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Cartas de Samuel Rutherford (3)

Para Robert Cunningham[1]

De Irvine, Escócia, estando eu a caminho do “Palácio de Cristo” em Aberdeen, 4 de agosto de 1636

Consolo a um irmão em tribulação

Graça, misericórdia e paz estejam contigo. Por causa de nossa familiaridade em Cristo, pensei ser bom tomar a oportunidade de escrever a ti. Vendo que pareceu bem ao Senhor da colheita tomar as rédeas de tuas mãos por um tempo, e colocar sobre nós um serviço mais honorável, isto é, sofrer pelo nome Dele, seria bom nos consolarmos mutuamente em cartas. Tenho tido o desejo de ver-te face a face; contudo, sendo agora prisioneiro de Cristo, isso me foi tirado. Estou grandemente confortado por ouvir a respeito de teu firme espírito  de soldado por teu magnífico e real Capitão Jesus, nosso Senhor, e, pela graça de Deus, dos demais queridos irmãos contigo.

Minha própria privação do ministério

Ouviste de minha aflição, suponho eu. Agradou ao nosso doce Senhor Jesus deixar solta a malícia desses senhores interditados em Sua casa para privar-me de meu ministério em Anwoth, e confinar-me à distância de uns doze quilômetros de lá, em Aberdeen; e também (o que não foi feito a ninguém antes) proibir-me de falar no nome de Jesus dentro deste reino, sob pena de rebelião. O motivo que levantou o ódio deles foi meu livro contra os arminianos, de que me acusaram naqueles três dias em que me apresentei perante eles. Mas que reine nosso coroado Rei em Sião! Por Sua graça, a perda é deles, a vantagem é de Cristo e da verdade.

Cristo é digno de nosso sofrimento

Embora essa honrada cruz tenha ganho terreno sobre mim, e minha aflição e meus desafios interiores de consciência por um tempo tenham sido agudos, agora, para o encorajamento de todos vós, ouso dizer e escrever com minha mão:

“Bem-vinda, bem-vinda, doce, doce cruz de Cristo.”

Eu verdadeiramente penso que as cadeias de meu Senhor Jesus são todas cobertas de ouro puro, e que Sua cruz é perfumada, e que tem o aroma de Cristo, e que a vitória será pelo sangue do Cordeiro e pela Palavra de Sua verdade, e que Cristo, apoiado em Seus servos fracos e na verdade oprimida, cavalgará sobre o ventre de Seus inimigos e “ferirá os reis no dia da Sua ira” (Sl 110.5).

Será tempo de rirmos quando Ele rir; e, vendo que agora Lhe agrada assentar-se com os errados por um tempo, isso nos silencia até que o Senhor faça os inimigos desfrutarem do paraíso árido, seco e imprestável deles. Bem-aventurados são os que ficam contentes por sofrerem golpes com o Cristo que chora. A fé confiará no Senhor, e não é impetuosa nem obstinada. Tampouco a fé é tão tímida que favoreça a tentação, ou que venha a subornar ou a seduzir a cruz. É de pouca significância que o Cordeiro e Seus seguidores não obtenham garantia nem trégua com cruzes; é preciso que assim seja até que estejamos na casa de nosso Pai.

Caro irmão, ajudemo-nos uns aos outros com orações. Nosso Rei derrubará Seus inimigos, e Ele voltará de Bozra com Suas vestes tintas de sangue. E, para nossa consolação, Ele aparecerá e chamará Sua esposa de Hefzibá[2] e Sua terra, de Beulá[3] (Is 62.4); porque Ele se regozijará em nós, e nos desposará, e a Escócia dirá: “O que ainda tenho eu com os ídolos?” Sejamos, então, fiéis a Ele que pode cavalgar através do inferno e da morte com uma palha[4], e Seu cavalo jamais tropeça. E façamos a Ele uma ponte sobre águas, e assim Seu alto e santo nome seja glorificado em mim.

Golpes com a doce mão do Mediador são muito doces.

Ele sempre foi doce à minha alma; mas, desde que sofri por Ele, Seu hálito tem um aroma ainda mais doce que antes. Oh, que cada fio de cabelo de minha cabeça, e cada membro e cada osso de meu corpo fosse um homem a fazer uma verdadeira confissão para Ele! Penso que tudo seria muito pouco para Ele. Quando olho além dos limites e além da morte, para o lado sorridente do mundo, eu triunfo e cavalgo sobre os lugares altos de Jacó; contudo, por outro lado, sou um homem desfalecido, desanimado, covarde, muitas vezes derrubado, e faminto, aguardando a ceia das bodas do Cordeiro. Mesmo assim, penso no sábio amor do Senhor que nos alimenta com a fome e deixa-nos gordos de desejos e deserções.[5]


[1] Robert Cunningham, eminente ministro do evangelho em Holywood, Irlanda do Norte. Em 1636, ele e outros foram expulsos da Irlanda por prelatícios [defensores do prelado, do governo da igreja por bispos; episcopais]. Ele se estabeleceu em St. Irvine, no condado de Ayrshire (sudeste da Escócia). Morreu em março de 1637, quase oito meses depois que Rutherford lhe escreveu.
[2] Heb.: “meu prazer está nela”
[3] Heb.: “desposada”
[4] Metaforicamente, algo banal, insignificante.
[5] Fome e desejos pelas coisas celestiais e deserções quanto às coisas deste mundo.

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Cartas de Samuel Rutherford (2)

Para John Kennedy1

Anwoth, Reino Unido, 2 de fevereiro de 1632

Livramento do naufrágio e da morte

Eu te saúdo com a graça, a misericórdia e a paz de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor Jesus Cristo. Ouvi com tristeza de teu grande perigo de perecer no mar, porém com alegria sobre teu misericordioso livramento. Com certeza, irmão, Satanás não deixará nenhuma pedra por rolar, como diz o provérbio, para rolar-te de tua Rocha, ou pelo menos abalar-te e instabilizar-te; pois, ao mesmo tempo, a boca dos ímpios estava aberta em duros discursos contra ti em terra, e o príncipe das potestades do ar estava zangado contigo no mar.

Então, veja como estás forçado por esse malicioso assassino que quer atingir-te com duas varas ao mesmo tempo. Mas, louvado seja Deus, que o braço de Satanás é curto: se o mar e os ventos lhe tivessem obedecido, tu nunca terias voltado à terra. Graças ao teu Deus que diz: “E tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.18). “Eu mato e faço viver” (Dt 32.39). “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1Sm 2.6). Se Satanás fosse o carcereiro, e tivesse as chaves da morte e da sepultura, elas estariam guardadas com mais prisioneiros. Estiveste batendo nesses negros portões, e os encontraste fechados; e todos nós lhe damos as boas-vindas em teu retorno.

Preparo para a morte

Espero que saibas que não é sem razão que foste enviado a nós novamente. O Senhor sabia que tinhas esquecido algo que era necessário para tua viagem: que tua armadura ainda não estava suficientemente preparada contra o impacto da morte. Agora, na força de Jesus, termina teu trabalho; aquela dívida não está perdoada, mas adiada; a morte não te deu adeus, mas apenas te deixou por um pouco de tempo. Termina tua jornada antes que a noite venha sobre ti; mantém tudo em prontidão para a hora em que atravessarás o negro e impetuoso Jordão; e que Jesus, Jesus, que conhece tanto as profundezas como as pedras e todas as encostas, seja teu Piloto.

A última maré não esperará por ti nem por um momento; se esqueceres alguma coisa, quando teu mar estiver pleno, e teu pé estiver naquele barco, não haverá retorno para pegar o que esqueceste. O que fizeres de errado em tua vida hoje, podes modificar amanhã; pois tantos sóis Deus faz levantar sobre ti, tantas serão como que tuas novas vidas; e se tu estragares esse negócio, não poderás voltar para consertar aquela parte de teu trabalho novamente; nenhum homem peca duas vezes por morrer doente; como morremos apenas uma vez, morremos apenas uma vez, estando doentes ou saudáveis.

Tu vês como o número de teus meses está escrito no livro de Deus; e, como um dos servos do Senhor, precisas trabalhar até que a sombra da noite venha sobre ti, quando terminarás tua ampulheta até o último grão de areia. Cumpre tua jornada com alegria; pois nada levamos conosco para o túmulo, exceto uma boa ou má consciência. E, embora os céus clareiem após essa tempestade, as nuvens ainda preparam outra.

Função das provações

Tu pactuaste com Cristo, espero, logo que começaste a segui-Lo, que carregarias a Sua cruz. Cumpre tua parte do pacto com paciência, e não o quebre com relação a Jesus Cristo. Sê tu honesto, irmão, em tuas negociações com Ele; pois quem sabe mais sobre criar filhos que nosso Deus? Pois (deixando de lado Seu conhecimento, que não se pode sondar) Ele tem praticado criar Seus herdeiros nesses cinco mil anos, e Seus filhos são todos bem criados, e muitos deles são homens honestos agora no lar, lá em suas próprias casas no céu, e receberam a herança de seu Pai.

Agora, a forma de criá-los foi por castigos, flagelação, correção, acalento. Vê se Ele faz acepção de qualquer de Seus filhos (Ap 3.19; Hb 12.7,8). Não! Seu Filho mais velho e Seu Herdeiro, Jesus, não foi exceção (2.10). Sofrer é preciso; antes de nascermos, Deus o decretou; e é mais fácil reclamar de Seu decreto do que mudá-lo. É verdade, terrores de consciência nos derrubam, mas sem os terrores de consciência não podemos ser novamente erguidos. Temores e dúvidas nos abalam; mas sem temores e dúvidas logo adormeceríamos e não poderíamos nos agarrar a Cristo. Tribulações e tentações quase conseguem nos afrouxar a raiz; mas, sem tribulações e tentações, não podemos crescer assim com não crescem a relva ou o milho sem chuva. O pecado e Satanás e o mundo dirão, e gritarão em nosso ouvido, que temos um difícil acerto de contas a ser feito no juízo; contudo, nenhum desses três, exceto se mentirem, ousam dizer em nossa cara que nosso pecado pode mudar o teor do novo pacto.

Para frente, portanto, caro irmão, e não percas tua âncora. Segura firme a verdade.


1 John Kennedy, conselheiro de Ayr, cidade da Escócia, um cristão eminente, destacado em assuntos públicos durante os anos 1640. [Nota do editor original.]

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Cartas de Samuel Rutherford (1)

Para Lady Kenmure,1

de Anwoth, 26 de junho de 1630

Os inexplicáveis tratos de Deus com Seu povo são bem ordenados

Eu compreendo tuas circunstâncias neste mundo, saborizadas pela adoração ao Filho de Deus e pela comunhão com Ele em Seus sofrimentos. Tu não podes, não deves ter aqui uma condição mais agradável ou mais fácil do que a que Ele teve, Ele que “por aflições foi aperfeiçoado” (Hb 2.10). Podemos, de fato, pensar: “Deus não pode nos levar ao céu de maneira fácil e próspera?” Quem duvida que Ele pode? Mas Sua infinita sabedoria pensa e decreta o contrário; e, embora não possamos ver uma razão para isso, ainda assim Ele tem uma razão mais justa.

Com os olhos, nunca vimos nossa própria alma; ainda assim, temos uma alma. Vemos muitos rios, mas não conhecemos sua primeira nascente, a fonte original; ainda assim, eles têm um começo.

Senhora, quando chegares ao outro lado do rio, e pousares teus pés nas praias da eternidade gloriosa e olhares para trás, novamente, para as águas e para tua penosa jornada, e vires naquele límpido cristal de glória eterna de mais perto as profundezas da sabedoria de Deus, terás forçosamente que dizer:

“Se Deus houvesse feito de modo diferente comigo o que Ele fez, eu nunca teria chegado ao desfrute dessa coroa de glória”.

Tua parte agora é crer, e sofrer, e confiar e esperar, pois assevero, na presença daquele Olho que tudo discerne, que sabe o que escrevo e o que penso, que não me faltou a doce experiência das consolações de Deus em toda a amargura da aflição. Não; se Deus vem a Seus filhos com uma vara ou com uma coroa, se Ele próprio vem, então, está tudo bem. Bem-vindo, bem-vindo Jesus, vem da maneira que Tu vieres, desde que possamos Te ver. E, estou certo, é melhor estar doente, contanto que Cristo venha para o lado da cama, abra as cortinas e diga: “Coragem, Eu sou tua salvação”, do que gozar de saúde, ser vigoroso e forte, e nunca ser visitado por Deus.

Falta de ordenanças

Digna e cara senhora, na força de Cristo, luta e vence. Tu estás agora sozinha, porém podes ter, se buscares, três sempre em tua companhia: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Sei que estão perto de ti. Tu estás agora privada do conforto de um ministério ativo; foi assim com os israelitas no cativeiro; contudo, ouve a promessa de Deus para eles: “Portanto, dize: Assim diz o Senhor Deus: Ainda que os lancei para longe entre os gentios, e ainda que os espalhei pelas terras, todavia lhes serei como um pequeno santuário, nas terras para onde forem” (Ez 11.16). Vê, um santuário! Um santuário, o próprio Deus, em lugar do templo de Jerusalém. Confio em Deus que, carregando esse templo contigo, tu verás a beleza de Jeová em Sua casa.

 


1 Jane Campbell, Viscondessa de Kemnure, filha do sétimo Conde de Argyle. Em 1628, ela se casou com John Gordon, de Lochinvar, cuja morte prematura ocorreu em 1634. Jane se casou novamente em 1640, mas em pouco tempo uma nova viuvez lhe sobreveio. Ela viveu até os anos 1670 com o que parece ter sido uma vida cristã exemplar. [Nota do editor original.]

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A vida de Rutherford


Samuel Rutherford (1600–1661) nasceu perto de Nisbet, Escócia, e pouco se conhece sobre o início de sua vida. Em 1627, ele recebeu o grau de Mestre da Universidade de Edimburgo, onde foi professor de Humanidades. Ele se tornou pastor da igreja em Anwoth em 1627, uma paróquia rural, cujos membros estavam espalhados pelas fazendas nas colinas. Ele possuía um verdadeiro coração de pastor e era incansável no trabalho pelo rebanho. Conta-se que os homens diziam a respeito de Rutherford:

“Ele estava sempre orando, sempre pregando, sempre visitando os doentes, sempre catequizando, sempre escrevendo e estudando.”

Entretanto, seus primeiros anos em Anwoth foram marcados por tristeza. Sua esposa esteve doente por treze meses antes de falecer na nova casa deles. Dois filhos também morreram nesse período. Não obstante, Deus usou esse tempo de sofrimento a fim de preparar Rutherford para ser um consolador de Deus para pessoas em sofrimento.

Em 1636, Rutherford publicou um livro defendendo as doutrinas da graça (calvinismo) contra o arminianismo. Isso o colocou em conflito com as autoridades da Igreja, que era dominada pelo episcopado inglês. Ele foi chamado perante a Suprema Corte, foi retirado de seu cargo ministerial e foi exilado em Aberdeen. Esse exílio foi uma dolorosa provação para o querido pastor. Ele sentia ser insuportável estar separado de sua congregação. Contudo, por causa desse exílio, nós hoje temos muitas das cartas que ele escreveu a suas ovelhas ― portanto, o mal de seu banimento tornou-se uma grande bênção para a igreja ao redor do mundo.

Em 1638, as disputas entre o Parlamento e o rei na Inglaterra, e entre o presbiterianismo e o episcopalianismo na Escócia, culminaram em eventos importantes para Rutherford. Na confusão daquela época, ele escapou de Aberdeen e retornou a sua querida Anwoth. Mas não foi por muito tempo. A Kirk (Igreja da Escócia) reuniu-se em Assembleia Geral naquele ano e restaurou o presbiterianismo integral no país. Além disso, indicaram Rutherford como professor de Teologia de St. Andrews, embora ele tivesse negociado para lhe ser permitido pregar pelo menos uma vez por semana.

A Assembléia de Westminster iniciou suas famosas reuniões em 1643, e Rutherford foi um dos cinco comissionados escoceses convidados a participar dos processos. Embora não lhes fosse permitido votar, os escoceses tinham uma influência que de longe ultrapassava seu número. Rutherford, conforme é crido, teve grande influência sobre o Catecismo Breve. Durante esse período na Inglaterra, ele escreveu sua obra mais conhecido, Lex Rex [A lei, o rei]. Esse livro defendia o governo limitado e limitações na ideia corrente do Divino Direito dos Reis.

Cronologia

 

1600

Data aproximada do nascimento na paróquia de Nisbet, Roxburgshire.

1617

Admitido na Universidade de Edimburgo, fez Mestrado em Artes em 1621.

1623–1626

Regente em Humanidades na Universidade de Edimburgo.

1626

Época em que se tornou seriamente religioso.

1627

Indicado para a Paróquia de Anwoth (Galloway), Escócia.

1630

Envolveu-se em questão legal perante a Corte da Alta Comissão, porque recusou-se a obedecer aos Artigos de Perth. Morte da esposa (fuga de Eupham Hamilton).

1636

Publicou Treatise against Arminianism [Tratado contra o arminianismo].

1636

O bispo de Galloway conseguiu com que a Corte de Alta Comissão o proibisse de exercer o ministério. “Exilado” à prisão em Aberdeen em agosto de 1636. (Inaugura-se o período de sua vida em que escreve cartas.)

1638

A nação escocesa, em revolta contra os erros da Igreja da Inglaterra sob William Laud, assinou o Pacto Nacional. Rutherford retorna para Anwoth.

1638

A Assembléia de Glasgow o indicou como Professor de Divindade na Universidade St. Mary, em St. Andrews. Ele aceitou relutantemente. Compareceu a diversas Assembléias da Convenção. Casou-se com Jean M’Math.

1642

(Eclosão da Guerra Civil na Inglaterra contra o rei Charles I e as forças do Parlamento sob o comando de Oliver Cromwell.)

1643–1647

Membro ativo da Assembléia de Westminster de Teólogos (novembro de 1643 a novembro de 1647). Reside em Londres.

1644

Publicou Lex Rex [A lei, o rei], um tratado político, e Due Right of Presbyteries [Direitos devidos aos presbitérios].

1645–1647

Publicou Trial and Triumph of Faith [Provação e triunfo da fé], Divine Right of Church Government [Direito divino do governo da igreja], e Christ Dying and Drawing Sinners to Himself [Cristo morrendo e trazendo pecadores para si].

1648

Reassumiu os deveres em St. Andrews. Tornou-se diretor da Universidade de St. Mary. Publicou diversos trabalhos menores.

1649

(O Parlamento saiu-se vitorioso na Inglaterra e cessou por algum tempo a perseguição aos dissidentes e não-conformistas por parte da Igreja da Inglaterra.)

1651

Indicado como reitor da Universidade de St. Andrews. Publicou De Divina Providentia [Da providência divina].

1650–1661

Ativo em assuntos nacionais escoceses.

1655

Publicou The Covenant of Life Opened [Aberta a aliança da vida].

1659

Publicou Influences of the Life of Grace [Influências da vida de graça].

1660

(Após a restauração de Charles II). Foi privado de todos os cargos e citado a comparecer ante o Parlamento acusado de traição. Doente demais para fazer a viagem.

1661

Faleceu em março.

1664

Publicada a primeira edição de Letters [Cartas].

1668

(Sua obra Examen Arminianismi [Exame do arminianismo] publicada na Holanda.)

(Sua viúva e sua filha Agnes faleceram depois dele; todos os filhos do primeiro casamento e seis do segundo faleceram antes dele.)

 

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Biografia Samuel Rutherford

Do Palácio de Cristo em Aberdeen ― As cartas de Samuel Rutherford


As cartas de Samuel Rutherford são um tesouro sem igual entre os tantos que a fé cristã já produziu, contendo algumas das mais preciosas respigas que esse fiel servo de Deus colheu nos campos do Boaz Celestial. Por isso, decidimos publicá-las. Escolhemos, para esse fim, uma versão menor da coletânea de cartas, publicada pela Chapel Library. Se o Senhor nos der graça e voluntários para cooperar na tarefa, poderemos traduzir a obra completa.

Nosso objetivo é publicar semanalmente cada carta como um artigo único. Após concluirmos a tradução/publicação, vamos lançar como um livro digital gratuito.

Mas quem é Rutherford? O que explica a importância de suas cartas? Por que hoje, quase 400 anos depois, os cristãos ainda deveriam ler essas cartas com muita atenção?

Para tentar responder, usamos um artigo (adaptado) do saudoso irmão Christian Chen, publicado na extinta revista À Maturidade, n. 2, outono de 1978.

Do Palácio de Cristo em Aberdeen

O Palácio de Cristo em Aberdeen? Onde fica Aberdeen? De que tratam essas cartas? Quem as escreveu? Responder a essas perguntas significa contar uma história tocante acontecida há mais de 300 anos.

Aberdeen é um movimentado porto marítimo da Escócia, situado no litoral leste do país (Mar do Norte). Foi do agrado do Senhor torná-la uma cidade histórica por manter nela prisioneiro um de Seus servos fiéis, Samuel Rutherford, como Ele fez com João na Ilha de Patmos, no primeiro século. Durante um período de dezessete meses, Rutherford ficou confinado na cidade de Aberdeen, proibido de todo ministério público. Mas, embora seus lábios estivessem selados, seu coração transbordava de boas palavras (Sl 45.1). Em sua carta de 4 de agosto de 1636, escrita de Irving, quando se dirigia para Aberdeen, ele descreveu sua viagem como “minha jornada para o Palácio de Cristo em Aberdeen”. Ao chegar ao destino, escreveu:

“Não obstante esta cidade ser minha prisão, contudo, Cristo fez dela meu palácio, um jardim de prazeres, um campo e um pomar de delícias.”

Mas erramos se pensarmos que a experiência que Rutherford teve daquele gozo quase extático com seu Senhor tenha sido de curta duração, como geralmente acontece com cristãos carnais. Ele a manteve consigo durante todo o período do confinamento, e chegou mesmo a prolongá-la depois dele. Verificou que uma torrente caudalosa continuou a fluir maravilhosamente de seu palácio-prisão, tendo escrito 219 cartas nesse espaço de tempo. Mais tarde essas cartas, juntamente com outras 143 foram reunidas em um livro por sua secretária, após sua morte, e publicadas sob o título Josué redivivo ou Cartas do sr. Rutherford, Divididas em duas partes, na primeira edição (1664). As Cartas são agora consideradas por muitos como um clássico cristão, comparadas por alguns ao livro O peregrino, de João Bunyan. Desde 1664, elas têm sido publicadas em mais de trinta edições diferentes, algumas das quais reimpressas muitas vezes.

Rutherford escreveu outros livros. Um de seus escritos teológicos trouxe-lhe o oferecimento da Cadeira de Divindade na Universidade de Ultrecht. Mas essa obra e outras foram há muito esquecidas, e nosso Senhor deixou que Rutherford continuasse a viver hoje em um livro que ele não se propôs deliberadamente a escrever, isto é, As cartas de Samuel Rutherford. James Miller Dods, depois de salientar que a maior parte dos livros de Rutherford têm “seu memorial somente no cemitério da história”, comenta: “Do ruído do mercado, passamos para a solidão reclusa e iluminada pelas estrelas daquelas Cartas, as quais sucessivas gerações, de Baxter a Spurgeon, a uma voz têm proclamado serem seráficas e divinas”. Richard Baxter afirmou com respeito às Cartas de Rutherford: “Com exceção da Bíblia, o mundo nunca viu um livro como esse”. Para podermos sentir de fato o peso desse comentário, é preciso lembrar que Baxter concordava com a teologia arminiana, a qual foi exatamente o alvo das críticas de Rutherford, tendo sido essa a causa de seu confinamento em Aberdeen. Richard Cecil, evangélico eminente do século18, fez o seguinte comentário sobre Rutherford:

“Ele é um de meus clássicos favoritos; é realmente autêntico”.

Não podemos fugir à pergunta: “Como a correspondência particular deste servo escocês do Senhor foi conservada ao longo dos anos? Por que motivo sua formidável erudição jamais lhe proporcionou aquilo que suas cartas alcançaram?” A resposta é simples: nosso Senhor quis preservá-las e não permitirá que elas desapareçam. A razão por trás disso tem algo a ver com Seu modo costumeiro de tratar com Seus servos ao longo da história da igreja. Parece ser do agrado do Senhor usá-los a fim de estabelecer uma grande ilustração da verdade de ouro: “E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida” (2Co 4.11,12).

A obra do Senhor nunca foi feita pela metade; se Ele permitiu que a morte operasse nesses servos, ela é sempre acompanhada pela “vida em nós”! Ele planejou o aprisionamento de Paulo em Roma, assim como aquelas lindas Epístolas da Prisão para nós. Ele deu a João a ilha de Patmos e, ao mesmo tempo, nos deu a revelação de Jesus Cristo mediante o último e grandioso livro da Bíblia. Ele fez com que George Matheson, outro grande pregador escocês, ficasse cego; entretanto, nós somos enriquecidos por seus belos hinos. Ouçamos as palavras de Matheson: “O calabouço de José é o caminho para o trono de José. Tu não podes levantar a carga de ferro de teu irmão se o ferro não penetrou em ti”, e sua oração diante do Senhor:

Faz de mim um cativo, Senhor,
E livre eu serei, então;
Força-me a entregar minha espada,
E conquistador serei.
Sinto-me envolvido pelos temores da vida,
Quando ouso enfrentá-los sozinho;
Segura-me em Teus braços,
E forte será minha mão.

Da mesma forma, se nosso Senhor não poupou Rutherford da “morte” e o enviou a Aberdeen, pode alguém imaginar que o Senhor recusaria a “vida”, negando-a a nós? Durante o aprisionamento de Rutherford, é verdade que a pregação de Cristo a certas congregações foi silenciada por algum tempo, mas apenas para dar lugar a um ministério de Cristo que vem sendo, desde então, uma bênção e um conforto para gerações do povo de Deus. O próprio Rutherford, em uma carta ao sr. Robert Blair, seu companheiro de sofrimento,  graciosamente disse:

“O sofrimento é o outro lado do nosso ministério, sem dúvida o mais difícil!”

Antes que o leitor entre nessa mina de pedras preciosas, lembremo-nos novamente daquele título simbólico da primeira edição de 1664, Josué redivivo — Josué ressuscitado! Como o Josué da antiguidade, que espiou a terra prometida e apresentou um relatório cheio de entusiasmo, Rutherford “puxa as cortinas, e olha para dentro da arca”, contemplando a Canaã celestial e trazendo de volta seu bom relatório, conforme registrado em suas cartas. Ouça o que ele mesmo diz a respeito disso: “Deus quis me enviar como um espia nesse deserto do sofrimento, para ver a terra, e provar a água; e eu não posso fazer da Cruz de Cristo uma mentira. E não relatei nada senão o que é bom DELE e DELA a fim de que não desmaieis”. Qualquer leitor atento não poderá deixar de perceber como este “DELE e DELA” penetraram entre as linhas das cartas, fazendo-nos lembrar daquela grande frase de Paulo: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2). Relacionado com isso, ouçamos o que Rutherford disse ainda no palácio: “Cristo e Sua cruz são dois bons hóspedes, e dignos do alojamento. Os homens desejariam ter um Cristo bom e barato, mas o preço a ser pago não vai baixar!” Oh, como isso é verdadeiro!

Que nosso leitor aproxime-se de tão raro e espiritual clássico por meio de uma leitura vagarosa, meditativa e com muita oração, de modo a ser tocado e atraído pelo mesmo Amado que se revelou ao pobre prisioneiro de Cristo em Aberdeen, colocando-se em condições de dizer como Rutherfod:

“Oh, se víssemos a beleza de Jesus e pressentíssemos a fragrância de Seu amor, correríamos pelo fogo e pela água para estarmos com Ele.”

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (273)

O Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença,
para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo. […]
E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.

(Rm 15.13,33)

Existem dois tipos de cristão: aqueles que imitam a Jesus e aqueles que se contentam em apenas admirá-Lo.

(Søren Kierkegaard)

Apesar de Cristo estar perto de nós, Ele está acima de nós em todos os aspectos.

(J. I. Packer)

No descanso perfeito, eternal,
desfrutando o labor que passou,
cantaremos, em tom triunfal,
os louvores de Quem nos amou.

(Hinário evangélico, 85)

Nós e os soldados tínhamos um acordo: nós pregávamos e eles nos batiam. Cada um fazia sua parte, e todos ficavam felizes.

(Richard Wurmbrand, pastor luterano romeno, 14 anos preso, três dos quais na solitária, e torturado em prisões comunistas por ser cristão)

Se já houve ser humano repetidamente tratado abaixo do que merecia, foi Jesus.

(R. C. Sproul)

Ore e leia [a Bíblia], leia [a Bíblia] e ore, pois um pouco vindo de Deus é muito melhor do que uma grande coisa que venha do homem.

(John Bunyan)

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Indicações de sexta (7)

Confronte todas as coisas com a verdade da Bíblia

 

Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: a menção a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.

Artigos que merecem ser lidos

  1. Carta aberta aos pais cristãos de filhos incrédulos. Poucas coisas angustiam tanto pais cristãos quanto filhos que ainda não obedecem à fé ou que dela apostataram. Esse artigo pode lhe trazer ajuda, consolo e orientação prática.
  2. O que é a comunhão da igreja? Basta os cristãos estarem juntos para haver comunhão? A genuína comunhão é marca distintiva da igreja que se reúne segundo o modelo do Novo Testamento.
  3. “Deus não é um prato de buffet que você monta de acordo com o seu gosto” ou “A verdade importa para você?”, de J. P. Moreland. Será verdade que não uma verdade absoluta não faz diferença ou que ela é impossível? Como argumentar com quem pensa assim?
  4. “Deus me revelou”. Devemos dar ouvidos a quem alega ter uma revelação nova de Deus, à parte de Sua Palavra?

Mensagem que merece ser ouvida

Amando a Deus com todo o nosso entendimento, por Héber Campos Júnior

Hino que merece ser ouvido

It’s well with my soul

Letra de Horatio G. Spafford (1873) e música, Ville du Havre, de Philip P. Bliss (1876). Inspirado em 2Reis 4.26 e Salmos 146.1. A música recebeu o nome do navio em que as filhas de Spafford pereceram. Ironicamente, Bliss morreu num trágico acidente de trem, ao tentar salvar a esposa, pouco tempo depois de escrever a música. Veja mais detalhes abaixo.

Enquanto lê a letra, ouça essa maravilhosa versão orquestral do hino.

Letra em inglês

When peace, like a river, attendeth my way,
When sorrows like sea billows roll;
Whatever my lot, Thou hast taught me to say,
It is well, it is well with my soul.

Refrain
It is well with my soul,
It is well with my soul,
It is well, it is well with my soul.

Though Satan should buffet, though trials should come,
Let this blest assurance control,
That Christ hath regarded my helpless estate,
And hath shed His own blood for my soul.

My sin—oh, the bliss of this glorious thought!—
My sin, not in part but the whole,
Is nailed to the cross, and I bear it no more,
Praise the Lord, praise the Lord, O my soul!

For me, be it Christ, be it Christ hence to live:
If Jordan above me shall roll
No pang shall be mine, for in death as in life
Thou wilt whisper Thy peace to my soul.

But, Lord, ’tis for Thee, for Thy coming we wait,
The sky, not the grave, is our goal;
Oh, trump of the angel! Oh, voice of the Lord!
Blessed hope, blessed rest of my soul!

And Lord, haste the day when the faith shall be sight,
The clouds be rolled back as a scroll;
The trump shall resound, and the Lord shall descend,
Even so, it is well with my soul.

Tradução literal em português

Está tudo bem com minha alma

Quando a paz, como um rio, estiver presente em meu caminho,
Quando tristezas se agitarem como ondas do mar –
Seja qual for minha sorte, Tu me ensinaste a dizer:
“Está tudo bem, está tudo bem com minha alma”.

Refrão
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem, está tudo bem com minha alma.

Embora Satanás tenha de me esbofetear, embora provas tenham de vir,
Que esta certeza abençoada tome o controle:
Que Cristo considerou minha situação sem esperança
E derramou Seu próprio sangue por minha alma.

Meus pecados – Oh, a felicidade desse glorioso pensamento! –,
Meus pecados, não em parte, mas todos eles,
Estão pregados na cruz, e eu não os carrego mais.
Louve ao Senhor, louve ao Senhor, ó minha alma!

Para mim, seja Cristo, seja Cristo, portanto, a viver:
Se o Jordão1 acima devo atravessar,
Sem angústia estarei, pois, na morte como na vida,
Tu irás sussurrar Tua paz para minha alma.

Mas, Senhor, é por Ti, por Tua vinda que esperamos,
O céu, não a sepultura, é nosso objetivo.
Oh, trombeta do anjo! Oh, a voz do Senhor!
Bendita esperança, abençoado descanso de minha alma!

E, Senhor, apressa o dia em que a fé será visão,
As nuvens serão enroladas como um pergaminho,
A trombeta ressoará e o Senhor descerá.
Todavia, estará tudo bem com minha alma.

Versão em português

Sou feliz com Jesus

Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sefrer;
Oh, seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus hei de estar.

Refrão
Sou feliz com Jesus!
Sou feliz com Jesus,
Meu Senhor!

Embora me assalte o cruel Satanás,
E ataque com vis tentações,
Oh, sim certo estou, mesmo em tais provações,
Em Jesus acharei força e paz.

Jesus, meu Senhor, ao morrer sobre a cruz
Livrou-me da culpa e do mal;
Salvou-me Jesus, oh, mercê sem igual!
Sou feliz, hoje vivo na luz.

A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me buscar;
E então lá no céu vou pra sempre morar,
Com remidos na luz do Senhor

Nota biográfica

Esse hino foi escrito depois de dois grandes traumas na vida de Spafford, um devoto cristão e estudante das Escrituras, amigo de D. L. Moody e de Ira Sankey. O primeiro foi o enorme incêndio de Chicago em outubro de 1871, que o arruinou financeiramente (advogado rico, ele havia investido em imóveis na cidade). Em 1873, durante uma travessia do Atlântico, da qual ele havia desistido pouco antes da partida, as quatro filhas de Spafford (com 11, 9, 7 e 2 anos) morreram em uma colisão com outro navio. Sua esposa, Anna, sobreviveu e enviou-lhe o agora famoso telegrama: “Única salva”. Várias semanas depois, quando o navio em que Spafford estava (ele viajou para encontrar-se com a esposa) passou perto do local onde as filhas morreram, o Espírito Santo inspirou essas palavras. Elas falam da eterna esperança que todos os crentes têm, não importando a dor e o sofrimento eles tenham na terra. O hino foi cantado pela primeira vez em 24 de novembro de 1876, por Bliss mesmo, em uma grande reunião evangelística de Moody.

Nota

1 Referência à morte, muito usada antigamente pelos cristãos. (N. do R.)


(Tradução do hino por M. Luca. Revisão de Francisco Nunes)

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