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Igreja Martinho Lutero

As 95 Teses de Martinho Lutero

Em 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg 95 teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. O evento marca o início da Reforma Protestante, de onde posteriormente veio a Igreja Presbiteriana, e representa um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas.

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Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito.

Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1ª Tese
Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos…., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.

2ª Tese
E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.

3ª Tese
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de modificações da carne.

4ª Tese
Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.

5ª Tese
O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.

6ª Tese
O papa não pode perdoar divida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.

7ª Tese
Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.

8ª Tese
Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.

9ª Tese
Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema

10ª Tese
Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.

11ª Tese
Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, Previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.

12ª Tese
Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.

13ª Tese
Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.

14ª Tese
Piedade ou amor Imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.

15ª Tese
Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.

16ª Tese
Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.

17ª Tese
Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.

18ª Tese
Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.

19ª Tese
Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto.

20ª Tese
Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele impostas.

21ª Tese
Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.

22ª Tese
Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.

23ª Tese
Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.

24ª Tese
Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.

25ª Tese
Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.

26ª Tese
O papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.

27ª Tese
Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.

28ª Tese
Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.

29ª Tese
E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.

30ª Tese
Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.

31ª Tese
Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.

32ª Tese
Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

33ª Tese
Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.

34ª Tese
Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.

35ª Tese
Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

36ª Tese
Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

37ª Tese
Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.

38ª Tese
Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.

39ª Tese
É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.

40ª Tese
O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.

41ª Tese
É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.

42ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.

43ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.

44ª Tese
Ê que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.

45ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.

46ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura , fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.

47ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada

48ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.

49ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.

50ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.

52º Tese
Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.

53ª Tese
São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.

54ª Tese
Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.

55ª Tese
A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.

56ª Tese
Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.

57ª Tese
Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.

58ª Tese
Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.

59ª Tese
São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.

60ª Tese
Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.

61ª Tese
Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.

62ª Tese
O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63ª Tese
Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.

64ª Tese
Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.

65ª Tese
Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.

66ª Tese
Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.

67ª Tese
As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.

68ª Tese
Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69ª Tese
Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência-

70ª Tese
Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.

71ª Tese
Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.

72ª Tese
Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.

73ª Tese
Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.

74ª Tese
Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.

75ª Tese
Considerar as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.

78ª Tese
Bem ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.

77ª Tese
Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.

78ª Tese
Em contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.

79ª Tese
Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.

80ª Tese
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.

81ª Tese
Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.

82 ª Tese
Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima’ caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?

83ª Tese
Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em favor dos mortos, visto’ ser Injusto continuar a rezar pelos já resgatados?

84ª Tese
Ainda: Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga?

85ª Tese
Ainda: Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?

86ª Tese
Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?

87ª Tese
Ainda: Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?

88ª Tese
Afinal: Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como Já O faz, cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.

89ª Tese
Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes?

90ª Tese
Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91ª Tese
Se a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.

92ª Tese
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.

93ª Tese
Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.

94ª Tese
Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.

95ª Tese
E assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.

Fonte

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Vida cristã Watchman Nee

Lei e graça

A graça significa que Deus fez algo por mim. A lei significa que eu faço alguma coisa por Deus. Deus tem certos requisitos santos e justos que me impõe: isto é a lei. Ora, se a lei significa que Deus requer algo da minha parte, então, ser liberto da lei significa que Ele não requer mais coisa alguma de mim, porque Ele mesmo fez a necessária provisão. A lei implica em Deus requerer que eu faça algo por Ele; a libertação da lei implica que Ele já fez por mim, por Sua graça, tudo quanto exigia de mim, isentando-me do seu cumprimento. Eu (o homem carnal de Rm 7.14) não preciso fazer nada para Deus — é isto o que significa ser liberto da lei. O problema em Romanos 7 consiste em que o homem, na carne, procura fazer alguma coisa para Deus. Esta tentativa imediatamente nos coloca de novo debaixo da lei, e a experiência de Romanos 7 começa a ser a nossa.

(Watchman Nee, A Vida Cristã Normal, pág. 102, Editora Fiel)

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Igreja Martin Lloyd-Jones

O Crescimento da Igreja (M. Lloyd-Jones)

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito. ” (Efésios 2:2O-22)

Ainda estamos estudando esta terceira figura que o apóstolo usa, do povo cristão e da Igreja Cristã, segundo a qual ele diz que a Igreja é uma espécie de edifício, um grande templo, no qual Deus habita, e ainda vai habitar de maneira mais ampla e mais completa. Temos examinado esta figura de modo geral. Mas o apóstolo não nos oferece meramente uma descrição geral deste edifício, ele nos fala em detalhe sobre a planta e as especificações que foram obedecidas, e que sempre deverão ser obedecidas, na construção deste edifício.

Portanto, começamos necessariamente com o alicerce, com o fundamento. Somos “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. Em seguida a isso, passamos mais diretamente a uma consideração de nós mesmos e daquilo que nos caracteriza que, como pedras neste edifício, estamos relacionados com o fundamento, estamos relacionados com o Senhor Jesus Cristo, estamos relacionados com a verdade; porém, e este é o aspecto que o apóstolo parece salientar mais que tudo aqui, também estamos relacionados uns com os outros. Noutras palavras, a frase importante aqui é esta palavra que foi traduzida por estas três, “adequada e conjuntamente ajustado” (a palavra e só entrando como elemento de ligação). Essa é a palavra a que devemos dar atenção outra vez. Aí estão todas estas pedras individuais nesta parede, nestas paredes que estão sendo levantadas, e elas todas são “adequadas e conjuntamente ajustadas”.

Todas estas coisas são figuras e, portanto, é óbvio que nenhuma delas pode transmitir a verdade completa. É por isso que o apóstolo usa aqui três figuras diferentes; nenhuma delas é suficiente só por si. Desta maneira, ao tratar anteriormente desta questão de preparo das pedras, eu mostrei que certa dose de preparação era necessária de antemão, e também que, em certo sentido, a preparação continua a vida inteira. Essa é a espécie de paradoxo que se vê no Novo Testamento concernente à Igreja. De um lado nos é dada a impressão de que Deus já habita na Igreja – e é um fato. E, contudo, há esta outra idéia de que a Igreja ainda está sendo construída “para morada” na qual Ele virá habitar quando ela estiver completa. Da mesma maneira nós, num sentido, já estamos preparados, mas também ainda necessitamos deste processo. Todavia outras ilustrações são utilizadas para aclarar isso.

Agora voltemos a esta grande questão sobre como exatamente estas pedras são colocadas no edifício. “No qual também vós juntamente sois edificados”, diz Paulo, “para morada de Deus”. Vocês efésios, diz ele, foram colocados neste edifício, são partes agora desta construção, são partes deste grande templo que está sendo erigido no Senhor para morada de Deus em Espírito (ou “mediante o Espírito”, VA).

Uma questão muito importante para nossa onsideração é a seguinte: quando ocorre a preparação? Primordial e essencialmente, esta preparação acontece antes de estarmos na Igreja. Jamais poderemos fazer parte deste edifício, jamais seremos pedras nessas paredes, sem já estarmos preparados para isso. Portanto, vamos lá para trás, a um versículo do Velho Testamento – 1 Reis 6:7: “E edificava-se a casa com pedras preparadas, como as traziam se edificava; de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam”. Isso é uma parte da narrativa da construção do templo de Salomão. É uma parte muito importante da história. De fato, visto que estamos estudando esta passagem, é de grande importância que voltemos ao Velho Testamento para lermos acerca da construção do templo de Salomão em Jerusalém. Não há nenhuma dúvida de que o apóstolo Paulo tinha essas figuras em sua mente, e é igualmente claro que o que nos é ensinado quanto à construção do tabernáculo e do templo tem relevância para aquilo que estamos estudando neste momento.

Quando Deus instruiu Moisés sobre a construção do tabernáculo, Ele o levou a um monte e lhe deu instruções minuciosas. Deus não disse simplesmente a Moisés: agora Eu quero que você construa um tabernáculo para Mim, no qual a Minha presença possa habitar, no qual a glória da Minha Shekinah possa manifestar-se. Ele lhe deu instruções pormenorizadas, entrando nas questões de medidas, cores etc. Tudo foi dado em detalhe. E tendo lhe dado a planta e as especificações, Deus disse à Moisés: “Atenta, pois, que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte” (Êxodo 25:4O). Parece que foram dadas instruções de maneira semelhante a Salomão (2 Crônicas 13). É importante, pois, que tenhamos isso em mente; é de profunda significação. Ouçam-no de novo: “E edificava-se a casa com pedras preparadas, como as traziam se edificava; de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam”. Essa declaração contém importante doutrina que lança luz sobre a exposição feita pelo apóstolo na passagem que estamos estudando, com relação à natureza da Igreja Cristã.

Em meu parecer, o primeiro principio que se deve observar é o seguinte: a preparação é feita em segredo. Sem dúvida havia pessoas em Jerusalém que ficavam observando a construção do templo. Mas elas não viam a preparação das pedras. Este trabalho era feito antes de serem trazidas para o local do templo e de serem colocadas nos seus lugares nas paredes. Eis aí um grande princípio do Novo Testamento. Antes de sermos verdadeiros membros da Igreja Cristã, qualquer de nós – (vocês vêem como é importante distinguir entre simplesmente termos os nossos nomes nos róis de uma igreja e realmente sermos membros de Cristo e da Sua Igreja) – antes de podermos estar verdadeiramente na Igreja, uma enorme obra de preparação é indispensável. É uma obra realizada pelo Espírito Santo, e é realizada nas profundezas da alma. É uma obra misteriosa e secreta. O mundo a ignora. Assim como o povo de Jerusalém nada sabia da preparação daquelas pedras, o mundo também nada sabe a respeito. E possível estarmos trabalhando num escritório com outras pessoas, ou até vivendo na mesma casa com outros, certa poderosa obra de preparação estar sendo realizada em nós, sem que eles saibam. Não é uma obra realizada externamente, por fora, superficialmente; é realizada no âmago da alma.

Escrevendo aos coríntios, o apóstolo diz: “Vós sois a carta de Cristo… escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 13). É uma obra interna, uma obra misteriosa, que se realiza naquela parte do homem chamada alma. Certamente vocês se lembram de um famoso anatomista que zombou da alma há alguns anos. Disse ele que tinha dissecado muitos corpos na sala de anatomia, e nunca tinha encontrado um órgão chamado alma. Claro que não! Essa é uma das coisas secretas que um anatomista materialista não pode entender. Menos ainda tal homem poderia entender a obra realizada pelo Espírito na alma. A obra é tão secreta que, às vezes, a própria pessoa em quem ela está sendo realizada não sabe o que está acontecendo. Muitas vezes o Espírito age em nós durante algum tempo, antes de percebermos o que se passa. Tudo o que sabemos é que estamos sendo levados a fazer certas perguntas que nunca tínhamos feito antes. Tudo o que sabemos é que, de repente, ficamos insatisfeitos com nós mesmos e com as nossas vidas, e não sabemos por quê. Alguém talvez diga que não estamos bem e que deveríamos consultar um médico; e pode ser que concordemos. Talvez pensemos que estamos cansados, ou procuremos alguma outra explicação. É uma obra misteriosa. Novos interesses surgem, novos anseios, desejos e aspirações, e dizemos: “Que será isso? Não entendo o que se passa comigo. Parece que alguma coisa está acontecendo comigo. Não sou mais o mesmo. Que será isso?” E não entendemos. Ignoramos esta obra secreta que o Espírito está realizando. Mas aí está ela, e faz parte da preparação. Esse trabalho era feito antes de as pedras serem levadas para Jerusalém.

Não devo demorar-me neste particular, porém vocês se lembram da maneira como o nosso Senhor expressou esta verdade, dizendo a Nicodemos, que nesse ponto mostrou-se completamente incapaz de entender a Sua doutrina: “Como pode um homem nascer, sendo velho?”, pergunta Nicodemos. “Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” -Não entendo! Certo, disse efetivamente o nosso Senhor. “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” Você vê o resultado, você não vê o que acontece, não entende. “Não sabes de onde vem, nem para onde vai.” Não se vê, é invisível, mas você vê os efeitos, o resultado, o produto acabado. “Assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” Noutras palavras, estabeleço como proposição fundamental – e é sumamente importante dar ênfase a isso hoje, porque há uma grave
incompreensão dessa questão – que, ser cristão é estar sujeito a uma energia e um poder que está acima do nosso entendimento. Não me entendam mal. Isso não significa que o cristianismo é irracional; o que
significa é que o cristianismo é super-racional, supra-racional, poderíamos dizer. Não há – e isso me causa prazer, pelo que o repito muitas vezes – não há nada que, uma vez que você esteja dentro, seja tão racional, tão lógico como a fé cristã (como o revela a ilustração que temos nesta Epístola aos Efésios). Mas se você está fora, não a entende; parece haver algo de misterioso e estranho nela. Por quê? Porque é obra de Deus, porque é ação direta do Eterno. Já não é ação realizada por meio das leis da natureza; Ele está agindo diretamente, Ele está agindo imediatamente, isto é, sem utilizar-Se de meios.

Deixem-me pedir ao grande apóstolo que exponha isso. Vejam como ele o faz na Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo dois. Diz ele que quando o Senhor Jesus Cristo estava neste mundo, os príncipes deste
mundo não O reconheceram, pois, se O tivessem reconhecido, “nunca crucificariam o Senhor da glória”. Eles viam simplesmente um homem, o carpinteiro de Nazaré. Indagavam: quem é este sujeito? Ficavam admirados com o Seu conhecimento e com a Sua cultura; todavia não entendiam, não sabiam que Ele era o Filho de Deus. Mas o apóstolo declara: “Deus no-las revelou pelo Seu Espírito”; sim, pelo Espírito que “penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”. Ele prossegue, dizendo: “Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”. E ainda: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. E então ele acrescenta isto: “Aquele que é espiritual (isto é, o homem espiritual) discerne (ou, “julga” VA) bem tudo, e ele de ninguém é discernido (ou, “por ninguém é julgado”). Noutras palavras, o cristão, por definição, deveria ser um problema e um enigma para todos os não cristãos. Como isso é importante como uma prova para cada um de nós! Se um incrédulo pode entender você e tudo o que você lhe diz, então, pelo menos dentro deste contexto, você não está dando prova de que você é cristão.

Quando o Filho de Deus estava neste mundo, Ele era um grande problema para as pessoas. Elas perguntavam: quem é este? Ele é um homem comum, nunca foi instruído como fariseu, não é escriba, não é sacerdote, nunca teve erudição e cultura; no entanto, olhem para Ele, ouçam o que Ele está dizendo. Ele parece ter conhecimento; vejam os Seus milagres – quem é este? Ele era um problema e um quebra-cabeça para eles. Porventura vocês se lembram de que, nos capítulos iniciais do livro de Atos somos informados de que acontecia a mesma coisa com os Seus seguidores? Pedro e João curaram um homem na Porta Formosa do templo, e as autoridades não podiam entender o fato. Levaram-nos a julgamento, e tudo o que puderam dizer foi que “eles haviam estado com Jesus” (4:13). Isso era tudo o que eles sabiam. Homens ignorantes, indoutos, mas cheios de poder! Que será isso?

É esse o aspecto secreto desta obra, desta preparação. O cristão, por ter sido formado e modelado pelo Espírito Santo, é alguém que ninguém pode entender, exceto outro cristão. A obra realizada pelo Espírito não é irracional, mas transcende a razão, confirmando aquele famoso dito de Pascal: “A suprema percepção da razão é levar-nos a ver que há um limite para a razão”. Aqui nos encontramos numa esfera em que Deus age imediata e diretamente. Assim, o cristão não é meramente alguém que decide adotar certo número de proposições e um ponto de vista, ou esposar uma filosofia. O cristão é, por definição, alguém que foi formado, modelado, posto em forma, adaptado e ajustado para ser uma pedra nesta parede, neste edifício, que vai ser um “templo santo no Senhor, uma habitação de Deus. O cristão é alguém que nasceu de novo, foi transformado, renovado, regenerado. Estes são termos do Novo Testamento. Ele é uma “nova criatura”, uma “nova criação”.

No entanto, isso nos leva a um segundo princípio: tudo isso tem que acontecer conosco antes de podermos fazer parte da Igreja. Nosso texto fundamental, 1 Reis 6:7, põe isso acima de tudo o mais. “Edificava-se a casa com pedras preparadas, como as traziam se edificava”, (ou, ” …com pedras preparadas antes de serem trazidas…”, VA). Não estamos numa igreja para nos tornarmos cristãos. Estamos numa igreja porque somos cristãos. A razão para ser membro dessa igreja não é que finalmente você venha a ser cristão; é porque você já o é. Nunca foi propósito da igreja ter em seus róis uma multidão mista – composta de cristãos, dos que acham que são cristãos, dos que esperam poder tomar-se cristãos e dos que, bem, estão ali porque nem sequer pensaram o suficiente em parar de freqüentá-la, e são meros tradicionalistas. Este também, lembro a vocês, é um ponto tremendamente importante, sobretudo na hora presente, quando a questão da natureza da Igreja é levantada agudamente por todos quantos falam em união, reunião e
unidade.

É nosso dever familiarizar-nos com o que se ensinava no passado sobre essa matéria. Ora, no tempo da Reforma Protestante, essa era uma questão urgente e crucial. Martinho Lutero ensinava que a Igreja é a comunidade dos crentes. João Calvino acentuava que a Igreja consiste do número total dos eleitos. Vocês notam a ênfase? – comunidade dos crentes, número total dos eleitos, dos escolhidos, dos chamados. E vocês recordam que os puritanos, que em certo sentido foram os originadores e os fundadores daquilo que hoje toma o nome de “igrejas livres” (os primeiros “independentes”, os primeiros batistas, e outros), colocavam sua ênfase no que eles chamavam, “a igreja reunida”. Queriam dizer que a Igreja realmente consiste da reunião, ou do encontro dos santos, dos crentes. Eles foram ficando cada vez mais tristes com a idéia de uma “Igreja do Estado”, porque, de acordo com a idéia de uma “Igreja do Estado”, todos os que vivem numa paróquia são membros da Igreja e são cristãos. Pois bem, os não conformistas rejeitavam isso completamente. Eles diziam: porque sucede que um homem vive numa paróquia, não é necessariamente um cristão. Simplesmente porque certas pessoas vivem neste país, não significa que são cristãs. Eles asseveravam que a Igreja consiste unicamente dos que foram preparados, dos que nasceram de novo, dos regenerados, dos renovados, dos santos, dos crentes, do povo de Deus; e a Igreja é a reunião destes. Isso é a Igreja, os “santos reunidos”.

Vocês vêem a importância e a relevância disso tudo nos dias atuais, quando há uma tendência das pessoas se tornarem cada vez mais soltas e cada vez mais vagas nas definições; a tendência de dizer que todos os que se dizem cristãos devem ser considerados cristãos, e que todos somos um, e assim por diante. De fato às vezes chegam a sugerir que não deveríamos dar demasiada ênfase até mesmo ao termo “cristão”. Temos um “Congresso Mundial de Crenças” que incluem todos os que crêem em Deus, de uma forma ou de outra. Todos esses são um, dizem, contrariamente aos que não crêem em Deus.

É vital que consideremos isso tudo, não somente à luz da história, mas ainda mais à luz das Escrituras – esta Escritura de Efésios e aquela declaração registrada em 1 Reis 6:7. Noutras palavras, certamente o ensino das Escrituras é simples e claro. E é que a Igreja consiste somente daqueles que crêem na doutrina verdadeira e que vivem a vida cristã. “O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: o Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2 Timóteo 2:19). Há alguns que negam a fé, diz Paulo a Timóteo: negam a ressurreição, dizem que é coisa do passado. Não se aflija; eles parecem cristãos, porém Deus sempre soube onde eles estão. Ele conhece todas as coisas, o Seu fundamento permanece seguro. Ele não pode negar a Si próprio, embora O neguemos. Ele sabe o que faz. Em última análise, o Arquiteto da Igreja é Ele.

Podemos ir adiante e dizer que certamente não há nada que seja completamente tolo e calamitoso, quando pensamos na Igreja, como pensar nela em termos de tamanho e de número. Mas esse é o pensamento determinante hoje. Igreja mundial! – dizem: o único modo de combater o comunismo e as outras coisas que se opõem ao cristianismo é tornar-nos um; devemos reunir os nossos grandes batalhões, e então resistir ao inimigo. Entretanto, como isso é anti-escriturístico! Nós cantamos em nossos hinos, “poucos fiéis”, e a Bíblia está repleta de ensinamentos sobre a doutrina do remanescente. Deus não opera por meio de grandes batalhões, Ele não se interessa por números; Ele está interessado na pureza, na santidade, em vasos aptos e próprios para ouso do Senhor. Não devemos concentrar a nossa atenção em números, e sim na doutrina, na regeneração, na santidade, na compreensão de que este edifício é um templo santo no Senhor, uma habitação de Deus.

Isso é o que o próprio Senhor nosso ensina claramente. Às vezes, quando lemos os Evangelhos, temos a impressão de que o Senhor Jesus Cristo passava grande parte do Seu tempo recusando pessoas. Hoje forçamos as pessoas a tomarem decisão, fazemos tudo o que podemos para fazê-las vir, quer queiram quer não. Mas não era esse o método do nosso Senhor. Certo homem correu para Ele e disse: “Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Que maravilhoso acréscimo à Igreja! – dizemos. Todavia o nosso Senhor voltou-Se para aquele homem e disse: “As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Vá pensar no que você está fazendo, diz o nosso Senhor, não quero mera animação, quero que você compreenda o que isso lhe poderá custar. E, vocês se lembram, Ele prosseguiu, falando com um homem que lhe pediu permissão para primeiro ir para casa e sepultar o seu pai, e Ele diz: “Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos”. Disse ainda: “Ninguém que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (Lucas 9:57-62). Ele põe à prova, parece estar rejeitando – Ele examina. Avalie o preço, diz Ele. Que tolo, diz Ele, é o homem que começa construir um castelo, porém não fez uma avaliação para saber quanto lhe custaria e se ele teria condições e recursos para dar prosseguimento à obra! Ele fala de maneira semelhante sobre o homem que se apresta para fazer guerra contra outro país, e não sabe qual é o número dos componentes das suas tropas e das suas reservas. Ah, que loucura é isso! Pare! Considere! Ele parece estar rejeitando os homens. A Sua preocupação era com a pureza da Igreja, não com o tamanho, nem com os números. E quando Ele partiu deste mundo, deixou apenas um pequeno grupo de homens comuns, indoutos, sem instrução, iletrados para continuarem a Sua obra. É esse o Seu método.

E tem sido sempre assim nos períodos de avivamento e despertamento. Era extremamente difícil alguém tornar-se membro de uma igreja dos puritanos. Leiam os relatos fidedignos dos feitos das primeiras igrejas independentes e batistas e verão que era excessivamente difícil obter admissão à sua comunhão. Vocês alguma vez leram as regras que João Wesley estabeleceu para a admissão às suas sociedades? Os homens e as mulheres eram submetidos a exame e prova na doutrina e na vida! É quando esse tipo de procedimento é adotado que se tem avivamento.

Deus só pode habitar numa Igreja pura – não necessariamente numa Igreja grande, mas numa Igreja pura, pura na doutrina e pura na vida. Pode parecer surpreendente, mas não hesito em asseverar, mesmo hoje, que o maior problema da Igreja atualmente é que ela é grande demais. É muito parecida com uma multidão mista. Somente quando os homens são aptos e próprios para o uso do Senhor é que Ele os utiliza. Somente num templo santo é que o Residente eterno entra. O ensino geral das Escrituras tem esse propósito. E é evidenciado, apoiado e comprovado pela subseqüente história da Igreja Cristã. Também é verdade que ninguém sabe, o mundo não sabe o que Deus pode fazer quando um homem se entrega completamente a Ele. Todos os grandes avivamentos e reformas vieram dos mais insignificantes começos. Um só homem -Martinho Lutero! Estranhos indivíduos do século dezessete! O pequeno Clube Santo de Oxford, no século dezoito! Sempre foi assim. Vamos parar de pensar em termos de grande atividade, quando estivermos falando da Igreja. Regressemos ao Novo Testamento. Um santo templo no Senhor. Quando Ele entra, com um só frágil homem Ele pode convencer milhares. Pela pregação do apóstolo Pedro no dia de Pentecoste, três mil foram acrescentados à Igreja.

Antes de concluirmos, vejamos mais um princípio. Não deve haver nenhum ruído durante este processo de edificação. Voltemos a 1 Reis 6:7, e eis o que vocês verão escrito ali: “E edificava-se a casa com pedras preparadas, como as traziam se edificava”. E então – “De maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam”. Que princípio vital é este! Interpretando-o e dando-lhe vestimenta moderna, é isto: não deve haver discussão nem debate nem desacordo na Igreja acerca das verdades vitais. Não se deve fazer ouvir nada desse ruído de cinzel, martelo, a moldagem e preparação na Igreja. Isso terá que acontecer antes de você entrar na Igreja. Não deve haver nenhuma discussão na Igreja Cristã sobre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Não deve haver nenhuma discussão na Igreja acerca da situação e das condições do homem em pecado. Não deve haver nenhuma discussão na Igreja acerca da expiação vicária, da regeneração, da Pessoa do Espírito e de todas as doutrinas da graça. Não deve haver ruído de discussão acerca destas coisas. Tudo isso deve acontecer antecipadamente.

Pois bem, falemos com clareza sobre este ponto, porque também pode ser entendido erroneamente. Quando digo que não deve haver discussão nem ruído de debate na Igreja, não estou querendo dizer que a Igreja não deve interessar-se por doutrina; o que estou querendo dizer é que deve haver acordo sobre a doutrina logo de início, de modo que não haja mais necessidade de discussão. Contudo, isso está sendo mal entendido hoje, e está sendo colocado desta forma: ah, dizem muitos, não devemos ter discussões sobre doutrinas porque elas sempre causam divisão; portanto, não as tenhamos, mas vamos todos concordar em chamar-nos cristãos uns aos outros, seja o que for que creiamos. Uns poderão dizer que Jesus de Nazaré era apenas homem, outros dirão que Ele é também o Filho de Deus. Que importa isso realmente? Afinal de contas, todos nós concordamos em Seu ensino, em que este é nobre e enaltecedor e em que, se tão-somente o praticássemos, não haveria todo este problema que o mundo enfrenta hoje. Assim eles dizem: vamos parar de discutir sobre a Sua Pessoa. E depois, que dizer da Sua morte na cruz? Uns dizem que foi o maior crime da história, e nada mais, a suprema tragédia de todos os tempos. Outros dizem: não, é mais que isso. Deus O enviou para que morresse; Ele morreu “pelo determinado conselho e presciência de Deus” (Atos 2:23); morreu para levar a culpa dos nossos pecados, e se Ele não tivesse morrido nós estaríamos ainda em nossos pecados. Mas a tendência hoje é dizer que não importa em que você crê. Muitos dizem: afinal, a morte de Cristo foi maravilhosa e comovente e, portanto, todos nós podemos vê-la, podemos interpretá-la de diferentes maneiras. Isso não tem importância, todos nós cremos nEle, e todos nós estamos procurando ser semelhantes a Ele e segui-lO. Somos todos cristãos; avante, pois!

No entanto isso é ausência de doutrina, e o que a passagem em foco ensina é exatamente o oposto. Não deve haver nenhum ruído desse debate e dessa discussão na Igreja – não por não haver doutrina, mas porque todos nós estamos de acordo quanto à doutrina, porque todos nós a subscrevemos. Foi assim que aconteceu na Igreja Primitiva. Quando foi que o Espírito desceu sobre aqueles cristãos? Foi quando estavam no cenáculo, unânimes. Unânimes! Outra vez lemos sobre a Sua vinda sobre eles, e que era um o coração e a alma deles. É-nos dito que a Igreja Primitiva perseverava na doutrina (no ensino), na comunhão, no partir do pão e nas orações. Não havia ruído de discussão e debate. Por quê? Porque aqueles cristãos estavam todos concordes! Sabiam que Cristo era o Filho de Deus; a ressurreição o provara para eles. Ele tinha exposto as Escrituras, tinha explicado a Sua morte, eles tinham sentado aos Seus pés e eles tinham crido na doutrina. Estavam todos unanimemente concordes. Nenhum ruído! Por quê? Porque estavam de acordo na doutrina, não porque não tinham doutrina.

Vocês não vêem por que a Igreja está como está hoje? Que é que foi acontecendo na Igreja Cristã durante os últimos cem anos? Já demos a resposta. A Igreja tem discutido doutrinas fundamentais. Porque será que um alarmante número de “igrejas” estão quase vazias atualmente? Por que os números vão baixando ano após ano? É a própria Igreja a responsável. Há cinqüenta anos, em Londres, a Igreja toda esteve debatendo o que chamavam “nova teologia”. O debate era principalmente sobre a Pessoa de Cristo! – seria Ele realmente o Filho eterno de Deus? ‘ Ou seria apenas homem? Eram essas as questões. Discutiam sobre fundamentos, sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas! Muitos não criam nisso. Houve barulho na Igreja porque estavam discutindo sobre pontos fundamentais. Será surpreendente que a Igreja se tenha tornado ineficiente, que não lhe dêem valor, que os homens não estejam sendo salvos e que o Espírito não esteja operando?

É preciso que não haja nenhum ruído de martelo, de machado e de nenhum instrumento de ferro na Igreja. É preciso que os homens e as mulheres entendam claramente estas coisas, antes de pertencerem à Igreja. Na verdade, você não pode estar verdadeiramente na Igreja, a não ser que já esteja certo sobre estas questões. Jamais houve a intenção de que a Igreja seja um rinhadeiro no qual os homens argumentam, pelejam, debatem e brigam sobre questões vitais relacionadas com Cristo e Sua obra. A Igreja é a reunião daqueles para os quais estas questões foram resolvidas uma vez por todas, os quais sabem no que crêem, os quais estão firmados no fundamento de Deus, e os quais se juntam – não para argumentos e debates sobre estas questões, mas para esperar em Deus, adorá-lO, para que Ele venha a estar entre eles, para que Ele os encha da Sua presença e de gozo indescritível e cheio de glória, para que Ele os encha de poder para falar a outros e propagar as boas novas, e cativá-los, libertando-os dos grilhões e da escravidão do pecado.

Notem o que estou dizendo. Não estou dizendo que os cristãos têm que concordar em todos os pormenores. Estou ressaltando os pontos fundamentais. Há certas questões nas quais nem todos os cristãos concordam, certos detalhes acerca da profecia, certas questões como o modo do batismo, e muitas outras. Não são princípios fundamentais. O povo cristão jamais deve contender, brigar e pelejar sobre esses pontos. Devem discuti-los como irmãos. Mas não devem ocorrer discussões sobre pontos fundamentais, simplesmente porque são pontos fundamentais. A preparação deve ser feita antes de se trazerem as pedras para a Igreja. Aqui não há ruído, nós O conhecemos como o Filho de Deus e Salvador. A maior necessidade da Igreja nesta hora é entender estes princípios. Agora se realizam grandes conferências mundiais, uma após outra. Todavia, como usam o tempo? Não em oração a Deus, não esperando pelo Espírito, não se deixando encher do Espírito. Usam o tempo para tentar achar uma base de acordo. Tentam achar um mínimo irredutível acerca do qual não discordem.

Gastam seu tempo nisso e, enquanto isso, o mundo vai de mal a pior. Eles têm a fatal idéia de que doutrina é causa da divisão, quando a verdade é que não há nada que una, exceto a doutrina – pois a única unidade digna de menção é a unidade do Espírito, que produz a mesma crença no mesmo Senhor, na mesma fé e no mesmo batismo. É a unidade dos que têm a mesma mentalidade e estão em harmonia, que não põem a sua confiança em si mesmos, mas somente no Filho de Deus e na perfeita obra que Ele realizou a favor deles. Portanto, a palavra para a Igreja moderna, como a palavra que Deus dirigiu a Moisés na antigüidade, é simplesmente esta: “Atenta pois que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte”. O monte do Sermão do Monte! O monte da transfiguração! O monte Calvário! O monte das Oliveiras, o monte da ascensão! Aí estão os grandes picos. Em nossos dias e em nossa geração, edifiquemos, aconteça conosco o que acontecer, diga de nós a Igreja, a Igreja visível, o que disser, seja o que for que o mundo fale de nós, edifiquemos conforme ao modelo que nos foi mostrado no monte. Que não haja incerteza nem hesitação nem discussão nem ruído nem debate acerca do conteúdo deste capítulo dois da Epístola de Paulo aos Efésios, pois o fundamento é – o homem morto em ofensas e pecados, desamparado e sem esperança; ressuscitado pela graça de Deus; salvo pelo sangue de Cristo; regenerado, renovado e ligado a Cristo pelo Espírito Santo e transformado numa pedra do templo santo no Senhor.
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Extraído do livro Reconciliação: Método de Deus – Ed. PES (Publicações Evangélicas Selecionadas)

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T. Austin-Sparks Testemunho

Um testemunho sobre Austin-Sparks

O genro de Austin-Sparks, Angus Kinnear, escreveu o seguinte sobre seu sogro: “Desde seus anos iniciais ele creu no poder e na importância da Palavra de Deus falada, e em que todas as instâncias de Sua exposição e aplicação deviam estar relacionadas vitalmente às necessidades atuais e crescentes da vida espiritual das congregações representativas do povo de Deus. Através de Sua Palavra, Deus encontrará os Seus, mas Seu modo de revelação a Seus servos não é meramente através de temas letrados, reclusos ou pesquisados. Ao contrário, faz-se necessário, projeta-se e toma sentido pelo chamado e reação de condições reais. Seu valor – se é para ser algo mais que palavras – está em ser capaz de tocar o povo do Senhor em suas experiências e necessidade, o que tem sido a ocasião de seu chamado original. Este era o chamado especial de T. Austin-Sparks, um homem trilhando um caminho talvez um pouco à parte de seus contemporâneos, mas sempre fiel a Cristo Jesus seu Salvador e Senhor, e comprometido com uma visão de colheitas espiritualmente frutíferas por todo o campo – o mundo de Deus”.

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T. Austin-Sparks Testemunho

Um fato impressionante sobre Austin-Sparks

Hosea Hu, um irmão americano, é biógrafo de T. Austin-Sparks. Ele esteve no Brasil certa vez e deu uma conferência sobre a vida de TAS, como era carinhosamente chamado por seus amigos. Eu ouvi parte de uma das mensagens. Desta, um fato me impressionou demais. Eu o reproduzo de memória aqui. O cerne da história é exatamente o que escrevo, e deixo de fora minúcias das quais não recordo a fim de não cometer enganos.

Nos Estados Unidos, determinado pastor, insatisfeito com sua vida espiritual, ouviu uma conferência com TAS. Sua primeira pergunta foi: “Que tradução da Bíblia ele usa, já que na minha eu nunca vi essas coisas que ele menciona?” O que aquele homem ouviu revolucionou sua vida. Ele, então, passou também a ensinar o que recebera.
Ele era pastor de uma congregação de classe alta. Seus ouvintes começaram a ficar descontentes com sua palavra, pois não era mais do tipo “palavra edificante”. Então, por meio de uma conspiração contra ele, foi demitido, acusado de insanidade mental.

Desempregado, ele começou a passar necessidades. Algum tempo depois, conseguiu um emprego de vendedor, mas pouco conseguia ganhar com seu trabalho. Mas permanecia fiel ao que ganhara do Senhor.

Por causa de sua fraqueza, teve um sério problema em um dos pulmões, que tinha de ser extirpado. Foi internado, e o médico era um de seus antigos pastoreados. A cirurgia foi realizada, mas, não se sabe porque razão, o pulmão são é que foi extirpado. Assim, tendo um único pulmão, e este comprometido pela doença, este irmão morreu cerca de dois meses depois.

O que havia no ensino de TAS que mudara tanto esse homem, a ponto de morrer por fidelidade ao que vira? TAS sempre enfatizou ao máximo a centralidade de Cristo e da cruz na experiência cristã. Tudo o mais se deriva disso. Tudo o que TAS ensinava era para levar seus ouvintes e leitores de volta para o próprio Cristo e para Sua cruz. Nada mais importa.

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John Nelson Darby Vida cristã

A fé uma vez dada (J. N. Darby)

Porém, é só sobre a base da redenção que Deus habita com o homem. Deus não habitou com Adão, quando ele estava no seu estado de inocência, nem com Abraão, apesar de o ter visitado e comido com ele. Porém, quando Israel saiu do Egito, Deus disse que os tirava para Si Mesmo, e “habitarei no meio deles”. E o tabernáculo foi edificado, e nele estava a presença de Deus no meio do Seu povo.

Certamente, agora temos plena e verdadeira redenção e o Espírito Santo veio para habitar nos que crêem, para que eles pudessem ser a expressão daquilo que Cristo Mesmo foi quando aqui andou. “Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus” (1 João 4:15), e “nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do Seu Espírito” (1 João 4:13). Sempre que uma pessoa é realmente um cristão, Deus habita nele; não é meramente o caso de ter vida, mas de ter sido selado com o Espírito Santo, que é poder para toda a conduta moral. Se tão somente pudessemos crer que o Espírito de Deus habita em nós, que sujeição na haveria, e que espécie de pessoas seríamos, não entristecendo o Espírito!

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Extraído do livro A fé que uma vez foi dada aos santos, de John Nelson Darby, publicado pelo Depósito de Literatura Cristã.

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Andrew Murray Cristo Encorajamento

Cristo, nosso exemplo de obediência (Andrew Murray)

“Assim, também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos” (Rm 5.19). Estas palavras nos revelam o que recebemos graças à obra de Cristo. Da mesma forma como o fato de estarmos em Adão nos torna pecadores, por estarmos em Cristo somos feitos justos.

Essas palavras também nos revelam exatamente o que é em Cristo que nos torna justos. Assim como a desobediência de Adão nos deu a natureza de pecador, a obediência de Cristo nos faz justos. Nós devemos tudo à obediência de Cristo.

Entre todos os tesouros da nossa herança em Cristo, este é um dos mais ricos. Quantas pessoas nunca o estudaram, a tal ponto de amá-lo e se deleitar nele, e assim obter dele a bênção completa!

Ao estudarmos o papel da obediência de Cristo na sua obra para nos salvar, veremos nela a verdadeira raiz da nossa redenção e saberemos dar-lhe o devido lugar no nosso coração e na nossa vida.

“…por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores.” Como foi isso?

A única coisa que Deus pediu a Adão no paraíso foi obediência. A única coisa através da qual uma criatura pode glorificar a Deus ou gozar do seu favor e sua bênção é a obediência. A única causa do poder que o pecado conseguiu no mundo e da ruína que ele desencadeou – é a desobediência. Toda a maldição do pecado que recai sobre nós é devido à desobediência a nós imputada. Todo o poder do pecado que opera em nós nada mais é que isto: que ao recebermos a natureza de Adão, herdamos também a sua desobediência e, conseqüentemente, nascemos já como “filhos da desobediência”.

É evidente que a única obra para a qual seria necessário que Cristo viesse era, precisamente, remover essa desobediência – com sua maldição, seu domínio, sua natureza e suas obras más. A desobediência é a raiz de todo pecado e miséria. O primeiro objetivo da sua obra salvadora foi cortar de vez a raiz do mal e restaurar o homem para o seu destino original: uma vida em obediência ao seu Deus.

Como Cristo Fez Isso?

Em primeiro lugar, ele o fez vindo como o segundo Adão para desfazer o que o primeiro tinha feito. O pecado nos fez acreditar que era uma humilhação sempre ter que buscar e fazer a vontade de Deus. Cristo veio para nos mostrar a nobreza, a bênção, o caráter celestial da obediência.

Quando Deus nos deu o manto de criatura para usar, não sabíamos que sua beleza, sua pureza imaculada, era a obediência a Deus. Cristo veio e vestiu aquele manto para nos mostrar como usá-lo e como, através dele, podíamos entrar na presença e glória de Deus. Cristo veio para vencer e, assim, carregar para longe nossa desobediência, substituindo-a com sua própria obediência sobre nós e em nós. O poder da obediência de Cristo seria tão universal, tão poderoso e tão profundamente arraigado quanto a desobediência de Adão – sim, e muito mais ainda!

O objetivo da vida de obediência de Cristo era triplo: (1) Como um exemplo, para mostrar-nos o que é a verdadeira obediência; (2) Como nossa garantia, satisfazendo pela sua obediência toda a exigência da justiça divina por nós; (3) Como nossa Cabeça, para preparar uma natureza nova e obediente a ser comunicada para nós.

Obediência é Salvação

Cada pessoa que quiser compreender plenamente o que é obediência deve considerar bem o seguinte: é a obediência de Cristo que é o segredo da justiça e da salvação que encontro nele. A obediência é a verdadeira essência dessa justiça: obediência é salvação. Em primeiro lugar, preciso aceitar, confiar e regozijar-me na obediência de Cristo para cobrir, engolir e aniquilar terminantemente toda minha desobediência. Essa precisa ser a base inabalável, invariável, jamais esquecida, da minha aceitação por Deus. E, depois, a obediência dele torna-se o poder de vida da nova natureza em mim – assim como a desobediência de Adão era o poder que me governava até então.

A minha sujeição à obediência é a única maneira que posso manter a minha relação com Deus e com a justiça. A obediência de Cristo à justiça é o único começo de vida para mim; minha obediência à justiça é sua única continuação. Há somente uma lei para a cabeça e para os membros. Tão certamente como a desobediência e a morte foram a lei para Adão e sua semente, a obediência e a vida o são para Cristo e sua descendência.

O único vínculo, a única marca de semelhança, entre Adão e a sua semente é a desobediência. O único elo de ligação entre Cristo e sua semente, a única marca de semelhança, é a obediência.

Examine a Obediência de Cristo

Em Cristo, essa obediência era um princípio de vida. A obediência para ele não era um ato individual de obediência de vez em quando, nem mesmo uma série de atos, mas o espírito de toda sua vida. “Eu não vim para fazer a minha vontade.” “Eis que venho para fazer a tua vontade, ó Deus.” Ele veio ao mundo com um único propósito. Ele vivia somente para fazer a vontade de Deus. O poder supremo, a força mestre de toda sua vida, era a obediência.

Ele deseja produzir o mesmo em nós. Foi isso que prometeu quando disse: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu, este é meu irmão e irmã e mãe.”

O vínculo dentro de uma família é a vida comum compartilhada por todos e uma semelhança familiar. O elo entre Cristo e nós é que ele e nós juntos fazemos a vontade de Deus.

Em Cristo, essa obediência era uma alegria. “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus.” “Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou.”

Nossa comida é refrigério e revigoramento. O homem saudável come seu pão com alegria. Mas comida é mais do que prazer – é uma necessidade vital. Da mesma forma, fazer a vontade de Deus era a comida da qual Cristo sentia fome e sem a qual ele não podia viver. Era a única coisa que satisfazia sua fome, que o refrescava, o fortalecia e o tornava feliz.

Em Cristo, essa obediência levava a uma espera pela vontade de Deus. Deus não revelou toda a sua vontade a Cristo de uma só vez e, sim, dia a dia, de acordo com as circunstâncias da ocasião. Na sua vida de obediência, havia crescimento e progresso; a lição mais difícil veio por último. Cada ato de obediência o preparava para a nova descoberta do próximo comando de Deus. Ele disse: “Tu abriste os meus ouvidos; alegro-me em fazer a tua vontade, ó Deus.”

É quando a obediência se torna a paixão da nossa vida que nossos ouvidos serão abertos pelo Espírito de Deus para aguardar os seus ensinamentos, e não nos contentaremos com nada menos que uma orientação divina para nos conduzir à vontade de Deus para nós.

Em Cristo, essa obediência foi até a morte. Quando ele disse: “Eu não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”, ele estava pronto para ir às últimas conseqüências para negar a sua própria vontade e fazer a vontade do Pai. Ele não estava brincando. “Em nada a minha vontade; a todo custo a vontade de Deus.”

Esta é a obediência para a qual ele nos convida e nos capacita. Essa entrega de coração à obediência em tudo é a única verdadeira obediência, a única força capaz de nos levar à vitória. Quem dera que os cristãos compreendessem que nada menos do que isso é o que traz alegria e força para a alma!

Em Cristo, essa obediência nascia da mais profunda humildade. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que esvaziou-se a si mesmo… que tomou a forma de servo… que humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte.”

Ao homem que está disposto a se esvaziar por completo, a se tornar e a viver como servo, “um servo obediente”, a se humilhar profundamente diante de Deus e dos homens – é para este homem que a obediência de Jesus descortinará toda sua beleza celestial e seu poder constrangedor.

Pode ser que haja em nós uma vontade muito forte que secretamente confia em si mesmo e que falha nos seus esforços para obedecer. É quando caímos cada vez mais baixo diante de Deus em humildade, em mansidão, em paciência, em total resignação à sua vontade, dispostos a nos curvar em absoluta incapacidade e dependência dele, que nos será revelado que a única obrigação e bênção de uma criatura é obedecer a este glorioso Deus!

Em Cristo, essa obediência provinha da fé em total dependência da força de Deus. “Eu não faço nada por mim mesmo.” “O Pai que está em mim é quem faz as obras.”

A resposta à entrega sem reservas do Filho à vontade do Pai foi a concessão ininterrupta e irrestrita pelo Pai de todo o seu poder para operar nele.

Assim também será conosco. Se aprendermos que a proporção em que desistirmos da nossa própria vontade será sempre a mesma medida da concessão do seu poder a nós, veremos que uma rendição à obediência total nada mais é que uma fé completa de que Deus haverá de operar tudo em nós.

Vamos fixar a nossa atenção em Cristo, examinando-o como servo obediente e confiando nele como nunca antes. Seja este o Cristo que recebemos e amamos, e com quem procuramos nos parecer. Como a sua justiça é a nossa esperança, deixemos que a sua obediência seja nosso único desejo. Que nossa fé nele, com sinceridade e confiança no poder sobrenatural de Deus operando em nós, aceite Cristo, o obediente, verdadeiramente como nossa vida, aquele que habita em nós.

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Extraído de The School of Obedience (A Escola da Obediência), de Andrew Murray (1828-1917), ministro, missionário e autor na África do Sul.

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A. W. Tozer Biografia

A. W. Tozer, um profeta do século 20

“Penso que minha filosofia seja esta: tudo está errado até que Deus endireite.”

Esta afirmação do Dr. A. W. Tozer resume perfeitamente a sua crença e o que ele tentou realizar durante seus anos de ministério. Sua pregação e seus livros concentraram-se inteiramente em Deus. Ele não tinha tempo para mercenários religiosos que inventavam novas formas para promover suas mercadorias e subir nas estatísticas. Tozer marchou ao ritmo de uma batida diferente e, por esta razão, normalmente não acompanhava os passos de muitas das pessoas que participavam de desfiles religiosos.

No entanto, foi esta excentricidade cristã que nos fez amá-lo e apreciá-lo. Ele não tinha receio em apontar o que era errado. Nem hesitou em dizer como Deus poderia endireitar todas as coisas. Se é que um sermão pode ser comparado à luz, então, A. W. Tozer emitia raios laser do púlpito, um feixe de luz que penetrava o nosso coração, exauria nossa consciência, expunha nossos pecados e nos fazia clamar: “O que devo fazer para ser salvo?” A resposta era sempre a mesma: entregar-se a Cristo; procurar conhecê-lo de forma pessoal; crescer para tornar-se como Ele.

Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (naquele tempo conhecida como La Jose), Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897. Em 1912, sua família deixou a fazenda e foi para Akron, Ohio; e, em 1915, ele se converteu a Cristo. No mesmo instante passou a levar uma vida fervorosa de devoção e testemunho pessoal. Em 1919, começou a pastorear a Alliance Church, em Nutter Fort, West Virginia. Também pastoreou igrejas em Morgantown, West Virginia; Toledo; Ohio; Indianapolis, Indiana; e, em 1928, foi para a Southside Alliance Church, em Chicago. Ali, ministrou até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da Avenue Road Church, em Toronto, no Canadá. Um ataque cardíaco, em 12 de maio de 1963, pôs fim àquele ministério, e Tozer foi chamado para a Glória.

Tozer alcançou um número maior de pessoas por intermédio de suas obras do que por suas pregações. Grande parte do que escreveu era refletido na pregação de pastores que alimentavam a alma com as palavras de Tozer. Em maio de 1950, foi nomeado editor de The Alliance Weekly, agora conhecida como The Alliance Witness, que provavelmente foi a única revista religiosa a ser adquirida graças, sobretudo, aos seus editoriais. Certa vez, o Dr. Tozer, em uma conferência na Evangelical Press Association (Associação da Imprensa Evangélica), censurou alguns editores que praticavam o que ele chamava de “jornalismo de supermercado” – duas colunas de propagandas e uma nota de material para leitura. Era um escritor exigente e tão duro consigo mesmo quanto com os outros.

O que há nas obras de A. W. Tozer que nos prende a atenção e nos cativa? Primeiro, ele Tozer escrevia com convicção. Não estava interessado nos cristãos superficiais de Atenas que estavam à procura de algo novo. Tozer mergulhou novamente nas antigas fontes e nos chamou de volta às veredas do passado, tendo plena convicção e colocando em prática as verdades que ensinava.

Tozer era um místico cristão em uma época pragmática e materialista. Ele ainda nos convida a ver aquele verdadeiro mundo das coisas espirituais que transcendem o mundo material que tanto nos atraem. Suplica para que agrademos a Deus enos esqueçamos da multidão. Ele nos implora que adoremos a Deus de modo que nos tornemos mais parecidos com Ele. Como esta mensagem é desesperadamente necessária em nossos dias!

A. W. Tozer recebeu a dádiva de compreender uma verdade espiritual e erguê-la para a luz para que, como um diamante, cada faceta fosse observada e admirada. Ele não se perdeu nos pântanos da homilética; o vento do Espírito soprava e ossos mortos reviviam. Suas obras eram como graciosos camafeus cujo valor não se avalia por seu tamanho.

Sua pregação se caracterizava pela intensidade espiritual que penetrava no coração do ouvinte e o ajudava a ver Deus. Feliz é o cristão que possui um livro de Tozer à mão quando sua alma está sedenta e ele sente que Deus está longe.

Tozer, em suas obras, nos entusiasma tanto sobre a verdade que nos esquecemos de Tozer e tratamos de pegar a Bíblia. Ele mesmo sempre dizia que o melhor livro é aquele que faz o leitor parar e pensar por si mesmo. Tozer é como um prisma que concentra a luz e depois revela sua beleza.

(Adaptado da Introdução do livro O Melhor de Tozer, vol. 2. © CCC Edições, 2001.)

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A. W. Pink Criação Estudo bíblico

Gênesis 1 – A origem (A. W. Pink)

Em nossa primeira meditação sobre este maravilhoso livro das origens, apontamos para algumas das surpreendentes analogias que existem entre a ordem seguida por Deus em Sua obra da criação e Seu método de ação na “nova criação”, a criação espiritual do crente. Primeiro houve trevas, depois a ação do Espírito Santo, então, a palavra de poder entrou em ação, e depois, luz como resultado, e mais tarde, ressurreição e frutos. Há também uma surpreendente prefiguração do grande tratamento dispensacional da nossa raça neste registro de Sua obra em seis dias, mas como isso já recebeu atenção de canetas mais capazes que a nossa, passamos para ainda outra aplicação prática desta escritura. Há muito sobre Cristo neste primeiro capítulo de Gênesis se somente tivermos olhos para ver, e é à típica inferência prática de Gênesis 1 em relação a Cristo e Sua obra que vamos, aqui, dirigir a atenção.
Cristo é a chave que abre as portas de ouro do templo da verdade Divina. “Examinai as Escrituras”, é Sua ordem, “pois são elas que testificam de Mim”. E novamente, Ele declara, “No rolo do Livro está escrito de Mim”. Em cada seção da Palavra escrita, a Palavra Pessoal está preservada como sagrada – tanto em Gênesis como em Mateus. E, agora, vamos afirmar que na fachada da Revelação Divina, temos um “ plano de ação simbólico de todo o trabalho de Redenção”.

Nas afirmações iniciais deste capítulo descobrimos, em símbolo, a grande necessidade de Redenção.” No início, Deus criou os céus e a terra”. Isto nos leva de volta à criação primeira a qual, como tudo que vem da mão de Deus, deve Ter sido perfeita, maravilhosa, gloriosa. Assim também foi a condição original do homem. Feito à imagem do Seu Criador, enriquecido com o sopro de Elohim, ele foi declarado como “ muito bom”.

Mas as palavras seguintes apresentam um quadro muito diferente -“E a terra era sem forma e vazia”, ou, como no original Hebraico, poderia ser traduzido mais literalmente como : “A terra tornou-se um caos”. Entre os dois primeiros versos de Gênesis 1, uma terrível calamidade aconteceu. O pecado entrou no universo. O coração do mais poderoso de todas as criaturas de Deus encheu-se de orgulho – Satanás ousou opor-se à vontade do Todo-Poderoso. Os efeitos desastrosos de sua queda alcançaram a nossa terra, e o que foi originalmente criado por Deus como perfeito e maravilhoso, tornou-se em ruína. Os efeitos do seu pecado, do mesmo modo, atingiram muito mais do que a si mesmo – as gerações de uma humanidade ainda por nascer foi amaldiçoada como a consequência de seus primeiros pais. “Havia trevas sobre a face do abismo”. Trevas são o oposto de luz. Deus é Luz. Trevas são o emblema de satanás.

Essas palavras descrevem bem a condição natural da nossa raça caída. Judicialmente separada de Deus, moral e espiritualmente cega, experimentalmente escravos de satanás, uma terrível mortalha de trevas está colocada sobre a massa de uma humanidade não-regenerada. Mas isto somente preenche um pano de fundo negro sobre o qual podem ser colocadas as glórias da Graça Divina. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. O método desta “superabundância de graça” está simbolicamente delineado na obra de Deus durante os seis dias. No trabalho dos quatro primeiros dias, temos uma memorável prefiguração dos quatro grande estágios na obra de Redenção. Agora não podemos fazer muito mais do que chamar a atenção para os contornos deste maravilhoso quadro primitivo. Mas, à medida que dele nos aproximamos, para observá-lo em temor e admiração, possa o espírito de Deus selecionar as realizações de Cristo e mostrá-las a nós.

I – No trabalho do primeiro dia, a Encarnação Divina é , simbolicamente declarada.

Se homens caídos e cheios de pecado devem ser reconciliados com o Santo Deus Triuno, o que deve ser feito? Como pode ser transposto o infinito abismo que separa a Divindade da humanidade? Que escada poderá ser colocada aqui na terra para se chegar precisamente no céu? Só uma resposta é possível a essas perguntas. O passo inicial na obra da redenção humana deve ser a Encarnação da Divindade. Necessariamente, este deve ser o ponto de partida. O Verbo deve se tornar carne. O próprio Deus deve descer até o fundo do poço onde, desprotegidamente, se encontra a humanidade arruinada, se é que deve ser resgatada do barro grudento e transportada para lugares celestiais. O Filho de Deus deve assumir, em si mesmo, a forma de servo e ser feito em semelhança de homens.

Isto é precisamente o que a obra do 1º dia tipifica na prefiguração do passo inicial da Obra de Redenção, também chamado de Encarnação do Divino Redentor. Observe, agora, 5 pontos:

1: há o trabalho do “Espírito Santo”. “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (v 2). Do mesmo modo foi a ordem seguida na Encarnação Divina. Em relação à mãe do Salvador lemos: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” Lc 1:35.

2: a palavra se manifesta como Luz. ”Disse (palavra) Deus: Haja luz; e houve luz” (v3) . Do mesmo modo, quando Maria mostra a Santa Criança: “A glória do Senhor brilhou ao redor deles” Lc 2:9. E quando Ele é apresentado no templo, Simeão foi movido pelo Espírito Santo para dizer: “Porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos; luz para revelação dos gentios, e para glória do teu povo de Israel” Lc 2:30.

3: a luz é aprovada por Deus, “E viu Deus que a luz era boa”(v4). Nós não podemos, agora, ampliar muito a profunda importância simbólica desta declaração, mas gostaríamos de observar que a palavra hebraica aqui traduzida “boa” também aparece em Eclesiastes 3:11 como “formosa” – “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo. Deus viu que a luz era boa, formosa! Como é obvia esta aplicação prática do nosso Senhor Encarnado! Depois de Sua chegada neste mundo, ficamos sabendo que “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2:52), e que as primeiras palavras do Pai em relação a Ele foram, “Este é o Meu Filho amado em quem me comprazo”. Sim, boa e formosa foi a luz na percepção espiritual do Pai. Quão cego estava o homem para não ver Nele nenhuma formosura para desejá-lo!

4: a luz foi separada das trevas, ”E (Deus) fez separação entre a luz e as trevas” (v4). Como o Espírito Santo é vigilante ao proteger os tipos! Como Ele é cuidadoso ao chamar nossa atenção para a diferença imensurável entre o Filho do Homem e os filhos dos homens! Embora em Sua infinita condescendência Ele se visse apto para participar de nossa humanidade, contudo Ele não experimentou nossa depravação. A luz de Cristo foi separada das trevas (humanidade caída). “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores” (hb 7:26).

5: a luz foi chamada por Deus – “Chamou Deus à luz Dia” (v5). Portanto, a luz também estava com Ele que é a Luz do Mundo. Não foi permitido a José e Maria escolherem o nome da Santa Criança. No Antigo Testamento, o profeta havia declarado, “Ouvi-me, terras do mar, e vós, povos de longe, escutai! O Senhor me chamou desde o meu nascimento, desde o ventre de minha mãe fez menção de meu nome”; (Is 49:1). E para o cumprimento desta profecia, enquanto ainda no ventre de Sua mãe, um anjo é mandado por Deus a José dizendo: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus” (Mt 1:21).

II – Na obra do segundo dia a Cruz de Cristo é simbolicamente apresentada.
Qual foi a etapa seguinte necessária à realização da Obra de Redenção? A Encarnação em si não satisfaria a nossa necessidade. “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra , não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”. (Jo 12:24). O Cristo encarnado revela a vida perfeita e imaculada que por si só entra em contato com a mente de Deus, mas não ajuda a atravessar o espaço intransponível entre um Deus Santo e um pecador arruinado. Para tal, o pecado deve ser afastado, e isto não pode ser feito a não ser que a morte entre em cena. “Pois sem o derramamento de sangue não há remissão”. O cordeiro deve ser morto. O Santo deve entregar Sua vida. A Cruz é o único lugar onde as exigências justas do trono de Deus podem ser satisfeitas.

Na obra do segundo dia, esta segunda etapa na realização da redenção humana é simbolicamente apresentada. O acontecimento importante na obra deste segundo dia é a divisão, separação, isolamento. “E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez”. (v 6,7 ). É surpreendente perceber aqui que há uma divisão dupla: primeiro, há um firmamento no meio das águas e este firmamento divide as águas das águas e, segundo, o firmamento dividiu as águas que estavam debaixo dele das que estavam sobre ele. Cremos que o “firmamento”, aqui, tipifica a Cruz , e apresenta seu duplo aspecto. Lá, nosso abençoado Senhor foi dividido ou separado do próprio Deus – “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” e, também lá (na cruz), Ele foi separado do homem “Cortado da terra dos viventes” (Is 53:8).

Que o “firmamento”, aqui, realmente prefigura a Cruz, está claramente sustentado pela maravilhosa analogia entre o que aqui é nos contado a seu respeito e a sua concordância simbólica com a Cruz de Cristo. Observe quatro aspectos:

1: o firmamento foi o propósito de Deus antes de ser realmente feito. No verso 6, lê-se: “E disse Deus: Haja firmamento…”, e no verso 7, “Fez, pois, Deus o firmamento…”. Como é perfeita a relação entre aquilo que prefigura o tipo e aquilo que é prefigurado no tipo (antitipo).

Muito, mas muito tempo antes que a cruz fosse erigida nas alturas do Gólgota, já era o propósito de Deus. Cristo foi “O Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. (Ap 13:8).

2: o firmamento foi estabelecido no meio das águas. É bem sabido entre os estudiosos da Bíblia que na Escritura “águas” simboliza povos, nações (Ap 17:15). Na sua aplicação simbólica, portanto, estas palavras poderiam significar “Deixe a Cruz ser colocada no meio dos povos”. Múltiplas são as aplicações sugeridas por estas palavras. Mas, infinitamente mais exato, é o tipo. Nossas mentes, imediatamente, voltam-se às palavras “onde O crucificaram e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio” (Jo 19:18). A situação geográfica do Calvário é do mesmo modo materialização de uma realidade: a Palestina é praticamente o centro ou o meio da terra.

3: o firmamento dividiu as águas. Portanto, a Cruz dividiu os “povos”. A Cruz de Cristo é o grande divisor da humanidade. Foi assim historicamente, o ladrão que creu, do ladrão impotente (desprotegido). Assim foi desde aquele dia e assim é hoje. Por um lado, “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem”, mas, por outro lado, “mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”. (I cor 1:18)

4: o firmamento foi designado por Deus. “E Deus fez o firmamento”. Também assim foi anunciado no Dia de Pentecostes em relação ao Senhor Jesus Cristo. “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (Atos 2:23). Do mesmo modo foi declarado no tempo antigo, “Agradou ao Senhor ferí-lo; colocou sobre Ele o sofrimento”. A Cruz foi desígnio e compromisso divino.
Também não é profundamente significativo que as palavras, “E Deus viu que era bom” tenham sido omitidas no final da obra do segundo dia? Se elas aqui fossem incluídas o símbolo teria sido destruído. A obra do segundo dia apontava para a Cruz e, na Cruz, Deus estava lidando com o pecado. Ali, sua ira estava sendo usada sobre o Justo, o qual estava morrendo pelo injusto. Embora Ele não tivesse nenhum pecado, ainda assim Ele “foi feito pecado por nós.
Portanto, a omissão, neste ponto, da usual expressão “Deus viu que era bom” assume um significado mais profundo do que aquele até então admitido.

III – na obra do terceiro dia a Ressurreição do Senhor é simbolicamente apresentada.
Nosso artigo já excedeu os limites que originalmente estabelecemos, portanto, forçosamente devemos abreviá-lo.
A terceira etapa necessária para a realização da obra de Redenção foi a Ressurreição do Crucificado. Um Senhor morto não poderia salvar ninguém. “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus…”Por que? “vivendo sempre…” (Hb 7:25).

Desta maneira está em nosso símbolo. Acima de qualquer dúvida, aquilo que foi prefigurado na obra do terceiro dia é a Ressurreição. No registro concernente ao terceiro dia é que lemos “e apreça a porção seca” (v 9). Antes disso havia estado submersa, enterrada sob as águas. Mas, agora, a porção seca é levantada acima dos mares; há ressurreição, a terra aparece. Mas isto não é tudo. No verso 11 lemos, “Produza a terra relva…”. Até este ponto a morte reinava suprema. Nenhuma forma de vida aparecia sobre a superfície da terra devastada. Mas, no terceiro dia, à terra é ordenado “produzir”. Não no segundo nem no quarto, mas no terceiro dia, a vida foi vista sobre a terra devastada! Perfeito é o símbolo para todos que têm olhos para ver. Maravilhosamente significativas são as palavras, “produza a terra” para aqueles que têm ouvidos para ouvir. Foi no terceiro dia que nosso Senhor ressurgiu dentre os mortos, de acordo com as Escrituras. De acordo com quais Escrituras? Nós não temos nestes versos 9 e 11 de Gênesis 1, o primeiro dessas escrituras, bem como o quadro original da Ressurreição de nosso Senhor?

IV – Na obra do quarto dia a Ascensão do Senhor é simbolicamente sugerida.
A Ressurreição não completou o trabalho de Redenção de nosso Senhor. Para tal Ele deveria entrar no Lugar Celestial que não fosse feito por mãos. Ele deveria tomar Seu lugar à mão direita da Majestade nas alturas. Ele deveria ir “para o mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus” (Hb 9:24).

Mais uma vez vemos que Tipo corresponde ao Antitipo. Na obra do quarto dia nossos olhos são removidos da terra e todos seus afazeres se voltam para os céus! (veja os versos 14–19) . À medida que lemos estes versos e deduzimos algo de sua importância tipológica, não vimos o Espírito Santo dizer, “Buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive assentado à direita de Deus. Pensai nas cousas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3: 1,2) .

E à medida que levantamos nossos olhos em direção aos céus, o que vemos? Duas grandes luzes – simbolicamente Deus e seu povo. O sol que nos fala de “Sol da Justiça” (Ml 4:2), e a lua que fala de Israel e da Igreja (Ap 12:1), tomando emprestado e refletindo a luz do sol. E observe suas funções: primeiro, eles existem “para alumiarem a terra” (v 18). Do mesmo modo acontece com Cristo e seu povo. Durante o presente intervalo de trevas, a noite do mundo, Cristo e Seu povo são “a luz do mundo”, mas durante o Milênio eles vão governar e reinar sobre a terra.

Portanto, na obra dos quatro primeiros dias de Gênesis 1, vimos a prefiguração dos quatro grandes estágios ou crises na realização da Obra de Redenção. A Encarnação, a Morte, a Ressurreição e a Ascensão de nosso abençoado Senhor estão, respectivamente, tipificadas. À luz desta prefiguração, quão preciosa são as palavras no final da obra de seis dias: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito”(Gn 2:1,2). A obra da Redenção está completa, e nesta obra Deus encontrou Seu descanso!

Como vamos continuar nossas meditações sobre o livro de Gênesis, possa Deus, em Sua graça misericordiosa, revelar-nos “os aspectos maravilhosos de sua Lei”.

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Dinheiro Igreja Vida cristã Watchman Nee

A questão das finanças (Watchman Nee)

A distinção entre a igreja e a obra deve ser claramente definida na mente do obreiro, especialmente com relação às questões financeiras. Se um obreiro fizer uma visita rápida a certo lugar a convite da igreja, então, é bem correto que ele receba hospitalidade dela. Mas se ficar por tempo indeterminado, deve assumir o encargo sozinho diante de Deus; doutro modo, sua fé em Deus minguará. Mesmo que um irmão voluntariamente lhe ofereça hospitalidade gratuita, esta deve ser declinada, pois a vida de fé deve ser cuidadosamente mantida.

É correto que os irmãos dêem ofertas ocasionais aos obreiros, como fizeram os filipenses para com Paulo, mas eles não devem assumir a responsabilidade por nenhum obreiro. As igrejas não tem obrigações oficiais por nenhum obreiro, e estes devem atentar para que elas não assumam tais obrigações. Deus nos permite aceitar ofertas, mas não é a Sua vontade que outros se tornem responsáveis por nós.

Ofertas de amor podem ser enviadas aos obreiros dos seus irmãos no Senhor, mas nenhum cristão devem considerar-se sob obrigação legal para com eles. Não são responsáveis nem por sua alimentação, hospedagem e despesas de viagens. A total responsabilidade financeira da obra repousa sobre os ombros daqueles a quem a obra foi comissionada por Deus

Não é digno de ser chamado servo de Deus quem não pode ser responsável pelas próprias necessidades e pela necessidades da obra a que Deus o chamou. Não é a igreja local, e sim, aquele a quem a obra foi comissionada, que deve arcar com todos os encargos financeiros ligados a ela.

(A Vida Cristã Normal da Igreja, Watchman Nee, Editora Árvore da Vida)

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Evangelho Martin Lloyd-Jones

A apresentação do evangelho (Martin Lloyd-Jones)

A apresentação do evangelho é assunto sempre importante, pelas consequências eternas que dependem da nossa atitude para com o evangelho. Para mim não há necessidade de argumentar que é especialmente importante nos dias atuais por duas razões: a apostasia geral, o fracasso da parte das igrejas em não apresentarem o evangelho de Jesus do modo como deveria ser apresentado; e a consequente impiedade e o consumado materialismo que crescentemente, caracterizam a vida do povo. Também é um assunto de urgente importância, em face da natureza dos tempos pelos quais estamos passando. A vida é sempre incerta, mas é excepcionalmente incerta hoje. (…)

Que privilégio maravilhoso o Senhor Deus Todo-poderoso confiar a homens como nós esta obra de propagar e pregar o evangelho! Ao mesmo tempo é uma responsabilidade tremenda. (…)

Este assunto é tão amplo e importante que, obviamente, é impossível tratar dele adequadamente numa só preleção. Tudo o que posso fazer é selecionar o que considero como alguns dos mais importantes princípios relacionados com ele; procurarei ser tão prático quanto poder. (…)

Agora se me fosse pedido falar sobre este assunto em certos círculos, meu primeiro trabalho seria tentar definir a natureza do evangelho, e eu iria adiante e perguntaria: o que é o evangelho? Em muitos círculos as pessoas se extraviaram; caíram em heresias; pregam um evangelho que, para nós, não é evangelho nenhum. Pode ser que alguns de vocês perguntem: “Será necessário gastar tanto tempo no estudo da apresentação do evangelho? Não seria uma coisa que podemos considerar ponto pacífico? Se o homem crê no evangelho, ele está incumbido de apresentá-lo do jeito certo. Se um homem é ortodoxo e crê nas coisas certas, a sua aplicação do que ele crê é algo que cuidará de si mesmo”. Isso, para mim é um erro muito grave; e quem quer que seja tentado a falar assim, não somente ignora a sua própria fraqueza, porém, ainda mais, ignora o adversário das nossa almas, que está sempre tentando frustrar a obra de Deus.

(…) Tomo como prova dois exemplos: Há, por exemplo, homens que parecem evangélicos em sua crença e doutrina; são perfeitamente ortodoxos em sua fé e, todavia, a obra que realizam é completamente infrutífera. Jamais conseguem quaisquer resultados; nunca ficam sabendo de algum convertido resultante do seu trabalho e do seu ministério. Eles são tão firmes quanto você, entretanto o ministério deles não leva a nada. Por outro lado – e esta é a minha Segunda prova – há aqueles que parecem conseguir resultados fenomenais do seu trabalho e dos seus esforços. Empreendem uma campanha, ou pregam um sermão e, como resultado, há numerosas decisões por Cristo, ou o que eles chamam de “conversões”. Contudo, muitos desses resultados não duram; não são permanentes; são apenas de natureza temporária ou passageira. Qual a explicação desses dois casos? (…) Há uma lacuna entre o que o homem crê e o que ele apresenta em seu ensino ou pregação. O perigo quanto ao primeiro tipo é o de apenas falar ACERCA do evangelho, exulta nele; porém, em vez de pregar o evangelho, ele o elogia, diz coisas maravilhosas sobre ele. O tempo todo fica simplesmente falando sobre o evangelho, em vez de apresentar o evangelho. O resultado é que, embora o homem seja altamente ortodoxo e firme, o seu ministério não mostra resultado nenhum.

O perigo quanto ao segundo homem é o de interessar-se tanto e preocupar-se tanto pela aplicação do evangelho e pela obtenção de resultados, que deixa abrir-se uma brecha entre o que ele está apresentando (aquilo que ele crê) e a concreta obtenção dos resultados propriamente dito. Como eu disse, não basta você crer na verdade; você deve ter o cuidado de aplicar da maneira certa o que você crê.

Métodos de Estudo

Há dois meios principais pelos quais podemos estudar este assunto da apresentação do evangelho. O primeiro é estudar a Bíblia mesma, com especial referência a Atos dos apóstolos e às Epístolas do Novo Testamento. Isso deve ser posto em primeiro lugar, se queremos saber como se faz este trabalho. Devemos retornar ao nosso livro-texto, a Bíblia. Devemos retornar ao modelo primitivo, à norma, ao padrão. Em Atos, e nas Epístolas é-nos dito, uma vez por todas, o que é a Igreja Cristã e como é, e como se deve realizar a sua obra. Devemos sempre certificar-nos de que os nosso métodos estão em harmonia com o ensino do Novo Testamento.

O segundo método é suplementar; é fazer um estudo da história da Igreja Cristã subsequente aos tempos do Novo Testamento. Podemos concentrar-nos especialmente na história dos avivamentos e dos grandes despertamentos espirituais; e também podemos ler biografias dos homens que no passado foram grandemente honrados por Deus em sua apresentação do evangelho. Mas devemos notar aqui um princípio da maior importância. Quando digo que é bom fazer um retrospecto e ler a história do passado e as biografias de grandes homens que Deus usou no passado, espero que esteja claro em nossas mentes que precisamos retornar para além dos últimos 100 anos. Vejo muitos bons evangélicos que parecem ser de opinião que não houve nenhum real labor evangelístico até por volta de 1870. Há os que parecem pensar que não se conheceu obra evangelística antes do surgimento de Moody. Conquanto demos graças a Deus pela gloriosa obra realizada nos últimos 100 anos, eu os conclamo a fazerem um estudo completo da história pretérita da Igreja. Vão até o século dezoito. Vão até o tempo dos puritanos, e para mais atrás ainda, à Reforma Protestante. Retrocedam mais ainda, e estudem a história daqueles grupos de evangélicos que viveram no continente europeu na época em que o catolicismo romano detinha o poder supremo. Vão direto aos Pais Primitivos que defendiam idéias evangélicas. É uma história que pode ser rastreada ininterruptamente até a própria Igreja Primitiva. Esse estudo é de importância vital, para que não venhamos a supor, em função de uma falsa visão da história, que a obra evangelística só pode ser feita de uma certa maneira e com a aplicação e o uso de certos métodos.

Eu gostaria de recomendar a vocês um bem completo estudo daquele teólogo americano, Jonathan Edwards. Foi uma grande revelação para mim, descobrir que um homem que pregava como ele podia ser honrado por Deus como o foi, e Ter tão grandes resultados para o seu ministério como teve. Ele era um grande erudito e filósofo, que redigia cada palavra dos seus sermões. Tinha vista fraca, e costumava ficar no púlpito com o seu manuscrito numa das mãos e uma vela na outra e, conforme lia o seu sermão, homens não somente foram convertidos, mas alguns deles literalmente caíam no chão sob a convicção de pecado sob o poder do Espírito. Quando pensamos na obra evangelística em termos de evangelização popular dos 100 anos recém-passados, acho que poderíamos ser tentados a dizer que um homem que pregasse daquela maneira não teria a menor possibilidade de obter conversões . todavia, ele foi um homem usado por Deus no Grande Despertamento ocorrido no século 18. Assim, eu os concito a se entregarem completamente ao estudo da história da Igreja e das coisas grandiosas que Deus fez em várias eras e períodos. Aí estão, pois, as duas linhas mestras que seguiremos na abordagem deste assunto – o estudo da Bíblia e um estudo da Igreja Cristã.

Os Princípios Fundamentais

  1. O objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus
  2. . Esse é o ponto central. Esse ;é o objetivo que deve dominar e sobrepujar todos os demais. O primeiro objetivo da pregação do evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar.
  3. O único poder que realmente pode realizar esta obra é o Espírito Santo
  4. . Quaisquer que sejam os dons naturais que um homem possua , o que quer que um homem seja capaz de fazer como resultado das suas propensões naturais, o trabalho de apresentar o evangelho e de levar àquele supremo objetivo de glorificar a Deus na salvação dos homem, é um trabalho que só pode ser feito pelo Espírito Santo. Vocês vêem isso no próprio Novo Testamento. Sem o Espírito, é-nos dito, não podemos fazer nada. (Desde os tempos bíblicos até a história da igreja nos mostra que somente através da obra do Espírito Santo é que o evangelho foi pregado com poder e autoridade).

  5. O único e exclusivo meio pela qual o Espírito Santo opera é a Palavra de Deus
  6. . Isso é algo que se pode provar facilmente. Vejam o sermão que foi pregado por Pedro no dia de Pentecoste. O que ele fez realmente foi expor as Escrituras. Ele não se levantou para relatar as suas experiências pessoais. Ele deu a conhecer as Escrituras; esse foi sempre o seu método. E esse é também o método característico de Paulo, como se vê em Atos 17:2: “disputou com eles sobre as Escrituras”. No trato com o carcereiro de Filipos, vocês vêem que ele pregou-lhe Jesus Cristo e a Palavra do Senhor. Vocês recordarão as suas palavras na Primeira Epístola a Timóteo, onde ele diz que a vontade de Deus ;e que todos os homem sejam salvos e sejam levados ao conhecimento da verdade (1 Tm.2:4). O meio usado pelo Espírito Santo é a verdade.

  7. A verdadeira motivação para a evangelização deve provir da apreensão destes princípios
  8. . E, portanto, de um zelo pela honra e glória de Deus e de um amor pelas almas dos homens.

  9. Há um constante perigo de erro e de =heresia, mesmo entre os mais sinceros, e também o perigo de um falso zelo e do emprego de métodos antibíblicos
  10. . Não há nada sobre o que somos exortados mais vezes no Novo Testamento do que sobre a necessidade de constante auto-exame e de retorno às Escrituras.

Aí, penso eu, vocês têm cinco princípios fundamentais claramente ensinados na Palavra de Deus e confirmados profusamente na subsequente história da Igreja Cristã.

A Aplicação dos Princípios

Isto me leva à Segunda divisão principal do nosso assunto, que é a aplicação desses princípios à obra concreta da apresentação do evangelho. Este é um assunto que se divide naturalmente em duas partes principais. Há primeiro a obra de evangelização, e depois a obra de edificação e instrução na justiça.

A Evangelização e os Seus Perigos

  1. O primeiro é o de exaltar a decisão como tal, e este é um perigo especialmente quando vocês estão trabalhando com jovens (…). Mostra-se às vezes no uso da música. (…) Fiam-se na música e no cântico de coros para produzirem o efeito desejado e de ocasionarem decisão. (…) Há os que tem o Dom de contar histórias de maneira comovente e eficaz. Outros parecem por a sua confiança no encanto pessoal do orador.(…)
  2. O segundo perigo é que as pessoas podem chegar a uma decisão resultante de um falso motivo. Às vezes as pessoas se decidem por Cristo simplesmente porque estão desejosas de ter a experiência que outros tiveram (…) Ou pode ser o desejo de Ter este maravilhoso tipo de vida do qual lhe falaram. O evangelho de Jesus Cristo dá-nos uma vida da maravilhosa, e louvamos a Deus por isso, mas a verdadeira razão para nos tornarmos cristãos não é que tenhamos uma vida maravilhosa; é, antes, que estejamos em correta relação com Deus. Às vezes Cristo é apresentado como herói. (…) poderá ser que (…) se unam a nossa classe bíblica ou à nossa Igreja simplesmente porque a mensagem atraiu o seu instinto heróico. (…)
  3. E, a seguir, o último perigo que desejo acentuar sob o presente título, é a terrível falácia de apresentar o evangelho em termos de “Cristo precisa de você”, e de dar a impressão de que, se o rapaz não se decide por Cristo, é um mal sujeito. (…)

Devemos apresentar a verdade; esta terá que ser uma exposição positiva do ensino da Palavra de Deus. Primeiro e acima de tudo, devemos mostrar aos homens a condição em que se acham por natureza, à vista de Deus. Devemos levá-los a ver que, independentemente do que façamos e do que tenhamos feito, todos nós nascemos com “filhos da ira”; nascemos num estado de condenação, culpados aos olhos de Deus; fomos concebidos em pecado e fomos formados em iniquidade. Isso vem em primeiro lugar.

Feito isso, devemos prosseguir e demonstrar a enormidade do pecado. Não significa apenas que devemos mostrar a iniquidade de certos pecados. Não há nada que seja tão vital como a distinção entre pecado e pecados. (…) Depois devemos conclamar os nossos ouvintes a confessarem e a reconhecerem os seus pecados diante de Deus e dos homens. E então devemos ir adiante e apresentar a gloriosa e estupenda oferta de salvação gratuita , que se acha unicamente em Jesus Cristo, e Este crucificado. A única decisão, que é do mais diminuto valor, é a que se baseia na compreensão dessa verdade. Podemos fazer os homens se decidirem como resultado dos nossos cânticos, como resultado do encanto da nossa personalidade, mas o nosso dever não conseguir seguidores pessoais. O nosso dever não é simplesmente aumentar o tamanho das nossas classes de estudo da Bíblia ou das organizações e igrejas. O nosso dever é reconciliar almas com Deus. Repito que não há nenhum valor numa decisão que não esteja baseada na aceitação da verdade.

A Edificação

A minha Segunda subdivisão relacionada com a apresentação do evangelho é a obra de edificação. Este é um grande tema, e tudo o que eu posso fazer é simplesmente lançar certos princípios. Em nenhuma oura parte o perigo de um falso método é mais real do que esta particular questão de edificação, como o que me refiro ao ensino concernente à santificação e à santidade. Não se pode ler o Novo Testamento sem perceber logo Que a Igreja Primitiva reagia contra problemas, perigos e heresias incipientes que a assediavam. Havia os que diziam, por exemplo: “Continuemos no pecado para que a graça seja mais abundante”. Havia os que diziam que, contanto que você fosse cristão, não importava o que você tinha feito, que, contanto que você estivesse certo em suas crenças, o seu corpo não importava e você podia pecar o quanto quisesse. Isto é conhecido como antinomianismo. Havia os que se diziam sem pecados. Havia os que partiam em busca de “conhecimento”, que alegavam Ter alguma experiência esotérica especial que os outros , cristãos inferiores, ignoravam. (…)

Se posso fazer um sumário de todos esses perigos, é o perigo de isolar um texto ou uma idéia e construir um sistema em torno dele, em vez de comparar Escritura com Escritura. Isso é procurar atalho no mundo espiritual. As pessoas tentam chegar à santificação com um só movimento, e assim se privam do processo descrito no Novo Testamento. A maneira de evitar esse perigo é estudar o Novo Testamento, especialmente as Epístolas. Devemos ter o cuidado de não tomar um incidente dos Evangelhos e tecer uma teoria em torno dele(…) Devemos compreender que o nosso padrão nesta questão particular(santidade/santificação) acha-se nas Epístolas.(…)

Conclusão

Permitam-me resumir tudo o que eu venho tentando dizer, da maneira seguinte: se vocês quiserem ser competentes ministros do evangelho, se quiserem apresentar a verdade de modo certo e verdadeiro, terão que ser estudantes assíduos da Palavra de Deus, terão de lê-la sem cessar. Terão que ler todos os bons livros que os ajudem a entendê-la e os melhores comentários da Bíblia que puderem encontrar. Terão que ler o que denomino teologia bíblica, a explicação das grandes doutrinas do Novo Testamento, para que venham a entendê-las cada vez mais claramente e, daí, sejam capazes de apresentá-las com clareza cada vez maior aos que venham ouvi-los. A obra do ministério não consiste meramente em oferecer a nossa experiência pessoal, ou em falar das nossa vidas ou das vidas de outros, mas sim, em apresentar a verdade de Deus de maneira tão simples e clara quanto possível. E o jeito de fazer isso é estudar a Palavra e toda e qualquer coisa que nos ajude nessa tarefa suprema.

Talvez vocês me perguntem: quem é suficiente para estas coisas? Temos outras coisas que fazer; somos homens ocupados. Como poderemos fazer o que você nos pede que façamos? Minha resposta é que nenhum de nós é suficiente para estas coisas, todavia Deus pode capacitar-nos para fazê-las, se de fato estamos desejosos de servi-lO. Não me impressionam muito esses grandes argumentos de que vocês são homens ocupados, de que vocês têm que fazer muitas coisas no mundo e, por isso, não têm tempo de ler estes livros sobre a Bíblia e de estudar teologia, e por esta boa razão: alguns dos melhores teólogos que conheci, alguns dos mais santos, alguns dos homens mais culto, tiveram que trabalhar mais duro que qualquer de vocês e, ao mesmo tempo, foram-lhes negadas as vantagens que vocês gozam. “Querer é poder”. Se eu e vocês estivermos preocupados com as almas perdidas, jamais deveremos alegar que não temos tempo para preparar-nos para este grande ministério; temos que fabricar tempo. Temos que aparelhar-nos para a tarefa, consciente da séria e Terrível responsabilidade da obra. Temos que estudar, trabalhar, suar e orar para podermos conhecer a verdade cada vez mais e cada vez mais perfeitamente. Temos que pôr em prática em nossas vidas as palavras que se acham em 1 Tm.4:12-16. Conceda-nos Deus a graça e o poder para fazê-lo, para a honra e a glória do Seu santo nome.

Nota sobre o Autor: Martyn Lloyd-Jones tem sido descrito como “o melhor pregador comtemporâneo”. Aos 23 anos de idade era Chefe Assistente Clínico de Sir Thomas Horder, o médico do rei da Inglaterra. Inesperadamente aos 27 anos, voltou ao País de Gales, sua terra natal, com o coração ardendo pela salvação dos seus compatriotas. Depois de 12 anos pastoreando aquele rebanho, o “Doutor”, título pelo qual foi afetuosamente conhecido, voltou para Londres, onde ocupou por mais de 30 anos o púlpito da Capela de Westminster. Em 1981, o grande médico, pregador e l;íder cristão partiu para encontrar-se com Aquele que o chamara e capacitara, deixando-nos um legado que continua mantendo vivo sua obra a ministério. Ele foi um homem que, em termos da sua influência, viveu em vários mundos a um só tempo. De 1938 em diante, ele pastoreou uma igreja no centro de Londres. Simultaneamente, era comum fazer a obra de evangelista itinerante durante a semana, pregando em igreja a convites, ou às vezes participando de missões dirigidas aos estudantes. Centenas de pessoas que conheceram o Dr. Lloyd-Jones, podiam dizer com o Dr. James I. Packer: “Sei que, em grande parte, a minha visão atual é o que é porque ele foi o que foi e, sem dúvida, a sua influência foi mais profunda do que eu poderia delinear”.

Nota Final: Este texto foi transcrito parcialmente do livro “Discernindo os Tempos” Editado pela PES (com autorização).

(Extraído de http://www.geocities.com/zoenio/aapres.htm)

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Jonathan Edwards Vida cristã

Orgulho espiritual oculto [Jonathan Edwards (1703 – 1758)]

A primeira e a pior causa de erro que prevalece nos nossos dias é o orgulho espiritual. Essa é a principal porta que o diabo usa para entrar nos corações daqueles que têm zelo pelo avanço da causa de Cristo. É a principal via de entrada de fumaça venenosa que vem do abismo para escurecer a mente e desviar o juízo. É o meio que Satanás usa para controlar cristãos e obstruir uma obra de Deus. Até que essa doença seja curada, em vão se aplicarão remédios para resolver quaisquer outras enfermidades.

O orgulho é muito mais difícil de ser discernido do que qualquer outra fonte de corrupção porque, por sua própria natureza, leva a pessoa a ter um conceito alto demais de si própria. É alguma surpresa, então, verificar que a pessoa que pensa de si acima do que deve está totalmente inconsciente desse fato? Ela pensa, pelo contrário, que a opinião que tem de si está bem fundamentada e que, portanto, não é um conceito elevado demais. Como resultado, não existe outro assunto no qual o coração esteja mais enganado e mais difícil de ser sondado. A própria natureza do orgulho é criar autoconfiança e expulsar qualquer suspeita de mal em relação a si próprio.

O orgulho toma muitas formas e manifestações e envolve o coração como as camadas de uma cebola – ao se arrancar uma camada, existe outra por baixo dela. Por isto, precisamos ter a maior vigilância imaginável sobre nossos corações com respeito a essa questão e clamar àquele que sonda as profundezas do coração para que nos auxilie. Quem confia em seu próprio coração é insensato.
Como o orgulho espiritual é mascarado por natureza, geralmente não pode ser detectado por intuição imediata como aquilo que é mesmo. É mais fácil ser identificado por seus frutos e efeitos, alguns dos quais quero mencionar junto com os frutos opostos da humildade cristã.

A pessoa espiritualmente orgulhosa sente que já está cheia de luz, não necessitando assim de instrução. Assim, terá a tendência de prontamente rejeitar a oferta de ajuda nesse sentido. Por outro lado, a pessoa humilde é como uma pequena criança que facilmente recebe instrução. É cautelosa no seu conceito de si mesma, sensível à sua grande facilidade em se desviar. Se alguém lhe sugere que está, de fato, saindo do caminho reto, mostra pronta disposição em examinar a questão e ouvir as advertências.
As pessoas orgulhosas tendem a falar dos pecados dos outros: o terrível engano dos hipócritas, a falta de vida daqueles irmãos que têm amargura, a resistência de alguns crentes à santidade. A pura humildade cristã, porém, se cala sobre os pecados dos outros ou, no máximo, fala a respeito deles com tristeza e compaixão. A pessoa espiritualmente orgulhosa critica os outros cristãos por sua falta de crescimento na graça, enquanto o crente humilde vê tanta maldade em seu próprio coração, e se preocupa tanto com isso, que não tem muita atenção para dar aos corações dos outros. Queixa-se mais de si próprio e da sua própria frieza espiritual; sua esperança genuína é que todos os outros tenham mais amor e gratidão a Deus do que ele.

As pessoas espiritualmente orgulhosas falam freqüentemente de quase tudo que percebem nos outros em termos extremamente severos e ásperos. É comum dizerem que a opinião, conduta ou atitude de outra pessoa é do diabo ou do inferno. Muitas vezes, sua crítica é direcionada não só a pessoas ímpias, mas a verdadeiros filhos de Deus e a pessoas que são seus superiores. Os humildes, entretanto, mesmo quando recebem extraordinárias descobertas da glória de Deus, sentem-se esmagados pela sua própria indignidade e impureza. Suas exortações a outros cristãos são transmitidas de forma amorosa e humilde e, ao lidar com seus irmãos e companheiros, eles procuram tratá-los com a mesma humildade e mansidão com que Cristo, que está infinitamente superior a eles, os trata.

O orgulho espiritual comumente leva as pessoas a se comportarem de modo diferente na sua aparência exterior, a assumirem um jeito diferente de falar, de se expressar ou de agir. Por outro lado, o cristão humilde – mesmo sendo firme no seu dever, permanecendo sozinho no caminho do céu ainda que o mundo inteiro o abandone – não sente prazer em ser diferente só para ser diferente. Não procura se colocar numa posição onde possa ser visto e observado como uma pessoa distinta ou especial; muito pelo contrário, dispõe-se a ser todas as coisas a todas as pessoas, a ceder aos outros, a se adaptar aos outros e a agradá-los em tudo menos no pecado.
Pessoas orgulhosas dão muita atenção a oposição e a injúrias; tendem a falar dessas coisas freqüentemente com um ar de amargura ou desprezo. A humildade cristã, em contraste, leva a pessoa a ser mais semelhante ao seu bendito Senhor, o qual, quando foi maltratado não abriu sua boca, mas se entregou em silêncio àquele que julga retamente. Para o cristão humilde, quanto mais clamoroso e furioso o mundo se manifestar contra ele, mais silencioso e quieto ficará, com exceção de quando estiver no seu quarto de oração: lá ele não ficará calado.

Um outro padrão de pessoas espiritualmente orgulhosas é comportar-se de forma a torná-las o foco de atenção. É natural que a pessoa sob a influência do orgulho tome todo o respeito que lhe é oferecido. Se outros demonstram disposição de se submeterem a ela e a cederem em deferência a ela, esta pessoa receberá tais atitudes sem constrangimento. Na verdade, ela se habituou a esperar tal tratamento e a formar uma má opinião de quem não lhe oferece aquilo que pensa merecer.

Uma pessoa sob a influência de orgulho espiritual tende mais a instruir aos outros do que a fazer perguntas. Tal pessoa naturalmente assume ar de mestre. O cristão eminentemente humilde pensa que precisa de ajuda e todo o mundo, enquanto a pessoa espiritualmente orgulhosa acha que todos precisam do que ela tem para oferecer. A humildade cristã, sentindo o peso da miséria dos outros, suplica e implora; o orgulho espiritual, em contraste, ordena e adverte com autoridade.

Assim como o orgulho espiritual leva as pessoas a assumirem muita coisa para si mesmas, de forma semelhante as induz a tratar os outros com negligência. Por outro lado, a pura humildade cristã traz a disposição de honrar a todas as pessoas. Entrar em contendas a respeito do cristianismo por vezes é desaconselhável; no entanto, devemos tomar muito cuidado para não nos recusarmos a discutir com pessoas carnais por as acharmos indignas de nossa consideração. Pelo contrário, devemos condescender a pessoas carnais da mesma forma como Cristo condescendeu a nós – a fim de estar presente conosco na nossa indocilidade e estupidez.

(Jonathan Edwards era pastor puritano nas colônias inglesas da América do Norte no século XVIII. Acompanhou e participou do Grande Despertamento, um grande avivamento que atingiu as colônias norte-americanas, a Inglaterra e outros países, no qual George Whitefield e John Wesley também foram instrumentos. Foi autor e um dos maiores teólogos da sua geração. Este artigo foi traduzido e adaptado da sua obra: Some Thoughts concerning the Present Revival of Religion in New England [“Alguns Pensamentos a Respeito do Atual Avivamento Religioso na Nova Inglaterra”].

Fonte

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