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Gotas de orvalho (28)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Torne sua vida uma constante comunhão com Deus. O aroma dEle não permanece por muito tempo em uma pessoa que não se demora em Sua presença.

(John Piper)

Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade.

(Agostinho)

Precisamos suplicar de forma específica que Ele graciosamente unja nossos olhos – não apenas para conseguirmos ver coisas maravilhosas na Sua lei – mas também para que nos conceda pronto discernimento para percebermos como a passagem à nossa frente se aplica a nós mesmos – quais são as lições específicas que devemos aprender dela. Quanto mais cultivarmos este hábito, mais provável que Deus vai abrir-nos Sua palavra.

(A. W. Pink)

Nós nunca, nunca estamos em tanto perigo de sermos orgulhosos como quando pensamos que somos humildes.

(C.H.Spurgeon)

Qualquer homem é um tolo, apesar de sua inteligência ou o que você tem feito nesta vida, se não levar em conta o Deus do Universo. É simples assim.

(James Dobson)

Aqueles que deixaram a mais profunda marca nesta Terra amaldiçoada pelo pecado foram homens e mulheres de oração. Você descobrirá que a oração é a força poderosa que tem movido não somente a mão de Deus, mas também o homem.

(D.L. Moody)

O começo da ansiedade é o fim da fé; e o começo da verdadeira fé é o fim da ansiedade.

(George Müller)

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Gotas de orvalho (22)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Antes que Ele forneça o abundante suprimento, primeiro devemos ser feitos conscientes de nosso vazio. Antes que Ele nos dê força, devemos sentir nossa fraqueza. Devagar, dolorosamente devagar, vamos aprender essa lição; e mais devagar ainda reconhecer nossa insignificância e tomar o lugar de impotência diante do Poderoso.

(A. W. Pink)

A salvação é simples, mas não é fácil.

(Oliver Smith)

Quando, enfim, eu confessei: “Sou pecador!”,
ante a graça me prostrando,
Cristo, então, me declarou: “Sou Salvador!”,
meu pecado retirando.

(John Dickie)

Todas as virtudes de um cristão emergem da morte do ego.

(Madame Guyon)

Em oração, nós agimos como homens; em louvor, nós agimos como anjos.

(Thomas Watson)

Não há qualquer tipo de obediência que prestemos a Deus contra o qual o pecado não se oponha. E quanto mais espiritualidade ou santidade houver no que fazemos, maior é esta oposição. Assim, aqueles que buscam oferecer o melhor a Deus são os que experimentam a oposição mais forte.

(John Owen)

Não há orgulho tão perigoso, tão sutil e traiçoeiro, como o orgulho da santidade.

(Andrew Murray)

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Vida cristã

Compra a verdade e não a vendas

“Que é a verdade?” (Jo 18.38). Pilatos, com a consciência intranqüila, tendo feito essa pergunta a Jesus e sem esperar pela resposta, saiu para tentar desviar o povo de suas intenções homicidas. Todos estavam sob o poder de Satanás, pai da mentira e homicida desde o princípio (8.44). Pouco depois, o povo gritou: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

A pergunta permanece. Em todos os tempos, os sábios da terra têm tentado em vão respondê-la apenas com os recursos de sua mente. Essa pergunta deveria atormentar cada vez mais o mundo, se seu chefe não o seduzisse a fim de arrastá-lo para o juízo eterno.

Mas há uma resposta para toda alma que se inclina, pela fé, diante da tríplice declaração de Jesus:

“Eu sou […] a verdade” (14.6).
“Tua Palavra é a verdade” (17.17).
“O Espírito é a verdade” (1Jo 5.6).

Aquele que crê em Jesus Cristo, por quem veio a verdade:

  • é libertado do domínio de Satanás e dos enganos dos homens: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4.14).
  • conhece a verdade, e esta o liberta: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).
  • está no Verdadeiro: “Sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).
  • a verdade está nele e ele está na verdade: “Por amor da verdade que está em nós, e para sempre estará conosco” (2Jo 2). “Disse-lhe, pois, Pilatos: ‘Logo, tu és rei?’ Jesus respondeu: ‘Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz’.” (Jo 18.37).
  • anda na verdade: “Muito me alegrei quando os irmãos vieram e testificaram da tua verdade, como tu andas na verdade” (3Jo 3).
  • escuta a voz de Jesus, a voz da verdade: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (Jo 10.27).

Que graça, portanto, crer na verdade! Todos os que não crêem na verdade, mas se comprazem com a mentira, serão condenados (2Ts 2.12).

Como comprar a verdade?

Essa compra exclui, é importante dizer, a idéia de um preço que há de ser pago, de uma soma que se há de desembolsar. A prata não é pesada para comprar a verdade (Jó 28.15); nenhum recurso humano permite sua aquisição. Só a fé permite possuí-la, com a salvação que Deus dá em Jesus, seu dom inefável (2Co 9.15).

Então, nenhum sacrifício é necessário para essa bem-aventurada aquisição? Por certo que é! Primeiramente, uma renúncia de todo o ser, que se submete, segundo a obediência da fé (Rm 16.26), à ação do Espírito da verdade. Então, por Sua própria vontade, Deus opera na alma esse nascimento pela palavra da verdade (Tg 1.18). É a conversão.

Pensemos no apóstolo Paulo, interpelado por Cristo no caminho para Damasco. Se conhecemos nosso coração um pouco, compreenderemos o sentido da frase do Senhor: “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Paulo deveria abandonar toda a justiça própria, que exalta o homem, na qual se deleitava (Fp 3.4-9).

Esse é o preço que todos devemos aceitar para que nos seja possível comprar a verdade. Quantas pessoas tropeçam diante da necessidade de considerar como escória (v. 8) o que produz orgulho de sua vida, reta aos próprios olhos! Não é nada mais que escória! Que menosprezo por seu esforço por fazer o bem, por sua conduta digna, pela consideração dos demais, em que até agora estavam satisfeitas!

Mas, ao considerarmos como escória, concordamos com o Deus justo e santo, o qual nos mostra nosso estado de morte em nossos delitos e pecados. Essa convicção de pecado é ainda o trabalho de Sua graça em nosso coração. Essa é a primeira condição para a aquisição da verdade. Vamos, sem recursos próprios, despojados de toda pretensão, desprovidos de todo bem segundo Deus, e aceitamos o que Deus declara: “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.10,11).

Quantas pessoas tropeçam diante da necessidade de considerar como escória o que produz orgulho de sua vida, reta aos próprios olhos!

Então, também se faz ouvir a voz de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Nesse momento, Deus pode nos dizer: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Pv 23.26). É como uma segunda condição que Ele estabelece. Essa única coisa que Ele nos pede deixa de lado todo o atrativo que o mundo apresenta a nosso coração, pois acrescenta: “E os teus olhos observem os meus caminhos”.

Dar o coração… Freqüentemente essa expressão de Provérbios é usada para falar da conversão. Mas uma verdadeira conversão não é somente a adesão a um ensinamento bíblico; não pode acontecer de uma simples aproximação do coração produzida pelo evangelho. Não, pois dar o coração a Deus, ao Salvador, implica o que o Senhor disse ao jovem rico: “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz e segue-me” (Mc 10.21). É a renúncia àquilo que até agora dominou o coração; é a obediência à verdade. Assim se compra a verdade. Todo o ser é agarrado por Cristo e, desde então, deseja apegar-se a Ele, aceitando também o peso de Seu opróbrio e do desprezo do mundo.

Dar o coração é mais do que a intenção de nutrir a imaginação ou de progredir no conhecimento religioso. Se não damos verdadeiramente todo o nosso coração a Jesus, para conhecer a verdade Nele e andar na verdade, podemos estar certos de que ficaremos entre os que sempre aprendem sem, contudo, chegar ao conhecimento da verdade (2Tm 3.7). É um estado de alma enganoso e cheio de perigos.

Não vender a verdade!

Mas Provérbios 23.23 também apresenta um dever com respeito à verdade: “Não a vendas”. Essa ordem se refere unicamente ao fato do Senhor ter dito: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8) e: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35)? O apóstolo apresentava “de graça o evangelho de Cristo” (1Co 9.18). Por acaso, era para fechar a boca dos incrédulos, inclinados a dizer: “O cristianismo é uma religião de dinheiro; sempre nos é pedido para dar, até mesmo para ter um lugar no céu”? Não, pois seria anular o que Deus disse e repetiu: “Vinde […] os que não tendes dinheiro […] vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço” (Is 55.1). A salvação é o dom [presente] de Deus em Jesus, o qual é, Ele mesmo, o dom de Deus.

Portanto, qual é o sentido desta ordem relacionada com a verdade: “Não a vendas”? No campo das coisas terrenas, alguém não se desprende, nem mesmo por um grande preço, daquilo que quer muito; freqüentemente, o coração se apega mesmo aos objetos materiais como se eles tivessem alma. Evocam-se tantas recordações, o querido passado tem tanto valor para o coração… Vender a verdade? Instintivamente, o fiel se nega a fazê-lo. No entanto, tenhamos cuidado, porque há tantas maneiras de manifestar que a verdade, ao final das contas, não nos é tão preciosa como o afirmamos com palavras.

A esse respeito, lembremos dos mais humilhantes exemplos da Palavra.

  1. Esaú vendeu sua primogenitura por um prato de lentilhas. Naquele momento de cansaço produzido pela tarefa de caçar, que lhe importavam as promessas feitas a Abraão e a espera “da cidade que tem fundamentos”? Perdeu todo direito à bênção, pelo que foi rejeitado, ainda que a tenha buscado com lágrimas (Hb 11.10; 12.16,17).
  2. Judas, em quem Satanás ia entrar, já havia concluído com os homens religiosos e os chefes do povo o trato abjeto: por trinta peças de prata vendeu o Justo (Am 2.6) e entregou o sangue inocente. Por trezentos denários teria vendido o perfume de Maria, que era de um valor incalculável para o coração do Salvador.

Esses são os solenes descarrilhamentos do incrédulo ou do coração manchado com a horrível lepra do amor ao dinheiro. Nós, cristãos, estamos igualmente expostos a falhar, ainda que em menor grau; e isso seria um real menosprezo à verdade e às riquezas que ela contém em Jesus.

Podemos estar inclinados a vendê-la muito barato quando, por exemplo, desconhecendo o valor de congregar-nos em torno do Senhor, menosprezamos Seu dia santo ao andar em nossos próprios caminhos (Is 58.13,14), buscando distrações e prazeres mundanos em lugar dos benefícios de Sua presença no meio dos Seus. “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”, é a exortação apostólica (Hb 10.25).

Temamos que nosso coração se aparte da verdade que está em Cristo Jesus. Manifestar indiferença a Seu respeito ou abandonar a verdade ainda que em pequena medida seria vendê-la. Mantenhamos nossa alma purificada “pelo Espírito na obediência à verdade” (1Pe 1.22).

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (Pv 4.23). Querido irmão, não esqueça dessa exortação. Se você entregou verdadeiramente seu coração ao Senhor, você permitiria que ele se unisse, quer aos incrédulos – o que seria a pior maneira de vender a verdade em lugar de estar a ela submisso –, quer mesmo a cristãos, os quais lhe levariam para fora da senda da fé traçada por Deus, no meio da confusão que reina na cristandade professante, ou seja, sem a vida?

Quantas vidas malogradas existem por falta da comunhão em Deus e com Deus e quantos problemas no lar, dia após dia! Que o Senhor guarde você. Não venda a verdade, à qual você deve estar submisso, quando a Palavra lhe ordena a não se unir em “jugo desigual” (2Co 6.14,15).

Temamos que nosso coração se aparte da verdade que está em Cristo Jesus.

Além disso, para nós, hoje, é grande o perigo de conceder à verdade menos valor do que teve para os que nos precederam no caminho da fé. Aqueles, por sua fidelidade, trabalharam para edificar “um muro” (Ez 13.5) para salvar sua alma e a nossa. Em seu tempo, eles compraram a verdade, pondo o conhecimento da verdade segundo Deus acima dos laços, ainda que muito estreitos, que os uniam a outros. Com verdadeira dor no coração, esses crentes fiéis se afastaram da cristandade professante, por obediência ao Senhor, para encontrar-se com Ele fora do arraial (Hb 13.13).

Agora nos compete fechar as brechas nesse muro que deixamos que fossem abertas no tocante a nossa segurança, com respeito a esse testemunho que devemos dar ao Senhor. Todos temos de velar sobre nossa alma. Não vendamos a verdade que era tão preciosa para aqueles cristãos fiéis no princípio do século 19.
Podemos compreender um pouco que o coração daqueles crentes foi agarrado pela verdade, ao constatar quão pouco havia, em sua época, do verdadeiro ensinamento evangélico. Que pobreza espiritual no que era pregado! Um evangelho privado de toda a sua substância divina, carente da pregação da cruz! Essas almas despertadas tinham fome da Palavra de Deus e sede da verdade!

Então, Deus levantou irmãos piedosos, mentes esclarecidas pelas quais Ele operava, afastando-os de toda organização humana, consagrando-os ao bem do rebanho, apresentando aos irmãos Cristo como alimento. Então, todas as verdades que emanam de Sua obra e dizem respeito a Sua pessoa, na expectativa de Seu regresso, foram recebidas com alegria e diligência por esses corações cujo caminhar na senda da verdade é-nos proposto como exemplo (Hb 13.7). E ainda hoje nos beneficiamos de sua fidelidade.

Não cedamos a um pessimismo que faz esquecer a graça do Deus fiel. Talvez nos oprima o sentimento dos esforços redobrados do adversário para prejudicar-nos. Ele sempre tentará fazer-nos desprezar a Palavra, nosso verdadeiro tesouro. Portanto, ponhamos cada vez mais atenção ao mandamento divino: “Compra a verdade e não a vendas”.

(L. G.)

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Simulação, exagero e predomínio (T. Austin-Sparks)

Da revista A Witness and A Testimony de jan/fev de 1970, pp. 15-18

 

Intérpretes da Bíblia estão convencidos de que as palavras ostensivamente dirigidas ao “rei de Babilônia” em Isaías 14 têm um contexto mais amplo que só pode ser exaurido se visto como referência a um antigo ser angélico. Essa convicção é fortemente apoiada por outras declarações e alusões em diferentes partes da Bíblia, como Judas 6, 2Pedro 2.4 e Lucas 10.18.

Se isso é verdade, então, o que é dito torna claro os três passos que levaram à queda de Satanás. Eles também indicam a queda de muitas coisas que tiveram um bom começo. Há um ensinamento muito solene e valioso aqui, apesar do assunto não ser agradável.

1. Simulação

“Serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14.14)

Há muitas passagens nas Escrituras que mostram que um dos principais métodos de Satanás é a imitação de Deus e da verdade de Deus. Tanto é assim que ênfase e importância tremendas são colocadas no discernimento espiritual como dom e marca do ungido. De fato, isso é uma característica daquele que é espiritual, do homem espiritual. Podemos dizer que uma obra e função primária do Espírito Santo é o discernimento. É dito que o Espírito Santo tem, ou Ele é representado tendo, “sete olhos”, que significa a perfeição da visão espiritual. Podemos aqui introduzir outro parágrafo de muito peso de Tozer:

 

Poderia ser essa nossa mais crítica necessidade?

“Quando vemos o cenário religioso hoje, somos tentados a nos fixar em uma ou outra fraqueza e dizer: ‘É isso que está errado com a Igreja. Se isso for corrigido, poderemos recapturar a glória da Igreja primitiva e ter tempos pentecostais de volta conosco outra vez.’

“Essa tendência de supersimplificar é, em si mesma, uma fraqueza, e devemos nos guardar sempre dela… Por essa razão, estou hesitante em apontar para qualquer defeito na cristandade de hoje e fazer todos os nossos problemas saírem dele apenas. Que a assim chamada “religião da Bíblia” está sofrendo rápido declínio em nosso tempo é tão evidente que não é preciso prová-lo; mas exatamente o que está trazendo esse declínio não é fácil de descobrir. Somente posso dizer que tenho observado significativa falha entre cristãos evangélicos que podem se mostrar como a causa real da maioria de nossos problemas espirituais; e, sem dúvida, se isso for verdade, então, o atendimento daquela falha deve ser nossa mais crítica necessidade.

“A maior deficiência a que me refiro é a falta de discernimento espiritual, especialmente entre nossos líderes. Como pode haver tanto conhecimento bíblico e tão pouca percepção, assim como influência moral, é um dos enigmas do mundo religioso hoje. Eu penso que seja completamente acurado dizer que nunca houve um tempo na história da Igreja em que pessoas estivessem engajadas no estudo da Bíblia como estão hoje. Se o conhecimento da doutrina bíblica fosse alguma garantia de piedade, essa seria, sem dúvida, conhecida na história como a era da santidade. Em lugar disso, poderá bem ser conhecida como a era do cativeiro babilônico da Igreja ou a era do mundanismo, em que a Noiva de Cristo professa permitiu-se ser, de modo bem-sucedido, cortejada por incontáveis caídos filhos dos homens. O corpo dos crentes evangélicos, sob influências malignas, tem, durante os últimos 25 anos1, ido mais para o mundo em completa e abjeta sujeição, evitando apenas um pouco dos pecados mais grosseiros, como bebedice e promiscuidade sexual.

“Essa desgraçada traição que tomou lugar em plena luz do dia com o pleno consentimento de nossos mestres da Bíblia e evangelistas é um dos mais terríveis adultérios na história espiritual do mundo. No entanto, eu não posso crer que a grande sujeição tenha sido negociada por homens de coração mau que estabeleceram deliberadamente destruir a fé que herdamos de nossos pais. Muitas pessoas boas e de viver correto colaboraram com os colaboracionistas que nos traíram. Por quê? A resposta só pode ser: por falta de visão espiritual. Algo como uma névoa se estabeleceu sobre a Igreja como “a face da cobertura com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se cobrem” (Isaías 25.7). Tal véu uma vez desceu sobre Israel… Aquela foi a hora trágica de Israel. Deus levantou a Igreja e temporariamente deixou de lado Seu antigo povo. Ele não podia confiar Sua obra a homens cegos. Certamente precisamos de um batismo de visão clara se quisermos escapar do destino de Israel… certamente uma das maiores necessidades é do surgimento de líderes cristãos com visão profética2. Nós desesperadamente precisamos daqueles que sejam capazes de ver pela névoa. A menos que eles venham logo, será muito tarde para essa geração. E, se eles vierem, iremos, sem dúvida, crucificar alguns deles em nome de nossa ortodoxia mundana. Mas a cruz é sempre o prenúncio da ressurreição. Mero evangelismo não é nossa necessidade presente. Evangelismo não faz mais do que estender a religião, seja ela do tipo que for. Ele produz aceitação para a religião entre grande número de pessoas sem dar muita reflexão à qualidade daquela religião. A tragédia é que o evangelismo atual aceita a corrente forma de cristandade como a verdadeira religião dos apóstolos e se ocupa em fazer convertidos a ela sem questionar nada. E, a todo tempo, estamos nos afastando mais e mais do padrão do Novo Testamento. Precisamos ter uma nova reforma. É preciso vir um violento rompimento com a pseudo-religião irresponsável, de louca diversão paganizada que se passa hoje pela fé de Cristo e que está sendo espalhada por todo o mundo por homens não-espirituais usando métodos não-escriturísticos para alcançar seus objetivos.” (A. W. Tozer)

 

Há várias coisas no Novo Testamento que foram estabelecidas para uma testemunha de Cristo, para a edificação do Corpo de Cristo, para a glória de Cristo, as quais, pelas mesmas razões, têm sido tomadas por Satanás e simuladas, imitadas e sendo dadas como substituto para as verdadeiras, mas isso tem sido feito, no final, para desacreditar Cristo e fazer o oposto a Sua divina intenção. Parece ser muito real que muitos queridos do povo de Deus estão enganados, perplexos e sendo levados para o erro. Mistura de erro com verdade tem sido sempre um método muito bem-sucedido de sedução, desde o início. Deus é imitado na idolatria, na adoração falsa. Cristo é imitado no anticristo. O Espírito Santo é imitado na liderança e nos dons. O homem é enganado por simulação física daquilo que é espiritual. Pessoas, sob a pressão de colapso nervoso, neurose, esgotamento, acusações e condenações espirituais correm para o psiquiatra. O método é levá-las a se libertarem de suas tensões por meio da auto-expressão, divulgando coisas ocultas e, em casos extremos, pela hipnose. Isso tem um efeito psicológico e o paciente se sente “maravilhosamente livre”. Expressão; expressão! Auto-expressão! Um homem disse ao autor [deste texto] que viera do psiquiatra sentindo que ele havia “nascido de novo”, alguma coisa melhor ainda que sua conversão! Mas – sim, mas! – tudo o que ele sentia regrediu, e ficou pior do que antes.

Psicologia, a ciência da psiquê, pode ser3 a obra-prima de Satanás na simulação do espiritual e, então, mergulha a alma nas mais profundas profundezas do desespero.

Ao lado de que uma liberação do espírito em oração e louvor, e algumas vezes ela pode ser experimentada por esses meios, e a comunhão é um grande instrumento para essa bênção, há a falsificação do canto coral barulhento e almático4 e da repetição desequilibrada. A música é, frequentemente, a maior bênção e o maior perigo. “No Espírito” é a máxima divina.

2. Exagero

Subirei sobre as alturas das nuvens” (Isaías 14.14).

Este parágrafo todo – Isaías 14.9-15 – é um exagero, se o termo significa “acumular, ir além do normal, levar ao excesso”, etc.

Subirei sobre…” tem este significado: “Eu vou exceder”. É a ambição correndo em delírio. É o orgulho em abundância. É algo não restringido por modéstia, humildade e dependência. É a extravagância. É algo adicionado ao que é correto e verdadeiro. É ultrapassar o limite. É a inflar-se. Isso é o perigo da alma apaixonada. Se Satanás não pode deter uma pessoa, ele vai derrubá-la. Se ele encontra devoção honesta, ele vai fazer com que ela se exceda. Se ele encontrar uma mente ativa, vai fazer com que um extra seja adicionado à verdade, para que a verdade se torne não-verdadeira.

No “rei da Babilônia” nós temos o exagero da personalidade. “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei […]?” (Dn 4.30). O eu, o ego, é assertivo, pronunciado, sobrepujante. A liderança e a habilidade natural e o dom se tornam autocracia, ditadura, mesmo tirânica. Há muitas vezes uma linha fina entre autocracia e liderança espiritual, e é aqui que o discernimento é necessário. A primeira força, compele e se faz legal. A última vem de uma profunda história de sofrimento com Deus, estabelece um alto padrão e mantém-se nele. Isso pode ser difícil para a carne nos outros de aceitar, e eles podem interpretar isso erroneamente. Liderança é um dom divino e de grande importância. Ninguém irá muito longe sem isso. Por esse motivo, Satanás tem sempre marcado essa função e quem a possui com especial atenção para exagerá-la, e a derrota é seu verdadeiro objetivo. Dependência é o refúgio do líder espiritual, e o Senhor atenta muito plenamente para isso!

Há muitos movimentos exagerados em nosso tempo. O ensino é puxado até muito além de seu verdadeiro significado. Alguma coisa correta e boa e, então, a pitada de exagero. O propósito é ser muito espiritual, ter ensino avançado, mas a linha do real significado disso tem sido cruzada, e a confusão se segue por causa de uma ênfase desequilibrada. Isso tem sido muito freqüentemente a causa de seitas e grupos exóticos e excêntricos, e seu número é uma legião. A propensão ateniense era por “alguma novidade”, a qual normalmente significa alguma nova sensação. Quão poderosamente Satanás apoia tais exageros e faz o erro crescer sem proporções! Ele sabe muitíssimo bem que segue esse caminho para encher o mundo com pessoas desiludidas que em breve não creram em nada, principalmente na verdade. Foi exatamente isso que fez o apóstolo João apontar, de modo tão forte, quase veemente, a verdade com as expressões, repetidas de maneira constante: “Este é… Esta é… Isto é…”. Veja suas cartas e note a ênfase sobre a unção que ensina todas as coisas. O contexto é o anticristo e seus enganos.

3. Predomínio

Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono […]” (Isaías 14.13).

Exaltar”. “Acima”. O objetivo, o alvo, o clímax da aspiração de Satanás. Isso soa fantástico e remoto. Mas não é tão remoto e impensável como parece à primeira vista. Não é esse o motivo e o estímulo de todos os poderes políticos? Se tão-somente percebermos isto: o colocar abaixo esta pretensão foi a razão para a Encarnação, pois todo pecado tem florescido dessa raiz. O nascimento, a infância, a vida adulta, o ensino e a cruz de Jesus Cristo foram um positivo contrabalanço para o poder e a glória mundanos. Ele nunca procurou “causar uma boa impressão”, atrair pessoas para Si ou para Sua causa por meio de prestígio, artifícios, glamor ou por mostra de glória natural.

Mesmo de sua glória e posição corretamente celestial Ele se esvaziou. Seu reino e Seu reinado não eram deste mundo.

Tudo isso foi para refazer algo que havia sido distorcido. Esse algo está em todos nós. Nós adoramos o ídolo do sucesso. Nós temos uma concepção totalmente falsa de força, poder e importância. Jesus veio para corrigir isso em Sua própria pessoa. “Fazes com [a fim de] que ele tenha domínio” (Sl 8.6).Sim, mas não auto-centrado. “Trazendo muitos filhos à glória” (Hb 2.10). Sim, mas à glória de Sua infinita graça, favor sem qualquer mérito! Nós reinaremos com Ele, sim, mas como adoradores do Cordeiro (cf. Ap 20.6)!

O teste para qualquer coisa é se ela realmente exalta Cristo. Não só em palavras, que podem ser uma forma de simulação e de exagero. A garota do templo possuída por demônios em Filipos podia patrocinar e pregar o evangelho, mas aquilo era uma coisa profunda de Satanás, e o apóstolo não estava barateando o evangelho para o diabo a fim de ganhar popularidade. A santidade de Cristo é o critério!

Assim, nós – muito brevemente, claro – notamos o caminho da maldição de Satanás, o caminho de sua queda. O julgamento sobre sua simulação, seu exagero e seu predomínio é: “E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo” (Is 14.15).

Que contra o que é falso, o Senhor produza a verdadeira similitude de Cristo, o verdadeiro magnificar de Cristo, a verdadeira exaltação e supremacia de Cristo!

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(Traduzido por Francisco Nunes de Simulation – Exaggeration – Predomination, publicado por Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, EUA, 1995.)

1Como Tozer faleceu em 1963, e considerando-se que ele tenha escrito isso no último ano de vida, a afirmação se refere ao estado dos cristãos por volta do final da década de 1930! Infelizmente, a situação apenas piorou nos últimos 80 anos, incluindo os pecados que Tozer dizia serem ainda evitados. (N.T.)

2Com certeza, Tozer não estava se referindo àquilo que hoje é chamado de “profético”: dança, pintura, atos, declarações e outros tantos absurdos “proféticos”. A visão profética é de acordo com a Escritura: a denúncia de tudo aquilo que não é de acordo com a completa verdade Escriturística, que rouba o lugar de Deus como Senhor absoluto, que rouba o lugar de Sua Palavra como verdade absoluta, que entroniza o homem em lugar de Cristo, que desvia os filhos de Deus para homens em lugar de levá-los à submissão a Cristo. As “coisas proféticas” modernas são muito mais ocultismo e mundanismo do que a mínima prática profética bíblica. Tozer e Austin-Sparks podem ser considerados como profetas neste sentido bíblico. (N.T.)

3É importante notar que o autor não afirma que ela é, mas que pode ser. A psicologia desvinculada da verdade bíblica ignora a realidade do pecado, a natureza pecaminosa do homem, de sua inclinação espontânea para o mal, sua incapacidade de curar sua incapacidade de fazer somente o bem, etc. Ela propõe, grosso modo, que o homem faz o que faz mais por influência externa e que, por isso, tem condições de se curar, “reprogramando-se”, tomando novas atitudes e disposições. Isso, sem dúvida, é uma falsificação da obra profunda e única do Espírito Santo. (N.T.)

4Neologismo para traduzir o termo soulical, indicando o que tem origem na alma, procede da alma, diz respeito apenas à alma. (N.T.)

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Igreja Thomas Neatby

Reunidos no nome do Senhor Jesus

Há mais de cinqüenta anos, quando eu era ainda um jovem servo de Cristo, fiquei muito preocupado com a condição da Igreja naquela ocasião. O slogan de Keswick1, “Todos um em Cristo”, era quase desconhecido tanto em princípio como na prática. A pretensão clerical não tinha recebido o duro choque que sofreu alguns anos mais tarde, por ocasião do avivamento irlandês. O mundanismo, essa armadilha constante para os filhos de Deus, dominava. O sectarismo, o clericalismo e o mundanismo na Igreja eram uma carga real para mim.

Nessa ocasião fiquei conhecendo alguns cristãos devotos2, que se reuniam de modo bem simples, e, segundo meu parecer, conforme o padrão bíblico de adoração e comunhão. Eles partiam o pão no “primeiro dia da semana” e recebiam todos os que lhes davam motivos de crer que eram realmente filhos de Deus, sãos na fé e piedosos na conduta. Não tinham uma classe distinta de ministros, embora fossem gratos por todos aqueles que o Senhor qualificava para tal e usava na “obra do ministérios para edificação do Corpo de Cristo”. Eu havia encontrado o que procurava. Fui reconhecido como discípulo, pregador do Evangelho, segundo minha medida, e logo recebido como irmão em Cristo.

Descobri que havia muito o que aprender. Essas pessoas felizes, com pouca pretensão, estavam vivendo verdades das quais eu conhecia pouco ou nada. A salvação plena no Cristo ressurreto, com Quem eles eram um pelo Espírito Santo que neles habitava, a chamada distinta e especial da Igreja como Corpo e Noiva de Cristo, a esperança real e diária da Sua volta, o lugar importante e soberano de Israel na Palavra e caminhos de Deus e outras verdades semelhantes eram seu alimento e gozo diários. Tive o prazer de participar com eles dessas alegrias e de ver meu coração ligado mais intimamente a Cristo Jesus, meu Senhor. O que aprendi de Deus naquela ocasião eu guardo ainda mais firmemente. Seria um dia nublado e negro encontrar-me sem uma das verdades que então alegraram meu coração.

Os anos passaram e, em meio a muitas fraquezas e falhas, minhas convicções com respeito a essas verdades foram fortalecidas e meu prazer nelas aumentou. Mas, pouco a pouco, descubro que o sectarismo havia me seguido onde eu pensava estar protegido dele, e que, em certa medida, ele havia tomado posse de mim. O diabo é sutil, e nós, ai! somos propensos à carnalidade e a andar “como homens” (1Co 3.4, grego), nos tornando assim presa fácil para o inimigo de Cristo que nos leva a pensar que estamos servindo a Ele ou, então, a rejeitar e criticar aqueles que “não nos seguem” (Lc 9.49). João, sem dúvida, julgava-se zeloso por seu Senhor, enquanto seu zelo carnal tinha o “nós” como alvo.

Mesmo depois de toda a verdade de “Cristo e a Igreja” ter sido revelada, havia aqueles que fizeram de Cristo a cabeça de um partido rival aos de Pedro, de Paulo e de Apolo. Ambos os casos, eram, na verdade, muito sutis. João poderia ter dito corretamente: “Ele deve seguir a Cristo juntamente conosco, que somos Seus apóstolos escolhidos.” E o partido em Corinto poderia ter respondido: “Certamente é correto sermos de Cristo”. Mas a resposta do Senhor a João e a pergunta do Espírito Santo foi: “Está Cristo dividido?” Isso mostra que a carne (e portanto Satanás; veja Mt 16.23) estava operando em ambos os casos. Foi em 1884 que escrevi um folheto no qual eu reclamava para aqueles com quem eu me reunia para adoração a exclusividade de estarem reunidos para o nome do Senhor Jesus. Que carnalidade coríntia! Dois anos mais tarde, confessei publicamente meu grave erro. Mas agora que o tumor se espalhou e os termos que o encerram receberam de alguns distritos a aprovação para uso habitual, sinto que uma retratação mais categórica se faz necessária, juntamente com um sério protesto contra a apropriação por parte de apenas uns poucos daquilo que é privilégio de todos os filhos de Deus.

Permitam-me apresentar dois exemplos desse título denominacional: (1) Tenho visto repetidamente nos últimos anos cópias impressas de uma “carta de recomendação” a ser preenchida quando necessário. Seu conteúdo é mais ou menos assim: “Os santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em… recomendam etc.”. A carta é endereçada aos “santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em…”; (2) Um periódico, dando relatórios da evangelização dos distritos do sudoeste, menciona que ele é feito “em nome das assembléias de cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus”.

Existem, então, “cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus” distintos dos cristãos que não se reúnem assim. Esse é o título denominacional deles. São formados em assembléias que levam essa denominação distinta. Não são mais “reuniões” de cristãos que rejeitam todos os nomes ou títulos que os distinguem dos outros santos. (Essa foi nossa glória em outros tempos.) Eles encontraram um nome para competir com todos os outros nomes, tais como os de Paulo, Apolo e Cefas: são cristãos reunidos no nome do Senhor Jesus, a escola (ou classe) coríntia de Cristo. Meus irmãos, isso é carnalidade!

Para mim, “o antigo é melhor”. A “escola (ou grupo) de Cristo”, as “assembléias reunidas no nome do Senhor Jesus” eu não posso suportar. Mais precisamente, deixem que eu seja um com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor, Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (1Co 1.2).

Poderei ser interrogado: “Você não está reunido para o Nome de Cristo?” Minha resposta: “Nem sempre, nem distintivamente.” Eu não estou “reunido” enquanto escrevo estas linhas. Sou sempre uma ovelha do único rebanho de Cristo; algumas vezes reunido com outros para adoração e comunhão, e por isso sempre, graças a Deus, no nome de Cristo! Permita-me rogar ao leitor que considere bem Mateus 18.20, dentro do seu contexto, sem atribuir qualquer significado que não esteja nele. Imaginemos um grupo de cristãos zelosos (presbiterianos, episcopais, batistas, metodistas, “amigos” e aqueles que rejeitam todos os títulos que dividem) que consideram que um diploma tende a roubar deles a liberdade que desejam há tanto tempo, e que ele é a cunha fina que abre a passagem para a mulher montada na besta escarlate. Esses homens, podemos supor, não têm liberdade para se unir em resistência passiva ou para interferir no governo do mundo, mas sentem que, se suas orações “por todos os homens” são necessárias, agora é o tempo. Eles estão “reunidos” e “concordam” nas súplicas ao trono da graça celestial. Em nome de quem eles estão reunidos? Só existe uma resposta, pois só existe um nome acessível diante daquele trono. Foi esse nome que Elias invocou no monte Carmelo por um Israel não-dividido; foi o nome Dele, que agora conhecemos como nosso Senhor, Jesus Cristo, o único nome que assegura toda bênção pedida para toda a Igreja de Deus. Oh, que eu esteja sempre reunido, quando reunido, naquele nome! E aquilo que valorizo tanto para mim não seja recusado por mim a qualquer santo de Deus.

O uso atual desse título discriminativo por uma parte da Igreja é comparativamente recente. E o “reunidos” também é recente? Nos tempos modernos os cristãos não foram acostumados a se reunir do modo referido, antes da segunda quarta parte do século passado. Não havia então reunião no nome de Cristo entre os primeiros séculos de nossa era, e, digamos, 1826 [quando os irmãos de Plymouth começaram a se reunir – NT]? Certamente que não se poderia encontrar nenhum cristão que afirme isso. A Igreja perdeu logo no início sua esperança: a volta do Noivo Celestial, e, com ela, a separação do mundo. Em pouco tempo provou sua infidelidade ao seu Senhor crucificado e foi arruinada quanto ao seu testemunho e responsabilidade. O Senhor deixou-se ficar sem “dois ou três” reunidos em Seu nome durante todos esses séculos? Os santos se reuniam na época da Era das Trevas, mas no nome de quem? Alguns deles “andaram vestidos de peles de ovelhas e cabras, necessitados, aflitos e maltratados” (Hb 11.37). Estes, quando levados às covas e cavernas, oraram juntos? E no nome de quem? Se fosse no nome de Júpiter, Astarote ou Maria, eles teriam sido libertados. Mas os que confessavam o Nome e deram a vida por Ele como mártires, deles era a comunhão dos Seus sofrimentos (Fp 3.10).

Regozijando-se por participar da Sua rejeição, suas orações oferecidas em culto e freqüentemente interrompidas pelo fogo e pela espada subiram como incenso suave em o Nome e oferecidas pela mão sacerdotal Daquele que morreu, mas está vivo de novo!

Reunir-se em Seu nome é um privilégio sem preço! É precioso demais para ser outorgado exclusivamente a qualquer dos fragmentos resultantes da quebra do testemunho, que foi verdadeiramente a obra Daquele que é “maravilhoso conselheiro e excelente na obra”. A nós pertence a vergonha e a confusão de rosto, pelo modo como temos cuidado da Sua obra.

Diga-me: o reunir-se no nome de Cristo pertence àqueles assim chamados de comunhão aberta ou aos de comunhão fechada? Os líderes de cada grupo não reclamam esta prerrogativa para si e a negam aos outros? Ela deve ser entregue a qualquer um dos inúmeros corpos nos quais (ai!) o lindo testemunho uma vez levantado por Deus para a glória de Cristo e os privilégios da Igreja que é Seu Corpo foi dividido? Se a teoria que serve de base para esse título denominacional for verdadeira, apenas um desses corpos pode ter o direito de adotá-la. E qual é ele?

Meus irmãos, e qualquer entre vocês que temem a Deus, busquemos a graça para lançar fora, aos pés da cruz, nossas vãs pretensões e assumir nosso lugar em humilde confissão diante de Deus. Nosso orgulho tem entristecido e feito tropeçar muitos que são caros a Deus. Muitos deles se desviaram e seus filhos também, quando poderiam estar andando agora entre nós no conforto do Espírito Santo. Está escrito em verdade eterna: “DEUS RESISTE AO SOBERBO!” Ai do homem ou do grupo a quem Deus resiste!

Se a metade da energia que tem sido gasta para produzir e manter altas reivindicações eclesiásticas tivesse sido dedicada ao Senhor para fazer veredas direitas para nossos pés (Hb 12.13), para andarmos em humildade e fidelidade, dando frutos para Deus, buscando zelosamente a bênção para toda a família da fé e ganhando almas para Cristo, que colheita de bênçãos teria sido ceifada hoje!

É de se temer que muitos entraram num caminho realmente de fé, sem o quebrantamento de espírito tão essencial para trilhar tal caminho. O que diríamos de um bêbado ou de um homem desonesto que dissesse que estava convencido da sua tolice e que se dispunha a virar uma nova página, isto é, a viver uma nova vida? Não ficaríamos tristes com sua justiça própria? Sem arrependimento para com Deus? Sem necessidade do sangue expiador ou do Espírito vivificante! O que diremos então de um cristão que está convencido de que seu caminho não tem sido de acordo com a Palavra de Deus, e, portanto, não agradável a Ele, o qual, de igual modo, virou uma nova página e está determinado a andar segundo o que se encontra na Escritura? Sem ervas amargas? Sem confissão? Não é isso a própria essência da justiça própria? O primeiro passo é o do orgulho. E o curso subseqüente? Não temos aqui a explicação para o orgulho e auto-satisfação encontrados em nosso meio?

“ELE PODE HUMILHAR OS QUE ANDAM NA SOBERBA” (Dn 4.37)

1 Referência à Conferência de Keswick, movimento que reuniu os mais sérios e profundos pregadores da sua época.
2 Trata-se dos “brethren” (irmãos), grupo de cristãos que não tomava sobre si nenhum outro nome que não o do Senhor. Sua importância e herança para a história da Igreja ainda não são totalmente conhecidas! Um pouco sobre eles pode ser encontrado a partir da pequena biografia de John Nelson Darby.

 

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