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Doença (Watchman Nee)

Você sabe qual é a causa de sua doença?

Qual o propósito da enfermidade?

Há algumas questões com respeito à doença que gostaríamos de considerar juntos diante de Deus.

1. A relação entre doença e pecado

Antes da queda da humanidade, não existia nenhuma espécie de enfermidade; a doença surgiu somente depois que o homem pecou. Alguém pode dizer que, de forma geral, tanto a doença como a morte resultaram do pecado, pois pela transgressão de um homem o pecado e a morte entraram no mundo (Rm 5.12). A doença se espalhou a todos os homens assim como a morte.

Embora nem todos tenham pecado da mesma maneira que Adão, todavia, por causa da transgressão dele todos morrem. Onde há pecado há morte também. Entre esses dois está aquilo que comumente chamamos de doença. Esse é, então, o fator comum a todas as doenças. Porém, há realmente mais de uma causa a ser explicada sobre os males que atacam as pessoas. Algumas doenças brotam de pecado, enquanto outras não. No tocante à humanidade, a doença não vem de pecado; mas, com relação ao indivíduo, isso pode ser ou não a causa. Precisamos distinguir entre essas duas aplicações da doença. É absolutamente verdadeiro que se não houvesse pecado não haveria nem morte nem doença; pois, se não houvesse morte no mundo, como poderia haver doença? A morte brota do pecado, e a enfermidade vem pelo princípio da morte. Mesmo assim, isso não pode ser aplicado especifica e indiscriminadamente a todo indivíduo, pois, embora muitos fiquem doentes por causa do pecado, há outros que adoecem por razões outras que não o pecado. Nessa questão do relacionamento entre pecado e doença, devemos fazer uma distinção cuidadosa entre sua aplicação à humanidade como um todo e sua aplicação aos homens individualmente.

Devemos lembrar que, em livros do Antigo Testamento como Levítico e Números, a promessa de Deus era que, se o povo de Israel Lhe obedecesse, andasse em Seus caminhos, não se rebelasse com Seus caminhos, não se rebelasse contra Suas leis e não pecasse contra Ele, então, o Ele os protegeria de muitas enfermidades. Essas palavras claramente nos ensinam que muitas doenças têm origem no pecado ou na rebelião contra Deus. Todavia, no Novo Testamento, vemos que algumas doenças não foram causadas por qualquer transgressão cometida pela pessoa.

Paulo escreveu certa vez que entregava a Satanás para a destruição de sua carne o homem que tinha pecado, vivendo com a mulher do pai (1Co 5.4,5). Isso indica definitivamente que algumas doenças procedem do pecado. A conseqüência do pecado é doença, se o pecado for leve, ou morte, se for grave. A julgar pelas palavras de 2Coríntios 7, esse homem não ficou doente ao ponto de morte porque seu pesar produziu arrependimento que o levou à salvação e não trouxe desgosto (vv. 9,10). Paulo pediu à igreja em Corinto para perdoar esse homem (2.6,7). Em 1Coríntios 5 é dito para entregar a carne desse homem (não sua vida) a Satanás; ele devia ficar doente, mas não ser morto.

Paulo, além disso, escreveu que os membros da igreja em Corinto, que comiam e bebiam do pão e do cálice do Senhor sem discernir o corpo do Senhor, haviam ficado fracos e doentes e alguns haviam até morrido (11.29,30). Isso revela que a desobediência ao Senhor foi a causa da doença deles.

As Escrituras fornecem informação suficiente no sentido de que muitos (mas não todos) ficam doentes por causa do pecado. Desse modo, a primeira atitude que devemos tomar quando ficarmos doentes é nos examinar a fim de determinar se pecamos ou não contra Deus. Pelo exame, muitos descobrirão que seus males são, na verdade, devidos ao pecado; em algum ponto de sua vida rebelaram-se contra Deus ou desobedeceram a Sua Palavra. Eles se desviaram. Tão logo esse pecado particular seja encontrado e confessado, a doença desaparecerá. Incontáveis irmãos e irmãs no Senhor têm passado por experiências assim. Logo depois da causa ser descoberta diante de Deus, a doença se vai. Esse é um fenômeno que ultrapassa o conhecimento da medicina.

A doença não surge necessariamente do pecado, porém, grande parte dela tem essa origem. Reconhecemos que muitas moléstias têm causas naturais, mas declaramos igualmente que não podemos atribuir toda doença a causas naturais.

Lembro-me de um irmão, professor numa escola de medicina, que ensinou a seus alunos: “Temos encontrado muitas explicações naturais para as doenças. Por exemplo: certo tipo de microrganismo causa um tipo particular de doença. Como médicos, podemos determinar que tipo de agente produz tal tipo de enfermidade, mas não temos como explicar porque, entre certas pessoas igualmente expostas, algumas são contaminadas enquanto outras permanecem imunes. Suponhamos, por exemplo, que dez pessoas entrem no mesmo cômodo simultaneamente e sejam expostas ao mesmo tipo de vírus. Deveríamos esperar que as mais fracas fossem contaminadas; todavia, pode perfeitamente acontecer de as fracas serem poupadas e as fortes, atacadas. Temos de reconhecer”, ele concluiu, “que além das causas naturais existe o controle da Providência”. Pessoalmente concordo com as palavras desse irmão. Quão frequentemente as pessoas adoecem a despeito de toda medida preventiva.

Também me lembro do que me foi relatado por um de meus colegas sobre sua experiência na Faculdade Médica de Pequim. Havia um professor na faculdade que tinha muito conhecimento, mas pouca paciência. Por isso, frequentemente fazia perguntas simples nos exames. Uma vez ele perguntou por que as pessoas contraíam a tuberculose. Era uma pergunta bastante simples; porém, muitos falharam em dar a resposta certa. Eles responderam que certo tipo de pessoa tinha o bacilo da tuberculose. Todas as provas que continham essa resposta foram consideradas erradas. O professor explicou que a terra estava cheia de bacilos da tuberculose, mas que nem todos eram abatidos pela tuberculose. É somente sob certas condições favoráveis, ele lembrou, que esses bacilos causam a doença chamada tuberculose. Os bacilos por si só não podem causar a doença. Muitos estudantes esqueceram a importância dessas condições favoráveis. Estejamos cientes, portanto, que, a despeito da presença de muitos fatores naturais, os cristãos só adoecem com a permissão de Deus, dada sob condições apropriadas.

A doença não surge necessariamente do pecado, porém, grande parte dela tem essa origem.

Cremos francamente que existem explicações naturais para a doença; isso tem sido provado cientificamente. Confessamos, todavia, que muitas moléstias entre os filhos de Deus são conseqüência do pecado contra Deus, como o caso citado em 1Coríntios 11. É, portanto, essencial pedir primeiro perdão e depois cura. Freqüentemente podemos detectar, logo depois de termos sido abatidos com doença, onde transgredimos contra o Senhor ou como temos sido desobedientes a Sua Palavra. Quando o pecado é confessado e o problema, resolvido, a doença se vai. Isso é realmente um acontecimento maravilhosíssimo. De forma que o ponto inicial que precisamos conhecer é a relação entre pecado e doença. De forma geral, a doença resulta do pecado, e, também individualmente, ela pode resultar do pecado.

2. A obra do Senhor e a doença

“Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades” (Is 53.4,5). De todos os escritos do Antigo Testamento, o capítulo 53 de Isaías é o mais citado no Novo Testamento. Ele faz referências ao Senhor Jesus Cristo principalmente como nosso Salvador. O verso 4 afirma que “Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e nossas dores levou sobre Si”, enquanto Mateus 8.17 declara que isso [o ministério de cura do Senhor] aconteceu “para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz: ‘Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças”. O Espírito Santo indica aqui que o Senhor Jesus veio ao mundo para tomar nossas enfermidades e carregar nossas doenças. Antes de Sua crucificação Ele já tinha tomado nossas enfermidades e carregado nossas doenças; isso quer dizer que durante Seu ministério terreno o Senhor Jesus fez da cura Seu encargo e tarefa. Ele não somente pregou, mas também curou.

Ele, por um lado, pregou as boas-novas, mas por outro fortaleceu o fraco, restaurou a mão mirrada, purificou o leproso e levantou o paralítico. Enquanto estava sobre a terra, o Senhor Jesus devotou-se à realização de milagres como também ao ministério da Palavra. Ele saiu fazendo o bem: curou os doentes e expulsou os demônios. O propósito de Sua obra foi destruir a doença, o resultado do pecado. Ele veio para tratar com a morte e a doença, como também com o pecado.

O salmo 103 é familiar a muitos filhos de Deus; eu mesmo gosto muito de lê-lo. Davi proclama: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor; e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome.” Por que bendizer ao Senhor? “Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios.” Quais são os Seus benefícios? “Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades” (vv. 1-3). Desejo que os irmãos vejam que a doença está associada com dois elementos: morte por um lado, e pecado do outro. Mencionamos anteriormente como a morte é o resultado do pecado, com a doença incluída nela. Tanto a doença como a morte brotam do pecado. Aqui no salmo 103 vemos que a doença está associada com o pecado. Por causa do pecado na alma existe doença no corpo. Junto com o perdão de nossa iniqüidade vem a cura de nossa doença. O problema no corpo é o pecado por dentro e a doença por fora. Mas o Senhor Jesus tira ambos.

Todavia, existe uma diferença básica entre o tratamento de Deus para com nossa iniqüidade e Seu tratamento de nossa doença. Por que essa diferença? Nosso Senhor carregou nossos pecados em Seu corpo sobre a cruz. Algum pecado permanece sem perdão? Nenhum absolutamente, pois a obra de Deus é tão completa que o pecado é totalmente destruído. Mas, quanto ao tomar nossas enfermidades e carregar nossas doenças enquanto vivia na terra, o Senhor Jesus não erradicou todas as doenças e todas as enfermidades. Pois observe que Paulo nunca diz: “Quando peco, então, estou santificado”, mas declara: “Quando estou fraco, então, sou forte” (2Co 12.10). Portanto, o pecado é tratado completa e ilimitadamente, enquanto a doença o é em parte.

Na redenção de Deus, o tratamento da doença é diferente do tratamento do pecado. Com o último, sua destruição é totalmente ilimitada; com o anterior não é assim. Timóteo, por exemplo, continuou tendo um estômago fraco. O Senhor permitiu que essa doença permanecesse em Seu servo. Assim, na salvação de Deus a doença não foi erradicada tão completamente como o pecado. Alguns afirmam que o Senhor Jesus trata somente com o pecado e não com a doença também; outros imaginam que a esfera do Seu tratamento da doença é tão ampla e inclusiva quanto Seu tratamento do pecado. Todavia, as Escrituras manifestamente indicam que o Senhor Jesus trata tanto com o pecado como com a doença; só que Seu tratamento com o pecado é ilimitado, enquanto com a doença é limitado. Devemos contemplar o Cordeiro de Deus tirando todo o pecado do mundo. Ele carregou o pecado de cada uma e de todas as pessoas1. O problema do pecado, portanto, já está resolvido. Entretanto, a doença ainda tem acesso aos filhos de Deus.

Porém, nós asseveramos que, visto o Senhor Jesus ter realmente levado nossas doenças, não deveria haver tanta enfermidade como há entre os filhos de Deus. Enquanto Jesus esteve na terra, Ele indubitavelmente dedicou-se à cura dos doentes. Ele incluiu a cura em Sua obra. Isaías 53.4 cumpriu-se em Mateus 8, não em Mateus 27. Ela foi realizada antes do Calvário. Tivesse sido realizada na cruz, a cura seria ilimitada. Mas não: o Senhor Jesus levou nossas enfermidades antes de Sua crucificação, com o resultado de que esse aspecto de Sua obra não é ilimitado como foi o carregar de nossos pecados por Ele.

Mesmo assim, inúmeros santos permanecem doentes porque perderam a oportunidade de serem curados. Deixem-me acrescentar mais algumas palavras sobre esse ponto. A menos que tenhamos a segurança que Paulo teve após orar três vezes, de que sua fraqueza permaneceria porque seria útil para ele, nós devemos pedir a cura. Paulo só aceitou sua fraqueza depois de orar pela terceira vez e de lhe ter sido mostrado distintamente pelo Senhor que Sua graça era suficiente para ele e que Sua força seria aperfeiçoada na fraqueza dele. A menos que tenhamos certeza de que Deus quer que levemos nossa fraqueza, nós devemos pedir ousadamente que Ele mesmo a leve e tire nossa doença. Os filhos de Deus vivem sobre a terra não para ficar doentes, mas para glorificar a Deus. Se ficarem doentes e trouxerem glória a Deus, isso é ótimo; mas muitas doenças não O glorificam necessariamente. Conseqüentemente, devemos aprender a confiar no Senhor enquanto estamos doentes e devemos reconhecer que Ele carrega nossa doença também. Ele curou um grande número de pessoas enquanto estava na terra. E Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Entreguemos nossa enfermidade a Ele e peçamos a Ele pela cura.

3. A atitude do crente com respeito à doença

Toda vez que o cristão ficar doente, a primeira coisa a fazer é investigar a causa do mal diante do Senhor, não devendo ficar ansioso demais pela cura. Paulo estabelece um bom exemplo nos mostrando como ele conhecia bem sua fraqueza. Devemos examinar se temos desobedecido ao Senhor, se pecamos em algum lugar, se devemos algo a alguém, se violamos alguma lei natural ou se negligenciamos alguma obrigação especial. Devemos saber que nossa quebra da lei natural freqüentemente pode constituir pecado contra Deus, pois foi Ele quem estabeleceu essas leis naturais pelas quais governa o universo. Muitos têm medo de morrer; quando adoecem buscam apressadamente os médicos, porque estão ansiosos para serem curados. Essa não deve ser a atitude do cristão. Ele deve primeiro procurar isolar a causa de sua doença. Infelizmente, quantos irmãos e irmãs não têm qualquer paciência. No momento em que adoecem, procuram pelo remédio. Você está tão temeroso de perder sua preciosa vida que, por meio da oração, você se apega a Deus para a cura, mas simultaneamente se apega ao médico para os remédios e injeção? Isso revela quão cheio do ego você está. Mas como poderia estar menos cheio do ego na doença se nos dias comuns você está cheio do ego? Aqueles que geralmente estão cheios do ego serão aqueles que buscarão ansiosamente pela cura tão logo fiquem doentes.

Aprenda a aceitar qualquer lição que a doença possa lhe trazer.

Posso lhes dizer que a ansiedade de nada vale? Visto que você pertence a Deus, sua cura não é tão simples. Mesmo que você seja curado dessa vez, ficará doente de novo. É preciso que se resolva o problema diante de Deus primeiro, e depois poderá ser resolvido o problema no corpo.

Aprenda a aceitar qualquer lição que a doença possa lhe trazer. Porque se você tiver tratos com Deus, muitos dos seus problemas serão resolvidos rapidamente. Você descobrirá que frequentemente sua doença é devida a algum pecado ou falta. Após confessar seu pecado e pedir perdão, você pode esperar a cura de Deus. Ou, se você tiver avançado um pouco mais com seu Senhor, talvez possa discernir que o ataque do inimigo está envolvido nisso. Ou a questão da disciplina de Deus pode estar associada com sua falta de saúde. Deus corrige você com doença para torná-lo mais santo, mais maleável ou submisso. Quando você trata destes problemas diante de Deus, poderá ver a razão exata de sua enfermidade. Algumas vezes Deus poderá permitir que você receba alguma ajuda médica, mas em outras Ele poderá curá-lo instantaneamente sem tal assistência.

Devemos ver que a cura está nas mãos de Deus. Aprenda a confiar Naquele que cura. No Antigo Testamento Deus tem um nome especial que é: “Eu sou o Senhor que te sara” (Êx 15.26). Busque-O, e Ele será gracioso para com os Seus nesta questão particular.

O passo inicial que o crente deve, portanto, dar quando fica doente é descobrir a causa; depois, ele pode recorrer a vários e diferentes modos de cura, um dos quais é chamar os presbíteros da igreja para orar e ungi-lo com óleo. Essa é a única ordem na Bíblia com respeito à doença. “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5.14,15).

Não se apresse em buscar a cura, mas antes tenha tratos com Deus, logo no início da doença. Uma das coisas a ser feita, então, é chamar os anciãos da igreja para ungir você com óleo. Isso fala do fluir do óleo do Cabeça a você, como um dos membros do Corpo. O óleo que o Cabeça recebe corre pelo Corpo inteiro. Como membro do Corpo de Cristo, alguém pode esperar que o óleo no Cabeça flua até ele. Onde a vida flui, a doença é levada. O propósito da unção é, portanto, trazer o óleo do Cabeça. Por causa da desobediência, do pecado ou talvez por alguma outra razão, o crente colocou-se fora da circulação do Corpo e separou-se da vida do Corpo. Por conseguinte, ele precisa chamar os anciãos da igreja para reinstalá-lo na circulação e no fluxo da vida do Corpo de Cristo2. Acontece exatamente como no corpo físico, pois, quando algum de seus membros está prejudicado, a vida do corpo não pode fluir livremente para ele. Portanto, a unção é para restaurar esse fluxo. Os anciãos representam a igreja local; eles ungem o crente em nome do Corpo de Cristo a fim de que o óleo do Cabeça possa fluir para ele novamente. Que venha o óleo do Cabeça sobre aquele membro para o qual a vida tem sido obstruída! Nossa experiência nos diz que essa unção pode levantar de modo instantâneo o que está seriamente doente.

Aprenda a confiar Naquele que cura.

Algumas vezes, alguém identifica a explicação para sua doença como sendo individualismo. Essa pode ser a causa principal da doença. Alguns cristãos são altamente individualistas. Eles fazem tudo conforme sua própria vontade. Fazem tudo por si mesmos. Se a mão de Deus vem sobre eles, eles adoecem, porque o suprimento do Corpo não atinge esses membros. Eu não ouso simplificar demais esse assunto. As causas para a doença podem ser muitas e variadas. Uma doença pode ser por desobediência ao mandamento do Senhor, recusa em realizar Sua vontade; outra pode ser por algum pecado particular cometido; mas outra ainda pode ser conseqüência de individualismo. No caso de certos indivíduos, Deus ignora o assunto e não disciplina; mas, especialmente no caso daqueles que conhecem a igreja, Ele os corrige com doenças caso comecem a agir independentemente. O Senhor não deixará que esses sigam sem alguma disciplina.

É possível também que a enfermidade seja a conseqüência de um corpo maculado. Se alguém profanar seu corpo, Deus destruirá esse templo. Muitos estão enfermos porque corrompem seu corpo.

Em resumo, portanto, dizemos que nenhuma doença acontece sem uma causa. Se um cristão contrai uma doença, ele deve tentar localizar a causa ou causas. Depois de confessá-las uma a uma diante de Deus, ele deve chamar os anciãos da igreja para que possam confessar uns aos outros e orar uns pelos outros. Os anciãos ungirão o doente com óleo para que a vida do Corpo de Cristo lhe possa ser restaurada. O influxo da vida fará desaparecer a doença. Cremos nas causas naturais, mas adicionalmente devemos afirmar que as causas espirituais têm prioridade sobre as naturais. Se as espirituais forem cuidadas, a doença será curada completamente.

4. A correção de Deus e a doença

Um fato maravilhoso é encontrado na Bíblia: é relativamente fácil que um “pagão” seja curado, mas a cura do cristão não é tão fácil. O Novo Testamento nos mostra claramente que, sempre que um incrédulo busca o Senhor, ele é curado imediatamente. O dom da cura é dado tanto aos irmãos quanto aos não-crentes. Todavia, a Bíblia fala de alguns crentes que não foram curados; entre eles estão Trófimo, Timóteo e Paulo. E esses são os melhores entre os irmãos. Paulo deixou Trófimo doente em Mileto (2Tm 4.20). Ele exortou Timóteo para que usasse um pouco de vinho por causa do seu estômago e de suas freqüentes enfermidades (1Tm 5.23). O próprio Paulo experimentou um espinho na carne, que o fez sofrer muito, sendo reduzido a grande fraqueza (2Co 12.7). Seja qual for a natureza do espinho – problema nos olhos ou alguma outra doença –, ele maltratava a carne de Paulo. Há pessoas que sentem grande incômodo quando o dedo é ferido por um espinho. O de Paulo, todavia, era um espinho enorme. Ele o incomodou tanto que Paulo só podia descrever sua condição física como fraqueza. Os três que foram citados são irmãos por excelência; porém, nenhum foi curado. Eles tiveram de suportar a doença.

É evidente que a doença difere bastante do pecado em suas conseqüências. O pecado não produz nenhum fruto de santidade, mas a doença, sim. Quanto mais uma pessoa peca, mais corrupta se torna; a doença, porém, produz o fruto da santidade, porque a mão disciplinar de Deus está sobre o doente. Sob tais circunstâncias, convém que o filho de Deus aprenda a como submeter-se à poderosa mão de Deus.

A doença por si só não torna um homem santo, mas o fato de aceitar sua lição produz santidade.

Se alguém está doente, deve tratar de toda causa de sua doença diante do Senhor. Se depois de tratar de tudo, a mão de Deus ainda permanecer sobre ele, ele deve então entender que essa enfermidade tem o propósito de refreá-lo para que não seja orgulhoso, libertino ou por alguma outra razão. Ele deve aceitá-la e aprender sua lição. Ficar doente não terá valor se a lição não for aprendida. A doença por si só não torna um homem santo, mas o fato de aceitar sua lição produz santidade. Alguns pioram espiritualmente durante a doença; tornam-se mais egocêntricos. É por isso que o indivíduo deve descobrir a lição nessas ocasiões. “Que proveito ou fruto pode ser extraído dela? A mão de Deus está sobre mim para me manter mais humilde como Ele fez com Paulo, para que eu não me exalte pela excelência das revelações (2Co 12:7)? Ou é porque Deus deseja enfraquecer meu individualismo obstinado?” Qual a utilidade da doença se ela não induz a aprender a lição da fraqueza? Muitos estão doentes em vão, porque jamais aceitam o tratamento do Senhor para seus problemas particulares.

Não olhe para a doença como sendo algo terrível. Na mão de quem está essa faca? Lembre-se de que ela está na mão de Deus. Por que devemos ficar ansiosos por nossa enfermidade como se ela estivesse na mão do inimigo? Saiba que Deus mediu todas as nossas doenças. Para ser correto, Satanás é o originador delas; é ele quem torna as pessoas doentes. Todavia, todos os que leram o livro de Jó reconhecem que isso ocorre apenas mediante a permissão de Deus e está completamente sob a restrição de Deus. Sem a permissão de Deus, Satanás não pode tornar ninguém doente. Deus permitiu que Jó fosse atacado por uma doença, mas observe que Ele não permitiu que o inimigo tocasse em sua vida. Por que, então, ficamos tão agitados, tão cheios de desespero, tão ansiosos para sermos curados, tão temerosos de morrer quando somos abatidos pela doença?

Sempre é bom ter em mente a lembrança de que a doença está na mão de Deus. Ela foi medida e limitada por Ele. Depois que Jó cumpriu o curso de sua prova, sua doença terminou, pois tinha realizado seu propósito nele: “Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5.11).

Que vergonha tantos doentes sem reconhecerem o propósito da doença e sem aprender sua lição! Todas as enfermidades estão na mão do Senhor e são medidas para nós, para que possamos aprender nossas lições. Quanto mais cedo aprendemos, mais rápido essas enfermidades passarão.

Falando francamente, muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos. A menos que o Senhor lhes remova esse amor próprio do coração, Ele não pode usá-los. Portanto, devemos aprender a ser aqueles que não amam a si mesmos. Algumas pessoas não pensam em mais nada senão em si mesmas. O universo inteiro parece girar ao redor delas. Elas são o centro da terra e do universo. Dia e noite estão ocupadas consigo mesmas. Toda criatura existe para elas e tudo roda a seu redor. Até mesmo Deus, nos céus, é para elas, Cristo é para elas, a igreja também. Como Deus pode destruir esse egocentrismo? Por que algumas doenças são difíceis de serem curadas? Quão propositalmente solicitam a condolência dos homens! Se rejeitassem a condolência humana, suas doenças logo seriam curadas.

Falando francamente, muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos.

Um fato notável é que muitos estão doentes porque gostam de ficar doentes. Na doença recebem a atenção e o amor que comumente não desfrutam na saúde. Eles se tornam doentes com freqüência para que possam habitualmente ser amados. Tais pessoas precisam ser repreendidas com severidade; se estivessem dispostas a receber o tratamento de Deus nessa questão particular logo ficariam boas.

Conheço um irmão que sempre esperava amor e bondade dos outros. Sempre que lhe perguntavam sobre seu bem-estar, ele habitualmente respondia com queixas sobre sua fraqueza física. Ele dava um relatório detalhado de quantos minutos sofreu com febre, quanto tempo durou a dor de cabeça, quantas vezes por minuto respirou e quão irregular era a batida do coração. Ele vivia em constante desconforto. Gostava de contar às pessoas sua angústia para que pudessem se compadecer dele. Nada tinha para relatar senão sua história de doença interminável. E às vezes queria saber por que não era nunca curado.

É difícil falar a verdade [a pessoas assim] e algumas vezes pode custar caro. Um dia, me senti fortalecido interiormente para lhe dizer de maneira cândida que sua longa doença era devida a seu amor pela enfermidade. Ele naturalmente negou-o. Todavia, eu continuei apontando a ele: “Você tem medo que sua doença o deixe. Você se apega à condolência, ao amor e ao cuidado. Como não pode conseguir essas coisas de outra forma, você as obtém ficando doente. Você deve se livrar desse desejo egoísta antes que Deus possa curá-lo. Quando as pessoas perguntarem como está, deve aprender a dizer que ‘tudo está bem’. Seria isso mentir quando não passou bem a noite? Lembre-se da história da mulher em Sunem. Ela deitou o filho morto na cama do homem de Deus e foi ver Eliseu. Quando lhe foi perguntado: ‘Vais bem? Vai bem teu marido? Vai bem teu filho? Ela respondeu: Vai bem’ (2Rs 4.26). Como podia ela dizer isso, sabendo que a criança já havia morrido e estava deitada sobre a cama de Eliseu? Porque ela tinha fé. Ela cria que Deus ia ressuscitar seu filho. Você deve crer assim hoje também.”

Seja qual for a causa, intrínseca ou extrínseca, a doença terminará quando Deus tiver alcançado Seu propósito. Pessoas como Paulo, Timóteo e Trófimo são exceções. Embora suas doenças fossem prolongadas, eles reconheciam que isso era útil para sua obra. Eles aprenderam como cuidar de si para a glória de Deus. Paulo persuadiu Timóteo a tomar um pouco de vinho e a tomar cuidado com o que comia e bebia. A despeito da fragilidade deles, a obra de Deus não foi negligenciada. O Senhor lhes deu graça suficiente para vencer suas dificuldades. Paulo trabalhou em fraqueza. Lendo seus escritos, podemos facilmente concluir que ele realizou tanto quando dez pessoas poderiam fazer. Deus usou esse homem fraco para exceder a dez pessoas fortes. Embora seu corpo fosse frágil, Deus lhe deu força e vida. Esses homens, porém, são exceções na Bíblia. Alguns dos vasos especiais de Deus podem receber o mesmo tratamento. Mas os soldados rasos, principalmente os iniciantes, devem examinar se pecaram e, após confessar seus pecados, verão as doenças imediatamente curadas.

Finalmente, desejo que vocês vejam diante do Senhor que algumas vezes Satanás pode desfechar ataques repentinos ou vocês quebram involuntariamente alguma lei natural. Ainda assim, podem levar isso diante do Senhor. Se for ataque do inimigo, repreenda em nome do Senhor. Certa vez, uma irmã ficou prostrada com febre. Depois de descobrir que era um ataque satânico, ela a repreendeu3 em nome do Senhor e a febre a deixou. Se você violar uma lei natural colocando a mão no fogo, certamente ficará queimado. Cuide bem de você. Não espere até ficar doente para confessar sua negligência. É importante cuidar do seu corpo4 durantes os dias comuns.

5. O modo de buscar a cura

Como devem os homens buscar a cura diante de Deus? Três sentenças no Evangelho de Marcos são dignas de serem aprendidas. Eu as considero muitíssimo úteis – pelo menos o são para mim. A primeira menciona o poder do Senhor; a segunda, a vontade do Senhor, e a terceira, a ação do Senhor.

a) O poder do Senhor: “Deus pode”.

“E [Jesus] perguntou ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse: Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para o destruir; mas, se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. E Jesus lhe disse: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê” (9.21-23). O Senhor simplesmente repetiu as três palavras que o pai da criança havia pronunciado. O pai clamou: “Se Tu podes […] ajuda-nos.” O Senhor respondeu: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”. O problema aqui não é “se Tu podes”, mas “se tu podes crer”.

Não é verdade que o primeiro problema que surge com a doença é uma dúvida quanto ao poder de Deus? Sob um microscópio, o poder da bactéria parece ser maior do que o poder de Deus. Raramente o Senhor interrompe as pessoas quando elas ainda estão falando, mas aqui Ele parece como que irado. (Que o Senhor me perdoe por falar assim!) Quando Ele ouviu o pai da criança dizer: “Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão e ajuda-nos”, bruscamente reagiu dizendo: “Por que dizes: ‘Se Tu podes’? Todas as coisas são possíveis ao que crê. Na doença, a questão não é se Eu posso ou não, mas se tu crês ou não”.

O passo inicial que o filho de Deus deve dar na doença, portanto, é levantar a cabeça e dizer: “Senhor, Tu podes!”. Você, com certeza, se lembra do primeiro estágio da cura do paralítico pelo Senhor? Ele perguntou aos fariseus: “Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Estão perdoados os teus pecados ’ ou dizer-lhe: ‘Levanta-te, e toma o teu leito e anda’?” (Mc 2.9). Os fariseus naturalmente pensaram que era mais fácil dizer que os pecados estão perdoados, pois quem poderia provar se estavam ou não? Mas as palavras do Senhor e seus resultados mostraram a eles que Ele podia curar as doenças e perdoar pecados. Ele não perguntou qual era mais difícil, mas qual era mais fácil. Para Ele, ambos eram igualmente fáceis. Para o Senhor, era tão fácil ordenar ao paralítico que se levantasse e andasse, quanto perdoar seus pecados. Para os fariseus, ambos eram difíceis.

b) A vontade do Senhor: “Deus quer”

Sim, Ele realmente pode, mas como posso saber se Ele quer? Não conheço Sua vontade; talvez Ele não queira me curar. Esta é outra história que lemos em Marcos. “E aproximou-se Dele um leproso que, rogando-Lhe e pondo-se de joelhos diante Dele, Lhe dizia: ‘Se queres, bem podes limpar-me’. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o e disse-lhe: ‘Quero, sê limpo’” (1.40,41).

Não importa quão grande seja o poder de Deus. Se Ele não tiver o desejo de curar, Seu poder não me ajudará. O problema a ser resolvido inicialmente é: Deus pode? O segundo é: Deus quer? Não existe doença tão impura quanto a lepra. É tão impura que, segundo a lei, qualquer pessoa que tocasse num leproso tornava-se impura. Todavia, o Senhor tocou o leproso e lhe disse: “Eu quero”. Se Ele quis curar o leproso, quanto mais quer curar nossas doenças. Podemos proclamar com intrepidez: “Deus pode” e “Deus quer”!

c) A ação do Senhor: “Deus fez”

Deus deve fazer mais uma coisa. “Em verdade vos digo que qualquer que disser a esse monte: ‘Ergue-te e lança-te ao mar’ e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso vos digo que todas as coisas pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (11.23,24). O que é fé? A fé crê que Deus pode, Deus quer e Deus fez. Se você crer que recebeu, você o receberá. Se Deus lhe der Sua Palavra, você pode agradecer a Ele dizendo: “Deus me curou; Ele já o fez!”

Muitos crentes esperam ser curados. A esperança considera as coisas do futuro, mas a fé trata com o passado. Se crermos realmente, não esperaremos por vinte ou cem anos, mas nos levantaremos imediatamente e diremos: “Graças a Deus, Ele me curou. Graças a Deus, eu recebi. Graças a Deus, estou limpo! Graças a Deus, estou bem”. Uma fé perfeita pode proclamar que Deus pode, Deus quer e que Deus fez.

A fé trabalha com o que “é” e não com o “desejo”. Permita-me usar uma ilustração simples. Suponhamos que você pregue o evangelho e alguém professe que creu. Pergunte a ele se está salvo, e se ele responder que espera ser salvo, então, você sabe que a resposta é inadequada. Se ele disser: “Serei salvo”, a resposta ainda está incorreta. Mesmo que ele responda dizendo: “Acho que serei definitivamente salvo”, ainda está faltando algo. Mas quando ele responde: “Eu estou salvo”, você sabe que ele está certo. Se alguém crê, então, está salvo. Toda fé trata com o passado. Dizer: “Eu creio que serei curado” não é a verdadeira fé. Se a pessoa crê, agradecerá a Deus e dirá: “Eu recebi a cura”.

Retenha estes três passos: Deus pode, Deus quer, Deus fez. Quando a fé que o homem tem chega ao terceiro estágio, a doença se vai.

 

Notas

1 O autor não abraça o entendimento da expiação limitada. Para uma breve apresentação do tema, leia o artigo Por quem Cristo morreu?, de John Owen, (N. do E.)

2 Por exigir a presença dos presbíteros e o uso do azeite, essa unção para a cura não se aplica a qualquer caso, pois se trata de uma circunstância bastante específica. O doente nesse caso está sofrendo em conseqüência de algum pecado em relação ao Corpo, algo que tenha cometido e o tenha isolado da plena comunhão com o Corpo. Assim, a passagem de Tiago não serve de base para o uso da unção com óleo para a cura de qualquer doença em qualquer circunstância. (N. do E.)

3 Segundo os exemplos encontrados na Escritura, não se deve repreender as doenças, a menos que elas sejam efetivamente resultado de uma ação maligna exterior à pessoa ou interior nela. (N. do E.)

4 Isso implica todos os cuidados com alimentação adequada, períodos de descanso, qualidade de sono, etc. Não fornecer ao corpo os nutrientes e os cuidados necessários, e, ao mesmo tempo, intoxicá-lo com certeza resultará em doenças por ferir as leis naturais estabelecidas por Deus para o adequado funcionamento do organismo. (N. do E.)


(Extraído da revista À Maturidade, primavera de 1985. Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Gideão e o sinal do velo

Devemos pedir sinais para conhecer a vontade de Deus?

Conhecer a vontade de Deus por meio de sinais?

Gideão havia recebido uma clara missão da parte de Deus: “Vai nesta tua força e livrarás a Israel das mãos dos midianitas” (Jz 6.14-16). Para isso, Deus lhe havia dado uma dupla promessa: Ele mesmo estaria com Gideão e lhe daria a vitória. Além disso, com paciência e amor Deus havia preparado a Seu servo Gideão para essa grande missão. Lemos sobre isso nos versículos 17 a 32. Agora, no versículo 33, havia chegado o momento em que Gideão devia começar sua tarefa.

O momento oportuno para cumprir a missão

O próprio Deus mostrou o momento preciso em que Gideão deveria agir. Esse momento foi tornado claro por meio de três acontecimentos:

  1. Os inimigos se preparavam para um combate (v. 33). Gideão não necessitou esperar muito tempo para que se apresentasse a ocasião de cumprir sua tarefa. O próprio Deus a apresentou: os inimigos se reuniram no vale de Jezreel. Isso foi um sinal evidente para Gideão de que havia chegado o momento exato para cumprir a missão dada por Deus. Por acaso, ele devia ficar de braços cruzados, olhando como os midianitas atacavam o povo de Israel? De modo algum! Ele tinha a clara missão de vencer Midiã. Agora Gideão tinha de agir, pois Deus lhe havia ordenado isso.
  2. O Espírito de Deus veio sobre Gideão (v. 34). Se, por um lado, Deus apresenta a ocasião, por outro, também dá toda a força e os recursos necessários. Assim, a pessoa pode levar a cabo com fidelidade a missão que lhe é dada. Isso foi o que aconteceu com Gideão: o Espírito de Deus veio sobre ele, e, com esse poder, Gideão pôde dar o primeiro passo. O fato de o Espírito de Deus tê-lo habilitado deveria ter tornado muito evidente de que, agora, lhe competia pôr-se em marcha.
  3. Tocar a trombeta teve um resultado (v. 34). Com o poder do Espírito de Deus, Gideão tocou a trombeta e viu o resultado que isso gerou. Primeiro, os homens do entorno (os abiezritas) vieram a ele; a seguir, os de Manassés, Aser, Zebulom e Naftali fizeram o mesmo. De boa vontade, ouviram o chamamento da trombeta e se reuniram com Gideão. Isso também era uma obra de Deus claramente reconhecível.

Nessa cena, a trombeta representa a Palavra de Deus. Quando Deus dá o poder de Seu Espírito para uma missão, também opera por meio de Sua Palavra. Ela produzirá resultado nos corações e confirmará o servo do Senhor como instrumento por meio do qual Ele deseja operar. Gideão experimentou isso, e ocorre o mesmo em nosso tempo. Se um servo comunica no momento certo a mensagem apropriada da Palavra de Deus, o efeito se manifestará.

Esses três acontecimentos não eram suficientes para que Gideão, confiando na ajuda de Deus, executasse a missão que havia recebido do próprio Deus? Ainda precisava de mais confirmações?

Gideão pede um sinal

Compreendemos muito bem que Gideão estava temeroso frente a enorme superioridade de seus inimigos. Mas também constatamos que os sinais não lhe deram mais segurança. Depois de Deus ter-lhe respondido claramente à primeira solicitação de um sinal, Gideão pediu um segundo. Não se sentiu mais seguro com o primeiro sinal. Mesmo depois de ter visto os dois sinais, Gideão continuou assustado. Suas mãos só se fortaleceram quando Deus o socorreu (7.9-14). Somente depois disso Gideão adorou e pôde empreender o combate com valentia e força.

Sem julgar Gideão, vemos que não é necessário, nem sequer útil, pedir sinais. Deus se mostrou misericordioso para com Gideão. Não reprovou Seu servo em nada e lhe permitiu ver a realização de seus rogos. No primeiro sinal, não lhe deu apenas um pouco de água no velo, mas uma medida transbordante, uma taça cheia de água. E no segundo sinal, não lhe deu apenas um pouco de água sobre a terra, mas “sobre toda a terra havia orvalho” (6.40). Essa é a soberana graça de Deus, da qual somente podemos nos maravilhar; mas, ao mesmo tempo, não ignoremos o fato de que faltou a confiança e o poder da fé a Gideão. Estejamos seguros de que Deus quer nos guiar mediante Seu Espírito ao nos dar Sua paz em nosso coração para a decisão correta. Não devemos exigir nem pedir sinais; com isso não ganhamos nada no processo de decisão. Isso vale ainda mais para nós, [cristãos], porque temos o Espírito de Deus morando em nós, diferentemente de Gideão, que era um crente do Antigo Testamento. Seria um desprezo a Deus se nos deixássemos dirigir por sinais exteriores em vez de deixar que Seu Espírito trabalhe em nós.

Como Deus deixa Sua vontade clara para nós

Freqüentemente perguntamos qual é a vontade de Deus para nossa vida. Alguns cristãos se perguntam durante toda a vida qual tarefa Deus preparou para eles (Ef 2.10) Quem permanece nesse estado provavelmente continuará se perguntando isso até o leito de morte. Nesse caso, o tempo em que podia ter cumprido a vontade de Deus terá sido gasto infrutuosamente. Mas Deus põe muitas tarefas diante de nós. Se estivermos dispostos a cumpri-las, Ele nos ajudará a reconhecer a tarefa essencial que tem preparada para nós. Considerando a vida de Gideão, vamos resumir como Deus deixa Sua vontade clara.

  1. Deus havia preparado Gideão para uma missão. Gideão conhecia os pensamentos de Deus com respeito a seu povo (Jz 6.13) e usava toda a sua energia para obter alimento (v. 11). Se nos ocuparmos com a Palavra de Deus, conheceremos os caminhos que Deus quer ensinar aos Seus e encontraremos no Senhor Jesus, o verdadeiro trigo, o alimento para a nova vida. Isso propiciará crescimento espiritual e nos preparará para conhecer cada vez mais a vontade de Deus para nossa vida.
  2. Deus falou a Gideão por meio de Seu anjo, ensinou-lhe a tarefa que deveria realizar e lhe mostrou os recursos para cumpri-la (vv. 14-16). Do mesmo modo, Deus falará conosco, por meio de Sua Palavra e de Seus servos, a fim de mostrar-nos o que deseja para nossa vida.
  3. Deus encontrou Gideão e lhe deu Sua paz (vv. 23,24). Essa paz (ou tranqüilidade) na comunhão com Deus lhe permitiu reconhecer a vontade específica de Deus e cumpri-la. Para nós também essa paz na comunhão com Deus é decisiva. “Desejo verdadeiramente cumprir a vontade de Deus?”
  4. Gideão recebeu uma tarefa para desempenhar diretamente em seu entorno, na casa de seu pai (v. 25). Cumpriu essa tarefa com fidelidade, ainda que tivesse medo dos homens. Em nossa caso também, esse é o caminho para progredir em reconhecer a vontade de Deus. Ele nos mostra coisa em nossa vida e em nosso entorno o que podemos fazer para Ele. Também nos mostra as coisas que devemos pôr em ordem para Lhe podermos ser úteis. Se estamos dispostos a obedecer a Deus nessas coisas, então, continuaremos crescendo espiritualmente e reconheceremos Sua vontade em outras situações da vida.
  5. Deus dirigiu a situação de maneira que os inimigos se reuniram. Assim, ficou claro para Gideão que havia chegado o momento e a necessidade de cumprir a tarefa. Deus também proporcionará situações assim em nossa vida.
  6. O Espírito de Deus veio sobre Gideão. Também a nós Deus quer igualmente guiar por Seu Espírito. O Espírito Santo, que hoje vive permanentemente em cada crente, nos mostra os pensamentos de Deus, nos ajuda a entender a Bíblia, a Palavra de Deus, opera em nós e nos guia passo a passo. Estamos dispostos a tirar todos os obstáculos para ser cheios Dele (Ef 5.18)?
  7. Por fim, Gideão tocou a trombeta e viu que, por meio disso, o povo se reuniu. Em sentido figurado, experimentou que a Palavra de Deus opera. Em nossa vida, também experimentamos – se lemos a Palavra de Deus e a aplicamos – como operar essa Palavra, a saber, em nossa própria vida e em nosso entorno.

Esses são alguns dos meios pelos quais Deus, por princípio, quer nos mostrar Sua vontade hoje. Temos notado que, por um lado, é importante estar preparados para reconhecer a vontade de Deus e, por outro, que há indicações concretas pelas quais distinguimos o bom caminho e o momento apropriado.

Para conhecer a vontade de Deus, não existe uma receita-padrão nem nos chegará diretamente uma voz ou uma carta do céu1. Os sinais exteriores, quando se manifestam, só são úteis em casos muito raros. É o que vemos no caso de Gideão e o velo. Sem dúvida, ainda hoje podemos experimentar que Deus nos mostra claramente Sua vontade se Lhe pedimos francamente e se temos a atitude correta em relação a Ele.

(Ch. Rosenthal, de Folge mir nach, 7/2014)

Conhecer a vontade de Deus

É muito natural para cada crente buscar e conhecer a vontade do Senhor. Sem essa ajuda e segurança interior, o cristão se sente perdido. Por isso, é para Ele uma verdadeira necessidade conhecer a vontade do Senhor antes de agir. Essa é a teoria. Lamentavelmente, a prática, com muita freqüência, é diferente.

No entanto, é de grande importância não fazer nada sem a dependência de nosso Deus. Dois versículos da Bíblia mostram isso: “Para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). “Nós também […] não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual, para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo” (Cl 1.9,10).

Os pontos a seguir foram compilados por vários jovens após uma reunião compartilhada com eles.

Algumas condições

  1. Estar sinceramente disposto a obedecer à vontade de Deus, mesmo quando preferiríamos que ela fosse diferente. “Se alguém quiser fazer a vontade Dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus” (Jo 7.17).
  2. Uma atitude dependente de Deus.
  3. Estar disposto a esperar até que haja clareza. “Aquele que crer não se apresse” (Is 28.16).

Alguns impedimentos

  1. A decisão já havia sido tomada e pedimos a Deus que nos dirija. “E Ele lhes cumpriu o seu desejo” (Sl 106.15).
  2. Falta de fé. “Peça […] com fé, em nada duvidando; porque o que duvida […] Não pense […] que receberá do Senhor alguma coisa” (Tg 1.5-7).
  3. Motivos impuros. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4.3).
  4. Falsas expectativas. “Nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel” (Lc 24.21).
  5. Impaciência. Leia 1Samuel 13.8-11.
  6. Falta de comunhão com Deus por causa de um pecado não julgado. Leia Provérbios 28.9; Salmo 66.18.
  7. Relacionamento desordenado com irmãos na fé. “Vai reconciliar-te primeiro com teu irmão” (Mt 5.23,24; Mc 11.25).
  8. Comportamento incorreto do marido no matrimônio. Leia 1Pedro 3.7.

Alguns auxílios

  1. O Espírito Santo
  2. Buscar a vontade de Deus em Sua Palavra, a Bíblia (com constância e perseverança).
  3. Orar sinceramente para ser dirigido e guiado, também nos pormenores da vida cotidiana.
  4. O conselho de irmãos espirituais (ainda que não digam sempre o que se quer ouvir).
  5. O conselho dos pais.
  6. As circunstâncias se desenrolam de maneira positiva? “Uma porta grande e eficaz se me abriu” (1Co 16.9).
  7. A paz interior na decisão.
  8. A oração de outros irmãos espirituais pelo assunto. Leia Daniel 2.17,18.

Perguntas de auto-análise

  1. É permitido? “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm” (1Co 10.23).
  2. É útil? (V. 23, primeira parte.)
  3. Edifica? (V. 23, segunda parte.)
  4. Serve para o bem de meu próximo? “Ninguém busque o proveito próprio; antes, cada um o que é de outro” (vv. 24,33).
  5. Posso dar graças a Deus por isso? “Eu com graça participo […]” (v. 30).
  6. É para a glória de Deus? “Fazei tudo para glória de Deus” (v. 33).
  7. Sou uma pedra de tropeço, motivo de escândalo? “Não deis escândalo” (v. 32).
  8. Nisso sou um imitador do Senhor Jesus e de Paulo? “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo” (11.1).

(De Folge mir nach, 06/1996)

Nota

1Sobre isso, diz Augustus Nicodemus: “Quer ouvir Deus? Leia a Bíblia. Quer ouvir Deus audivelmente? Leia a Bíblia em voz alta.” (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 05-06/2015, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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“No horto com Ele”

Você esteve com Ele no horto? E depois, negou-O?

Quando Moisés se aproximou da sarça ardente, ouviu a voz de Deus que dizia: “Tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa” (Êx 3.5). Quanto mais o horto [jardim] do Getsêmani é para nós uma terra santa, da qual só podemos nos aproximar até certa distância, com toda reverência e adoração!

Às margens do Jordão, Jesus, olhando para ele, disse a Seu futuro discípulo: “Tu és Simão […] tu serás […] Pedro” (Jo 1.42). E, desde aquela pesca miraculosa, durante a qual reconheceu ser um pecador, Simão, transformado em Pedro, seguiu a Jesus (Lc 5.8-11).

“Como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1). Jesus ia lavar os pés de Seus discípulos, mas Pedro se opôs a isso. Então, Jesus teve de dizer-lhe: “O que Eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois. […] Se Eu te não lavar, não tens parte Comigo. […] Não podes agora seguir-me” (vv. 7,8,36). Pedro não estava disposto a reconhecer sua ignorância nem sua incapacidade: “Por que não posso seguir-Te agora? Por Ti darei a minha vida” (v. 37), disse ele.

Jesus “saiu com os Seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto” (18.1). Tal como havia feito no momento da ressurreição da filha de Jairo e no monte da transfiguração, Ele tomou Consigo apenas três discípulos: Pedro, Tiago e João. Naquela noite, com certeza eles lembraram do quarto onde a jovem havia sido devolvida a seus pais ou da montanha onde Moisés e Elias haviam falado com o Senhor Jesus acerca da morte que ia sofrer a seguir em Jerusalém. Desta vez, porém, não era o poder de ressurreição nem a visão da glória futura que estava diante dos três discípulos, mas um homem afligido e angustiado: “Minha alma está profundamente triste até a morte” (Mc 14.32,33). Jesus lhes pediu que vigiassem e orassem; enquanto isso, Ele “apartou-se deles cerca de um tiro de pedra” (Lc 22.41), ou seja, a distância da qual um pastor pode lançar uma pedra até a ovelha que se desgarra, para fazê-la voltar ao rebanho.

Era a noite da Páscoa; havia, portanto, lua cheia. Sob sua luz, os discípulos puderam distinguir seu Mestre de joelhos, orando. Depois, dormiram. Como antes, no Moriá, o Pai e o Filho estavam a sós (cf. Gn 22).

Não obstante, o Espírito de Deus desejou fazer-nos entrar, mesmo que só um pouquinho, na angústia do combate que a alma do Salvador teve que sofrer nessa hora suprema. Primeiramente, Ele pediu ao Pai: “Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres” (Mt 26.39). Depois de ter voltado aos discípulos e encontrá-los dormindo, afastou-se uma vez mais e orou de novo: “Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade” (v. 42). A seguir, voltou aos Seus, que continuavam dormindo, mas não lhes disse nada. Orou pela terceira vez, pronunciando as mesmas palavras.

Pedro havia sido despertado pela voz que dizia: “Simão, dormes? Não podes vigiar uma hora?” (Mc 14.37). Mas voltou a dormir. Depois da terceira oração, Jesus lhes disse: “Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores” (v. 41). O único momento em que Pedro poderia ter vigiado junto a seu Mestre no horto havia sido desperdiçado para sempre.

Podemos ter estado “no horto com Ele” e, apesar disso, pouco depois, esquecê-Lo e até mesmo negá-Lo.

Um instante depois, o Getsêmani foi invadido por Judas à frente de “grande multidão com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo” (Mt 26.47). Pedro viu o traidor beijar Jesus. Ouviu a voz amada dizer com tristeza a Judas: “Amigo, a que vieste?” (v. 50). Querendo livrar seu Mestre, o discípulo desembainhou sua espada e cortou a orelha de Malco, um servo do sumo sacerdote. Por isso, recebeu a repreensão do Salvador, que, em seguida, tocou a orelha do escravo e a curou (Jo 18.10,11; Lc 22.50,51).

A partir de então, Pedrou seguiu ao Senhor Jesus de longe. Foi introduzido no palácio do sumo sacerdote por João, a quem conheciam (Jo 18.16). Que outra coisa ele podia fazer senão aquecer-se ao lado dos empregados, próximo do fogo que haviam preparado? E ali, um escravo, parente de Malco, perguntou a Pedro: “Não te vi eu no horto com Ele?” (v. 26).

O Senhor queria confiar a Pedro um trabalho importante depois de Sua ressurreição; mas, para que pudesse cumpri-lo, Pedro tinha de aprender a conhecer-se e a perder toda confiança em si mesmo.

Satanás havia pedido que lhe fosse permitido cirandar os discípulos (Lc 22.31). O Senhor havia orado por eles, especialmente por Pedro, que sua fé não desfalecesse. Apesar disso, nesse momento decisivo, todas as lembranças do horto haviam desaparecido da memória de Pedro. Ele só pensava em si mesmo, e negou seu Mestre três vezes.

Especialmente durante o culto e a celebração da Ceia, memorial da morte do Senhor, podemos ter estado “no horto com Ele” e, apesar disso, pouco depois, esquecê-Lo e até mesmo negá-Lo.

Não confiemos em nossas próprias forças! O Senhor disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14.38).

(G. André)

O Senhor queria confiar a Pedro um trabalho importante depois de Sua ressurreição; mas, para que pudesse cumpri-lo, Pedro tinha de aprender a conhecer-se e a perder toda confiança em si mesmo. Apesar de seu zelo e de seu grande amor, todo o poder de que necessitava para seu trabalho tinha de vir do Senhor. Ele devia ter-se dado conta disso quando Jesus o advertiu, mas não entendeu assim e teve de passar por uma lição dolorosa. Uma vez que a aprendeu, Pedro pôde ser útil a seus irmãos. Pôde fortalecê-los, mostrando-lhes, por experiência própria, que, ainda que tivessem as melhores intenções, alguém só pode estar no serviço de Cristo e fazer frente ao poder do inimigo se desconfia completamente de si mesmo. É preciso buscar a força e a sabedoria do Senhor.

(Extraído de Pregações Simples – Lucas, de S. Prod’hom)

 

(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 04/2015, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Leve todas as suas preocupações a Ele – nos braços da fé! (James Smith)

Lançar sobre Ele todo fardo

Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós” (1Pd 5.7).

O Senhor conhece todos os que são de Seu povo, todas as necessidades e todas as provações deles.

O Senhor pensa neles: para abençoá-los, libertá-los e supri-los.

O Senhor mantém Seus olhos sobre eles, em todos os lugares, em todos os momentos e em todas as circunstâncias.

Ele os tem em Sua mão, e não irá afrouxá-la.

Ele olha para eles sempre como Sua própria “propriedade peculiar”…
os objetos de Seu amor eterno,
a aquisição do sangue de Seu Filho,
os templos de Seu Espírito Santo.

Eles são preciosos a Sua vista!

Ele sabe que eles são fracos e medrosos – e que eles têm muitos inimigos. Ele lhes ensina a lançarem a si mesmos e a todos os cuidados em Suas mãos! E Ele lhes deu Sua promessa: que irá cuidar deles.

Ele exerce os cuidados de um Pai. É um cuidado sábio, santo, terno e constante. Por isso, tudo estará bem com você se tão-somente confiar Nele.

Creia que Ele cuida de você neste dia. Leve todas as suas preocupações a Ele, nos braços da fé! Deixe tudo com Ele, certo de que Ele irá controlar tudo por meio de Sua infinita sabedoria e trará tudo a um bom resultado por meio de Seu poder onipotente.

Não se preocupe com nada. Lance todas as suas preocupações sobre Ele, tão rapidamente quanto elas vierem.

“Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá. Não permitirá jamais que o justo seja abalado” (Sl 55.22).

 


(Traduzido por Francisco Nunes do livro The Pastor’s Morning Visit [A visita matinal do Pastor]. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Constante prontidão (Sarah Foulkes)

Prontidão constante para a volta do Senhor

A hora não avisada do retorno de nosso Senhor torna imperativa a constante prontidão.

Como um profeta predizendo Seu próprio advento, nosso Senhor dá a Seus discípulos advertências enfáticas e incisivos alertas para a prontidão vigilante (Mt 24; 25). Vigiai […] para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai” (Mc 13.36,37). Falando como alguém com autoridade, nosso Senhor começa e termina esse solene alerta sobre Sua vinda com a ordem simples e explícita para vigiar!

Cristãos que estão realmente se preparando para a vinda iminente do Senhor estão vivendo hoje na atitude sempre vigilante de coração, de vida e de conduta que brota de um constante e predominante objetivo: poderem ser considerados dignos de escapar do julgamento de ira que virá rapidamente no fim desta era.

Lucas 21.34-36 torna surpreendente e evidente que a transladação é um escape do julgamento. Muitos estão dando como certo que estão prontos para fugir. Quão presunçosa é sua suposição quando contrastada com o exemplo na Escritura apresentado por Paulo! Em antecipação, ele escreve aos filipenses: “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus […] Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (3.12,14).

Paulo viveu sua experiência cristã diária como um homem em uma corrida com o propósito em vista de ganhar o prêmio. Na corrida, ele se despojou de si mesmo por causa da coroa reservada para todos os que venceram e viveram piedosamente em Cristo Jesus (Ap 12.11). Assim, Paulo pôde dizer: “Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo” (2Co 2.14). Para que pudesse ser um vencedor e não uma vítima de suas circunstâncias, Paulo colocou coração e alma em sua experiência cristã. Ele forçou cada nervo, dispôs cada músculo para alcançar aquilo para o que Cristo o havia ganho. Não muito tempo antes de partir, ele evidentemente atingiu a soberana vocação de Deus em Cristo, pois disse: “O tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (2Tm 4.6-8). Que certeza arrebatadora Paulo tinha! E ela pode ser nossa, se nós, como Paulo, buscarmos as superações que nos fazem mais do que vencedores sobre o mundo, a carne e Satanás.

As palavras vigiar e orar estão constantemente nos lábios de nosso Senhor quando alerta sobre Sua súbita volta como ladrão.

Enoque foi trasladado porque tinha o testemunho de que agradara a Deus. “A inclinação da carne [ou mente carnal] é inimizade contra Deus” (Rm 8.7). Podemos, portanto, esperar andar com Deus e agradá-Lo enquanto temos qualquer carnalidade, liberdade da carne, mundanismo em nós? “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais […] Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (1Co 3.1,3).

As palavras vigiar e orar estão constantemente nos lábios de nosso Senhor quando alerta sobre Sua súbita volta como ladrão. Todo o ensino, toda a pregação, toda a atividade que anula o aviso solene do Senhor a Seu povo de que deve cuidar de si mesmo e vigiar e orar sempre tornam o povo perigosamente desavisado. Essa é a razão pela qual muitos cristãos hoje estão caminhando despreocupadamente, como se estivessem indo a um piquenique, quando, como uma questão de fato, estamos na própria hora da vinda e do julgamento começar em Seu Santuário. O arrebatamento em si é um sinal do julgamento sobre aqueles que foram deixados. Daí, toda a estratégia de Satanás é impedir a vigilância e a atitude de alerta que o Senhor tão solenemente aconselhou.

E não o perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um e deixado o outro […] Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” (Mt 24.39-42).

Tem sido dito que a única diferença entre os que o Senhor toma na transladação e os que são deixados para os últimos julgamentos sobre Terra é a diferença de prontidão vigilante. Em seus últimos discursos, nosso Senhor procurou despertar com exortações a vigilância do discípulo não-vigilante, o o pai de família roubado e o mordomo infiel (caps. 24 e 25).

Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (25.13). Cristo sempre ressaltou muito a necessidade de estarmos sempre prontos. “Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor […] Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando!” (Lc 12.35-37).

Estamos às portas da volta de Cristo. Cada tique-taque do relógio nos aproxima disso. A escuridão da meia-noite da terra está espalhando. A vinda do Noivo está próxima. Então, Sua noiva está se aprontando. O espírito do anticristo está espalhado pelo mundo. A grande tribulação está lançando suas sombras diante de nós. Cristãos, olhem para cima! Estejam imediatamente prontos, vigilantes, atentos. “Já é hora de despertarmos do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado” (Rm 13.11,12).

Um movimento espiritual quase imperceptível está operando no coração de todos os verdadeiros crentes que separam o ouro da escória, o real do irreal, o precioso do vil, o joio do trigo. Ele vem como um silêncio sagrado sobre a alma, a sombra da Presença que se aproxima.

Ele vem quando não esperamos. Não haverá nenhum aviso.

Cristo está vindo! Esteja pronto para quando Ele vier. Separe-se da indulgência do mundo. Desembarace-se de sua imersão nos negócios dessa vida. Vigie e ore sempre! Um cristão carnal não pode ser vigilante. Nós só podemos vigiar se nos mantivermos despertados espiritualmente. A palavra vigiar significa ser espiritualmente despertado, estar em alerta constante. “Eu dormia, mas o meu coração velava. E eis a voz do meu amado que está batendo: ‘Abre-me, minha irmã, meu amor, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos, das gotas da noite’” (Ct 5.2).

Ele vem quando não esperamos. Não haverá nenhum aviso. “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mt 24.27). Um rápido e cegante refulgir, e o vigilante vai estar com o Senhor. O não-vigilante, de acordo com as próprias palavras de nosso Senhor, não vai escapar dos últimos julgamentos sobre a terra (Lc 21.34-36).

O espírito do homem é a lâmpada do Senhor” (Pv 20.27). Em Sua parábola das virgens, nosso Senhor revela que haverá um reavivamento de preparar as lâmpadas às vésperas de Sua volta. Quanto tempo leva para preparar-se uma lâmpada? O sábio só tem tempo para preparar sua lâmpada, não para enchê-la, antes que a porta seja fechada. Encher exige constante e vigilante preparação do coração, da vida e dos lábios a fim de fazer-nos e manter-nos prontos para encontrar e saudar o Amado de nossa alma quando Ele, todo glorioso, vier para receber os “aceitos no Amado”.

Um não-abandonado pecado conhecido, uma ordem conhecida desobedecida, uma conhecida verdade não-crida, uma parte da vida conscientemente não-submetida, e nós estamos em perigo. As últimas sombras estão caindo sobre o mundo e, portanto, em sua vida. No entanto, você não está pronto. Mas há tempo para alcançar a vitória antes do sol se por. Seu Juiz vindouro é seu Salvador hoje” (The Midnight Cry).


(Traduzido por Francisco Nunes de “Constant Readiness”. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Sobre oração

Não é tanto uma questão de tempo disponível como uma questão de coração. Se no coração quiseres orar, acharás tempo de fazê-lo.

(C. H. Spurgeon)

A melhor oração, com freqüência, tem mais gemidos do que palavras.

(John Bunyan)

Eu espero em Deus, continuo orando, e aguardo a resposta. Eles ainda não se converteram, mas vão.

(George Mueller. Ele começou a orar por cinco amigos seus. Depois de vários meses, um deles veio ao Senhor. Dez anos depois, dois outros se converteram. Demorou 25 anos antes de o quarto amigo ser salvo. Até morrer, Mueller perseverou em oração pelo quinto amigo, e por 52 anos jamais desistiu de esperar que ele aceitasse a Cristo! Sua fé foi recompensada: depois de Mueller ter sido enterrado, o último dos amigos foi salvo.)

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Como orar?

Aprender a orar

“Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus; e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista. E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo 3.21,22).

A Palavra de Deus contém numerosas exortações concernentes à oração, mas nós as escutamos? Nós as colocamos em prática? E, se o fazemos, por que tiramos tão pouco proveito dela? Seguramente, todos temos experimentado algumas vezes que, depois de orar, erguemo-nos sem gozo no coração, com os mesmos sentimentos de antes. Se isso tem acontecido, é porque não sabemos orar. Talvez o tenhamos feito por rotina, rapidamente, sem tomarmos consciência da presença de Deus.

Como podemos remediar essa situação tão ruim para nosso progresso espiritual? Para saber como, é preciso conhecer as condições para a oração cristã. Aqui falarei de apenas três, que me parecem muito importantes.

Ter presente a grandeza e a santidade de Deus

A primeira condição consiste em saber a quem nos dirigimos. Nos países monárquicos, quando um súdito tem a honra de falar com seu rei, ele o faz com respeito, pesando cada uma de suas palavras, sem esquecer por nenhum instante diante de quem se encontra.

Com muito mais razão, quando orarmos, lembremos que Aquele a quem temos o privilégio de nos dirigirmos é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. É aquele que criou o universo, no qual a Terra, que nos parece tão grande, não é nada mais que um grão de pó. Lembremo-nos também de que diante Dele os serafins exclamam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3). Em resumo, concentremo-nos em Sua grandeza e santidade; assim, evitaremos distrair-nos ou agir com leviandade em Sua presença.

Se nos deixamos guiar pelo Espírito e se, mediante a Palavra de Deus, aprendemos a conhecer Seus pensamentos, saberemos orar como Ele quer

Julgar-nos

A segunda condição é saber julgar-nos a nós mesmos. O grande obstáculo que nos priva da comunhão com o Senhor é a carne, o “velho homem” que está em nós. Sem uma comunhão profunda não pode haver orações verdadeiras. Comecemos, pois, confessando ao Senhor tudo o que naquele momento nos separa Dele: aquela cobiça que nos mancha, aquele pensamento orgulhoso, aquela atitude egoísta ou colérica, assim como as faltas que nos parecem insignificantes. Confessemos tudo isso a Ele. Façamos um juízo severo sobre nós, com uma sincera humildade, profundamente compenetrados de nossa miséria natural e de que não somos nada diante Dele, que é tão grande e santo. Então, a comunhão se estabelecerá entre nossa alma e Deus. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça” (1Jo 1.9). Com efeito, ao Deus Todo-poderoso e santo nós também conhecemos como Pai, um Pai cheio de amor e de misericórdia.

Deus se revela por meio da Bíblia

A terceira condição consiste em acompanhar a oração com a leitura de uma passagem da Palavra de Deus. Nas Escrituras, Deus se revela a nós. Portanto, nós a lemos no momento de orar para que Seu Espírito nos encha e possamos conhecer Sua vontade. Há muitos cristãos que oram mal porque oram com uma disposição de coração puramente humana, ou porque o fazem como certos místicos em êxtase, que a consideram como uma influência divina. Tais orações não são segundo Deus. “Também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Se nos deixamos guiar pelo Espírito e se, mediante a Palavra de Deus, aprendemos a conhecer Seus pensamentos, saberemos orar como Ele quer. Somente Lhe pediremos o que Ele queira nos dar, tendo sido despojados de nossa própria vontade e estando inteiramente submissos à Dele, que é santa, qualquer que ela seja. “Se vós estiverdes [permanecerdes] em mim, e as minhas palavras estiverem [permanecerem] em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).

Se essas três condições essenciais se cumprirem todas as vezes em que nos dirigirmos a Deus, nossas orações serão eficazes, nossa vida estará cheia de gozo, de certeza, e nosso testemunho poderá ser uma bênção para os que nos rodeiam. Porque o fato de alegrar-nos verdadeiramente da comunhão com o Senhor produz um efeito em nossa vida cotidiana. “Reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (At 4.13) – isto foi dito de Pedro e João. Que seja realidade também para cada um de nós.

(Ch. F.)

“As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4.6,7).

“Esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos” (1Jo 5.14,15).

Essas passagens nos lembram primeiramente aquele em quem cremos (2Tm 1.12). Nossa fé se apoia nas promessas. Mas o valor de uma promessa está ligado à natureza de quem a fez. Pedro fala de “grandíssimas e preciosas promessas” (2Pe 1.4), pois é um grande Deus quem as fez, e elas têm Cristo como garantia, precioso para o coração de Deus e do crente.

A vontade divina – boa, agradável e perfeita – molda nosso entendimento e nos conduz a fazer petições sábias, de modo que possam ser ouvidas por Deus. Entre os versículos 14 e 15 de 1João 5 é possível que transcorra certo tempo, apropriado para exercer a paciência da fé. Mas a fé tem o privilégio de considerar a coisa pedida como já outorgada. Os verbos nos versículos estão no presente: desde o momento em que a petição foi apresentada, sabemos que temos as coisas que pedimos.

(J. K.)

(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 09/2014, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito.)

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J. C. Ryle Oração

Oração que alcança Deus (J. C. Ryle)

Quero me dirigir àquelas pessoas que oram. Creio que alguns leitores deste artigo já têm o Espírito de adoção e sabem bem o que significa a oração. Para tais pessoas, ofereço apenas algumas palavras de conselho e exortação fraternal. Deus ordenou que o incenso oferecido no tabernáculo fosse preparado de maneira muito específica. Não poderia ser qualquer tipo de incenso. Lembremo-nos disso e sejamos cuidadosos com a nossa maneira de orar.

Em primeiro lugar, então, chamo a sua atenção para a importância da reverência e da humildade na oração. Nunca nos esqueçamos daquilo que realmente somos e de como é sério falar com Deus. Tenhamos cuidado para não entrar correndo na sua presença de forma irrefletida e leviana. Digamos antes para nós mesmos: “Estou em terra santa. Aqui não é outro lugar senão a própria porta do céu. Se eu não estiver falando com sinceridade, estarei brincando com Deus. Se eu contemplar iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá” (Êx 3.5; Gn 28.17; Sl 66.18).

Observemos as palavras de Salomão: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra” (Ec 5.2). Quando Abraão se dirigiu a Deus, ele disse: “sou pó e cinza” (Gn 18.27). De maneira semelhante, Jó disse: “Sou indigno [ou vil]” (Jó 40.4). Tenhamos a mesma atitude.

Chamo a sua atenção, em seguida, para a importância de orar espiritualmente. Com isso, quero dizer que devemos buscar sempre a ajuda do Espírito nas nossas orações e vigiar, sobretudo, contra a formalidade. Não há nada tão espiritual que não possa transformar-se numa fórmula mecânica, especialmente em se tratando de oração individual. É muito fácil formar o hábito inconsciente de usar as palavras mais adequadas possíveis e oferecer petições totalmente bíblicas e, ao mesmo tempo, fazer de tudo isso uma mera rotina sem qualquer sentimento interior, repetindo diariamente os mesmos passos no mesmo caminho batido.

Quero tocar neste ponto com cautela e delicadeza. Sei que há certas necessidades que aparecem na nossa vida diariamente; não significa necessariamente que estou sendo formal porque peço as mesmas coisas com as mesmas palavras. O mundo, o diabo e o nosso coração são iguais todos os dias. É necessário pisar diariamente no mesmo terreno. Contudo, quero reafirmar que devemos ser muito cuidadosos neste ponto. Se o esqueleto e o esboço das orações precisam ser repetidos a ponto de se tornarem praticamente uma fórmula, esforcemo-nos para que a roupagem e o conteúdo delas sejam sempre gerados pelo Espírito, no máximo possível.

Considere, também, a importância de fazer da oração uma atividade regular da vida. Cabe aqui dizer algo sobre o valor de ter horários fixos no dia reservados para a oração. Deus é um Deus de ordem. O fato de ter uma hora certa para o sacrifício da manhã e o da tarde, no templo dos judeus, não era um detalhe insignificante. A desordem é um dos frutos mais notórios do pecado. Ao mesmo tempo, não estou sugerindo nenhum tipo de obrigação opressiva. Só quero afirmar isto: é essencial para a saúde do homem interior incluir a oração como parte imprescindível de sua atividade em cada ciclo de vinte e quatro horas da sua vida.

Assim como você reserva um horário para comer, para dormir e para trabalhar, separe igualmente um tempo para a oração. Escolha seu próprio horário no dia a dia e faça-o, também, em ocasiões especiais. Fale com Deus, ao menos no primeiro instante do dia, de manhã, antes de falar com o mundo; e fale com ele à noite, depois de encerrar seu contato com o mundo. Determine em sua mente que a oração é uma das atividades mais importantes do seu dia a dia. Não a relegue para um lugar secundário. Não lhe dê as sobras do seu tempo nem as pontas das outras obrigações. Sejam quais forem as demais atividades prioritárias de sua vida, coloque a oração como uma delas.

Considere agora a importância da perseverança na oração. Uma vez iniciado o hábito, nunca desista dele. O seu coração poderá lhe dizer algumas vezes: “Você já orou com a família; que grande mal haveria em deixar de fazer sua oração pessoal?”. Outras vezes, seu corpo poderá reclamar: “Você não está sentindo bem, está com sono, cansado; não precisa orar”. A sua mente tentará argumentar: “Você tem negócios importantes para tratar hoje; encurte as orações”. Encare todas essas sugestões como procedentes diretamente de Satanás. Elas estão passando, com efeito, esta mensagem: “Negligencie a sua alma”.

Não estou defendendo que as orações devam ter sempre a mesma duração; quero encorajá-lo apenas a nunca permitir que desculpa alguma o faça desistir de orar. Paulo disse: “Perseverai na oração” e “Orai sem cessar” (Cl 4.2; 1 Ts 5.17). Ele não estava dizendo que todos deveriam estar o tempo inteiro de joelhos, mas exortava os discípulos para que suas orações fossem como os holocaustos contínuos, mantidos regularmente todos os dias; que fossem tão constantes quanto o tempo de semeadura e de colheita, de inverno e verão, despontando infalivelmente em ocasiões regulares; que se tornassem como o fogo do altar, o qual, mesmo quando não consumia sacrifícios, nunca se apagava completamente.

Mantenha sempre em mente que você pode formar uma corrente ininterrupta, ligando as orações matutinas com as da noite, por meio de pequenas orações e súplicas oferecidas ao longo do dia. No lugar em que estiver, seja no trabalho, seja com outras pessoas ou até mesmo na rua, você pode disparar silenciosamente pequenas mensagens a Deus, como flechas voadoras, assim como fez Neemias quando estava diante do próprio rei Artaxerxes (Ne 2.4).

Pense agora na importância da intensidade na oração. Não é uma questão de gritar, berrar ou falar muito alto a fim de provar que sua oração realmente é intensa. Significa que devemos ter entusiasmo, fervor e paixão, que nossas súplicas devem ser feitas com uma demonstração clara de que estamos envolvidos de coração naquilo que estamos pedindo. É a oração “fervorosa e enérgica” que “muito pode por sua eficácia” (Tg 5.16).

É essa lição que nos é ensinada pelas expressões usadas nas Escrituras para descrever a oração. Orar é “clamar, bater na porta, afadigar-se, empenhar-se, labutar, lutar, guerrear”. É também a lição que aprendemos com os personagens da Bíblia. Jacó foi um deles. Ele disse para o anjo em Peniel: “Não te deixarei ir se me não abençoares” (Gn 32.26). Daniel foi outro. Ouça como ele suplicou diante de Deus: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, pelo amor de ti mesmo, ó Deus meu” (Dn 9.19). Nosso Senhor Jesus Cristo demonstrou isso também. Está escrito a respeito dele: “Nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas…” (Hb 5.7).

Lamentavelmente, a maioria das nossas súplicas não possui quase nada dessa intensidade! Como parecem inofensivas e mornas em comparação! De fato, Deus poderia perfeitamente dizer a muitos: “Vocês não querem de verdade aquilo que estão pedindo”.

Vamos nos empenhar para corrigir esse erro. Vamos bater com força na porta da graça, assim como fez a Misericórdia naquele clássico, O Peregrino, como se fôssemos perecer caso não fôssemos ouvidos. Deixemos esta verdade bem firme em nossas mentes: orações frias são o mesmo que um sacrifício sem fogo.

Chegamos agora à importância de se orar com fé. Devemos nos empenhar para crer que nossas orações serão ouvidas e que certamente teremos resposta se estivermos pedindo de acordo com a vontade de Deus. Esta é a ordem explícita de nosso Senhor Jesus Cristo: “Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco” (Mc 11.24). A fé está para a oração assim como a pena está para a flecha – sem ela, a oração não acerta o alvo. Em nossas orações, devemos cultivar o hábito de suplicar com base nas promessas de Deus. Podemos tomar algumas promessas e dizer: “Senhor, aqui está o teu compromisso com a tua Palavra. Faze por nós assim como prometeste”. Esse era o hábito de Jacó, de Moisés e de Davi. O Salmo 119 está cheio de petições, feitas “segundo a tua palavra”.

Acima de tudo, devemos cultivar o hábito de esperar respostas às nossas orações. Precisamos ter a atitude de um comerciante que envia seus navios ao mar. Não devemos ficar satisfeitos, a menos que tenhamos algum retorno. Lamentavelmente, há poucos aspectos em que os cristãos falham mais do que neste. Há uma expressão solene de Robert Traill: “Não há maior marca de menosprezo pela oração do que quando as pessoas são indiferentes em relação àquilo que pedem na oração”.

Peço que considere também a importância da ousadia na oração. Há uma familiaridade imprópria nas orações de algumas pessoas que não posso elogiar. Por outro lado, existe uma ousadia santa, que é algo extremamente desejável. Uma ousadia tal qual aquela de Moisés, quando suplicou a Deus para que não destruísse Israel. “Por que”, disse ele, “hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes… Torna-te do furor da tua ira” (Ex 32.12). Refiro-me também à ousadia de Josué, quando os filhos de Israel foram derrotados diante dos homens de Ai: “Então”, disse ele, “que farás ao teu grande nome?” (Js 7.9).

Foi essa ousadia que marcou a vida de Lutero. Uma pessoa que o ouviu enquanto orava disse: “Que espírito, que confiança transparecia até nas expressões do rosto! Seus pedidos eram feitos com reverência e humildade, como faria um suplicante; ao mesmo tempo, falava com esperança e segurança como quem pede a um pai amoroso ou a um amigo”. Foi essa ousadia, também, que caracterizou Bruce, um clérigo escocês do século 17. Diziam que suas orações eram “como dardos disparados para o céu”.

Temo que aqui também falhamos lamentavelmente. Não compreendemos suficientemente os privilégios do crente. Não suplicamos com tanta frequência quanto poderíamos: “Senhor, não somos teu povo? Não é para tua glória que devemos nos santificar? Não é para tua honra que teu Evangelho deve crescer?”

Voltemos nossa atenção, agora, para a importância da plenitude na oração. Não ignoro o fato de que nosso Senhor advertiu os discípulos contra o exemplo dos fariseus, os quais, por pretensão, faziam longas orações. “Orando”, ele instruiu, “não useis de vãs repetições” (Mt 6.7). Por outro lado, também não posso esquecer que ele deixou um claro endosso a longas e intensas devoções quando permanecia a noite toda em oração a Deus. Em todo caso, é pouco provável nos dias de hoje que erremos no extremo de orar demais. Não deveríamos, na nossa geração, ter muito mais receio de estar orando de menos? A quantidade de tempo que os cristãos realmente separam para oração, individualmente ou em conjunto, não é muito pequena?

Tenho receio de que essas perguntas não possam ser respondidas satisfatoriamente. Temo que as devoções particulares da maioria sejam lamentavelmente escassas e limitadas; só o suficiente para provar que estão vivos, mas nada além disso. Parecem querer muito pouco de Deus. Aparentemente, têm pouco para confessar, pouco para pedir e pouco para agradecer. Que situação lamentável!

É muito comum ouvir os crentes se queixando que não conseguem avançar na vida espiritual. Dizem que não crescem na graça como desejariam. Porém, não poderíamos suspeitar de que possuem exatamente o tanto de graça que pediram do Senhor? O fato verdadeiro não seria que têm pouco porque pediram pouco? A causa de sua fraqueza pode ser encontrada em suas próprias orações que são mirradas, mesquinhas, reduzidas, superficiais, apressadas, abreviadas, acanhadas e vazias. Nada têm porque não pedem (Tg 4.2). A triste realidade é esta: não somos limitados por causa de Cristo, pois os limites estão em nós mesmos (2 Co 6.12,13). O Senhor diz: “Abre bem a boca, e ta encherei” (Sl 81.10). Somos como o rei de Israel que feriu a terra três vezes e parou, quando a deveria ter ferido cinco ou seis vezes (2 Rs 13.14-19).

Veja agora a importância de ser específico na oração. Não devemos nos contentar em fazer petições gerais. Devemos detalhar nossas necessidades diante do trono da graça. Não é suficiente confessar que somos pecadores; precisamos dar nomes aos pecados dos quais nossa consciência nos faz sentir culpados. Não devemos nos dar por satisfeitos quando rogamos ao Senhor por santidade em geral; precisamos mencionar as graças e qualidades das quais nos sentimos mais deficientes. Não é correto apenas contar ao Senhor que estamos em dificuldades; precisamos descrever a nossa situação em todas as suas peculiaridades.

Foi isso que Jacó fez quando teve medo de seu irmão Esaú. Ele contou para Deus exatamente o que temia (Gn 32.11). Foi isso o que o servo de Abraão fez quando foi procurar uma esposa para o filho do seu senhor. Ele expôs diante de Deus exatamente aquilo de que precisava (Gn 24.12). Foi isso, também, o que Paulo fez quando tinha um espinho na carne. Rogou ao Senhor que o afastasse dele (2 Co 12.8). É essa atitude que demonstra fé e confiança verdadeiras.

Devemos acreditar que nada é tão pequeno ou tão insignificante que não possa ser mencionado diante de Deus. O que você acharia de um paciente que fosse ao médico dizer que estava doente, mas não quisesse contar detalhe algum de sua enfermidade? O que você pensaria da esposa que dissesse ao marido que estava infeliz, mas não especificasse a causa? Ou que diríamos do filho que reclamasse ao pai que estava em dificuldades, mas nada além disso?

Cristo é o nosso verdadeiro Noivo, o Médico do coração, o Pai perfeito e amoroso de cada um de nós. Vamos demonstrar correspondência sendo totalmente abertos na nossa comunicação com ele. Não esconda dele segredo algum. Conte-lhe tudo o que está no seu coração.

Considere, agora, a importância da intercessão nas nossas orações. Somos egoístas por natureza, e o nosso egoísmo continua se manifestando em nós, mesmo depois da conversão. Há uma tendência para pensar somente na própria vida, nos próprios conflitos espirituais, no próprio progresso, e de esquecer-se dos outros. Contra essa tendência, todos nós precisamos vigiar e lutar, inclusive nas orações.

Devemos nos empenhar para despertar interesse no nosso coração pelo bem comum. Precisamos desenvolver o hábito de mencionar outros nomes, além do nosso, diante do trono da graça. Procuremos carregar sobre o coração e os ombros o encargo espiritual de todo o mundo, dos pagãos, de judeus, católicos e evangélicos, de toda a Igreja de Jesus, do país onde vivemos, da congregação à qual pertencemos, da casa onde moramos, dos amigos e parentes com quem temos vínculos. Por cada um e por todos, devemos suplicar. Essa é a maior caridade que se possa dar a alguém! Os que me amam orando por mim é que me amam melhor. Orar em favor dos outros traz saúde para a própria alma. Aumenta nossa compaixão e alarga o coração. Traz benefício para toda a igreja.

As engrenagens de todos os ministérios e funções que fazem o Evangelho avançar são movidas por meio da oração. Aqueles que intercedem como Moisés no monte são tão eficazes pela causa do Senhor quanto os que lutam como Josué no calor e no perigo da batalha. Isso é ser semelhante a Cristo. Ele apresenta diante do Senhor os nomes de suas ovelhas, como o Sumo Sacerdote. Que tremendo privilégio é assumir funções semelhantes às de Jesus! É assim que podemos, de fato, apoiar outros ministros do Senhor. Se eu pudesse escolher uma congregação, escolheria um povo que orasse.

Um aspecto que não pode ser esquecido é a importância da gratidão na oração. Sei muito bem que pedir a Deus é uma coisa e louvá-lo é outra. Mas vejo na Bíblia uma conexão tão próxima entre oração e louvor que não teria coragem de dizer que uma oração é verdadeira se não inclui a gratidão. Não foi sem motivo que Paulo disse: “Sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6, ênfase acrescentada). “Perseverai na oração, vigiando com ações de graça” (Cl 4.2).

É pela misericórdia divina que não estamos no inferno. É pela misericórdia que temos a esperança do céu. É pela misericórdia que temos acesso à luz de Deus. É pela misericórdia que fomos chamados pelo Espírito e não abandonados para colher o fruto dos nossos próprios caminhos. É pela misericórdia que ainda vivemos e temos oportunidades de glorificar a Deus, tanto passiva quanto ativamente.

Com certeza, esse tipo de pensamento deve encher nossa mente sempre que falamos com Deus. Nunca deveríamos abrir nossos lábios em oração sem glorificar a Deus pela graça que nos dá a vida, e pela misericórdia e bondade do Senhor que duram para sempre. Nunca houve um grande servo ou serva de Deus que não transbordasse de gratidão. Quase todas as epístolas de Paulo começam com ações de graça. Querido leitor, se quisermos ser luzeiros resplandecentes a brilhar nas trevas da nossa geração, precisaremos cultivar um espírito de louvor. Que nossas orações sejam repletas de gratidão.

Finalmente, peço que considere a importância da vigilância constante sobre sua vida de oração. A oração é o aspecto da vida espiritual, acima de todos os outros, que requer atenção especial. É aqui que começa a religião verdadeira; aqui ela floresce e aqui ela decai. Conte-me como são as orações de alguém, e logo eu lhe direi o estado de sua alma. A oração é o pulso da vida espiritual. Por ela, a saúde espiritual pode ser aferida. A oração é o barômetro espiritual. Por ela, podemos saber se as condições no coração são de tempo bom ou tempo ruim.

Que atenção especial precisa ser dada ao seu tempo individual com o Senhor! Aqui está o coração da nossa vida cristã na prática. Sermões, livros, folhetos, reuniões de diretorias e a companhia de pessoas de bem são elementos importantes, cada um com sua função; entretanto, nenhum deles conseguirá compensar a negligência da oração individual.

Marque muito bem os lugares, as companhias e os ambientes que prejudicam e impedem seu coração de ter comunhão com Deus e fazem com que suas orações se tornem pesadas, sem espontaneidade. Coloque uma vigilância dobrada nestes pontos de sua vida. Observe cuidadosamente que amigos e atividades o deixam mais afinado espiritualmente, mais disposto a falar com Deus. A essas pessoas e a essas atividades você deve se ligar e permanecer firme. Se você cuidar bem de sua vida de oração, as demais áreas da vida dificilmente se desencaminharão.

Ofereço estes pontos para sua consideração pessoal. Faço-o com toda a humildade. Não há ninguém que precise ser mais lembrado deles do que eu mesmo. Mas creio que representam a própria verdade de Deus, e meu anseio é para que eu mesmo e todos aqueles que eu amo os coloquem em prática com intensidade cada vez maior.

(Fonte)

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O esconderijo da Sua força

Há não muito tempo, encontramos uma carta numa antiga revista A Witness and A Testimony1, que foi escrita em janeiro de 1945; e, mesmo sabendo o que, na Inglaterra, as pessoas haviam sofrido nos intensos anos da II Guerra Mundial, parece que a tinta ainda está úmida e isto foi escrito para o Corpo de Cristo ontem.

Amados de Deus,

Que tempo de testes para a fé os santos enfrentam exatamente agora! E que tempo de fúria satânica! O que isso tudo significa? Parece haver somente duas respostas. Ou o Senhor está preparando movimento novo, e talvez final, para a consumação de Seu propósito na terra – o qual requer um estado que irá garantir profundidade, força e permanência, de modo que aquela plenitude real deverá marcar a recolha das colheitas para a glória em Sua manifestação – ou este é o fim de uma fase e o Senhor está vindo para os frutos maduros. Se Apocalipse 12 representa uma situação do fim dos tempos, então há muita coisa aqui que se ajusta com aquilo. As palavras aqui são, sem dúvida, proféticas, pois Apocalipse não foi escrito como história, mas como profecia em sua maior parte, isto é, não o que era passado, mas o que era naquele momento e o que viria a ser. O grande tema desse capítulo é: “Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado” (v. 10; grifos do autor).

Salvação aqui é “livramento de cada calamidade, vitória sobre inimigos, recuperação de doença e libertação do cativeiro”. O reino e a autoridade [poder] aqui referidos são resistidos pelo grande acusador, e uma grande batalha nos céus é travada para lograr o estabelecimento deles [o reino e a autoridade] pela emancipação dos eleitos tirados da esfera do poder de Satanás. Isso não joga luz sobre o teste de fé e o intenso conflito pelo qual os santos estão passando? Aqui está a explicação para as manifestações de resposta à oração há tanto tempo esperadas, as libertações postergadas, a passagem do poder de Deus da esfera temporal para a espiritual em nossa experiência: “O esconderijo da Sua força”.

A combinação de fé testada em relação às coisas visíveis e o intenso conflito na vida espiritual é muito verdadeiro em relação a esse assunto. Conforme clamamos por “salvação” em um ou outra de suas formas, e temos ficado apenas conscientes do conflito e da demora, o acusador vem e levanta perguntas sérias sobre nosso relacionamento com Deus e do relacionamento de Deus conosco. É a velha pergunta: “Se és Filho de Deus…” Assim, nós somos derrubados, ele acusa e busca fazer-nos aceitar que fomos colocados de lado, que fomos dispensados, que Deus não tem mais o que fazer conosco. O triunfo sobre isso é por testemunhar contra ele por meio do sangue do Cordeiro, pela declaração de nosso testemunho e pela eliminação do interesse próprio e de não amar-preocupar-se com a vida até a morte. O resultado é que ele é derrubado, e isso é a natureza e o objetivo da provação e da batalha. Que imensa questão está amarrada a uma pequena palavra: se. “Se… então, por quê?” Essa foi a pergunta de Gideão. Que foi apresentado a Cristo.

Mas, louvado seja Deus, o fim é revelado: o acusador é derrubado e o reino, o poder, a autoridade de Deus e de Seu Cristo são vistos chegando. Apesar de não querermos sugerir que um complexo-de-satanás deva ser desenvolvido, queremos instar que uma olhada para além das coisas, para a parte e o lugar dele nelas, será uma grande libertação da paralisia das próprias coisas. Quer estejamos vivos para isso ou não, “temos que lutar […] contra as hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12; grifo do autor), e somente quando atacarmos as forças espirituais por trás das coisas, na infinita virtude do sangue do Cordeiro, poderemos permanecer de posse da chave da situação. Mas vamos lembrar do valor do “eles” (Ap 12.11). É necessária uma ação coletiva, e nós precisamos tomar com muito mais seriedade a oração unida contra as forças espirituais. Assim, qualquer que seja o significado imediato da presente experiência, a necessidade é a mesma: um povo com força espiritual para levar à derrubada de Satanás, ou em situações e posições específicas ou na sua expulsão final das regiões celestiais.

Que o Senhor nos fortaleça com poder para essa batalha que, conforme Ele desejar que enfrentemos, teremos no novo ano.

Vosso, em Sua vida e esperança
T. Austin-Sparks

Irmãos, ao lermos essa carta, a frase “O esconderijo de Sua força” destaca-se, e nós só a encontramos uma vez na Escritura, em Habacuque 3.4. Quando uma frase ou palavra é mencionada somente uma vez na Palavra de Deus, usualmente se refere a algo que é importante para Deus e para Seu povo. Habacuque é um pequeno livro profético que foi, provavelmente, escrito ao mesmo tempo em que Jeremias profetizou e a nação de Israel, como um todo, estava em um estado de idolatria e apostasia, como “aconteceu nos dias de Ló”.

Pouco se sabe de Habacuque além do que está em seus escritos, que nos permitem imediatamente reconhecer que era um guerreiro de oração, profundamente comprometido com o propósito de Deus. Ele era um homem que devia ter uma comunhão sem sombras com seu Senhor, pois três capítulos de seu livro são escritos em forma de colóquio, o que significa um discurso mútuo entre os que são íntimos e familiarizados um com o outro.

Assim, Habacuque e o Senhor estão mantendo uma comunhão recíproca, Espírito a espírito, alma a alma, profundeza a profundeza. Quando o discurso mútuo começa, vemos que Habacuque está desencorajado por não poder ver na esfera temporal que Deus estava trabalhando nas coisas de acordo com Seu plano: os ímpios governavam e pareciam não sofrer julgamento e os justos estavam sofrendo grandemente.

Habacuque ora (1.1-4):

“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? […] Por que razão me mostras a iniqüidade [problemas, com referência especial à natureza e às conseqüências da malignidade], e me fazes ver a opressão [injustiça que vem para o justo e o honesto]?”

“Até quando, Senhor! Até quando!” Habacuque perguntou isso como muitos de nós o fazem em tempos de tribulação. No entanto, algo que precisamos saber é que o clamor de Habacuque não é por seus desejos pessoais, mas está orando em nome de todos aqueles que sofrem nos tempos maus.

Deus responde a Habacuque (vv. 5-11):

“Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. […]” O Senhor menciona do julgamento que estava por vir. Ele diz a Habacuque que, não importa quão ruins as coisas possam parecer no reino natural, Ele está trabalhando nelas de acordo com o conselho de Sua própria vontade.

Habacuque continua o discurso com seu Senhor, por vezes ainda desencorajado, mas também encorajado, pois diz (vv. 12-17; 2.1):

“Sobre a minha guarda estarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que falará a mim, e o que eu responderei quando eu for argüido.”

Deus lhe responde e lhe diz que Seu propósito e conselho certamente virá no tempo que Ele determinou (2.2-20):

“A visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.” E diz que, durante o tempo da espera, a fé do fiel será provada! “O justo pela sua fé viverá.”

Esta é a única ordem que o Senhor dá a Habacuque: “Mas o justo pela sua fé viverá”. Nessa escritura, a palavra “mas” é muito importante. É uma conjunção adversativa, marcando geralmente um contraste distintivo, uma contradistinção em relação a tudo que o cerca. Em outras palavras, o Senhor está dizendo: “Quando as coisas parecem piorar, quando o inimigo parece estar conseguindo vencer, o justo deve viver por sua fé”. O Senhor está dizendo a Habacuque que a vida dele deve ser um contraste distinto, deve ser diametralmente oposta a tudo que Satanás instiga no mundo ou no meio do povo de Deus. Habacuque deve viver e se mover e ter seu ser na esfera da fé.

Então, o Senhor continua a falar do julgamento, bem como muitas palavras proféticas que seriam (e são) muito difíceis para os fiéis entenderem. No entanto, bem no meio de todo esse julgamento, Ele espantosamente declara:

“Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. […] Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (2.14,20)

Quando Deus partilha isso com Habacuque, o profeta irrompe numa gloriosa oração que é um salmo de louvor bem como uma oração de guerra do Espírito. Pois, mesmo que possa parecer que todas as coisas não estejam funcionando de acordo com o propósito de Deus, Habacuque vem a perceber que o exato oposto é verdadeiro: Deus está de fato ocultando Seu poder, e no reino invisível o inimigo está sendo derrotado e os eleitos de Deus estão sendo libertados para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

“[…] e ali estava o esconderijo da sua força. […] e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem” (3.4,6).

Amados, vamos nos tornar guerreiros de oração, tal como Habacuque, por unir-nos aos justos de todas as eras que, no meio de suas provações, viveram pela fé no Filho de Deus, e vamos, no Espírito, abraçar o encargo de nosso Senhor para Seu povo (o nome Habacuque implica “aquele que abraça o encargo”) e cantar como Habacuque:

“Porque ainda que a figueira não floresça
nem haja fruto na vide;
ainda que decepcione o produto da oliveira
e os campos não produzam mantimento;
ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas
e nos currais não haja gado;
todavia eu me alegrarei no Senhor,
exultarei no Deus da minha salvação.
O Senhor Deus é a minha força,
e fará os meus pés como os das cervas
e me fará andar sobre as minhas alturas”
(vv. 17-19).

Amém! Amém! Amém!

____
1 Essa revista, Uma Testemunha e um Testemunho, cujo editor era T. Austin-Sparks, não é mais publicada. Ele partiu para o Senhor na primavera de 1971.

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The hiding of His power, publicado em 1994 por Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, EUA, sem indicação de autoria.)

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Nossa vida de oração (G. Setzer)

“Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos.” (Efésios 6.18)

Neste capítulo de Efésios, a partir do versículo 10, o tema é “toda a armadura de Deus”, da qual o cristão necessita para poder estar firme contra os ataques do diabo. Paulo usa a imagem de uma armadura romana tal como era usada pelos soldados de sua época. Ele menciona a oração como ponto fulminante, e nisso ele vai muito além da mera imagem.

No versículo 18, o apóstolo utiliza quatro vezes a palavra “todo” ou equivalente, mostrando-nos quatro ensinamentos precisos para nossa vida de oração. Elas tem relação com o tempo da oração, com os tipos de oração, com a perseverança em oração e com os motivos de oração.

O tempo da oração

“Orando em todo o tempo”.
Aqui somos exortados a orar em todo o tempo, ou seja, não somente nos momentos habituais, de manhã ou à noite, ou quando estamos em grandes dificuldades ou diante de decisões importantes. A oração deveria caracterizar nossa vida cotidiana.

O apóstolo Paulo fazia isso real em sua vida de fé. Por exemplo, em 2Tessalonicenses, indica que ele mesmo e seus colaboradores davam graças e oravam sempre por aqueles cristãos (1.3,11), e, na primeira carta, diz: “Orando abundantemente dia e noite” (3.10).

Tipos de oração

“Com toda a oração e súplica no Espírito”.
De acordo com as circunstâncias e com o que o Espírito diz a nosso coração, podemos nos dedicar a diferentes tipos de oração. Não pedimos apenas por coisa específicas para nós mesmos e para os demais de acordo com as necessidades que conhecemos, mas também suplicamos, intercedemos, combatemos, louvamos e exaltamos a Deus e confessamos nossas falhas.
O apóstolo Paulo sabia dar graças a Deus (Rm 1,8), bendizê-Lo (2Co 1.3), dar-Lhe glória (Ef 3.21), intercedia por cristãos individualmente (2Tm 1.3) ou coletivamente (Cl 1.9-11).

A perseverança em oração

“Vigiando nisto com toda a perseverança e súplica”.
Não devemos nos descuidar da oração, mas perseverar nela, e com “toda a perseverança”. O Senhor animava Seus discípulos a “orar sempre e nunca desfalecer” (Lc 18.1).

O apóstolo Paulo nos dá um exemplo notável. Tendo ouvido da fé e do amor dos efésios, não cessava de dar graças por eles e de lembrar deles em suas orações (Ef 1.15,16). O mesmo ocorria com relação aos cristãos de Colossos, dos quais havia ouvido por Epafras: não cessava de orar por eles e de pedir que fossem “cheios do conhecimento da sua [de Deus] vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1.9).

Os motivos de oração

“Por todos os santos.”
Apresentamos a Deus as necessidades específicas que conhecemos e que Ele põe em nosso coração. No entanto, o apóstolo nos convida a orar por todos os cristãos, não somente por nossos parentes, amigos ou aqueles a quem conhecemos. Não podemos exluir nenhum cristão do alcance de nossa oração; deve haver um lugar para cada um deles em nosso coração.

O apóstolo acrescenta: “E por mim“.

Os obreiros do SEnhor sentem a necessidade das orações dos crentes a seu favor, para sutentá-los em seu serviço e em suas circunstâncias, freqüentemente adversas.

Considerando as epístolas de Paulo, vemos que ele punha em prática o que nos exorta a fazer, aqui em Efésios. Sua vida de oração era abundante. Orava intensamente pelos crentes de Roma, de Éfeso, de Corinto, de Colossos e de muitos outros lugares. A cada dia, sua grande preocupação era com todas as igrejas (2Co 11.28) e, desse peso no coração, resultavam numerosas orações.

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(Autoria: G. Setzer. Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, mayo-junio, n. 3/2013, publicada por Ediciones Bíblicas, Perroy, Suíça. O texto pode ser usado e distribuído livremente, desde que não alterado, com a indicação de autoria, fonte e tradução. Proibido seu uso com fins comerciais.)

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Como se conduzir na caminhada cristã (Jonathan Edwards)

Carta de Jonathan Edwards a uma jovem, escrita no ano de 1741

Minha querida jovem amiga,

Como era do seu desejo que eu a mandasse, por escrito, algumas diretrizes em como conduzir-se a si mesma em sua Caminhada Cristã, agora o faço. As doces lembranças das coisas maravilhosas que vi em sua igreja inspiram-me a fazer qualquer coisa que estiver a meu alcance, contribuindo para a alegria e prosperidade espirituais do povo de Deus que aí está.

1. Aconselho-te a manter o esforço e o fervor na religião, como se estivesse em seu estado natural, procurando converter-se. Aconselhamos pessoas com convicção a serem fervorosas e violentas para o Reino dos Céus; mas elas não devem ser menos vigilantes, trabalhadoras e fervorosas na seara quando já convertidas, porém, ainda mais, pois há infinitas coisas a mais a se fazer. Por ser esta uma característica que nos falta, muitas pessoas, em poucos meses de conversão, começam a perder seu doce e vivo senso das coisas espirituais, crescendo geladas e em trevas, “desviando-se da fé e a si mesmos se atormentando com muitas dores” (1 Tm 6; 10), enquanto se tivessem atentado às palavras do apóstolo em Filipenses 3; 12-14, seus caminhos seriam como “a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4; 18)

2. Não deixe de procurar a Deus, de jejuar e orar pelas mesmas coisas que exortamos a pessoas não-convertidas a orar e jejuar, tendo você já passado por este processo. Ore para que seus olhos estejam abertos, para que receba a visão correta, conhecendo-te a ti mesma, e para seus pés descansem em Deus. Que você veja a glória de Deus e Cristo, e tenha o amor de Cristo derramado em todo o teu coração. Aqueles quem tem a muitas destas coisas, ainda assim precisam orar por elas, pois ainda há tanta cegueira, dificuldade, orgulho e corrupção, que necessitam ter o trabalho de Deus sobre eles a fim de receber luz e vida, sendo trazidos da escuridão para a maravilhosa luz de Deus, recebendo como que uma nova conversão e ressurreição dos mortos. Há poucos deveres convenientes a um não-convertido que também não o são, de certa maneira, para o povo de Deus.

3. Quando ouvir a um sermão, ouça por si mesma. Mesmo que provavelmente o que está sendo pregado seja para não-convertidos ou para aqueles que, de outras maneiras, estão em diferentes circunstâncias que você. Assim, deixe com que a principal intenção de sua mente seja a ponderação: em quais aspectos isto é aplicável a mim? E em que posso melhorar para o próprio bem de minha alma?

4. Apesar de Deus ter perdoado e esquecido seus pecados, não os esqueça: lembre-se sempre deles, de como era uma escrava sem esperança na terra do Egito. Traga à memória suas ações de pecado antes de sua conversão, assim como o apóstolo Paulo está sempre mencionando sua antiga atitude de blasfêmia, em que perseguia o Espírito e maltratava o povo de Deus, humilhando seu coração, dizendo ser “o menor dos apóstolos”, indigno de “ser chamado apóstolo”, “menor dos santos” e “o maior dos pecadores”. Confesse sempre seus pecados a Deus e deixe com que este texto esteja sempre em sua mente: “para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16; 63)

5. Lembre-se que você tem muito mais motivos para lembrar-se e humilhar-se dos seus pecados agora, desde que se converteu, do que antes. Tudo isso se deve a suas muitas obrigações para com a vida com Deus, olhando para os escolhidos de Cristo, amando sempre sua amabilidade, apesar de toda a sua falta de valor desde sua conversão.

6. Esteja sempre vigilante para com seu contínuo pecado e não pense que você se preocupa muito com ele. Ainda sim, não esteja desencorajada nem permita que ele anule seu coração, pois, apesar de sermos exageradamente pecadores, temos um Advogado com o Pai, a saber, Jesus Cristo, o Santo. O sangue cuja preciosidade, o mérito cuja retidão, a grandeza cujo amor e fé infinitamente sobrepujam as mais altas montanhas de nossos pecados!

7. Quando começar a orar, ou tomar parte na Ceia do Senhor, ou participar de qualquer outra atividade de adoração, venha a Cristo como Maria Madalena fez!  Venha, e coloque-se aos Seus pés, e os beije, derrame perante Ele o doce óleo perfumado de amor oriundo de um coração puro e quebrantado, como ela derramou o perfume precioso de sua jarra de alabastro! “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.” (Lc 7; 37-38)

8. Lembre-se que orgulho é a pior víbora do coração, o grande distúrbio da paz da alma e da doce comunhão com Cristo: foi o primeiro pecado e se encontra bem baixo na fundação da obra de Satanás, sendo muito dificilmente arrancado fora, pois é o mais escondido, secreto e arruinador de todas as luxúrias, inserindo insensibilidade no meio da religião e até mesmo sob a desculpa de humildade. “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.” (Pr 8:13)

9. Que você faça um correto julgamento de si mesma, vendo sempre nos outros as melhores descobertas, o melhor conforto, pois têm esses dois lados: uns te fazem menor e insignificante, como uma criança. Outros, animam e consertam seu coração em uma disposição firme em negar-se a Deus, passar tempo com Ele e por Ele.

10. Se em algum momento você se encontrar em dúvidas sobre o estado de sua alma, em partes escuras e sem sentido, é necessário rever sua experiência passada. Mas não invista muito tempo e esforços neste caminho. Ao contrário, disponha-se com todo o seu ser a procurar ardentemente uma nova experiência, nova luz, novas ações de fé e amor. Uma nova descoberta da gloriosa face de Cristo fará mais sobre aterrorizadoras nuvens negras do que examinar experiências passadas durante um ano, sob as melhores nuances que podem dar.

11. Quando pouco se exercita a graça e a corrupção prevalece juntamente com o medo, não tente tirar isto de seu coração de qualquer outra maneira além de reviver o amor a Deus. Assim, o medo será efetivamente expulso, como a escuridão desaparece de um quarto quando os deliciosos raios de sol penetram-no.

12. Quando aconselhar e alertar as pessoas, o faça com vontade e afeição, com firme convicção. Lembre-se que estará falando ao seu próximo deixando que suas palavras contenham expressão de sua própria pequenez, mas também da graça soberana que te faz diferente.

13. Se você organizar encontros devocionais com jovens mulheres como você, uma vez a cada certo tempo, além de participar de outros encontros gerais, será muito proveitoso e útil.

14. Em quaisquer dificuldades, necessidades ou longos períodos de escassez, qualquer caso específico, para você ou outros, separe um dia para oração secreta e jejum. Gaste o dia, não tão somente pelas petições que faz, mas procurando seu coração olhando para sua vida, confessando seus pecados perante Deus. Não como se costuma fazer quando se ora publicamente, mas como um resumo a Deus de todos os pecados de sua vida, desde a infância, antes e depois da conversão, incluindo as circunstâncias e decaídas em relação a eles, apresentado diante d’Ele todas as particulares abominações de seu coração da maneira mais completa possível.

15. Não permita que os adversários da cruz reprovem a verdadeira religião. Quão retamente deveriam se comportar os filhos remidos e amados do Filho de Deus! Ainda, “caminhem como filhos da luz e do dia” e “adquira a doutrina de Deus seu Salvador”. E, especialmente, pondere sobre as virtudes cristãs que te fazem parecida com o Cordeiro de Deus. Seja humilde e submissa de coração, pura, celestial, amando a todos. Faça atos de amor aos outros e auto-negação pelos outros. Que haja em você uma disposição em pensar sobre os outros maior do que em você mesma.

16. Na sua vida, caminhe com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e desprotegida criança tomando a mão de Cristo. Mantenha seus olhos nas marcas das feridas em Suas mãos e lado, donde veio o sangue que te purifica do pecado, escondendo sua nudez nas vestes brancas celestiais.

17. Ore frequentemente pelos ministros da igreja de Deus, especialmente para que Ele continue seus glorioso trabalho que tem começado, até o dia da terra estar cheia de Sua glória.

FONTE: http://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm

Tradução: Projeto Castelo Forte

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