“Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus” (Is 50.10).
Ouvir o Senhor, obedecer a Sua voz, e ainda andar nas trevas! Ou, colocado de outra maneira, andar nas trevas, e ainda temer a Deus e obedecer a Sua voz! Podem essas coisas coexistirem? O Espírito Divino escreveu por intermédio do profeta Isaías as palavras desse texto, de maneira que, assim como Isaías 50.10 permanece escrito, assim a resposta divina deve ser: “Sim!”.
Antes de tudo, precisamos dizer que o Senhor permite que Seus filhos às vezes passem por tempos de profundas trevas devidos aos assaltos de Satanás, com o intuito de trazê-los a uma fé pura em Sua Palavra, ainda que a própria experiência deles pareça ser contrária a ela.
Uma palavra para o oprimido
Estamos escrevendo para esses filhos de Deus, e não para aqueles que estão se regozijando na consciente presença de seu Senhor e em sua aceitação mediante o sangue. Muitos desses jamais pisaram as profundezas a que nos referimos aqui. Aos tais, nossa mensagem talvez não faça sentido.
Mas é para as pobres, torturadas, angustiadas almas, que sabem o que é lutar com espíritos perversos nos lugares celestiais, que nossa mensagem se destina. As trevas estão perto, trevas essas que podem ser sentidas; o escudo da fé quase lhes caiu da mão, e o brilho dos inflamados e grossos dardos lançados agilmente em sua direção pelo mal é tudo o que elas vêem. Elas não podem ter descanso à parte de Deus, porém parecem tê-Lo perdido. Nada é real para elas além das trevas.
O diabo não triunfará!
Esse é um quadro belo? Para os outros pode até parecer, mas não para quem se encontra nessa situação. Nós, que o pintamos, sabemos por nossa própria experiência que não é. O diabo, que triunfaria em nossa agonia, também sabe que não é. Porém, ele não triunfará. “Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz” (Mq 7.8). Talvez até mesmo agora ele encontre você com os aleluias da fé, mas não de sentimentos, em seus lábios, enquanto você aponta para o sangue do Cordeiro.
“Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão” (Jó 1.12), Deus disse a Satanás em relação a Jó. Mas apenas até certo ponto Satanás poderia cumprir seu desejo. Pobreza, desfalecimento, doença, acusações injustas dos amigos, e, aquilo de que tratamos aqui, trevas espirituais, tudo isso sobreveio a Jó. “Eis que se me adianto, ali [Deus] não está”, ele clama em sua angústia; “e torno para trás, não O percebo. Se opera à esquerda, não O vejo; se se encobre à direita, não O diviso” (23.8,9). No entanto, Deus ainda estava ali todo o tempo.
Três laços sutis
Parece haver três laços sutis do diabo, pelos quais as almas são levadas às trevas, que geralmente estão entrelaçados uns com os outros.
O diabo usa as próprias palavras de Deus para levar as almas para as trevas. Se ele as citou ao Mestre na tentação no deserto (Mt 4.1-11), quão pronto estará para empregar o mesmo método com os servos. Ele conhece bem o ponto fraco e a história de cada um que deseja derrubar. Para uma mente legalista, ele citará textos que a levarão à agonia da introspecção e de atos infrutíferos que são seu resultado. Vamos dar apenas um exemplo.
O diabo confunde Tiago 5.16 e outras passagens para fazerem significar que os pecados do passado, que estão debaixo do sangue, devem ser confessados a outras pessoas. Mas quem o faz procura em vão ter paz dessa maneira. A memória sempre trará novos fantasmas à consciência. Apenas o sangue de Jesus Cristo os removerá. Nenhum ato de humilhação diante dos outros, como essas confissões, terá proveito, pois o pecado foi contra Deus.
A raiz do mal reside aqui: a alma não vê completamente o valor do sangue de Cristo.
O rei Davi, convencido de ter quebrado o quinto e o sétimo mandamentos, foi constrangido a clamar: “Contra Ti, contra Ti somente pequei” (Sl 51.4). Dessas “obras mortas” de auto-humilhação, dessas penitências protestantes[1], seja limpo pelo sangue, assim como dos pecados que pensam ter sido expiados por ele. Usamos a palavra “expiação” com conhecimento de causa. A raiz do mal reside aqui: a alma não vê completamente o valor do sangue de Cristo. Ela não enxerga que cada pecado, cada parcela da velha e corrupta vida, foi sepultada em Sua cova, e que não temos o direito de desenterrar o que Ele ali colocou.
Isso nos leva a pensar no segundo laço.
O diabo usa o assunto da consagração para levar almas às trevas. É dito aos cristãos que “rendam tudo”, que “consagrem plenamente” a si mesmos a uma “entrega absoluta”. Novamente, o diabo dirige os pensamentos interiores dos que ouvem isso. Consciências escrupulosas são torturadas com questões quanto ao que deve ser “entregue”, e os resultados são com freqüência um estado de pesadelo espiritual.
Mas a graça de Deus vai muito mais longe que isso! É Deus que opera em nós o querer e o efetuar (Fp 2.13). “Consagrem-se ao Senhor.” Sim, mas consagrem-se no sentido espiritual. “Encham suas mãos”, encham-nas com Cristo, levem Cristo a Deus. Digam a Ele que não podem entregar tudo, nada mais do que podem fazer para serem abençoados. Digam a Ele que tudo tem de ser por graça, que sofrerão uma bancarrota espiritual à parte da graça, mas que se lançam à graça para fazerem o que não podem por si mesmos. Digam também que confiam Nele daqui por diante, para escrever Suas leis na mente para as conhecerem, e no coração para as cumprir. Digam que morreram Nele, que foram sepultados com Ele, que ressuscitaram com Ele, e agora, como vivos dentre os mortos, confiam Nele para que viva Sua vida de ressurreição por meio de vocês.
É graça ao longo de todo o tempo. Aprendamos a magnificar a graça de Deus. A cada novo vislumbre de nossa própria impotência para desejar ou fazer, tanto em relação à consagração como em tudo o mais, glórias à graça que se responsabiliza em fazer tudo, e tenhamos um Cristo novo para todas as nossas necessidades.
Agora, passemos para o terceiro laço.
O diabo usa as palavras de outros cristãos para levar as almas às trevas. Paulo disse que agora conhecemos em parte (1Co 13.12). O maior santo, ainda que tenha sido aperfeiçoado no amor, ainda é imperfeito no conhecimento. Ele conhece apenas em parte. Não é essa a razão pela qual às vezes um cristão atribulado na alma se torna em dor para um companheiro crente? Os outros não entendem o que fazer com uma cana trilhada que não deve ser quebrada (Is 42.3); e novamente a cena descrita no Cântico dos Cânticos é promulgada: “Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me” (5.7). Desse modo, o cristão é levado cada vez mais para as trevas.
Existe purificação!
Sim! Existe purificação! Ouse crer que, não importando o que seja, aquilo que desvie sua visão do amor de Deus não é Dele. Ouse crer que tudo o que minimiza Sua graça não é Dele. Ouse crer que o amor de Deus é para você. Ouse crer que a graça de Deus é para você. Agora mesmo, nas densas trevas, creia nesse amor e nessa graça. Abandone as idéias distorcidas sobre Ele que estiveram em curso pela malícia de Satanás. Erga o escudo da fé uma vez mais, e diga como Jó: “Ainda que Ele me mate, Nele esperarei” (13.15), e louve a Deus. Sim, louve-O agora. Não espere até que as trevas passem para louvá-Lo. O caminho para sair delas, e o caminho para os muros da salvação, é pelos portões do louvor. “Aquele que oferece o sacrifício de louvor Me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus” (Sl 50.23).
[1] A autora se refere a fórmulas litúrgicas de confissão pública de pecados usadas em certos cultos protestantes. Segundo ela, essas práticas são, elas mesmas, as “obras mortas” das quais o penitente precisa ser limpo pelo sangue de Cristo. (N. do R.)
O arrependimento também é um ato continuo durante a vida inteira. Crescerá continuamente. Eu creio que um cristão em seu leito de morte se arrependerá mais amargamente do que jamais fez. Arrepender-se é algo que se fará durante toda a vida. Pecar e arrepender-se, pecar e arrepender-se, resume a vida de um cristão. Arrepender-se e crer em Jesus, arrepender-se e crer em Jesus, conforma a consumação da felicidade.
(C. H. Spurgeon)
A fé obedece. A incredulidade se rebela. O fruto da vida de uma pessoa revela se ela é crente ou incrédula. Não há meio termo. O simples conhecimento e aceitação de fatos, sem a obediência à verdade, não é crer, no sentido bíblico. Aqueles que se apegam à lembrança de uma “decisão de fé” feita no passado, mas não demonstram qualquer evidência de que a fé continua operando em sua vida, deveriam considerar bem a exortação clara e solene das Escrituras: “O que todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36).
(John MacArthur)
Não há coração que Deus não possa conquistar. Não há vida que Ele não possa mudar. Não há passado que Ele não possa perdoar.
(Steven Lawson)
Muitos oram com os lábios por aquilo que o coração não deseja.
(Jonathan Edwards)
O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo.
(C. H. Spurgeon)
Quando realizamos alguma coisa digna de louvor, devemos nos esconder sob o véu da humildade e transferir para Deus a glória de tudo quanto fizemos.
(Thomas Watson)
Todas as atividades intelectuais (por exemplo: ler, ouvir rádio, assistir televisão e filmes, estudos acadêmicos, conversas casuais) devem sempre ser submetidas ao filtro da cosmovisão cristã para determinar quais delas estão aliadas às verdades das Escrituras e quais são suspeitas de serem inimigas.
Ó Senhor, Teu desejo não é transformar o deserto, mas, sim, guardar nossos passos para que não nos desviemos do caminho que Teus próprios pés antes trilharam.
(F. E. Bevan)
Talvez seja maior o poder da Divina Providência que guarda o cristão dia a dia, ano após ano ― orando, cheio de esperança, correndo, crendo apesar das dificuldades ― do que aquele poder que o mantém firme no momento de seu sacrifício como mártir.
(R. Cecil)
A coroa de ferro dos sofrimentos antecede a coroa de ouro da glória.
(F. B. Meyer)
Você sentirá o amor de Deus por você mais intensamente conforme compreender a fé mais profundamente.
(Andrew David Naselli)
Houve uma profundidade de sabedoria no mandamento de nosso Senhor para dar a outra face, mas eu digo que, quando o fizer, certifique-se de manter sua língua nela.
(C. T. Studd)
Os mais habilidosos com as Escrituras são tolos, a menos que reconheçam que precisam de Deus como seu professor todos os dias da vida.
(João Calvino)
É doce não ser nada e menos do que nada para que Cristo possa ser tudo em todos.
Prezados leitores, o editor do Campos de Boaz, Francisco Nunes, estará em Salvador, nos dias 20 a 22, conforme a imagem acima. Se você for da “terrinha”, ou conhecer alguém de lá, venha participar e/ou divulgue. Será um prazer conhecer mais leitores pessoalmente.
A UniCristã está muito alinhada aos princípios que pautam nosso blogue. É bíblica, cristocêntrica, respeita a preciosa herança deixada por tantos respigadores fiéis do passado, reconhece a importante contribuição dos irmãos e deseja não meramente produzir pessoas com diploma, mas servos que amem mais o Senhor Jesus, respeitem mais Sua Palavra e sejam mais úteis para o Senhor e Sua Igreja. Se você está procurando uma boa faculdade cristã, recomendamos a UniCristã.
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.14,15).
O Senhor não ficou satisfeito com este impressionante chamamento para a graça prática na oração prescrita a Seus discípulos: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (v. 12), pois imediatamente depois completou com ênfase: “Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (v. 14).
Há tal confusão na cristandade quanto ao perdão dos pecados que a verdadeira força das solenes palavras do Senhor é grandemente perdida. A vasta maioria dos cristãos têm uma visão tão nebulosa da eterna redenção que temem crer na completa e permanente eficácia da obra de Cristo. As boas-novas, ou evangelho, de Deus são portanto despojadas de seu poder. Eles não são melhores do que um judeu que trouxe sua oferta, confessou seus pecados e foi embora com o conforto de que foi perdoado. Assim como este tinha de trazer sacrifícios com freqüência, assim os mal ensinados cristãos falam de sua necessidade de serem aspergidos de novo e de novo com aquele sangue, apesar de ter sido dito que ele foi derramado de uma vez por todas.
A vasta maioria dos cristãos têm uma visão tão nebulosa da eterna redenção que temem crer na completa e permanente eficácia da obra de Cristo.
Quanta cegueira, se não alegarmos nada mais, ao testemunho de Hebreus 10! O perfeito sacrifício fez cessar o imperfeito. Os adoradores uma vez limpos não têm mais consciência dos pecados; em evidente contraste com os sacrifícios levíticos, dos quais eram feitos lembrança ano após ano, os cristãos têm direito à remissão dos pecados. Cristo veio para remover o temporário e estabelecer o perpétuo. Assim sendo, quando Ele ofereceu um sacrifício pelos pecados, Ele eternamente [continuamente] sentou-se à mão direita de Deus. Ele tinha feito tudo perfeitamente a fim de apagar a culpa de Seus amigos (que haviam sido Seus inimigos), e assentou-se como prova de Seu triunfo, e está aguardando até que Seus inimigos, que O rejeitaram, e as obras deles sejam postos por escabelo de Seus pés. Então, Ele virá publicamente e pisará na rebelião aberta deles na consumação da era. Mas, para o cristão, o Espírito Santo testifica que de seus pecados e de sua anarquia Deus não se lembra mais. Agora, onde a remissão desses está, não há mais oferta pelo pecado: todas as coisas desse tipo são suplantadas e mais do que cumpridas em Cristo.
Mas, aqui, a fé falha, porque a Palavra de Deus não é recebida em sua divina e conclusiva autoridade; e, por causa disso, almas são defraudadas de paz e alegria ao crer; e toda a devoção a Deus é reduzida, apesar de termos sido comprados, como fomos, por um preço incalculável. Essa incredulidade ainda é aumentada por confundir coisas que se diferem, como nosso texto indica, com aquela completa redenção que repousa unicamente na cruz de Cristo. Ainda mais quando as benditas instituições da cristandade, como o batismo e a ceia do Senhor, foram tornadas ordenanças salvíficas, não figurativamente, mas intrinsecamente; e uma classe clerical se fez necessária e com direito divino de aplicá-las com o devido efeito aos leigos: uma invenção que sobrepujou as mais altas reivindicações do sacerdócio judeu, e em princípio nega o evangelho.
Mas, embora o Senhor, nem aqui ou em qualquer parte de Seu ensinamento no Monte, se refira à redenção que estava para realizar, Ele tinha uma importante lição para inculcar a Seus discípulos sobre cultivar um espírito de graça. Se o judeu em geral não podia elevar-se acima da lei na distância de Deus que ela produzia, acima do medo que encheu o grande mediador de tremores, e acima da prontidão em denunciar e amaldiçoar que ela gerou, a graça é a atmosfera na qual cristãos vivem e florescem. Sem dúvida, é mediante a justiça, mas, ao mesmo tempo, é a graça reinando.
O que era isso que atraía ao Senhor Jesus mesmo João, o batizador? O que era isso que, apesar de um ambiente de legalismo, por fim floresceu e deu frutos tão doces em Pedro e João e Tiago e um nobre exército de mártires e confessores? O que era isso que derreteu o coração de aço de Paulo e fez dele a mais ardente e sofredora testemunha de Jesus Cristo, e Ele crucificado, para o mundo? O que mais poderia começar com a mais orgulhosa, mais auto-satisfeita, obstinada e rebelde raça e transformá-la em pobres em espírito, em quem chora, em mansos, em quem tem fome e sede por justiça, em misericordiosos, em puros de coração, em pacificadores, em perseguidos por causa da justiça, e mesmo por amor a Ele, para quem a nação e seus sumos sacerdotes julgaram a crucificação ser justa, e assim cumpriram a Lei, os Salmos e os Profetas?
Assim como foram a graça e a verdade que deram vida aos discípulos, e a deram com abundância no poder da ressurreição de Cristo, assim se segue aquela plena e permanente remissão que Seu sangue assegura, e isso ininterruptamente. Mas o pecado tolerado interrompe a comunhão com nosso Deus e Pai, e necessita a advocacia de Cristo para limpar os pés que foram contaminados, mediante o lavar de água pela palavra. Seu sangue retém intacta sua virtude expiatória; mas a palavra é aplicada pelo Espírito em resposta ao Cristo elevado, e aquele que pecou se arrepende no pó e em cinzas. Pois “este [Cristo] é Aquele que veio por água e sangue” (1Jo 5.6). Nós precisamos de ambos, e temos ambos, e nada podemos fazer sem a água, assim como temos o sangue de uma vez por todas. Quem quer que ignore, ou (pior ainda) negue, a dupla provisão da graça, mina a redenção e confunde a verdade de Deus.
Você, que mantém ressentimentos e fica afagando as ofensas (freqüentemente exageradas, se não imaginadas) que outros lhe fizeram, tenha cuidado!
Agora o Senhor especifica que um espírito não-perdoador é intolerável para nosso Pai em Seu governo diário de Seus filhos. E não é de se admirar. Isso é como retornar da graça para a lei, de Cristo para o miserável ego. Conseqüentemente, como na oração, Ele recomenda com insistência graça com relação àqueles que podem nos ofender mesmo de modo muito doloroso, e amor, a respeito do qual Ele diz, alertando de modo leal e terno, que sua falta é, na prática, detestável a Seus olhos. “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas”.
Você, que mantém ressentimentos e fica afagando as ofensas (freqüentemente exageradas, se não imaginadas) que outros lhe fizeram, tenha cuidado. Se você é cristão, está em total falta no tocante a esse dever característico, está muitíssimo diferente de Cristo. É preciso que alguém lhe diga que você está tão infeliz quanto está endurecido? Não é nada para seu espírito elevado, degradante quanto isso o é para um cristão, que seu Pai não lhe perdoe as ofensas? Não perca tempo com um estado tão ruim e orgulhoso e não entristeça mais o Espírito Santo de Deus que selou você. Não deixe o sol se pôr sobre sua ira, nem dê lugar para o diabo (Ef 4.26,27).
A leitura da Bíblia, com regularidade e sinceridade, é o grande segredo para alguém permanecer firme na fé.
Aqueles que buscam felicidade somente nesta vida, e desprezam a religião da Bíblia, não têm idéia do verdadeiro conforto que estão perdendo.
Livre-se para sempre da vã idéia de que, se um crente não está crescendo na graça, isso não é culpa dele.
Seus pecados não são perdoados por aquilo que você é ou espera ser nem por causa de qualquer coisa que você fez ou sofreu; você está perdoado por causa do nome de Cristo, e todos os santos de Deus podem dizer o mesmo.
Eu peço aos que lêem esta mensagem hoje que considerem bem o que eu estou dizendo. Você vai para a igreja do sr. A ou B; você o considera um pregador excelente; você se deleita com seus sermões; você não consegue ouvir nenhum outro com o mesmo conforto; você aprendeu muitas coisas desde que começou a participar de seu ministério; você considera um privilégio ser um de seus ouvintes. Tudo isso é muito bom. É um privilégio. Eu seria grato se ministros como o seu fossem multiplicados. Mas, afinal de contas, o que você recebeu no coração? Você já recebeu o Espírito Santo? Se não, você não é melhor que a esposa de Ló.
Eu peço a Deus que todos os cristãos professos destes dias apliquem essas coisas ao coração. Que nós nunca esqueçamos que os privilégios sozinhos não podem nos salvar. Luz e conhecimento, pregações fiéis, meios abundantes de graça e a companhia de pessoas santas são todos grandes bênçãos e vantagens. Felizes aqueles que os têm! Mas, no final de tudo, há uma coisa sem a qual privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A esposa de Ló teve muitos privilégios, mas não teve a graça de Deus em seu coração.
A falta de tranqüilidade é uma das grandes características do mundo. A pressa, o vexame, o fracasso e os desapontamentos nos confrontam por todos os lados. Mas há esperança. Existe uma arca de refúgio para o cansado, tal como houve para a pomba solta por Noé. Em Cristo encontramos descanso ― descanso para a consciência e para o coração, descanso fundamentado no perdão de todo pecado, descanso que é resultado da paz com Deus.
Precisamos ter cuidado em não murmurar quando passamos por tempos de aflição. Devemos conservar na mente o fato de que, em cada tristeza que nos sobrevém, há um significado, uma razão e um recado de Deus para nós.
Jó pensou que conhecia seu coração, mas a aflição veio e ele descobriu que não o conhecia. Davi pensou que conhecia seu coração, mas ele aprendeu pela amarga experiência quão tristemente ele estava enganado. Pedro pensou que conhecia seu coração, e em pouco tempo estava se arrependendo em lágrimas. Oh, orem, amados, se amam a própria alma, orem por alguma compreensão da própria corrupção de vocês; os mais santos de Deus nunca perceberam completamente a extrema pecaminosidade do velho homem que estava neles.
John Charles Ryle nasceu em Macclesfield, na Inglaterra. Foi regenerado no ano de 1838, enquanto ouvia a leitura de Efésios 2 em uma capela de Oxford. Ele concluiu os estudos e pretendia seguir carreira nos negócios da família; no entanto, em 1841, o banco de seu pai faliu, deixando os Ryles em estado de pobreza e miséria. Durante essa fase, ele foi ordenado ao ministério em Winchester. Mesmo vivendo em um contexto político-religioso difícil e pertencendo a uma igreja estatal, J. C. Ryle exerceu um ministério muito vigoroso, pastoreando com fidelidade e dedicação. Durante seu pastorado, foram construídos quarenta locais de reunião, bem como construiu diversas capelas e escolas. J. C. Ryle, no período em que viveu, foi considerado um homem famoso, notável e amável, um campeão e expoente da fé evangélica reformada. Certa vez, Charles Spurgeon teceu o seguinte comentário sobre Ryle: “Ele é o melhor homem da Igreja da Inglaterra”. J. C. Ryle foi uma voz solitária clamando no deserto do conflito da religião estatal com o anglo-catolicismo. Em 1899, resolveu demitir-se do bispado, falecendo com 83 anos em junho de 1900.
Salvem alguns, ó cristãos! Tentem de todas as maneiras salvar algumas pessoas do fogo eterno e da escuridão infindável que fatalmente as aguardam. Salvem-nas pelas suas lágrimas, seu lamento e seu clamor por elas. Que este seja o grande objetivo da vida de cada um, a exemplo do apóstolo Paulo: que por todos os meios vocês salvem alguns.
(C. H. Spurgeon)
Qual é a causa da maioria dos desvios? Acredito que, como regra geral, uma das principais causas é a negligência da oração privada. As pessoas são desviadas em seus joelhos, muito antes de se desviarem abertamente aos olhos do mundo.
(J. C. Ryle)
Faça de Deus o objeto peculiar de seus louvores.
(Jonathan Edwards)
A religião verdadeira é uma coisa muito prática se não a adulterarmos.
(C. T. Studd)
Todo pecado é um tipo de ateísmo prático ― é um agir como se Deus não estivesse ali.
(Tim Keller)
O inverno prepara a terra para a primavera, assim as aflições santificadas preparam a alma para a glória.
(Richard Sibbes)
Tome para si a responsabilidade de elevar seus sentimentos em todas as suas atividades para mais próximo do céu.
“E o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia” (Êx 16.4).
“Diariamente a porção para cada dia”: essa era a regra que governava o conceder do maná, por parte de Deus, e o colhê-lo, por parte do homem. Essa ainda é a lei no trato da graça de Deus com Seus filhos. Uma visão clara sobre a beleza e a aplicação dessa regra é um maravilhoso auxílio para compreender como alguém, que se sente completamente fraco, pode ter a confiança e a perseverança de prosseguir vigorosamente por todos os anos de sua carreira na terra. Em certa ocasião, um paciente, que havia sofrido um sério acidente, perguntou ao médico: “Doutor, por quanto tempo precisarei ficar deitado?”. O médico respondeu: “Apenas um dia por vez”. Tal resposta ensinou ao paciente uma preciosa lição. Foi a mesma lição que Deus registrou para Seu povo muitos anos antes: “diariamente a porção de cada dia”.
Sem dúvida, foi por causa disso, e da fraqueza do homem, que Deus graciosamente determinou a alternância entre dia e noite. Se o tempo tivesse sido concedido ao homem na forma de um único e longo dia, certamente isso o teria exaurido e oprimido. A alternância entre dia e noite continuamente revigora e restaura a força do homem. Se o tempo não tivesse sido dividido, não haveria esperança para o homem, à semelhança de uma criança que recebesse um livro para que fosse lido de uma vez. Mas, se ao contrário, apenas uma lição por dia fosse dada a essa criança, ela conseguiria ler o livro com certa facilidade. Assim, o homem consegue gerenciar seus desafios quando eles são quebrados em pequenos pedaços e divididos em fragmentos. O homem somente precisa atender aos cuidados e ao trabalho daquele dia – “diariamente a porção para cada dia”. O resto da noite cai-lhe muito bem para poder começar de forma nova a cada manhã. Os erros do passado podem ser, assim, evitados e as lições podem ser aperfeiçoadas. Além disso, ele tem diante de si somente um curto dia para ser fiel. Os longos anos e a vida longa cuidarão de si; sua duração e seu peso nunca se tornarão fardos.
Na vida da graça, o encorajamento que essa verdade traz é tão doce! Muitas almas se inquietam ao considerar como serão capazes de colher e guardar o maná necessário para todos seus anos de peregrinação em um deserto tão árido. Essas almas nunca experimentaram o conforto indizível que há nas palavras “diariamente a porção para cada dia”. Essas palavras eliminam completamente todo o cuidado com o amanhã. Apenas o hoje é seu. O amanhã é do Pai. “Que garantia tenho de que conseguirei permanecer em Cristo por todos os anos durante os quais tiver de contender com a frieza, as tentações e as tribulações desse mundo?” Essa é uma pergunta que você não precisa fazer. O maná, como alimento e força para você, é concedido apenas diariamente. Sua única garantia do futuro é ser fiel no presente. Aceite e desfrute – e cumpra com todo seu coração – a parte que lhe cabe desempenhar hoje. Se você se alegrar na presença e na graça de Deus hoje, você se verá livre de toda dúvida e será capaz de confiar a Ele seu amanhã também.
Permaneça em Cristo, e que isso seja dia a dia.
Essa verdade nos ensina a atribuir grande valor a cada dia. Muito facilmente somos levados a pensar na vida como um grande todo e passamos a negligenciar o pequeno hoje, bem como esquecemos que são os dias que compõem o todo, e que o valor de cada dia depende de sua influência sobre o todo. Um dia perdido é como um elo quebrado no meio de uma cadeia e, freqüentemente, é necessário mais do que outro dia para efetuar o conserto. Um dia perdido influencia o seguinte, que fica mais difícil de ser guardado. Sim, um dia perdido pode pôr a perder aquilo que foi garantido por meio do cuidadoso trabalho realizado ao longo de meses ou até mesmo de anos. A experiência de muitos cristãos pode confirmar isso.
Cristão, permaneça em Cristo, e que isso seja dia a dia! Você já ouviu a mensagem: “A cada momento” – a lição de permanecer em Cristo dia a dia tem algo a mais para nos ensinar. No que se refere a momentos, em muitos deles não há nenhum exercício direto da mente sendo feito por você, e o permanecer acontece no recôndito mais profundo do coração, guardado pelo Pai, a quem você se encomendou. Mas é precisamente esse trabalho que precisa a cada dia ser renovado para o dia que se inicia – trata-se de um renovar específico da rendição e da confiança necessários para viver a vida a cada momento. Deus ajuntou os momentos e os atou em feixes, para que pudéssemos valorizá-los adequadamente.
Pela manhã, ao olharmos para o dia adiante de nós, ou à noite, ao olharmos para trás, ponderando os momentos vividos, aprendemos a valorizá-los e a usá-los adequadamente. A cada manhã, à medida que o Pai cumprir Sua promessa de lhe conceder o maná necessário para aquele dia – não somente para você, mas também para todos os que participam com você –, apresente-se a Ele com amor, reafirmando aceitar a posição que lhe foi dada em Seu amado Filho. Acostume-se a considerar essa atitude como sendo uma das razões pelas quais Deus estabeleceu a alternância entre o dia e a noite. Deus lembrou-se de nossa fraqueza e fez provisão para ela. Permita que cada dia tenha seu próprio valor do ponto de vista de seu chamamento para permanecer em Cristo.
Ao acordar de manhã, quando seus olhos começarem a contemplar o novo dia, aceite-o nos seguintes termos: “Este é um dia, apenas um dia, mas é um dia concedido para que eu possa permanecer e crescer em Cristo Jesus”. Seja um dia de saúde ou de doença, de lutas ou vitórias, receba-o com gratidão e seja este o principal pensamento: “Mais um dia que o Pai me concedeu; neste dia posso e devo ser mais intimamente unido ao Senhor Jesus”. E ao perguntar-lhe ao Pai: “Será que você pode confiar em Mim, apenas por este dia, que Eu o guardarei e o farei permanecer em Meu Filho e mantê-lo-ei produzindo fruto?”, você não poderá dar qualquer outra resposta a não ser: “Confiarei e não temerei”.
Seja um dia de saúde ou de doença, de lutas ou vitórias, receba-o com gratidão e seja este o principal pensamento: “Mais um dia que o Pai me concedeu”.
A porção diária era dada a Israel cedo de manhã, a cada manhã. Aquela porção diária era para ser usada e deveria servir de alimento ao longo de todo o dia, mas tanto o conceder como o colher eram o trabalho da manhã. Isso sugere que o poder para viver bem um dia e para permanecer o dia todo em Cristo depende fortemente daquele período matinal. “Se as primícias são santas, também a massa o é” (Rm 11.16a). Durante o dia, há momentos de intensa ocupação no corre-corre das tarefas ou nos atropelos dos homens em que somente o cuidado do Pai pode manter intacta nossa conexão com o Senhor Jesus. O maná, colhido de manhã, era o alimento consumido ao longo de todo o dia. Somente quando o cristão consegue garantir, de manhã, um momento a sós com Deus, para renovar de forma distinta e eficaz a comunhão de amor com seu Salvador, é que o permanecer pode ser guardado ao longo de todo o dia. O simples fato de poder proceder assim já é motivo de grande gratidão. No sossego e no frescor de cada manhã, o cristão pode contemplar o dia que se descortina diante de si. Ele pode considerar as responsabilidades e as tentações e, por assim dizer, vivenciá-las de antemão diante de seu Salvador, lançando sobre Ele todas as coisas. Cristo é tudo de que o cristão precisa: seu maná, seu alimento, sua força, sua vida. De manhã, o cristão pode colher a porção daquele dia. Ele deve ver que Cristo é a provisão para todas as necessidades que esse dia possa trazer, e pode prosseguir na certeza de que o dia será de bênção e de crescimento.
À medida que a lição sobre o valor e a obra de um único dia é acolhida no coração, o aprendiz, inconscientemente, é guiado até o ponto de ganhar o segredo do “cada dia, continuamente” (Êx 29.38b). O bendito permanecer, que é aprendido por fé para cada dia, é um crescimento contínuo e cada vez mais pleno. Cada dia de fidelidade traz bênçãos para o dia seguinte, e torna a confiança e a rendição mais fáceis e abençoadas. É assim que cresce a vida cristã: à medida que entregamos nosso coração por inteiro à tarefa de cada dia, esse mover passa a ocorrer durante todo o dia e, a partir daí, opera todos os dias. Assim, permaneceremos em Cristo a cada dia separadamente, todo o dia continuamente e dia após dia sucessivamente.
São os dias que compõem a vida: aquilo que antes parecia alto demais, grandioso demais e inatingível, agora foi concedido à alma que se contentou em tomar e usar “a porção para cada dia” (Êx 16.4), “cada coisa em seu dia” (Ed 3.4). Mesmo sobre a terra ouve-se a voz: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.21). Nosso dia a dia torna-se uma maravilhosa experiência de comunhão da graça diária de Deus e nosso louvor diário: “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de benefícios”, “para pagar os meus votos de dia em dia” (Sl 68.19; 61.8b). Passamos a compreender as razões de Deus de nos suprir diariamente como certamente Ele o faz: apenas, mas plenamente, o necessário para cada dia. Assim nos apresentamos em Seu caminho, o caminho de pedir diariamente e de esperar apenas o que é necessário – mas que é plenamente suficiente – para aquele dia. Desse modo, passamos a contar nossos dias, não baseados no raiar do sol, ou no trabalho que realizamos ou na comida que comemos, mas em função da renovação do milagre do maná: a bênção da comunhão diária com Ele que é a vida e a luz do mundo. A vida celestial, à semelhança da terrena, não se interrompe e é contínua. O permanecer em Cristo a cada dia traz para esse dia sua respectiva bênção. Permanecemos Nele a cada dia e durante todo o dia. “Senhor, faz com que seja essa a porção de cada um de nós”.
Então, disse Jesus a Seus discípulos: “Se alguém quiser…”. A palavra “quiser” aqui significa “desejam”, como no versículo “todos os que piamente querem viver” (2Tm 3.12). Isso significa “estar determinado”. “Se alguém quiser [desejar] vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz [não uma cruz, mas a sua cruz] e siga-Me”. E em Lucas 14.27, Cristo declarou: “E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Portanto, não é uma opção. A vida cristã é muito mais do que subscrever um sistema de verdades, adotar um código de conduta ou submeter-se a ordenanças religiosas. Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus. E, apenas na proporção em que sua vida é vivida em comunhão com Cristo, você estará vivendo a vida cristã – somente nesta medida.
A vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz e siga-Me”. Espero que você e eu ganhemos distinção pela proximidade com que seguimos a Cristo, e então teremos de fato comunhão íntima com Ele. Existe um grupo descrito nas Escrituras do qual é dito: “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que vá”. Mas, infelizmente, há um grupo, um grande grupo, que parece seguir o Senhor de forma irregular, espasmódica, ocasional e distante, não de todo o coração. Há muito do mundo e deles mesmos na vida deles, e tão pouco de Cristo. Três vezes mais feliz será aquele que, como Calebe, perseverar em seguir o Senhor.
Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus.
Ora, amados, nosso principal interesse e objetivo é seguir a Cristo, mas existem dificuldades pelo caminho. Existem obstáculos na vereda, e é a eles que a primeira parte de nosso texto se refere. Você nota que a palavra “siga-Me” vem no final. “A si mesmo” fica no caminho, e o mundo com suas milhares de atrações e distrações é um obstáculo; portanto, Cristo diz: “Se alguém quiser vir após Mim [primeiro], renuncie-se a si mesmo [segundo], tome sobre si a sua cruz e [terceiro] siga-Me”. E aí nós aprendemos a razão pela qual tão poucos cristãos professos seguem a Cristo de perto, clara e consistentemente.
O primeiro passo em direção ao seguir diário a Cristo é o negar a si mesmo. Há uma grande diferença, meus irmãos e irmãs, entre negar-se a si mesmo e a assim chamada auto-negação. A idéia popular, tanto para o mundo como entre os cristãos, é a de desistir das coisas que gostamos. Existe uma grande diversidade de opiniões sobre o que deveria ser abandonado. Há alguns que limitariam isso ao que é caracteristicamente mundano, como ir ao cinema, dançar e assistir às corridas. Há outros que limitariam isso a determinado período de tempo quando a diversão e outras coisas que são seguidas durante o resto do ano são rigidamente evitadas naquela época. Mas tais métodos, assim como os outros, só promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito se desisto de tanta coisa! Ah, meus amigos, o que Cristo fala em nosso texto (que o Espírito de Deus aplique isso a nossa alma) como sendo o primeiro passo para segui-Lo é a negação do próprio eu, não simplesmente algumas coisas que agradam o eu, não algumas coisas que o eu deseja, mas a negação do próprio eu.
O que significa “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo”? Significa, em primeiro lugar, abandonar sua própria justiça, mas quer dizer muito mais que isso. Significa parar de insistir sobre os próprios desejos, significa repudiar o próprio eu. Significa parar de considerar o próprio conforto, o sossego, a satisfação, o engrandecimento, os próprios benefícios. Significa acabar com o eu. Significa, amados, dizer com o apóstolo: “Para mim, o viver é…” , não o eu, mas “Cristo”. Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele. Esse é o significado! E, “se alguém quiser vir após Mim”, diz nosso Mestre, “renuncie-se, a si mesmo se negue”, ou seja, deixe o eu ser repudiado, ser aniquilado. Vemos isso, em outras palavras, em Romanos 12.1: “Apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.
Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele.
Agora o segundo passo para seguirmos a Cristo é tomar a cruz. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz”. Ah, meus amigos, viver a vida cristã é algo mais do que ter uma vida fácil e tranqüila; é um compromisso sério. É uma vida que tem de ser disciplinada com sacrifício. A vida de discipulado começa com a auto-renúncia e continua com a auto-mortificação. Em outras palavras, nosso texto se refere à cruz não apenas como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como um distintivo do discipulado, como uma experiência da alma. E, atentem! Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz. Os benefícios legais do sacrifício estão assegurados pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós quando nós a tomamos diariamente.
Eu quero chamar sua atenção para o contexto. Mateus 16.21 diz: “Desde então, começou Jesus a mostrar a Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-O de parte, começou a reprendê-Lo”. Pedro vacilou e disse: “Tem compaixão de Ti, Senhor”. Isso expressa a lógica do mundo. Este é o teor da filosofia do mundo: auto-proteção e egoísmo. Mas o que Cristo pregou não foi “poupar-se”, e sim “sacrificar-se”. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás e afastou-o de Si: “Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”. Em outras palavras, o que Cristo disse foi: “Eu estou subindo para Jerusalém, para a cruz; se algum de vocês quiser Me seguir, há uma cruz para ele. E, como Lucas 14 diz: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo” (v. 27). Não apenas Jesus devia subir para Jerusalém e ser morto, mas todo aquele que o seguir deve tomar sua cruz. O “deve” é tão imperativo em um caso como no outro. A cruz de Cristo permanece única em seu caráter expiatório, mas, no viver diário, ela é compartilhada por todo aquele que passou da morte para a vida.
Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz.
Então, o que “a cruz” significa? O que Cristo quis dizer com “qualquer que não levar a sua cruz”? Meu amigos, se é deplorável que nesses últimos tempos uma pergunta como esse precise ser feita, é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha concepções anti-bíblicas da razão da existência da “cruz”. O crente em geral parece considerar a cruz a que se refere o texto como qualquer aflição ou dificuldade que possa lhe sobrevir. Qualquer coisa que venha perturbar nossa paz, que seja desagradável à carne, que nos irrita, é vista como uma cruz. Um diz: “Bem, essa é minha cruz!”; outro diz que outra coisa é a cruz dele. Meus amigos, a palavra nunca é utilizada dessa forma no Novo Testamento. A palavra “cruz” nunca é encontrada na forma plural, nem precedida por um artigo indefinido: “uma cruz”. Note também que no texto, nossa cruz está ligada a um verbo na voz ativa, e não na passiva. Não é uma cruz que é colocada sobre nós, mas uma cruz que deve ser “tomada”. A cruz significa realidades definidas que incorporam e expressam as principais características da agonia de Cristo.
Outros entendem que “a cruz” se refere a deveres desagradáveis que eles cumprem sem disposição ou a hábitos carnais que rejeitam. Eles imaginam que tomam “a cruz” quando, empurrados pela consciência, se abstêm de coisas realmente desejadas. Tais pessoas invariavelmente transformam suas “cruzes” em armas para agredir outras. Elas ostentam sua auto-negação e andam por aí insistindo que as demais deveriam imitá-las. Tais concepções da “cruz” são tão farisaicas quanto falsas, e tão prejudiciais quanto errôneas.
Agora, na medida em que o Senhor me permitir, deixem-me mencionar três coisas que a cruz significa.
Primeiro, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiou o Cristo de Deus, e seu ódio foi plenamente manifesto na crucificação. Em João 15, sete vezes Cristo faz referência ao ódio do mundo contra Si e contra Seu povo; e apenas na proporção em que você e eu seguimos a Cristo, em que nossa vida seguir a Dele, em que deixarmos o mundo e estivermos em comunhão com Ele, então, o mundo nos odiará.
Nós lemos no Evangelho que um homem veio e apresentou-se a Cristo para ser Seu discípulo e pediu que primeiro pudesse ir e enterrar o pai, um pedido muito natural, realmente louvável, e a resposta do Senhor é quase atordoante. Disse Ele àquele homem: “Segue-me. […] Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos” (Lc 9.59,60). O que teria acontecido àquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Eu não sei se ele obedeceu ou não, mas, se obedecesse, o que aconteceria? O que teriam pensado dele seus parentes e amigos? Seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que fez com que ele seguisse a Cristo e negligenciasse o que o mundo chamaria de um dever filial? Ah, meus amigos, se vocês seguem a Cristo o mundo pensará que estão loucos, e algumas pessoas encontram muita dificuldade em suportar as censuras contra sua sanidade. Sim, algumas que encontram na reprovação dos vivos uma provação mais difícil do que a perda dos mortos.
Outro jovem apresentou-se a Cristo para o discipulado e pediu ao Senhor que primeiro lhe deixasse ir despedir-se dos seus, um pedido muito natural. Então, o Senhor apresentou a “cruz”: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (vv. 61,62). Pessoas de temperamento afetuoso se ressentem dos puxões que desatam os laços do lar, e os acham difíceis de suportar; mais difíceis ainda são as suspeitas dos amados e amigos de terem sido desprezados. Sim, a censura do mundo se torna muito real se estivermos seguindo a Cristo de perto. Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.
Outro jovem veio e apresentou-se a Cristo e, ajoelhando-se a Seus pés, O adorou e disse: “Bom Mestre, que hei de fazer …?”, e o Senhor apresentou-lhe a cruz: “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres […] vem e segue-me” (18.18,22). E o jovem retirou-se triste. E Cristo ainda continuou a dizer, a vocês e a mim, hoje: “E qualquer que não levar a sua cruz, e vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. A cruz significa a reprovação e o ódio do mundo. Mas, assim como a cruz foi voluntária para Cristo, ela é voluntária para Seu discípulo. Ela tanto pode ser evitada quanto aceita, ignorada quanto “tomada”.
Mas, em segundo lugar, a cruz significa uma vida que é voluntariamente rendida à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte foi um sacrifício voluntário. Em João 10.17,18, lemos: “Por isto o Pai me ama: porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou. Tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la”. Porque Ele deu a vida? Veja o final do versículo 18: “Este mandamento recebi de Meu Pai.” A cruz foi a última exigência de Deus sobre a obediência de Seu Filho. Por isso, em Filipenses 2 é dito que Ele, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a Si mesmo, tomando a forma de escravo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte…” – esse foi o clímax, esse foi o fim do caminho da obediência – “… e morte de cruz.”
Cristo nos deixou exemplo para que seguíssemos Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão – voluntária, não compulsória – voluntária, contínua, fiel, sem nenhuma reserva, até a morte. A cruz, portanto, significa obediência, consagração, rendição, uma vida à disposição de Deus. “ Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”, e: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo”. Em outras palavras, caros amigos, a cruz significa o principio do discipulado, nossa vida sendo dirigida pelo mesmo principio que dirigiu a vida de Cristo: Ele veio aqui e não agradou a Si mesmo, nem devo eu procurar agradar a mim mesmo. Ele a Si mesmo se esvaziou; então, assim devo eu fazer. Ele ia por toda parte fazendo o bem: o mesmo deveria eu fazer. Ele não veio para ser servido, mas para servir: assim deveríamos agir. Ele se tornou obediente até a morte, e morte de cruz. É isto que a cruz significa: primeiro, a reprovação do mundo, porque nós nos opomos a ele e incitamos sua ira por nos separarmos dele, e por andarmos por uma direção diferente e por sermos dirigidos por princípios diferentes daqueles pelos quais ele é dirigido. Segundo, significa uma vida sacrificada a Deus – devotada a Ele.
Em terceiro lugar, a cruz significa sacrifício e sofrimento vicários. Vejamos 1João 3.16: “Conhecemos o amor nisto: que Ele [Cristo] deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Essa é a lógica do Calvário. Nós somos chamados à comunhão com Cristo, e devemos viver segundo os mesmos princípios que Ele: obediência a Deus e sacrifícios pelos outros. Ele morreu para que tivéssemos vida e, meus amigos, nós temos de morrer para que vivamos. Mateus 16.25 diz: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á” – isso diz respeito a todo cristão, pois Cristo estava ali falando aos discípulos. Todo o crente que tem vivido uma vida egocêntrica, preocupado com seu próprio conforto, sua própria paz de consciência, seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios, essa “vida” irá se perder para sempre – tudo desperdiçado à luz da eternidade; madeira, feno e palha, que virarão fumaça. Mas, “quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”, que quer dizer, alguém que não tem vivido considerando seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio benefício, sua própria promoção, mas tem sacrificado e gastado a vida a serviço dos outros por causa de Cristo; esse achará – o quê? –, ele a achará, não alguma outra coisa a mais: sua vida, não outra – a sua vida. Essa vida foi imortalizada, perpetuada, foi feita de materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste do fogo do dia por vir. Ele “a” achará. Cristo morreu para que pudéssemos viver, e nós devemos morrer se quisermos viver! “Quem perder a vida por minha causa, achá-la-á”.
Novamente, em João 20, Cristo disse a Seus discípulos: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (v. 21). Para que Cristo foi enviado? Para glorificar ao Pai, para expressar o amor de Deus, para manifestar a graça de Deus, para lamentar sobre Jerusalém, para ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho, para labutar tão diligentemente que Ele não tinha tempo nem para comer, para viver uma vida de tão alto sacrifício que Seus familiares disseram: “Está fora de Si”, e: “Assim como o Pai Me enviou”, Ele diz, “também Eu vos envio”. Em outras palavras, “Eu vos envio de volta para o mundo do qual vos salvei. Eu vos envio de volta para o mundo para viverdes com a cruz estampada em vós”. Ó irmãos e irmãs, quão pouco “sangue” há em nossa vida! Quão pequeno é o levar o morrer de Jesus em nosso corpo (2Co 4.10)!
Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós?
Já começamos, de algum modo, a “tomar a cruz”? Estamos surpresos com o fato de estarmos seguindo Cristo tão de longe? Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós? Há uma razão para tudo isso. Em seu caráter expiatório, a cruz de Cristo permanece única, mas no viver diário a cruz deve ser compartilhada por todos os Seus discípulos. Legalmente, a cruz do Calvário anulou e afastou de nós nossa culpa, a culpa de nosso pecado, mas, meus amigos, eu estou perfeitamente convencido de que a única maneira de nos libertarmos do poder do pecado sobre nossa vida e de obter domínio sobre o velho homem dentro de nós é tornando a cruz parte da experiência de nossa alma. Foi na cruz que o pecado foi tratado legal e judicialmente; somente na medida em que a cruz for “tomada” pelo discípulo é que ela se torna uma experiência – matando o poder e a corrupção do pecado que habita em nós. E Cristo diz: “Qualquer que não tomar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo!”. Oh, que necessidade tem cada crente de ficar a sós com o Senhor e consagrar-se a Seu serviço!
O mais doce relacionamento que existe entre um homem e uma mulher é o de esposo e esposa. O mais doce relacionamento que existe entre Deus e o homem é o de esposo e esposa. Israel é a esposa de Deus e a Igreja será a esposa do Senhor Jesus Cristo. Existem muitas esposas no Antigo Testamento que, em seu relacionamento com o marido, tipificam, simbolizam ou ilustram algum aspecto particular do relacionamento entre Cristo e Sua Noiva. Neste artigo, queremos considerar Eva como um tipo da Igreja, a Noiva de Cristo.
Nossa convicção, nascida de oração e estudo da Palavra, é que, embora as expressões noiva e igreja possam ser sinônimas, elas são diferentes; porém, semelhantes a corpo. Eva como a noiva de Adão tipifica a igreja, a Noiva de Cristo em dois aspectos:
1. Como a Noiva em predestinação. Quando Deus criou Adão e Eva, eles eram uma pessoa. Eva estava em Adão. Seu nome, embora sendo duas pessoas numa, era Adam (singular). Para que Adão fosse socialmente completo, Eva precisou ser tirada dele e feita uma personalidade distinta e depois levada a ele para que ele pudesse ter comunhão com ela. Efésios 1.4 fala da igreja como estando em Cristo antes da fundação do mundo. Assim, para que Jesus fosse socialmente completo, a igreja precisava ser tirada Dele e feita uma personalidade distinta e apresentada a Ele para comunhão por toda a eternidade.
Deus fez com que um profundo sono caísse sobre Adão e, durante esse período de tempo, Ele abriu-lhe o lado e tirou uma porção de seu corpo, do qual fez Eva, sua noiva. Ela era o universo e o complemento de Adão – seu outro ego. Da mesma forma, quando Cristo morreu, Seu lado foi aberto e surgiu aquela parte de Seu corpo que trouxe à existência Sua Noiva, a Igreja. Assim como Adão era incompleto sem Eva, assim Cristo era incompleto sem Sua noiva, a Igreja, Seu corpo e plenitude Daquele que a tudo enche. Por meio de Adão, Eva recebeu toda a sua dignidade, posição e bênção. Por meio de Cristo, a igreja na mente de Deus como a noiva de Cristo, foi predestinada e pré-ordenada desde a eternidade. Eva estar em Adão desde o dia da criação tipifica e ilustra maravilhosamente a Igreja na predestinação.
2. O segundo fato tipificado por Adão e Eva é relativo à composição ou constituição da Igreja. Tudo o que Deus faz é segundo um modelo, em número, peso e medida. Quando arquiteta um plano ou modelo, Ele nunca o muda, mas prossegue ao longo das eras, operando segundo Seu próprio modelo, que é perfeito desde o princípio. Tem-se tornado axiomático entre os estudantes de tipologia que, a primeira vez que um tipo ocorre, o modelo é estabelecido. Mas, nos tempos de Adão e Eva, temos muito mais do que simplesmente um tipo de ilustração. Aqui está uma norma divina e perfeita que nunca é mudada. Aqui está uma prova infalível e confirmada por muitas outras Escrituras que a companhia escolhida que há de formar a noiva de Cristo é apenas uma pequena parte do corpo de Cristo. A noiva é tirada do corpo e, no mais elevado sentido, o corpo de Cristo, assim como Eva é o corpo de Adão, mas não todo o seu corpo. Considere o relacionamento proporcional entre uma costela e o resto do corpo. Quando Eva foi tirada do corpo de Adão, ela foi chamada de isha, que significa “tirada do homem”, que era chamado de ish. Temos a mesma expressão em inglês: ela foi chamada de woman (man significa homem), porque foi “tirada do homem”. [Algumas traduções em português trazem varoa e varão para indicar esse fato registrado no hebraico. (N. do E.)]
Em 1Coríntios, Paulo chama nossa atenção para o fato de haver muitas ordens ou companhias de indivíduos na terra. Todos os salvos do Antigo e os do Novo Testamentos não constituem um só grupo. Existem diferentes grupos de salvos no Antigo Testamento e diferentes grupos de salvos no Novo Testamento! Todos os santos do Novo Testamento formam o Corpo de Cristo, mas certo grupo (por sua própria escolha de sofrer com Ele, vencer o mundo, a carne e o diabo, e manter obediência fiel a Seus mandamentos e conquistar coroas concedidas por Deus) constitui aqueles que serão tirados do grande corpo dos santos do Novo Testamento para compor a Noiva de Cristo. Isso segue o modelo de Eva sendo tirada do corpo de Adão e se tornando sua noiva.
Possivelmente, nenhuma outra interpretação incorreta tem resultado num viver relaxado e num total desprezo para com os mandamentos do Senhor do que o ensinamento de que todo cristão, a despeito de como vive, é um membro da Noiva de Cristo e reinará com Ele. Esteja informado e saiba que, embora a vida eterna seja uma dádiva de Deus, os galardões e o governo são baseados na fidelidade a nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
“Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (Hb 3.19).
“Então, os filhos de Judá chegaram a Josué em Gilgal; e Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o SENHOR falou a Moisés, homem de Deus, em Cades-Barneia por causa de mim e de ti. Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração.
“Mas meus irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu, porém, perseverei em seguir ao SENHOR, meu Deus. Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente a terra que pisou o teu pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois perseveraste em seguir ao SENHOR, meu Deus.
“E agora eis que o SENHOR me conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades. Porventura o SENHOR será comigo, para os expulsar, como o SENHOR disse.
“E Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a Hebrom em herança. Portanto Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, até o dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao SENHOR, Deus de Israel” (Js 14.6-14).
Estou certo de que isso soará para muitos como voltar por um longo caminho e entrar em um reino muito vasto quando digo que nós, cristãos, estamos sendo constantemente confrontados com nosso cristianismo e desafiados por ele. Muitos de nós ainda não entraram realmente no cristianismo. O que quero dizer? Bem, por um motivo: a única porta para o verdadeiro cristianismo é a porta do descanso, o descanso da fé. O modo muito simples pelo qual o Senhor colocou isso em Seu apelo foi: “Vinde a Mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Isso foi dirigido a uma multidão, e essas palavras geralmente são usadas nas mensagens evangelísticas para os não-salvos. O sentido do que o Senhor disse com essas palavras é dado na Epístola aos Hebreus – um significado muito mais profundo e completo do que aquele que é geralmente reconhecido no uso do singelo convite: “Vinde a mim […] e vos darei descanso”. Existe algo que devemos ouvir e detectar na frase: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
Uma presente entrada no descanso
Se olharmos o contexto, a referência é a algo no qual o povo de Deus não entrou. “E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (3.19). Eles não puderam entrar. Quem eram eles? O povo de Deus. É para o povo de Deus que ainda resta um descanso. Não coloquemos isso no futuro, pois esse não é o significado de modo algum; como se depois, quando nós chegarmos em Casa na glória, então, chegaremos no dia de descanso sabático, entraremos no repouso. Não é algo que acontece na tumba: a pessoa entrou no descanso. É, antes, alguma coisa que resta agora como algo presente para o povo de Deus, não na morte, mas na vida. Resta ainda o descanso.
Não me julguem elementar, pois vocês sabem no coração, assim como sei no meu, que esse assunto de descanso do coração, o descanso da fé, é uma questão continuamente viva, que está vindo à tona em todo o tempo. Uma das coisas que está faltando em muitos de nós é o repouso, ou, colocando de outra maneira, as coisas que mais nos caracterizam são a agitação frenética, a ansiedade e a incerteza – e todas elas são o oposto da tranqüila segurança, da quieta confiança, do espírito, da atitude e da atmosfera que diz a todo tempo: “Não se preocupem, não se precipitem, está tudo bem”. Uma coisa que nosso grande inimigo está sempre tentando fazer é perturbar, destruir isso e nos roubar isso, agitar-nos, afligir-nos, conduzir-nos, atormentar-nos, qualquer coisa que roube nosso descanso ou nos impeça de entrar nele.
É o descanso da fé, não o descanso da passividade, da indiferença e da falta de cuidado. Há muita diferença entre falta de cuidado e falta de preocupação. Resta, ainda deve ser alcançado, deve ser obtido, ainda existe, ainda está preservado um descanso para o povo de Deus – para o povo de Deus. Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso. Nosso testemunho e nosso ministério estão ameaçados, enfraquecidos, limitados e desacreditados se nós mesmos não estivermos no repouso; e este é o objetivo da ação do inimigo com respeito a isso: tirar nosso crédito removendo de nós a primogenitura de nossa união com Cristo, Aquele que nunca está perturbado, nunca ansioso, nunca com dúvidas em qualquer questão a a respeito Daquele que reina. O repouso é o resultado exterior prático de nossa crença de que Ele é o Senhor, e de que o senhorio de Cristo está comprometido pela falta de descanso do povo de Deus.
Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso.
O descanso da fé deve ser nossa posição, não apenas na grande questão da justificação – mas se não estivermos alicerçados nela, não estaremos alicerçados em qualquer outro fundamento. Oh, o inimigo está atacando isso, mesmo com respeito ao povo de Deus; ele está sempre buscando desvalorizar isso; de certa forma buscando erguer novamente a questão da justificação, de estarmos apenas com Deus em nosso posicionamento, em nossa aceitação – que ainda não é plena e final em nosso estado apenas em Cristo; ou seja, não estamos finalmente perfeitos em nós mesmos, mas somente naquela união em relação ao que Cristo é. O inimigo nunca cessa de tentar diminuir isso, seus métodos são incontáveis, muito persistentes e muito vigorosos. O descanso da fé está nisso, mas também em cento e um outros aspectos das coisas práticas da vida cotidiana, coisas que não estão em nosso poder para arrumar, assegurar, estabelecer e fazer acontecer. Cada dia traz centenas de situações nas quais há a oportunidade de permanecermos no descanso da fé, naquela fé no Senhor que traz repouso. Assim, sutis são os modos do inimigo que sempre nos dirá que é algo muito pequeno com que preocuparmos o Senhor; “é um mero incidente, por que levar ao Senhor? Ele é maior e tem coisas mais importantes do que essa aí para fazer! Por que tentar fazer do Senhor nosso garoto de recados (digo-o com reverência), apenas para fazer todas as coisinhas que queremos que sejam feitas?” Se nessas coisas o testemunho é preservado pelo descanso, então, é algo grande para o Senhor, não algo pequeno. Se nessa questão a glória do Senhor corre risco de sofrer, então, é algo realmente muito grande. Talvez seja um incidente do dia-a-dia – sim, de muitas, muitas maneiras no cotidiano, você e eu podemos perder o equilíbrio, o descanso e a tranqüila confiança como se perdêssemos nossa espiritualidade, e o Senhor perde muito, pois isso prova que em algum lugar faltou fé, e, com isso, o repouso se foi. Esse é um lado. É um desafio para nós, um real desafio.
A necessidade de fé
“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.” Não puderam – incredulidade paralisadora, desqualificante e incapacitante. Isso significa que, o quanto antes encararmos toda essa questão e a resolvermos, tanto quanto possível, melhor. Por 38 anos Israel esteve trancado, detido, andando em círculos, por assim dizer, nesta única questão de crer ou não em Deus. Ela foi levantada, digo novamente, de diversas formas. Ela apareceu em questões físicas, pois uma vida no deserto era fisicamente um grande desafio. O Senhor não mudou as condições físicas. Ele chamou os filhos de Israel a uma grande mudança neles mesmos primeiramente; as condições físicas seriam ajustadas quando Ele obtivesse a mudança dentro deles. Quando a questão da fé Nele foi resolvida, então, o Senhor tratou com o que era físico. A questão fora levantada nas áreas circunstancial, emocional, intelectual e volitiva; o desafio fora feito a todas elas de várias maneiras. Podemos considerar toda a experiência deles e ver como cada um tinha uma forma peculiar de desafiar a fé, e esse desafio mudava quase diariamente em seus aspectos e formas, porém era sempre o mesmo. Ocorreu em todas as áreas, e o Senhor jamais o mudou, ou impediu nem permitiu que toda a gama de condições fosse alterada, focando sempre apenas em um ponto: o que importava era o homem interior, e, enquanto esse ponto não fosse decidido, o Senhor lidava com todas as outras coisas.
A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus.
Bem, isso é muito compreensível. Não pensemos que é necessariamente essa ou aquela coisa que contribui para nossa condição. Podem ser fatores contribuidores, podem ser uma grande prova, podem ter muito peso sobre nós. As questões físicas – sim, elas pesam, tornam a situação extremamente difícil, fazem um monte de diferença. As circunstâncias nas quais temos de viver fazem muita diferença, tornando a situação demasiadamente difícil. Dizemos: “Se tão-somente o Senhor tratasse com essa questão física ou com essas circunstâncias ou algo mais! Tudo acontece por causa disso, que é sua causa, sua razão”. Essa é nossa maneira de arrazoar, mas de maneira nenhuma é o pensamento do Senhor. A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus. O Senhor está tentando nos tirar de nossa variável e volátil vida da alma, na qual estamos à mercê de todos os nossos sentimentos, pensamentos, razões e todas essas coisas, e nos colocar em um reino em que, em espírito, somos firmes. Este é o ponto sobre o qual tudo ficaria fixado, segundo o salmo: “Seu [do povo] coração não estava firme nele [em Deus]” (78.37), e em torno disso todos aqueles quarenta anos transcorreram. A chave para isso é espiritual; testados por todas as outras circunstâncias, por todos os outros meios, por fim constataram que era uma questão espiritual. Ser fortalecido com poder por Seu Espírito no homem interior (Ef 3.16) é a resposta a isso tudo. O outro modo de agir, então, dá lugar a esse; pelo menos devemos ganhar ascendência sobre o outro enquanto não é removido.
Fé em Deus, o segredo da coragem
Voltemos à palavra em Josué. Daquela primeira geração, apenas dois homens saíram do reino da alma: Josué e Calebe. Eles triunfaram nesse reino e sobre ele primeiro, e depois o Senhor os trouxe para fora, mas o fato é que o descanso da fé, que era o segredo do triunfo deles enquanto estavam nele, foi trazido tão bela e magnificentemente à luz em Josué 14. Penso que é algo excelente. Calebe, um dos dois, vem a Josué. Ele é agora um homem velho, mas ainda vivendo pela fé na posição que tomou com o Senhor anos antes. Ele tomou essa posição quando foi um dos espias e quando a grande maioria, a esmagadora maioria, trouxe seu péssimo testemunho. Os demais olharam para Deus através de suas circunstâncias, esses dois homens contemplaram suas circunstâncias através de Deus – e isso fez toda a diferença. Calebe tomou essa posição de olhar para tudo através de Deus, e ainda vive nessa posição; e agora, como um homem velho, vem a Josué, e, enquanto todos os outros estão recebendo suas heranças em posições agradáveis, fáceis e prósperas, “em que cada paisagem era agradável”, Calebe diz: “Dê-me esta montanha onde estão os gigantes e as grandes cidades muradas, esse país montanhoso! Dê-me esta montanha!”
Oh, queridos amigos, existe muito a ser dito sobre isso, mas ficarei contente, por ora, em apresentar este desafio ao meu coração e ao de vocês: O que estamos buscando? Uma herança fácil, uma horta em que trabalhar, algo que responderá a nosso toque imediatamente e nos dará satisfação? Buscamos uma terra florescente? A fé que trouxe Josué e Calebe ao descanso de coração antes do descanso da terra era este tipo de fé: “Dê-me uma possibilidade difícil! Eis aqui uma situação cheia de dificuldades, cheia de ameaças, cheia de adversidades; não obstante ser quase uma proposta aterradora, dê-me uma chance ali!” Vemos o desafio. As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor? “De que o Senhor falou aquele dia […] como o Senhor disse.” Como estamos encarando as grandes dificuldades? E elas existem! Existem problemas! E essas montanhas parecem se empilhar umas sobre as outras à medida que prosseguimos. Às vezes, o que está diante de nós parece ser uma perspectiva impossível, uma situação desesperadora. Talvez para nós individualmente, por alguma razão dentro de nós ou fora de nós, ou para a obra para a qual fomos chamados, para o ministério, o testemunho que está posto diante de nós, aquilo parece tão completamente desesperador, a montanha é impossível. Bem, e daí? “Dê-me esta montanha!” Nada a não ser uma fé real em Deus pode considerar as coisas desse modo e dizer: “Tudo bem. É difícil, não há dúvidas sobre isso, é uma proposta naturalmente aterradora, uma perspectiva desesperadora; não obstante, nós a tomaremos no nome do Senhor. Como o Senhor falou… O Senhor” olhando para a montanha através do Senhor, e não para o Senhor através da montanha.
As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor?
Creio que esse seja o tipo de fé de que precisamos, que conduz ao descanso. Uma montanha – sim, uma montanha alta o bastante, uma montanha de fato, uma montanha circunstancial, uma montanha da perspectiva da obra. Naturalmente, faríamos a coisa certa, a sábia, a coisa do senso comum: “Não, não tocaremos nisso!” Mas a fé diz: “Não vou tentar contornar a montanha, não vou virar as costas para ela e fugir. Dê-me esta montanha!” Eu quero essa fé, você a quer. Não é apenas nossa coragem natural, nossa natureza tenaz, nossa pugnacidade que fará isso. Sabemos bem que nada temos; se deixados por nossa conta, seria melhor desistir. Mas o Senhor está desafiando, e Calebe vem como uma repreensão para nós. Ao final de uma longa vida – quando pensaríamos que talvez fosse o tempo dele herdar um belo jardinzinho e um chalé em algum lugar onde o trabalho fosse fácil e pudesse, então, descansar – ele diz: “Dê-me esse monte onde há gigantes e cidades muradas! Dê-me esta montanha!” Sua escolha foi uma coisa difícil, pois era uma oportunidade para o Senhor.
É provável que muito em breve sejamos trazidos, de modo muito prático, ao encontro de situações como as que temos descrito, mas consideremos o Senhor nelas. Vamos ter de enfrentar com naturalidade o que serão dificuldades aterradoras, por dentro e por fora, que querem arrancar nosso coração, mas, oh!, a essa quieta e repousante segurança e confiança em nosso Deus, a qual diz: “Dê-me esse monte como uma oportunidade de experimentar o Senhor!”
E assim fez Calebe – em Hebrom, e isso é outra história (Hebrom é uma longa história). Devemos conhecê-la, pois Hebrom foi um lugar maravilhoso nos propósitos de Deus. Davi fora primeiramente coroado rei lá, antes de o ser em Jerusalém. Hebrom significa “comunhão”. Há uma grande herança em Hebrom. Hebrom está assegurado para homens e mulheres com o tipo de fé de que falamos, que não querem escapar de suas dificuldades e do caminho árduo. Que a tomemos na força do Senhor, e que Ele tenha uma oportunidade de mostrar que pode fazer o que seria naturalmente impossível. O Senhor nos dê essa fé!