precisamente como Davi teria desonrado o Senhor indo ao encontro do gigante filisteu com a armadura de Saul.

(Trechos extraídas do livro Exemplos da Vida de Fé na Vida e Época de David, de C.H. Mackintosh, do Depósito de Literatura Cristã)

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A purificação do templo

“Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo da Tua casa Me consumirá” (Jo 2.13-17).

Creio que, de tempos em tempos, todos consideramos o estado e a condição do mundo em que vivemos, com apreensão na mente e no coração, e este fato é inevitável e certo1. A fé cristã não é um conto de fadas. Não é algo que ignora o mundo, mas é sempre muito prática. Assim, estamos conscientes de que vivemos num mundo em constante crise, cheio de problemas. Novamente, lembramo-nos da natureza precária de qualquer tempo de paz que estejamos desfrutando, já que somos, uma vez mais, confrontados pelos conflitos, que estão longe de serem apenas conflitos de idéias e podem, a qualquer momento, se tornar embates físicos2. Então, recordamo-nos do tipo de mundo em que vivemos: um mundo de guerras, de discórdias e derramamento de sangue.

E, claro, a grande pergunta para nós é: Qual é a mensagem do Cristianismo? O que a Igreja tem a dizer? Qual é a mensagem da Bíblia à luz de tudo isso? Ainda vivemos neste mundo e temos de compartilhar as conseqüências das quais a raça humana é herdeira. Porém, somos distintos por possuir uma visão diferente de todas as coisas, e nossa tarefa é descobrir, exatamente, o que deveríamos estar pensando e falando aos nossos vizinhos que não conhecem a Cristo e estão fora da Igreja.

Bem, não há dificuldade alguma em se responder às questões que mencionei acima. Está tudo muito claro. Pregamos que a Bíblia, por si só, nos dá a compreensão de por que as coisas são como são. Não há outra explicação para o mundo e sua condição, fora daquilo que a Palavra de Deus nos fornece. Conhecemos muito bem, como um fato puramente histórico, que o discurso ufanista e otimista dos homens de Estado e outros ilustres, particularmente no século 19, não se cumpriu. O mesmo ocorre com os estadistas do século 20. Sabemos que o mesmo pode ser dito sobre os pensadores e suas filosofias idealistas, sobre a teoria da evolução e do avanço. Quão ridículo tudo isso parece quando olhamos para os problemas globais! O mesmo pode ser dito a respeito dos humanistas e outros que depositam toda a sua fé na humanidade.

E nós, cristãos, o que temos a dizer? O que a Bíblia diz para todos os que acreditam nisso? Desejo mostrar a vocês que a resposta encontra-se nessas palavras do Evangelho de João. No relato de João sobre a purificação do templo, uma explicação é fornecida e somente uma única solução para o problema é apresentada a nós.

A resposta está em uma Pessoa abençoada. Ele é a resposta para todas as coisas. É Sua chegada a este mundo que faz a diferença e marca o ponto de transformação da História. Finaliza uma era e dá início a outra. É a “plenitude do tempo” (Gl 4.4). A resposta está em Sua vinda a este mundo, em todas as maravilhas que realizou enquanto esteve aqui e em tudo o que continua a fazer, pois desde então temos a chave para o problema. Jesus, e somente Ele, é a única solução.

Porém, devo apressar-me em acrescentar que é muito importante que O escutemos como Ele é, que permitamos que Ele fale a nós. Muitos se extraviam e falham na percepção das bênçãos e dos benefícios da vida cristã apenas porque não O escutaram. Creio ser este o principal problema do presente tempo. Em vez de dar a palavra a Cristo, as pessoas preferem falar. Acrescentam suas próprias idéias ao ensino do Senhor. Distorcem e pervertem Seus ensinamentos. As pessoas estão tão ansiosas para falar que tomam emprestadas algumas de Suas idéias e imaginam que isto é Cristianismo. Por conseguinte, claro, essas pessoas perdem a bênção.

Nos Evangelhos, pode ser claramente percebido que Jesus sempre controla toda a situação quando surge em cena. Estamos estudando a festa de casamento de Caná da Galiléia, onde a situação ficou tensa e problemática pela falta de vinho e nada se podia fazer para remediá-la. Então, Ele começa a agir e o problema é solucionado. A resposta está sempre Nele. Ele comanda a situação. Afirmo que a essência da sabedoria consiste em escutá-Lo quando Ele fala. Esta é a suprema necessidade do mundo. Literalmente, não há esperança em nenhum outro lugar.

Uma das primeiras coisas que precisamos compreender é que Jesus apresenta muitas facetas. Essa falta de compreensão explica, em parte, porque muitas pessoas se extraviam. Elas sempre procuram moldar Jesus às suas próprias imagens. Algumas enfatizam somente um dos aspectos: há as que destacam apenas Sua morte na cruz, o que, para elas, é a suprema ilustração do pacifismo; há aquelas que acentuam o aspecto estético de nosso Senhor, enquanto outras focalizam, talvez em demasia, o aspecto severo. O que pretendo sublinhar é que devemos aceitar Jesus como Ele é e não tentar enquadrá-Lo a certos pontos de vista. Ele supera todos os limites que as pessoas sempre procuram impor-Lhe.

Bem, aqui este ponto é apresentado a nós de uma forma interessante e dramática. Detivemos nosso olhar sobre Jesus na festa de casamento em Caná da Galiléia, onde, naquela ocasião festiva, transformou água em vinho. Que quadro mais feliz é este! Temos discorrido sobre como este evento nos ensina a respeito da plenitude da bênção que Ele pode dar a todo aquele que, verdadeiramente, enxerga sua necessidade, cai aos pés do Senhor, obedece a tudo quanto o Senhor lhe ordena e espera Nele. Que bem-aventurança e alegria esta passagem nos transmite!

No entanto, isto é o que lemos neste outro episódio: “Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio.” É um quadro bem diferente daquele primeiro, não é mesmo? A mesma pessoa, mas um contraste impressionante.

João Batista viu tudo isso e resumiu o que viu em uma afirmação notável. Quando as pessoas começaram a pensar que ele, João, era o Cristo, ele negou dizendo: “Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem O que é mais poderoso do que eu, do Qual não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). Encontramos estas palavras: “Espírito Santo! Fogo!” As bênçãos da plenitude, o batismo do Espírito Santo – que maravilha e glória! Porém, não se esqueça de que há também o fogo. Então, João prossegue: “A Sua pá, Ele a tem na mão, para limpar completamente a Sua eira e recolher o trigo no Seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível” (v. 17).

Infelizmente, esse é o grande equívoco dos nossos tempos. Nosso Senhor tem sido considerado apenas como o Príncipe da Paz, mas nos esquecemos de que Ele também é o Rei da Justiça. Ele exerce os dois papéis. Jesus é o perfeito Salvador da humanidade – e, repito, a essência da sabedoria está em cair a Seus pés, olhar para Sua face e ouvir o que Ele tem a nos dizer. Nunca antes a Igreja e o mundo necessitaram ouvir com tamanha atenção. Não se esqueça do mundo em que você vive. Olhe-o de forma direta e justa. Não pisque diante de nada. Não encubra nada.

E qual é a mensagem que o mundo tanto precisa ouvir? Deixe-me, primeiro, colocar o que ela não é. A mensagem do Senhor e Sua Palavra não são um pensamento emocional ou geral. Há pessoas que se deixam levar pelas emoções. Normalmente, elas só pensam no Senhor em determinadas ocasiões, quando estão apenas buscando uma vaga e emocional mensagem de conforto. Claro que Ele tem consolo a nos oferecer, mas é Seu consolo, é Sua paz. Ele afirmou: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27). O Senhor não oferece uma paz que o mundo já conhece. Sua paz é composta pelos elementos da retidão, justiça e verdade. Não é simplesmente a ausência de guerras. Tampouco é uma conversa geral e vaga sobre sacrifício e seu valor intrínseco. O sacrifício é uma atitude grandiosa, maravilhosa e nobre, mas não como o mundo a utiliza. Freqüentemente, o Evangelho é transformado em um tipo de mensagem terrena sobre sacrifício, dever e coragem. Todas estas coisas são corretas, nos seus devidos lugares, mas não devem ser elevadas a tão suprema posição. Não estamos interessados em nenhuma idéia sobre sacrifício, dever e coragem que não seja diretamente derivada dos ensinamentos do Filho de Deus.

Nem mesmo o Evangelho é uma mensagem de conselho aos estadistas e líderes mundiais. Não é a pregação do pastor, pois este não é meu negócio. A Igreja não está aqui para dizer aos estadistas o que eles devem fazer ou não. Ela possui um chamado muito maior e mais profundo, como pretendo mostrar a você. Assim, não desperdicemos o tempo expressando nossa opinião a respeito de como as coisas deveriam estar acontecendo em períodos de crises políticas, dividindo a Igreja em grupos de posições diferentes. Tampouco é função do pregador apelar aos líderes do mundo para que promovam a paz e terminem as guerras. Sempre haverá guerras e rumores de guerras. Não é isso de modo algum! O pastor deve proclamar a verdade.
Então, qual é a mensagem do Evangelho? É uma mensagem radical a proclamar a única esperança e o único caminho de salvação. É exatamente o que nosso Senhor fez quando foi a Jerusalém por ocasião da Páscoa, e é muito interessante que este episódio apareça aqui, nos capítulos iniciais do Evangelho de João, no começo do ministério de Jesus Cristo. Este é um dos mais significativos e cruciais eventos ocorridos durante a vida e o ministério do Senhor na terra.

Na purificação do templo, vemos o Senhor dando aos judeus uma advertência final. Ele lhes estava fornecendo uma indicação de que, a menos que obedecessem ao que Ele lhes veio anunciar, não haveria salvação para a nação judia. De fato, Jesus estava dizendo: “Ouçam as Minhas palavras e as coloquem em prática, ou estejam preparados para o ano 70 d.C.” A História nos mostra que, neste ano, as tropas romanas marcharam sobre Jerusalém e a saquearam, destruindo o templo e forçando os judeus a se espalharem entre as nações. Neste episódio, o Senhor está-lhes mostrando a única maneira de evitar aquela catástrofe.
Grande parte do ministério de Jesus foi devotada a essa palavra. O Senhor apresentou aos judeus essa única possibilidade, essa singular esperança, e eles a rejeitaram. Então, nada lhes restou a não ser o cumprimento da destruição que fora predita. Assim, no final de Seu ministério, Jesus olhou para a cidade de Jerusalém e disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37).

Aqui, então, está a mensagem do Senhor, que permanece inalterada para nós, hoje. Por essa razão é que desejo mostrá-la a vocês. Longe de ser uma mensagem dos líderes da Igreja aos estadistas, dizendo-lhes o que devem fazer em suas funções, ela é, primariamente, uma palavra aos cristãos e seus líderes, a fim de dizer-lhes o que eles devem fazer em sua própria esfera. Esta é a tragédia quando a Igreja tenta dizer ao mundo o que fazer e a pergunta que surge é: “A Igreja está em uma condição apropriada para agir assim?” Por isso, não deve causar surpresa o fato de o mundo não nos dar ouvidos.
A primeira ênfase da mensagem cristã reside na verdade de que a coisa mais importante na vida de uma pessoa ou nação é o relacionamento de cada um com Deus. E tudo isso é tipificado pelo templo. Afinal de contas, o templo era o maior e mais grandioso de todos os palácios e edificações em Jerusalém. Os judeus eram o povo de Deus e era naquele lugar que o povo se reunia para cultuá-Lo e para se relacionar com Ele. Aquele local era o centro da vida da nação. Eis por que nosso Senhor não somente foi ao templo, mas reagiu daquela maneira e disse o que disse, naquela ocasião.

Se você ler a história dos filhos de Israel no Antigo Testamento, descobrirá que quando tudo estava em seus devidos lugares no templo e os filhos de Israel eram leais a Deus, todos os outros aspectos da vida da nação iam bem – nas guerras, na prosperidade material, e assim por diante. Porém, a partir do instante em que havia um declínio na qualidade de culto, via de regra essa deterioração também ocorria na vida das pessoas, ou seja: tais pastores, tal povo. Este tema surge ao longo de todo o Antigo Testamento. Portanto, neste incidente nosso Senhor está, como estava, indicando que esta verdade ainda é relevante, que as leis de Deus não mudam nunca e que são a única forma de as pessoas viverem em segurança e paz.

No Antigo Testamento, há muitas frases gloriosas que expressam a mesma verdade. Aqui estão algumas delas: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18), não importa quanta riqueza possuam ou quão poderosos sejam seus armamentos. “Não havendo profecia” – isso é o que controla tudo o mais. A História mostra que é possível para uma pessoa ou nação caminhar por longo tempo na visão daqueles que vieram antes deles. A queda não ocorre de forma súbita. Sempre há um declínio gradual. Porém, uma vez que essa visão se perde, você pode esperar o que estamos colhendo hoje.

Veja outro versículo: “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (14.34). O mais importante não são as possessões, nem as riquezas ou o poder material, mas a “justiça”. E quando uma nação ou qualquer indivíduo pratica a justiça, todas as outras coisas são supridas. Nosso Senhor resumiu tudo isso em uma frase, proferida durante o Sermão do Monte: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).

Talvez, a ilustração mais notável seja a história de Eli, o sacerdote, encontrada em 1 Samuel. Eli era um bom homem, porém muito brando e indulgente. Ele permitia que seu sentimento e temperamento o guiassem, em lugar de ser guiado pela lei de Deus. Por conseguinte, seus dois filhos eram maus. No livro de 1 Samuel capítulo 2 você poderá ver como os filhos de Eli abusaram de suas funções de sacerdotes. Aquele pai idoso sentia-se débil para deter os filhos, de modo que eles prosseguiram no erro, juntando bens e privilégios para si mesmos por meio de seus santos ofícios, vivendo de maneira imoral e indigna. Observamos ali o declínio começar a cair sobre a casa de Deus e logo atingir toda a nação. O exército filisteu veio, e Israel foi fragorosamente derrotado, tendo o inimigo até mesmo levado embora a Arca da Aliança.

Esta é a mensagem típica do Antigo Testamento, e agora a encontramos no Novo. Quando as coisas não vão bem no templo, tudo o mais começa a declinar. A chave para tudo é nosso relacionamento com Deus.

Este é o princípio controlador e, inevitavelmente, surge o segundo princípio – estou apenas expondo o que encontramos aqui em João 2.13-17 –: o maior perigo que corremos é interpretar mal e abusar dos meios da graça, mediante os quais Deus fortalece nosso culto individual e nossa caminhada com Ele. Nós os usamos para alcançar nossos próprios fins e propósitos. Esta é a grande lição que os filhos de Israel colocam diante de nós, de forma dramática, aqui e mais tarde, nos acontecimentos do ano 70. O problema dos judeus é que eles sempre usavam mal o que Deus lhes dava. Como mostrado por nosso Senhor neste episódio, eles abusaram do templo. Este não foi apenas seu problema, mas a causa do trágico fim que atingiu a nação.

E eu, solenemente, sugiro que a explicação para a condição crítica de muitas nações nos dias de hoje é o abuso e mau uso do “templo”: a apropriação indébita das coisas que Deus lhes deu e a utilização desta dádiva para fins indignos e egoístas. Esta sempre é a causa de todos os problemas e, com o passar do tempo, não somente será uma atitude errada, mas insana.
Do que estou falando? Bem, com extrema freqüência em Israel, a primeira coisa que começava a dar errado quando os judeus perdiam o Espírito vivente é que eles transformavam o culto no templo em algo formal e exterior. Não existe nada mais terrível na vida de uma pessoa ou nação do que uma religião calcada no formalismo, apenas agindo de acordo com as conveniências, sem qualquer sentimento, sopro do espírito ou fé real, indo à igreja em ocasiões especiais porque é uma boa atitude. O formalismo e a ênfase no que é exterior é uma grande maldição. E não somente a história dos judeus demonstra isso, mas se você ler a história subseqüente da era cristã, encontrará exatamente a mesma coisa.

O que é extraordinário nesse incidente de João 2 é que a presença de bois, ovelhas, pombas e de cambistas, por si só, não deveria ser considerada como imprópria, mas, ao contrário, até mesmo necessária. Por ocasião destas festas, as pessoas iam a Jerusalém de muito distante e não podiam trazer os animais consigo na longa viagem. Assim, era legítimo que houvesse vendedores de bois, ovelhas e pombas. Ainda, para lá afluíam pessoas de diferentes partes do mundo que traziam diferentes moedas e era necessário que houvesse cambistas para viabilizar a troca. Não havia nada de errado com isso.

Mas eis o que estava errado: o comércio ocorria dentro do templo, e para muitas pessoas esta atividade era o único motivo para que estivessem ali. Homens estavam enriquecendo com ela. Nosso Senhor estava preocupado com o mau uso daquilo que era correto e adequado. Deus tem indicado a forma de culto para nós. Na época do Antigo Testamento, Deus instituiu os rituais exteriores do templo e o cerimonial que deveria ser obedecido. Em nossos dias, nós O cultuamos de uma forma mais interior, espiritual. Porém, o princípio permanece o mesmo, e Deus tem ordenado estas coisas.
Aqui é que está o perigo. Corremos o risco de nos apropriarmos das coisas que o próprio Deus nos tem indicado e utilizá-las para servir nossos próprios objetivos, da nossa maneira, adequando-as aos nossos interesses e conveniências. Eis contra o que o Senhor se revolta daquela majestosa e dramática maneira.

Vamos ser práticos a esse respeito. Você está realmente preocupado com a condição do mundo? Se estiver, este não é o momento para sentimentalismos, mas para ouvir o Filho de Deus e Sua mensagem. E creio que, nos dias em que vivemos, Ele está falando de uma forma mais intensa e urgente, especialmente à luz dos recentes acontecimentos mundiais. Isto é um assunto muito sério. É um indicativo de que algo profundo está em marcha, e acho que a principal causa é o uso, em causa própria, daquilo que Deus nos tem dado, especialmente em Sua Igreja e em Seu culto. O uso da igreja, como parte da vida da nação, é como um departamento de Estado, um cenário para grandes ocasiões e para cerimônias de batismos, casamentos e enterros. O cerimonial, dado por Deus, está sendo utilizado para nossos próprios fins e propósitos. Assim, por exemplo, cultos cristãos comemorativos são mantidos por homens e mulheres não-cristãos, conhecidos escarnecedores da fé cristã. O uso da Igreja desta maneira e a boa vontade desta em ser assim usada são abusos daquilo que Deus nos deu.

Isso é importante? Bem, creio que é importante por estas razões: sustenta e fortalece a razão alegada por muitas nações nominalmente ateístas. Em tais países, o Estado e a Igreja estavam ligados de tal forma que, quando o povo desejou uma mudança no Estado, a Igreja foi envolvida. Foi a associação entre a família real russa e a Igreja Ortodoxa, especialmente representada pelo diabólico Rasputin, que levou à revolução russa. O povo abominava a Igreja. As pessoas diziam que, se aquilo fosse Cristianismo, elas não o queriam. Eis a razão pela qual elas se voltaram ao comunismo ateu. Os franceses fizeram o mesmo, por ocasião da sua revolução.

Certamente, tudo isso tem muito a nos dizer. Podem os ingleses alegar inocência da acusação de terem utilizado a Igreja como parte de sua política de colonização? Hoje, este fato assume grande relevância porque as outrora colônias têm-se tornado nações independentes e, em muitas delas, estamos vendo a mesma história se repetir. Nesses países, a política colonial é identificada com o Cristianismo. A Igreja e o Estado estiveram juntos. A espada e o bispo, assim como o foram no passado, estão entrelaçados, e quando um é rejeitado, o outro sofre o mesmo tratamento. Estes assuntos são vitais e muito sérios. Se a Igreja for utilizada como parte de uma política colonialista ou como parte de uma tentativa de impor a civilização ocidental a essas nações, então, quando houver uma rebelião contra o Ocidente, a Igreja também será envolvida no conflito. Colhemos apenas o que plantamos e os resultados não devem nos surpreender.

Houve o risco, especialmente na Primeira Guerra Mundial, de usar a Igreja como um tipo de posto glorificado de recrutamento. A mensagem cristã foi transformada em apelos para heroísmo, sacrifício e coragem, em benefício dos interesses do Estado. Por isso, não deve ser motivo de espanto o fato de multidões estarem fora da Igreja. As pessoas não são tolas. Elas observam estas coisas e muitas reagiram de modo violento ao que aconteceu na Primeira Grande Guerra.

Porém, à parte de tudo isso, há muitos que utilizaram a Igreja, e ainda o fazem, simplesmente para propagar teorias e ensinamentos humanos. Alguns até mesmo defendem o comunismo em nome do Cristianismo. Eles passam adiante suas próprias filosofias, sempre pregando a política e lidando com assuntos materiais, mas usando as Escrituras, a terminologia e idéias fora de seu verdadeiro significado, sempre visando a seus próprios interesses. Além disso, com freqüência, a Igreja tem sido inocente o suficiente para permitir-se ser usada pela cultura. Muitas pessoas vão aos cultos cristãos apenas para ouvir as músicas, sem demonstrar interesse por nada mais. E a Igreja tem-se permitido ser utilizada pela música, pela arte e por outros movimentos artísticos. Outros têm usado a Igreja para servir à sua ambição pessoal, buscando uma carreira bem-sucedida e avanços mundanos. Quantas vezes se disse no passado, que nas famílias tradicionais, o filho mais velho ia servir a Marinha, o segundo, o Exército e, então, lá no fim da linhagem, o mais novo ia servir a Igreja?

Mas tudo isso é, simplesmente, apropriação indébita. Aqui nós vemos a ovelha, os bois, as pombas e os cambistas. E esta é a razão pela qual multidões estão fora da Igreja. As pessoas argumentam: “Se isto é Cristianismo, não temos interesse.”
Portanto, a história de nosso Senhor no templo é relevante, não acha? Foi Jesus quem expulsou os animais e cambistas do interior do templo. Não estou expressando aqui minhas próprias opiniões. Estamos estudando Suas reações quando foi a Jerusalém, por ocasião da Páscoa.

Assim, meu próximo princípio é que, nos dias de hoje, é de suprema necessidade que as pessoas conheçam a presença do Senhor em poder, na Igreja. Eis por que não estou pregando sobre fatos políticos. A necessidade não é para que algo aconteça no meio governamental, mas no meio da Igreja. Por que razão os estadistas a ignoram? Porque a Igreja não detém nenhum poder. Já houve tempos em que os estadistas davam ouvidos a ela. Pense em John Knox pregando a mensagem e, sentada na audiência, a rainha da Escócia ouvindo e tremendo. Esta é a ordem certa. Porém, isto somente acontece quando Cristo está presente no templo, com poder. Assim, ao olhar para o mundo e lembrar das duas guerras mundiais e toda a devastação que trouxeram, ao ver o que está acontecendo a multidões de pessoas, padecendo de dores diferentes em muitos lugares, quando percebo as sombrias possibilidades existentes, eu afirmo que a mensagem necessária é esta que surge quando Cristo entra no templo e começa a falar e a agir. E, portanto, se você e eu estamos sinceramente preocupados com a situação atual e os rumos que o mundo está tomando, nossa primeira tarefa é orar pedindo um reavivamento na Igreja. Não é dizer coisas ao mundo, mas buscar este poder que nos tornará capazes de falar ao mundo de tal maneira que as pessoas temerão ao nos ouvir.

A seguir, devemos examinar o que Ele faz quando aparece em cena. “Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém” – e as coisas começaram a acontecer. E o que descobrimos? Imediatamente, vemos a manifestação de Sua glória, de Sua autoridade, de Seu zelo e poder. Você percebeu, ao ler esta passagem, que isto é um milagre? Foi tão milagroso como a transformação da água em vinho, na festa de casamento em Caná da Galiléia. Olhe para esses homens, ricos e espertos, comercializando no interior do templo e, ainda assim, uma pessoa indefesa, somente munida com uma espécie de chicote feito de cordas, os expulsou a todos daquele lugar, com suas ovelhas e bois. Após ter feito isso, voltando-se para os homens que vendiam pombas, disse: “Tirai daqui estas cousas.” Então, Ele vira as mesas dos cambistas, e joga ao chão todo o dinheiro.

Mas como uma coisa dessas pode acontecer por meio de uma única pessoa, munida de um chicote improvisado? Há somente uma resposta possível, qual seja: é a manifestação de Sua glória, assim como na festa de casamento. Lembre-se do que lemos ao final daquela passagem: “Com este, deu Jesus princípio a Seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a Sua glória” (2.11). A palavra de Cristo tem poder. Ele é o Filho de Deus encarnado. Ele falava com autoridade, e os homens sentiam isso em seu íntimo.

Encontramos o mesmo fato acontecer em inúmeras outras passagens nas páginas dos quatro Evangelhos. Quando Jesus falava, ou mesmo olhava para homens e mulheres, eles reconheciam esse poder e autoridade, pois não conseguiam sequer fitá-Lo. Jesus é o Filho de Deus, detentor de toda a autoridade e poder. Eis por que devemos orar para que esse poder seja conhecido hoje. Foi Ele que nos constituiu e é o único que pode nos capacitar, conforme Sua promessa. Nossa maior necessidade está Nele, em Sua força, para que possamos falar com igual autoridade.

Nesse incidente, vemos Jesus agindo como sempre faz. Ele anuncia e executa julgamento. Ele vê esta situação acontecendo: “E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados”. E sente indignação. O zelo pela Casa do Pai O consome. Ele está tomado de um santo senso de justiça e, desta forma, anuncia o julgamento sobre todos.
Eu me desespero só de pensar que você não tem consciência do julgamento de Deus sobre a Igreja de nossos dias. Você não consegue ouvir isso? Não consegue sentir ou ver? Por que essa tremenda confusão? Por que pessoas comuns de todos os países vêem a Igreja como algo ridículo? Este é o julgamento de Deus. Deus está permitindo que a Igreja seja ridicularizada em virtude do abuso e mau uso dos quais todos nós somos culpados.

E o que mais? Bem, nosso Senhor institui a reforma. Ele lança fora as coisas que não pertencem ao lugar. E, repito, a maior necessidade de nossos dias é uma reforma na Igreja e sua doutrina, é lançar fora todo o traço de paganismo. Ouça as palavras do Senhor: “Tirai daqui estas cousas.” Todos os ornamentos e parafernália, todo o incenso e as tentativas de oferecer sacrifícios e ofertas queimadas, a liturgia vazia, devem ser lançados fora. Este é o exemplo dado pelo Senhor. Deve haver uma ampla reforma, abrangendo a doutrina, todas as superstições e mentiras. Tudo aquilo que torna os homens grandes e importantes, que encobrem o Senhor e Sua glória eterna, deve ser lançado fora. Foi isso o que aconteceu na Reforma Protestante e se repete em cada um dos outros períodos de reforma e reavivamento. Ele extirpa o que é falso, seja na doutrina, na prática ou no comportamento. Em suma, o que Ele faz? Ele restaura a simplicidade original.

Mais tarde, o Senhor falou algo muito similar porque as pessoas não Lhe deram atenção. Ao fim de Seu ministério, Jesus diz que os homens haviam transformado a casa do Pai em covil de salteadores (Mt 21.13). Porém, a casa do Pai deveria ser um lugar de oração! A função da Igreja é trazer homens e mulheres a Deus, mantendo-os em comunhão com Ele. A Igreja deveria ser tão repleta do poder de Deus que todas as pessoas, em certo sentido, seriam forçadas a ouvir. A partir do instante em que você simplifica sua religião, o poder aumenta. Todas as outras coisas, a falsidade doutrinária, a mentira na conduta, colocam-se entre a verdade e as multidões e precisam ser removidas. Temos de retornar àquela simplicidade que está em Cristo Jesus.
O que acontece quando se faz isso? Procure conhecer a história da Igreja, leia sobre a Reforma Protestante. O que resultou destes movimentos? Bem, entre outras coisas, levou ao período Elizabetano.

O mesmo aconteceu na época do Movimento Puritano. Você pode rir dos puritanos, se quiser, mas lembre-se de que o período correspondente ao governo de Oliver Cromwell, o período do Commonwealth – referente ao governo republicano na Inglaterra, de 1649 a 1660 –, foi um dos melhores períodos de toda a história da Inglaterra e País de Gales. Todos concordam, inclusive historiadores seculares, que a base da grandeza destes países está naquela época, quando havia uma ética moral na nação, quando homens e mulheres colocavam Deus em primeiro lugar em sua vida. Assim, toda a nação foi elevada, como está escrito: “A justiça exalta as nações” (Pv 14.34).

É correto e verdadeiro dizer-se que tudo o que era glorioso e grandioso no século 19 foi resultado direto do Despertamento Evangélico, ocorrido no século 18. Isso pode ser estabelecido historicamente. Certo historiador afirma que foi este fato, e apenas ele, que salvou o país de experimentar algo semelhante à Revolução Francesa. Outros historiadores confirmam que o movimento evangélico deu origem, não somente ao engrandecimento da nação, mas também ao esclarecimento do povo. O movimento sindicalista, por exemplo, resultou diretamente deste reavivamento. Tudo o que eleva homens e mulheres, tudo o que os faz compreender quem e o que são, que os faz lembrar de que possuem mente e os inspira a aprender e a progredir, tudo isso resulta da bênção original de ouvir o Filho de Deus e permitir que Ele lide com a Igreja e, individualmente, conosco.

Uma vez que a pessoa certa esteja no centro e que o templo esteja purificado, reformado e renovado, a mudança começa a permear toda a vida e um novo tom surge. Não havendo profecia, o povo se corrompe. Havendo profecia, o povo é bem-sucedido. Esta é a suprema necessidade de nossos dias. Precisamos recapturar a visão, voltarmo-nos a Ele, permitir que Ele atue e fale a nós, purificar e lançar fora.

Portanto, para mim, esta é a mensagem da Bíblia para este mundo. Que este Cristo volte e, novamente, com Sua autoridade enfrente os oportunistas, vire as mesas, lance fora e purifique o templo, dando-nos a conhecer, uma vez mais, em simplicidade e pureza de coração, Sua fé e o poder que, inevitavelmente, cai sobre todos aqueles que crêem e se submetem a Ele, todos os que desejam ser cheios do abençoado Espírito Santo. Ah! Que Jesus venha mais uma vez ao templo! Vamos começar a oferecer aquela oração. Tudo bem, ore pelos outros, mas esta não é a oração primordial. A principal oração não é pelos estadistas, parentes ou amigos, tampouco pelas nações. Em primeiro lugar, devemos orar para que Jesus volte ao Seu templo, que manifeste Sua glória e nos mostre um pouco de Sua autoridade e poder, enchendo-nos com este poder.

1 Este sermão foi pregado no domingo, Dia do Armistício, 1965.
2 Em novembro de 1965, a comunidade branca da antiga Rodésia do Sul, atual Zimbábue, recusou-se a aceitar as regras impostas pela maioria negra e proferiu uma declaração de independência unilateral e ilegal.

(Extraído do livro O segredo da bênção celestial, cap. 6, de Martin Lloyd-Jones, co-edição Editora Textus e Editora dos Clássicos, 2002, com permissão da Editora Textus para publicação no sítio Campos de Boaz.)

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Richard Baxter Vida cristã

Como passar o dia com Deus

“Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”.

Sono
Controle o tempo do seu sono apropriadamente, de modo que você não desperdice as preciosas horas da manhã preguiçosamente em sua cama. O tempo do seu sono deve ser determinado pela sua saúde e labor, e não pelo prazer da preguiça.

Primeiros Pensamentos
Dirijam a Deus os seus primeiros pensamentos ao acordar, elevem a Ele o coração com reverência e gratidão pelo descanso desfrutado durante a noite e confiem-se a Ele no dia que inicia.

Familiarizem-se tão consistentemente com isto, até que a consciência de vocês venha a acusá-los quando pensamentos ordinários queiram insurgir em primeiro lugar. Pensem na misericórdia de uma noite de descanso, mal acomodados, padecendo dores e enfermidades, cansados do corpo e da vida.

Pensem em quantas almas foram separadas dos seus corpos nesta noite, aterrorizadas por terem que se apresentar diante de Deus, e em quão rapidamente os dias e noites estão passando! Quão rapidamente a última noite e dia de vocês virão! Considerem no que está faltando no preparo da alma de vocês para tal momento e busquem isso sem demora.

Oração
Acostumem-se a orar sozinhos (ou com o cônjuge) antes da oração coletiva em família. Se possível, que isto seja feito antes de qualquer outra ocupação.

Culto Familiar
Realizem o culto familiar consistentemente e em uma hora em que é mais provável que a família não sofra interrupções.

Propósito Básico
Lembrem-se do propósito básico da vida de vocês, e quando estiverem se preparando para trabalhar ou realizar atividade neste mundo, que a inscrição santos para o Senhor esteja gravada no coração de vocês em tudo o que fizerem.

Não realizem nenhuma atividade que não possam considerar agradável a Deus, e que não possam verdadeiramente afirmar que Deus a aprova. Não façam nada neste mundo com nenhum outro propósito que não agradar a Deus, glorificá-lO e gozá-lO. O que quer que fizerdes, fazei tudo para a glória de Deus (1 Co.10:31).

Diligência na Vocação
Realizem as tarefas concernentes à ocupação de vocês cuidadosa e diligentemente. Assim fazendo:

1. Vocês demonstrarão que não são preguiçosos e escravos da carne (como aqueles que não podem negar-lhe o comodismo); e estarão mortificando todas as paixões e desejos que são alimentados pelo comodismo e preguiça.

2. Vocês estarão mantendo fora da mente os pensamentos indignos que fervilham nas mentes de pessoas desocupadas.

3. Vocês não estarão desperdiçando tempo precioso, algo do que pessoas desocupadas se tornam diariamente culpadas.

4. Vocês estarão num caminho de obediência a Deus, enquanto que os preguiçosos estão em constante pecado de omissão.

5. Vocês poderão dispor de mais tempo para empregar em deveres santos se realizarem suas tarefas com diligência. Pessoas desocupadas não têm tempo para os deveres espirituais, porque desperdiçam tempo demorando-se em seus trabalhos.

6. Vocês poderão esperar bênçãos da parte de Deus e provisões confortáveis para vocês e para as suas famílias.

7. Isto também pode exercitar o corpo de vocês, o que poderá habilitá-los mais para o serviço da alma.

Tentações e Coisas que Corrompem
Estejam perfeitamente familiarizados com as tentações e coisas que tendem a corromper você, e sejam vigilantes o dia todo contra isso. Vocês devem estar alertas especialmente para as tentações que têm se mostrado mais perigosas e cuja presença ou emprego sejam inevitáveis.

Estejam alertas contra os pecados mestres da incredulidade: a hipocrisia, a auto-suficiência, o orgulho, o agradar a carne e o prazer excessivo nas coisas terrenas. Tenham cuidado para não se deixarem atrair para uma mente mundana, e para os cuidados excessivos , ou desejos cobiçosos pela abastança, sob a pretensão de serem diligentes no trabalho de vocês.

Se tiverem que negociar com outras pessoas, tenham cuidado contra o egoísmo ou qualquer coisa que se assemelhe à injustiça ou falta de caridade. Ao lidar com as pessoas, estejam alertas para não usarem de palavras vãs e desocupadas.

Sejam vigilantes também com relação às pessoas que tentam vocês à ira (ou a qualquer tipo de pecado). Mantenham a modéstia e a clareza, no falar, que as leis da pureza requerem. Se tiverem que conviver com bajuladores, sejam vigilantes para não se deixarem inchar de orgulho.

Se tiverem de conviver com pessoas que desprezam ou injuriem vocês, resistam contra a impaciência e o orgulho vingativo.

No início estas coisas serão muito difíceis, enquanto o pecado for forte em vocês. Mas tão logo tiverem adquirido profunda compreensão do perigoso veneno de qualquer destes pecados, o coração de vocês irá pronta e facilmente evitá-los.

Meditação
Quando estiverem sozinhos nas ocupações de vocês, aprendam a remir o tempo em meditações práticas e benéficas. Meditem na infinita bondade e perfeições de Deus, em Cristo e na obra da redenção, nos céus e em quão indignos são de irem para lá e em como vocês merecem a miséria eterna do inferno.

Remindo o Tempo
Valorizem o tempo de vocês. Sejam mais cuidadosos em não desperdiçá-lo do que o são em não desperdiçar dinheiro. Não permitam que recreações inúteis, conversas vãs e companhias não proveitosas, ou o sono roubem o preciosos tempo de vocês.

Sejam mais cuidadosos em escapar das pessoas, ações ou situações da vida que tendem a roubar o tempo de vocês do que o seriam em escapar de ladrões ou salteadores.

Certifiquem-se não apenas de não estarem sendo desocupados, mas de estarem usado o tempo de vocês da maneira mais proveitosa possível. Não prefiram um caminho menos proveitosos à um outro de maior proveito.

Comer e Beber
Comam e bebam com moderação e gratidão, para serem saudáveis e não por prazer inútil. Jamais satisfaçam o apetite pela comida ou bebida quando isto tender a fazer mal à saúde de vocês.

Lembrem-se do pecado de Sodoma: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade, teve ela e suas filhas…” (Ez.16:49).

O apóstolo Paulo chorou quando mencionou aqueles: “cujo destino é a destruição, cujo deus é o ventre, e cuja glória está na infâmia; visto que só se preocupam com as coisas terrenas” (Fp.3:19). Estes são chamados de inimigos da cruz de Cristo (v.18). “Porque se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Rm.8:13).

Pecados Prevalecentes (queda em pecado)
Se qualquer tentação prevalecer, e vocês vierem a cair em qualquer pecado adicional às deficiências habituais de vocês, lamentem imediatamente e confessem isto a Deus. Arrependam-se rapidamente, custe o que custar. Certamente custará mais ainda continuar no pecado e sem arrependimento.

Não façam pouco caso das falhas habituais de vocês, mas confessem-nas e esforcem-se diariamente contra elas, tendo cuidado para não agravá-las pela falta de arrependimento e pelo descaso.

Relacionamentos
Atentem diariamente para os deveres especiais relativos aos vários relacionamentos de vocês, seja na condição de maridos, esposas, filhos, patrões, empregados, pastores cidadãos ou autoridades.

Lembrem-se que cada relação tem seus deveres especiais e seus proveitos da realização de algum bem. Deus requer de vocês fidelidade nestes relacionamentos, bem como em quaisquer outros deveres.

Ao Final do Dia
Antes de dormir, é sábio e necessário relembrar as nossas atitudes e misericórdias recebidas durante o dia que termina, de maneira que sejam agradecidos por todas as misericórdias recebidas e humilhados por todos os pecados cometidos.

Isto é necessário a fim de que vocês possam renovar o arrependimento bem como ser mais resolutos na obediência, e a fim de que examinem a si mesmos, para ver se a alma de vocês progrediu ou piorou, para ver se o pecado foi diminuído e a graça aumentada; e para avaliar se vocês estão mais preparados para o sofrimento, para a morte e para e eternidade.

Conclusão
Que estas instruções sejam gravadas na mente de vocês e se tornem prática diária na sua vida.

Se vocês observarem sinceramente estas instruções, elas conduzirão vocês à santidade, à frutificação, à tranqüilidade na vida, e ainda acrescentarão a vocês uma morte confortável e em paz.


Nota sobre o Autor: O Rev. Richard Baxter foi um conhecido pastor reformado, o qual viveu na Inglaterra durante o século XVII (1615 – 1691). Era um não-conformista, que tentou reformar a Igreja da Inglaterra, sendo muitas vezes preso por isso. Dentre os seus livros mais importantes estão: O Pastor Reformado (PES), O Descanso Eterno dos Santos, A Vida Divina, Um Tratado sobre a Conversão, Um Apelo ao não Convertido, Agora ou Nunca, Convite para Viver (PES) e muitos outros clássicos evangélicos.

Os escritos, a pregação e a vida de Baxter produziram um inegável reavivamento espiritual na cidade de Kdderminster, onde realizou o seu ministério. Quando ele chegou na cidade, eram poucos os crentes e duvidosas as suas conversões. Algum tempo depois , entretanto, o templo de sua igreja teve que ser aumentado – ainda assim não comportava mais as pessoas, que escalavam as janelas para ouvir suas pregações; muitas ruas da cidade tiveram todos os seus moradores convertidos; podia-se ouvir centenas de pessoas cantando hinos de louvor a Deus em plena rua; e as conversões davam provas suficientes de serem sinceras e profundas.

Tradução: Pastor Paulo Anglada

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Evangelho Vida cristã

A cessação da ofensa da cruz (Thomas Scott)

[Nota de David Cloud: A seguinte advertência feita por Thomas Scott foi escrita há mais de 200 anos, mas perfeitamente descreve o cristianismo contemporâneo do século 21. É uma severa advertência aos Roberts Schuller, aos Ricks Warren, aos Michaels W. Smith, e às Darlenes Zschech deste dias, tanto quanto aos seus seguidores.]
A CESSAÇÃO DA OFENSA DA CRUZ

Deixe de fora o caráter santo de Deus, a excelência santa de Sua lei, a santa condenação a que os transgressores estão condenados, a amorosa santidade do caráter do Salvador, a doutrina, a temperança e a conduta santa que todos os verdadeiros crentes devem ter. Depois, vista-se de um esquema [um mix] de religião deste ímpio tipo:
– Represente a humanidade como em uma condição lamentável e digna de piedade, muito mais por causa de infortúnio do que por causa do [seu próprio] crime;
– Fale muito a respeito do amor e do sangue derramado de Cristo, de Suas agonias no jardim e na cruz sem apresentar a necessidade ou a natureza da expiação necessária por causa do [nosso] pecado;
– Fale de Sua glória atual, e de Sua compaixão para com os pobres pecadores; da liberdade com que se deve dispensar perdão; dos privilégios que os crentes gozam aqui, e da felicidade e glória reservadas para eles daqui por diante;
– Não obstrua isto com nada que fale sobre a [necessidade de] regeneração e santificação; ou [se tiver de falar sobre santidade] represente santidade como qualquer coisa outra que não a [perfeita] conformidade aos santos caráter e lei de Deus;
– E fabrique um evangelho que causa boa impressão, calculado para tornar o orgulhoso bem humorado, para suavizar as consciências, arregimentar os corações, e erguer as afeições dos homens naturais, que não amam ninguém a não ser eles mesmos.

E agora não se maravilhe se este evangelho (que não tem nada de afrontador, ofensivo, ou desagradável, mas está servindo perfeitamente ao não humilhado pecador carnal, e lhe ajuda a silenciar sua consciência, o livra de seus medos, e incentiva suas esperanças) não incorrer em nenhuma oposição entre as pessoas ignorantes, que não inquirem a respeito da razão das coisas. Encontrem-se com uma forte [e mútuo] boas-vindas, e façam-se grandes números de supostos convertidos, que vivem e morrem tão completamente cheios de alegria e de confiança quanto podem abraçar, sem nenhum medo ou conflito…

Que surpresa e espanto haverá se, quando toda a parte ofensiva for deixada de lado, então tal evangelho não causar nenhuma ofensa? Que surpresa e espanto haverá se, quando o evangelho for adequado às mentes carnais, então estas mentes carnais se apaixonarem por este evangelho? Que surpresa e espanto haverá se, quando tal evangelho for evidentemente calculado para encher as mentes não-redimidas com as falsas confiança e alegria, ele tiver efeito? Que surpresa e espanto haverá se, quando o verdadeiro caráter de Deus for desconhecido, e um caráter falso Dele for moldado pela [galopante] imaginação — um Deus todo amor e sem nenhuma justiça, muito afeiçoado a tais crentes, como seu favoritos –, eles tiverem afeições muito calorosas para com Ele?

[Sei que este escrito ofenderá alguns, mas] Eu não ofenderia a ninguém se não fosse necessário. Seja este problema ponderado de acordo com sua importância. Seja a palavra de Deus examinada imparcialmente. Eu não posso evitar meus medos de que Satanás propagou muita desta falsa religião, entre muitas classes extensamente diferentes de professores religiosos; e isto brilha tão claramente nos olhos de multidões que pensam que “tudo que brilha é ouro”, que, a menos que a fraude seja detectada, parece muito provável que ela será a religião que prevalecerá em muitos lugares.

(Thomas Scott, Letters and Papers, editados por John Stott (Londres: Seeley, 1824, pp. 441-444)

Traduzido por Miguel Ângelo, 2005.

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Citações Vida cristã

O deus entretenimento (A. W. Tozer)


Durante séculos a igreja manteve-se firme contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o como um dispositivo para se perder tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um plano para desviar a atenção de contas quanto à moral. Por manter sua posição, ela sofre abusos por parte dos filhos deste mundo. Ultimamente, entretanto, ela se cansou de ser abusada e simplesmente desistiu da luta. Parece ter firmado a posição de que, se não pode vencer o deus do entretenimento, o melhor que pode fazer é unir as suas forças às dele e aproveitar o máximo de seus poderes.

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Vida cristã

Alimentando nossa fé em Deus (G. D. Watson)

“Pois a vossa fé cresce sobremaneira” (2 Ts 1.3)

A fé é a condição de toda a vida espiritual, tanto para entrarmos como para dar os passos necessários para avançar nela. Convém-nos, portanto, fazer tudo para dar-lhe toda nutrição e cuidado possíveis. A fé, quando fortalecida e alimentada, certamente crescerá. Contudo, a forma como cresce e as condições para isso podem ser exatamente opostas ao nosso modo de pensar.

Normalmente, supomos que a fé é fortalecida por receber grande encorajamento, como quando obtemos respostas rápidas e abundantes às orações, experimentamos elevados graus de alegria ou recebemos profundas visões das coisas celestiais. Na realidade, essas coisas não fortalecem nossa fé tanto quanto imaginamos. Nossa fé deve ser alimentada pelas promessas de Deus, contidas na sua Palavra escrita.

Quando Deus primeiro chamou Abraão, ele inundou sua alma com uma porção de promessas. Falou com ele dos céus estrelados, do solo de Canaã por onde andava, pelas visitas de anjos e pelo Espírito Santo nas profundezas do seu ser. Abraão viu grandes coisas, possibilidades tremendas para si mesmo e para sua posteridade. Sua alma bebeu essas promessas até que sua fé se tornou ampla e poderosa, e isso antes que uma sequer delas se cumprisse.

Deus trata com as pessoas hoje de forma semelhante. Quando chama alguém para um nível mais alto de perfeição ou serviço, ele começa abrindo as promessas da sua Palavra e as possibilidades que podem ser alcançadas, antes mesmo que haja qualquer sinal exterior do seu cumprimento. O coração que se firma nas promessas de Deus até que elas se tornem tão reais quanto o próprio Deus – esse terá, de fato, uma grande fé.

Uma outra fonte de nutrição para a fé é a remoção de apoios naturais e humanos. Naturalmente, apoiamo-nos em muitas coisas na natureza, na sociedade, na igreja e nos amigos, muito mais do que temos consciência. Achamos que nos apoiamos somente em Deus e nem imaginamos o quanto dependemos de outras coisas – até que as perdemos. Se não fossem removidas, continuaríamos enganando a nós mesmos, pensando que dependemos de Deus em tudo. Mas Deus pretende concentrar nossa fé somente nele, através de remover todas as outras bases, desligando-nos dos nossos outros suportes, um após o outro.

Muitas pessoas não conseguem suportar essa total demolição de apoios secundários. É mais do seriam capazes de agüentar. Reagiriam com rebelião ou amargura e, por isso, Deus permite que tenham uma fé imatura e que ainda dependam, em alguma medida, de outras coisas.

Porém, para aqueles que têm capacidade de suportar o desgaste e a tensão da fé, ele permite toda sorte de desapontamentos: a morte de grandes esperanças, a perda de amizades terrenas ou a destruição de propriedades e bens, enfermidades e fraquezas diversas no corpo ou na mente, desentendimentos com familiares e amigos. Isso acontece ao ponto da paisagem espiritual se assemelhar a um deserto ou a uma região varrida por furacões, compelindo a pessoa a se refugiar somente em Deus.

Enquanto esses apoios secundários estão sendo removidos, a pessoa não percebe o que está acontecendo no seu interior. Só depois é que descobrirá que a fé cresceu e se expandiu com cada onda que se lançou contra ela. A fé cresce quando menos esperamos. Tempestades e dificuldades, tentações e conflitos, são seu campo de operação. Como o petrel (ave oceânica semelhante ao albatroz), a fé possui um gozo sobrenatural no furor da tempestade e no estrondo das ondas.

A fé não só é alimentada pela remoção dos apoios terrenos, mas também pela retirada aparente da consolação divina. A resposta à nossa oração parece demorar demais e a fé é testada até o último ponto. Parece que o Senhor se virou contra nós e tudo que podemos fazer é continuar nos agarrando com o grito envergonhado de “Senhor, ajuda-me!”

Mesmo aí a fé está se expandindo e crescendo além do que podemos imaginar, pela própria extensão da demora em chegar a resposta. Quanto mais o Senhor demorava em atender à oração da mulher siro-fenícia, mais a sua fé foi purificada, mais se intensificou. Grandes demoras servem para purificar nossa fé até que tudo que é inconstante, efêmero e impulsivo seja expurgado, nada deixando além da própria fé.

Fé Acende Fé

Outra forma de alimentar a fé é aprender sobre a fé de outras pessoas e meditar sobre isso. Leia as biografias daqueles que foram severamente provados e que creram em Deus apesar de todas as circunstâncias contrárias. Fé acende fé. Compreender como Deus lidou com outras pessoas capacita-nos a interpretar os tratamentos dele em nossa vida. Nossa fé é inspirada mais ao sabermos das provações dos santos na Bíblia do que por ouvir sobre acontecimentos mais fácies e agradáveis.

Ainda outro meio de fortalecer a fé é a estratégia de Deus na qual ele constantemente troca os canais que trazem sua bênção providencial para nós. Quando a provisão de Deus vem da mesma maneira durante um certo período de tempo, inconscientemente fixamos nossa confiança no canal mais do que na fonte invisível.

Quando Deus dava água para o povo de Israel no deserto, às vezes vinha da rocha, outras vezes de um poço cavado na areia seca (ver Nm 21.16-18). Quando Deus nos envia refrigério espiritual, ele geralmente muda as circunstâncias ou canais de tempos em tempos. O mesmo ocorre com sua provisão material. Ele não quer que nos prendamos a qualquer meio ou fenômeno em particular. Nossa fé precisa ser ligada a ele mesmo e não ao seu modo de fazer as coisas. Por essa razão, ele muitas vezes desapontará as nossas expectativas baseadas em provisões anteriores e revelará seu favor de maneiras novas, usando canais diferentes e surpreendendo-nos com sua grande e criativa sabedoria.

Dessa forma, nossa fé vai se fortalecendo com os desapontamentos visando chegar a tal nível de união com Deus que não olhará mais para pessoas ou coisas ou meios ou canais anteriores ou circunstâncias ou determinadas atitudes mentais ou reuniões ou conjuntos de sentimentos ou momentos ou épocas especiais. Uma fé fortalecida se mantém desprendida de tudo isso e depende somente de Deus. Este nível de fé jamais poderá ser desapontado ou abalado, pois não espera nada a não ser aquilo que Deus deseja, e não procura nenhum meio especial a não ser a infinita sabedoria divina. Sua expectativa está somente em Deus.

Empecilhos à Fé

A incredulidade do coração humano surpreendia e chocava Jesus a todo momento. Feria sua natureza sensível constantemente.

Um empecilho à fé é olhar para as circunstâncias e não para as promessas imutáveis de Jesus. Quando Pedro andou sobre a água e, de repente, começou a afundar-se, Jesus disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (Mt 14.31). Pedro podia fixar sua atenção em uma de duas alternativas. Uma era a ordem “Vem”, dita pelo Salvador. A outra era as ondas do mar.

Pedro não era uma pessoa sem fé, pois foi ele mesmo que pediu ao Senhor para chamá-lo a andar na água. Ele tinha uma inclinação interior para sair e andar em direção a Jesus, mas desejava a autoridade da palavra do Mestre como uma tábua sob seus pés, autorizando-o a fazê-lo. Aquele sublime toque interior, que fora gerado por Deus, não perdeu sua força até que seus olhos foram desviados para se impressionarem com o perigo das ondas.

Aqui está o conflito que ocorre em cada vida: escolher entre o toque do Espírito no interior para confiar em Deus sem reservas e a influência dos sentidos que contemplam a instabilidade das coisas exteriores. É uma batalha entre a verdade invisível e a sombra visível, a estabilidade da rocha e o movimento do mar. A aparência das ondas e o significado da palavra “vem” estavam diretamente em contradição um ao outro, na percepção da razão humana.

Durante todos os séculos, as ondas nunca deixaram de afogar, porém, por outro lado, a palavra de Deus nunca deixou ninguém na mão. Aqui estavam duas forças invariáveis que se opunham uma à outra. A única pergunta era: qual das duas era mais forte? Qual lei teria a preeminência – a da gravidade natural ou a da palavra de Deus? A palavra “vem” nos lábios de Jesus tinha mais autoridade do que toda a imensidão das ondas e do mar, pois foi o poder da simples palavra em sua boca que colocou todos os oceanos em movimento. A água tinha a aparência de poder, mas na palavra de Jesus estava o verdadeiro poder.

Grande parte da nossa vida é ilustrada por esse incidente. Vivemos num mar em movimento. Vez após vez, enfrentamos a alternativa de confiar na aparência das coisas ou na verdade invisível de Deus. Se ouvirmos o assobio dos fortes ventos, a voz onipotente de Jesus ensurdecerá. Se olharmos às cristas embranquecidas das ondas gigantes, não conseguiremos ver as mãos estendidas de Jesus. Cada um precisa chegar individualmente a uma decisão firme e irreversível sobre o que é realidade, a onda ou a palavra, e se ligar à verdade imutável.

Outro empecilho à fé é receber honra dos homens. Jesus pergunta a cada um de nós: “Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros, e contudo não procurais a glória que vem do Deus único?” (Jo 5.44). Não é uma questão de buscar honra, mas de recebê-la, isto é, abrindo o coração para receber elogios, lisonjas ou fama humanos. Isso se opõe totalmente ao repouso da alma em Deus.

Receber honra dos homens é uma grande virtude aos olhos do mundo, mas esse é um exemplo em que aquilo que é altamente valorizado pelos homens é uma abominação ao Senhor (Lc 16.15). Pode não ser muito evidente, à primeira vista, que receber honra do mundo impede verdadeira fé em Deus. Um pouco de reflexão, porém, nos mostrará que receber honra dos homens é uma forma insidiosa, sutil e maligna de idolatria. Contém um elemento de temor ao homem e, também, de culto ao homem. É uma forma traiçoeira de colocar o “eu” no lugar de Deus. Implica que nossa principal felicidade vem do homem. Isto é ignorar a verdadeira fonte da alegria e tentar cavar cisternas rotas (Jr 2.13).

Essa consideração do homem, esse temor ou bajulação do homem, esse apego à posição e à preeminência, cortam nossa dependência de Cristo, desviam nossa confiança para outro objeto e destroem a verdadeira fé.

Outro empecilho à fé é o baixo nível de fé daqueles que estão ao nosso redor, especialmente daqueles que ocupam posições de grande destaque na igreja visível. Nos dias de Jesus, perguntaram: “Porventura creu nele algum dentre as autoridades, ou algum dos fariseus?” (Jo 7.48).

A grande massa de cristãos nominais hoje se encontra num estado tão imaturo de graça que jamais teria a coragem ou a independência de se arriscar sozinha e confiar ousadamente em Deus a despeito da frieza e indiferença daqueles que estão em posição de autoridade espiritual. Como é comum, em todas as épocas, as pessoas encarregadas de dirigir os assuntos da igreja, a sua instrução e economia, carecerem de fé viva e ativa em Deus!

Fé acende fé. Santidade fervorosa inspira outros a buscarem a mesma coisa. Santos se multiplicam em grandes avivamentos. No mundo, grandes autores surgem em bandos. O mesmo ocorre com inventores. Na história da igreja, houve épocas quando santos apareciam em constelações. Precisamos ser despertados por grandes pessoas de fé, mas tomemos cuidado para não nivelar nossa confiança ao grau inferior da multidão de crentes vacilantes e cépticos ao nosso redor.

Talvez o maior impedimento à fé seja a falta de consagração pessoal a Deus. Aprendemos no capítulo 12 de Hebreus que, para olhar firmemente para Jesus, o “Autor e Consumador da fé”, devemos desembaraçar-nos de “todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia”. Enquanto houver falhas na nossa consagração, haverá falhas correspondentes na nossa fé.

Podemos confiar em Deus somente na proporção em que somos entregues a ele. Seu risco no banco é limitado ao valor do seu depósito. Consagração nos posiciona numa base de confiança. Consagração é cortar as cordas que nos prendem à terra, enquanto fé é nos lançar no mar. A verdadeira pergunta não é por que confiar tudo a Deus, mas por que duvidar dele em qualquer coisa que seja.

Suas promessas já foram quebradas? Ele já nos desapontou ou nos enganou? É verdade, ele muitas vezes prova nossa fé, mas no último momento, na pior extremidade, sua infinita misericórdia e provisão sempre chegaram. O final de muitos salmos na vida tem sido: “Bem-aventurados são todos os que colocam sua confiança nele!”

Extraído do jornal Arauto da Sua Vinda – Ano 22 nº 06 (Nov/Dez 2004)

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Vida cristã

Sete testes da autenticidade cristã (Délcio Meireles)

O Evangelho Segundo João foi escrito “ para que creiais que Jesus Cristo é o Filho de Deus e para que crendo tenhais vida em Seu Nome ” (Jo 20:31). A primeira carta entretanto trata de comunhão: “Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos para que vós também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo” (I Jo 1:3). Se lermos esta carta com atenção veremos que João mencionou uma serie de “setes” muito importantes: sete razoes porque a epistola foi escrita, sete evidências dos que nasceram de novo e sete testes da realidade da vida cristã. Dessa vez vamos nos concentrar nos sete testes da realidade cristã. Os sete versículos que iremos estudas nos permitirão fazer um teste da realidade da nossa vida espiritual. João é muito direto ao tratar com as questões da vida cristã. Apesar de ser o apóstolo do amor, ou, o discípulo a quem Jesus amava, ele não trata o nosso testemunho de vida de forma leviana. Portanto, leiamos os sete testes por ele apresentados com oração e submissão ao Espírito Santo de Deus.

1) Falsa Comunhão
“Se dissermos que mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos” (I Jo 1:6). O cristão que mantém comunhão com Deus não pode andar nas trevas, porque Deus é Luz e nEle não há trevas nenhuma (1:5). Se temos comunhão com Deus vivemos uma vida de céu aberto. Comunhão com Deus inclui uma vida de oração, leitura e estudo da Palavra, leitura de bons livros, confissão de pecados, consagração, vigilância diária, etc. Quantos cristãos chamam a Jesus de Senhor mas seus corações estão longe dEle. João diz que aquele que vive assim é mentiroso. Nesse primeiro teste o crente manifesta uma Falsa Comunhão com Deus.

2) Falsa Santidade
“Se dissermos que não temos pecado, a nós mesmos nos enganamos e a verdade não está em nós” (I Jo 1:8). João está dizendo que o cristão que afirma não haver nele uma natureza caída (pecado) engana a si mesmo e nele não está a verdade. É verdade que nascemos de novo e somos novas criaturas, mas a “carne” continua dentro de nós: “a carne luta contra o Espírito” (Gl 5:17). Nosso “velho homem” foi crucificado, mas isso não significa que ele não possa mais se manifestar na vida do salvo. Devemos nos lembrar que o potencial para cometermos qualquer tipo de pecado permanece conosco. Se deixarmos de vigiar e de depender do Espírito Santo, a velha natureza se manifestará. Nesse segundo teste o crente manifesta uma Falsa Santidade.

3) Falsa Justiça
“Se dissermos que não temos cometido pecado nenhum, fazêmo-Lo mentiroso e Sua Palavra não está em nós” (I Jo 1:10). Essa declaração é diferente da anterior, pois nos fala do fruto e não da árvore. No versículo 8 é a natureza caída e no versículo 10 são os seus frutos (ver o estudo pecado e pecados). Aqui se trata de negar a realidade dos atos pecaminosos em nossa vida. Ninguém pode dizer que não comete nenhum ato pecaminoso. Isso todavia, não significa que devemos aceitar essa situação passivamente, pois João logo vai dizer que ele escreveu estas coisas “para que não pequeis” (2:1). Este deve ser o nosso desejo e o nosso alvo, mas quanto mais nos conhecemos mais somos convencidos das nossas fraquezas. Neste teste o crente manifesta uma Falsa Justiça.

4) Falsa Lealdade
“Aquele que diz que O conhece e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso” (I Jo 2:4). Podemos conhecer a Deus de ouvir e também de ver. Jó confessou que conhecia o Senhor de ouvir (Jó 42:5) e depois chegou a vê-Lo. Muitos crentes professam conhecer ao Senhor, mas não guardam os Seus mandamentos. Quantas coisas fazemos que desagradam ao Senhor e mesmo assim continuamos praticando-as. John Hyde, o homem que orava, acordava de madrugada para ler a Bíblia e procurar mandamentos do Senhor com o fim de obedecer-lhos. Nosso coração é assim para com Ele? Aquele que guarda a Palavra o amor de Deus está nele aperfeiçoado (2:5). Nesse teste o crente manifesta uma falsa Lealdade ao Senhor.

5) Falso Comportamento
“Aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar como Ele andou” (I Jo 2:6). A palavra “andar” no Novo Testamento geralmente traz a idéia de “conduta, comportamento.” João está ensinando que o crente deve “permanecer” em Cristo, isto é, habitar, fazer morada nEle. Cristo é o nosso Lar. Todo aquele que declara estar “habitando” em Cristo, deve andar como Ele andou. Lucas registrou em Atos que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder; o qual andou por toda a parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (10:38). Se o cristão não anda como Jesus andou, isso significa que ele não está fazendo sua morada nEle. Nesse teste o crente manifesta um Falso Comportamento.

6) Falsa Espiritualidade
“Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas” (I Jo 2:9). Estar na luz aqui significa viver uma vida de comunhão com o Senhor. Viver uma vida de comunhão significa ser uma pessoa espiritual. Todavia, o cristão que declara estar na luz e mesmo assim odeia a seu irmão, até agora está nas trevas. É deveras impressionante como certos crentes têm coragem de testemunhar que estão na luz e ainda demonstrar sentimentos e atitudes erradas com outros irmãos. Quantos filhos de Deus desprezam outros irmãos e ainda têm coragem de participar da Mesa do Senhor e do serviço cristão. Se nosso coração está errado, devemos deixar tudo de lado e procurar acertar com o nosso irmão. Caso contrário, estaremos edificando, sim, edificando, mas com madeira, feno e palha. Tudo será consumido pelo fogo do Tribunal de Cristo. Nesse teste o crente manifesta uma Falsa Espiritualidade.

7) Falso Amor de Deus
“Se alguém disser: Amo a Deus e odiar a seu irmão, é mentiroso” (I Jo 4:20). João continua lembrando a questão de odiar a um irmão. O ponto em questão se relaciona com o nosso amor a Deus. Como posso declarar que amo a Deus se odeio a meu irmão? João continua dizendo: “Pois quem não ama a seu irmão ao qual viu, não pode amar a Deus a Quem não viu” (4:20). Portanto, amado irmão, cuidado quando você declara em alta voz nas reuniões da igreja, o seu grande amor pelo Senhor. Se você não ama a seu irmão que está do seu lado, como será possível amar a Deus a Quem você não vê? João repetidas vezes mencionou a palavra mentiroso, e aqui ele a usa mais uma vez. Podemos dizer mentiras com os lábios, mas quão freqüentemente mentimos com nossas ações no tocante a amar nossos irmãos. Nesse teste o cristão manifesta um Falso Amor.

“Sonda-me, ó Deus” (Sl 139:23)
O salmista Davi fez esta oração: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me, e conhece os meus pensamentos.” Não tente examinar a você mesmo, pois seu coração é enganoso e corrupto. Peça ao Senhor para sondar a sua vida e revelar como Ele mesmo te vê. Só assim seremos livrados da falsa comunhão, da falsa santidade, da falsa justiça, da falsa lealdade, do falso comportamento, da falsa espiritualidade e do falso amor a Deus, Quantos filhos de Deus podem estar vivendo como a igreja em Laodicéia, que pensava ser rica, abastada e sem falta de coisa alguma. Mas o Senhor trouxe a sua luz e declarou que ela era miserável, pobre, cega e nua. Que o Senhor possa nos livrar do perigo de passarmos a acreditar nos tipos de falsidade que vimos neste estudo. Que Ele tenha misericórdia de nós!

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Chamado do alto

Se Deus tem chamado você para que seja verdadeiramente como Jesus com todas as forças de seu espírito, Ele estimulará você para que leve uma vida de crucificação e humildade, e exigirá tal obediência que você não poderá imitar aos demais cristãos, pois Ele não permitirá que você faça o mesmo que fazem os outros, em muitos aspectos.

Outros, que aparentemente são muito religiosos e fervorosos, podem ter a si mesmos em alta estima, podem buscar influência e ressaltar a realização de seus planos; você, porém, não deve fazer nada disso, pois se tentar fazê-lo, fracassará de tal modo e merecerá tal reprovação por parte do Senhor, que você se converterá em um penitente lastimável.

Outros poderão fazer alarde do seu trabalho, de seus êxitos, de seus escritos, mas o Espírito Santo não permitirá a você nenhuma dessas coisas. Se você começar a proceder dessa forma, Ele o consumirá em uma mortificação tão profunda que você depreciará a si mesmo tanto quanto a todas as suas obras.

A outros será permitido conseguir grandes somas de dinheiro e dar-se a luxos supérfluos, porém Deus só proporcionará a você o sustento diário, poque quer que você tenha algo muito mais valioso que o outro: uma absoluta dependência dEle e de Seu invisível tesouro.

O Senhor perimitirá que os demais recebam honras e se destaquem, enquanto mantém você oculto na sombra, porque Ele quer produzir um fruto seleto e fragrante para Sua glória vindoura, e isso só pode ser produzindo na sombra.

Deus pode permitir que os demais sejam grandes, mas você deve continuar sendo pequeno; Deus permitirá que os outros trabalhem para Ele e ganhem fama, porém fará com que você trabalhe e se desgaste sem que saiba sequer quanto está fazendo. Depois, para que seu trabalho seja ainda mais valioso, permitirá que outros recebam o crédito pelo que você faz, com o fim de lhe ensinar a mensagem da cruz: a humildade e algo do que significa participar da Sua natureza. O Espírito Santo manterá sobre você uma estrita vigilância e, com zeloso amor, lhe reprovará por suas palavras, ou por seus sentimentos indiferentes, ou por malgastar seu tempo, coisas estas que parecem não preocupar aos demais cristãos.

Por isso, habitue-se à idéia de que Deus é um soberano absoluto que tem o direito de fazer o que Lhe apraz com os que Lhe pertencem, e que não pode explicar-lhe a infinidade de coisas que poderiam confundir sua mente pelo modo como Ele procede com você. Deus lhe tornará a palavra; e se você se vende para ser Seu escravo sem reservas, Ele o envolverá em um amor zeloso que permitirá que outros façam muitas coisas que a você não são permitidas. Saiba-o de uma vez por todas: você tem de se entender diretamente com o Espírito Santo acerca dessas coisas, e Ele terá o privilégio de atar sua língua, ou de colocar algemas em suas mãos ou de fechar seus olhos para aquilo que é permitido aos demais. Entretanto, você conhecerá o segredo do reino. Quando estiver possuído pelo Deus vivo de tal maneira que se sinta feliz e contente no íntimo de seu coração com essa peculiar, pessoal, privada e zelosa tutoria e com esse governo do Espírito Santo sobre sua vida, então, haverá encontrado a entrada dos céus, o chamado do alto, de Deus.

(Traduzido do espanhol de um folheto encontrado na Colômbia, sem qualquer outra informação a não ser esta: Autor Conhecido Somente por Deus. Extraído do livro O Homem que Deus Usa, Editora dos Clássicos)

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A velha e a nova cruz (A. W. Tozer)

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.

Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.

A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.

A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.

A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: “Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo”; e declara ao egoísta: “Venha e vanglorie-se no Senhor”. Para o que busca emoções, chama: “Venha e goze da emoção da fraternidade cristã”. A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.

A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.

A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.

A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.

O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.

Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.

Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.

O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.

Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.

Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.

Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.

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Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pp. 151-3.

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O que sai da boca (Watchman Nee)


“O que guarda a sua boca preserva a sua vida” (Pv 13:3); “Um a língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito” (Pv 15:4)
“Do que há em abundancia no coração, disso fala a boca”; “Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e por suas palavras serás condenado”. (Mt 12:34, 36 e 37)

Se um balde contendo água tiver um buraco, toda a água escapará. Não se trata de haver água ou não, mas sim se existe vazamento. Alguns irmãos e irmãs mostram que buscam realmente ao Senhor no conhecimento da Cruz. Às vezes eles desejam carregar a Cruz com sinceridade. Tudo indica que eles deveriam estar cheios de vida (espiritual). O estranho é que nessas pessoas que buscam, admiram e até mesmo tomam a Cruz, não podemos tocar na vida. Pelo contrário, a gente toca na morte. Qual é a razão para tal situação? A resposta é uma só: a vida que receberam, vazou toda.

Palavras Vãs Vazam a Vida
O que guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os lábios traz sobre si a ruína.” (Pv 13:3). Não temos a ousadia de afirmar dogmaticamente que quando Salomão escreveu esse provérbio, ele se referia à vida física ou espiritual. Todavia, podemos tomar principio dele e aplicá-lo à esfera espiritual, Essa palavra nos mostra uma coisa: aquele que busca ao Senhor e deseja suprir a igreja com a vida que recebe, deve ser cuidadoso com suas palavras. Se não for cuidadoso sua vida vazará. Porque alguns não são de utilidade nas mãos de Deus? É porque tem havido um vazamento da vida. Nessas pessoas só podemos tocar na morte e não na vida. Por essa razão, precisamos guardar nossa boca diligentemente diante do Senhor. Muitas historias podem ser contatadas com respeito a essa verdade, de que como as palavras vãs vazam a vida, mais do que de qualquer outra coisa. Isso não significa que o pecado seja melhor do que as palavras vãs, mas podemos dizer que à parte do pecado, o que mais dissipa a vida são as nossas palavras inúteis.

Palavras Sujas ou Palavras Vãs
“Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil (vazia) que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo” (Mt 12:36). O Senhor Jesus está Se referindo a palavras sujas? Não! Palavras difamadoras? Não! Palavras más? Não! Aqui se trata de palavras vãs: palavras fúteis, vazias, inúteis! Palavras vãs são palavras supérfluas, irrelevantes e desnecessárias, ou boatos que provocam disputas. “Hão de dar conta delas no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras seras condenado”. Foi isso que o Senhor Jesus disse. Podemos ver a seriedade das palavras vãs e também as palavras de boatos? Não é só a palavra impura que é grave; a palavra fútil é de solene significação. Em certas coisas e certos tipos de pecados particulares nós podemos fazer coisas e outros pecados que não podem ser compensados de modo algum. Como você pode compensar as palavras vãs faladas contra os outros? Você pode ir até à pessoa e confessar o pecado e retirar suas palavras; mas o som delas já entrou nos ouvidos dela e não há como eliminá-las. Você pode reembolsar alguém por coisas roubadas, mas por que meios se poderá reparar o prejuízo causado por meio das palavras? Tal pecado será apresentado diante de Deus. Por isso o Senhor diz: “Toda palavra vã que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”.

Língua Suave: Árvore de Vida
“Uma língua suave é arvore de vida; mas a língua perversa quebranta o espírito”. (Pv 15:4). Suave ou gentil significa não ser superaquecida. É ser moderado e correto no tom. O muito falar aquece a língua e quando isso acontece não existe mais arvore de vida. Somente uma língua suave é que e árvore de vida. Uma língua suave é aquela que não é nem apressada, nem tola, nem tagarela. Tal língua é árvore de vida. Não podemos sentir o perfume de Cristo num cristão que gosta de tagarelar com palavras inúteis. Aquele que tem prazer em conversar futilidade, não tem condições de suprir os outros com vida, pois uma palavra fútil produz uma grande abertura através da qual a vida (espiritual) é vazada.

Trate com Seu Coração
Sabendo que a palavra vã desperdiça a vida, o que devemos fazer a esse respeito? A fim de guardar nossa boca, precisamos primeiro tratar com o coração: “Pois da abundancia do coração fala a boca”, diz o Senhor. Aboca fala aquilo que esta no coração. Se você tem algo em seu coração, mais cedo ou mais tarde isso será manifesto por sua boca. Se você não disser aqui, vai dizer lá; se não for nessa casa será naquela outra. A boca há de falar aquilo que enche o coração. Por isso, para se aprender a não dizer palavras vãs e fúteis diante de Deus, o coração deve ser tratado. Se ele não for tratado, sua boca também não o será. Porque todas as demais coisas que enchem o coração, disso fala a boca. Nunca se desculpe dizendo que você é alguém que fala sem colocar o coração nas palavras. Segundo as palavras do Senhor Jesus, não existe tal possibilidade. O coração vem junto com a boca (isto é, com as palavras). Ela apenas expressa o que está no coração. Por isso o coração deve ser tratado antes da boca.

Concordância no Falar
Por causa dos problemas existentes entre os irmãos em Corinto, Paulo os exortou dizendo: “Sejais concordes no falar”. (I co 1:10). Como podiam falar a mesma coisa? “Sendo unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer”. A vida da igreja é semelhante à vida de um individuo: assim como ela pode vazar através das palavras vãs, do mesmo modo acontece com a vida da igreja. Visto termos a mesma vida, sejamos de uma mente e de um parecer. Se for assim, poderemos falar a mesma coisa e seremos guardados de pronunciar palavras vãs. Tratemos, portanto, com nosso coração, a fim de que a boca também seja tratada.

Uma Boca: Duas Linguagens?
“Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa?” (Tg 3:11). Se uma fonte não pode deitar dois tipos diferentes de água, como pode uma mesma boca ter dois diferentes tipos de linguagem? Assim como uma fonte só produz um tipo de água, assim também a boca só pode falar um tipo de linguagem. Precisamos tratar especificamente com as palavras vãs, porque tal vazamento não for detido, qualquer coisa que não deveria entrar acabará entrando por um lado, e o que não deveria sair acabará saindo pelo outro lado. Tal perda será incalculável! Por isso, tal vazamento precisa ser detido! Peçamos ao Senhor: “Senhor, trate com meu coração, a fim de que minha boca seja guardada por tua graça”.

Feche a Boca dos Outros
Você precisa tratar também com a boca dos outros, ajudando aqueles que gostam de dizer palavras vãs e se deleitam em tagarelar e espalhar boatos. Quando tais pessoas vierem a você com a intenção de dizer palavras vãs, não deixe que elas comecem. Diga-lhes: “Irmão, irmã, vamos orar”. Assim você as conduzirá ao caminho certo, não permitindo que pronunciem palavras inúteis, mas falando versículos da Bíblia ou se dedicando à oração. Você pode até mesmo ser bem rude e dizer: “Irmão, vamos aprender a dizer palavras que edificam. É melhor do que falar palavras vãs”.
Se desejarmos deter completamente o vazamento, devemos pedir também a Deus que nos livre da nossa própria curiosidade, para que possamos aprender a temê-Lo. Muitos cristãos são tão cheios de curiosidade que anseiam ouvir estórias estranhas e impuras. Seus ouvidos são como latas de lixo, nas quais todo tipo de coisas é jogado. Se formos livrados dessa curiosidade, pecaremos menos e do mesmo modo ajudaremos nossos irmãos a não cometerem tanto pecados. Se nossos ouvidos não estiverem cocando e se não dermos oportunidade diante de Deus, a fim de que a vida não seja dissipada em nós e o vazamento nos outros seja detido também.

Extraído do livro Practical Issues of This Life, de Watchman Nee, publicado por Christian Fellowship Publishers

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O chamado divino (R. K. Campbell)

O chamado para o ministério do Evangelho, ou para cuidar das ovelhas de Deus, vem do próprio Senhor, coisa tão certa hoje como quando Ele chamou os apóstolos ou levantou outros para ministrar Sua Palavra na Igreja primitiva (Ef 4:11, Rm 12:6-8 e 1 Pd 4:10). Mesmo os verdadeiros profetas do Senhor no Antigo Testamento foram chamados por Ele mesmo para a realização de suas tarefas. De outros profetas, aqueles que profetizaram mentiras em Seu nome, disse Ele: “nunca os enviei, nem lhes dei ordem” (Jr 14:14). Essas palavras são certamente aplicáveis a muitos falsos mestres e pregadores hoje em dia.
Porém todo verdadeiro servo de Cristo terá plena consciência em sua própria alma do chamado divino para o serviço. O Espírito Santo opera nos corações daqueles que o Senhor quer usar como Seus ministros. O seu chamado se realiza na alma de Seus ministros e o coração é exercitado e levado a desejar responder à chamada celestial. Muitos exemplos deste chamado divino se encontram no Antigo Testamento, os quais o leitor interessado poderá considerar proveitosamente (vide Is 6, Jr 1, Mc 1:16-20, 3:13-14, Atos 9 e 22 como alguns exemplos).

Sem tal exercício de coração, produzido pelo Espírito Santo, e sem ter consciência do chamado divino e alguma medida de dom para isto, nenhum cristão deveria aventurar-se no ministério público de Cristo. Porque não nos é dado o direito de escolher o nosso lugar e o tipo de serviço no Corpo de Cristo. Essa prerrogativa pertence ao Senhor somente. Nosso lugar é o de aprender a Sua vontade para cada um individualmente e ocupar o lugar a nós designado. Se alguém sai a pregar ou a ensinar sem ser chamado por Deus para realizar esta obra santa, não será sustentado por Deus e sucumbirá cedo ou tarde, ou falhará ao executar a obra do Senhor. Aqueles que o Senhor chama, Ele mesmo os capacita e qualifica para o serviço, e sem esta capacitação o ministério não pode ser realizado corretamente.

A natureza e o alcance do chamado para o ministério público varia muito. O Senhor da seara o fará claro a cada servo exercitado que tem sido chamado, exatamente onde, como e até que ponto deve servir. Um pode ser chamado para trabalhar localmente, outro para viajar através de sua terra natal e outro para ir a um distante país pagão. Um pode ser chamado, depois de devida preparação e treinamento na escola de Deus, a dar todo o seu tempo à obra do Senhor, enquanto outro pode ser chamado para continuar em sua profissão diária e, por sua vez, pregar e ensinar em suas horas livres.

É uma idéia equivocada de que alguém não pode levar avante sua profissão terrena para sua subsistência e ainda ser um ministro, ou que somente aqueles que dedicam todo seu tempo para o serviço do Senhor é que são seus ministros. Nas Escrituras não há tal coisa como divisão de cristãos em duas classes: “o clero oficial” e “os laicos”, como comumente é conhecido hoje em dia ou o pensamento de que o ministério é uma profissão honrada a ser tomada para subsistência, como é o caso das outras profissões. Antes, o ministério é um santo chamado e um serviço celestial a ser exercitado como um trabalho de amor a Cristo, em dependência d’Ele para seu sustento nesse lugar. Embora seja verdade que o “trabalhador é digno do seu salário” (1 Tm 5:18), e que “aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9:18), ainda temos também o exemplo de Paulo, o grande apóstolo, que trabalhou dia e noite fazendo tendas e pregando o Evangelho sem remuneração (Atos 18:3-4, 1 Ts 2:9).

Nesta associação devemos citar as pesadas palavras de C.H.Mackintosh: “Estamos convencidos de que, por regra geral, é melhor que todo homem trabalhe com as mãos ou com seu cérebro em alguma atividade como profissão, e que pregue e ensine também, se dotado para fazer isso. Há exceções, sem dúvidas, à regra. Existem alguns que são tão manifestamente chamados, capacitados, usados e sustentados por Deus, que não pode haver possível engano quanto a sua linha de conduta. Suas mãos estão tão cheias de trabalho, o tempo deles tão absorvido com o ministério de falar, escrever, ensinar publicamente e visitar de casa em casa, o que lhes seria impossível para aceitarem o que é denominado trabalho secular – embora não gostemos da frase. Todos quantos têm que seguir adiante com Deus, dependendo d’Ele, Ele os manterá sem falta até o fim.

Extraído do livro A Igreja do Deus Vivo, do irmão R. K. Campbell, do Depósito de Literatura Cristã
www.literaturacrista.com.br

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Encorajamento Vida cristã

Você está disposto a desistir dos seus direitos?

“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24); “(Jesus)… como um cordeiro que é levado ao matadouro… não abriu a sua boca” (Is 53:7); “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá” (Ap 14:4); “(Eu) fui crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20)

Em Lucas 14 o Senhor Jesus mencionou três vezes a frase: “não pode ser meu discípulo” (vs. 26, 27 e 33) A primeira condição é aborrecer pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs e a própria vida (alma); a segunda é levar a própria cruz e seguir o Senhor; e a terceira é renunciar a tudo quanto possui. Diante disso, quantos crentes em Cristo são Seus discípulos? Precisamos negar o nosso Eu, carregar nossa Cruz, seguir o Senhor, ir para o matadouro sem abrir a boca, seguir o Cordeiro onde quer que Ele vá, mesmo para o matadouro: Isso é crucificação do Eu!

No nosso viver diário o Senhor prepara situações especiais para negarmos a nós mesmo, renunciarmos nosso direitos aborrecermos nossa alma (Eu), tomar nossa Cruz e segui-Lo. Vamos ver alguns exemplos de como isso acontece na prática:

1) Quando suportamos com amor e paciência qualquer confusão ou aborrecimento; quando enfrentamos o desperdício, a extravagância, a intolerância espiritual e reagimos como Jesus reagiu: Isso é morte do Eu!

Enquanto os outros parecem poder exaltar os seus feitos, sucessos e promover a si mesmos, o Espírito Santo não dará essa permissão a você. Eles podem falar sobre seus planos, mas se você tentar falar das boas obras que realizou, o Espírito Santo irá ferir sua consciência, convencendo você da loucura dos esforços humanos e fazendo com que você despreze a si mesmo e as boas obras que deseja exaltar.

2) Quando você nunca se preocupar em falar de si próprio numa conversa, ou de suas boas ações, ou provocar elogios; quando você puder amar verdadeiramente e ainda se manter desconhecido : Isso é morte do Eu!

Outros podem evidenciar-se ganhando enormes somas de dinheiro, tirando beneficio de casos incríveis, ou fazer investimentos no tempo certo; todavia o Senhor pode manter você na pobreza, a fim de que você se aproxime da imagem do Seu Filho. O seu negocio ou profissão pode não prosperar, problemas de saúde na família podem obrigá-lo a gastar muito dinheiro, podem minar seus recursos, ou os seus investimentos podem ficar em uma cotação tão baixa repentinamente. Deus pode levá-lo a uma dependência dEle total e absoluta, para que você possa experimentar a alegria de ver que o Senhor satisfaz as suas necessidades, dia a dia, a partir de um tesouro que não é visível mas que é ilimitado.

3) Quando você puder ver seu irmão prosperar, com todas as necessidades dele satisfeitas, e, honestamente, regozijar-se com ele sem sentir inveja ou questionar a Deus, enquanto suas próprias necessidades são muito maiores e sua situação é desesperadora : Isso é morte do Eu!

A outros podem ser concedidas honras; eles podem brilhar enquanto você trabalha para Deus na obscuridade. Você nunca é mencionado, mas eles recebem incentivos, elogios e abraços daqueles que os rodeiam. Por quê? Porque alguns dos frutos de qualidade mais excelentes para o Reino do Senhor só podem ser produzidos na obscuridade. Outros podem tornar-se importantes, enquanto você continua sendo insignificante. Ele pode permitir que outros realizem um trabalho para a eternidade, que recebam amplo crédito por isso, enquanto você trabalha horas sem fim, sem saber o que está a realizar. Então Ele fará com que o seu trabalho seja ainda mais precioso, permitindo que os outros recebam o credito pelos esforços que você fez. Você receberá a sua recompensa multiplicada, mas só quando o Senhor Jesus voltar!

4) Quando você for esquecido e negligenciado, desprezado ou evitado propositalmente e não ficar ferido ou magoado com os insultos e enganos, mas se sentir feliz em seu coração achando que vale a pena sofrer por amor a Cristo: Isso é morte do Eu!

Você que deseja ser como Cristo, pode notar o Espírito Santo mantendo-o sob vigilância, demonstrando assim o amor zeloso que Deus tem por você. Ele vai repreendê-lo pelas palavras vazias, sentimentos impróprios e tempo desperdiçado; entretanto os outros cristãos nunca parecem sofrer punições. Outros poderão aproveitar-se de você, abusando de sua boa vontade e quando você pedir recompensa poderão tratar você mal. Não compete a você perguntar porquê ou exigir uma resposta. Deus apenas procura que aceitemos a Sua soberania em nossas vidas, tendo Ele o direito de fazer o que Lhe agrada com Seus filhos.

5) Quando você puder receber correções e censuras de alguém que seja menos importante do que você e manter-se em humildade interior e exterior, sem que surja no seu coração qualquer sinal de revolta ou ressentimento: Isso é morte do Eu!

Se você estiver disposto a desistir dos seus direitos, a não ser compreendido por aqueles a quem você respeita e ser punido sem ter culpa nenhuma, pelo contrário, tornando-se escravo do Deus eterno, você verá bênçãos de Deus derramadas sobre a sua vida, o que acontece apenas com aqueles que têm honra de serem incluídos no grupo “íntimos” do Senhor, aos quais é revelado o “segredo” do Senhor.

6) Quando suas obras forem caluniadas e seus desejos contrariados, seus conselhos postos de lado, suas opiniões ridicularizadas e você não deixar que a ira se apodere do seu coração, ou mesmo quando você se recusar a defender, suportando tudo com paciência e silêncio amoroso: Isso é morte do Eu!

Se você deseja realmente ser como Cristo, precisa colocar um fim nessa questão de uma vez para sempre. Deus através do Seu Espírito possui o privilégio divino de prender sua língua, de amarrar suas mãos e de fechar os seus olhos. Ele pode conduzir o seu negócio, a sua posição social, sua família ou reputação, de uma maneira que Ele não faz com outros. Mas no fundo do seu coração, será que você vai reagir com humildade e prazer? Você vai permitir que Deus seja o Deus que Ele quer ser em você, fazendo com obediência aquilo que o seu Pai celestial quer que você faça? Você vai deixar de esperar que Deus trate você como Ele trata os outros cristãos, e agradecerá por estar proibido de fazer aquilo que ele permite aos outros?

7) Quando você estiver satisfeito com qualquer comida, oferta ou vestuário, qualquer clima, sociedade ou solidão e qualquer interrupção provocada pela vontade de Deus : Isso é a morte do Eu!

Quando o Deus vivo absorver você de tal forma que você venha a se regozijar com este tratamento fora do comum e sentir Sua presença, satisfação e prazer, descobrindo que você está feliz com o envolvimento único, pessoal e especial do Espírito Santo em sua vida, então você irá compreender que está vivendo no Espírito uma vida de qualidade que desafia qualquer explicação. Aí você saberá realmente, o que significa: A Morte do Eu!

Texto selecionado por Delcio Meireles

(Extraído de http://www.preciosasemente.com.br/vidacrista/mortedoeu.htm)

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