Eu creio na Palavra de Deus. Em toda ela. Em cada parte dela. Creio naquilo que ainda não consigo praticar. Creio naquilo que ainda não quero praticar. Creio mesmo que ela me condene. Creio mesmo que ela prove que vivo muito abaixo de seu padrão. E, por crer nela assim, continuarei a ensiná-la assim: toda, como absoluta, inerrante e perfeita Palavra de Deus.
(Francisco Nunes)
Autor: Francisco Nunes
O cão late quando seu dono é atacado. Eu seria um covarde se visse a verdade divina ser atacada e continuasse em silêncio, sem dizer nada.
“Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais. Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo.”
(1 Tessalonicenses 4.1-8)
[É muito claro que em 1 Tessalonicenses 4, em seu início, o apóstolo Paulo está afirmando com toda autoridade dada por Deus que] A imoralidade sexual é a norma de conduta para não-cristãos. Paulo chama-nos a pensar de forma diferente, para viver de modo diferente, e distinguir-se dos incrédulos, que não conhecem a Deus.
Devemos mencionar isso uma e outra vez, porque o diabo é como um leão que ruge, procurando a quem possa tragar. É vital para a sobrevivência e progresso espiritual nos manter alerta e vigilante. Na falta desta vigilância, muitas famílias cristãs e congregações foram infiltradas por crenças e práticas não-cristãs. Alguns já perderam a sensibilidade para a imoralidade entre eles e em volta deles. Então, quando alguém desperta para a ordem divina e parte para combater a imoralidade, logo é ironicamente criticado e perseguido.
É desnecessário salientar que só porque um pecado é comum não significa que não é um pecado. Quando consideramos o que a Escritura diz sobre esta questão da imoralidade sexual, torna-se óbvio que muitos cristãos não são diligentes o suficiente em proclamar os mandamentos de Deus.
Se a admoestação dos cristãos é rara e fraca para condenar a imoralidade sexual com ameaças de punição divina (v.6b) isto deve ser considerado social e eclesiasticamente inaceitável. Nenhum covarde é qualificado para proclamar a palavra de Deus, e infelizmente, poucos são qualificados.
Esse tipo de pregação é boa e necessária, e Paulo confere-nos a autoridade que precisamos (v.6c). Não faz diferença se a pessoa é um adúltero, um fornicador, uma prostituta, um homossexual ou alguma outra pessoa pervertida. Paulo escreve que Deus vai punir os homens de todos esses pecados. E acrescenta, “como já lhe dissemos e advertimos ” (1Ts 4.6c). O tema assume um lugar de destaque nos ensinamentos éticos do apóstolo, e ele considera digno de repetição, acompanhado de ameaças. O versículo 6 é melhor traduzido, “o Senhor é vingador em todas estas coisas “. Isto é dito no contexto da declaração anterior.
Em outras palavras, Deus tomará para si a vingança. Portanto, é nada menos do que uma negligência grosseira do dever quando um ministro cristão falha em declarar a ordem de Deus sobre esta questão, e para isso exorta com ameaças. A Bíblia obriga-nos a pregar: “Se você cometer adultério, Deus vai puni-lo. Se você é um homossexual, Deus vai fazer você sofrer, Deus é o vingador. Ele vai destruir sua vida por trair seu cônjuge, Ele vai torturar você para sempre no inferno”. Quem pensar que isto é falso ou uma dura e desnecessária pregação cristã deve começar a ler a Bíblia. Nada menos que isso não é toda verdade. Este é o cristianismo: tomá-lo e obedecer-lhe ou deixá-lo e sofrer.
Está na moda pregar compreensão, compaixão, reconciliação [ecumênica], e assim por diante, para adúlteros e homossexuais. A Escritura não fala sobre a imoralidade sexual dessa maneira. Ela define e mantém o padrão rigoroso de Deus sobre a questão e condena todos aqueles que transgridem. Há de fato perdão em Jesus Cristo, mas perceba que Paulo está alertando especialmente os cristãos, então que ninguém se ache no direito de parodiar o perdão divino.
Se quisermos refletir a ênfase bíblica sobre este assunto, então é necessário que multipliquemos as acusações e condenações em nossa pregação, em vez de evitar ou reduzir o assunto.
A Editora Fiel colocou à disposição o áudio das mensagens da Conferência Fiel 2012 e da conferência Juntos em Cristo 2012.
- Joel Beeke – Como Viver uma Vida Santa
- Steven Lawson – Graça perseverante: salvação é para sempre?
- Paul Washer – Os Alertas do Evangelho
- Leonardo Sahium – Jesus Cristo real em um mundo virtual
- Hernandes Dias Lopes – Elias, a Jornada de um homem de Deus
As mensagens podem ser baixadas e distribuídas gratuitamente. Sua comercialização é proibida.
Nossa vocação
A vocação é celestial (Hb 3.1), indicando que nossa profissão [de fé] não é terrena, não está ligada a casas religiosas terrenas, mas somos membros da casa celestial sobre a qual Jesus está no controle.
A vocação é santa (1Pe 1.15). Deus é quem nos chamou a Sua família, para que, como participantes da natureza divina, possamos evidenciar por nosso testemunho que temos algo de Deus, não somente em nós, mas demonstrado por nós. Portanto, somos diferentes e separados para viver vida santificada.
A vocação é de esperança (Ef 1.18). O futuro que Deus nos tem reservado é eterno, e será desfrutado não somente por nós, mas também por Deus mesmo. Pense não somente no que nossa herança é para nós, mas também no que ela significa para Deus, eternamente. Os dons e a vocação de Deus nunca são cancelados nem revogados. A herança está reservada no céu para nós (1Pe 1.4).
A vocação é soberana (Fp 3.14). Paulo se esforçava física e mentalmente, e pessoalmente afastava todo tipo de vantagem ou desvantagem terrena, e simplesmente prosseguia para o grande prêmio, a “soberana vocação” (Fp 3.20). Nós esperamos o Salvador (não o Juiz), o Senhor Jesus Cristo, o qual mudará nosso corpo limitado e o transformará em corpo glorioso e ilimitado. Que futuro glorioso aguarda cada um dos santos!
(G. Waugh, Comentário Ritchie, II Pedro. Edições Cristãs, pp. 286, 287)
Proteja seu casamento
Muitas vezes um casamento vai bem, e acaba abalado por causa de um relacionamento inesperado com uma terceira pessoa. Começa de maneira inocente e agradável, torna-se cada vez mais envolvente. Por fim, traz complicações e desgraças para muita gente.
Não foi um acidente ou ”um grande amor que surgiu”. Foi um relacionamento do qual o casamento deveria ter sido protegido. Não seja ingênuo pensando que isto só acontece com os outros. Muita gente boa já caiu exatamente por ser ingênua assim. Lembre-se de 1 Coríntios 10.12: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”. Por isso, proteja eu casamento… Eis algumas dicas:
§ Tenha bom senso com suas companhias
Evite gastar tempo desnecessário com alguém do sexo oposto. Muitos casos surgem por não se agir assim. Um executivo precisa de aulas particulares de inglês e contrata uma jovem professora. Contrate um homem. Não significa que cada contato com alguém do sexo oposto seja porta para o adultério. Significa evitar oportunidades para cair. Companhia contínua cria intimidade. Intimidade com o sexo oposto traz problemas.
§ Tome cuidado com as confidências
A pessoa mais íntima de alguém deve ser seu cônjuge. Segundo a Bíblia, são “uma só carne”, isto é, uma só pessoa. Se há aspectos de seu relacionamento que você não pode compartilhar com esposo(a) e compartilha com alguém do sexo oposto, a coisa está ruim. As pessoas tendem a se solidarizar com quem sofre e a proximidade emocional se torna perigosa. Um homem que se queixa de sua esposa para outra mulher está traçando um caminho perigoso. Isto vale para quem faz e para quem ouve confidências.
§ Evite momentos a sós
Decida não ter momentos privados com alguém do sexo oposto. Se um(a) colega de trabalho pedir para ter um almoço com você, convide uma terceira pessoa. Se necessário, não se constranja em compartilhar os limites que você e seu cônjuge concordaram ter no seu casamento. É melhor ser visto como rude que vir a cair em pecado.
§ Vigie seus pensamentos
Cuidado com o que pensa. Se você só se detém nos defeitos de seu cônjuge, qualquer outro homem ou mulher parecerá melhor. Faça uma lista das coisas que inicialmente lhe atraíram em seu cônjuge. Aumente o positivo e diminua o negativo. Evite filmes, conversas, sites e literatura que apologizam o adultério. Lembre de Colossenses 3.2: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”.
§ Evite comparações
Um homem trabalha com uma mulher perfumada, maquiada, bem vestida. Em casa encontra a esposa, com criança no colo, cabelo desfeito, banho por tomar. Uma mulher encontra um homem compreensivo com quem pode se abrir, e se sente mais à vontade com ele do que com o esposo. Ignoraram situações e contextos diferentes. Foram iludidos pelo irreal. Lembre-se do pródigo: o mundo lhe era fascinante, mas terminou num chiqueiro. As aparências iludem, porque o mundo em que vivemos em casa é o real. O mundo de relacionamentos fora de casa é sempre artificial.
§ Evite a síndrome do retorno
É a idéia de que a vida sentimental e sexual caiu na rotina, e agora, a pessoa “renasceu”. Já vi inúmeros casos assim: “Eu renasci”, ou “Eu me senti jovem de novo”. Não banque o adolescente. Você é um adulto com responsabilidades e com uma pessoa com quem partilha a vida. Construa sua vida com seu cônjuge. Se sua vida conjugal se “fossilizou”, há outros caminhos. Revigore-a com seu cônjuge. Há pessoas que sempre se fossilizam e pulam de relacionamento em relacionamento, procurando o que não produzem. Temos o que produzimos.
§ Ponha o coração no seu lar
A solidez do casamento vem pelo tempo que os cônjuges gastam juntos. Conversas, risos, passeios, programas comuns. Se você não sai com seu cônjuge, marque datas para os próximos meses. Vocês devem ter um ao outro como o melhor companheiro. Mantenham o clima de namoro: querer estar junto com a pessoa. Orem juntos. Dificilmente duas pessoas que oram juntas brigarão entre si. Sejam parceiros espirituais.
§ Invista em seu cônjuge
O marido da mulher virtuosa é conhecido quando se levanta em público (Pv 31.23). A idéia é que ele está bem vestido e vê o caráter dela pela roupa dele. Uma boa esposa é um bom tesouro (Pv 18.22). De bom tesouro cuida-se e evita-se perdê-lo. Marido: mulher bem tratada é um grande investimento; o retorno emocional é garantido. Mulher: marido bem tratado é um grande investimento; o retorno emocional é garantido.
§ Busque ajuda
Havendo problemas, busque ajuda. Primeiro em Deus. Lembre-se de Tiago 1.5: “Se porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. Busque orientação de pessoas mais experientes . Evite que o problema se avolume. Evite conselhos de gente que não tem o que dizer. Os amigos de Roboão lhe deram maus conselhos (1Rs 12.6-12). Nesta busca de ajuda, evite por mais lenha na fogueira. Evite também raiz de amargura (Hb 12.15). Busque ajuda e não um juiz a seu favor.
§ Conclusão
Bons casamentos não acontecem por acaso. São produto de muito trabalho e da graça de Deus. Boa parte do trabalho é investimento emocional no relacionamento conjugal. “Vender a alma” para o cônjuge. Mas investir sem proteger é problemático. É preciso levantar cercas contra os problemas externos, porque os internos são mais vistos e os dois os vivenciam. Não permita brechas. Não dê armas ao inimigo.”
(Publicação do Jornal Ágape de Limeira -SP – 2ª quinzena de janeiro/2011)
Uma oração de Blaise Pascal
Não rogo por saúde nem por doença, vida ou morte, mas que possa usar minha saúde e minha doença,minha vida e minha morte em Tua glória.
Somente Tu sabes o que me é conveniente.
És meu Mestre soberano. Opera em mim conforme a Tua vontade.
Concede-me ou toma de mim, de acordo com Teu intento, não o meu.
Sei apenas, Senhor, que devo seguir-Te e não Te ofender.
Ademais, não sei o que é bom ou ruim. Não sei o que me é propício,saúde ou doença, riqueza ou pobreza, nem qualquer outra coisa deste mundo.
Esse entendimento está além da capacidade dos homens, ou dos anjos, e permanece oculto entre os segredos de Tua providência, que venero, mas não me atrevo a sondar.
Em cada sentido e aspecto, Deus nos chama para fora do pecado. Ele está sempre a nos exortar contra tudo quanto é excessivamente pecaminoso, contra aquelas coisas abomináveis, as quais ele odeia e contra as quais ele exercerá vingança. Ele nos fala como seres “formados em iniquidade e concebidos em pecado”, carregando em nosso corpo o mal; pior ainda, saturados do mal e dominados por ele; não meramente como seres enfermos e necessitados de medicina; ou desafortunados e necessitados de comiseração; porém, como seres culpados, debaixo da lei, debaixo da condenação, mortos em delitos e pecados, com um inevitável juízo pendente sobre nós. Ele não ameniza nem tampouco agrava o nosso estado, porém calmamente nos mostra o pior, revelando-nos o que somos, convocando-nos a sermos aquilo que o quê ele propôs que fôssemos. Em seu Filho Jesus Cristo, ele nos chama para fora de toda impureza, de toda contaminação, de toda injustiça, de toda corrupção, de toda via tortuosa, de toda desobediência, de toda imundícia da carne e do espírito.
Emoção x razão
Por um lado costumamos considerar a emoção como sendo da alma, e em conseqüência rapidamente catalogamos como sendo da alma aos que se emocionam ou se entusiasmam com facilidade. Por outro lado esquecemos que ser racional não faz absolutamente ninguém espiritual. Este entendimento errôneo de espiritualizar uma vida racional deve ser evitado, da mesma maneira que também terá que evitar o julgamento errôneo de confundir uma vida predominantemente emocional com espiritualidade.
E outra coisa mais: não devemos jamais reduzir a função de nossa alma a uma inatividade mortal. Antes, possivelmente, nunca tínhamos contemplado nosso sentimento e nossa emoção como sendo da alma com um pouco de interesse e vivemos de acordo com esse fato.
Entretanto, mais adiante percebemos nosso engano e então suprimimos estas emoções por completo. Uma atitude semelhante pode parecer-nos muito boa mas não nos fará mais espirituais. Se meu leitor entender erroneamente este ponto — e pouco importa se pouco ou muito —, sei que sua vida “se secará”. Por que? Porque seu espírito, sem nenhuma oportunidade de expressar-se, ficará aprisionado por uma emoção amortecida. E depois disto há outro perigo: que ao suprimir em excesso sua emoção, o crente terminará convertendo-se em um homem racional, não espiritual, e desta maneira continuará sendo da alma, embora de uma forma diferente. Entretanto, a emoção da alma, se expressa o sentimento do espírito, é muito valiosa, e, por sua vez, o pensamento da alma, se revela o pensamento do espírito, pode ser muito instrutivo.
Watchman Nee
O Homem Espiritual (Prefácio)
(Palestra proferida por J. R. Gill em uma conferência em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1926).
Tenho o desejo, amados amigos cristãos, de tratar de um certo assunto que já conquistou a atenção de alguns de nós em uma ou duas reuniões recentemente, e gostaria de pedir a compreensão de alguém aqui que porventura já nos tenha ouvido tratar do mesmo assunto. Há aqui outras pessoas para quem o assunto é novo e creio ter a mente do Senhor ao voltar a tratar disso.
O assunto que tenho em mente é este: Por que nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, nos reunimos desta maneira? Por que o fazemos?
Fui criado naquilo que creio ser a verdade, e naquilo a que normalmente se referem como “a verdade”. Posso me lembrar de meus tempos de infância quando meus pais costumavam me levar para um lugar diferente deste. Posso recordar com bastante clareza como costumávamos ir juntos à Igreja Episcopal – a Igreja da Inglaterra, como era chamada – e me lembro do efeito que aquilo produzia em minha mente juvenil; o tapete vermelho sobre o piso, os bancos de carvalho entalhados e os vitrais coloridos das janelas; o canto do coral, as majestosas entonações do órgão e outras coisas semelhantes. Eu aprovava tudo aquilo dentro da medida de compreensão de qualquer menino.
Depois de algum tempo fui levado a uma capela Batista, e aquela capela já era algo que eu não aprovava com a mesma facilidade. Parecia ser um lugar muito inferior comparado com Igreja da Inglaterra. Não tinha nada além das paredes caiadas, não havia vitrais coloridos e, que me lembre, nem mesmo um órgão e muito menos algum pregador eloquente. Não sabia a razão daquilo tudo; só que havia sido levado para ali.
Passou-se um intervalo de tempo depois daquilo, e acabei sendo encaminhado a um terceiro lugar. Tratava-se de uma sala no segundo andar de uma rua comercial na cidade de West Hartlepool, Inglaterra. Ali descobri umas vinte pessoas sentadas em bancos, com uma mesa no centro da sala. Para minha mente juvenil, aquilo parecia ser um estranho quebra-cabeça. Tudo era tão simples, tão primitivo. Não havia nenhum atrativo; e nem eu conseguia entender a razão de meus pais terem me levado ali.
De Acordo Com a Bíblia
Passaram-se alguns anos e, no devido tempo, acabei tomando meu lugar entre aquelas pessoas, crendo ser aquele o lugar certo para se estar. Mas mesmo então, se alguém tivesse me perguntado por que eu estava ali, eu teria tido uma grande dificuldade em dar uma resposta inteligente. Oh, se me interrogassem sobre o assunto, é bem capaz que eu dissesse que frequentava aquele lugar porque cria estar de acordo com a Bíblia. Mas isso não iria significar muito, não é mesmo? Quase todo mundo teria dado a mesma resposta. Um Presbiteriano, um Episcopal ou Metodista teria falado o mesmo; um Batista teria dito isto, e até mesmo um Adventista e os membros da, assim chamada, Ciência Cristã.
Precisamos ter algo mais definido do que uma resposta como esta, como a razão para ocuparmos o lugar que ocupamos. Nós que estamos reunidos ao nome do Senhor Jesus nem sempre somos capazes de dar uma explicação inteligente e bíblica do assunto. Eu descobri que assim sucede. Será que é suficiente dizer: “Nós nos reunimos de uma maneira simples, como faziam os cristãos em Pentecostes”? Será que isto já explicaria tudo? Talvez, se não se dispusesse de muito tempo para explicar; mas para o bem de nossas almas, é bom que saibamos qual é o fundamento doutrinário sobre o qual nos apoiamos.
Quais são os princípios das Escrituras – as doutrinas envolvidas – as verdades de Deus ligadas à posição que ocupamos?
Não creio que tenha que pedir desculpas por tratar deste assunto, já que vivemos numa época em que tudo se encontra sob ataque. Não existe uma única coisa que não esteja sendo atacada – cada fundamento da fé – e é bom que nós que amamos o Senhor, e que procuramos conhecer qual é a vontade do Senhor, estejamos fortalecidos e edificados em nossa “santíssima fé” (Jd 20). Creio que, à medida que o Senhor me capacitar, gostaria de tratar deste assunto em três partes nesta tarde, conforme se seguem:
Em primeiro lugar, gostaria de sugerir que nós nos reunimos assim por causa da dignidade do nome do Senhor Jesus.
Segundo: Nós nos reunimos assim porque desejamos dar ao Espírito Santo o lugar que Lhe pertence.
Terceiro: Nós nos reunimos assim porque queremos obedecer a ordem das Escrituras que dizem, “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13.13).
Quarto: Porque entendemos ser bíblico estar no terreno do um só corpo.
São estes os três subtítulos sob os quais desejo fazer algumas observações nesta tarde.
Que Nome Levamos?
Quanto ao primeiro – o nome para o qual nos reunimos: Que nome levamos? Se as pessoas perguntassem a você a que “igreja” você está ligado, o que responderia? Creio que alguns aqui já se sentiram embaraçados para responder a esta pergunta. Não há dúvida de que existem várias maneiras como esta pergunta poderia ser feita, mas porventura não é bom sermos bem claros sobre isto, ou seja, que reconhecemos somente o nome do Senhor Jesus Cristo? Nenhum outro nome. Alguns dirão: “Vocês são chamados ‘Irmãos de Plymouth’, não são?” O que você diria diante disto? Creio que alguém poderia dizer: “Sim; sim, somos chamados assim, mas não nos chamamos assim”. Não podemos evitar que nos chamem desta maneira. O nome pelo qual nos chamamos é de santos de Deus, reconhecendo a dignidade do nome do Senhor Jesus Cristo, e reunidos a este nome.
Poderíamos ler algumas passagens das Escrituras que tratam deste ponto, começando, talvez, com Filipenses 2, versículos 8 ao 11:
“E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”
Vamos ver também o primeiro capítulo de Colossenses, versículos 15 a 18:
“O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.”
Podemos também voltar para o primeiro capítulo de Efésios enquanto tratamos desta linha de pensamento, nos versículos 20 e 21:
“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro.”
O Nome do Senhor Jesus
Este nome, portanto, conforme descobrimos, é único nos pensamentos de Deus. Não existe, na estima de Deus, nenhum outro nome como este. Ele permanece único, tanto agora como para sempre. Se abrirmos no livro de Apocalipse, iremos descobrir que não existe nenhum nome no céu maior do que este nome. As hostes angelicais são vistas ali se prostrando e adorando diante dAquele mesmo Ser bendito cujo nome é tão exaltado. O nome do Senhor Jesus, devo admitir, é digno de ser aceito como o centro de reunião. Trata-se de algo bendito estar em harmonia com o pensamento do céu a este respeito.
Os primeiros cristãos estavam reunidos nesse nome. Foi assim que passaram a ser chamados de “cristãos”. Os crentes foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia. O que significa o termo “cristão”? Significa um seguidor de Cristo. Porventura eles tinham outros nomes? Não, pois não existiam Batistas ou Presbiterianos ou Congregacionais naquele tempo. Eles eram chamados “os de Cristo” ou “seguidores de Cristo”. Este era o único nome que estava associado a eles. E eles não adotaram nenhum outro nome e, queridos santos, trata-se de algo bendito não termos nenhum outro nome hoje.
Todavia, nossas convicções a este respeito são tanto positivas como negativas. Vamos abrir, por exemplo, em 1 Coríntios, onde vemos o outro lado da questão. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1.11-13). Nenhum nome deve ser tomado como base para o sectarismo. Até mesmo o nome de Cristo não é para ser desvirtuado deste modo.
Nenhum Outro Nome
Podemos olhar também o terceiro capítulo desta mesma epístola, versículos 4 ao 7: “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”. Estes versículos confirmam aquilo com que, creio eu, todos aqui estejam de acordo; ou seja, Que não existe autorização, segundo o pensamento de Deus, para se adotar qualquer outro nome além do nome de Cristo, e que não existe qualquer base bíblica para se adotar qualquer outro nome.
Além do mais, se você adota um outro nome, um dia terá que deixá-lo. Suponha que você adote para si qualquer nome que venha ao seu pensamento – por exemplo, um Irmão Plymouth. Você não poderá levar este nome para o céu. Por que? Porque não existe lá nenhum espaço reservado para os Irmãos Plymouth. Suponha que você se denomine um Congregacional. Terá que deixar isto também. Não existe uma vaga reservada para os Congregacionais, e quando chegarmos ao céu e conversarmos com os redimidos, como certamente o faremos, não iremos achar lá um sequer que se faça diferente dos outros por meio de algum nome sectário. Lá só haverá um nome: O nome do Senhor Jesus, o Centro de todos – o Centro do trono – o Cordeiro que um dia foi morto. Aquela Pessoa, e o Seu nome, irá representar tudo o que é glorioso e bendito ali; o Centro que irá atrair todos os olhares, e o Centro das afeições de cada coração será aquele Ser bendito.
Se é esta a vontade de Deus agora com respeito ao Seu Filho, e se é esta a vontade de todo o céu em um dia vindouro no que diz respeito ao Filho de Deus, não deveríamos nós também estar concordes com a estima que é assim depositada nEle, e renegarmos todos os outros nomes? Queridos santos de Deus, são estes os pensamentos que têm estado diante de nós.
Reunidos Ao Seu Nome
Gostaria de abrir também no capítulo 18 de Mateus, versículo 20. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Este versículo diz respeito ao assunto que estamos tratando. Fala do povo do Senhor estar reunido ao (ou para) o Seu nome. Que lugar bendito é este.
Repare, todavia, que existe uma responsabilidade associada a levar o nome do Senhor. Vamos voltar a Deuteronômio onde encontramos este pensamento apresentado de uma forma simples. Leia o capítulo 5, versículo 11 – apenas a primeira parte: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Estar reunido ao nome do Senhor Jesus não é simplesmente uma questão de usar tecnicamente o Seu nome. Acredito que exista o reconhecimento do que este nome envolve. Você não pensa o mesmo? Estar reunido para o Seu nome, envolve o reconhecimento do que este nome implica – o nome do Senhor Jesus Cristo – o reconhecimento do Seu Senhorio. Se alguém segue naquilo que é contrário à Sua Palavra e à Sua vontade, dificilmente se poderia chamar isso de estar reunido ao nome do Senhor Jesus Cristo! Estar reunido para o Seu nome envolve mais do que atuar mecanicamente. Existe nisto algo que atinge nossos corações e nossas consciências também. Deve existir o reconhecimento, na prática, do Senhorio de Cristo, a fim de que a verdade possa ser acompanhada do conteúdo que a torna válida. Nenhuma passagem das Escrituras nos autoriza a adotarmos qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus como o Centro para o Seu povo.
O Espírito de Deus
O segundo ponto de que falamos foi: Nos reunimos assim porque concedemos ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence. Parece um modo estranho de se falar, não é mesmo? Algo de muito sério deve estar faltando para justificar o uso da expressão “conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar”! Quem é o Espírito de Deus? A terceira Pessoa da Divindade. O fato de Ele ser normalmente mencionado como a terceira Pessoa da Divindade, não traz consigo nenhuma idéia de inferioridade. O Espírito de Deus é Deus. Não existe diferença de importância entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O fato de cada uma destas Pessoas divinas ser divina, de cada uma delas ser Deus, traz consigo a impossibilidade de qualquer grau de comparação entre elas. Cada uma é uma Pessoa infinita. O Espírito de Deus está aqui na Terra. Em nossas reuniões de estudo vimos algumas passagens relacionadas ao Espírito de Deus.
Podemos voltar outra vez ao capítulo 14 do Evangelho de João, versículos 16 e 17: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.
Ele Me Glorificará
Agora podemos ler o capítulo 15, versículo 26: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, Aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim”. Também no capítulo 16, versículos 13 e 14: “Mas quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar”. Estes versículos, e muitos outros que poderíamos ler, nos mostram que o Espírito de Deus está aqui na Terra.
O peso que isto tem não é suficientemente compreendido entre nós. Uma Pessoa Divina está aqui na Terra. Deus está aqui na Pessoa do Espírito Santo. Esta é uma verdade maravilhosa! Trata-se de uma verdade fundamental! Deus habita na Terra na forma do Espírito. Como tal Ele está aqui na Terra e para um propósito determinado. Que propósito é este? “Bem”, talvez você diga, “Ele está aqui para convencer pecadores”. Isto é verdade, sem dúvida nenhuma. Mas naquilo que diz respeito ao nosso tema nesta tarde, Ele está aqui para outro propósito. E qual é? Ele está aqui para tomar das coisas que são de Cristo, e mostrá-las para nós. Ele está aqui para glorificar a Cristo. É por esta razão que Ele está aqui. É este o Seu ofício.
Amados amigos cristãos, aqui vemos algo estranho a respeito da Bíblia. No Antigo Testamento podem ser encontradas as mais amplas instruções quanto a todos os cultos do povo terrenal de Deus. Cada ritual foi previsto. Tudo estava ligado aos sacrifícios; até as vestimentas dos sacerdotes; todos os vasos do santuário; tudo minuciosamente previsto de modo a não haver qualquer possibilidade de alguém cometer um erro, a menos que fosse por falta de cuidado.
O Espírito de Deus Está Aqui Para Guiar
Mas já que o Espírito Santo encontra-Se na Terra, você irá reparar como são poucas as instruções que temos quanto às cerimônias a serem celebradas pela Igreja. Onde é que encontramos instruções minuciosas quanto à maneira da assembléia proceder quando se reúne? Veja, por exemplo, a reunião que é tão preciosa aos nossos corações – o partimento do pão – a recordação da morte do Senhor. Onde está o capítulo que nos diz como devemos proceder? Não existe um tal capítulo. Não existe um versículo que nos diga que a reunião do partimento do pão deveria começar com um hino e que depois disso um irmão deveria se levantar e orar ao Senhor ou louvá-lo, e que então outro hino deveria ser dado, e que no final de trinta ou quarenta minutos os símbolos deveriam ser distribuídos, ou por quanto tempo mais a reunião deveria continuar. Por que razão não existe nenhuma passagem das Escrituras cobrindo estes pontos? Porque o Espírito de Deus está aqui para reger e conduzir tudo da maneira que Lhe agrade. (Estou apenas assinalando que não existem instruções escritas para estes detalhes. Não estou criticando o modo como é feito.) O Espírito de Deus está aqui para guiar e reger na Igreja, e Sua direção e regência na Igreja é feita com a finalidade de que Cristo seja glorificado. É este o Seu propósito – o objetivo que Ele tem em vista.
Bem, isto coloca diante de nós uma grande, importante e solene verdade. Na cristandade, de um modo geral, recusa-se conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar. Onde na cristandade, nas denominações, encontro que esteja sendo concedido ao Espírito de Deus o lugar que Lhe é devido? Onde é que Ele pode guiar, dirigir ou reger (e é este o seu gracioso ofício) se algum homem está guiando e dirigindo e tem um programa já elaborado com antecedência? Se este já decidiu quais os hinos que serão cantado e quem deverá orar – onde entra, então, o Espírito de Deus nisso tudo? Isto é o que normalmente se faz, não é mesmo? Sim, é. Que lugar é dado para o Espírito de Deus? Nenhum.
Nos credos das igrejas ortodoxas – das igrejas evangélicas – há muitos cristãos (graças a Deus por eles), mas, no entanto, embora seus credos reconheçam a presença do Espírito Santo, na prática eles negam a Sua presença, pois suas cerimônias são efetuadas como se não existisse tal Pessoa. Seu credo O reconhece, mas na prática O negam. Esta é realmente uma condição triste. Mais do que isto. Algo está radicalmente errado nisso tudo. Amados santos de Deus, existe uma razão para nos reunirmos como fazemos. Desejamos dar ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence.
Como O Espírito de Deus Quer
Agora, com relação a estes últimos comentários, vamos abrir em 1 Coríntios 12.4: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Versículo 7: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”. Versículo 11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Não como o ministro quer, mas como o Espírito de Deus quer.
Vamos abrir também em 1 Coríntios 14.28-33: “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos”, e assim por diante.
Não tenho tempo para falar aqui das manifestações sobrenaturais, mas quero declarar que creio que elas cessaram e não têm lugar hoje na Igreja. Na Igreja o Espírito é Aquele que guia e rege. É a Sua vontade que deve ser obedecida, não a vontade do homem. Esta é uma das razões de nos reunirmos assim. Quando nos reunimos como uma assembléia, nos reunimos de maneira que o Espírito de Deus tenha espaço para agir por meio de quem Ele quiser.
Nenhum Programa Estabelecido
Quando nos reunimos, por exemplo, para recordar o Senhor na Sua morte, não temos nenhum programa estabelecido. Se algum irmão estiver selecionando um hino em sua casa, estará cometendo um erro. Não tem base bíblica para fazê-lo. E se outro irmão escolher de antemão algo que acha bonito para ler no final da reunião, estará cometendo um erro. Não se deve fazer assim. O Espírito de Deus deve ter a direção nestas coisas. Não sabemos quem irá distribuir os símbolos [o pão e o vinho]. Não sabemos quem irá sugerir um hino, ou quem irá se levantar e louvar a Deus. Não temos um programa. Não seria correto se o tivéssemos. O Espírito de Deus deve ser Aquele a dirigir conforme a Sua vontade na reunião da assembléia.
É adequado que nos reunamos e nos comportemos de um modo tal que o Espírito de Deus possa ter liberdade para agir por meio de quem Ele quiser. Na reunião de oração, não é conveniente que se convide um irmão a orar ou que se peça a outro que dê um determinado hino. Não; o Espírito de Deus é Quem deve fazê-lo. Não estou dizendo que tudo acontece com perfeição em nossas assembléias, pois somos falhos, e podemos ser lembrados disto de vez em quando, mas o terreno sobre o qual estamos, e os princípios que sustentamos são de Deus. Nos reunimos assim para dar espaço ao Seu Espírito.
Em Wales, há muitos anos, Evan Roberts reuniu, em um grande salão público, alguns milhares de pessoas que haviam sido salvas. Eles estavam ali para uma cerimônia especial naquele dia. O que havia de peculiar naquela ocasião era o fato de não ter sido preparado nenhum programa de antemão. Além disso, quando a congregação chegou e todos os assentos estavam ocupados e havia pessoas em pé até nos corredores e portas, todos observaram que no centro do salão havia uma cadeira vazia. Ninguém poderia se sentar naquela cadeira. Ela estava reservada, como um símbolo – um lembrete – de que o Espírito de Deus estava presente. Naquele dia o desejo de Evans Roberts, e creio que de outros fiéis também, era que não tivessem nenhum programa estabelecido, mas que o Espírito de Deus pudesse ter liberdade para dirigir e reger. Aquilo gerou muitos comentários. Houve até uma notícia no jornal sobre aquela experiência extraordinária – uma cerimônia sem um programa preestabelecido e sem um ministro! O dia passou alegremente, e com uma clara evidência da direção do Espírito. Podemos agradecer a Deus pelas convicções de fé de Evans Roberts e outros cristãos, mas por que não continuou sendo assim depois? É isto que nos dá o segundo motivo para nos reunirmos do modo como nos reunimos. Queremos dar ao Espírito de Deus o Seu lugar e ofício em nosso meio.
Sair a Ele Fora do Arraial
A terceira razão da qual falei foi esta: A questão de se sair a Ele fora do arraial. Abra no último capítulo de Hebreus para encontrar isto, versículos 10 a 14: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.” Observe que estes versículos fazem parte da epístola aos Hebreus. Isto sugere que existe uma esfera judaica ligada ao que estamos observando. Jerusalém está diante de nós. Foi daquela cidade – daquela cidade religiosa – que o Senhor da glória foi expulso. Seu sangue foi derramado fora daquela cidade. Um novo centro foi estabelecido. A cruz de Cristo se torna agora um centro para a fé. Aquele lugar fora de Jerusalém, fora da organização religiosa, fala agora aos nossos corações que O conhecem.
Porque assim como Ele, em Quem todo o padrão judaico foi expresso e cumprido, morreu fora da cidade, é fora também que é estabelecido o altar do cristianismo. Não existe hoje nenhum outro altar. Estabelecer um altar em uma igreja é ridículo! É uma abominação! Estabelecer um altar em uma igreja hoje é sugerir que o único sacrifício de Cristo não é suficiente. “Temos um altar”. A poderosa obra foi completada. Uma oferenda foi feita. A obra está terminada. Nada mais há para se acrescentar. O Calvário, aquele lugar onde o Rejeitado sangrou e morreu – aquele lugar cancela todos os altares terrenos.
O Que Significa “O Arraial”?
Falamos com frequência do “arraial”, e talvez sem compreendermos completamente o que significa. Sem dúvida alguma, o “arraial”, em sua aplicação estrita, nos fala do tabernáculo, e da condição dos filhos de Israel no deserto, embora aqui ele seja claramente aplicado a Jerusalém. Ele coloca diante de nós a religião organizada e terrena. Jerusalém e seu templo, o lugar divino de adoração, durante muito tempo levou o selo do favor de Deus, e os cristãos judeus tinham sido vagarosos em se desligarem daquele sistema no qual haviam sido criados desde a infância. Todavia, agora eles são exortados a sair.
Vocês já repararam, amados amigos cristãos, quão singular era o estado de coisas que existia aqui no final de Hebreus? Repare a data que é dada na tradução King James [versão inglesa da Bíblia]: 64 A.D. Trinta anos ou mais após o princípio do cristianismo, eles ainda são encontrados em Jerusalém – crentes – seguindo adiante com o judaísmo, seguindo adiante ainda com o templo e os sacrifícios que eram oferecidos no templo. Você há de concordar que aquilo era algo muito estranho! É evidente que sim, e talvez se eu e você tivéssemos vivido naquela época, não teríamos tido a paciência que Deus teve, mas Ele os suportou. Aqui já se haviam passado trinta anos e nós os vemos prosseguindo da mesma maneira, mantendo uma doutrina que misturava a graça e as obras. Isso não era nada diferente de se misturar água com óleo. Eles foram exortados a sair “…a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.
Há certos pontos associados a este sistema que eu gostaria de tratar por alguns momentos. As características do arraial eram quatro. Primeiro, ele tinha um santuário terreno. (Originalmente era o tabernáculo; mais tarde foi o templo.)
Em segundo lugar, ele tinha uma ordem estabelecida de sacerdócio que se colocava entre Deus e os adoradores.
Terceiro, ele tinha uma congregação de adoradores composta de salvos e não salvos.
Quarto, todos eles juntos e coletivamente, estavam sob a lei para justiça. Estas quatro características marcavam o arraial.
O Santuário Terreno
“Bem”, alguém poderá dizer, “isso tudo é judaísmo e já terminou, e Jerusalém foi destruída”. Sim, sem dúvida isto é verdade, mas os princípios aqui estabelecidos continuam a existir. Uma condição paralela àquela ainda se apresenta para nós. O que quero dizer é que o santuário terreno ainda existe – grandes estruturas dedicadas ao, assim chamado, culto a Deus – mas Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Algumas destas estruturas são muito bonitas no que diz respeito à sua arquitetura e decoração. Mas são coisas que não têm valor aos olhos de Deus. Cristo está rejeitado e estamos no lugar da Sua rejeição, e somos chamados a seguir as Suas pegadas. A ostentação e a aparência exterior não é o que conta hoje.
Quanto ao sacerdócio, do mesmo modo como os judeus tinham um sistema de sacerdócio ordenado com o propósito de se colocar entre o povo e Deus, também em nossos dias não deixa de ser verdadeiro que a cristandade estabeleceu um sistema de sacerdócio ligado ao culto professo a Deus – homens ordenados por mãos humanas, para permanecerem entre os adoradores e Deus. Não é preciso irmos muito longe para encontrar isto. Trata-se de uma característica bem estabelecida nesta época da cristandade, como todos sabemos.
Quanto ao terceiro ponto – uma congregação mista de adoradores: não precisamo andar muito para encontrar isto. Será que é difícil encontrar uma congregação mista, composta por pessoas salvas e não salvas que professadamente se reúnem juntas para adorar a Deus? Não teríamos que ir muito longe para encontrar isto. É algo característico de nossa época.
Quanto ao quarto ponto – estar sob a lei para justiça, será que é difícil encontrarmos tal coisa? Não, não é. Isto também é comum ao nosso redor hoje em dia. Em muitas igrejas você descobrirá os dez mandamentos escritos sobre a parede, e as almas são ensinadas que para poderem chegar ao céu não basta crerem no Senhor Jesus, mas devem também guardar os dez mandamentos.
É Custoso Deixar o Arraial
Encontramos estas quatro coisas hoje e, em princípio, elas nos revelam o arraial. A Palavra de Deus é: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Não devemos pensar que este “saiamos” seja sempre uma questão fácil para aqules que estão no arraial. É custoso deixar o arraial. Trinta anos depois de terem recebido o cristianismo encontramos os cristãos hebreus sendo exortados a saírem do arraial. Você não acha que deve ter sido difícil para eles – o rompimento com os muitos vínculos e com amizades antigas? Todavia, por mais duro que fosse, a Palavra de Deus para eles era: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Procuremos nos solidarizar com aqueles que procedem assim hoje. Para alguns é fácil; para outros não, mas trata-se de uma senda de dificuldades e provações. As afeições naturais e os vínculos antigos prendem muitos ao sistema.
Em relação a isto, veja 2 Pedro 1.5-7: “E… à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” – divino amor. Não basta ir só até o amor fraternal. O amor divino deve ser o poder propulsor.
“Levando o Seu vitupério.” O vitupério está ligado ao lugar fora. Você já descobriu isto? Pergunte a um católico a que ele está ligado e ele lhe dirá que está ligado à Igreja Católica. Ele não se envergonha de dizer isto. Ele está no arraial e numa de suas partes maiores e principais. Suponha que eu esteja reunido ao nome do Senhor e alguém me pergunta a que estou ligado. Creio que não sou o único que sente uma certa medida de embaraço. Digo:
– Estou ligado a uma pequena reunião. – Que tipo de reunião? – Bem, uma reunião bem simples. – Que nome vocês têm? – Ora, não temos nenhum nome. – Nenhum nome? – Nenhum; bem, nós nos reunimos ao nome de Cristo. – Mas vocês devem ter algum outro nome… -Não, não temos.
Bem, ele irá pensar que sou um excêntrico, e depois de seguir por algum tempo falando acabará se convencendo de que é isto mesmo. “Aquele sujeito deve ser algum tipo de fanático religioso”, sairá ele dizendo.
Existe vitupério ligado a isto. Nos faz cair no nível de estima dos que nos cercam. Isto faz parte de nossa herança. Trata-se de algo bendito – algo para se dar valor e apreciar – algo que trará consigo um galardão peculiar. Você não encontra este vitupério dentro do arraial, mas fora dele.
Um Só Corpo
Quarto. Cremos que é bíblico estar reunido sobre o terreno do um só corpo. Este é um assunto muito vasto para ser tratado em poucos minutos.
Efésios 4.4. “Há um só corpo.” Esta é uma tremenda verdade! Uma verdade muito profunda! Uma verdade imensamente bendita! “Um só corpo”. Não duzentos, como poderia apontar o relatório do censo dos Estados Unidos. Deus olha lá do céu e de todos os grupos de crentes sobre a Terra, nas várias associações e lugares que são encontrados, Ele não pode reconhecê-los, mas só dizer: “Há um só corpo”. Quaisquer que sejam as associações em que estejam, todos os crentes constituem o um só corpo. Eles podem querer se denominar a si mesmos usando diferentes nomes. Muitos crentes podem ser encontrados entre os Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Congregacionais, Episcopais, e não há dúvidas de que muitos são encontrados em outros lugares também, mas esses nomes não têm valor nenhum para Deus. A única coisa que Ele reconhece é que esses crentes são membros do um só corpo. Pertencem a este corpo. Esta é uma grande, uma enorme verdade, não é mesmo? A verdade de que nós, que por graça somos dEle, pertencemos a este um só corpo, e ao único corpo que existe. Não há nenhum outro. No céu isto será perfeitamente manifestado. Aqui não é muito bem manifestado. Somente o olho de Deus pode ver este um só corpo. Todavia, assim é. Há um só corpo.
Os cristãos no princípio se reuniam simplesmente por pertencerem ao um só corpo. Se eu e você tivéssemos estado em Éfeso na manhã do dia do Senhor e procurássemos por aqueles que reconheciam o nome ou a autoridade do Senhor Jesus, iríamos descobrir que as condições para que participássemos da comunhão estariam baseadas única e tão somente no fato de sermos ou não membros do um só corpo. Eles não nos levariam para um canto para perguntar qual seria nossa opinião sobre o batismo, sobre a verdade dispensacional, sobre a interpretação da profecia ou um monte de outras coisas sobre as quais os homens disputam, mas estariam ansiosos por saber se poderíamos distinta e definitivamente demonstrar que éramos membros do um só corpo – se éramos idôneos quanto à Pessoa e obra de Cristo. Se pudéssemos mostrar que éramos idôneos, seria somente com base nisto que seríamos recebidos entre eles, e somente com base nisto que tomaríamos dos símbolos [o pão e o vinho], pois é esta mesma verdade que os símbolos apresentam diante de nossos olhos. (Estou supondo, evidentemente, que nossa profissão verbal não estivesse em contradição com nossa vida.)
Um Pão
O pão sobre a mesa do Senhor nos fala não apenas da morte do Senhor Jesus, mas antes de ser partido ele fala da verdade de que somos um só corpo. Partimos aquele pão como membros do um só corpo e de nenhum outro modo.
Nosso tempo já se esgotou e não podemos falar muito mais sobre este assunto tão abrangente, mas apenas expressar em palavras que continua coerente com o ensino das Escrituras estar reunido sobre este amplo terreno, reconhecendo cada membro do corpo de Cristo sobre a Terra como um irmão ou irmã, e reconhecendo o direito, ou melhor dizendo, privilégio, de cada um como tal de recordar o Senhor conosco – de tomar daquele um só pão.
É necessário que se acrescente isto: Embora no princípio estes assuntos fossem bastante simples, hoje não são tão simples pois existem aqueles que se denominam cristãos mas que não são cristãos, e já não é suficiente aceitar apenas a palavra humana a este respeito. Hoje em dia todo tipo de pessoa se denomina cristão. É nosso dever descobrir se realmente é assim. Somos responsáveis por aqueles que recebemos, e esta responsabilidade não pode ser deixada sobre eles.
Creio que o que foi falado está em conformidade com a verdade, e se assim for, o Senhor irá tornar isto uma bênção aos nossos corações.