Recentemente, num domingo à tarde, rodeado de muitos amados irmãos, enquanto eu lavava louça me vieram ao coração dois pensamentos.
1) Nosso ajuntamento cristão não tem aquilo que o mundo tem.
Quando cristãos – e aqui me refiro a cristãos sérios, bíblicos, que levam a santidade a sério, que têm temor do Senhor, que honram Seu nome por meio do viver prático que têm – estão juntos, em ambiente informal (num almoço ou numa convivência, por exemplo), não há aquilo que caracteriza eventos mundanos semelhantes: bebedeira, palavrões, insinuações maldosas, piadas de baixo calão, fofocas, adultérios, crianças largadas a si mesmas, etc. Cristãos que honram a Deus em todos os aspectos da vida, começando com a linguagem, reúnem-se e conversam amenidades, trocam idéias sobre as questões mundiais, dicas sobre educação de filhos, riem de si mesmos, buscam orientação profissional, trocam receitas, dicas de tratamento médico, corujices sobre os filhos… É aquilo que chamam de ambiente saudável.
Isso é, sem dúvida, para quem teme a Deus, mil vezes melhor do que um ambiente mundano típico. (Infelizmente, há muitos cristãos que se sentem completamente à vontade em ambientes mundanos, que os preferem àqueles “crentes”, que estão plenamente conformados a este mundo, pensando, falando, rindo, comendo, bebendo e vivendo como se a ele pertencessem.) Há ali segurança, respeito mútuo, alegria saudável, domínio próprio, ambiente propício para as crianças e tantas outras vantagens. É muito bom, é muito vantajoso estar em um lugar assim. E eu estava alegre com essa percepção e grato a Deus por estar ali.
Mas algo mais me veio ao coração:
2) Mas será que nosso ajuntamento cristão tem aquilo que o mundo não tem?
Isso me foi um choque instantâneo. O que há de distintivo, único, exclusivo dos cristãos? O que há nos cristãos que não há, de modo algum, naqueles que não obedecem à fé? A presença do Senhor Jesus, por meio do Espírito; a vida de Cristo Jesus habitando naqueles que Lhe pertencem. E é isto que faz a verdadeira e prática comunhão cristã: Cristo ser “servido” pelos cristãos uns aos outros. Quando Cristo é nosso centro e a esfera de nossa comunhão, podemos dizer que, de fato, estamos em comunhão. Do contrário, teremos, talvez, apenas um bom ajuntamento cristão (que, repito, em princípio é muito melhor do qualquer similar mundano).
Mas, tenho de reconhecer, é tão difícil termos genuína comunhão! É tão difícil sairmos da esfera natural, das coisas desta vida, e partilharmos das celestiais, daquilo que é nossa rica herança em Cristo, das riquezas insondáveis Daquele que nos salvou! Parece pouco espontâneo (perdoem-me se generalizo; falo, em primeiro lugar, de mim mesmo) voltar-se de um assunto desta vida para a Bíblia, como se fosse possível mantê-los separados, como se fossem antagônicos.
Como cristãos, temos algo único: um relacionamento vivo e real com Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo! Isso nenhum ajuntamento secular tem. No entanto, é possível que um ajuntamento de cristãos também não o tenha, caso não falemos entre nós “com salmos, e hinos e cânticos espirituais”, que é o modo de nos enchermos do Espírito (Ef 5.19); se não tivermos um falar que denuncie que estivemos com Jesus (At 4.13). Os primeiros discípulos não podiam deixar de falar do que tinham visto e ouvido (4.20). E nós, cristãos do século 21, por que deixamos tão facilmente? É possível que seja resultado de vermos e ouvirmos pouco nosso Senhor, de termos pouca comunhão com Ele, por Sua Palavra não habitar em nós ricamente (Cl 3.16), e, como a boca fala do que está cheio o coração…
Os primeiros cristãos caíram na graça de todo o povo (At 2.47), pois seu viver diário e prático não tinha aquilo que o mundo tinha ― era distinto, atraente. No entanto, “dos outros [os não-cristãos], porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (5.13), certamente porque naquele ajuntamento havia algo que no mundo não havia: Deus mesmo, real, manifestado palpavelmente por meio de Seus filhos ― um Deus tão santo que não tolerava mentira entre eles (vv. 1-11). As pessoas de fora viam, naquele novo grupo, características que as atraíam, mas percebiam que havia também uma realidade interior, um padrão dela derivado, que impedia que qualquer um se achegasse e por ali ficasse se não fosse um “deles”, um discípulo, um nascido do alto, um filho de Deus.
No que depender de mim e de você, que tipo de ajuntamento cristão o mundo verá?
Publicado originalmente em 7.2.15; atualizado em 1.8.18.
O amor arde como fogo e sobrevive à base de calor. O ar que a verdadeira experiência cristã respira e o pão de que ela se alimenta são feitos de chama. E ela suporta qualquer coisa, menos uma chama fraca. E, quando a atmosfera que a cerca é fria ou morna, morre congelada ou à míngua. Não há oração verdadeira sem chamas.
Por mais erudito que um homem seja, por mais perfeita que seja sua capacidade de expressão, mais ampla sua visão das coisas, mais grandiosa sua eloqüência, mais simpática sua aparência, nada disso toma o lugar do fervor espiritual. É pelo fogo que a oração sobe aos céus. O fogo empresta asas à oração, dando-lhe acesso a Deus; comunica-lhe energias e torna-a aceitável diante do Senhor. Sem fogo não há incenso; sem fervor não há oração.
A causa de Deus foi confiada aos homens. Deus mesmo se confia aos homens. Os crentes que oram são os vice-governadores Dele. Estes é que fazem a obra de Deus e realizam Seus planos.
A direção de Paulo é muito específica: “Não andeis ansiosos por nada”. Por nenhuma coisa. Por nada, por nenhuma condição, por nenhuma chance ou acontecimento. Não se perturbe por nada que possa criar ansiedade. Tenha uma mente liberta de todas as preocupações, de todos os cuidados, de toda aflição, de todos os medos. Quantas possibilidades estão na oração para remediar a situação de mente da qual Paulo está falando! Orar sobre tudo pode silenciar cada distração, sumir com a ansiedade e libertar todo medo de vidas escravizadas. Apenas oração sobre tudo pode levar o medo embora, aliviar o coração de cargas desnecessárias e salvar do pecado de ficar se preocupando com coisas que não podemos resolver.
A Igreja está procurando por métodos melhores; Deus está buscando homens melhores.
Falar aos homens a respeito de Deus é uma grande coisa; mas falar a Deus a favor dos homens e ainda maior. Quem não aprendeu a falar com Deus em favor dos homens não pode falar bem e com real sucesso aos homens de Deus. Mais do que isto: as palavras sem oração, tanto no púlpito como fora dele, são palavras que amortecem.
Cristo, que nisso e em outras coisas é nosso exemplo, empregou muitas noites inteiras em oração. Seu costume era orar muito. Ele tinha lugar habitual para orar. Longo tempo gasto em oração constitui a vida e o caráter de Cristo. Paulo orava de noite. Daniel orava três vezes por dia deixando de lado muitas coisas importantes. A oração de Davi pela manhã, ao meio-dia e à noite indubitavelmente, em muitas ocasiões, prolongava-se muito. Embora não tenhamos dados específicos do tempo que esses santos homens da Bíblia gastaram em oração, há evidências de que dedicaram muito tempo, e, em algumas ocasiões, era seu costume empregar longos períodos para oração. Não queremos afirmar que o valor de suas orações foi medido pela duração, mas nosso propósito é imprimir em nossa mente a necessidade de permanecer em comunhão com Deus. Se em nossa fé não se nota esta característica, ela é vazia e superficial.
Edward McKendree Bounds, mais conhecido por E. M. Bounds, ministro metodista e escritor devocional, nasceu em 15 de agosto de 1835, em Shelby County, Missouri (EUA) e morreu em 24 de agosto de 1913. Estudou Direito e, aos 21 anos, já estava praticando a advocacia. Após advogar por três anos, começou a pregar na Igreja Episcopal Metodista do Sul. No tempo de seu pastorado em Brunswick, Missouri, foi declarada uma guerra, e ele foi feito prisioneiro de guerra por rejeitar fazer o juramento de lealdade ao Governo Federal. Depois de solto, ele serviu como capelão do Quinto Regimento de Missouri, para o Exército Confederado, até o término da guerra, quando capturado e mantido como prisioneiro em Nashville, Tennessee. Após a guerra terminar, Bounds serviu como pastor de igrejas em Tennessee, Alabama, St. Louis, Missouri. Gastou os últimos dezessete anos da vida com sua família em Washington, Georgia, escrevendo seus livros sobre vida espiritual. Seu fervor e sua profunda devoção à oração são misturados com uma influência da teologia reformada, que é evidente em suas muitas obras. É muito conhecido por seus livros sobre oração.
“Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou” (Jo 14.27). Não se trata apenas de paz, mas de “Minha paz”. Não apenas Deus me dá paz, como “a paz de Deus”, a profunda quietude de Deus, guarda meu coração (Fp 4.7). Nós nos perturbamos quando as coisas não vão bem, mas lembremos que Deus escolheu este mundo para ser o cenário de Seu plano, o centro daquilo que Ele propôs fazer. Ele tinha um propósito definido no qual Satanás se meteu (com conseqüências que pouco conseguimos compreender); no entanto, apesar dele, Deus mantém uma profunda e imperturbável paz. […] Essa é a paz que nos é dada. Paulo diz que a paz de Deus deve ser como uma guarda militar para proteger meu coração. O que isso significa? Significa que um inimigo deve passar pela guarda antes de poder tocar-me. A guarda deve ser vencida antes que meu coração seja tocado. Por isso, atrevo-me a ser tão pacífico quanto Deus é, pois a paz de Deus ― a mesma paz que guarda a Deus ― é a que me guarda.
(Watchman Nee)
Tenho tantas coisas para fazer que necessito passar várias horas orando antes de poder fazê-las.
(John Wesley)
No céu ninguém usa coroa se não carregar uma cruz aqui embaixo.
(Charles H. Spurgeon)
À destra de Deus há prazeres para sempre. Você pode comer e beber em abundância e nunca estar em perigo de excesso.
(Jonathan Edwards)
Nunca prego um sermão sem pensar que é possível que o Senhor venha antes de eu ter oportunidade de pregar outro.
(D. L. Moody)
Quero ter fervor para com Deus. Afinal, de tudo o que Deus nos ordena, o principal é a oração. Ah, como desejo ser um homem de oração!
(Henry Martyn)
O aposento da oração! Que lugar abençoado! O Espírito paira sobre ele. Pois todas as realizações da graça provém do ventre da oração.
Quanto mais o povo de Deus aprender a reconhecer a atuação do diabo para impedir as orações, maior a liberdade do Espírito que terá para resolver os problemas da vida.
(F. J. Perryman)
Parece que a Igreja parou num ponto qualquer entre o Calvário e o Pentecostes.
(J. I. Brice)
Reconhecemos o valor da oração devido aos esforços que os espíritos malignos fazem para nos perturbar quando estamos orando; e conhecemos experimentalmente o fruto da oração quando vemos a derrota desses nossos inimigos.
(João Clímaco)
Sempre que fazemos a vontade de Deus, somos livres. Sempre que nos separamos da vontade de Deus, somos escravos.
(A. W Tozer)
Não temos de implorar o perdão de Deus. Confessar significa concordar com Deus que o pecado é culpa nossa, e arrepender-nos. Isso glorifica a Deus. Glorifique-O por meio da fé.
(John MacArthur Jr.)
Pela fé e pela oração, fortaleça as mãos frouxas e firme os joelhos vacilantes.
(John Wesley)
A única fé que salva é a daquele que se atira em Deus, para viver ou morrer.
(Há alguns anos, um servo de Deus muito usado deu uma série de mensagens que foram de grande ajuda para grande número de cristãos. Daquela série, selecionamos a seguinte mensagem, por crer que ela ajudará bastante a muitos neste momento.)
“E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim” (Mt 11.6).
“Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis” (Jo 16.1).
Um dos maiores perigos da vida cristã espreita no caminho comum do discipulado. É o perigo de se escandalizar em Cristo. A comunhão para a qual o cristianismo nos convoca traz inevitavelmente uma sempre nova e humilhante descoberta do ego; um invariável distúrbio da ordem estabelecida em nossa vida, conforme Sua vontade corrige e se opõe a nossa; um esforço incessante de atingir o ideal, ou seja, fazer nossa vida de seguidores corresponder crescentemente à Dele como Precursor.
E o perigo é que estamos aptos a falhar ao sermos submetidos ao teste e ao treinamento que isso envolve, a retroceder e não mais caminharmos com o Senhor, e, de fato, nos escandalizarmos Nele. É sempre possível, não obstante toda a sincera profissão da alma, de que o que Deus queria que fosse bênção se torne ruína para nós por causa de nossos conceitos errôneos. É sempre periculosamente possível que a luz de hoje se torne profundas e impenetráveis trevas amanhã, devido a nossa falha em obedecer a Cristo e continuar caminhando com Ele, por nosso atraso ou desvio das atrativas direções da companhia de Cristo. Os homens têm, assim, inconsciente e imperceptivelmente se colocado distantes do alcance das influências comuns de Cristo e se tornam, como detritos no oceano, ocasiões de perigo e desastre para incontáveis vidas.
Mas Cristo, com aquela absoluta franqueza que consiste em boa parte de Seus atrativos aos homens, não pode ser culpado por tais miseráveis deserções, pois Ele nunca disfarça, de qualquer modo, a impensável possibilidade. Em Seu evangelho, Ele combina boas-vindas com advertências como nenhum outro o faz. Sua Palavra, ao abrir o próprio coração de Deus a nossa consciência, abre também nosso próprio coração para nós. Por meio Dele viemos a conhecer o Pai, e também por Ele viemos a conhecer a nós mesmos. Ele revela toda a fidelidade de Deus a nós, mas revela também a instabilidade de nossa vontade e a inconfiabilidade de nossas emoções. Ele não nos trata como homens ideais, mas como homens reais; e nos adverte da mortandade que assola ao meio-dia, bem como da peste que anda na escuridão (Sl 91.6). Conseqüentemente, isto é o que Ele diz aos mais sinceros e convictos de nós: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar em Mim” (Mt 11.6). A implicação é óbvia e sinistra, mas a realidade e a riqueza de Sua graça são a resposta suficiente e silenciadora para cada um de nossos medos. A bem-aventurança de não se escandalizar, apesar de todo o perigo exterior e a fraqueza interior, é o possível ganho de cada um. E isso, de fato, é uma bênção.
É sempre periculosamente possível que a luz de hoje se torne profundas e impenetráveis trevas amanhã, devido a nossa falha em obedecer a Cristo e continuar caminhando com Ele.
Contudo, é necessário lembrar o sentido da palavra “escandalizar”. No grego, é a palavra “ofender”, e tem a força de “levar a tropeçar”. Então, traduzamos e expandamos esse dito de Cristo como sendo: “Bem-aventurado aquele que não acha em Mim nenhuma causa de tropeço, aquele que é capaz de manter seus pés em Meus caminhos, que não tropeça em nenhum obstáculo no caminho em que o tenho dirigido”. Ele usa essa palavra bem frequentemente nesse sentido; como, por exemplo, quando fala da mão ou do olho do homem sendo a causa do tropeço (Mc 9.43-47), quando denuncia aqueles que levam os outros a se escandalizarem (Mt 18.6) e quando declara que no dia da Sua glória tudo o que causou escândalo será banido de Seu reino (13.41).
Porém, Ele nunca a usa de maneira tão surpreendente como quando declara a possibilidade de homens acharem ocasião de escândalo Nele. Estamos preparados para encontrar isso no mundo, na oposição do diabo, na comprovada falsidade dos outros – mas Nele?! É, contudo, a mais surpreendente de Suas advertências, pois Nele já encontramos vida e salvação, direção e paz, inspiração e satisfação. Agora, ter a possibilidade de encontrar Nele também causa de ofensa nos desconcerta bastante. Fosse essa palavra aplicada aos homens do mundo, teria causado pouca, ou nenhuma, surpresa. Por exemplo: não somos grandemente tomados de surpresa quando aqueles que O conhecem de perto O tratam tão desdenhosamente e digam: “Não é este o filho do carpinteiro?” (v. 55). Nem estamos nós completamente despreparados para constatar que os fariseus se escandalizaram Nele quando disse a eles que maus pensamentos, adultérios, assassinatos e coisa assim procedem do coração dos homens, pois Suas palavras os convenciam do pecado (15.10-20). Não nos surpreendemos tanto de que Ele seja uma pedra de tropeço para aqueles que são confessamente desobedientes a Seus comandos. Mas pensar que Seus próprios amigos, aqueles que realmente O conheciam e foram admitidos na intimidade da comunhão com Ele, achariam causa de escândalo Nele, é muito estranho. E esse mistério nos adverte a ficarmos atentos a nós mesmos.
O momento em que o primeiro desses alertas foi dado nos dá a chave de seu significado. João, o que batizava, definhava na prisão às costas do Mar Morto como resultado de uma vida de máxima fidelidade. Ele foi tremendamente fiel a Cristo, esplendidamente sincero no concernente a sua missão, maravilhosamente corajoso em transmitir a mensagem confiada a ele, e, mesmo assim, tudo terminou em uma masmorra.
Que prova para tal homem!
Parecia que sua fé, sua auto-restrição, sua disposição para diminuir a fim de que Cristo aumentasse, que tudo isso ficara sem reconhecimento e sem valor. Sua experiência contradizia tão inteiramente a segurança em Deus, que é fácil entender a perplexidade mental que o levou a enviar seus discípulos a Cristo com a patética inquirição: “És Tu aquele que haveria de vir?” (11.2,3). Pois eis aqui Aquele que veio declaradamente para libertar os cativos, e ainda não libertou o homem que, mais que todos os outros, aparenta ter reivindicações sobre Ele. Cristo proclamou a própria missão em termos de simpatia e amor pelo quebrantado, e ainda há o contrito e quebrantado de quem Ele aparentemente não tem conhecimento.
Ele foi tremendamente fiel a Cristo, esplendidamente sincero no concernente a sua missão, maravilhosamente corajoso em transmitir a mensagem confiada a ele, e, mesmo assim, tudo terminou em uma masmorra.
É de se maravilhar que, por fim, a dúvida supere a fé, de modo que ele envia os mensageiros a Cristo na esperança de que este se declare claramente e interprete essa experiência completamente inexplicável e contraditória para aquele que pagou um preço imenso ao manter uma devotada lealdade ao Filho de Deus? A única resposta de Cristo a esses mensageiros é uma demonstração de Seu poder soberano sobre todas as forças de destruição e de morte, e uma ordem de que deveriam dizer a João aquilo que tinham visto e passar a ele esta mensagem que chama por uma nova e triunfante confiança de sua parte: “Bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em Mim” (v. 6). Pois isso significa que, ao longo do caminho da bênção, a providência do teste sempre será experimentada. Sua implicação é que existe verdadeira paz apenas para o homem que confia em Cristo quando não tem ajudas externas para a fé, que crê Nele quando vê apenas aquilo que parece negar sua confiança e permanece em lealdade sem vacilar quando o tratamento divino testa sua resistência ao máximo.
A segunda parte das palavras de Cristo ajuda a entender como Sua mensagem a João se aplica também a nós: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis” (Jo 16.1). Ditas como foram, na véspera de Sua partida, quando o feroz teste do discipulado estava perto de ser experimentado por Seus seguidores, elas implicavam que eles precisariam fixar a alma nas coisas que Ele lhes havia dito sobre Seu propósito e poder, se quisessem evitar o perigo de tropeçar e se desviarem Dele. Pois eles seriam levados a experiências de provas e de tensão enquanto cumpriam seus votos de consagração. E “naqueles dias”, diz Cristo, “sejam verdadeiros a sua melhor experiência de Mim. Descansem naquilo que ninguém pode tirar de vocês: o conhecimento pessoal que vocês têm de Minha graça. Agarrem-se a essas coisas que lhes tenho falado e mostrado. Sejam leais a Mim. Confiem em Mim inteiramente, apesar de todo mistério inexplicável e da aparentemente desnecessária tribulação. Assim, não tropeçarão, mas serão fortalecidos por essas coisas, que são todas ordenadas por Mim”.
Não é desleal da parte de Cristo dizer isto: que Ele não apenas governa sobre os homens, mas também os mistifica. Embora Ele os abençoe, Ele também os desconcerta, pois incomparavelmente mais altos são Seus caminhos e pensamentos do que os nossos (Is 55.9). Ele nos persuade ao amor e à lealdade; mas também nos confunde, geralmente ao ponto da distração. Ele certamente responde às questões de nosso coração, mas ao mesmo tempo levanta muito mais perguntas do que as que responde. Na vida de todo verdadeiro seguidor Dele, sempre haverá, como houve na Dele mesmo, um grande “Por quê?” sem resposta. Nenhum de nós jamais estará isento da necessidade de adquirir pela fé e pela paciência a bem-aventurança de não se escandalizar.
Pensemos em um simples e típico exemplo de escândalo, de ofensa. Comumente não se trata de uma clara apostasia, de fria renúncia à verdade ou de amarga negação da experiência passada. Em vez disso, começa com o desapontamento de alguma esperança, a frustração de alguma expectativa, o cansaço por uma oração não respondida ou a dor de um coração que parece não evocar qualquer resposta simpática de Deus. Tudo isso gera uma desconfiança muda, quase impronunciável; e enquanto pensamos nisso, uma sensação de injustiça cresce, um sentimento de que não estamos sendo tratados com muita justiça por Cristo, que se torna um evidente ressentimento. Até que, pouco a pouco, Seu jugo se torna irritante; desafiamos Seu direito de controlar nossa vida também, e tudo termina em um secreto repúdio de Seu senhorio e, geralmente, em uma renúncia exterior de todos interesses e objetivos espirituais. Essa é uma causa típica de se escandalizar em Cristo. E quantos existem ao nosso redor cuja vida é uma típica descrição disso! Dos pequenos começos de desconfiança crescem os maiores desastres.
Se duas linhas paralelas são produzidas até o infinito, jamais haverá alguma variação da distância entre elas. Mas, deixe-as divergirem em qualquer ponto por apenas a largura de um fio de cabelo e, quanto mais longe forem, mais ampla a divergência se tornará, até que exista um universo de distância entre elas. Assim acontece com nossa comunhão com Cristo: a mínima desconfiança ou desobediência é cheia da potencialidade do infinito; e, se não for descoberta e verificada, irá, por fim, colocar uma eternidade de distância entre a alma e o Salvador. Se, portanto, pudermos estimar alguma das imutáveis certezas do discipulado, explorar alguma, pelo menos, das perigosas causas das ofensas em Cristo e, ao mesmo tempo também, estabelecer um novo relacionamento de implícita confiança com nosso Senhor, seremos salvos desse poder aterrador. E esse é certamente o objetivo de Sua Palavra de advertência.
Nenhum de nós jamais estará isento da necessidade de adquirir pela fé e pela paciência a bem-aventurança de não se escandalizar.
Existe primeiramente a severidade de Seus requerimentos. Quando viemos a Cristo a primeira vez, o caminho parecia ser cheio de rosas e o ar parecia repleto de doces e calmantes aromas. Pois, embora Cristo fosse absolutamente franco conosco e nada escondesse da dureza dos conflitos que teríamos de enfrentar, nossos próprios poderes de apreensão eram tão limitados que víamos apenas uma coisa por vez, e aquela única coisa era que Cristo atenderia todas as necessidades de que estávamos conscientes. Em decorrência disso, marchamos rumo a uma alegre tensão com a qual nosso coração estava sintonizado. Porém, isso ocorreu muito antes de descobrirmos que as condições do companheirismo são severas. Por exemplo: vemos que uma real separação do mundo em espírito e propósito é completamente necessária para a manutenção da comunhão. Vemos que não podemos andar em duas disposições mentais de uma só vez – e que as pressões do mundo são de fatos sedutoras. Aprendemos que não podemos ao mesmo tempo andar com Ele e com a opinião popular, com Ele e com o mundo, ou mesmo com Ele e com a igreja externamente professa.
Quando essa descoberta é feita, com freqüência significa que os homens se escandalizaram Nele, pois Suas demandas envolvem perturbações de alto custo na regulação do lar, dos negócios e da vida social, de acordo com Suas ordens. Possivelmente signifiquem para alguns a renúncia de um tipo de popularidade que existe somente por causa do vergonhoso silêncio no tocante a Ele. Envolvem outros na severidade dos laços que se tornaram uma grande parte da vida, e o sacrifício de prosperidades materiais que têm parte com a natureza da injustiça. Elas significam para todos o fim da auto-indulgência, uma crucificação visando a uma coroação, uma destronização visando a uma entronização.
Quando tudo isso é claramente compreendido, então, os homens se escandalizam com Cristo. Quando Ele diz: “Corte a mão direita; arranque o olho direito; abandone tudo o que você tem; tome sua cruz e siga-Me”, vem, então, o teste que determina tudo. Aí muito freqüentemente os homens retrocedem para não andar mais com Ele. Não porque eles não O entendem, mas porque vieram a conhecê-Lo muito bem! Quando Ele chega a ser assim reconhecido, não apenas como o Cristo de coração amável, mas também o Cristo de dura face, grande é a bênção daquele que não se escandaliza.
Eis aí o mistério de Sua contradição. Geralmente parece que Cristo foi antipático aos nossos melhores desejos, aqueles desejos que se originaram em nossa comunhão com Ele. Queremos, por exemplo, fazer uma grande obra e alcançar uma grande esfera; mas a resposta Dele a nossos anseios é nos obrigar a enfrentar as dificuldades de uma pequena obra em um local onde há pouco, se algum, reconhecimento de nossa labuta. Pedimos por serviço espiritual, e tudo o que nos é dado é uma monótona rotina de deveres seculares. E estamos, por isso, em perigo de nos escandalizarmos Nele, porque parece haver muito pouca justificativa para Seu tratamento a respeito de nosso alto propósito.
Ou, estamos pedindo o dom do descanso e clamando por Suas grandes promessas a esse respeito; contudo, a resposta vem na necessidade de conflito severo e contínuo. As chamas da tentação incendeiam ao nosso redor, não menos, mas muito mais ferozmente do que nunca; e ficamos confusos e provocados com esse cumprimento da Palavra que jamais esperamos. Ou desejamos ter uma vida com menos cargas e tensões, mas a única resposta do Senhor é impôr outras e mais pesadas cargas sobre nós. E nos ofendemos muito com Ele. O mistério disso tudo confunde cada sério propósito, e a tentação de não crer é, às vezes, quase demais.
Contudo, vai nos ajudar lembrar o fato simples de que o Senhor sabe e faz apenas aquilo que é melhor tanto para o desenvolvimento quanto para a repreensão de nossa vida. Na verdade, Ele é antipático apenas com nossos egoísmos. Ele busca destruir dentro de nós somente tudo o que cheira a amor-próprio, orgulho e auto-suficiência, reproduzindo em nós algo da beleza de Seu próprio caráter. Em Suas contradições corretamente apreendidas, devemos sempre ver a expressão de Sua perfeita sabedoria no que concerne a nossos próprios e mais altos interesses, e também aos interesses do reino que Ele nos deu a compartilhar. Então “bem-aventurados os que não se escandalizam”, os que aceitam a direção de Cristo como Seu amor, e confiam Nele, “quando simplesmente confiar Nele parece a coisa mais difícil de todas”.
Eis aí o mistério de Sua contradição.
Além dessas causas, existem ainda outras na lentidão de Seus métodos. Viemos a Ele e colocamos nossa vida sob Seu controle, esperando uma imediata libertação que nos levasse para além de toda preocupação relacionada à tentação e às forças que se opõem a nós. Mas quão desapontadoramente lenta é essa libertação e com que dificuldade são ganhas nossas vitórias, mesmo quando somos fortalecidos por Seu Espírito!
Quase sempre percebemos que a vida não é uma canção, mas, em vez disso, uma contenda; que a graça de Cristo não é um mero êxtase, mas, sim, uma energia que trabalha dolorosamente por retidão em nós; e que isso toma toda a vigilância de que somos capazes a tomar o lugar já conquistado, assim como a conquistar novos territórios. E a demora de Cristo nessa questão de nossos próprios conflitos espirituais com frequência é a causa de nos escandalizarmos, pois isso desaponta nossas esperanças e contradiz nossos conceitos errôneos relacionados a tudo, como se fosse uma vitória fácil e passiva sobre nossos fortes inimigos. Mas, na realidade, esse método, embora nos pareça lento, é o único que Ele certamente poderia ter, tendo em vista a grandeza de Seu propósito e a contrariedade de nossa natureza. Cada experiência de vitória, mesmo que pequena e insignificante, profetiza de um completo e definitivo triunfo.
Se formos ao Observatório em Greenwich, veremos que existe um instrumento delicado, através do qual os astrônomos medem as distâncias entre as estrelas, assim como sua magnitude. Sobre um espelho sensível é refletida a luz dos pontos celestes, e uma medida dos ângulos em que dois raios se encontram fornecem dados suficientes para todos os cálculos espantosos de milhões de quilômetros. Assim ocorre em nossa vida. Ao estimar o que Cristo já fez, nós nos asseguramos de Seu invariável propósito. Cada migalha de experiência de Seu poder de santificar, purificar, redimir, libertar, é profético do todo – de “que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará [completará]”. Se nos agarrarmos a esse fato, encontraremos nele inspiração para a contínua firmeza da fé, e não nos escandalizaremos por Ele trabalhar tão lentamente – e acertadamente.
O mesmo é verdade também quanto ao progresso do Reino a cujos interesses fomos chamados a servir. Quão freqüentemente vemos que a lentidão com a qual resultados espirituais são alcançados se torna uma causa de ofensa em Cristo. Começamos por esperar que, quando exaltássemos Cristo, imediatamente veríamos multidões seguindo-O. Imaginamos que tínhamos apenas de trabalhar fielmente no serviço a Deus e ao homem, e os resultados certamente seriam visíveis. Mas como isso é diferente na prática. Quão dificilmente as almas são persuadidas e ganhas! Quão verdadeiro é que o joio cresce junto com o trigo! Quão verdadeiro é que aquele que avança levando a preciosa semente precisa chorar ao longo do caminho (Sl 126.6)!
E a dificuldade de crer que Deus está presente quando Ele está invisível é demais para muitos que começam a trabalhar para Ele com altas expectativas e bravas crenças, que ao fim parecem injustificadas. Como os discípulos, eles pensam que “o reino de Deus deveria aparecer imediatamente”; e, na disciplina de seu entusiasmo e na conversão de sua consagração em continuidade, pode ser que eles se “escandalizem”. Porém, não seria difícil termos exemplo após exemplo para provar que, na obra espiritual, quando os resultados são menos visíveis, eles, com freqüência, são mais reais. O obreiro que avança sem o estímulo do sucesso exterior, que continua testemunhando mesmo quando se depara com gélida indiferença, que desempenha a obra de Cristo na inspiração infalível de saber que essa é a obra de Cristo, é aquele que alcança a bênção de não se escandalizar. E parte disso está na certa colheita de sua semeadura e na segura recompensa de todo o seu serviço.
Porém, talvez acima de todas essas causas citadas de ofensa em Cristo, está a irrazoabilidade de Seus silêncios. Tenho muita simpatia com esta perplexidade de João, o que batizava: “Se esse é realmente o Cristo, porque Ele não age como Cristo? Por que Ele não faz nada para libertar Seu arauto preso ou para trazer paz a seu atribulado coração?” Uma visitação de Cristo teria mudado aquela prisão em um palácio. Um estalo de dedos da parte Dele teria transformado a escuridão de João em glória. Mas Cristo não fez isso. Assim como não o fez em Betânia, quando deixou Marta e Maria entregues à tristeza por dois longos e pesados dias. Eu simpatizo com elas em sua completa inabilidade de compreender a demora Dele à luz de Seu amor, e no protesto implícito das palavras com as quais O saudaram no caminho: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11.21,32).
O silêncio Dele pareceu tão irrazoável, e ainda parece quando aparentemente não liga para nossas orações, e nós clamamos como que a um céu silente. Quem não conhece essa amarga experiência e a sutil tentação que a segue? Oramos pela conversão de nossos entes queridos, mas eles seguem aparentemente tão sem rendição e impenitentes como nunca antes. Oramos por coisas temporais que parecem completamente necessárias, sem nenhuma resposta. Buscamos alívio de alguma carga pesada, mas nenhum nos é dado – e hoje ela pesa mais do que nunca. E o pensamento de que o silêncio de Cristo é irrazoável nunca está longe demais. A lealdade a Ele está sendo dolorosamente provada, quase que ao ponto de partir-se. É quase justificável o fato de “nos ofendermos” Nele.
E a dificuldade de crer que Deus está presente quando Ele está invisível é demais para muitos que começam a trabalhar para Ele com altas expectativas e bravas crenças, que ao fim parecem injustificadas.
Mas, assim como com respeito a João na prisão, e as irmãs em Betânia, e a multidões de outros em todas as eras, Ele não está desatento, muito embora Seu silêncio pareça apontar para isso. Ele os está treinando, e a nós, para uma fé destemida, a viver no reino do invisível e eterno, a trilhar Seus próprios passos. Às vezes, o que chamamos de orações não-respondidas provam-se, sem sombra de dúvida, ser uma bênção maior do que a desejada resposta talvez pudesse ter sido. Quando Cristo responde com negação a nossos pedidos, podemos estar certos de que a resposta positiva teria sido para nosso prejuízo. Ele retém misericórdias secundárias a fim de nos ensinar a importância e o valor das primárias. Suas negativas são para nosso enriquecimento, e não para nosso empobrecimento, pois Seus propósitos são vastamente maiores do que nossas orações, e, embora Seu discurso se pareça com a prata, Seu silêncio é como o ouro. “Bem-aventurado aquele que não se ofender em Mim”.
“Essas coisas vos tenho dito para que, apesar da severidade de Minhas exigências, do mistério de Minhas contradições, da lentidão de Meus métodos e da irrazoabilidade de Meus silêncios, não vos escandalizeis.” Que coisas são essas? O que manterá Seu povo a salvo dos perigos da deserção? Quais são as seguranças permanentes de nossa fé? Em uma palavra: a certeza de Seus caminhos diante de nós: “Saí do Pai […] e vou para o Pai. […] Eu sou o caminho” (16.28; 14.6). E, a seguir, a certeza de Seu amor por nós: “O próprio Pai vos ama” (16.27). Também a constância de Sua união conosco: “Estai em Mim, e Eu em vós” (15.4). Essas são as verdades básicas de todas as Suas advertências, e a expansão delas está na vida dos membros de Seu povo. Bem-aventurado aquele que, repousando nesses fatos de Deus, tornam-nos fatores de sua própria vida, e avança sem se ofender e sem se escandalizar, sempre radiante com a “paz que excede todo o entendimento” (Fp 4.17), tornando-se crescentemente parte da iluminação do mundo ao refletir seu Senhor.
Assim, tenhamos cuidado em colocar um valor indevido em nossa mera percepção dessa verdade. Atentemos para não superestimar a força de nossas próprias resoluções e de nossos recursos, de dizermos qualquer coisa como: “Ainda que todos os homens se escandalizem em Ti, eu jamais me escandalizarei”. Em lugar disso, em uma humilde e sensível dependência de Cristo, a qual sempre se expressa em devoção ferrenha e lealdade à Palavra Dele, busquemos viver como homens de fé manifesta. Pois essa é a condição que governa a bem-aventurança de não se escandalizar.
Cada vez que o pregador se levanta para proclamar as riquezas insondáveis de Cristo, existe forte possibilidade de que irá entregar a mensagem de Deus a alguma alma pela última vez aquém da eternidade. Como precisa ter a certeza de ser o homem de Deus com a mensagem de Deus! E isso será determinado em parte pela vida que ele vive.
(Roberto L. Summer)
Nossas orações precisam ser apoiadas numa energia que nunca esmorece, numa persistência que não aceita não como resposta e numa coragem que nunca se rende.
(E. M. Bounds)
O chamado da cruz é para que participemos da paixão de Cristo. Precisamos trazer em nós as marcas dos cravos.
(Gordon Watt)
Ó corrente de águas vivas! Ó chuva de graça! Ninguém que espera por Ti espera em vão.
(Tersteegen)
Deve-se manter o hábito da oração diária. É bom ter horas regulares para devoção, e, na medida do possível, ir ao mesmo lugar para orar. No entanto, o espírito de oração é melhor que o hábito da oração. É melhor ser capaz de orar em todo momento do que ter a regra de orar apenas em certos momentos e ocasiões.
(C. H. Spurgeon)
Eu preciso passar mais tempo com Deus mesmo quando não sei o que orar.
(Andrew Murray)
E, quanto à verdade, não podemos abandoná-la, mesmo que isso implique na perda da vida, pois não vivemos para esta geração nem para servir aos príncipes, mas para o Senhor.
A meu amado Senhor, que não se poupou em Seu amor a um verme como eu.
Não creio no falso evangelho,
aquele que não me serve de espelho:
que não dá nome a meus pecados,
pelo qual os tolos são enganados;
que promete vida fácil, sem dores,
que promete felicidade sem cruz,
que vende tantos favores,
que entrega trevas, e não luz;
que promete bênçãos de Deus em troca de oferta,
oferecidas aos incautos por gente esperta;
que promete para esta vida o que só terei na eternidade,
que faz o homem maior do que Deus. Falsidade!
Eu rejeito o falso evangelho e seu falso Deus!
Eu creio no evangelho da velha Bíblia, que não esconde que há sofrimento para os que são Seus, para aqueles que são da divina família.
Creio no que a antiga Bíblia ensina, e isso é mais do que uma bela doutrina: que sou um vil pecador; que nada merecia senão a morte; que Deus me amou – e que amor! – e, por amor, mudou minha sorte!
Que Cristo morreu por mim, pagando a dívida que era minha, pois eu não podia pagar pelos pecados que eu tinha! E que Ele estará comigo até o fim!
Ela ensina que a salvação foi dada a mim por graça, por abundante graça, por graça e nada mais. E até o final da vida estarei em Cristo assim, por graça, por abundante graça, por graça e nada mais.
Ela também mui claramente me diz
que ainda não serei totalmente feliz,
mas que até o fim de minha jornada,
carregarei minha cruz, que pode ser bem pesada:
não serei poupado de sofrimento, enfrentarei dias de muitas lágrimas e tormento; por vezes andarei sem saber para onde ir, quase pensando em desistir;
serei atacado por dúvida inclemente, passarei pelo fogo ardente, me sentirei sozinho, mesmo cercado pelos meus, pensarei ter sido esquecido até por Deus!
Serei severamente tentado e, infelizmente, muitas vezes derrotado. Mas poderei me erguer e continuar, se o pecado reconhecer e o abandonar.
Poderei cair muitas vezes,
mas tenho Aquele que por mim sangrou;
Ele é o Deus dos deuses,
Ele é o que desde sempre me amou!
Mas sei – oh, indescritível alegria!
– que naquele assombroso dia,
na glória com meu Senhor,
Ele enxugará de meus olhos toda lágrima, e esquecerei toda a dor.
Então, olharei para o eterno Cordeiro de Deus que morreu em meu lugar,
no sublime trono nos céus,
de onde me chama para com Ele estar,
olharei para Suas mãos feridas,
mãos para mim tão queridas,
feridas cruelmente por amor a mim,
e serei eternamente por elas lembrado
– não poderei esquecer jamais: só estou ali, bem-aventurado, por graça, por abundante graça, por graça e nada mais.
(scs, 19316)
(Publicado originalmente em 9.4.16. Republicado em 6.8.18.)
“Mas entre todos os filhos de Israel nem mesmo um cão moverá a sua língua, desde os homens até aos animais, para que saibais que o Senhor fez diferença entre os egípcios e os israelitas” (Êx 11.7).
O quê? Deus tem poder sobre a língua dos cães! Ele pode impedi-los de latir? Sim, é isso mesmo! Ele pode impedir um cão egípcio de perturbar um cordeiro do rebanho de Israel. Deus cala cães, e cães entre os homens, e o grande cão no portão do inferno? Então, vamos seguir em frente sem medo.
Se Deus impede cães de moverem a língua, pode também parar os dentes deles. Eles podem fazer um barulho terrível, e ainda não nos farão nenhum dano. Ainda assim, quão doce é o silêncio! Quão delicioso é passar entre os inimigos e perceber que Deus faz com que fiquem em paz conosco! Como Daniel na cova dos leões, nós estamos ilesos em meio a destruidores.
Oh, que hoje essa palavra do Deus de Israel seja verdadeira para mim! O cão me preocupa? Eu falarei a meu Senhor sobre ele. “Senhor, ele não se importa com meus argumentos; fala Tu a palavra de poder, e ele se deitará. Dá-me paz, ó meu Deus, e permita-me ver Tua mão tão distintamente nisso que eu perceba claramente a diferença que Tua graça fez entre mim e os ímpios!”
Se o próprio Cristo só iniciou Sua pregação depois de ter sido ungido, nenhum jovem deve pregar enquanto não tiver recebido a unção do Espírito Santo.
(F. B. Meyer)
Uma das maiores qualificações para sermos úteis no serviço do Senhor é um coração que verdadeiramente deseja Sua honra.
(George Müller)
Será que em nossos dias não estamos confiando demais no braço de carne? Por que não presenciamos as mesmas maravilhas que ocorreram no passado? Os olhos do Senhor não passam mais por toda a terra para mostrar-se forte para com aqueles que confiam totalmente nele? Ah, que Deus me conceda uma fé mais prática! Onde está o Senhor, o Deus de Elias? Está esperando que Elias clame por Ele.
(James Gilmour)
Aquele que prega arrependimento está-se colocando contra este século, e, enquanto insistir nisso, será impiedosamente atacado pela geração cuja fraqueza moral aponta. Para tal tipo de pessoa só existe um fim: “Sua cabeça vai rolar!” É melhor ninguém começar a pregar o arrependimento enquanto não confiar a cabeça ao céu.
(Joseph Parker)
Embora o avivamento e o evangelismo estejam intimamente relacionados, são, na verdade, duas obras distintas. O avivamento é uma experiência da Igreja; o evangelismo, a expressão dela.
(Paul S. Rees)
Quando buscamos a Deus em oração, o diabo sabe que estamos querendo mais poder para lutar contra ele e, por isso, procura lançar contra nós toda a oposição que é capaz de arregimentar.
(Richard Sibbes)
Ah, quem me dera um coração sensível, dominado pelo desejo de orar. Ah, quem me dera um espírito despertado diariamente cheio do poder divino. Quem me dera um coração como o do Salvador, que, mesmo agonizando, intercedeu. Dá-me, Senhor, esse mesmo amor pelos outros. Ah, que haja peso de oração em meu coração. Pai, anseio ter esse fervor, de derramar a alma em oração pelos perdidos… de entregar minha vida para que outros sejam salvos… orar, seja qual for o preço. Senhor, ensina-me, revela-me esse segredo. Estou ansiosa para aprender essa lição, ter essa grande paixão pelas almas. Anseio por isso, bendito Jesus. Pai, tenho um forte desejo de aprender Contigo essa lição. Que Teu Espírito a revele a mim.
O mundano nunca chora em segredo sobre o esfriamento do coração ou por atos de incredulidade. Os “gemidos” ou os “suspiros” são a prova da vida espiritual, o caminhar atrás da santidade, a fome e sede de justiça.
O verdadeiro amor é intensamente prático: não considera vil qualquer empreendimento, nem julga humilhante qualquer tarefa, sempre que pode aliviar os sofrimentos de algum irmão em Cristo. Quando o Senhor do amor esteve na terra, Seus pensamentos se voltaram para a fome física das multidões e para o conforto dos pés de Seus discípulos!
Nenhum pecador jamais foi salvo por entregar o coração a Deus. Não somos salvos por nossa entrega, somos salvos pelo que Deus entregou.
O sucesso de um falsificador de moedas depende de quão parecida a moeda falsa se torna com a genuína. A heresia não é uma negação completa da verdade, e sim uma perversão da verdade.
Assim como a desesperança do pecador de receber qualquer ajuda de si mesmo é o primeiro requisito para uma conversão real, também a perda de toda confiança em si mesmo é o principal fator para o crescimento do crente na graça.
Ah, se pudéssemos sentir-nos mais preocupados com o estado de inanição em que se encontra hoje a causa de Cristo na terra, com os avanços do inimigo em Sião e com a devastação que o diabo tem efetuado nela! Mas, infelizmente, um espírito de indiferença vem imobilizando muitos de nós.
O fundamento de todo verdadeiro conhecimento de Deus deve ser uma clara apreensão mental de Suas perfeições como reveladas nas Escrituras. Não se pode confiar em um Deus desconhecido, nem adorá-Lo ou servir a Ele.
Deus não pode mudar para melhor, pois é perfeito, e, sendo perfeito, não pode mudar para pior.
Ele [Deus] é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecido por ninguém.
A preocupação com a pobreza é tão fatal para o fruto espiritual quanto a alegria maligna por causa de riquezas.
Nossa leve tribulação que é para um momento, “produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Co 4.17). O presente está influenciando o futuro. Não é para nós argumentarmos e filosofarmos sobre isto, mas submeter-nos a Deus e a Sua Palavra e crer nisso. Experiências, sentimentos, observação da vida dos outros podem parecer negar esse fato. Aflições muitas vezes só parecem nos amargurar e nos fazer mais rebeldes e descontentes. Mas deixe-me lembrá-lo que aflições não são enviadas por Deus com a finalidade de purificar a carne ― elas são intencionadas para o benefício do novo homem. Além disso, aflições nos ajudam a nos preparar daqui por diante para a glória. Aflição afasta nosso coração do amor pelo mundo; faz-nos almejar mais por aquele tempo em que seremos tirados desse mundo de pecado e tristeza; vai nos permitir apreciar as coisas que Deus tem preparado para os que O amam. Então, é para isso que a fé é convidada: a colocar em um prato da balança a aflição presente, no outro, a glória eterna. Eles merecem ser comparados? Não, realmente. Um segundo de glória vale mais do que o contrapeso de uma vida inteira de sofrimentos. O que são anos de labuta, de doença, de lutar contra a pobreza, de perseguição, sim, da morte como mártir, quando comparado com as glórias que estão à mão direita de Deus, que é eterno! Uma respiração no céu extinguirá todos os ventos adversos da terra. Um dia na casa do Pai vale mais que o contrapeso dos anos que passamos neste triste deserto terreno. Que Deus nos conceda a fé que nos habilite a esperançosamente nos agarrarmos a esse futuro e a viver alegremente no presente com essa promessa.
Nascido em 1° de abril de 1886, em Nottingham (Inglaterra), Arthur Walkington Pink abandonou o teosofismo em 1908, quando experimentou a conversão ao evangelho. Em 1910, aceitou o chamado para trabalhar como pregador num campo de minas em Silverton (Colorado, EUA). Chegou a pregar mais de 300 vezes ao ano. Mais tarde, viajou para a Austrália, onde suas pregações foram muito bem recebidas. Ali pastoreou uma igreja batista até que, em 1928, regressou à terra natal, onde, devido à perseguição que sofreu por causa da fidelidade às Escrituras, foi obrigado a se dedicar à escrita e ao aconselhamento de crentes por correspondência, tendo, em 1946, já escrito 20.000 cartas à mão.
Leitor incansável que era, em 1932 já havia lido toda a Bíblia mais de 50 vezes e milhares de livros teológicos, especialmente de autores reformados e puritanos.
Pink é o que todo bom leitor de teologia procura: erudição misturada com piedade. Seus comentários são inspiradores, não somente demonstrando a reverência do autor a Deus e à Escritura, mas também incitando o leitor a fazer o mesmo. Sua maneira cativante de descrever as verdades divinas, sua capacidade extraordinária de expor as mais difíceis passagens e seu rico e belo linguajar dificilmente encontram paralelo em toda a história do cristianismo.
Em 1922, ele começou a publicar uma revista mensal intitulada Studies in Scriptures (Estudos nas Escrituras), que circulava entre os cristãos de língua inglesa ao redor do mundo, porém em pequena tiragem. Em 1934, Pink retornou a Inglaterra e dedicou-se a escrever livros e panfletos. Ele morreu de anemia aos 66 anos em Stornoway, Escócia, em 15 de julho de 1952.
Após sua morte, suas obras foram republicadas pela Banner of Truth Trust, alcançando um público muito maior. O biógrafo Iain Murray observa que “a grande difusão de seus escritos depois de sua morte o tornou o mais influente autor evangelista da segunda metade do século 20”. Seus escritos despertaram um reavivamento da pregação expositiva e chamaram os leitores a viverem pela Palavra.
A Bíblia não é nada mais do que a voz Daquele que se assenta no trono. Cada livro, cada capítulo, cada sílaba, cada letra da Bíblia é um pronunciamento direto do Altíssimo.
(John William Burgon)
Há mistérios de graça e de amor em cada página da Bíblia. E próspera é a alma que vê no Livro de Deus uma preciosidade cada vez maior.
(Robert Chapman)
De duas coisas a igreja necessita: mais morte e mais vida. Mais morte a fim de viver; mais vida para poder morrer.
(C. A. Fox)
Nas ambições humanas, os homens constantemente mencionam: “Onde há uma vontade certamente há um caminho!” Senhor, seja nosso ditado ainda mais excelente: “Onde nossa vontade morreu, podemos certamente encontrar Teu caminho!”
(E. L. Bevir)
Sussurros que não podem ser expressos em palavras são freqüentemente orações que não podem ser recusadas.
(C. H. Spurgeon)
Eu aprendi a amar as trevas do sofrimento; lá você pode contemplar o brilho da face de Deus.
(Madame Guyon)
Se o Senhor falhar comigo desta vez, terá sido a primeira.