Categorias
Andrew Murray Cristo

Cristo sempre aceitará a fé que coloca sua confiança Nele.

(Andrew Murray)

Categorias
Apologética Espírito Santo Evangelho Igreja Vida cristã

Uma surpreendente obra de Deus (1/2) (Kevin DeYoung)

Existem apenas algumas coisas que permanecem semanalmente na minha lista de oração. Uma delas é o avivamento ou reavivamento. Eu acredito que Deus tenha se movido no passado para inflamar grandes avivamentos. Eu acredito que ele pode fazê-lo novamente. E eu acredito que seria bom que os cristãos pregassem e orassem por um avivamento cristocêntrico em nossos dias, que ame o Evangelho, glorifique a Deus e seja dado pelo Espírito.

Claro, isso levanta a questão: o que é verdadeiro avivamento? Vou chegar a uma definição em um momento e falarei mais sobre o modelo bíblico de renovação e reforma no próximo texto, mas permita-me começar mostrando algumas noções falsas sobre avivamento.

Primeiro, avivamento não é reavivalismo. Obviamente, quando você adiciona o “ismo” isso soa assustador, mas eu acho que há uma distinção importante a defender. Entendo por reavivalismo um evento programado, produzido e determinado por homens. No início do século XIX, uma mudança profunda aconteceu. Considerando que antes avivamentos eram vistos como obras da soberania de Deus pelo que alguém orava e jejuava mas não conseguia planejar, a partir de 1800 os avivamentos tornaram-se produções programadas. Você poderia montar uma barraca e anunciar um avivamento na próxima quinta-feira. Se você colocar uma música nova aqui, um coral lá, um certo estilo de pregação, um banco para os pecadores arrependidos, você pode ter certeza de uma resposta. Isso é um avivamento feito por homens, não verdadeiro avivamento.

Segundo, avivamento não é individualismo. Com isso quero dizer que um avivamento é um evento corporativo. É uma coisa maravilhosa quando Deus muda um só coração, especialmente no meio de muitos ossos secos, mas não é disso que estamos falando. Quando Deus envia um avivamento, ele varre uma igreja inteira, várias igrejas ou comunidades, e toca uma diversidade de pessoas (por exemplo, jovens, velhos, ricos, pobres, educados, incultos). Não é apenas uma transformação individual, de tão maravilhoso que é.

Terceiro, avivamento não é emocionalismo. De fato, verdadeiro avivamento pode produzir grande emoção. Mas a emoção em si não indica uma verdadeira obra do Espírito. Você pode levantar as mãos, ou ficar duro, chorar histericamente, ou ter uma grande calma, cair no chão, saltar para cima e para baixo, gritar Amém, fazer orações altas ou suaves, se sentir muito espiritual ou se sentir muito insignificante. Estes são o que Jonathan Edwards chama de “não-sinais”. Eles não dizem nada de um jeito ou de outro. Se você levanta as mãos ao cantar uma canção de louvor, isso pode significar que você está encantado com o amor de Deus, ou pode significar que você tem uma personalidade expressiva e a música proporciona uma liberação de energia. Se você canta um hino com solenidade e gravidade, pode ser que você está cantando com profundo temor e reverência, ou pode significar que a sua religião é mero formalismo e você está realmente entediado. Verdadeiro avivamento é marcado por mais do que a presença ou ausência de emoção tremenda.

Quarto, avivamento não é idealismo. Avivamento não significa que o céu chega na terra. Ele não inaugura uma utopia espiritual. Não resolve todos os problemas da igreja. Na verdade, o avivamento, com todas as suas bênçãos, geralmente traz novos problemas. Muitas vezes existe controvérsia. Pode haver orgulho e inveja. Pode haver suspeita. E além dessas obras da carne, Satanás muitas vezes desperta falsos avivamentos. Ele semeia sementes de confusão e engano. Assim, tanto quanto nós devemos ansiar por avivamento, não devemos esperar que ele seja a cura para todos os problemas da vida, e muito menos um substituto para décadas de tranquilidade, obediência fiel e crescimento.

Então, o que é verdadeiro avivamento? Aqui está a minha definição: O verdadeiro avivamento é uma soberana, repentina e extraordinária obra de Deus pela qual ele salva pecadores e traz vida nova para o seu povo.

  • O verdadeiro avivamento é uma soberana (dependente do tempo de Deus, realizado por Deus , concedido conforme a vontade de Deus)
  • repentina (conversões, crescimento e mudanças acontecem de forma relativamente rápida)
  • extraordinária (incomum, surpreendente)
  • obra de Deus (não nossa)
  • pela qual ele salva pecadores (regeneração levando a fé e arrependimento)
  • e traz vida nova para o seu povo (com afeições, comprometimento e obediência renovados).

Um dos melhores exemplos do verdadeiro avivamento na Bíblia é a história de Josias, em 2 Reis 22-23. A história não é um projeto para ser imitado em todos os aspectos, especialmente porque Josias é rei sobre uma teocracia. Mas a história é instrutiva, na medida em que nos dá uma imagem de uma soberana, rápida e extraordinária obra de Deus.

Vamos ver com o que isso se parece no próximo texto.

Kevin DeYoung. Website: http://thegospelcoalition.org/. Original: A Surprising Work of God (1 of 2)

Traduzido por Annelise Schulz. Por iPródigo.com. Original: Uma surpreendente obra de Deus (1)

Categorias
Citações Deus Soberania

Liberdade (Craig R. Brown)

Embora, de nossa perspectiva, sejamos livres, precisamos perceber que a liberdade absoluta – liberdade total do controle de Deus – simplesmente não é possível em um mundo providencialmente sustentado e dirigido pelo próprio Deus. A liberdade humana é real, mas é, por todos os lados, limitada pela liberdade de Deus. Deus é soberano, não o homem. Essa soberania nunca é limitada pela liberdade humana. Em lugar disso, a liberdade humana é sempre limitada pela soberania de Deus.

Categorias
Cristo Cruz Evangelho Martin Lloyd-Jones

Teologia do sangue (Martin Lloyd-Jones)

Há pessoas que odeiam aquilo que chamam de “teologia do sangue”. Mas não há teologia digna desse nome à parte do sangue derramado de Cristo. Nosso evangelho é um evangelho de sangue. Sangue é o fundamento. Sem ele, não há nada.

Categorias
Charles Spurgeon Cristo Cruz Encorajamento Mundo

Como Jesus venceu o mundo (Charles Spurgeon)

Ele não usou aquela forma de energia que é peculiar ao mundo mesmo para fins altruístas. Não posso conceber um homem, mesmo à parte do Espírito de Deus, tornando superior à riqueza e desejando somente a promoção de algum grande princípio que tomou seu coração. Mas você normalmente vai notar que, quando os homens o fizeram, eles estavam prontos para promover o bem usando o mal, ou pelo menos julgaram que os grandes princípios poderiam ser imputados pela força das armas, ou da propina ou da política. Maomé tinha agarrado uma grande verdade quando disse: “Não há Deus senão Deus.” A unidade da divindade é uma verdade de máximo valor; mas, então, vem o meio a ser utilizado para a propagação dessa grande verdade: a cimitarra. “Cortem a cabeça dos infiéis! Se eles têm falsos deuses ou se não possuem a unidade da divindade, não são dignos de viver.”

Você pode imaginar nosso Senhor, Jesus Cristo, fazendo isso? Pois, se tivesse feito, então, o mundo o teria conquistado. Mas ele conquistou o mundo sem ter empregado essa forma de poder nem no menor grau. Ele poderia ter reunido uma tropa a seu redor e, com Seu exemplo heróico juntamente com Seu poder miraculoso, teria rapidamente varrido o império romano e convertido. Depois, em toda a Europa e na Ásia e na África, Suas legiões vitoriosas poderiam ter pisando sobre todo o mal, e, com a cruz como Sua bandeira e a espada como Sua arma, os ídolos teríam caído e faria todo o mundo se curvar a Seus pés. Mas não. Quando Pedro tirou a espada, “Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26.52). Bem disse Ele: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos” (Jo 18.36).

E Ele poderia ter-se agradado de aliar Sua Igreja com o Estado, como Seus amigos equivocados têm feito nestes tempos degenerados, e, em seguida, poderia ter criado leis penais contra aqueles que ousassem discordar, e poderia ter obrigado que se fizessem contribuições para o apoio de Sua Igreja, e outras coisas semelhantes. Você leu, ouso dizer, que coisas assim estão sendo feitas, mas não nos Evangelhos nem em Atos dos Apóstolos. Essas coisas são feitas por aqueles que esquecem o Cristo de Deus, pois Ele não usa nenhum instrumento, mas o amor, não a espada, mas a verdade, não o poder, mas o Espírito Eterno, e, no próprio fato de ter colocado todas as forças mundanas de lado, Ele venceu o mundo.

(Traduzido por Francisco Nunes de um trecho do sermão “Cristo, o que venceu o mundo”, proferido em 3 de dezembro de 1876. Original aqui.)

Categorias
Citações Cristo Evangelho J. C. Ryle

Genealogia de Jesus (J. C. Ryle)

Aprendemos, por fim, desta lista de nomes [em Mateus], quão grandes são a misericórdia e a compaixão de nosso Senhor, Jesus Cristo. Pense quão pervertida e impura nossa natureza é e, então, pense que condescendência foi para Ele nascer de uma mulher e fazer-se “semelhante aos homens”. Alguns dos nomes que lemos nessa lista lembra-nos de histórias vergonhosas e tristes. Alguns deles são de pessoas não mencionadas em nenhum outro lugar da Bíblia. Mas, depois de todos, vem o nome do Senhor Jesus Cristo. Embora Ele seja o Deus eterno, humilhou-se a Si mesmo para tornar-se homem a fim de prover a salvação para os pecadores. “Já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre” (2Co 8.9).

Categorias
Bíblia Cristo Deus Escatologia Espírito Santo Estudo bíblico Evangelho História Profecias Salvação

Cumprimento das antigas profecias

Recebi por email muito tempo atrás. Não sei quem é o autor.
____

Segundo o cristianismo, o Messias enviado por Deus para salvar o seu povo cumpriria tudo o que foi dito a respeito dele por parte do Senhor através dos profetas, como por exemplo:

  • Nasceria em Belém de Judá (Miquéias 5:2)
  • de uma virgem (gr. phanteros) (Isaías 7:14)
  • por intermédio de Deus (Salmos 2:7)
  • descendente de Jacó (Números 24:17)
  • da tribo de Judá (Gênesis 49:10)
  • iria para o Egito (Oséias 11:1)
  • surgiria da Galiléia (Isaías 9:1)
  • um mensageiro prepararia o seu caminho (Malaquias 3:1) clamando no deserto (Isaías 40:3)
  • o Espírito de Deus iria repousar sobre Ele (Isaías 11:2)
  • faria profecias (Deuteronômio 18:18)
  • abriria os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos (Isaías 35:5)
  • curaria os coxos e os mudos (Isaías 35:6)
  • falaria em parábolas (Salmos 78:2)
  • mesmo sendo pobre, seria aclamado rei, em um jumento (Zacarias 9:9)
  • seria rejeitado (Salmos 118:22)
  • traído por um amigo (Salmos 41:9)
  • por trinta moedas de prata (Zacarias 11:12)
  • moedas essas que seriam dadas a um oleiro (Zacarias 11:13)
  • seria ferido, e depois abandonado por seus discípulos (Zacarias 13:7)
  • seria acusado injustamente (Salmos 35:11)
  • seria ferido pelas nossas transgressões (Isaías 53:5)
  • não responderia aos seus acusadores (Isaías 53:7)
  • seria cuspido e esbofeteado (Isaías 50:6)
  • seria zombado depois de preso (Salmos 22:7,8)
  • teria os pés e mãos transpassados (Salmos 22:16)
  • na terra dos seus amigos (Zacarias 13:6)
  • junto com transgressores (Isaías 53:12)
  • oraria pelos seus inimigos (Salmos 109:4)
  • seria rejeitado e ferido por nossas iniquidades (Isaías 53:3-5)
  • lançariam sortes para repartir as suas vestes (Salmos 22:18)
  • o fariam beber vinagre (Salmos 69:21)
  • clamaria a Deus no seu desamparo (Salmos 22:1)
  • entregaria seu espírito a Deus (Salmos 31:5)
  • não teria os ossos quebrados (Salmos 34:20)
  • a Terra se escureceria, mesmo sendo dia claro (Amós 8:9,10)
  • um rico o sepultaria (Isaías 53:9)
  • assim como Jonas ficou três dias dentro do grande peixe (Jonas 1:17; Mat.16:21; Lucas 11:30)
  • Ele ressuscitaria (Salmos 30:3)
  • no terceiro dia (Oséias 6:2)
  • subindo também aos céus (Salm. 68:18; Atos 1:11)
  • e sendo recebido pelo seu Pai, à sua direita (Salm. 110:1; Atos 7:55)

Então, aproximadamente dois mil anos atrás, Jesus Cristo teria vindo ao mundo e teria cumprido essas profecias a respeito de sua primeira vinda.

  • Jesus Cristo, o último Adão, I CORÍNTIOS 15:45

 Os milagres relatados

As Curas

Mateus

Marcos

Lucas

João

Um leproso

8:2-4

1:40-42

5:12-13

O servo de um centurião romano

8:5-13

7:1-10

A sogra de Pedro

8:14-15

1:30-31

4:38-39

Dois endemoninhados gadarenos

8:28-34

5:1-15

8:27-35

Um paralítico

9:2-7

2:3-12

5:18-25

Uma mulher com hemorragia há 12 anos

9:20-22

5:25-29

8:43-48

Dois cegos

9:27-31

Um homem mudo e endemoninhado

9:32-33

Um homem com a mão definhada

12:10-13

3:1-5

6:6-10

Um endemoninhado cego e mudo

12:22

11:14

A filha endemoninhada de uma cananéia

15:21-28

7:24-30

Um menino lunático

17:14-18

9:17-29

9:38-43

Dois cegos

20:29-34

10:46-52

18:35-43

Um surdo que falava com dificuldade

7:31-37

Um endemoninhado na sinagoga

1:23-26

4:33-35

Um cego de Betsaida

8:22-26

Uma mulher que andava curvada

13:11-13

Um homem hidrópico

14:1-4

Dez homens leprosos

17:11-19

Um servo do sumo sacerdote

22:50-51

O filho enfermo de um nobre

4:46-54

Um enfermo do tanque de Betesda

5:1-9

Um homem cego de nascença

9:1-7

 

O Poder Sobre a Natureza

Mateus

Marcos

Lucas

João

Jesus acalma o vento e o mar

8:23-27

4:37-41

8:22-25

Jesus caminha sobre as águas

14:25

6:48-51

6:19-21

A 1ª multiplicação de pães e peixes

14:15-21

6:35-44

9:12-17

6:6-13

A 2ª multiplicação de pães e peixes

15:32-38

8:1-9

O peixe com uma moeda na boca

17:24-27

A figueira se torna estéril

21:18-22

11:12-14,20-25

A água é transformada em vinho

2:1-11

A 1ª pesca milagrosa

5:1-11

A 2ª pesca milagrosa

21:1-11

 

O Poder Sobre a Morte

Mateus

Marcos

Lucas

João

Ressurreição da filha de Jairo

9:18-25

5:22-24,35-42

8:41-56

Ressurreição do filho de uma viúva

7:11-15

Ressurreição de Lázaro em Betânia

11:17-45

Sua própria ressurreição

28:1-7

16:1-6

24:1-9

20:11-18

Categorias
Apologética Bíblia Casamento Cristo Disciplina Família Ministério Serviço cristão Testemunho William Lane Craig

Sete hábitos de um filósofo altamente eficaz (Nathan Schneider)

Lições de vida do apologista cristão William Lane Craig.

William Lane Craig, de seu boletim de julho de 2013.

 

Ninguém – ou quase ninguém, dependendo de a quem você perguntar – bate William Lane Craig em um debate sobre a existência de Deus, ou a ressurreição de Jesus ou qualquer outro assunto desse tipo. Durante o debate em Notre Dame, em abril do ano passado, o neo-ateísta Sam Harris referiu-se a Craig como “o único apologista cristão que parece ter colocado o temor de Deus em muitos de meus companheiros ateus”.

Durante o desenvolvimento do trabalho em meu livro sobre como as pessoas procuram por provas da existência de Deus, tive a oportunidade de passar bastante tempo com Craig, tanto na área de Atlanta, onde ele vive, como na Universidade Biola, uma escola evangélica nos arredores de Los Angeles, onde ele ensina algumas semanas por ano. Para o livro, eu comecei a escrever sobre idéias como seu “argumento cosmológico Kalam”, uma das ideias mais citados de sua geração em filosofia da religião, que funde os muçulmanos medievais com a cosmologia moderna. Eu também falei de sua habilidade empreendedora em tornar a Sociedade Filosófica Evangélica em uma organização acadêmica que tem um trabalho extra de uma plataforma apologética lisa-como-uma-banana para mudar corações, como o seu e o meu. Mas nada disso capta o papel do homem como um sábio e exemplar, no qual ele torna algo como o serviço de apoio que Oprah oferece às mulheres americanas que ficam em casa, exceto que os acólitos de Craig são um grupo de precoces conservadores, evangélicos, jovens adultos. Ele quase me faz desejar ser esse tipo de evangélico conservador – o que é, para ele, o ponto.

Craig se veste impecável e professoralmente, muitas vezes com camisa abotoada e blazer, ou suéter ou colete e suéter. Suas covinhas sugerem uma inocência básica que pode ser surpreendente quando ela rompe a fachada da lógica. Vejo em Craig a decência associada a uma época em relação à qual sou muito jovem para ser nostálgico, época que fui ensinado a imaginar como imperialista, sexista, homofóbica, intolerante, ou retrógrada por outro lado. Suas racionalizações de certas partes da Bíblia hebraica podem soar como se ele concordasse com o genocídio. No entanto, nenhuma dessas acusações se apegam a ele; nenhuma é mesmo compreensível no cósmico globo de neve1 dentro do qual ele habilmente pensa seu caminho pela vida, cujo único e constante enredo é trazer mais e mais almas a um conhecimento salvífico do único e verdadeiro Senhor e Salvador, Jesus Cristo.

Eu moro em um globo de neve diferente de Craig. No entanto, ganhei muito com as lições que aprendi com ele, e de seus conselhos cuidadosamente elaborados e de suas respostas a minhas perguntas. (“Eu posso não responder, mas você pode perguntar”, avisou-me uma vez.) Eles melhoraram minha produtividade, minha relação com os entes queridos e minha aptidão física. Seria egoísta se eu não passasse algumas dessas lições, de forma sintetizada e praticável, para você.

 

1. Fazer tudo como um ministério

Craig começa com uma breve reflexão devocional cada dia de seu curso de duas semanas, no inverno, em que ensina os mestrandos de filosofia os alunos de apologética em Biola. Em meu primeiro dia na classe, o texto que ele recitou veio de Howard Hendricks, professor famoso do Seminário Teológico de Dallas: “Homens, não estudem para uma classe, estudem para uma vida de ministério”. Isso ter sido dirigido para “homens” era quase apropriado, pois, das quinze ou mais pessoas na classe naquele dia, apenas duas eram mulheres: uma visitante representando outra e uma dona de casa aposentada. Mas, para qualquer um, a mensagem é a mesma: Perseguir o elevado chamamento de servir a Deus, e o sucesso se seguirá.

O que, porém, devemos pensar como sucesso? Esse foi o tema de outras reflexões devocionais durante aquela quinzena do mês de aulas. Craig citou Bill Gothard, ministro e fundador do Instituto de Princípios Básicos de Vida, como tendo dito: “O sucesso não é medido pelo que você é comparado aos outros; sucesso é o que você é comparado com o que poderia ser”. Embora se possa ser tentado a tomar essa máxima como licença para baixas expectativas, a interpretação de Craig era, naturalmente, mais sábia. Considere essa “humildade para o orgulhoso”, disse ele – pois onde muito é dado, mais é esperado – e “encorajamento para desencorajado”.

A reflexão em outra manhã ofereceu ainda outro ponto de vista sobre o sucesso, dessa vez a partir de 1Coríntios: “A loucura de Deus é mais sábia do que os homens”. Craig estava certamente falando de sua própria experiência, quando advertiu seus alunos a não esperar respeitabilidade acadêmica acima de tudo. “Não busquem o louvor dos homens, mas o louvor de Deus.” E: “Vocês não estão realmente prontos para serem usados de Deus”, ele avisou, numa sintaxe tipicamente antiga, “até que estejam pronto para ser visto loucos por Cristo”. Aqui ele fala da experiência. “Meu encargo é evangelismo”, disse-me certa vez durante o almoço. Pregar seu evangelho tem muitas vezes conflitado com as tendências atuais das expectativas acadêmicas, mas, pelos padrões de ministério, ele tem sido um servo eminentemente fiel.

Certamente, devemos usar cada repreensão que pudermos contra o carreirismo e todo o incentivo para fazer do serviço nossa ocupação. É tarefa de cada um de nós discernir os ministérios que temos a oferecer e realizá-los – como loucos, se necessário.

 

2. Faça uma aliança com sua esposa

Essa lição não é nenhuma surpresa vinda de um evangélico da estirpe de Craig. Mas, entre os filósofos, que são notoriamente criaturas solitárias, sem dúvida vale a pena repeti-las. “Eu não sou um filósofo da mente; então, não tenho nenhuma grande percepção sobre as características das pessoas”, ele observou certa vez, enquanto driblava uma questão esotérica de um aluno em sala de aula. Mais do que isso, porém, é sua esperança “de você não se tornar tão orientado para o trabalho que deixará o outro ser negligenciado, e não colocar a carreira antes dessa pessoa a quem você se comprometeu amar e cuidar.” O título da primeira seção em seu currículo é Família, em que são listados sua esposa, Jan, e os dois filhos.

Ele conta histórias sobre os tempos em que teve problemas com Jan nessa área. Quando era estudante de pós-graduação, ele costumava comprar um monte de livros para si, mesmo que a família não tivesse muito dinheiro. Jan viu que já era demais quando ele chegou em casa com um exemplar de O ser e o nada, de Sartre. Ela o repreendeu por aquele provável desperdício. A partir de então, ele se comprometeu a comprar apenas livros que foram indicados para a aula, e até hoje ele compra muito poucos desses.

Ele recomenda aos alunos: “Façam uma aliança com sua esposa.” Prometam-lhe que você não vai “sacrificar seu relacionamento no altar do sucesso acadêmico”. Certifiquem-se de que ela sabe que você está disposto a desistir da carreira por completo, se ela precisar que você o faça. Uma vez que prometeu aquilo a Jan, explica Craig, ela se tornou muito mais tolerante com sua necessidade de se concentrar no trabalho, por agora saber que, em última instância, suas necessidades importavam mais para ele. Craig instrui também a que “fala a uma mulher é muito diferente de falar com outros caras”. Ao fazer a aliança, olhe-a longa e firmemente nos olhos.

Um dos estudantes esse ano tinha acabado de noivar e, ao longo da aula, ele e Craig tiveram um vibrante diálogo, em termos filosóficos, claro, sobre se Deus escolhe uma pessoa em particular com que nós deveríamos casar ou se, nas palavras do aluno, Deus quer que nós “apenas escolhamos uma mulher e a amemos”. Craig, que é um defensor de uma teoria do século 16 sobre a presciência de Deus conhecida como Molinismo, argumentou que Deus sabe exatamente o que é certo para cada um de nós. O critério de Deus para essa determinação, além disso, não está ligado apenas à questão da pessoa que vai fazer você mais feliz – Deus não está aí para fazer da vida “uma tigela de cerejas” –, mas, sim, a encontrar a pessoa com quem você vai trazer à salvação mais almas.

Para esse fim, Craig especialmente incentiva seus alunos a pensar em casar com uma missionária. Ele, por exemplo, conheceu Jan enquanto eles estavam trabalhando juntos na Campus Crusade for Christ. “Aquelas solteiras na equipe do Campus Crusade for Christ são realmente mulheres escolhidas”, ele me explicou. “Elas são jovens, solteiras, inteligentes, graduadas, muito atraentes, independentes e capazes de gerir as próprias finanças e um ministério.” Se tudo é para um ministério, afinal, essa é sua parceria.

 

3. Organize o dia

Houve um tempo, diz Craig, quando começou a se preocupar por estar perdendo sua habilidade com a filosofia. “Querida”, lembra-se de ter dito a Jan, “não sei o que se passa comigo. Eu simplesmente não consigo mais me concentrar. Eu conseguia estudar o dia todo, sem nenhum problema, e agora simplesmente não consigo mais me concentrar. Minha mente divaga, e eu estou cansado.” Ele foi tentado a se desesperar.

“Não, não, não seja ridículo!”, ela lhe disse. “Você só precisa organizar seu dia.”

Como de costume, ela estava certa. Ela o colocou em um novo cronograma: começar o dia de trabalho com a tarefa filosófica mais difícil na parte da manhã, depois materiais mais leves, como seus textos para públicos populares, após o almoço. Ele não olha a caixa de e-mail até o final da tarde, “quando meu cérebro está realmente frito”. (Por medo de ser bombardeado com e-mail, ele nem sequer partilha seu endereço eletrônico com os alunos de pós-graduação.) Pouco depois de tentar este regime, ele recuperou seus poderes filosóficas completamente.

A vida do casal, em uma casa nos subúrbios de Atlanta, é uma imagem de (certo tipo de) trabalho em equipe. Craig acorda todos os dias às 5h30 e começa o dia com um tempo devocional, lendo os Pais da Igreja e o Novo Testamento em grego; depois, ora pela propagação do evangelho em alguma parte não-alcançada do mundo, com o ajuda do manual Operation World (Operação Mundo). Logo, Jan está de pé. Eles tomam café2 juntos (o que ele não gosta, mas recomenda para a saúde e por benefícios sociais); depois, ele desce para a sala de musculação para uma hora de exercício. Quando ele sai de lá, ela tem um café da manhã quente pronto e esperando – por vezes, tão elaborado, diz ele, como presunto e ovos e waffles de abóbora com chantilly e morangos. (“Ela é uma cozinheira fabulosa.”) Ele desce novamente, para uma manhã intensa de atividades escolares, e ressurge para o almoço quente que Jan preparou. Então, ele desce outra vez para o trabalho mais leve da tarde, culminando nos e-mails, que ele responde à mão e ela muitas vezes é quem digitar e envia, uma vez que sua rara doença neuromuscular, muito seguidamente, o torna incapaz de digitar. Entre as refeições e sessões de digitação, Jan mexe com o mercado de ações. Pouco tempo depois, o jantar está pronto, e eles comem e passam a noite juntos, assistindo TV e bebendo vinho tinto (de que ele também não gosta, mas também recomenda para a saúde e por benefícios sociais).

“Ela não é uma intelectual”, diz Craig da esposa, “mas ela aprecia o valor do que eu faço, e isso é o que importa.” Seria de esperar que isso fosse verdade, porque ela digitou todos os seus artigos, livros e ambas dissertações de doutorado. Seria bom se todos nós tivemos essa devotada ajuda, embora possa ser insustentável no atual clima econômico para os estudiosos entre nós, incapazes de acumular valores de cinco dígitos por palestrar. Podemos, pelo menos, adiar o e-mail por algumas horas, o que eu tenho feito desde então, com um enorme benefício.

 

4. Transforme fraqueza em força

Um dos fatos que definem a vida de William Lane Craig é a síndrome de Charcot-Marie-Tooth, acima mencionada, que tem afligido o seu sistema nervoso, desde o nascimento, causando atrofia nas mãos e nos pés. Seu caso é relativamente leve, mas debilitante, sem dúvida. Quando era menino, ele não podia correr normalmente, impedindo-o de distinguir-se nos esportes.

“As crianças podem ser muito cruéis, e zombarem e chamar-lhe de nomes”, ele me disse, enrugando a testa com sinceridade, mas sem perder o equilíbrio emocional. “Isso faz você se sentir como lixo, alguém inútil.”

No início da década de 1980, Craig trocou com um amigo lições de apologética por algumas sessões de aconselhamento matrimonial com Jan, e foi só então que ele percebeu o efeito que essas memórias da infância tiveram sobre ele. “Emoções brotaram de dentro de mim, e eu comecei a chorar”, disse ele. “Eu não sabia quão mal eu ainda me sentia. Eu ainda tinha os sentimentos dentro de mim.” Essas sessões o ajudaram a entender que sua impulsividade e determinação como adulto também são resultado daquelas primeiras frustrações.

“Bem, eu vou mostrar pra eles”, imaginava-se pensando, sob a superfície. “Eu vou fazer alguma coisa da minha vida, e eles não vão zombar de mim.”

É por isso que ele começou a debater no ensino médio. “Eu não era bom em atletismo”, ele me disse, “mas eu poderia representar minha escola por estar na equipe de debate.” Lá, ele se destacou, e viajou por todo Illinois para competições, debatendo os quatro anos do ensino médio e também nos quatro anos na Faculdade Wheaton também. “O Senhor tem usado isso em minha vida para me ajudar”, Craig agora pode dizer sobre sua doença. E agora, no início dos sessenta anos, exercitar-se seis manhãs por semana (exceto domingo) significa que ele está em melhor forma do que quando na casa dos vinte anos.

“O exercício corporal para pouco aproveita”, foi o texto de uma das devoções matinais em sua classe, 1Timóteo 4.8. “Mas isso não quer dizer que não é proveitoso!” Craig continuou, como se aliviado, e, então, começou a delinear seu programa de exercícios para os alunos, recomendando boletins informativos da Clínica Mayo e o programa Body for Life, do fisiculturista Bill Phillips.

Craig observou certa vez que ele realmente gosta da idéia de como as placas tectônicas, vulcões e terremotos são parte do que Deus usou para fazer a vida na Terra possível, lançando os elementos necessários a partir de debaixo da crosta. É a mesma lógica que aplica a própria vida: um trauma transformado por um propósito maior. Mesmo o tsunami de Natal de 2004 “seria ótimo”, disse ele, se Deus pudesse usá-lo para trazer mais pessoas para Cristo. Nesse caso, “graças a Deus pelo sofrimento”.

 

5. Esteja preparado

Confrontar sofrimentos horríveis assim filosoficamente, e também espiritualmente, requer prática. Parte do curso de duas semanas concentrou-se no assim chamado problema do mal, que lida com o fato de que Deus pode ser consistente com a experiência de tanta dor e crueldade do mundo. “O estudo da filosofia pode ajudar a preparar uma pessoa para o sofrimento”, disse Craig a sua classe. Esse estudo ajuda a ver a obra de Deus no mundo, ou pelo menos a confiar na insondável providência divina. Ele prometeu: “Isso tem um aspecto devocional real.”

A arena em que a inclinação de Craig para estar preparado é especialmente vista, é claro, é o debate. Ao longo de determinado debate, muitas vezes contra um valoroso desafiante ateu, ele nunca parece perder sua confiança inabalável, exceto se aventurar no ridículo. Ele tem uma resposta pronta para todas as objeções, com uma citação relevante em suas notas para deixar bem claro, como se algum dos pré-conhecimentos molinistas de Deus acerca dos movimentos do adversário estivesse passando sobre ele.

Realmente, porém, o processo é muito simples: é que ele aprendeu na equipe de debate do ensino médio e praticou por anos, mesmo antes de, mais tarde, ir ao debate sobre religião. Antes de um debate, às vezes por meses antes do tempo, Craig faz questão de ler a obra do oponente, e “explorar a Internet” por vídeos do estilo de fala e dos maneirismos que ele vai enfrentar. Em alguns casos, ele contrata assistentes para ler os escritos do adversário e preparar sinopses que ele possa refinar. Ele metodicamente estabelece o que acha que o oponente vai tentar argumentar e que objeções podem ser levantadas contra seus próprios argumentos e, em seguida, prepara réplicas de acordo, fazendo anotações para cada uma, a fim de que elas estejam prontas durante o debate. Caso contrário, ele diz, “eu tenho grande dificuldade de lembrar essas coisas.”

Note bem: se você está se preparando para enfrentá-lo, pode, de alguma forma, transformar a meticulosidade dele em vantagem para você. É difícil imaginar como, no entanto, exceto que vamos ter ainda mais do mesmo. Mesmo o mais inteligente cara com réplicas rápidas não consegue acompanhá-lo.

 

6. Lembre-se de que tempo é tudo – e nada

Não há arma que Craig maneje de forma mais eficaz em um debate do que o relógio. Quando eu perguntei sobre seus segredos, ele me disse: “A capacidade de saber como dizer algo de forma sucinta, chegar ao ponto e passar para o próximo ponto, é muito, muito importante.” Ele planeja exatamente o que pretende dizer e avança metodicamente, certificando-se de que pode ir do início ao fim sem apressar ou saltar de um ponto para outro e ter de voltar. Quando seu oponente começa a ir para a frente e para trás em algumas objeções e não responde a cada um dos pontos Craig apresenta, Craig pode lembrar o público ao final que muitos de seus pontos permanecem em pé, sem contestação.

Ele faz isso em quase todos os debates, e é tão eficaz que as pessoas se queixam. Defendeu-se para mim: “Acho que agora você pode ver, Nathan, que isso não é um truque de retórica! Isso não é um dispositivo inteligente!” É apenas uma técnica, e ela funciona.

O tempo, porém, nem sempre está do lado de William Lane Craig. Durante as discussões da classe sobre temporalidade, ele citou a passagem de Macbeth sobre a brevidade da vida humana como “um conto contado por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”.

“Isso realmente repercute em mim”, disse ele.

Em seu sugestivo artigo “On the Argument for Divine Timelessness from the Incompleteness of Temporal Life” (Sobre o argumento para a intemporalidade divina a partir da incompletude da vida temporal), ele sugere: “Está longe de ser óbvio que a experiência da passagem temporal é só uma melancólica atração por um Deus onisciente, como é para nós. De fato, há alguma evidência de que a consciência do fluxo do tempo pode realmente ser uma experiência enriquecedora.” Repita-se: É “óbvio” que o próprio fluxo do tempo é “melancolia […] para nós”, exceto, talvez, por “alguma evidência” de que pode “realmente” existir ao contrário.

A pesquisa pelo infinito e o eterno, e a insatisfação com nada menos, é um tema constante no ensino de Craig e em sua retórica. Ou algo é eternamente significativo, ou valioso, ou não é nada. Ao contrário do que as legiões de filósofos não-religiosos (e outros), que parecem achar benefício na reflexão sobre a ética e a moral, em um debate com o filósofo Louise Antony, Craig descreveu o pensar sobre a moralidade no contexto do ateísmo como sendo “cadeiras sendo arrastadas no convés do Titanic”. O que fazemos com nossa vida na terra não vale nada para ele a não ser que ela seja notado por um Deus infinito e eterno.

O amor é uma possível exceção. Na sala de aula, ele às vezes fala (como um exemplo filosófico, é claro) sobre os momentos em que você está com a pessoa a quem ama, e está gostando tanto que o momento parece durar para sempre. Mesmo assim, porém, o valor de tais momentos passageiros só vem de sua semelhança com a eternidade.

Alguns dos alunos discordaram. Eles tentaram argumentar que o amor só é possível dentro do tempo. O que o amor será sem memória, ou envelhecimento ou a possibilidade de perda? Em uma discussão sobre o amor sentido entre as pessoas da Trindade antes da criação do universo, os estudantes afirmaram que a Trindade deve ter existido no tempo, a fim de que Seus membros amassem um ao outro. Mas o Deus de Craig, pelo contrário, está muito mais em casa na intemporalidade.

 

7. Amar a Deus e a autoridade

Bill e Jan Craig mudou-se para o condado de Cobb, na Georgia, graças a um processo de dedução: é o mais adequado a cada um dos vários critérios que eles procuraram satisfazer. Agora Bill não pode imaginar uma escolha melhor. Ele ama o condado, que é um subúrbio ao norte de Atlanta. Ele também ama os Estados Unidos em geral, um amor que, por vezes, se expressa pelo uso de sua gravata com uma águia voando, assim como no ensino médio ele desejava trazer honrar a sua escola pela guerra de debates. Seu patriotismo se estende a todos as áreas da vida, e sua filosofia defende, de modo devido, as autoridades corretamente ordenadas que ele reconhece: Deus, família, país, igreja, escola.

A razão, como ele a brande, apoia cada uma delas e, assim, é também apoiada por elas. Ao defender o Deus do cristianismo histórico, ele tem atrás de si dois milênios da verdade cristã em toda seu poder e majestade acumulados. Por amar a família, ele ganha a provisão material e as proezas de digitação de Jan. Por amar seu país, ele pode manter a cabeça erguida no condado de Cobb, uma das capitais do complexo militar-industrial, onde o maior empregador é a fábrica da Lockheed Martin, onde é construído o desastroso caça F-22. (Até meu motorista de táxi lá, um africano que recentemente migrou, me acusou de ser comunista por questionar a utilidade do caça.) Por amar sua igreja, a Batista Johnson Ferry, ele tem uma grande e bem organizada congregação na qual lota uma classe apologética semanal semi-litúrgica; prestando os cultos no santuário, vislumbrando o batistério por trás de portas retráteis, a comunidade reforça as atividades acadêmicas solitárias dele. Por amar a instituição em que trabalha, a Universidade Biola, suas idéias tornam-se a munição para os esforços estratégicos a fim de preparar um grande número de estudantes inteligentes para a conquista acadêmica e cultural.

Cada um desses poderes estão por trás de Craig, em perfeita ordem, com cada palavra que ele pronuncia, incutindo nele, por sua vez, a autoridade e a gravidade dele. Apesar da aparência de ser principalmente um acadêmico independente, ele está sempre enredado na nobre submissão a eles [os poderes, as autoridades que reconhece], e eles o defendem. Sua filosofia não é só dele, mas a deles também, o que a torna muito mais formidável. Como seu campeão, ele a carrega de modo dominante e bem-sucedido, com a disposição de ajudá-lo, se você aceitar, a subir ao patamar dele. Mas, se você preferir não fazer isso, a perda será sua.

Não há ninguém como Craig, com certeza, mas tudo o que ele faz é inseparável dos poderes a que ele serve. Em uma conversa em sala de aula em Biola, sobre noção de Saul Kripke de “designadores rígidos”, a dona de casa aposentada, por exemplo, perguntou: “O que faz Bill Craig ser Bill Craig?”

Craig, como um monte de filósofos, eu descobri, tem uma maneira de dizer coisas reveladoras em pronunciamentos técnicos, inconsciente da frase com seus próprios significados quando tomados por si sós, fora de contexto, e interpretada literalmente. Toda a filosofia, penso às vezes, pode ser considerada um grande ato falho.

Para o estudante, ele respondeu: “Eu não sei bem como responder a uma pergunta como essa.”

 

(Traduzido por Francisco Nunes de 7 Habits of a Highly Effective Philosopher (original aqui).

1Snow-globe, enfeite de mesa comum nos Estados Unidos, em que a reprodução de alguma construção famosa ou uma cena natalina está dentro de um globo de acrílico, envolvida por um líquido, no qual há um material em suspensão, que imita neve. O girar desse globo faz a “neve” cair. (N.T.)

2É apenas café mesmo, não o café da manhã. (N.T.)

Categorias
Cristo Cruz Deus Igreja T. Austin-Sparks Vida cristã

A casa, o nome e a glória (T. Austin-Sparks)

(Notas1 de uma mensagem proferida por Austin-Sparks na Conferência de dezembro)

 

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, abril de 1927, Vol 5-4.

 

“Glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti […] Para que vejam a minha glória que me deste: porque tu me amaste antes da fundação do mundo […] E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado” (Jo 17.1,24,10).

“Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu, que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei” (Jo 12.28).

“O zelo da tua casa me devorará” (Jo 2.17).

“Jesus Cristo, filho de Davi” (Mt 1.1).

E há de ser que, quando forem cumpridos os teus dias, para ires a teus pais, suscitarei a tua descendência depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino. Este me edificará casa; e eu confirmarei o seu trono para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e a minha benignidade não retirarei dele, como a tirei daquele que foi antes de ti” (1Cr 17.11-13).

“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei; e mais uma vez: Eu lhe serei Pai, e ele será para mim um Filho?” (Hb 1.5).

 

Salomão tornou-se um tipo de Cristo ao construir a casa e ao ter um trono. Lembre-se sempre de que a casa e o trono são combinados em Cristo. O templo espiritual, ou Igreja, e a soberania de Cristo entronizado e eterno: essas duas coisas sempre andam juntas. Em 2Crônicas 6 lê-se que Salomão construiu seu templo e dedicou-o ao Senhor, e em sua oração ele pede que (o Senhor tinha dito que Seu nome estaria lá) sempre que a oração fosse dirigida àquela Casa e qualquer homem, em qualquer parte da terra, se voltasse para lá com olhos de desejo e fome espirituais, pois o nome do Senhor estava lá, que esse homem percebesse a bondade amorosa do Senhor e experimentasse o poder do Senhor e libertação. Você verá, sem que eu precise apontar isso, muito naturalmente, a associação de três coisas nessas passagens:

 

A casa, o nome, a glória

“O zelo da tua casa me devorará”, disse Aquele que construiu uma casa mais gloriosa do que a de Salomão, um templo mais maravilhoso do que aquele que maravilhou a rainha de Sabá por sua beleza incrível. “Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (Hb 3.6). Sobre a casa, que é mais familiarmente conhecida por nós como a Igreja, que é Seu Corpo, está Seu nome. E o nome é o objeto da glória: “Pai, glorifica o Teu Nome” (Jo 12.28). Você pode conectar essas coisas mais plenamente, mas tomamos a sugestão inclusiva delas na mensagem desta noite: que, de eternidade a eternidade, o objeto e a base da glória de Deus é Seu nome. E essa glória, por causa do nome, deve ser revelada e manifestada na Casa sobre a qual repousa o nome. Perceba o resumo proposto:

 

A glória antes dos tempos eternos e a glória encarnada

Agora coloque essas duas coisas juntas: “O zelo da tua casa me devorará”. Não é notável que imediatamente associado [à declaração “Manifestou a sua glória” (Jo 2.11)]2 haja esta declaração: “O zelo da tua casa me devorará” após os fariseus dizerem: “Dê-nos um sinal, nos mostre Suas credenciais: qual é Sua autoridade para fazer isto: usar essas cordas e expulsar do templo os que compram e vendem? Dê-nos um sinal de autoridade para fazer isso.” Isso foi perguntado na base deste dito: “O zelo da tua casa me devorará.” A resposta de Jesus foi: “Destruam este templo, e em três dias eu o levantarei”, falando a respeito de Seu corpo. A vindicação da soberania de Cristo está no corpo da ressurreição, no triunfo sobre a morte no corpo da ressurreição. E quando você chega ao terreno da ressurreição e fala sobre o Corpo, sempre lembre que – tanto quanto este mundo está em vista para propósitos presentes, e além deles, é claro, mas imediatamente para propósitos presentes – corpo é um Corpo coletivo, composto por todos os que foram unidos a Cristo na vida de ressurreição. Lembre-se de 1Coríntios 10:11.

Em primeiro lugar, o versículo 16: “O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” Este é o pão que representa inclusivamente Cristo e Seus membros como um pão.

Em 11.24 lemos: “Isto é o meu corpo que é partido por vós”.

Agora, aqui você tem esse fato de que Ele imediatamente se refere a Sua ressurreição corporal corporativamente como a vindicação de Suas atividades e do estabelecimento de Sua soberania. “Destruam esse santuário, esse lugar de morada divina, e em três dias Eu o levantarei. Este é Meu sinal e esta é Minha vindicação: o Santuário de ressurreição, o Corpo de Cristo.” Deus vindica Cristo, justifica-O, e sobre aquele Corpo Seu nome repousa. Como o nome do Senhor simbolicamente pousou sobre o templo de Salomão, assim o Nome em realidade repouso sobre esse Corpo de ressurreição, e o nome é a base da glória divina. “Glorifica o Teu Nome.”

Se tivéssemos tempo e estivéssemos dispostos, poderíamos percorrer a Palavra e seguir as frases “o nome do Senhor” ou “Meu nome” ou “Meu santo nome”. Encontraríamos muita luz lançada sobre isto: que a única coisa sobre a qual Deus é ciumento é Seu nome, e é na sustentação de Seu nome que Ele mostra Sua Glória.

Tudo isso é básico. Acho que está perfeitamente claro, mas isso nos leva de volta para o princípio de coisas que tiveram início antes dos tempos eternos3. Lembremo-nos de que o nome não representa necessariamente um título humano. É aquele valor intrínseco que é consagrado dentro do mome do Senhor. Senhor: é o que o nome representa. Weymouth4 dá uma tradução esplêndida que nos ajuda aqui. Ao traduzir a expressão “nome que é sobre todo o nome” (Fp 2.9), ele verte: “Título de soberania acima de qualquer título de soberania”. Para fins de definição, eu faria uma melhoria e diria: “O título para soberania acima de todos os títulos para soberania”, pois é aí que você começa. Você percebe que foi o título da soberania suprema e todo-inclusiva e indivisível no Universo que foi atacado, vituperado. Ele foi atacado no céu. A igualdade do Filho com o Pai no título de soberania foi – como tantas vezes dissemos – desafiado e atacado por alguém que buscou ter a mesma igualdade – o ser igual a Deus – e, assim, entrar e dividir e ocupar um lugar ao qual não tinha direito, e tomar esse nome para si mesmo ilegalmente, para ser adorado como Deus. Seu último esforço todo-inclusivo será buscado no Templo de Deus ao ser adorado como Deus no anticristo.

Quando digo todo-inclusivo, quero dizer que ele vai reunir todas as formas ao longo dos séculos de sua tentativa de conseguir a posse. Toda forma em que ele veio ao longo dos tempos, em diferentes épocas e lugares, para tomar o lugar de Deus na raça humana e capturá-la para si mesmo. Nos deuses dos egípcios, você tem a coisa por trás de um sistema com toda sua parafernália. Na adoração cananéia, você tem um sistema de demonologia, a adoração de demônios e o rito de iniciação de passar pelo fogo. Esse aspirante à posição do Filho de Deus tem procurado capturar a raça humana, e no anticristo você vai ver que todos esses métodos são somados, em espiritismo e culto ao demônio, velado, coberto e glorificado, tanto quanto ele pode revesti-las com as coisas que capturarão a imaginação e a alma do homem, e ele será adorado como Deus. Contra o nome do Senhor essa coisa foi organizada e projetada e afirmada.

O título para a soberania por parte do Filho é o que o nome representa, e é para a santificação desse nome que o Filho saiu do seio do Pai, e entrou nessa tremenda obra e, por meio de Sua cruz, ganhou por herança um nome mais excelente que anjo e arcanjo, e esse nome é o símbolo de Sua justa autoridade e soberania no universo, nos céus e na terra. É o que Deus deseja glorificar, e o diabo deseja caluniar.

Agora talvez você entenda, se olhar para esse assunto sob essa luz, por que é que cada armadilha e laço e recurso diabólico está instituído e é contra aqueles que levam o nome do Senhor, pois, amados, temos de cumprir o que ninguém mais tem para fazê-lo nesses esforços do adversário, simplesmente porque o Nome está sobre nós, para caluniar e desantificar esse nome em nós e por meio de nós. Na medida em que o Senhor determinou que Seu nome deveria repousar sobre uma casa espiritual, um templo não feito por mãos, e que esse nome será a única coisa que Ele fará glorioso na casa, por meio da casa e para a casa, assim, no mesmo grau e medida, o adversário determinou, se puder, por qualquer meio desonrar o Nome que está sobre nós conforme o sustentamos, e cada vez que ele ganha uma vantagem sobre nós, ele é capaz de, em algum grau, de macular o nome e, portanto, roubar de Deus a glória. Então, a glória de Deus está envolta com a santificação do Nome. O objetivo do Senhor é trazer um povo para Seu nome, que seja consumido com o zelo de Sua casa e que, ao mesmo tempo, seja enviado daquela casa: “Pelo seu Nome saíram” (3Jo 7).

Naqueles primeiros dias, o Senhor sempre glorificou o Nome conforme ele era usado corporativamente contra as tentativas do adversário de assumir a soberania e desafiar a autoridade divina. Onde quer que iam os homens sobre para quem o nome descansava, o inimigo se opunha ao nome e Deus vindicava o nome. Em seu ato de testemunha e testemunho para sua identificação com Cristo, o nome do Senhor era invocado sobre eles. Tiago diz: “Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?” (Tg 2.7; cf. Dt 28.10; At 15.17). O nome não é apenas um rótulo; é um título ou direito e, por fim, a confissão universal deverá ser feita do direito a reinar.

Então, o Senhor diz, a fim de que ele não seja caluniado, para que não haja nenhum motivo para que ele seja profanado: “Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2Tm 2.19). Pois, imediatamente, se você tomar esse nome e a iniqüidade for encontrada em você, o nome é profanado e desonrado e a glória é presa, pois há terreno sobre o qual o inimigo pode operar para destruir as obras do Senhor.

Eu posso ver em tudo isso uma explicação para os assaltos do inimigo contra o Corpo de Cristo e seus membros, em particular. Como se tem dito muitas vezes a você, isso não é simplesmente por causa de sua importância individual ou de minha importância individual. Nós não contamos para nada em nós mesmos, mas é porque o santo Nome tem sido invocado sobre nós que nos tornamos, fora da eternidade, o objeto de interesse e da malícia do inimigo. Antes dos tempos eternos, mas começando em um plano muito mais elevado do que nós mesmos, do que a raça humana, ele começou contra o próprio Filho de Deus, que carregava o nome, o título de soberania igual a Deus.

E isso, amados, por outro lado, é o motivo para nossa permanência firme e recusa, não importa o que custar, de ceder à pressão do inimigo e cair. Não podemos, por causa do nome, falhar com o Senhor. Não podemos ceder porque esse nome está sobre nós. Não podemos desonrar esse nome por dar lugar ao inimigo sob sua pressão. O motivo é o Nome; por causa do Nome devemos permanecer firmes. Assim, a glória de Deus vai se manifestar onde Seu nome está, e a glória, sem dúvida, é mais ampliada pela intensidade dos ataques do adversário sobre nós, se permanecermos no poder do Nome. Cristo, como sabemos, era o centro dos ataques e assaltos. Todo o inferno se jogou sobre Ele por ser quem Ele era e o que era, mas, na presença do ataque mais cruel do inferno, como veio sobre Ele imediatamente sob a sombra do Getsêmani e da cruz, Ele disse: “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome.” Então, o Pai respondeu: “Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei” (Jo 12.27,28).

Amados, creiam nisto: a hora do ataque mais feroz e terrível ao Nome pode ser a hora em que ele é mais glorificado. Quando você sente que todo o inferno se abriu para engoli-lo, então, o Senhor é mais glorificado. Conhecemos que é assim: na hora da mais terrível e profunda angústia por causa da pressão, temos apelado para a honra desse Nome, e o Senhor tem vindo e sido glorificado naquela hora – naquela hora!, em que a cruz estava sendo compartilhada em seu significado mais profundo, Ele veio e foi glorificado no que Ele tem feito.

O Senhor é muito zeloso de Seu nome, pela santificação de Seu nome5. Ele disse: “Vós orareis” – não dizer essa oração – “assim”, mas orar desta maneira, de acordo com estas leis eternas: “Pai, santificado seja o teu nome”. Essa é a busca, essa é a luta de oração, que é a questão no campo de batalha de oração: a santificação do Nome em uma esfera na qual o adversário está tentando profaná-lo. E acreditem em mim, amados: somos chamados para a luta e o fogo, para o conflito, para o próprio sangue de Cristo e para a angústia de Cristo em benefício do Nome. Estamos nessa coisa por causa do Nome, estamos sendo batizados6 na honra do Nome. Honrar o Nome nesta era é uma tarefa tremenda, você sabe disso. Você reconhece que ele está registrado em sua vida, você sabe que de centenas de maneiras todos os dias o Nome pode ser facilmente profanado. Oh!, as armadilhas – nunca poderemos mencionar todas elas. Não podemos catalogar as armadilhas que o diabo põe para o povo de Deus. Se ele conseguir tão-somente obter uma aliança profana, alguma pequena ligação carnal, algum movimento por mesmos na força da carne, algo que ele possa fazer-nos dizer ou fazer de qualquer forma que seja, se ele conseguir tocar no Nome que carregamos, o Nome será profanado e desonrado.

Esse é, portanto, o clamor pela santificação do Nome pela santificação de nós mesmos, os que carregam o Nome, a consagração de nossa vida aos interesses daquele Nome, para que Deus seja glorificado onde Seu nome for honrado. A vida tem de ser ajustada pela graça de Deus mediante a cruz – o cortar fora a carne – para a santificação desse nome, e você aparece em Sua presença por causa do Nome que está entre nós. Ser santificado! “Santificai-vos”, e há apenas um meio de santificação: a cruz.

A cruz é o meio de santificação, e, portanto, o meio de santificação do Nome e, portanto, o meio da glorificação de Deus em Cristo. Isso, então, é a ênfase sobre a necessidade da cruz ser aceita e plantada profundamente em nossa vida para o corte de tudo aquilo sobre o que o inimigo pode, na menor medida, atingir os fins que tinha em vista na eternidade para tomar a glória do Filho de Deus. A cruz deve cortar toda a carne. Então, o Senhor é glorificado em nós.

Mas há o outro lado, mais positivo e prático, no trabalho intenso para que o Senhor seja glorificado por meio de nós: mover-nos Nele pelo Espírito para o bem do nome. Essa é uma confiança e uma esperança. Qual é a nossa garantia de que, quando seguirmos, algo vai acontecer, algo vai ser feito, algo vai ser cumprido? Que garantia temos de que, quando sairmos, não haverá um problema? Bem, nós não temos nenhuma garantia em nós mesmos. Não é o valor de nossa oração em si mesma, nem de nossa pregação em si mesma nem de todos os nossos esforços em si mesmos. Não é nada que possamos fazer, da forma que for, que pode nos dar garantia de qualquer eficácia, mas apenas o Nome. Essa é uma base suficientemente sólida. Ele é reconhecido no céu, na terra e no inferno, nas coisas acima e nas debaixo da terra.

Temos muitas vezes citado esta passagem muito útil, que sempre nos ajuda, em que o apóstolo enfrentou uma situação relativa ao Nome (cf. At 19.1-12), e ele efetivamente o usou, mas alguém veio e tentou usá-lo de segunda mão: “Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega” (v. 13). E foi tudo muito diferente! Em vez de sucesso, fracasso total, e, mais do que fracasso, um desastre horrível! Sair no Nome, não apenas usá-lo de segunda mão, adotando-o como fraseologia, mas sair experimentalmente no Nome por estarmos cortados pela cruz das coisas que desonram o Nome – sair naquele Nome –: esta é a base de nossa certeza de que algo deve acontecer. Deus é zeloso de Seu nome, muito zeloso, e sempre glorificará Seu nome onde ele é verdadeira e profundamente proclamado no Espírito e posto em prática sob a liderança do Espírito Santo. Essa é a nossa garantia.

Amados, você tomam o nome de Jesus, cada um de vocês, e vêem que é uma coisa tremenda carregar o Nome, tomar o Nome. Isso os liga com algo de significado e de importância infinitos, que teve início antes do mundo ser. Liga vocês com a batalha das eras, e liga com a glória da eternidade, quando Ele vier para ser glorificado em Seus santos, que é Sua igreja, onde Seu nome está. Estamos ligados com essa coisa eterna, à glória de Deus associada com o Nome que está para ser estabelecido pelo “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8), e nós, no tempo, unimo-nos a ele em Sua cruz. Mesmo assim, será a glória de Deus revelada, e de mil maneiras a glória do Senhor pode ser revelada a cada dia. Não tenho certeza de que o Senhor esteja ansioso para fazer uma demonstração de Sua glória para os mortais – “lançar pérolas aos porcos”–, mas há um reino em que a glória do Senhor tem uma significação que transcende a deste mundo por dimensões infinitas. Oh!, entre principados e potestades a glória do Senhor significa alguma coisa, não é um espetáculo vazio. É o estabelecimento de Seu título infinito à soberania e a manifestação do poder daquela soberania. Estamos em algo enorme, e, por isso, nossos triunfos diários, pela graça, percorrem um longo caminho para além da situação local, um longo caminho para além de nossa própria gratificação por não termos falhado; eles têm registrado algo para a glória de Deus em um universo, cuja altura, largura e profundidade você nunca imaginou.

A glória de Deus é manifestada em cada vitória ganha, em cada permanecer firme, em cada recusa a desistir; o Nome é salvo da desonra, e o próprio Senhor, o Cristo de Deus, que leva esse nome, é vindicado diante de anjos e demônios. […] É a revelação da Palavra que é assim; por isso, nossa união com Ele é uma união com Seu nome a fim de que Ele seja glorificado. E porque Ele nos chamou sob Seu nome para encararmos, com Ele, o desafio com toda a fúria, veemência e implacabilidade, e sentimos também o impacto desse desafio e do ódio ao Nome. Ele nos assegurou que, se sofremos com Ele, seremos glorificados com Ele. E se fomos escolhidos antes da fundação do mundo Nele – isso é a verdade –, como diz a Palavra, se fomos escolhidos para Sua glória eterna, vamos chegar à glória, experimentar a glória, conhecer a glória, assim como agora. Por causa do nome suportamos as dificuldades. Fique firme. Que esse nome saia das mãos dos inimigos de Cristo e seja vindicado como o título de toda a soberania sobre todo o título de soberania nesta era e na que está por vir.

___

1Ao ler o texto, deve-se ter em mente que ele é o resultado de anotações feitas por alguém presente à mensagem dada por TAS. Por isso, há frases curtas ou sem o devido contexto; algumas de difícil compreensão; outras, assertivas demais, sem a necessária explicação ou o detalhamento acerca do ponto de vista do autor. O público para quem ele falou já o conhecia, conhecia sua forma de expor as Escrituras, suas ênfases, etc. Além da limitação das anotações, isso deve ser lembrando também. Como o texto original traz essas dificuldades, com certeza, a tradução sofrerá com elas também. No entanto, o encargo espiritual de Austin-Sparks é profundo e necessário. Creio que as possíveis falhas não impedirão que, quem tem um coração de busca pelas verdades de Deus, encontre pedras preciosas aqui. (N.T.)

2No original, está: “à oração ‘Glorifica’”, referindo-se a Jo 12.28. No entanto, no texto bíblico, evidentemente, essa passagem não está imediatamente associada ao texto de Jo 2. Não há como precisar se Austin-Sparks estava mencionando a ordem dos versículos que ele selecionou para a mensagem ou se foi falha de quem fez as anotações. Tomei a liberdade de fazer a alteração acima para tornar a mensagem coerente com o texto bíblico. Creio que isso em nada altera a importância do que o autor está apresentando. (N.T.)

3O autor, usando um jogo de palavras e a informalidade de uma apresentação oral, fala de coisas eternas, sem início, por serem antes do tempo, como tendo princípio antes dos tempos eternos, no caso, o nome do Senhor. Ele pode estar também falando em termos comparativos, entre o nome do Senhor, que é eterno, e o nome de outras soberanias ou poderes. A pontuação no original dá margem a diferentes leituras. (N.T.)

4Richard Francis Weymouth (1822-1902) editou The Resultant Greek Testament [O testamento grego resultante] que formou a base para sua tradução. Ele morreu antes que ela fosse impressa. A primeira edição é de 1903.

5Como o autor explicou antes, o Pai e o Filho partilham do nome em seu aspecto de direito soberano sobre todas as coisas, de vindicação desse direito. (N.T.)

6O autor não advoga aqui um novo tipo de batismo, mas usa o termo no sentido de imersão total, de completo envolvimento, de participação. (N.T.)

___

(Traduzido por Francisco Nunes de The House, The Name, and The Glory, original aqui. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)

Categorias
Cristo Serviço cristão Sofrimento T. Austin-Sparks Vida cristã

A comunhão dos Seus sofrimentos (T. Austin-Sparks)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony de set/out de 1951, vol. 29-5

Leitura: 2Coríntios 1.3-5; 6:8-13; 2.4; 11.23-28; 1Coríntios 4.9-13; 2Coríntios 1.8-10

 

“As aflições de Cristo são abundantes em nós” (2Co 1.5).

 

Há uma grande quantidade de temas sumarizada nas passagens que acabamos de ler, mas o que tenho no coração para dizer vai se limitar a duas coisas: em primeiro lugar, os sofrimentos e o sofrimento, e, em segundo, a necessidade e os valores do sofrimento.

 

O fato e o alcance dos sofrimentos

Pouco precisa ser dito, eu penso, quanto ao fato dos sofrimentos. Sabemos que o povo de Deus não está isento de sofrimentos. Isso, eu acho, não precisa ser detalhado. Mas há muitos sofrimentos em que entramos por sermos o povo de Deus; isso, talvez, precise de alguma consideração. Há sofrimentos que podemos trazer sobre nós mesmos, sofrimentos desnecessários, mas eu não estou pensando sobre esses. Estou falando sobre os sofrimentos de Cristo, do fato deles, e que eles são a porção comum do povo de Deus, e que, quando eles vêm sobre nós, não há nada de errado nisso. De fato, veremos antes de passarmos por eles que é exatamente o contrário.

Mas quando você pensa sobre esses sofrimentos, com Paulo como seu grande exemplo e intérprete, você é levado a ver que eles não são apenas incidentes, coisas locais ou terrenas. Mesmo quando eles tomam forma e coloração legal e terrena em razão de situações, circunstâncias e eventos, eles têm um alcance muito maior do que qualquer coisa incidental, local, temporal, terrena. O alcance desses sofrimentos não é menos do que espiritualmente universal. Eles vão além de nós mesmos, de nosso círculo, de nossa vida, de nosso tempo, e além de tudo aqui e agora. Eu usaria a palavra “dispensacional”, mas ela pode, talvez, ser mal interpretada. Os sofrimentos de Paulo superam a dispensação e são virtuosos hoje, depois de tantos séculos, e tem tocado cada esfera do celestial e do diabólico. Esses sofrimentos são mais do que apenas incidentes na vida, mesmo que dolorosos. Eles são colocados dentro de uma vasta esfera de significado e eficácia. Eles são, em geral, uma amostra de um vasto e poderoso sistema de antagonismo a tudo o que é de Cristo.

Devemos, portanto, aceitar o fato de tais sofrimentos, e ajustar-nos para o significado espiritual disso. Se você e eu mantivermos a idéia de que a vida cristã deve ser um piquenique perpétuo, vamos nos meter em todo tipo de dificuldades, perplexidades e decepções. Se procurarmos escapar dos sofrimentos de Cristo, estamos cortando as próprias entranhas de nossa digna vida temporal espiritual. Devemos nos acautelar disso. Temos de aceitar o fato de que, sendo do Senhor aqui, nossa herança é uma herança dos sofrimentos de Cristo, e não devemos tentar evitá-los.

 

O sofrimento dentro dos sofrimentos

Eu usei as palavras os sofrimentos e o sofrimento, o plural e o singular. O sofrimento, isto é, o sofrimento que está dentro dos sofrimentos. Às vezes, é o sofrimento que traz os sofrimentos. Tome Paulo, por exemplo, e o sofrimento a que ele se refere em 2Coríntios 1.8-10: “A tribulação que nos sobreveio na Ásia”. A palavra “tribulação” é de uma raiz latina que significa “um mangual1”, e retrata o manejo de um mangual sobre o corpo nu de um homem amarrado, sendo machucado, quebrado e espancado; é uma palavra forte. Paulo diz que foi o que aconteceu com ele na Ásia. “Fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte […]”. “Nós tivemos resposta a nossa pergunta, e a resposta foi: é a morte!”

Isso é o sofrimento dentro dos sofrimentos. Não pense, nem por um momento, que era apenas uma coisa física. Um homem que podia passar por todas essas experiências, registradas por Paulo, e que podia dizer que partir e estar com Cristo era muito melhor, não tinha medo de morrer. De modo nenhum! Deve ter havido algum sofrimento dentro dos sofrimentos. “Sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar”: isso era algo interior; não era algo por ele estar desesperadamente doente, podendo morrer a qualquer momento. O que era, então? Sua situação pode ter sido devida ao relatório que veio a ele sobre as condições de Corinto, pois foi nessa época que ele recebeu as notícias do terrível estado de coisas em Corinto, registrado nessas cartas, e ele fala: “Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2Co 11.28). Mesmo que tenha sido doença física que o assaltou, sabemos que a doença do corpo é muitas vezes causada pela tristeza de coração, e os sofrimentos exteriores são, por vezes, o resultado de angústia interior Assim, temos o sofrimento dentro dos sofrimentos.

Há um sofrimento espiritual por amor a Cristo, ao qual Paulo se refere nessa porção como “sentença de morte”, que apesar de estar além de nossa explicação, parece sugerir que ele entrou em um estado espiritualmente terrível por causa de certas condições. Se eu fosse tentar descrever a situação, eu diria que Paulo havia recebido aquelas notícias terrivelmente más sobre as coisas na igreja em Corinto, com mais, talvez, de outros lugares também, e ele tinha desabado sob seu sofrimento e disse: “Vale a pena? Não é tudo em vão? Não é uma situação totalmente sem esperança? Eu não estou desperdiçando minha vida ao derramá-la para essas pessoas?”

Quando você começa algo assim, não há fim. Você pode afundar mais e mais até que as águas do desespero gradualmente cheguem perto de você. Você tenta orar e não consegue, pois um homem com dúvidas nunca pode orar. Ele pode chorar, mas não pode orar. Um homem que é levado a esse tipo de coisa não pode orar; o céu está fechado. E Paulo, por assim dizer, se questiona e diz: “Qual é o significado disso?” A resposta é: “É a morte; ao longo dessa linha é a morte. Se você chegar lá, não há caminho de volta e nenhuma maneira de sair. Isto é o fim de tudo: a morte!”

Eu não vou prosseguir para ver como Paulo chegou ao ponto de virada e a tão grande livramento. Isso não está em nossa atual consideração. Meu ponto neste momento é que a morte aqui era espiritual, não física. Ele estava provando algo da verdadeira natureza da morte. A morte é uma sensação de ser excluído de Deus, de céu sendo fechado, de não haver caminho nem saída, confinado e aprisionado, no final de tudo, e que isso é registrado em e sobre sua alma. Isso é mais do que a morte física. Alguns de nós, mais de uma vez, teriam ficado felizes em morrer fisicamente. Mas coisa diferente é a morte espiritual, e ela é terrível, é assustadora; não há alegria nela. Provar isso é saber alguma coisa sobre os sofrimentos de Cristo. Esses sofrimentos podem ser conhecidas por meio de outras passagens, mas não estamos aqui tentando definir em detalhes toda a gama de sofrimentos de Cristo, mas apenas enfatizando o fato deles.

 

A necessidade e os valores dos sofrimentos de Cristo

Qual é a aplicação para nós? Cada um de vocês terá de fazer a própria aplicação, pois eu não sei por que fui levado a essa mensagem; somente o Senhor conhece Sua própria sabedoria. Mas há algumas questões muito práticas vinculadas a isso; e assim chegamos à segunda parte de nosso assunto, ou seja, a necessidade e os valores desse tipo de sofrimento. Vamos deixar estabelecido, de uma vez por todas, que os sofrimentos de Cristo são uma necessidade absoluta. Eu vou dizer uma coisa muito forte: se você não sabe nada sobre os sofrimentos de Cristo, há algo de errado com você como cristão. Eu não estou, é claro, falando de quem recentemente entrou na vida cristã, embora o sofrimento às vezes seja encontrado desde o início. Mas a obediência e a fidelidade em breve levam à experiência de alguma forma dos sofrimentos de Cristo. Se você está evitando tais sofrimentos, se está se rebelando contra eles, você está assumindo uma direção totalmente errada. Eles são a verdadeira porção dos filhos de Deus. Eu não digo que vocês terão cada um deles na mesma medida ou do mesmo tipo, mas vocês vão tê-los. Peça ao Senhor caso seus maus momentos não estejam, afinal, de acordo com isso. Você tem pensado deles meramente como circunstâncias, como decepções, trabalhando para seu infortúnio, sua desvantagem. Mas veja se eles não estão, na verdade, ligados com sua vida espiritual, se eles não têm uma relação com seu crescimento espiritual. Interrogue-se, examine esta questão.

 

Realidade pelo sofrimento

Eles são necessários por vários motivos. Em primeiro lugar, para manter as coisas reais, práticas e atualizadas. O Senhor não vai permitir que qualquer um de nós viva de um passado, sobre uma teoria, sobre uma tradição, sobre uma doutrina apenas como doutrina. Ele vai nos permitir viver apenas do que é real, prático e atualizado, e, sendo nós feitos como somos, não viveremos assim a não ser que isso seja feito em nós. Eu poderia fazer muitas confissões pessoais agora, mas elas seriam de muito valor, exceto a título de ilustração. Se eu conheço mesmo apenas um pouco sobre o Senhor e as coisas do Senhor, posso dizer-lhe, de modo perfeitamente franco, que é por causa do sofrimento. Eu não poderia e não teria aprendido a não ser que o Senhor me fizesse aprender, e me ensinou em uma escola muito profunda e prática, na qual as coisas são mantidas sempre em dia e onde cada mínima parte do ministério surgiu de alguma nova experiência. É uma lei que se aplica a todos nós. O fato é que esses sofrimentos são absolutamente essenciais para manter as coisas reais; e você sabe tão bem quanto eu que as pessoas querem realidade. Elas têm o direito de dizer: “Como você conhece isso? Você já provou isso? Como foi para estar nas horas mais profundas da vida, quando as coisas estavam além de seu poder? Teve de provar que eram verdade?” Se não formos capazes de dizer de todo coração em absoluta sinceridade: “Descobri que Senhor é assim em minha experiência real. Eu coloquei a verdade para um teste completo e provei-a”, somos uma fraude. O Senhor não tem lugar para fraudes; por isso Ele nos mantém em dia. A realidade vem pelo sofrimento.

 

Crescimento pelo sofrimento

Progresso e crescimento também são garantidos por esse meio. Toda a natureza declara isso. Crescimento, desenvolvimento, aumento são por meio do poder que cria um rangido e um gemido e uma dor no organismo; e na vida espiritual é assim também. Nós falamos sobre as dores do crescimento. Creio que isso é considerado não científico agora, mas é uma frase muito útil. Sim, existem dores de crescimento, e os sofrimentos de Cristo nos membros de Seu corpo estão relacionados ao crescimento. A diferença é esta: no que temos chamado de dores de crescimento é o crescimento que está realmente acontecendo que provoca as dores, enquanto aqui, no que temos diante de nós, são as dores que produzem o crescimento posterior. Nós crescemos por meio de sofrimento, não há nenhuma dúvida sobre isso. Mostre-me uma vida espiritual madura, e você me mostrará a personificação de muito sofrimento de algum tipo, nem sempre físico, uma vida que passou por muitas coisas. Paulo encontrou seu ponto de virada aqui: “Para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2Co 1.9). Uma nova descoberta das profundezas. Onde ele tocou o fundo, descobriu Deus de uma nova maneira: “Deus, que ressuscita os mortos”. Tal saber Dele vem ao longo dessa linha. Os valores do sofrimento estão lá.

 

Habilidade pelo sofrimento

Mas, então, observe novamente o que ele diz nesse primeiro capítulo: “Deus […] que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos[…](vv. 3,4). Oh, há muito nisso! Fala de um estoque no comércio, os meios para servir, não é mesmo? Muitas vezes podemos ter momentos ruins por causa de nossa falta de habilidade em muitos aspectos, comparando-nos com outras pessoas e deplorando nossa falta de habilidade nesse aspecto ou naquele. Mas, afinal, qual é a maior habilidade? A melhor e mais frutífera habilidade é ser capaz de ajudar as pessoas nas experiências profundas da vida espiritual, ser capaz de explicar-lhes o significado dos tratos de Deus com elas, ser capaz de mostrar-lhes qual deve ser o resultado de tudo, ser capaz de dar-lhes algum apoio por meio de conselho que vem do conhecimento real – algo do conforto que nós mesmos recebemos de Deus. Isto é o serviço real, isto é a edificação do Corpo de Cristo, a Casa de Deus: ser realmente capaz, de uma forma espiritual, de fortalecer os aflitos. Isso vem mediante o sofrimento.

Você está passando por isso, está tendo um momento difícil? O que o está colocando para baixo? Você é do Senhor? Sua vida é comprometida com Ele? Então, veja se você realmente pode, de modo correto e preciso, separar seu momento de dor de sua vida espiritual. Se puder, tudo bem! É só pôr tudo isso de lado como a porção comum de qualquer um que não é cristão. Não, você não pode separar isso. Estão ligados. Isso terá um efeito sobre você, de uma forma ou de outra, seja para aumento espiritual ou para perda espiritual. Mas, oh!, vamos nos ajustar. Se os sofrimentos de Cristo abundam sobre nós, eles são os sofrimentos de Cristo. Eles podem ser sofrimentos de alma, podem ser no plano físico, podem ser uma combinação de ambos, mas o Senhor é soberano nesses sofrimentos, para fins grandes, benéficos e valiosos.

Termino lembrando você desta outra palavra que o apóstolo dirigiu aos coríntios: “E escrevi-vos isto […] para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho” (2.3,4). Você não pode ter amor sem sofrimento. As duas coisas andam juntas, e marcam você, sua disposição de sofrer, sua atitude com relação ao sofrimento, provando seu amor pelo Senhor. Muitas pessoas não estão experimentando os sofrimentos de Cristo por não terem amor suficiente por Seu povo. Se você realmente tem um coração de amor por um filho de Deus, você vai sofrer por aquele filho de Deus. Se você tem um coração de amor pelo povo de Deus, você vai sofrer pelo povo de Deus. Se você tem um coração de amor por uma pessoa do povo do Senhor que Ele uniu a você, você vai sofrer por essa pessoa. Se você tem um coração de amor por seu Senhor, você vai sofrer com seu Senhor quando vir o nome Dele desonrado e seus interesses anulados ou pervertidos. Nosso amor é a medida de nosso sofrimento. Se nosso sofrimento é pequeno, pode ser que o grande erro seja que nosso amor é muito pequeno.

___

1Instrumento com que se malha cereal, composto de dois paus (o mango e o pírtigo) ligados por uma correia. Bras. Chicote, relho. Fonte: aulete.uol.com.br/mangual.

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Fellowship of His Sufferings, de T. Austin-Sparks, publicado pela Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, reimpresso em 2000. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)

Categorias
Deus Encorajamento Sofrimento T. Austin-Sparks Vida cristã

A atitude do Senhor em relação a Seus filhos em adversidade (T. Austin-Sparks)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, mar/abr de 1948, vol. 26-2

Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Isaías 63.9).

A primeira cláusula deste versículo é o que vai nos ocupar por uns poucos minutos, e será na mais correta tradução encontrada como nota marginal em algumas Bíblias. Apesar de haver alguma autoridade para a tradução comum das palavras aqui, a verdadeira redação do original é: “Em toda a adversidade deles, Ele não foi adversário”1. Você pode escolher entre as traduções aquela de que mais gosta, e você não estará errado se preferir uma à outra. Mas essa tradução alternativa para o texto usual transmite uma mensagem por si mesma, a qual penso deveria ser grande ajuda, encorajamento e força para nós.

 

O fato da adversidade

Em primeiro lugar, notamos que a adversidade contra o povo de Deus é reconhecida e aceita, isto é, é dada como certa. É desnecessário dizer que, entre o povo de Deus, a adversidade é um fato. Nenhum de nós precisa dizer isso. Aqui a Palavra de Deus destaca o fato de que o povo do Senhor conhece a adversidade e a sofre, e que ela está sob os olhos de Deus. Só resta dizer que ninguém deve pensar que a adversidade significa que as coisas estão erradas. Talvez, às vezes, sintamos que, por causa da severa e contínua adversidade, deve haver alguma coisa errada. Embora possa haver uma esfera na qual a adversidade é o resultado de alguma coisa errada que foi feita, e o inimigo tem um terreno legítimo, no entanto não é a isso que se refere aqui. Em primeiro lugar, não era adversidade por causa do mal ou do erro; era a adversidade que é a experiência comum do povo de Deus que está se movendo com Ele. E, quando é assim, conforme podemos ver em um momento, não há nada errado de modo algum. É isso, a propósito, quanto ao fato da adversidade.

 

A natureza da adversidade

Então, sigamos para a natureza da adversidade referida aqui. A palavra “angústia” ou “adversidade” é a palavra “aperto” [em sentido físico ou figurado]: “Em todo o aperto deles, Ele não foi adversário”. E a idéia de aperto é apta para múltiplas aplicações. Qual é o aperto referido aqui? Bem, Israel é aqui visto como no deserto. Você nota que todas as frases que se seguem levam você de volta à vida de Israel no deserto, e é a essa vida com suas muitas formas de aperto que a palavra se refere.

Em primeiro lugar, os israelitas estavam confinados com respeito a muitas coisas que o mundo tinha e que o mundo pode fazer, as quais constituem toda a vida do mundo e dão ao mundo seu prazer e, tanto quanto ele pode, sua satisfação. Eles foram cortados de tudo aquilo, e por vezes essa forma de aperto veio para eles de forma dura e severa. Você sabe que, quando eles passaram por um tempo especialmente difícil, o coração deles quis voltar para o Egito e eles pensaram nos alhos e cebolas e em tudo o mais que havia lá e os desejaram. No Egito, nós temos isso e também as outras coisas de sentimos falta agora, e é difícil ser separado, como fomos, dessas coisas. Havia um elemento de certeza no Egito, mas fora dali você nunca sabe para onde está indo, tendo de viver um dia após o outro, ou o que vai acontecer com você – tudo o que as evidências atuais conseguem é fazer você se preocupar por não saber o que vai comer amanhã. Isso é uma vida de fé, e fé é uma vida de aperto muito freqüente, separado de muitas coisas e confinado a esse deserto em as coisas são, para a mente natural, “reduzidas” a Deus. (Sabemos que essa é a maneira errada de apresentar isso. Para a mente espiritual, as coisas são expandidas a Deus, mas quem foi plenamente levado para esse lugar, onde o aperto terreno é sempre um alargamento celestial?) Naturalmente, era assim com Israel: confinado, reduzido, enclausurado, apertado no que diz respeito às muitas coisas deste mundo. Porque eles eram o povo de Deus, não podiam fazer nem ter nada. Havia uma esfera inteira de coisas cortadas deles; naturalmente, na alma, isso era aperto.

 

A adversidade não prova que o Senhor é nosso adversário

Quando você e eu começamos a sentir isso – e há dias em que a alegria pura e sem mácula do próprio Senhor e das coisas celestiais se tornam nubladas, veladas e remotas, e percebemos estar mais sensíveis ao aperto e a como estamos confinados –, quão rapidamente o inimigo vem e diz: “O Senhor está contra você! Isso não é a bondade do Senhor, isso não é a beneficência e a graciosidade do Senhor, esse tipo de vida realmente não é a vida que o Senhor prometeu a você.” Ele tenta fazer com que, em nosso coração e em nossa mente, o Senhor seja nosso adversário por causa da consciência da presente situação de dificuldade. Ele deturpa o Senhor; ele pinta o Senhor com as cores de nossa provação, de nossa dificuldade, e diz: “O Senhor é assim; Ele é um mestre difícil de servir. Essa vida cristã não é tudo que disseram que seria. O Senhor enganou você, Ele falhou com você. E mais…”. Ele mistura tudo para maldizer o Senhor.

O que a Palavra está dizendo aqui é definitivamente isto: em todo esse aperto, essa privação, esse confinamento, o Senhor não estava contra os israelitas; por mais que pareça, o Senhor não estava mesmo contra eles. Então, temos de encontrar outra explicação. Os fatos são muito reais, aquelas condições são muito verdadeiras. Adversidade, provação, sofrimento são muito reais, e se eles não significam que o Senhor está contra nós, qual é a explicação?

 

A intenção do Senhor para o bem

A única alternativa, com certeza, é que o Senhor está pretendendo o bem, que Sua intenção não é, em última instância, nossa limitação e privação, mas nosso alargamento, nosso enriquecimento. Evidentemente, o Senhor pode dizer algo diferente do que aquilo que as circunstâncias parecem indicar que ele quer dizer. Em todos esses apertos, Ele não é contra você. “Se Deus é por nós…” (Rm 8.31). Na adversidade, no aperto, no privar de muitas coisas, no dizer “Não” muitas vezes, o Senhor não é contra você, Ele não está roubando você de qualquer coisa realmente boa, tirando de você qualquer prazer real, Ele não está trabalhando contrariamente a seus interesses, Ele não é o adversário. Mas em tudo isso, Ele é por você enquanto você estiver no caminho da vontade Dele, seguindo com Ele.

Eu disse que a palavra “aperto” tem múltiplas aplicações. Eu não vou detalhar de que modo ela pode ser aplicada. Eu conheço o aperto. Quantas vezes o inimigo chuta as portas e, então, diz que o Senhor as chutou porque Ele é contra você! Quão freqüentemente o inimigo leva você ao sofrimento, coloca sobre você alguma coisa, e, então, diz: “Isso é o Senhor!” Quantas vezes o inimigo tenta anuviar sua segurança e trazer condenação e acusação sobre você, e colocar você sob uma sensação de julgamento e, depois, dizer: “É o Senhor!” Não é nenhum pouco!

Essa não é necessariamente a explicação ou a interpretação para tudo. Você percebe que a primeira fase dessas coisas encontra o povo fora e se movendo com o Senhor, e, conforme isso acontecia, os membros do povo iam entrando nessa adversidade de várias formas. E a declaração é que isso não significa que o Senhor era contra eles. Se quisermos, podemos acrescentar muitas outras passagens para mostrar como o Senhor era, na verdade, a favor deles exatamente naqueles dias de dificuldade e de adversidade. Eu só quero dar a você algo sobre o que firmar os pés.

 

O Senhor é o adversário dos rebeldes

A passagem segue para outro e escuro estágio. “Mas eles foram rebeldes […] por isso se lhes tornou em inimigo” (Is 63.10), seu adversário. Mas mesmo quando afirmamos o aspecto negro da coisa, isso amplia o outro. Você se rebelou contra o Senhor? Pode realmente ser dito que você tomou a mesma atitude tomada por aquele povo? Você conhece algumas das perversas e terríveis coisas que eles disseram em sua rebelião, quando o coração deles se afastou do Senhor. Eles, de fato, disseram: “Não queremos mais esse Senhor. Não queremos mais ter esse Senhor.” Isso pode ser dito de você? Bem, então, nessa situação, o Senhor se torna o inimigo daqueles, e será seu inimigo enquanto você estiver naquela posição; Ele não pode estar a seu favor enquanto você estiver lá. Mas se não é assim com você, e, a despeito de todas as fraquezas, falhas, faltas, imperfeições (sim, nós nunca estaremos sem alguma coisa que possa ser condenada em nós), não obstante tudo isso, seu coração é para o Senhor, é seu desejo seguir com Ele, então, Ele não é adversário. Sim, há muitas imperfeições, mas Ele não é adversário. Ele será quando nós, como aquele povo, deliberada e positivamente nos voltarmos e nos rebelarmos contra o Senhor e dissermos: “Não obedeceremos, não seguiremos!”. Então, Ele será nosso adversário. Isso significa que Ele tem de nos levar a julgamento.

 

O amor do Senhor pelos rebeldes

Mas, mesmo assim, a terceira fase é muito abençoada: “Todavia se lembrou […]” (v. 11). Mesmo quando Ele tem de ser adversário dos israelitas por causa da atitude que eles adotaram, o fim disto é que Ele “se lembrou […] de Moisés”. Ele lembrou de Sua Palavra, e a última fase é que Ele volta em amor para restaurar. No final, o Senhor alcança até mesmo os rebeldes. “[…] e até para os rebeldes […]” (Sl 68.18), diz a Palavra. “Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (103.14). Você é um daqueles que, às vezes, de fato desviou-se no coração, com dureza, amargura e ácida indisposição, contra o Senhor por causa da dificuldade do caminho e você se tornou realmente rebelde contra ele, e o inimigo disse: “A coisa toda é sem esperança. Veja que você chutou a porta, e isso é fim!” Oh, como esse inimigo irá tomar o controle de tudo para usar para sua destruição! Mas, mesmo que tenha feito isso, o fim é: Ele “se lembrou”. É uma maravilhosa abertura outra vez de Seu amor para os rebeldes.

Eles estão seguindo com o Senhor; eles sofrem adversidade, mas isso não significa que Ele esteja contra eles. Eles se rebelaram contra Ele, e Ele os tem de levar à disciplina, e naquele momento Ele poderia ser contra eles. Mas aquilo não precisa ser a situação estabelecida e permanente. “A sua misericórdia dura para sempre” (106.1). Se em nosso coração, vez por outra, temos nos tornado amargos, temos sentido que o Senhor foi muito duro e que o caminho não pode ser o caminho de Seu amor, se nós temos nos detido em pensamentos amargos e rebeldes, Satanás vem para tentar consolidá-los numa situação inalterável, que fechará para sempre a porta nos termos do pecado imperdoável. No entanto, o Senhor lembrará Sua Palavra, e Seu amor é manifestado, o qual, na verdade, nunca mudou. Eu espero que não haja muitos que tenham deserdado e se rebelado. Se você é um desses, esta é uma palavra de conforto e encorajamento para você.

O aspecto principal da palavra, no entanto, é para a maioria de nós que, enquanto o coração é para o Senhor, encontra muito aperto, muitos caminhos fechados, muita redução, muita privação, muito do que para a vida natural parece ser um caminho de trevas; porém, isso não significa que o Senhor é contra nós, mas exatamente o oposto. O Senhor está após um alargamento que é muito mais do que um alargamento da vida aqui. Pois, se tivermos tudo aqui, e ainda formos pequenos na medida de Cristo, o que teríamos ganho? Ganhamos nada. Assim, se o alargamento de Cristo parece significar a redução do ego e do mundo, isso é evidência de que o Senhor é por nós, e não contra nós. “Em toda a adversidade deles, Ele não foi seu adversário.” Em todo aperto deles, Ele não era contra eles.

___

1Antes da palavra hebraica tsâr, “adversário, problema, angústia, etc.”, בכל צרתם לא, (a terceira da direita para a esquerda) não há verbo. A Young’s Literal Translation of the Holy Bible, de 1898, e a Literal Translation of the Holy Bible, de 1976, vertem o versículo como indicado por Austin-Sparks. (N.T.)

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Lord’s Attitude To His Children In Adversity, de T. Austin-Sparks, publicado pela Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma. A maior parte dos textos de Austin-Sparks são transcrições de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de seu caráter oral, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)

Categorias
Citações Deus Soberania Sofrimento Vida cristã

Providência (Jerry Bridges)

Não é fácil crer na doutrina da providência de Deus, especialmente nesses dias em que parece que ela caiu sob os tempos difíceis…

Todas as pessoas – os cristãos e os não cristãos – experimentam ansiedade, frustração, mágoas e desapontamentos. Algumas sofrem intensa dor física e tragédias catastróficas. Mas o que deve distinguir o sofrimento dos cristãos do daqueles que não crêem é a confiança de que nosso sofrimento está sob o controle de um Deus todo-poderoso e todo-amoroso. Nosso sofrimento tem significado e propósito no plano eterno de Deus, e Ele traz ou permite que venha a nós somente aquilo que é para Sua glória e para nosso bem.

Sair da versão mobile