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Charles Spurgeon Vida cristã

Quando Será a Véspera?

Existe um tempo, não sabemos quando,
Um ponto, não sabemos onde,
Que marca o destino dos homens,
Para glória ou desgraça.

Existe uma linha a nós invisível,
Que cruza cada caminho;
O limite misterioso entre
A paciência e a ira de Deus.

Passar este limite é morrer,
Morrer como se em segredo:
Ele não apagasse o olhar que brilha,
Nem empalidecesse a saúde que incandesce.

A consciência pode estar todavia tranqüila,
O espírito leve e alegre;
Naquele que pensa estar agradando,
E nem cuida ser arremessado para longe.

Mas sobre esta testa, Deus tem colocado
Permanentemente uma marca
Invisível ao homem, porque o homem ainda
É cego e corre na escuridão.

E ainda que o caminho do homem condenado
Como o Éden possa ter florido;
Ele não sabia, nem sabe, nem saberá,
Nem sente que está condenado.

Ele pensa e sente que tudo está bem,
E cada medo é tranqüilizado;
Ele vive, morre, acorda no inferno,
Não somente condenado mas desaprovado.

Ó, onde está Tua misteriosa linha,
A qual nosso caminho cruza,
Além da qual o próprio Deus tem jurado,
Estar perdido quem dela passar?

Até onde podemos viver pecando?
Quanto Deus tolerará?
Quando a esperança termina? E onde começam
Os confins do desespero?

Uma resposta dos céus é enviada:
“Tu que te desvias de Deus
Enquanto és chamado, hoje, Arrepende-te!
E não endureças o teu coração.”

(C. H. Spurgeon)

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A. W. Tozer Vida cristã

O Cultivo da Vida Interior (A. W. Tozer)

  • Retire-se do mundo todo dia para um lugar privado, ainda que este lugar seja apenas o quarto.
  • Permaneça aí até que os ruídos internos comecem a acabar no seu coração e o descanso da presença de Deus o envolva.
  • Desligue os sons desagradáveis e saia do seu lugar privado, determinado a não ouvi-los.
  • Ouça a voz interior do Espírito até aprender a reconhecê-la.
  • Pare de tentar competir com os outros.
  • Entregue-se a Deus e seja você mesmo.
  • Reduza seus interesses a uns poucos.
  • Não procure saber coisas que não lhe são úteis.
  • Aprenda a orar interiormente a todo o momento. Após algum tempo, aprenderá a fazer isso enquanto trabalha.
  • Pratique a sinceridade da criança e a humildade.
  • Ore pedindo olhos simples.
  • Leia menos, mas leia mais aquilo que é importante para sua vida interior.
  • Jamais permita que sua mente fique dispersa por muito tempo.
  • Chame para casa seus pensamentos errantes.
  • Contemple Cristo com os olhos da alma.
  • Exercite a concentração espiritual.
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Cristo Horatius Bonar

Não é… (Horatius Bonar)

Não é o que minhas mãos têm feito que pode salvar minha alma culpada;
Não é o que minha carne labutante tem suportado que pode encher o meu espírito;
Não é o que eu sinto ou faço que pode me dar a paz com Deus;
Nem todas as minhas orações, súplicas e lágrimas podem suportar a minha terrível carga;
Tua graça apenas, ó Deus, pode pronunciar perdão a mim;
Teu poder somente, ó Deus, pode quebrar esse penoso cativeiro;
Nenhuma outra obra, senão a Tua;
Nenhum outro sangue o fará;
Nenhuma força, senão aquela que é divina, pode me sustentar seguramente.

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Evangelho Watchman Nee

Reconciliados com Deus (Watchman Nee)

Você já se reconciliou com Deus? Esta é uma pergunta da máxima importância. Sua salvação ou perdição descansa inteiramente nesta questão. Que grande é sua bênção se já se reconciliou com Deus! Já passou da morte para a vida a fim de gozar da bênção que Deus preparou para você no Senhor Jesus. Mas quão lamentável e precária é sua situação se ainda não se reconciliou com Deus! Quão terrível é ter a ira Dele sempre pairando sobre sua cabeça! É preciso que você responda, com honestidade, a esta pergunta: já se reconciliou com Deus?

Não seja descuidado ou tolo. Ou você já se reconciliou com Deus ou está em inimizade com Ele; não há posição neutra. Se ainda não se achegou a Ele mediante a morte do Senhor Jesus, então, Ele é seu inimigo, pois o mundo é inimigo de Deus. Ser inimigo de Deus não necessariamente significa que você há de levar sua rebeldia até o céu; simplesmente quer dizer que você pratica as coisas segundo a carne por preocupar-se apenas com suas paixões e lascívia e não com o que Deus requer de você. A Bíblia declara que “o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7). Inimigos de Deus não são apenas os que tem o coração e mente voltados contra Deus; são também aqueles que se inclinam para a carne.

Pode ser que você aprove a religião, pode até verdadeiramente admirar a Cristo, pode até ter ajudado, com freqüência, a igreja – todas essas coisas podem ser muitos boas; não obstante, não há provas de que você não seja inimigo de Deus. É preciso que você compreenda que, segundo a Palavra de Deus, todo aquele que pende para as coisas da carne está em inimizade contra Ele. Pender para carne é rebelar-se contra a lei de Deus. Ora, a palavra “pendor” parece, a princípio, tão inocente e casual – pode ser que você não se engaje em um ato externo de rebeldia contra Deus, você pode apenas ter pendor para o mundo nos recessos ocultos e secretos do coração. Contudo, basta isso para se estar em inimizade contra Ele e em rebeldia à Sua lei!

O homem não somente não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar: não possui o poder e a força para tanto. Isso demonstra a insuficiência completa da natureza humana! Você sabe que a natureza humana é corrupta? A lei de Deus, porém, é santa e justa. Você pode guardá-la? As pessoas, de fato, às vezes consideram a lei de Deus boa e Seu mandamento justo e, por isso, a desejam cumprir. Mas qual é o resultado? Não a guardam nem a podem guardar. Conquanto às vezes desejemos cumprir a lei de Deus, descobrimos em nós um poder que nos segura e nos força a pender para a carne em vez de obedecer à lei. A natureza humana é tão corrupta que a esperança de guardar a lei de Deus deve se abandonada por completo. Não é verdade que, muitas vezes, as pessoas não desejam viver desregrada e licenciosamente; no entanto, afundam-se nesse lodaçal? Isso ocorre por causa da natureza humana corrupta. Devemos reconhecer nossa corrupção total antes que nos possa vir a salvação de Deus.

Outra prova de que somos inimigos de Deus jaz no fato de que nosso coração ama muito o mundo. Não é verdade que a glória e o louvor do mundo emocionam nosso coração? Encontramos no Novo Testamento esta afirmativa reveladora: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?” (Tg 4.4a). Esta palavra é de Deus, não minha. Deus chama de infiéis às pessoas que cometeram o ato de adultério na carne, mas também chama outros por esse nome, pois o significado mais inclusivo aqui é abraçar uma amizade que não deve ser abraçada. Ora, visto que o mundo crucificou a Cristo, como pode alguém, amigo desse mundo, não ser considerado inimigo de Deus? Será que o mundo e sua atitude mudarão algum dia? O mundo hoje é melhor do que o foi no dia de Cristo? Se ele não mudou para melhor, como é que você pode ter comunhão com ele?

Ah, quão lindas são as pessoas do mundo, quão interessantes os seus negócios e quão adoráveis as suas coisas! E por causa das pessoas, dos negócios e das coisas deste mundo, você formou um laço inquebrável com ele. E esta é a razão pela qual você se tornou inimigo de Deus. Em verdade, a mente dos que não foram reconciliados com Ele nem regenerados está posta nas pessoas, nos negócios e coisas do mundo dia e noite. Os homens buscam fama, lucro e poder do mundo. Viram o rosto em direção a terra e as costas para o céu. Desprezam as exigências de Deus e estão em inimizade contra Ele. Permita-me perguntar-lhe: você já foi lavado com o precioso sangue do Senhor? Se não o foi, e é amigo do mundo, então, é inimigo de Deus.

A conduta humana é também prova inegável de ser o homem inimigo de Deus. O que Deus deseja que os homens façam, eles não fazem; mas o que deseja que não façam, isso fazem. Quem pode contar o número de pecados que os homens cometem dia e noite? Os atos ímpios do corpo denunciam a inimizade existente no coração: “E a vós outros também que outrora éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas” (Cl 1.21). Obras malignas! Pecados! Impureza! São estas as provas infalíveis da inimizade do homem contra Deus. “Não há justo”, declara a Bíblia, “nem sequer um” (Rm 3.10). Carne alguma ousa apresentar-se justa na presença de Deus, pois ninguém pode ser justificado à vista Dele mediante as próprias obras. Todas as obras dos homens são ímpias aos olhos divinos. Embora muitas obras possam ser aceitáveis pelos homens, são cheias de defeitos à vista de Deus e, portanto, ainda são consideradas como obras malignas.

As suas obras dão testemunho perante Deus de que você está em inimizade contra Ele? Não pense que é melhor do que as outras pessoas; reconheça, antes, que as suas assim chamadas boas obras contêm muitos males, tais como orgulho, fama e auto-satisfação. Portanto, confesse sua situação patética e venha para a confiança no Senhor Jesus Cristo a fim de ser salvo. De outra forma, por causa de sua autojustiça e autocontentamento, morrerá em seus pecados. Que o Espírito Santo convença-o de seus pecados e faça com que veja sua verdadeira condição. Pois a menos que as pessoas assumam a posição de pecadores e confessem que estão em inimizade contra Deus, não poderão receber Sua graça. Como poderá alguém vir à cruz procurando a salvação de Deus se não perceber que não pode agradar-Lhe e que sua própria natureza é contra Ele? A menos que essa pessoa reconheça sua terrível condição de inimizade contra Deus e as conseqüências futuras da ira eterna, sua profissão de fé em Cristo não pode ser real.

O que são as pessoas do mundo? Não são elas como o pó? Como insetos? Quão pequeno é o lugar que ocupam no universo! Há, pois, fundamento para a vanglória? Mas quem é Deus? Ele é o Altíssimo, o Soberano incomparável. O céu é o Seu trono e a terra o apoio de Seus pés. Portanto, quem, neste mundo, pode falar de Sua grandeza? Como é que homens tão pequenos e inimigos de tão grande Deus poderão escapar da perdição? Não declara a Bíblia que “sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36)? Por esse motivo, não engane a si mesmo pensando possuir algumas boas obras. Sua inimizade contra Deus pode ser fatal. Jamais pense que ser inimigo Dele não tenha conseqüências. Nada no mundo é mais sério do que isso.

Precisamos lembrar que Deus amou ao mundo de tal maneira que deseja que todos os homens sejam salvos. Não quer vê-los perecer nem condená-los por seus pecados. Embora o mundo (e isto inclui você e eu) seja hostil para com Ele, Ele pacientemente espera. Deus enviou seu Filho unigênito, o Senhor Jesus, a fim de morrer na cruz para que fosse nossa propiciação (satisfação) para a remoção da justa ira de Deus. A penalidade de nossos pecados recaiu sobre Ele. Rebelamo-nos contra Deus e, segundo nossa própria natureza, pensamentos e desejos, merecemos a conseqüência maligna da perdição; mas Seu Filho Jesus suportou tudo em nosso lugar. Pois, por nós, Ele tomou o lugar de rebeldes e clamou na cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27.46b). Jesus é o amado Filho de Deus, é Seu eleito e está sempre próximo Dele. Entretanto, levou nosso pecados, tomou nosso lugar de hostilidade e sofreu a justa ira do juízo de Deus. Até mesmo Seu Pai amoroso O desamparou, pois se fez pecado por nós e morreu por nós de uma vez por todas. Desamparado por Seu Deus e por amor a nós, Ele, não obstante, alcançou a paz e cumpriu a graça. E que graça espantosa é esta!

Portanto, agora podemos usufruir o bem da obra consumada de Cristo. Podemos ser “reconciliados (…) com Deus por intermédio da cruz” (Ef 2.16a). Contudo, não é que tenhamos mudado para melhor, nem que possamos controlar a nós mesmos ou melhorar a nós mesmos – esforços dessa ordem jamais poderão satisfazer o coração de Deus. Não, “por intermédio da cruz” é o único meio suficiente. A obra já foi consumada e nada precisamos acrescentar a ela: “Havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl 1.20a). O sangue que nosso Senhor Jesus verteu, enquanto sofria na cruz, fala muito mais alto do que o sangue do justo Abel (Hb 12.24). E, assim, alcançamos a paz e a salvação consumada por completo em nosso benefício.

Antes que Cristo consumasse a obra da salvação, Deus não podia atrair os homens a Si nem podiam os homens aproximar-se de Deus. Embora Deus amasse ao mundo, os pecados dos homens se interpunham entre Deus e eles. Mas agora o Filho de Deus já morreu. “Deus estava em Cristo, reconciliando Consigo o mundo” (2Co 5.19a). O relacionamento entre Deus e o homem agora está mudado. A morte de Cristo, porém, não mudou o coração de Deus, pois Ele sempre amou ao mundo; nem a morte de Cristo modificou o coração do homem, pois ainda se encontra no pecado e recusa submeter-se a Deus. Mas, graças sejam dadas a Deus, a inimizade entre Ele e os homens foi desfeita pela morte de Cristo. Deus julgou o mundo ao julgar a Seu Filho, o Senhor Jesus, para que agora Ele possa aceitar os homens sem nenhum impedimento.

Podemos ilustrar este ponto da seguinte maneira:

Certo juiz tinha um único filho a quem muito amava. O filho roubou um valor de dinheiro e fugiu. Embora o pai o amasse com ternura, o relacionamento entre ambos havia-se alterado. Como era seu relacionamento agora? Se o filho fosse preso, o pai já não poderia tratá-lo como filho. O pai teria de julgá-lo como um criminoso entre muitos. Por mais que o pai o amasse, nada podia fazer pelo filho a não ser vender a propriedade da família a fim de pagar pelo furto. Somente então poderia o filho ser livre e o pai recebê-lo de volta sem nenhum impedimento.

Nós, seres humanos, pecamos contra Deus; portanto, merecemos ser julgados e condenados à perdição eterna. Mas Deus amou-nos tanto que se fez homem (o Senhor Jesus é Deus) a fim de sofrer na cruz para que pudesse pagar nossa dívida do pecado e restaurar o relacionamento quebrado entre Deus e os homens. O resultado é que agora Deus pode receber-nos a nós, pecadores, visto que a paz já foi alcançada entre as duas partes. A salvação ou a perdição da pessoa agora depende de estar ela disposta ou não a aceitar esta paz.

Volto à minha pergunta inicial: você já se reconciliou com Deus? Você é uma pessoa salva? Já fez as pazes com Deus por intermédio do Senhor Jesus? O caminho da reconciliação divina é que “fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho” (Rm 5.1, 10a). Você não entra em paz com Deus por meio de suas supostas boas obras. Embora você possa já pertencer a uma igreja, tendo sido batizado e participado da Ceia do Senhor – ou ter ido aos cultos com freqüência e lido com freqüência a Bíblia e orado muitas vezes, ou pode ser até que já tenha convidado outros a crer no Senhor ou ter pregado do púlpito ou dirigido um culto, ainda é pecador perdido e inimigo de Deus se não se reconciliou com Ele por meio da morte do Senhor Jesus, crendo que Cristo morreu, levou seus pecados e realizou a obra da redenção por você. Não pense que suas boas obras ou zelo no trabalho o reconciliem com Deus. Não. O preço da reconciliação não é pequeno. Se Deus acha que a morte do Senhor Jesus é absolutamente necessária, então, tudo o que ficar aquém de Sua morte é totalmente inaceitável. Os homens ou se reconciliarão com Deus mediante Jesus Cristo ou continuarão sendo inimigos Dele, confiando em suas próprias obras.

Deus já pagou todo o preço da reconciliação. Já realizou a obra da redenção perfeita. O Senhor Jesus alcançou salvação eterna. Agora, salvação ou a perdição são apresentadas a você. Você não pode ser salvo por sua própria justiça e também não precisa perecer por causa de seus pecados. A salvação ou perdição depende de sua disposição em aceitar a salvação que o Senhor Jesus consumou para você.

Durante a Guerra Civil norte-americana, um general vitorioso proclamou uma ordem aos seus inimigos derrotados mais ou menos como a seguinte: “Agora, separo vários quilômetros de terra como refúgio de paz. Todos os que depuserem as armas e passarem para essa faixa de terra serão salvos; os que não o fizerem serão mortos sem misericórdia.”

Muitos acreditaram na ordem. Depuseram as armas e entraram na área designada. Estes foram salvos. Mas alguns duvidaram e recusaram-se a entrar na terra de refúgio, e foram mortos.

Deus colocou a cruz do Calvário como a terra de paz para todos os homens. Você, como muitos neste mundo, tem estado em inimizade com Ele; entretanto, se neste instante você estiver disposto a desistir de seus pecados e postrar-se ao pé da cruz, confiando na paz que Cristo alcançou para você, será salvo. Mas se ainda duvidar e não crer, morrerá em seus pecados. No caso da Guerra Civil a diferença entre os que viveram e os que morreram estava em entrar ou não na área designada de refúgio. Alguns podem ter chegado a poucos metros da terra, e poderiam facilmente ter entrado se tão-somente dessem um passo. Contudo, foram mortos porque permaneceram fora da terra. Portanto, não demore mais. Confie no Senhor e será salvo. “Quem quiser recebe de graça a água da vida” (Ap 22.17). Por que não o fazer hoje?

Agora, se estiver verdadeiramente disposto a aceitar a paz que o Senhor alcançou, será liberto tanto do pecado como da sua penalidade. Pois a Bíblia declara: “Deus estava em Cristo, reconciliando Consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19). Além disso, que alegria experimentamos quando não mais estamos debaixo da acusação! “Mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de Quem acabamos agora de receber a reconciliação” (Rm 5.11).

Gostaria de perguntar mais uma vez: você já se reconciliou com Deus? Deve responder sem hesitar. Seu futuro depende de sua resposta hoje. “Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilies com Deus” (2Co 5.20). “E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe [os gentios], e a paz também aos que estavam perto [os judeus]” (Ef 2.17). Que o Espírito Santo toque o coração de todo aquele que receber esta mensagem, levando-o a aceitar a Jesus como Senhor e Salvador de sua alma.

Se decidiu aceitar a Jesus como Salvador, ore comigo: “Ó Senhor, eu era Teu inimigo, mas agora estou disposto a crer em Ti por causa do amor que manifestaste na cruz e por causa da paz que alcançaste. Ó Senhor, salva-me, pois sou pecador!”

(Cheio de Graça e de Verdade, Editora Vida, 1982)

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Vida cristã

Exames

Provas da faculdade, exames, dificuldades… Muitos estudantes acabam de passar estas datas temidas das quais dependem, mais ou menos, seu futuro terreno. Êxito ou fracasso, qualquer que seja o resultado de seus esforços, se o jovem cristão colocou nas mãos do Senhor o cuidado de conduzir sua vida, poderá dar-Lhe graças tanto por uma porta fechada como por uma aberta.

Mas não é destes exames que queremos falar-lhe agora. Tudo em nossa vida natural tem seu equivalente na vida espiritual. Cada um de nós nasceu certo dia em certa família composta por pais e irmãos. Tivemos de aprender a caminhar, falar, obedecer… Depois, veio a idade escolar, os estudos intermediários e, por fim, o exercício de uma profissão. Da mesma maneira, a vida espiritual de cada crente começa com o novo nascimento, que o faz entrar na família de Deus. Recém-nascido, seus primeiros balbúcios expressam a consciência da relação com o Pai: “Aba, Pai” (Rm 8.15). “Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai” (1Jo 2.13). Se é bem alimentado, se recebe os cuidados necessários, o recém-nascido em Cristo fará progressos que alegrem o coração do Pai e o de seus irmãos na fé. Dará seus primeiros passos no caminho cristão, aprenderá a obedecer, a orar, a dar testemunho. Então, goste ou não, deverá passar pela escola de Deus. Como em todas as escolas, na de Deus encontramos:

Um Professor. Quando Jesus estava na terra, Ele mesmo ensinava. Era o divino Mestre (Mt 7.29; Jó 36.22). Antes de Sua partida, confio o cuidado dos Seus ao Espírito Santo, Que O substitui atualmente. “Esse vos ensinará todas as coisas”, anunciou Jesus (Jo 14.26). todas as “matérias” que integram a totalidade da verdade são de Sua competência: o conhecimento de Cristo e de Sua Igreja, a doutrina, os aspectos proféticos, a vida cristã na prática, a qual, por sua vez, compreende o andar, o combate, a luz que o discípulo de Cristo irradie no meio do mundo, e o serviço sob seus diferentes aspectos. Não sejamos negligentes com nenhuma dessa “matérias”.

Uma Disciplina, ou seja, um conjunto de regras morais com suas respectivas sanções, cuja meta é que sejamos louvados por haver trabalhado bem, e censurados ou castigados quando agimos mal. Evitemos menosprezar essa disciplina e, igualmente, de desanimar quando somos repreendidos por Deus por meio dela. Seu objetivo é fazer de nós discípulos, homens maduros.

Um Livro: a Bíblia, suma de todo o conhecimento divino, prescrita e adaptada a todas as classes e idades como nenhum outro livro. De que livro escolar se poderia dizer isso?

Lições: umas, as teóricas, são ensinadas nas reuniões ou em nossas leituras pessoais da Palavra de Deus. Outras, as práticas, resultam da experiência cotidiana. Trata-se de aplicar em nossa vida diária o que temos compreendido pela inteligência e guardado na memória. Quais são as duas grandes lições que resumem o ensinamento da escola de Deus? Aprendemos a conhecer a nós mesmos, com nossas insuficiências, miséria e debilidades, e, simultaneamente, progredimos no conhecimento de Cristo com Sua perfeita suficiência, Sua misericórdia e Seu poder que se aperfeiçoa na fraqueza (2Co 12.9).

Exames, inevitáveis na escola de Deus. Geralmente, não são anunciados antecipadamente; são realizados, no mais das vezes, de surpresa. Por exemplo, hoje pode haver uma prova de paciência. Pouco importa o problema que se me apresente ou o instrumento do qual Deus se sirva: um contato com uma pessoa de caráter difícil ou da sucessão de pequenas contrariedades. Se eu não me preparei bem por meio da oração e da humilde confiança em Deus, nem sequer me darei conta de que se trata de uma prova. Só verei o instrumento e não a mão sábia que o conduz, a pessoa desagradável e não o divino Instrutor. Inevitavelmente, fracassarei: em lugar de pagar o mal com o bem (Rm 12.21), serei vencido pelo mal, neste caso a irritação ou a cólera. Freqüentemente, experimentamos exames de “prioridades”. Quando se me apresenta um determinado caso, a quem darei prioridade: a Cristo ou a outra pessoa? A Sua Palavra ou a uma leitura qualquer? A Seu serviço ou aos meus interesse?

Outro exemplo de exame: a Palavra me adverte sobre as armadilhas que o mundo e Satanás armam para o cristão; também me explica o meio de evitá-las. Mas chega o dia em que sou posto à prova: uma dessas armadilhas está realmente diante de mim. Se não creio no que a Palavra me diz ou se confio em minhas forças para enfrentá-la, fracassarei para minha completa confusão. Terei de “repetir” esta matéria e atrasar os progressos cristãos cujo conjunto constitui minha “escolaridade espiritual”.

Estes são exames nos quais ninguém pode colar, porque “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com Quem temos de tratar” (Hb 4.13). Cada um é julgado segundo seu verdadeiro nível e também por sua própria conta. Teremos de comparar-nos com os demais e contentar-nos com uma nota “aceitável” pretendendo que outros apenas obtenham um resultado “medíocre”, segundo nosso parecer. Mas o Espírito Santo, Que nos ensina, tem metas mais altas para nós. Ele nos apresenta o Modelo perfeito, excelente em tudo, e nos convida a seguir Suas pisadas; espera de nós alguma semelhança moral com Jesus. E este Homem perfeito não escapou da prova antes de começar Seu ministério. Ao se encontrar a Satanás no deserto, triunfou sobre toda tentação.

Vários jovens se esmeram em preparar sua vida profissional, ou seja, seu futuro terrenal. Parece-lhes que vale a pena dedicar-se durante meses ao estudo e expor-se a renúncias e esforços consideráveis. Até mesmo faltam às reuniões cristãs, crendo assim preparar-se melhor para um exame. Em contraste, não somos descuidados quanto a nosso futuro eterno? No entanto, da maneira como temos aprendido nossas lições espirituais dependerá não somente o serviço mais ou menos frutífero que possamos cumprir para o Senhor enquanto esperamos Seu regresso, mas também as coroas que Ele dará no dia das recompensas a fim de pô-las, para Sua própria glória, sobre a cabeça daqueles que as mereceram.

Desejamos fazer parte destes?

(Traduzido por Francisco Nunes de Exámenes, Um mensaje bíblico para todos, n. 11/2003, de J. Kn. Publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos, Suíça.)

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Evangelho Watchman Nee

A mulher samaritana (Watchman Nee)

Leitura Bíblica: João 4.1-15, 28, 29

Vamos examinar uma passagem bíblica que registra um incidente por demais maravilhoso. É a passagem em que o Senhor Jesus falou com uma mulher no último grau de degradação e ela veio a crer Nele.

“Deixou [o Senhor] a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia. E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria. Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar (…) Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, sentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. Nisto veio uma mulher samaritana tirar água” (vv. 3-7a). Note, por favor, que isto se passou à hora sexta quando uma mulher veio tirar água. Que horas eram? Sabemos que devia ser meio-dia. O Senhor Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto à fonte para descansar um pouco. Ao mesmo tempo, uma mulher veio tirar água.

Ao ler o Antigo Testamento, notaremos que todas as vezes que as mulheres precisavam tirar água geralmente o faziam em grupo, cedo de manhã ou ao cair da tarde. Mas aqui, estando o sol no zênite e a temperatura mais elevada, veio uma mulher tirar água. Por que ela não tinha companhia? Será que ela não tinha vizinhas? Será que as outras mulheres não quiseram vir tirar água com ela? Com ela não vinha nem companheiro nem amigas. Por quê? Os versículos seguintes revelarão que era uma mulher por demais depravada e por isso a comunidade a colocara no ostracismo. Assim, ela veio tirar água na hora mais quente do dia.

Esta mulher era uma pessoa solitária. Ninguém a acompanhava; ninguém tinha misericórdia dela. Aos olhos de muitas mulheres, era pecadora, uma mulher imunda; por isso não podiam tirar água com ela. Não somente as pessoas tinham receio dela, mas ela também evitava o contato com outros. Se ela saísse para tirar água de manhã, ficaria com medo de que as pessoas, apontando-lhe o dedo, amontoassem escárnio sobre sua cabeça por ser uma mulher imoral. Se saísse ao cair da tarde, ficaria com medo de que as pessoas a vissem e ridicularizassem como a mais impura de todas as mulheres. De modo que ela preferia ir tirar água sozinha ao meio-dia. Não contando com a simpatia de ninguém, era uma mulher isolada, desprezada pelo mundo, e ela, por sua vez, desprezava o mundo.

Entretanto, ao chegar ao poço, ela encontra outra pessoa solitária. Assim como ela era solitária e desprezada, Ele também o era. Ela estava sozinha por causa de seus pecados; Ele estava sozinho por causa do ciúme dos homens. Ao encontrar-se esta pecadora solitária com o Salvador solitário ela foi salva!

“Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber” (v. 7b). Esta é uma expressão de intimidade. Geralmente temos medo de Deus, mas não temos medo daquele que nos pede água. Você pode ter medo de Deus, mas não terá medo do Deus que lhe pedir água. Você fica apavorado porque pensa em Deus como distante e terrível. Mas ao descobrir que a pessoa solitária, cansada e suada (assim como você é solitário, cansado, suado) é Deus, você crerá nela. Quão próximo está nosso Senhor, e quão amigos é dos homens!

“Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana? (…) Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (vv. 9, 10). O motivo pelo qual a mulher samaritana falou desta maneira foi porque judeus e samaritanos não mantinham relações sociais. Mas a resposta do Senhor foi que se ela conhecesse duas coisas: (1) o dom de Deus; e (2) aquele que dizia: “Dá-me de beber”, ela lhe pediria e Ele lhe daria da água viva. É triste que muitas pessoas no mundo hoje não conheçam estas duas coisas. Você que agora está tomando consciência deste fato também pode ignorá-las. Talvez você se sinta deprimido, talvez você esteja cansado e a ponto de desmaiar por causa do fardo de pecados e da insatisfação da vida. O caminho deste mundo é deveras difícil e as ondas do mar pecaminoso da vida são altas. Mas se você tão-somente conhecesse estas duas coisas tudo estaria bem.

I. O Dom de Deus

Deus nunca vende nada. “Dom” significa algo dado gratuitamente. Deus sempre dá livremente aos homens. E dará a todo aquele que lhe pedir. Deus dá-nos a luz do sol sem cobrar nada por ela; dá-nos a chuva sem nos custar nada. Ele também lhe dará satisfação espiritual exatamente da mesma maneira.

Certa vez houve um filho que muito amava sua mãe. Ele pensou em comprar algumas flores para alegrar-lhe o coração. Mas tinha apenas dois centavos. Naquele dia ao ver um lindo jardim, entrou, pensando comprar algumas flores. Lá encontrou um cavalheiro a quem explicou seu desejo. O cavalheiro apanhou algumas flores e entregou-as a ele. O rapaz, polidamente, disse-lhe que não podia levar as flores sem pagar. Respondeu o senhor: “Minhas flores são sempre dadas gratuitamente. Se você as quiser, ofertá-las-ei”. Quem era o homem? O príncipe de Gales, e o jardim era o jardim real. As coisas reais nunca estão à venda.

Se você deseja prazer espiritual, pode tê-lo imediatamente, não precisa esperar até que sua situação melhore. É preciso muito esforço para escrever um livro, mas recebe-lo é muito simples. Toma tempo o preparo de uma boa refeição, mas pouco é o tempo para comer. É mister tempo e dedicação para fazer um vestido, mas para vesti-lo é preciso pouco de ambas as coisas. No caso de pesar interior e pressão de fora, você pode imediatamente obter conforto e poder se os desejar. Não é preciso fazer nada, Deus os dará a você. Os dons de Deus são gratuitos. Ele jamais vende coisa alguma.

O Evangelho de Lucas (15.11-24) registra a história do filho pródigo. Encontrando-se faminto “desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada” (v. 16). É este o princípio do mundo: aquele que tem, tem, e o que não tem, não tem; um por um e dois por dois. Este é também o princípio do diabo. O mundo somente dará quando lhe é dado; jamais dá alguma coisa de graça. Se você nada tiver a oferecer, então deve entregar sua alma. Mas, para o filho pródigo, havia um lugar em que o dar era gratuito, e esse lugar era a casa de seu pai. Portanto, o melhor que o filho pródigo tinha a fazer era voltar para casa.

Um pouco antes ele havia exigido do pai: “Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens” (v. 12); e o pai lhe dera sua porção. Mas ao voltar, tempos depois, para a casa do pai, tinha ele o direito de comer uma única refeição ou de usar uma única peça de roupa que pertencia ao pai? Não, pois tudo agora era por graça, visto que ele já tinha gasto a sua parte da herança. De modo que esta história nos mostra que a salvação de Deus nos é dada gratuitamente. Não é o quanto você lhe dá mas o quanto ele dá a você. Muitos pensam que se puderem fazer o bem e orar muito, talvez Deus se digne conceder-lhes a salvação. Este tipo de pensamento procede de nossa mente comercial. Deus nunca age deste modo.

Qual é o dom de Deus? Leiamos João 3. 16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Este dom não é ouro nem prata, mas o Filho de Deus. Deus enviou o seu Filho a fim de morrer por nós para que pudesse atribuir-lhe todos os nossos pecados. Disto vemos que Ele nos dá o Filho amado.

Gosto de ler João 3. 16 e João 1. 12 em conjunto. O primeiro versículo diz que Deus nos deu o seu Filho e o segundo diz que cabe a nós recebê-lo. Ele dá e nós recebemos. Há alguém que não sabe como ser salvo? Simplesmente receba o Filho de Deus. Não tente imitar a senhora que disse haver praticado boas obras por trinta anos na esperança de que Deus pudesse salvá-la. Tal ato só pode ser chamado de maldição do inferno. Pelo contrário, a Bíblia declara: “Todo aquele que invocar o nome de Senhor, será salvo” (Romanos 10. 13). Simplesmente invoque o nome do Senhor e será salvo. A Bíblia também declara: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3. 36a). Se você tão somente crer, será salvo. Estas são as boas-novas de Deus.

II. O Cristo Enviado de Deus

Devemos conhecer não apenas o dom de Deus, mas também aquele que diz: “Dá-me de beber”. Pois aquele que se sentou junto à fonte, cansado e desprezado, é do dom de Deus. Saber que Deus concede dons e que dá de graça não é suficiente. É preciso saber que Cristo a quem os homens se opõem hoje é o dom de Deus. Este cansado, junto à fonte, este Jesus desprezado a quem as pessoas se recusam a adorar e Nele crer é o próprio dom de Deus. Muitas pessoas que vão para o inferno crêem que Deus existe. E a encabeçar a lista está o diabo, pois ele também crê na existência de Deus. Todos os que estão no inferno crêem em Deus nesses termos, mas ninguém que lá está crê em Jesus como Salvador; o dom de Deus. Este homem humilde a quem acusaram de ser filho ilegítimo, rebelde ao Império Romano, até mesmo imperialista, é o dom de Deus. Se você o conhecesse teria dito: “Tu és o dom de Deus, dá-me, pois, da água viva para que eu não mais tenha sede”.

III. O Caminho da Água Viva

“Tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (João 4. 10b). Que tipo de gente recebe a água viva? Aqueles que a pedem. Você a obterá se tão-somente fizer o pedido: “Dá-me água viva.” Em muitos lugares tenho visto as pessoas dizerem simplesmente a Deus: “Ó Deus, salva-me”, e serem salvas naquele mesmo instante.

Você se lembra de ter lido na Bíblia a respeito de um imundo cobrador de impostos, que não ousava erguer os olhos para o céu e batia no peito, dizendo: “Ó Deus, se propício a mim, pecador!” (Lucas 18. 13b). Ele não levou cinco minutos para fazer essa oração, de fato, não seria preciso nem um minuto. O que disse o Senhor Jesus daquele cobrador de impostos? “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa” (v. 14a). Em outras palavras, este homem foi salvo. Ainda em outros termos, este homem recebeu a vida eterna.

Lucas, o evangelista, registra também o caso de outra pessoa que durante a vida tinha cometido os pecados mais horrendos, tais como assassínios e incêndios. Finalmente foi preso e levado à cruz. Nesse dia ele viu crucificaram o Senhor ao seu lado. A princípio, juntamente com o outro ladrão, começou a zombar de Jesus. Mais tarde, seu coração moveu-se ao ouvir a oração de nosso Senhor na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”- Lucas 23.34. Começou a perceber que Jesus era diferente. Então pediu uma única coisa ao Senhor: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lucas 23. 42). Quanto tempo levaria para fazer esta oração? Cinco horas? Se levasse tanto tempo ele poderia ter morrido antes de terminá-la. Não, ele simplesmente pediu que o Senhor se lembrasse dele quando voltasse no seu reino. Qual foi a resposta do Senhor? “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”(Lucas 23.43). Sim, deveras, ele foi salvo, justificado e recebeu a vida eterna.

Há aqui algum pecador que neste instante deseja olhar para Jesus e crer na Palavra de Deus? Se o fizer, será salvo. Disse o Senhor para a mulher: “Tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva.”Se você já pediu, já recebeu a água viva. Ah, não é o que realizamos mas o que Deus faz. Não é por nossas obras, mas mediante a obra redentora de nosso Senhor. Não é o que somos, mas o que o Senhor é aos olhos de Deus.

IV. O Dilema da Mulher

Que respondeu a mulher? Disse ela: “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? “(v. 11). Ela tinha duas dúvidas: o Mestre não tinha com que tirar a água e o poço era fundo. O que ela queria dizer era: de onde iria esse estrangeiro tirar água viva se não tinha com que tirá-la nem conhecia a profundidade do poço? É esse o modo de reagir de todo incrédulo. Gostaria de ter a água viva para saciar-me a sede, mas quem pode medir a profundidade do poço da água viva? Está fora do alcance de mãos humanas. Anseio ser salvo, ter a vida eterna e ter o Espírito Santo aliviando-me a sede, mas quão longe de mim está a salvação, quão distante, a vida eterna! Quão remoto, o Espírito Santo! Não tenho meios de obter tais bênçãos. Ah, o poço é profundo demais e me falta o balde com que tirar a água. Quão longe de mim estão Deus e Jesus! O poço sendo tão fundo, a água viva estão tão longe. A salvação está muito longe de mim.

Talvez alguns de vocês pensem: “Não tenho como ser salvo. Não posso subir aos céus a fim de trazer Cristo à terra nem posso descer ao abismo para levantar a Cristo dentre os mortos. Visto que tudo isso é impossível, como posso salvar-me? Para mim a salvação não passa de um sonho; não é algo que espero alcançar nesta vida.”

Mas permita-me instar com você a que ouça a afirmação de Deus: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração (…) Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10. 8, 9). O que se diz aqui? Diz-se que a palavra não está longe e que você precisa perguntar quem subirá ao céu para trazer Cristo à terra ou quem descerá ao abismo para levantar a Cristo dos mortos. A palavra está perto de você, o poço não é fundo de maneira nenhuma. A palavra encontra-se em dois lugares: na sua boca e no seu coração. Você tem boca? Sim, tem. Você tem coração? Sim, tem. De modo que a palavra está aqui e o poço, portanto, é muito raso. Se você confessar com a boca que Jesus é o Senhor e crer no seu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, você terá a água viva. A água viva está próxima de você, na sua boca e no seu coração. Se confessar e crer você a terá. Se você confessasse com a boca que Jesus é Senhor e cresse no coração que Deus O ressuscitou dos mortos e, não obstante, fosse para o inferno, isso significaria que Deus não é justo. Mas Deus não pode ser injusto. Sua palavra é digna de confiança.

V. Esta Água

“Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede” (v. 13). Você realmente sabe o que é ter sede? Suponha que um navio se afunda em alto mar. Todos correm para o bote salva-vidas. Neste barco, há alimento, mas não há água potável. Embora eu esteja completamente cercado por água, estou ficando com sede a ponto de morrer. Os médicos dizem que é mais difícil suportar a sede do que a fome. A sede fala de desejo não satisfeito, expectativa não realizada.

O mundo e sua beleza são muito atraentes, mas ainda que lhe dê o que tem de melhor, você ainda terá sede. O mundo é grande, mas sua grandeza jamais lhe saciará a sede. Pois o que o mundo pode dar-lhe é temporário, por isso, você terá sede de novo. Depois de um copo de vinho, você pedirá outro. Depois de ver um filme, há de querer ver outro. Depois de provar uma excelente refeição, há de desejar mais. Tendo conseguido fama, então há de querer riquezas. Tendo conseguido riquezas, desejará ter uma boa família. Depois de conseguir uma boa família, procurará ter bons filhos e bons netos. E conseguindo bons filhos e bons netos, ansiará por imortalidade. Você pode beber de tudo o que o mundo lhe der, mas voltará a ter sede. Você recebe um gole do mundo; entretanto, ele só faz aumentar sua vontade de beber mais. Por isso o Senhor afirmou: “Quem beber desta água tornará a ter sede.” “Desta água” – o que significa isto? “Esta água” é tudo o que o mundo pode oferecer ao homem. “Esta água” consiste em todas as coisas mundanas que satisfazem temporariamente às pessoas. O mundo só pode despertar o apetite da pessoa, mas nunca satisfazê-la; o mundo só pode torná-lo sedento, mas nunca saciar sua sede.

Houve um homem cujo pai foi mártir durante a Revolução Boxer na China. Pensava ele que se alguém pudesse ajudá-lo a terminar a escola primária, poderia ganhar de vinte a trinta dólares por mês e que isto o satisfaria. Aconteceu que alguém o ajudou a terminar o primário e conseguiu, assim, ganhar o dinheiro que queria. Depois de algum tempo, porém, começou a comparar-se com outras pessoas e decidiu entrar para o ginásio. Aqui, de novo, recebeu ajuda para terminar o curso. Assim que terminou o curso secundário, concebeu a idéia de entrar para a faculdade. E, de novo, teve ajuda e terminou seu curso universitário. Depois de receber o diploma da universidade, ele pensou em ir estudar no exterior. Se tão-somente pudesse obter o grau de doutor, pensava ele, ficaria satisfeito e não pediria mais nada. Uma vez mais recebeu ajuda e, finalmente, conseguiu seu doutorado no exterior. O homem voltou para seu país e foi lecionar numa faculdade. Mas confessou que não se sentia mais feliz ao ter conseguido o grau de doutor do que quando saiu da escola primária. Certo dia, porém, ele conseguiu real satisfação e deu testemunho do que recebeu: aceitou a Cristo, que lhe fora dado pelo Pai celeste e morrera por ele. Mais tarde, ele se dedicou a pregar o evangelho e sua sede foi saciada.

Se alguém refletir que seria feliz se tão-somente tivesse tido êxito no campo da educação ou nos negócios, desejo afirmar que estes só podiam conferir-lhe satisfação temporária e deixarão a pessoa com sede novamente. Pode haver algumas pessoas hoje que possuem fortes desejos que precisam ser satisfeitos. No presente momento, pode ser que tais desejos sejam meros sonhos. Permita-me dizer que ainda que seu sonho se transforme em fato e seu desejo seja satisfeito, você não se satisfará. Apenas sonhará de novo e de novo experimentará um vazio interior não-preenchido. Percebe você que tudo isso são vaidades que não conseguem saciar a sede de pessoa alguma?

Tenho um amigo e conterrâneo que se formou na universidade e já foi chefe de polícia de sua cidade. Certo dia, ele foi dar testemunho a um ex-colega que agora era um homem de poder e influência militar. Ao ver o visitante entrar, perguntou a meu amigo se estava infeliz.

– Olhe para mim – disse meu conterrâneo – e perceberá que estou muito feliz.

– Você não gostaria de vir e juntar-se a mim a fim de prover para o futuro de sua esposa e filhos? – perguntou o anfitrião de meu amigo.

– Há alguém que cuida deles, e esse alguém é o Senhor Jesus – respondeu meu amigo.

– Mas por que você não pensa no futuro? – persistiu o homem influente.

– Deus se encarregará de meu futuro – respondeu meu conterrâneo.

A pessoa que estava sendo visitada ficou grandemente surpresa de que alguém com estudos universitários e que fora chefe de polícia tivesse tal paz depois de simplesmente crer no Senhor. Ao se despedirem, o colega disse a meu amigo:

– Gostaria de poder trocar tudo o que possuo pelo que você tem.

Nem poder político nem posição superior pode satisfazer a ninguém. Se a pessoa não estiver satisfeita, então, aquele que beber “desta água” ainda tornará a ter sede. A água do mundo jamais trará satisfação.

VI. A Água Viva

Se você realmente deseja ser satisfeito, escute o que o Senhor Jesus tem a dizer acerca do caminho da satisfação: “Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (v. 14). Por que todo aquele que bebe da água que o Senhor lhe dá jamais terá sede? Porque essa água tornar-se-á nele uma fonte de água. Para que a pessoa seja satisfeita por três ou cinco dias? Não, fluirá para a eternidade. E é isso que o Senhor oferece. Tudo o que provém de fora é inútil e, de fato, não satisfaz a ninguém. Mas se a pessoa recebe a Cristo, Ele se transforma em fonte interior que a satisfaz diariamente.

O de que precisamos é satisfação interior.

Certo dia, um senhor foi ver seu médico. Perguntou-lhe por que ele achava a vida tão insípida e sem esperança. Depois do exame, o médico disse que ele estava bem fisicamente. Então, o homem perguntou se havia algum remédio para sua depressão. Respondeu o médico:

– Você deve se divertir mais. Por que não vai ver a apresentação de determinado palhaço? Ele tem grande habilidade em fazer as pessoas sorrirem e ficar felizes.

– Esse palhaço sou seu – disse o homem. – Posso fazer as outras pessoas sorrirem, mas eu mesmo não consigo rir.

É triste, mas é só isso que o mundo pode oferecer: alguns poucos risos, talvez, e alguma alegria temporária.

Entretanto, por que os cristão podem ser muito felizes, embora percam tudo? Não é por terem um bom ambiente na igreja ou uma vida material confortável; é por causa Daquele que os satisfaz interiormente, a saber, Cristo.

Alguns missionários estão dispostos a ir para ilhas longínquas e viver com os nativos. Às vezes, só recebem notícias de casa uma vez por ano. Sofrem muito mais do que as pessoas encarregadas de faróis. Como é que conseguem ser tão alegres? Há algo neles que os capacita a cantar e gritar “Aleluia!”

Posso também dizer que embora eu não conheça música, entretanto cantarei; e ainda que não conseguisse cantar, poderia pelo menos gritar “aleluia!”. Tenho dito com freqüência que o motivo pelo qual nós, os cristãos, não amamos o mundo não é que estejamos cansados dele ou por tê-lo experimentado tanto que já não podemos desfrutar dele nem sermos emocionados por ele; vencemos o mundo porque já estamos satisfeitos.

Uma vez que Cristo satisfez nosso coração, a atração do mundo mui naturalmente passa para o esquecimento.

VII. A Mulher Satisfeita

“Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la” (v. 15). Agora a mulher começou a pedir ao Senhor. Será que ela compreendeu? Não, não compreendeu.

A despeito de sua ignorância, ela pediu. Dar-lhe-ia o Senhor ainda? Certamente que o Senhor lhe daria. Pois não dissera Ele: “Tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva” (v. 10)?

Observou A. Paget Wilkes que a mulher, pelo simples fato de pedir, recebeu. Quão verdadeira é essa afirmação! Percebamos que não é um pedir segundo nosso entendimento, mas de acordo com a Palavra do Senhor que precipita Sua satisfação de dar a nós.

“Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, e foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será Este, porventura, o Cristo?” (vv. 28, 29). “Será este, porventura” significa “Este é”. Segundo a estrutura gramatical, qualquer pergunta que comece com “Será este, porventura” assume uma resposta positiva da parte de quem interroga. Este fato prova que a mulher já obtivera a água viva. Embora não compreendesse nem soubesse o que havia pedido, reconhecia ser este o Cristo. E isso lhe era suficiente.

Quantos, hoje em dia, estão cansados e sedentos! Tudo o que tem a fazer é crer em Jesus e pedir-Lhe a água viva que tudo ficará bem.

A. Paget Wilkes certa vez contou a história dos marinheiros de um destróier que aportou em certo lugar.

Os marinheiros foram a terra e ouviram algumas missionárias pregarem o Evangelho. Certo marinheiro, depois de ouvir, creu. À noite, ajoelhado ao lado do seu beliche, orava.

Esse homem tinha o apelido de Velho Setenta. Ora, entre os marinheiros era ele quem gostava de pregar peças nos outros, de modo que, ao ajoelhar-se para orar, seus companheiros disseram:

– Olhe, o Velho Setenta está inventando uma nova peça; está imitando um crente em oração.

Atiraram nele coturnos e o ridicularizavam. Mas ele não lhes deu nenhuma atenção. Então, disseram uns aos outros:

– Vejam só, o Velho Setenta age de modo muito real!

Ele se levantou da oração e lhes disse que, de fato, havia crido em Jesus. Seus companheiros não queriam aceitar sua explicação e insistiam em que, embora ele agisse de maneira muito real, tudo não passava de fingimento.

No dia seguinte, o Velho Setenta encontrou um meio-cristão a quem disse que acabara de crer em Cristo Jesus. Respondeu-lhe o homem:

– A pessoa que crê em Jesus deve sentir paz no coração. Sentir-se-á tão feliz como se já tivesse ido para o céu. Agora que você crê em Jesus, sente-se assim?

O Velho Setenta não se sentia dessa maneira. De modo que o outro lhe disse que sua fé não era autêntica.

Ele rapidamente foi ver de novo as missionárias e lhes disse:

– Vocês disseram que, pelo simples fato de crer em Jesus, serei salvo. Sua palavra não é verdadeira. Outros crêem em Jesus e sentem grande paz e alegria; por que não sinto nada?

As missionárias responderam:

– Não lhe perguntamos se você se sente de modo diferente; perguntamos se você é diferente.

Ele pensou por algum tempo e, então, deu um pulo, dizendo:

– Ora, uma diferença! Geralmente causo mais problemas no navio do que qualquer outra pessoa. Não importa o que dissessem, eu sempre tinha algo mais para dizer. Mas ao crer em Jesus e ao voltar para o navio, percebi que a conversa de meus companheiros realmente feriam-me os ouvidos, pois suas palavras eram sujas demais. E como resultado, comecei a imaginar o que aconteceria a esses homens. E também, geralmente sou eu quem bate neles, mas na noite passada, quando jogaram coturnos em mim, em vez de deixar-me dominar pela raiva, senti pena deles por serem tão ignorantes.

– Muito bem – concluíram as missionárias. – Não é importante que você se sinta mudado; basta que você tenha mudado. O Senhor Jesus satisfará seu coração de tal maneira que você não mais terá desejo vão. Se disser a Ele: “Senhor, creio em Ti e me entrego a Ti”, será salvo. Passará o céu e a terra, mas a palavra do Senhor se cumprirá. Não tem importância você não se sentir salvo. Se você crê, sua salvação foi consumada. Primeiro creia, depois sinta-o; não procure sentir paz e alegria primeiro para depois crer.

(Cheio de Graça e de Verdade, Editora Vida, 1982)

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Ministrar ao Senhor ou à casa? (Watchman Nee)

Leitura da Bíblia: Ez 44.15-18

Notemos, a principio, que há aparentemente pouca diferença entre ministrar à casa e ministrar ao Senhor. Muitos de vocês estão fazendo o máximo para ajudar seus irmãos e estão labutando para salvar pecadores e administrar as questões relacionadas à igreja, mas deixem-me perguntar-lhes: vocês têm procurado ir ao encontro das necessidades ao seu redor ou têm procurado servir ao Senhor? Vocês têm em vista o seu próximo ou Ele?

Sejamos bem francos. Trabalhar pelo Senhor, sem dúvida, tem suas atrações para a carne. Você pode achar isso muito interessante e ficar empolgado quando multidões se juntam para ouvi-lo pregar, e quando muitas almas são salvas. Se tiver de ficar em casa, ocupado de manhã à noite com coisas seculares, você, então, haverá de pensar: “Como a vida é sem sentido! Que bom seria se eu pudesse sair e servir ao Senhor! Se pelo menos eu fosse livre para andar por aí pregando ou mesmo conversando com as pessoas a respeito Dele!”
Isso, porém, não é espiritualidade; é meramente uma preferência natural. Oh, se ao menos pudéssemos ver que muita obra feita para Deus não é realmente ministrar a Ele! Ele próprio nos disse que havia uma classe de levitas que, diligentemente, serviam no templo e assim mesmo não O serviam, mas meramente serviam à casa. Serviço ao Senhor e serviço à casa parecem ser tão semelhantes que freqüentemente é difícil fazer diferença entre ambos.
Se um israelita viesse ao templo e quisesse adorar a Deus, aqueles levitas viriam em seu auxílio e o ajudariam a oferecer sua oferta pacífica e seu holocausto. Eles o ajudariam a levar 0 sacrifício ao altar e lá o imolariam. Certamente aquela era uma grande obra na qual eles deviam se envolver – restaurar pecadores e conduzir crentes para mais perto do Senhor! E Deus levou em conta o serviço daqueles levitas, que ajudavam as pessoas a trazer suas ofertas pacíficas e seus holocaustos ao altar. Ainda assim, Deus disse que isso não era ministrar a Ele.

Irmãos e irmãs, há um pesado encargo em meu coração para fazê-los perceber o que Deus está querendo. Ele quer ministros que ministrem a Ele. “Se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue (…) para Me servirem”.
O que eu mais temo é que muitos de vocês saiam e ganhem pecadores para o Senhor e edifiquem crentes, sem, no entanto, ministrar ao próprio Senhor. Muito do assim chamado serviço a Ele é simplesmente estarmos seguindo nossas próprias inclinações naturais. Temos tanta disposição para atividades que não suportamos ficar em casa; por isso corremos e corremos para nosso próprio alívio. Podemos estar servindo pecadores e estar servindo crentes, mas estamos a todo tempo servindo a nossa propria carne.

Tive uma querida amiga que agora está com o Senhor. Um dia, depois de termos passado juntos algum tempo em oração, lemos essa passagem em Ezequiel. Ela era bem mais velha do que eu e dirigiu-se a mim deste modo: “Meu jovem irmao, há vinte anos estudei pela primeira vez essa passagem da Escritura”. “Como você reagiu a ela?”, perguntei. Ela replicou: “Tão logo terminei de lê-la, fechei minha Biblia e, ajoelhando-me diante do Senhor, orei: ‘Senhor, faz com que eu seja alguem que ministre a Ti, não ao templo”‘. Será que nós também poderíamos fazer esta oração?

Mas o que nós realmente queremos dizer quando falamos em servir a Deus ou servir ao templo? Aqui está o que a Palavra diz: “Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que cumpriram as prescrições do Meu santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de Mim, eles se chegarão a Mim, para Me servirem, e estarão diante de Mim, para Me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor Deus”. As condições básicas para qualquer ministério que realmente possa ser chamado de ministério ao Senhor são: chegar-se a Ele e estar diante Dele.

Freqüentemente, como achamos difícil chegar a Sua presença! Recuamos diante da solidão, e, mesmo quando nos separamos fisicamente, nossos pensamentos ainda ficam vagando. Muitos de nós gostam de trabalhar entre pessoas, mas quantos de nós se achegam a Deus no Santo dos Santos? Entretanto, é somente quando nos aproximamos Dele que podemos ministrar a Ele. Entrar na presença de Deus e ajoelhar-se diante Dele por uma hora exige toda a força que possuímos. Temos de ser rigorosos para manter essa posição. Contudo, todo aquele que serve ao Senhor conhece a preciosidade de tais momentos – a doçura de acordar à meia-noite e gastar um tempo em oração, ou acordar bem cedo de manhã e levantar-se para um tempo de oração, antes de terminar o sono noturno. Deixem-me ser bem franco com vocês: a menos que realmente saibamos o que é achegar-se a Deus, não poderemos saber o que é servi-Lo. É impossível permanecer distante e ainda ministrar a Ele. Não podemos servi-Lo à distância. Há somente um lugar onde é possível ministrar a Ele, e esse é o Lugar Santo. No átrio exterior você se aproxima das pessoas; no Lugar Santo você se aproxima do Senhor.

A passagem que citamos enfatiza a necessidade de nos achegarmos a Deus, se quisermos ministrar a Ele. Também fala de permanecer diante Dele para ministrar. Parece-me que hoje todos estamos querendo nos movimentar; não conseguimos permanecer quietos. Há tantas coisas reclamando nossa atenção que estamos constantemente ocupados, não conseguimos parar por um instante. Uma pessoa espiritual, entretanto, sabe como permanecer quieta. Ela consegue permanecer diante de Deus até que Ele torne Sua vontade conhecida. Ela consegue ficar quieta e esperar as ordens.

Quero dirigir-me especialmente a meus cooperadores. Posso perguntar-lhes: todo o seu trabalho não é invariavelmente organizado e executado de acordo com um cronograma? E ele não tem de ser feito com grande pressa? Vocês podem ser persuadidos a fazer uma parada e não se mover por algum tempo? Isso é o que se menciona aqui: “chegarão (…) para Me servirem”.

Ninguém pode realmente ministrar ao Senhor e não conhecer o significado desta expressao: “Se chegarão a Mim, para Me servirem”. Tampouco pode alguém ministrar a Ele e não entender também esta expressão: “Estarão diante de Mim, para Me oferecerem”. Irmãos, vocês não acham que todo servo deve aguardar as ordens de seu amo antes de procurar servi-Lo?

Há somente dois tipos de pecado diante de Deus. Um é o pecado de rebelar-se contra os Seus mandamentos, isto é, recusar-se a obedecer quando Ele dá ordens. 0 outro é o pecado de avançar quando o Senhor não deu as ordens. 0 primeiro é rebelião; o segundo é presunção. Um é não fazer o que o Senhor exigiu; o outro é fazer o que o Senhor não exigiu. Ficar diante do Senhor trata com o pecado de fazer o que Ele não ordenou.

Irmãos e irmãs, quanto do trabalho que vocês fizeram foi baseado numa ordem clara do Senhor? Quanto vocês fizeram por causa de Suas instruções diretas? E quanto vocês fizeram simplesmente porque aquilo que fizeram era bom de se fazer? Deixem-me dizer-Ihes que nada prejudica tanto os interesses do Senhor como uma “coisa boa”. “Coisas boas” são o maior empecilho para o cumprimento de Sua vontade. Quando nos deparamos com qualquer coisa maligna ou impura, imediatamente reconhecemos nisso algo que o cristão deve evitar, e, por essa razão, as coisas que são evidentemente malignas não são tanto uma ameaça ao propósito de Deus como as coisas boas. Vocês podem pensar: “Isso não seria errado”, ou: “Aquilo é a melhor coisa que poderia ser feita”. Assim, vocês vão em frente e agem sem parar para perguntar se isso é a vontade de Deus. Oh, todos nós que somos Seus filhos sabemos que não devemos fazer nenhum mal, mas pensamos que uma vez que nossa consciência não proíbe tal coisa, ou se algo nos parece positivamente bom, isso é motivo suficiente para irmos em frente e fazê-lo.

Aquilo que vocês pensam fazer pode ser muito bom, mas vocês estão permanecendo diante do Senhor, aguardando Sua ordem a respeito daquilo? “Estarão diante de Mim” envolve permanecer na Sua presença e recusar a mover-se até que Ele dê Suas ordens. Ministrar ao Senhor significa isso. No átrio exterior é a necessidade humana que governa. Simplesmente permita que alguém venha para sacrificar um boi ou uma ovelha, e há trabalho para você fazer. No Santo dos Santos, entretanto, há completa reclusão. Alma nenhuma entra. Aqui, nenhum irmão ou irmã nos governa, nem alguma comissão determina nossas ações. No Santo dos Santos há somente uma autoridade – a do Senhor. Se Ele me designa uma tarefa, eu a realizo; se Ele nada me designa, eu nada faço.

Algo, porem, é exigido de nós quando permanecemos diante do Senhor e ministramos a Ele. Requer-se de nós que Lhe ofereçamos “a gordura e o sangue”. 0 sangue responde às exigências de Sua santidade e justiça; a gordura vai ao encontro de Sua glória. O sangue trata com a questão de nosso pecado; a gordura trata com a questão de Sua satisfação. O sangue remove tudo o que pertence à velha criação; a gordura introduz a nova. E isso é algo mais do que doutrina espiritual. Nossa vida da alma foi envolvida no derramamento de Sua alma até a morte. Quando derramou Seu sangue eternamente incorruptível, Ele não só estava derramando a própria vida, mas também toda a vida que o homem tinha por nascimento natural. Ele não só morreu, mas ressuscitou dentre os mortos e “a vida que agora vive, vive para Deus”. Ele vive para a satisfação de Deus. Ele oferece “a gordura e o sangue”. Nós tambem, que queremos ministrar ao Senhor, precisamos oferecer a gordura e o sangue. E o impossível é possível com base no que Ele fez.

Tal ministério, porém, está confinado a certo lugar: “Eles entrarão no Meu santuario, e se chegarão a Minha mesa, para Me servirem, e cumprirão as Minhas prescrições” (v. 16). 0 ministrar que é “a Mim” é no santuário interior, no lugar oculto, não no átrio exterior, exposto à vista pública. As pessoas podem pensar que não estamos fazendo nada, mas o serviço a Deus dentro do Lugar Santo transcende em muito o serviço ao povo no átrio exterior. Irmãos e irmãs, aprendamos o que significa permanecer diante do Senhor aguardando Suas ordens, servindo somente sob Seu comando e sendo governados por nenhuma outra coisa senão a Sua vontade.

A mesma passagem nos fala como devem se vestir os que ministram ao Senhor: “Usarão vestes de linho; não se porá lã sobre e1es, quando servirem nas portas do átrio interior, dentro do templo. Tiaras de linho lhes estarão sobre as cabeças, e calções de linho sobre as coxas”. Os que ministram ao Senhor não podem usar lã. Por que não? A razão é dada a seguir: “Não se cingirão a ponto de lhes vir suor” (vv. 17,18). Nenhuma obra que produz suor é aceitáve1 ao Senhor. Afinal, que significa suor? Todos sabemos que a primeira vez que suor é mencionado nas Escrituras foi quando Adão foi expulso do jardim do Éden. Depois que Adão pecou, Deus pronunciou esta sentença: “Maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (…) no suor do rosto comerás o teu pão” (Gn 3.17,19). Está claro que suor é uma condição de maldição. Porquanto a maldição estava na terra, ela cessou de dar seu fruto sem o esforço do homem, e tal esforço produzia suor. Quando a bênção de Deus é retirada, torna-se necessário o esforço carnal, e isso causa suor.

Toda obra que produz suor é positivamente proibida àque1es que ministram ao Senhor. Ainda hoje que dispêndio de energia há em obras feitas para Ele! Ah! poucos cristãos hoje podem fazer qualquer obra sem suor. A obra deles envolve planejamento e esquematização, exortações e instâncias, e muita correria.

Não pode ser feita sem grande zelo carnal. Hoje em dia, se não houver suor, não poderá haver obra. Antes de ser empreendida qualquer obra para Deus, há muita correria para lá e para cá, fazendo-se muitos contatos; há consultas e discussões, obtendo-se, por fim, a aprovação de diversas pessoas antes de ir em frente. Quanto a esperar quieto na presença de Deus e buscar Suas instruções, isso está fora de questao. No entanto, numa obra espiritual, o único fator a
ser levado em conta é Deus. A única Pessoa que se deve contatar é Deus. Oh! esta é a preciosidade da obra espiritual: ela está relacionada com Deus. E em relação a Ele há uma obra a ser feita, mas é obra que não produz suor. Se tivermos de divulgar a obra e utilizar grande esforço para promovê-la, então, é  óbvio que ela não brota da oração na presença de Deus. Por favor, acompanhe-me quando digo que toda obra que é realmente espiritual é feita na presença de Deus. Se você trabalhar realmente na presença de Deus, ao entrar na presença dos homens, eles responderão. Você não terá de usar meios sem fim para ajudá-los. Obra espiritual é obra de Deus, e quando Deus trabalha, o homem não precisa despender muito esforço, a ponto de suar.

Irmãos e irmãs, vamos, com toda honestidade, examinar a nós mesmos diante de Deus hoje. Vamos perguntar-Lhe: “Estou servindo a Ti ou estou servindo à obra? 0 meu ministério é ‘para o Senhor’ ou é ‘para a casa’?” Se você está suando o tempo todo, então, você mesmo pode chegar à conclusão de que está servindo à casa e não ao Senhor. Se toda a sua atividade está relacionada com a necessidade humana, você pode ficar ciente de que está servindo a homens, não a Deus. Não estou desprezando o trabalho de imolar sacrifícios no altar; é uma obra para Deus e alguém tem de fazê-la, mas Deus quer algo mais do que isso.

Deus não pode garantir todos para o serviço a Si mesmo, porque muitos dos que são Seus relutam em abandonar a emoção e a excitação do átrio exterior. Eles são propensos a servir às pessoas. Mas, e quanto a nós? Oh, que digamos hoje ao Senhor: “Eu estou disposto a renunciar às coisas; eu estou disposto a renunciar à obra; eu estou disposto a renunciar ao átrio exterior e quero servir-Te no santuário interior”.

Quando Deus não conseguiu trazer todos os levitas ao local onde deviam ministrar a Ele, Ele escolheu os filhos de Zadoque dentre eles para este serviço especial. Por que Ele selecionou os filhos de Zadoque? Porque, quando os filhos de Israel se desviaram, eles reconheceram que o átrio exterior ficara irreparavelmente corrompido e por isso não procuraram preservá-lo, mas encarregaram-se de preservar a santidade do Lugar Santo.

Irmãos e irmãs, vocês conseguem suportar a idéia de abandonar a estrutura externa ou persistirão em montar uma proteçãao para preservá-la? É o Lugar Santo que Deus deseja preservar – um lugar totalmente separado para Ele, um lugar em que o padrão é absoluto. Oh! eu lhes suplico, diante de Deus, que ouçam Seu chamado para renunciar ao átrio exterior e a se devotar a Seu serviço no Lugar Santo.

Gosto de ler em Atos 13 sobre os profetas e mestres na igreja em Antioquia: “Servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse 0 Espirito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Ali vemos o único princípio que governa a obra para Deus na dispensação do Novo Testamento. 0 Espírito Santo comissiona homens para a obra somente quando eles estão ministrando ao Senhor. Se o ministrar ao Senhor não for a única coisa que nos governa, a obra ficará em confusao. No início da história da igreja em Antioquia, o Espírito Santo disse: “Separai-Me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Deus não quer voluntários para Sua obra; Ele quer convocados. Ele não terá você pregando o evangelho só porque você quer. A obra do Senhor hoje está sofrendo sério dano nas mãos de voluntários; faltam aqueles que podem dizer como Ele: “Aquele que Me enviou”. Oh, irmãos e irmãs, a obra de Deus é Sua própria obra e não uma obra que você pode abraçar a seu bel-prazer. Nem igrejas, nem sociedades missionárias, nem equipes de evangelização podem enviar homens para trabalhar para Deus. A autoridade para comissionar homens não está nas mãos de homens, mas tão-somente nas mãos do Espírito de Deus.

Servir ao Senhor não significa que não servimos ao nosso próximo, mas significa que todo serviço a homens tem o serviço ao Senhor como sua base. É o serviço a Deus que nos impele a servir ao homem.

Lucas 17.7-10 nos diz claramente o que o Senhor quer. Há dois tipos de obra mencionadas aqui: arar o campo e guardar o gado. Ambas são ocupações muito importantes, ainda que o Senhor diga que, até mesmo quando um servo retorna de tal trabalho, espera-se que ele providencie a satisfação de seu amo antes de sentar-se para desfrutar sua própria comida. Quando voltamos de nossa labuta no campo, estamos aptos para complacentemente meditar no muito trabalho que executamos, mas o Senhor poderá dizer: “Prepara-Me a ceia, cinge-te”. Ele exige o ministrar a Ele. Podemos ter labutado num campo bem grande e cuidado de muitas ovelhas, mas toda a nossa labuta no campo e junto ao gado não nos isenta de ministrar à propria satisfação pessoal do Senhor. Essa é a nossa suprema tarefa.

Irmãos e irmãs, estamos realmente atrás de quê? Somente trabalhar no campo? Somente pregar o evangelho aos incrédulos? Somente cuidar do gado? Somente cuidar das necessidades dos salvos? Ou será que estamos cuidando a fim de que o Senhor coma para Sua plena satisfação e beber até que Sua sede seja saciada? Realmente, é-nos necessário também comer e beber, mas isso só deve acontecer após o Senhor estar satisfeito. Nós também precisamos ter nosso desfrute, mas isso jamais poderá ocorrer antes que o gozo do Senhor seja pleno. Perguntemo-nos: nosso trabalho ministra para nossa satisfação ou para a satisfação do Senhor? Temo que, ao trabalharmos pelo Senhor, freqüentemente ficamos satisfeitos antes que Ele fique satisfeito. Muitas vezes ficamos tão felizes com nossa obra enquanto Ele não encontra prazer algum nela.

Irmãos e irmãs, quando fizemos o melhor, ainda temos de admitir que somos servos inúteis. Nosso objetivo não é ministrar ao mundo, nem à igreja, mas ministrar ao Senhor. E bem-aventurados aqueles que conseguem diferenciar entre ministrar aos pecadores ou aos santos e ministrar a Ele. Tal discernimento não é facilmente adquirido. Somente mediante um tratamento drástico aprenderemos a diferença entre ministrar ao próprio Senhor e ministrar à casa.
No entanto, se o Espírito Santo tiver Seu caminho em nossa vida, Ele proverá de acordo com a necessidade. Busquemos a graça de Deus a fim de que Ele nos revele o que realmente significa ministrar a Ele!

(Doze Cestos Cheios, vol. 2, Editora Árvore da Vida)

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Martin Lloyd-Jones Salvação Vida cristã

A perseverança dos santos (Martin Lloyd-Jones)

A questão final com que nos defrontamos é: que é que impede este ou aquele cristão de cair e perder-se? Se não for o que temos dito aqui, isto é, que somos “chamados segundo o seu propósito” e que, porque é Seu propósito, Ele próprio nos impede de cair, bem, então, que será que nos guarda e nos impede de cair? Consideremos a situação daqueles que acreditam ser possível um cristão regenerado, nascido de novo, ir definitivamente para a perdição, cair e perder a posição de estar “em Cristo”.

O que tais pessoas acreditam é que há dois tipos de cristãos: um deles se manterá seguro à verdade e à fé, e finalmente chegará à glória; o outro não consegue manter-se seguro, por um motivo ou outro, cai, e vai para a perdição. Elas explicam a diferença entre estes dois cristãos asseverando que um teve vontade e desejo de manter-se seguro, e que o outro não teve essa vontade e esse desejo. A diferença é determinada inteiramente pela vontade, pelo desejo e pela determinação pessoal do cristão particular. Sobre esse pressuposto, esta é a única conclusão a que se pode chegar.

Entretanto, se isso fosse verdade, uma decorrência seria que tal pessoa é mais forte que Adão antes da Queda. Adão era perfeito e estava sem pecado. Tinha livre-arbítrio completo, mas escolheu deliberadamente dar ouvidos ao diabo, e por isso caiu e causou as consequências que bem conhecemos, nele e em sua progênie. Disso decorre que aquele que por seu próprio esforço conseguisse manter-se na fé teria vontade e determinação mais fortes do que as que Adão tinha. Pode-se, porém, replicar: “O cristão está em melhores condições do que Adão; ele recebeu vida divina de Cristo e, portanto, tem algo superior ao que Adão tinha. Ele recebeu em seu ser nova vida de Deus, e é isso que o capacita a permanecer firme de um modo que Adão era incapaz de o fazer”. Mas esse argumento não nos ajuda nada, pois todos os cristãos, por definição, receberam essa mesmíssima nova vida. Por conseguinte, isso não explica a diferença. A causa da diferença não pode ser a nova vida recebida, porque ambos os grupos a possuem. Somos induzidos à inevitável conclusão de que, em última análise, o que mantém o cristão em sua fidelidade ao Senhor não é nada mais nada menos que o poder da vontade e determinação do próprio homem. É uma qualidade natural e, portanto, a sua conclusão final é que não é a regeneração que determina a salvação final; é uma força natural de vontade e de entendimento, um poder inerente ao homem. Quer dizer, você é induzido a uma conclusão que está em completa contradição com a doutrina da graça. O homem não é finalmente salvo devido à ação de Deus pela qual Ele lhe dá nova vida e o regenera. O fator determinante é a capacidade pessoal do homem de persistir apegado à fé; alguns a têm, outros não. É uma qualidade natural e, assim, é uma final contradição de todo o ensino bíblico concernente à salvação, e especialmente da regeneração. Essa é a conclusão à qual você será levado inevitavelmente, se rejeitar esta doutrina da perseverança final dos santos, que se baseia no propósito de Deus […]

Se a doutrina da perseverança não fosse verdadeira, então, se acaso você se visse na glória, a glória teria que vir a você por ter-se empenhado em permanecer firme e seguro. Você, como muitos outros, receberam a mesma dádiva da salvação; os outros, tolamente, não se agarram a ela, mas você se agarrou e continua assim. Portanto, a glória vem a você por seu empenho em segurar-se à benção da salvação. Entretanto isso é uma completa contradição do ensino das Escrituras, de capa a capa. Não há quem possa gabar-se quanto a esta questão. “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”. O homem não tem coisa alguma de que se gabar. E quando eu e vocês chegarmos ao céu, perceberemos plenamente que lá estamos, não porque nos seguramos firmemente quando outros desistiram, e sim porque Ele nos segurou, porque estamos no propósito de Deus e porque Ele nos guardou, apesar de nós mesmos, da nossa fraqueza e da nossa tendência de seguir os nossos caprichos pessoais. E daremos a Ele todo o louvor, toda a honra e toda a glória. Veremos que esse foi o Seu glorioso plano do princípio ao fim, e adoraremos o Cordeiro, o Filho de Deus, que realizou tudo isso. A Ele cabe toda a glória. A salvação é um feito inteiramente Seu, e o louvor e a glória são devidos a Ele, e somente a Ele.

(Extraído do livro A Perseverança Final dos Santos)

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Família

Culto doméstico

Essa é uma prática antiga entre o povo de Deus, importante para manter famílias e igrejas firmes, mas, infelizmente, quase banida dos lares cristãos hoje. São muitas as razões (ou desculpas). Sei que não é tarefa fácil começar, manter e fazer atraente o culto doméstico, mas é necessário. Se imaginamos que nossos filhos um dia decidirão seguir o Senhor sem que nós O tenhamos apresentado como Alguém real, importante, vivo, agradável e que faz parte da vida de todo dia, estamos arriscando o destino (nessa vida e na próxima) deles.

Encontre hoje este arquivo em pdf, chamado “Culto Doméstico”, de Joel Beeke. Leia, estude e pratique. Seus filhos e sua família agradecerão pela eternidade.

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A. W. Tozer Encorajamento Evangelho Heresias Igreja

O grande deus entretenimento (A. W. Tozer)

Há muitos anos um filósofo alemão disse alguma coisa no sentido de que, quanto mais um homem tem no coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é prova de falência do homem interior.

Se isto é verdade (e eu creio que é), então o desordenado apego atual a toda forma de entretenimento é prova de que a vida interior do homem moderno está em sério declínio. O homem comum não tem nenhum núcleo central de segurança moral, nenhum manancial no seu peito, nenhuma força interior para colocá-lo acima da necessidade de repetidas injeções psicológicas para dar-lhe coragem para continuar vivendo. Tornou-se um parasita no mundo, extraindo vida do seu ambiente, incapaz de viver um só dia sem o estímulo que a sociedade lhe fornece.

Schleiermacher afirmava que o sentimento de dependência está na raiz de todo culto religioso, e que por mais alto que a vida espiritual possa subir, sempre tem que começar com um profundo senso de uma grande necessidade que somente Deus poderia satisfazer. Se esse senso de necessidade e um sentimento de dependência estão na raiz da religião natural, não é difícil ver porque o grande deus entretenimento é tão cultuado por tanta gente. Pois há milhões que não podem viver sem diversão. A vida para eles é simplesmente intolerável. Buscam ansiosos o alívio dado por entretenimentos profissionais e outras formas de narcóticos psicológicos como um viciado em drogas busca a sua injeção diária de heroína. Sem essas coisas eles não poderiam reunir coragem para encarar a existência.

Ninguém que seja dotado de sentimentos humanos normais fará objeção aos prazeres simples da vida, nem às formas inofensivas de entretenimentos que podem ajudar a relaxar os nervos e revigorar a mente exausta de fadiga. Essas coisas, se usadas com discrição, podem ser uma benção ao longo do caminho. Isso é uma coisa. A exagerada dedicação ao entretenimento como atividade da maior importância para a qual e pela qual os homens vivem, é definitivamente outra coisa, muito diferente.

O abuso numa coisa inofensiva é a essência do pecado. O incremento do aspecto das diversões da vida humana em tão fantásticas proporções é um mau presságio, uma ameaça às almas dos homens modernos. Estruturou-se, chegando a construir um empreendimento comercial multimilionário com maior poder sobre as mentes humanas e sobre o caráter humano do que qualquer outra influência educacional na terra. E o que é ominoso é que o seu poder é quase exclusivamente mau, deteriorando a vida interior, expelindo os pensamentos de alcance eterno que encheriam a alma dos homens, se tão-somente fossem dignos de abrigá-los. E a coisa toda desenvolveu-se dando numa verdadeira religião que retém os seus devotos com estranho fascínio, e, incidentalmente, uma religião contra a qual agora é perigoso falar.

Por séculos a igreja se manteve solidária contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo que era – um meio para desperdiçar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por isso ela própria sofreu rotundos abusos dos filhos deste mundo. Mas ultimamente ela se cansou dos abusos e parou de lutar. Parece Ter decidido que, se ela não consegue vencer o grande deus entretenimento, pode muito bem juntar suas forças às dele e fazer o uso que puder dos poderes dele. Assim, hoje temos o espantoso espetáculo de milhões de dólares derramado sobre o trabalho profano de providenciar entretenimento terreno para os filhos do Céu, assim chamados. Em muitos lugares, o entretenimento religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muitas igrejas nestes dias têm-se transformado em pouco mais do que pobres teatros onde “produtores” de quinta classe mascateiam as suas mercadorias falsificadas com total aprovação de líderes evangélicos conservadores que podem até citar um texto sagrado em defesa de sua delinqüência. E raramente alguém ousa levantar a voz contra isso.

O grande deus entretenimento diverte os seus devotos principalmente lhes contando estórias. O gosto por estórias, característicos da meninice, depressa tomou conta das mentes dos santos retardados dos nossos dias, tanto que não poucas pessoas, pelejam para construir um confortável modo de vida contando lorotas, servido-as com vários disfarces ao povo da igreja. O que é natural e bonito numa criança pode ser chocante quando persiste no adulto, e mais chocante quando aparece no santuário e procura passar por religião verdadeira.

Não é uma coisa esquisita e um espanto que, com a sombra da destruição atômica pendendo sobre o mundo e com a vinda de Cristo estando próxima, os seguidores professos do Senhor se entreguem a divertimentos religiosos? Que numa hora em que há tão desesperada necessidade de santos amadurecidos, numerosos crentes voltem para a criancice espiritual e clamem por brinquedos religiosos?

“Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso opróbrio. … Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós porque pecamos! Por isso caiu doente o nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos.” Amém. Amém.

(O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão)

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Fénelon Oração

Oração

Fale a Deus tudo o que vai em seu coração, como quem descarrega para um amigo todas as suas alegrias e dores. Conte-Lhe seus problemas, para que Ele possa confortá-lo; fale-Lhe de suas alegrias, para que Ele possa moderá-las; conte-Lhe seus anseios, para que Ele possa purificá-los; fale de suas antipatias, para que Ele o ajude a superá-las; fale de suas tentações, para que Ele possa protegê-lo delas; mostre-Lhe as feridas de seu coragao, para que Ele possa sará-las; exponha-Lhe sua indiferença para com o bem, sua inclinação para o mal, sua instabilidade. Conte-Lhe como o amor por si mesmo torna-o injusto com os outros, como a vaidade o tenta a ser insincero, e como o orgulho mascara o que você é realmente para si mesmo e para os outros.
Se voce derramar dessa maneira, perante Ele, todas as suas fraquezas, necessidades e problemas, não haverá falta de assunto para a conversa. Você nunca conseguirá esgotar o assunto, pois ele está sempre se renovando. As pessoas que não têm segredos umas para as outras nunca ficam sem ter o que conversar. E elas não medem suas palavras, pois não há nada para ser guardado consigo; nem precisam estar a procurar coisas para dizer. Elas falam do que está cheio o coração; sem parar para ponderar, elas dizem o que pensam. Felizes são aqueles que conseguem atingir esse grau de familiaridade e de profundidade em sua comunhao com Deus.

(François Fénelon)

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