Categorias
Escatologia Igreja Jessie Penn-Lewis

A Igreja no tempo do fim

Esta é uma hora de grandes movimentos. O mundo todo está num estado de revolta, e “visões mundiais” de todos os tipos estão prendendo a muitos. A grande questão é: estão essas “visões mundiais” em harmonia com a Palavra de Deus? O diabo pode dar “visão mundial” (Mt 4.8), e por essa razão é necessário que tenhamos nossa visão ajustada às condições que a Bíblia revela como as que caracterizariam os últimos dias.

Vamos primeiramente olhar, de maneira breve, a mensagem do Senhor glorificado para Filadélfia, conforme registrado em Apocalipse 3.7-13, pois esta é a primeira referência à Sua “vinda breve” que encontramos nestas cartas às Igrejas.

1. A verdadeira Igreja no tempo do fim

Note que (1) será um tempo em que tudo ao redor dos cristãos será tão antagônico para todo serviço do evangelho que somente o próprio Senhor estará apto a abrir portas para Sua mensagem e Seus mensageiros e mantê-las abertas (vv. 7,8); (2) um tempo em que Seu povo terá apenas “pouca força” comparado às forças contra ele; (3) um tempo em que o máximo que é possível será vitória negativa, isto é, a vitória do que eles não farão, e não do que eles são capazes de cumprir — “não negaste o Meu nome” (v. 8).

No mundo religioso (4) será um tempo de confissão (v. 9) sem verdadeira comunhão com Deus, e (5) um tempo em que a única palavra que o Senhor falará ao Seu povo será “paciência”: “guardar a palavra da Minha paciência” (v. 10). Nada mais será possível. Nada de “progresso” ou “faça grandes coisas”, mas paciência. Nessa condição, da paciência de Deus trabalhada em Seus santos, Ele será capaz de mantê-los no “recôndito do Seu tabernáculo” durante as trevas que precedem a hora terrível que está por vir sobre a terra habitada (v. 10). Se o Seu povo é impaciente, eles não podem ser guardados de ser envolvidos nas tribulações e sofrimentos, pois a impaciência leva o crente para fora do cuidado poderoso de Deus, provavelmente mais do que qualquer coisa.

O Senhor, portanto, fala: “como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei”. Para os santos será também (6) um tempo de conflito, no qual o preço da coroa está em risco. “Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa” (v. 11).

2. A condição do mundo no tempo do anticristo

Agora vamos passar a ver as condições do mundo nos últimos dias, quando o anticristo tiver sido revelado, conforme registrado em Apocalipse 13.1-18. Aqui temos uma figura completa do reino do anticristo em dois aspectos: civil e religioso.

Quando a “besta”, o anticristo, obtém o trono do mundo, e “grande autoridade”, a condição das coisas, como descrita em Apocalipse 13, não terá chegado àquele ponto repentinamente, mas será o resultado climático de trabalhos forjados previamente por espíritos do anticristo (ver 1Jo 2.18). Conseqüentemente, quanto mais perto chegamos da volta do Senhor, mais os crentes descritos na mensagem à Filadélfia se encontrarão à negra sombra do reinado vindouro da besta e serão capazes, à luz da Palavra de Deus, de ver progressivamente as evidentes características marcantes do terror por vir.

Vamos ver brevemente algumas das linhas centrais do que é descrito em Apocalipse 13 e nos perguntar se já não vimos alguns dos sinais daquilo que está à frente. Note primeiramente que toda situação será resultado direto dos planos e do poder do dragão. “O dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono e grande autoridade” (v. 2). Diz claramente que o dragão governará o mundo através de dois instrumentos: a besta — o anticristo —, como cabeça de toda autoridade civil, e o falso profeta, como cabeça de todos os movimentos religiosos da época (vv. 11,12).

Observe algumas das características fundamentais da besta: (1) ela recebe adoração, reverência de todo o mundo, e, através desta reverência à besta, o dragão obtém adoração mundial, pela qual havia anelado desde o momento em que disse, em eras remotas: “serei como Deus” (Is 14.14). Sua grande ambição é obter a adoração devida apenas ao Mais Elevado, e ele obtém isso por um breve período antes do Senhor retornar em glória. (2) Observe as descrições impressionantes dadas das características principais da besta, pelas quais “toda a terra se maravilhou” dela e rendeu-lhe adoração. Ela teve uma “chaga mortal” que foi curada.

A besta foi1 alguém miraculosamente curado. E curado tão assombrosamente que “toda a terra se maravilhou” e se curvou diante de tal evidência de poder sobrenatural. Isso mostra claramente que o dragão é capaz de “curar” e falsificar a ressurreição do Senhor, e que o anticristo e o falso profeta obterão seu poder sobre “todos os que habitam sobre a terra” inteiramente pelo poder satânico. (3) A influência da besta foi exercida principalmente através do discurso; “falando grandes coisas e blasfêmias”; ela blasfemou contra Deus, contra Seu nome, contra Seu tabernáculo, contra os céus e os redimidos que habitam no céu. Que terrível descrição do estado do mundo sob o governo do arcanjo caído, Satanás! Blasfêmias abertas contra Deus e contra todos os que Lhe pertencem, penetrando através de “toda a tribo, e língua, e nação”. (4) À besta foi permitido fazer guerra aos santos, para vencê-los e matá-los e, ao fazê-lo, ele aparentemente se torna o mestre de toda terra habitada (v. 7).

3. O cordeiro falsificado e seus milagres

Na segunda besta, vemos uma descrição extraordinária de uma imitação sobrenatural da verdadeira obra do Espírito Santo de Deus. Parece que o anticristo pode apenas obter e manter seu poder sobre toda a terra por meio de uma falsa religião, com sinais dos céus para provar que ela veio de Deus. A figura toda (vv. 11-18) é de uma imitação sobrenatural de realidades divinas — não de apostasia intelectual — e de uma forma de divindade sem o poder.

A segunda besta ressuscita na forma de um cordeiro, imitando Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, apenas distinguível do verdadeiro por seu discurso, por seus ensinamentos e doutrinas. Ele se parecia com um cordeiro, mas falava como um dragão (v. 11). Ele tinha poder equivalente ao da primeira besta, com semelhante influência (v. 12), e foi totalmente devotado a induzir todos os habitantes da terra a adorar o anticristo e, não vamos nos esquecer, tudo isto por trás do anticristo, o dragão (v. 4).

Como o falso cordeiro obtém a “adoração”? (1) Ele fez “grandes sinais” (v. 13). (2) Ele fez descer fogo do céu, não de baixo, mas do céu, no qual o príncipe do poder do ar vagueia à vontade (v. 13). (3) Ele engana os habitantes da terra por meio de milagres (v. 14). (4) Ele estava apto a dar vida a uma imagem da besta e induzi-la a falar (v. 15), mas tudo será forjado pelo “poder” suprido pelo dragão.

4. Os santos vencedores no tempo do anticristo

E os cristãos verdadeiros? Não há exceções para esta reverência mundial à besta e para o dragão por trás dela? Sim! Os santos do Calvário viram o poder por trás dos fatos, e recusaram-se a adorar (v. 8). E qual foi o resultado? A besta tinha “poder para fazer com que todos os que não adorassem (…) fossem mortos” (v. 15).

Aqui há um vislumbre do poder do dragão para matar os santos que se recusam a reverenciá-lo. E posteriormente, “faz que a todos (…) lhes seja posto um sinal (…) para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal” (vv. 16, 17). Isso foi para subjugar pela fome aqueles que não adorassem. No mundo ímpio, podemos ver o crescente trabalho de espíritos anticristãos blasfemando contra Deus, e no mundo religioso, espíritos anticristãos imitando Cristo e fazendo grandes maravilhas.
Diante deste quadro panorâmico dos dias vindouros, e do inegável fato de que já estamos na preparação mundial para sua plena manifestação, a grande questão para a Igreja agora é: “O que esperamos de Deus em tal tempo?” As Escrituras nos mostram Deus fazendo “sinais e prodígios” em competição com as “imitações” que o espírito do anticristo e do falso profeta já está fazendo na terra? Ou a figura enfatiza que o único poder que capacitará os santos a permanecer nos dias maus é o conhecimento da cruz, e que o único caminho para eles é o caminho da cruz?

5. Os santos do Calvário antes e durante o reinado da besta

“Todos (…) adoraram-na, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida, do Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (v. 8). O quadro é de todos os habitantes da terra dando ao dragão adoração, exceto, em toda a terra, dos santos do Calvário, aqueles que sustiveram a única verdade do Cordeiro morto, e aqueles que preferem morrer por Ele a render um ato sequer de adoração ao dragão (Ap 12.11). Isso não se parece com Deus vindo com sinais e prodígios para combater os imitações de Satanás. Antes, isto está na linha dos princípios da obra de Deus descritos pelo Senhor. “E nenhum sinal lhes será dado, senão o sinal do profeta Jonas” (Mt 16.1-4). “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e noites no seio da terra” (12.38-40). O único sinal que Deus deu aos judeus que pediram a Cristo um “sinal do céu” foi sua morte no Calvário, e o grande sinal que haverá Dele nos dias do anticristo será Seu testemunho da morte resgatadora de Seu Filho por meio daqueles que partilham do Espírito de Cristo, sacrificando a própria vida por Ele.

Isso parece confirmado também em Apocalipse 20.4-6. Aqueles que “viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” eram aqueles que tinham sido mortos por seu testemunho do Cordeiro morto e por manter a Palavra de Deus, e eram estes os que não adoraram a besta nem receberam sua marca para poder comprar e vender e, então, viver. Pelo fato de todas essas condições estarem presentes na terra, parece claro que não há promessa para os últimos dias de movimentos de “sinais e prodígios” dados por Deus, nem mesmo de um ajuntamento rápido de multidões de almas para Cristo. Mas haverá movimentos mundiais permitidos pelo príncipe do poder do ar quando o evangelho da cruz será omitido ou obras fraudulentas de espíritos do anticristo visando a encobrir a mensagem da cruz em seu pleno poder. Tampouco há base alguma para esperar por um triunfo visível dos santos vencedores, pois “foi-lhe [à besta] permitido fazer guerra contra os santos e vencê-los” (Ap 13.7).

6. O conhecimento da cruz é necessário nos últimos dias

“O Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). É surpreendente encontrar essa declaração no meio do manifestado reinado do anticristo sobre o mundo. A expressão engloba toda a obra de Cristo no Calvário, como o Cordeiro que morreu por aqueles cujo nome está no Seu livro da vida. A única necessidade para os filhos de Deus no tempo do fim é conhecer, em toda a sua plenitude, o significado da cruz, para usar isso como uma arma de vitória sobre o dragão em todos os seus vários ataques contra o povo de Deus.

7. Como distinguir o verdadeiro poder do falso

Não há também “obras elevadas”, “curas” de Deus e “milagres” feitos por Ele? Seguramente há, mas a diferença entre as obras forjadas do anticristo e a obra do Espírito Santo é que o verdadeiro poder de Deus invariavelmente alcança a alma via Calvário, não por meio de espetacular “competição” com os prodígios prenunciados dos espíritos de Satanás, de modo que o mundo espectador dos homens não pode distinguir o falso do verdadeiro, mas numa profunda aplicação trabalhada interiormente, pela palavra da cruz como o poder de Deus, pelo Espírito de Deus, por meio do qual o crente é liberto, não apenas do poder do pecado, mas também é-lhe dado conhecer, em sua carne mortal, a vida pela qual Jesus venceu a morte em toda a força do seu poder.

Os “milagres” de Deus não são sempre externamente cumpridos, mas trabalhados no íntimo do espírito do homem via Calvário. Mais profundo e mais pleno do que qualquer cura do corpo é a maravilhosa obra de Deus, pela qual “aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos” vivifica o corpo mortal (Rm 8.11) do crente, tanto que ele é “entregue à morte diariamente por causa de Jesus” (2Co 4.10-12).

“Por seus frutos o conhecereis”, disse o Senhor a seus discípulos, pois o fruto, como resultado da vida interior, revela a origem oculta de ação. “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus (…) muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?” (Mt 7.15-23). Os feiticeiros no Egito, trabalhando pelo poder de Satanás, puderam produzir “sangue” falso (Êx 7.22) e o inimigo sutil é capaz de introduzir seus “prodígios” sob uma imitação do “sangue do Cordeiro”, como visões do “sangue” cobrindo a alma, e “rios de sangue” enchendo uma sala. Mas o sangue do Senhor Jesus Cristo fala nos céus no trono de misericórdia, e não tem forma material em sua aplicação para o crente.

“Os discípulos chegaram-se a Ele, em particular, e lhe pediram: Dize-nos (…) que sinal haverá (…) da consumação do século. E ele lhes respondeu, dizendo: porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.3,24). Ele não diz que enganar os eleitos não é possível, mas, sim, que o propósito do impostor é alcançá-los.

“Vede que vo-lo tenho predito”, disse o Mestre, mostrando claramente que é através de “sinais e prodígios” que o perigo virá aos sinceros filhos de Deus, num tempo em que anormalidades serão abundantes, e em que o amor esfriará de muitos. Nestes dias perigosos vamos vigiar e ser sóbrios (1Ts 5.6; 1Pe 4.7).

1No original, o verbo está no passado, provavelmente para concordar com os verbos em Apocalipse, todos sempre no passado. (N.E.)

(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial 4, publicada por CCC Edições, abril de 2002)

Categorias
Igreja Thomas Neatby

Reunidos no nome do Senhor Jesus

Há mais de cinqüenta anos, quando eu era ainda um jovem servo de Cristo, fiquei muito preocupado com a condição da Igreja naquela ocasião. O slogan de Keswick1, “Todos um em Cristo”, era quase desconhecido tanto em princípio como na prática. A pretensão clerical não tinha recebido o duro choque que sofreu alguns anos mais tarde, por ocasião do avivamento irlandês. O mundanismo, essa armadilha constante para os filhos de Deus, dominava. O sectarismo, o clericalismo e o mundanismo na Igreja eram uma carga real para mim.

Nessa ocasião fiquei conhecendo alguns cristãos devotos2, que se reuniam de modo bem simples, e, segundo meu parecer, conforme o padrão bíblico de adoração e comunhão. Eles partiam o pão no “primeiro dia da semana” e recebiam todos os que lhes davam motivos de crer que eram realmente filhos de Deus, sãos na fé e piedosos na conduta. Não tinham uma classe distinta de ministros, embora fossem gratos por todos aqueles que o Senhor qualificava para tal e usava na “obra do ministérios para edificação do Corpo de Cristo”. Eu havia encontrado o que procurava. Fui reconhecido como discípulo, pregador do Evangelho, segundo minha medida, e logo recebido como irmão em Cristo.

Descobri que havia muito o que aprender. Essas pessoas felizes, com pouca pretensão, estavam vivendo verdades das quais eu conhecia pouco ou nada. A salvação plena no Cristo ressurreto, com Quem eles eram um pelo Espírito Santo que neles habitava, a chamada distinta e especial da Igreja como Corpo e Noiva de Cristo, a esperança real e diária da Sua volta, o lugar importante e soberano de Israel na Palavra e caminhos de Deus e outras verdades semelhantes eram seu alimento e gozo diários. Tive o prazer de participar com eles dessas alegrias e de ver meu coração ligado mais intimamente a Cristo Jesus, meu Senhor. O que aprendi de Deus naquela ocasião eu guardo ainda mais firmemente. Seria um dia nublado e negro encontrar-me sem uma das verdades que então alegraram meu coração.

Os anos passaram e, em meio a muitas fraquezas e falhas, minhas convicções com respeito a essas verdades foram fortalecidas e meu prazer nelas aumentou. Mas, pouco a pouco, descubro que o sectarismo havia me seguido onde eu pensava estar protegido dele, e que, em certa medida, ele havia tomado posse de mim. O diabo é sutil, e nós, ai! somos propensos à carnalidade e a andar “como homens” (1Co 3.4, grego), nos tornando assim presa fácil para o inimigo de Cristo que nos leva a pensar que estamos servindo a Ele ou, então, a rejeitar e criticar aqueles que “não nos seguem” (Lc 9.49). João, sem dúvida, julgava-se zeloso por seu Senhor, enquanto seu zelo carnal tinha o “nós” como alvo.

Mesmo depois de toda a verdade de “Cristo e a Igreja” ter sido revelada, havia aqueles que fizeram de Cristo a cabeça de um partido rival aos de Pedro, de Paulo e de Apolo. Ambos os casos, eram, na verdade, muito sutis. João poderia ter dito corretamente: “Ele deve seguir a Cristo juntamente conosco, que somos Seus apóstolos escolhidos.” E o partido em Corinto poderia ter respondido: “Certamente é correto sermos de Cristo”. Mas a resposta do Senhor a João e a pergunta do Espírito Santo foi: “Está Cristo dividido?” Isso mostra que a carne (e portanto Satanás; veja Mt 16.23) estava operando em ambos os casos. Foi em 1884 que escrevi um folheto no qual eu reclamava para aqueles com quem eu me reunia para adoração a exclusividade de estarem reunidos para o nome do Senhor Jesus. Que carnalidade coríntia! Dois anos mais tarde, confessei publicamente meu grave erro. Mas agora que o tumor se espalhou e os termos que o encerram receberam de alguns distritos a aprovação para uso habitual, sinto que uma retratação mais categórica se faz necessária, juntamente com um sério protesto contra a apropriação por parte de apenas uns poucos daquilo que é privilégio de todos os filhos de Deus.

Permitam-me apresentar dois exemplos desse título denominacional: (1) Tenho visto repetidamente nos últimos anos cópias impressas de uma “carta de recomendação” a ser preenchida quando necessário. Seu conteúdo é mais ou menos assim: “Os santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em… recomendam etc.”. A carta é endereçada aos “santos reunidos para o Nome do Senhor Jesus em…”; (2) Um periódico, dando relatórios da evangelização dos distritos do sudoeste, menciona que ele é feito “em nome das assembléias de cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus”.

Existem, então, “cristãos reunidos no Nome do Senhor Jesus” distintos dos cristãos que não se reúnem assim. Esse é o título denominacional deles. São formados em assembléias que levam essa denominação distinta. Não são mais “reuniões” de cristãos que rejeitam todos os nomes ou títulos que os distinguem dos outros santos. (Essa foi nossa glória em outros tempos.) Eles encontraram um nome para competir com todos os outros nomes, tais como os de Paulo, Apolo e Cefas: são cristãos reunidos no nome do Senhor Jesus, a escola (ou classe) coríntia de Cristo. Meus irmãos, isso é carnalidade!

Para mim, “o antigo é melhor”. A “escola (ou grupo) de Cristo”, as “assembléias reunidas no nome do Senhor Jesus” eu não posso suportar. Mais precisamente, deixem que eu seja um com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor, Jesus Cristo, Senhor deles e nosso (1Co 1.2).

Poderei ser interrogado: “Você não está reunido para o Nome de Cristo?” Minha resposta: “Nem sempre, nem distintivamente.” Eu não estou “reunido” enquanto escrevo estas linhas. Sou sempre uma ovelha do único rebanho de Cristo; algumas vezes reunido com outros para adoração e comunhão, e por isso sempre, graças a Deus, no nome de Cristo! Permita-me rogar ao leitor que considere bem Mateus 18.20, dentro do seu contexto, sem atribuir qualquer significado que não esteja nele. Imaginemos um grupo de cristãos zelosos (presbiterianos, episcopais, batistas, metodistas, “amigos” e aqueles que rejeitam todos os títulos que dividem) que consideram que um diploma tende a roubar deles a liberdade que desejam há tanto tempo, e que ele é a cunha fina que abre a passagem para a mulher montada na besta escarlate. Esses homens, podemos supor, não têm liberdade para se unir em resistência passiva ou para interferir no governo do mundo, mas sentem que, se suas orações “por todos os homens” são necessárias, agora é o tempo. Eles estão “reunidos” e “concordam” nas súplicas ao trono da graça celestial. Em nome de quem eles estão reunidos? Só existe uma resposta, pois só existe um nome acessível diante daquele trono. Foi esse nome que Elias invocou no monte Carmelo por um Israel não-dividido; foi o nome Dele, que agora conhecemos como nosso Senhor, Jesus Cristo, o único nome que assegura toda bênção pedida para toda a Igreja de Deus. Oh, que eu esteja sempre reunido, quando reunido, naquele nome! E aquilo que valorizo tanto para mim não seja recusado por mim a qualquer santo de Deus.

O uso atual desse título discriminativo por uma parte da Igreja é comparativamente recente. E o “reunidos” também é recente? Nos tempos modernos os cristãos não foram acostumados a se reunir do modo referido, antes da segunda quarta parte do século passado. Não havia então reunião no nome de Cristo entre os primeiros séculos de nossa era, e, digamos, 1826 [quando os irmãos de Plymouth começaram a se reunir – NT]? Certamente que não se poderia encontrar nenhum cristão que afirme isso. A Igreja perdeu logo no início sua esperança: a volta do Noivo Celestial, e, com ela, a separação do mundo. Em pouco tempo provou sua infidelidade ao seu Senhor crucificado e foi arruinada quanto ao seu testemunho e responsabilidade. O Senhor deixou-se ficar sem “dois ou três” reunidos em Seu nome durante todos esses séculos? Os santos se reuniam na época da Era das Trevas, mas no nome de quem? Alguns deles “andaram vestidos de peles de ovelhas e cabras, necessitados, aflitos e maltratados” (Hb 11.37). Estes, quando levados às covas e cavernas, oraram juntos? E no nome de quem? Se fosse no nome de Júpiter, Astarote ou Maria, eles teriam sido libertados. Mas os que confessavam o Nome e deram a vida por Ele como mártires, deles era a comunhão dos Seus sofrimentos (Fp 3.10).

Regozijando-se por participar da Sua rejeição, suas orações oferecidas em culto e freqüentemente interrompidas pelo fogo e pela espada subiram como incenso suave em o Nome e oferecidas pela mão sacerdotal Daquele que morreu, mas está vivo de novo!

Reunir-se em Seu nome é um privilégio sem preço! É precioso demais para ser outorgado exclusivamente a qualquer dos fragmentos resultantes da quebra do testemunho, que foi verdadeiramente a obra Daquele que é “maravilhoso conselheiro e excelente na obra”. A nós pertence a vergonha e a confusão de rosto, pelo modo como temos cuidado da Sua obra.

Diga-me: o reunir-se no nome de Cristo pertence àqueles assim chamados de comunhão aberta ou aos de comunhão fechada? Os líderes de cada grupo não reclamam esta prerrogativa para si e a negam aos outros? Ela deve ser entregue a qualquer um dos inúmeros corpos nos quais (ai!) o lindo testemunho uma vez levantado por Deus para a glória de Cristo e os privilégios da Igreja que é Seu Corpo foi dividido? Se a teoria que serve de base para esse título denominacional for verdadeira, apenas um desses corpos pode ter o direito de adotá-la. E qual é ele?

Meus irmãos, e qualquer entre vocês que temem a Deus, busquemos a graça para lançar fora, aos pés da cruz, nossas vãs pretensões e assumir nosso lugar em humilde confissão diante de Deus. Nosso orgulho tem entristecido e feito tropeçar muitos que são caros a Deus. Muitos deles se desviaram e seus filhos também, quando poderiam estar andando agora entre nós no conforto do Espírito Santo. Está escrito em verdade eterna: “DEUS RESISTE AO SOBERBO!” Ai do homem ou do grupo a quem Deus resiste!

Se a metade da energia que tem sido gasta para produzir e manter altas reivindicações eclesiásticas tivesse sido dedicada ao Senhor para fazer veredas direitas para nossos pés (Hb 12.13), para andarmos em humildade e fidelidade, dando frutos para Deus, buscando zelosamente a bênção para toda a família da fé e ganhando almas para Cristo, que colheita de bênçãos teria sido ceifada hoje!

É de se temer que muitos entraram num caminho realmente de fé, sem o quebrantamento de espírito tão essencial para trilhar tal caminho. O que diríamos de um bêbado ou de um homem desonesto que dissesse que estava convencido da sua tolice e que se dispunha a virar uma nova página, isto é, a viver uma nova vida? Não ficaríamos tristes com sua justiça própria? Sem arrependimento para com Deus? Sem necessidade do sangue expiador ou do Espírito vivificante! O que diremos então de um cristão que está convencido de que seu caminho não tem sido de acordo com a Palavra de Deus, e, portanto, não agradável a Ele, o qual, de igual modo, virou uma nova página e está determinado a andar segundo o que se encontra na Escritura? Sem ervas amargas? Sem confissão? Não é isso a própria essência da justiça própria? O primeiro passo é o do orgulho. E o curso subseqüente? Não temos aqui a explicação para o orgulho e auto-satisfação encontrados em nosso meio?

“ELE PODE HUMILHAR OS QUE ANDAM NA SOBERBA” (Dn 4.37)

1 Referência à Conferência de Keswick, movimento que reuniu os mais sérios e profundos pregadores da sua época.
2 Trata-se dos “brethren” (irmãos), grupo de cristãos que não tomava sobre si nenhum outro nome que não o do Senhor. Sua importância e herança para a história da Igreja ainda não são totalmente conhecidas! Um pouco sobre eles pode ser encontrado a partir da pequena biografia de John Nelson Darby.

 

Categorias
Igreja Modernismos

Eu tenho de gostar da Lagoinha?

Há alguns anos, a chamada música louvor-e-adoração tem sido presença marcante nos grupos…

(abramos um longo parêntese para tentar responder à pergunta: Como chamar os filhos de Deus? A Bíblia os chama de irmãos, santos, discí­pulos e, bem poucas vezes, cristãos. Depois, vieram os termos “crentes” e “evangélicos”; mais recentemente “gospel” e, absurdo dos absurdos!, “fãs de Jesus”. Este último, evidentemente, é repugnante. Fãs de Jesus foram aqueles que O receberam à entrada de Jerusalém e, poucos dias depois, pediram que fosse crucificado. Fã o é hoje, e amanhã deixa de ser. Portanto, não serve para descrever um relacionamento sério com o Senhor. Gospel? De um tipo de música americana a carimbo sobre tudo o que é feito em nome de Deus ou é — mais ou menos — relacionado com Ele. Assim, temos música, revistas, bandas, axé, camisetas, canetas, canecas, cartão de crédito, baladas, fã-clubes, heavy metal, piercing, pulseiras… tudo gospel. O que isso significa? Para mim, apenas que Deus se tornou um bom produto. De um modo ou de outro. A Superinteressante, por exemplo, todo final de ano tem de fazer uma matéria de capa achincalhando a fé cristã. Vende, e isso é o que importa.Infelizmente, os filhos de Deus (e muitos que não o são) descobriram também este filão — basta colocar o nome gospel em alguma coisa (qualquer coisa) que o povo compra, usa, ouve e toma como inspirado pelos céus.Portanto, repudio também o adjetivo gospel. Para mim, ele nada significa, a não ser comércio.
Entre os termos bí­blicos, fico com cristão. Indica seguidor de Cristo. Sei que os católicos e espíritas também usam esse termo para si, mas são usurpadores apenas, não renascidos. Sim, há salvos entre os católicos, mas, no que diz respeito à instituição, o termo cristão não lhe cabe.)

Parêntese fechado, voltemos ao tema proposto. Como eu dizia, os rincões cristãos foram invadidos por esse tal de louvor-e-adoração. E dentro os expoentes desse tipo de música está o chamado Ministério Diante do Trono.
Não quero me alongar em considerações sobre o tal ministério (uma pergunta: você encontra ministérios com nomes no Novo Testamento? Nome de pessoas, de pastores, nomes “bíblicos”, nome engraçadinho — você encontra alguma coisa assim naquela que é [deveria ser] nossa regra de fé e prática?). Apenas assusto-me com a imposição de seu estilo sobre os cristãos, quase colocando-se como a versão oficial dos louvores do céu. Todos querem gravar CDs e DVDs como o DT e cantar como ele e aparecer como ele. É o comércio, novamente.

Encontrei a lí­der do DT numa “feira evangélica” em São Paulo. Havia uma fila enorme de pessoas esperando por um autógrafo dela e para serem fotografadas ao seu lado. Que é isso? Idolatria? E é tudo para a glória de Deus, como se justificam as estrelas gospel? Comércio. E os produtos são muitos: livros, cds, dvds, cds para crianças, revistinhas, até ringtones e papéis de parede para celular. É assim que tem de ser? Essa é a maneira bí­blica de pregar o evangelho? de denunciar os pecados? de conduzir pessoas à luz? Isso funciona?

Aparentemente, não. Um xou desse grupo reúne, segundo seus organizadores, dois milhões de pessoas. Para quê? Qual foi o impacto real na cidade de dois milhões de cristãos (se é que o eram todos) reunidos? Nenhum. Corrupção, violência, prostituição, drogas, mentira, tudo continua exatamente como antes. Ah, que saudades de Jonathan Edwards que, sozinho, sem orquestra, banda, coral, dança, pintura profética (que será isso?), pirotecnia, propaganda e tv, em tom monocórdico, pregou “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” e, pela convicção de pecados, acabaram os prostíbulos daquela cidade naquela noite!

Outros grupos, à semelhança do DT, reúnem milhares, fazem um espetáculo roliudiano, mas sem impacto espiritual real e duradouro sobre a sociedade. Há algo, com certeza, profundamente errado em tudo isso.

Não gosto do DT por razões teológicas, em primeiro lugar, e, depois, musicais. Mas, pelo que vejo entre muitos cristãos, por comentários e devoção ao DT, eu deveria. Ouvi um locutor de rádio dizer sobre a lí­der do DT: “Se isso não é unção, o que é? Se essa moça não é usada por Deus, quem é?”

Pois é. Agora, ele/ela é também sinônimo de unção e de ser usado por Deus.

Onde irá parar tudo isso?

___________________

Obs.: Escrevi este curtíssimo artigo em 10 de dezembro de 2005. De lá para cá, muita coisa mudou. Menos no DT, que continua tão ruim, teológica e musicalmente, quanto à época em que escrevi. Minha opinião continua a mesma, agravada pelos muitos filhos que o DT gerou.

Categorias
Igreja Vida cristã

A Ceia do Senhor: simplicidade e sublimidade

William J. Watterson

I Co 11:20-34 – A Ceia, o único memorial de Cristo instituído para esta dispensação, apresenta duas características aparentemente contraditórias: simplicidade e sublimidade. Vamos examiná-las resumidamente.

A Instituição da Ceia

O Novo Testamento contém quatro relatos da instituição da Ceia: Mateus 26:26-28; Marcos 14:22-24; Lucas 22:19-20; I Coríntios 11:20-34. Apesar do lugar de destaque que a Ceia ocupa nos corações daqueles que amam a Cristo (e com toda razão), é interessante notar que a Palavra de Deus destaca a simplicidade desta celebração. O Novo Testamento fala relativamente pouco acerca duma reunião tão preciosa; não porque a Bíblia desconhece a importância da Ceia, mas para enfatizar que esta reunião só é preciosa devido ao Senhor do qual ela fala.

Afirmamos que a Ceia é uma reunião simples pelos seguintes motivos:

a) Instituída num contexto simples

As quatro narrativas da instituição da Ceia mostram que ela foi instituída de uma forma bem simples, sem qualquer ostentação. O Senhor não preparou um ambiente especial, e nem mesmo preparou, de antemão, seus discípulos, avisando-os de que iria instituir esta reunião. Eles estavam reunidos para outro propósito e não para a instituição da Ceia, mas para a celebração da Páscoa. E no meio daquela festa dos judeus, sem qualquer aviso prévio, o Senhor instituiu a Ceia.

b) Realizada com elementos simples

Ao fazer isto, Ele não utilizou-se de alguma coisa cara e especial, mas de dois elementos simples, que estavam em abundância ali sobre a mesa. Ele tomou, simplesmente, um pão e um cálice. Não eram elementos trazidos especialmente para a ocasião; eram elementos trazidos ali devido à festa da Páscoa, e que Ele aproveitou para instituir a Ceia. Todos os anos, havia pães e cálices sobre a mesa na festa da Páscoa. O Senhor usou aquilo que estava ali à Sua disposição.

c) Realizada de forma simples

Toda a cerimônia é marcada pela simplicidade. “O Senhor Jesus tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei: isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Só isto! Eu reconheço, é claro, que este ato aparentemente tão simples é repleto de instrução e solenidade. Mas repare este fato: do ponto de vista da liturgia, do ritual, da forma de celebração, a Ceia não poderia ser mais simples!

Por quê?

Faríamos bem se meditássemos nisto. Por que a instituição da Ceia é caracterizada por tanta simplicidade?

O Senhor poderia ter levado Seus discípulos para algum lugar especialmente preparado, avisando-os de que o propósito de sua reunião seria a instituição de algo muito importante. Poderia ter usado elementos atraentes e caros. Poderia ter estabelecido um ritual requintado e atraente. Mas não o fez.

Na Velha Aliança foi assim. As instruções para a construção do Tabernáculo foram dadas no monte Sinai, no meio de vozes, trovões e relâmpagos. A construção foi feita com materiais caros como ouro, e era de uma beleza impressionante (no seu interior). E não era de qualquer forma que os sacerdotes oficiavam; havia muitos rituais relacionados com a adoração no Tabernáculo.

Mas a instituição da Ceia está em absoluto contraste com todo este ritual do Velho Testamento. No meio da festa da Páscoa, sem qualquer aviso prévio, usando elementos comuns e normais, o Senhor institui uma celebração extremamente simples. Nada de rituais, nada de pompa e glória humana. Apenas uma cerimônia simples.

A razão é clara. A Ceia não é uma reunião para provocar admiração em ninguém devido à beleza de seus rituais e cerimônias. Não foi instituída para atrair, de qualquer forma, a carne (que sempre gosta da pompa dos rituais tradicionalistas). É, pelo contrário, uma reunião que, quando celebrada em sua simplicidade original, impressiona qualquer pessoa espiritual presente, por trazer à memória a pessoa do Senhor Jesus. Ele é o motivo e a razão de ser desta celebração. Ela impressiona quem já pertence a Cristo e O ama, mas não tem nada para agradar ou atrair o incrédulo. É uma celebração simples, porque a importância está na Pessoa de quem lembramos. O valor não está nos símbolos, mas na Pessoa de quem estes símbolos falam.

Um ritual requintado, uma celebração bela e atraente chamaria toda a atenção para si, desviando nossa atenção do Senhor. A simplicidade da Ceia não ofusca, mas destaca a glória do Senhor.

Por este motivo, devemos zelar pela simplicidade desta reunião. Abandoná-la significa desonrar o Senhor. Não podemos permitir que nada e nem ninguém chame para si a atenção durante a Ceia. Muitas igrejas, bem intencionadas, e querendo mostrar a importância que dão à Ceia, acabam por destruí-la. A beleza dos preparativos, a programação formal (onde alguém é responsável por “presidir” a Ceia, alguém serve os elementos a todos os participantes, etc), e coisas semelhantes apenas servem para agradar aos olhos humanos, e acabam tirando a nossa atenção daquele que é o centro e a razão da Ceia, o nosso amado Senhor Jesus Cristo.

Uma reunião preciosa

Apesar de extremamente simples, a instituição da Ceia nos lembra que é, também, uma reunião das mais preciosas para o cristão. O homem só sabe valorizar o exterior, mas esta reunião, que não tem nada para atrair a carne, nada para impressionar o ser humano, é preciosa para toda aquele que é salvo.

O principal motivo pelo qual celebramos a Ceia é para lembrar do Senhor. Três vezes lemos estas palavras ditas pelo Senhor: “Em memória de Mim”. Pode haver ocupação mais nobre, mais preciosa, para um cristão do que lembrar do seu Senhor?

Lamentavelmente a correria do dia a dia torna-nos tão esquecidos. Durante a semana, lembramos do Senhor muito menos do que deveríamos. Quão precioso, então, que podemos celebrar a Ceia todo domingo. Pelo menos durante aquela hora temos o privilégio de ocuparmo-nos somente com o Senhor. Estamos ali, não para aprender nem ensinar; não para pedir nem agradecer por orações respondidas; não para exortar nem consolar; estamos ali somente para lembrar! Lembrar daquele que representa tudo para nós.

Quanto mais importante uma pessoa, mais importância terá qualquer coisa feita em memória desta pessoa (uma estátua, um memorial, etc). Tratando-se do Senhor Jesus Cristo, aquele que é “mais sublime do que os céus” (Hb. 7:26), percebemos um pouco da importância de celebrar a Ceia, pois ela é em memória dEle.

Outra indicação da importância da Ceia está no juízo solene pronunciado sobre aqueles que participarem indignamente (I Co 11:27-34). Aos olhos de Deus, participar indignamente torna alguém “culpado do corpo e do sangue do Senhor”. Quem participa indignamente “come e bebe para sua própria condenação”. A Ceia é preciosa aos olhos de Deus, e Ele não permite que alguém participe indignamente sem sofrer as conseqüências. Não é um acontecimento qualquer, onde qualquer um pode chegar de qualquer forma. É algo precioso para Deus, pois fala da morte do Seu Filho Unigênito, e deveria ser precioso para nós também.

Ainda há, porém, pessoas que desprezam este memorial. Ainda há cristãos que proclamam seu amor por Cristo com todo o ânimo quando podem falar ou cantar, mas ausentam-se da Ceia. Irmão, se você diz que ama ao Senhor, mas não tem interesse em lembrar dEle da forma como Ele pediu, alguma coisa está muito errada.

Que cada leitor já salvo pondere estas coisas. Estamos dando a devida importância à Ceia do Senhor, sem afastarmo-nos da simplicidade que caracterizou sua instituição? Deus permita que sim.

Categorias
Igreja Vida cristã

Não sigo após tolos (1a. revisão)

Eu cunhei essa frase, esse jogo de palavras, dia 9 de maio de 2005, em uma lista de que participo após ler o artigo do Márcio Redondo “Apostolado ou Apostolice”. (Posteriormente, criei a expressão Não Sigo Apóstolo(bo)s.) Depois, vou comentar mais sobre o chamado movimento apostólico. Penso que o Márcio já apresentou as linhas gerais do assunto. Quero comentá-lo de um ponto de vista mais prático, daquilo que as pessoas que seguem após tolos têm sido induzidas a fazer e como entendo o apostolado nesses tempo finais.

Isso é só o início. Só quis mesmo registrar a parternidade da frase, que já está sendo usada por aí .

O assunto é sério e exige nossa reflexão.

Ao considerar o processo de degradação da Igreja, percebe-se que ele seguiu determinadas etapas ou processos. Primeiramente, Cristo foi sendo eclipsado, deixado de lado. Sua queixa à igreja em Éfeso, de que ela abandonara seu primeiro amor, é representativo do início desse processo. O amor de muitos esfriou e pouca fé era encontrada na terra.

Após o Senhor ser deixado de lado, foi a vez de Sua Palavra. Um fato está inteiramente ligado ao outro. Uma vez que a centralidade de Cristo é ignorada, Sua Palavra, que é fonte última de autoridade, fé e prática na Igreja, vai sendo substituída pela tradição humana, pela hierarquia religiosa, pelo legalismo. E assim foi. As obras do nicolaítas dão lugar a sua doutrina, a um corpo de ensinamentos que defendem sua autoridade e maneira de conduzir o povo de Deus.

Como resultado desses dois fatos anteriores, o terceiro não podia ser outro: a perda da realidade e prática da Igreja. Uma vez que o Cabeça da Igreja é ignorado e Sua Palavra é substituída por opiniões e invenções humanas, é evidente que Sua Igreja também viria a ser danificada. Já que os homens não mais se importam com o Senhor da Igreja nem com aquilo que Sua Palavra diz sobre ela, eles começaram a criar as hierarquias, os nomes especiais, as exigências denominacionais, a construir templos e ministérios para si mesmos, dando lugar ao trono de Satanás e despojando o Senhor.

O que chamado movimento apostólico pretende? Ele quer começar as coisas pelo fim. Sua proposta é impor os chamados apóstolos (e toda a tralha de títulos e posições que inventou) a uma Igreja dividida, fragmentada, exclusivista ou, por outro lado igualmente perigoso e não aprovado biblicamente, ecumênica. O chamado movimento apostólico admite pequenos impérios: cada um que deseja ser apóstolo ou qualquer outro título pomposo cria seu ministério ou sua “igreja”, coloca sobre ela seu nome ou algum que revele sua modéstia (o termo “internacional” está cada vez mais presente; em breve teremos grupos “galácticos” ou “intergalácticos”, já que certa “empresa” usa o adjetivo “universal”) e pronto! Mais um passo dado para a restauração do apostolado! Quanta tolice!

Não pode haver genuíno resgate (prefiro esse termo a restauração; conferir Resgate ou Restauração, de Dana Congdon, Edições Tesouro Aberto) de qualquer verdade sem haver o resgate das verdades que lhe são anteriores e lhe servem de base. Se há que haver o tal ministério apostólico, antes é preciso haver a “redescoberta” do lugar de Cristo e da absoluta submissão a Ele. Em conseqüência, Sua Palavra, não as sandices e férteis imaginações dos líderes atuais, será de novo a autoridade absoluta e suprema para julgar todos os ensinamentos e práticas. Por respeito à Palavra, e sujeitos a ela, então, os cristãos voltarão a viver a Igreja, não mais sob os nomes especiais e as muitas divisões, mas apenas em nome de Cristo. E é nesse ambiente normal, bíblico, correto, baseado na Palavra e dominado por ela, é que surgirão homens exercendo as funções (não posições nem títulos) dadas por Deus para servir Seu povo.

O que for feito de outra forma vem do maligno.

Categorias
Igreja Vida cristã

Governo e ministério (G. H. Lang)

George Henry Lang (20/11/1874 – 20/10/1958)

O Dr. S. P. Tregelles deixou informação preciosa e de primeira mão sobre a prática dos irmãos em diversas localidades, incluindo Plymouth (a primeira assembléia na Inglaterra), Exeter, Bath e London.

Ele se uniu à Assembléia em Plymouth em 1835, e no ano de 1849 escreveu:

“Ministério Estabelecido1, mas não Ministério Exclusivo, tem sido o princípio no qual temos atuado até aqui (…) Por Ministério Estabelecido damos a entender que tais e tais pessoas são consideradas como mestres e espera-se que uma ou mais delas ministrem(…) Elas mesmas são responsáveis pelo dom que possuem. Mas isso não é um Ministério Exclusivo, pois existe uma porta aberta para outros que, de tempo em tempo, poderão receber outros dons, a fim de poderem exercitar também os dons que porventura tenham recebido. Liberdade de ministério era o seguinte: todos aqueles que haviam sido capacitados pelo Espírito Santo podiam ministrar, mas era necessário que estes mostrassem primeiro sua capacidade.

“Estou ciente de que, há alguns anos, posições muito democráticas com respeito ao ministério (da Palavra) foram introduzidas em Londres(…) posições totalmente subversivas à ordem piedosa, opostas ao senhorio de Cristo e contraditórias a toda doutrina bíblica dos dons do Espírito, concedidos aos indivíduos(…)”.

Na ocasião em que tais pontos de vista estavam circulando, G. V. Wigram publicou um folheto (ano de 1844) de quatro páginas com o seguinte título: Sobre o Ministério da Palavra. Vou mencionar duas das perguntas e respostas encontradas no referido folheto, dirigidas ao Sr. G. V. Wigram:

O SENHOR ADMITE UM MINISTÉRIO METÓDICO?

“Se por Ministério Metódico (regular ministry) você quer dizer Ministério Estabelecido (stated ministry), isto é, que em cada assembléia aqueles que são dotados por Deus para falar para a edificação são EM NÚMERO LIMITADO E CONHECIDOS DO RESTANTE DA ASSEMBLÉIA, eu concordo. Mas, se por Ministério Estabelecido (regular) você quer dizer Ministério Exclusivo, eu discordo. Por Ministério Exclusivo eu dou a entender o reconhecimento de certas pessoas que monopolizam de forma exclusiva o lugar de mestres, de tal modo que o exercício de um dom real por qualquer outra pessoa seja considerado irregular.”

EM QUE O SENHOR SE FUNDAMENTA PARA FAZER TAL DISTINÇÃO?

“Em Atos 13.1. Observo que em Antioquia havia cinco irmãos que o Espírito Santo reconheceu como mestres: Barnabé, Simeão, Lúcio, Manaem e Saulo. Sem dúvida, os santos (a assembléia) esperavam que estes cinco irmãos ministrassem a Palavra, somente eles, um ou mais deles, conforme fosse do agrado do Espírito Santo. Isso é o que chamamos de Ministério Estabelecido (fixo, regular, reconhecido). Mas não era um Ministério Exclusivo, pois quando Judas e Silas chegaram (Atos 15.32), os demais profetas e mestres os receberam entre eles e o número de mestres ficou maior (nessa ocasião).”

O Dr. Rendle Short, numa grande reunião de professores e obreiros da Escola Dominical, em novembro de 1924, disse o seguinte:

“Danificamos as operações de Deus e matamos de fome nossa alma quando deixamos de lado este princípio (…). Por favor, vocês não devem pensar que as reuniões que chamamos de abertas signifiquem que os irmãos podem ficar à mercê de qualquer orador inútil , alguém que pensa ter algo para falar e se compraz em se impor sobre eles (isto é, sobre os irmãos e irmãs). A chamada “reunião aberta” é aberta sim, ao Espírito Santo e não ao homem!

Existem alguns cuja boca precisa ser fechada. Algumas vezes tais vozes devem ser fechadas pela oração, e, em outras, pela admoestação piedosa daqueles que Deus estabeleceu sobre a assembléia (os presbíteros). Paulo deu instruções a Tito dizendo que a boca de alguns “mestres” devia ser fechada (Tito 1.10-14). O termo “fechar” é bem forte e o significado é colocar um freio ou focinheira. Na prática, seria repreendê-los asperamente; sem dúvida que em particular, desde que possível, mas publicamente se fosse necessário, e sempre de forma graciosa. Essa era a prática dos Irmãos (Brethren) bem no início.

A idéia democrática de que todos têm direito de ministrar (a Palavra) é falha numa direção, e tem concedido oportunidade desnecessária a todos aqueles que compartilham a Palavra, mas não edificam.

O Sr. Tregelle diz:

“A liberdade de ministério era reconhecida entre aqueles que possuíam capacidade vinda de Deus. Mas o ministério considerado sem utilidade, que não recomendava a si mesmo à consciência dos outros, devia ser reprimido. Era nesse sentido que a liberdade de ministério era posta em prática. Numa ocasião o Sr. Newton precisou parar um ministério durante a reunião da assembléia por considerá-lo impróprio, na presença do Sr. Darby e de G. V. Wigram e com o apoio deles. Havia restrição ao ministério; não ao que edificava, mas ao que não edificava. Os conselhos e advertências eram dados em particular, mas, se fosse necessário, eram dados em público.”

Alguém que esteve presente numa reunião da igreja em Salem Chapel, Bristol, me contou que um irmão sem treinamento anunciou que ia ler dois capítulos da Bíblia. Depois de cometer alguns “erros na leitura”, o Sr. George Muller se interpôs dizendo: “Querido irmão, visto ser muito importante ler a Palavra de Deus corretamente, eu vou ler esses capítulos para você”. E assim ele fez. Recordo que, numa grande conferência, um bom homem abordou certo texto de modo tão errado que a assembléia ficou logo impaciente. Depois de dez minutos, o Sr. W. H. Bennet se levantou e disse: “Amado irmão, acho que o sentimento geral da assembléia é que você já falou o suficiente sobre este assunto”. O pregador logo desistiu.

Mas, tarefa tão delicada e odiosa exige para sua realização homens de sabedoria, peso e autoridade espiritual; homens que, por causa da unção do Espírito Santo neles, leva os demais a se submeterem a eles. Ultimamente os Irmãos têm se desviado consideravelmente desse princípio. A idéia democrática de que todos têm direito de ministrar (a Palavra) é falha numa direção, e tem concedido oportunidade desnecessária a todos aqueles que compartilham a Palavra, mas não edificam.

Digno de honra é o aguçado comentário do irmão Charles Haddon Spurgeon:

‘ONDE O TODO É BOCA, O RESTO É VÁCUO”.

1 A palavra stated pode significar e inclui também a idéia de “declarado, regular, fixo, exposto”.

(Extraído da extinta revista Alimento Sólido, número 5, agosto de 1996, publicada por Edições Parousia. Escaneada por Penélope Watanabe.)

Categorias
Igreja

Apascentando ovelhas ou entretendo bodes?

Charles Spurgeon
Tradução: Walter Andrade Campelo

Um mal está no declarado campo do Senhor, tão grosseiro em seu descaramento, que até o mais míope dificilmente deixaria de notá-lo durante os últimos anos. Ele se tem desenvolvido em um ritmo anormal, mesmo para o mal. Ele tem agido como fermento até que toda a massa levede. O demônio raramente fez algo tão engenhoso quanto sugerir à Igreja que parte de sua missão é prover entretenimento para as pessoas, com vistas a ganhá-las.

Da pregação em alta voz, como faziam os Puritanos, a Igreja gradualmente baixou o tom de seu testemunho, e então tolerou e
desculpou as frivolidades da época. Em seguida ela as tolerou dentro de suas fronteiras. Agora as adotou sob o argumento de atingir as massas.

Meu primeiro argumento é que prover entretenimento para as pessoas não está dito em parte nenhuma das Escrituras como sendo uma função da Igreja. Se este é um trabalho Cristão, porque Cristo não falou dele? “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16:15). Isto está suficientemente claro. Assim teria sido se Ele tivesse adicionado “e proporcionem divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho.” Nenhuma destas palavras, contudo, são encontradas. Não parecem ter-lhe ocorrido.

Então novamente, “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores… para a obra do ministério” (Efésios 4:11-12). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia no que diz respeito a eles. Foram os profetas perseguidos porque divertiram o povo ou porque o rejeitaram? Em concerto musical não há lista de mártires.

Além disto, prover divertimento está em direto antagonismo com o ensino e a vida de Cristo e de todos os seus apóstolos. Qual foi a atitude da Igreja quanto ao mundo? “Vós sois o sal” (Mateus 5:13), não o doce açucarado – algo que o mundo irá cuspir e não engolir. Curta e severa foi a expressão: “deixa os mortos sepultar os seus mortos.” (Mateus 8:22) Ele foi de uma tremenda seriedade.

Se Cristo introduzisse mais brilho e elementos agradáveis em Sua missão, ele teria sido mais popular quando O abandonaram por causa da natureza inquiridora de Seus ensinos. Eu não O ouvi dizer: “Corra atrás destas pessoas, Pedro, e diga-lhes que nós teremos um estilo diferente de culto amanhã, um pouco mais curto e atraente, com pouca pregação. Nós teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que certamente se agradarão. Seja rápido Pedro, nós devemos ganhar estas pessoas de qualquer forma.” Jesus se compadeceu dos pecadores, suspirou e chorou por eles, mas nunca procurou entretê-los.

Em vão serão examinadas as Epístolas para se encontrar qualquer traço deste evangelho de entretenimento! A mensagem delas é: “Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!” É patente a ausência de qualquer coisa que se aproxime de uma brincadeira. Eles tinham ilimitada confiança no evangelho e não empregavam outra arma.

Após Pedro e João terem sido presos por pregar o evangelho, a Igreja teve uma reunião de oração, mas eles não oraram: “Senhor conceda aos teus servos que através de um uso inteligente e perspicaz de inocente recreação possamos mostrar a estas pessoas quão felizes nós somos.” Se não cessaram de pregar a Cristo, não tiveram tempo para arranjar entretenimentos. Dispersos pela perseguição, foram por todos lugares pregando o evangelho. Eles colocaram o mundo de cabeça para baixo (Atos 17:6). Esta é a única diferença! Senhor, limpe a Igreja de toda podridão e refugo que o diabo lhe tem imposto, e traga-nos de volta aos métodos apostólicos.

Finalmente, a missão de entretenimento falha em realizar os fins desejados. Ela produz destruição entre os novos convertidos. Permita que os negligentes e escarnecedores, que agradecem a Deus pela Igreja os terem encontrado no meio do caminho, falem e testifiquem. Permita que os oprimidos que encontraram paz através de um concerto musical não silenciem! Permita que o bêbado para quem o entretenimento dramático foi um elo no processo de conversão, se levante! Ninguém irá responder. A missão de entretenimento não produz convertidos. A necessidade imediata para o ministério dos dias de hoje é crer na sabedoria combinada à verdadeira espiritualidade, uma brotando da outra como os frutos da raiz. A necessidade é de doutrina bíblica, de tal forma entendida e sentida, que coloque os homens em fogo.

Categorias
Igreja

O Cristianismo Liberal Está Pagando os Seus Pecados

Convicções não-ortodoxas sobre o casamento gay e supostas doutrinas sexistas estão esvaziando as igrejas.

Por Charlotte Allen, editora de catolicismo do site www.beliefnet.com, autora do livro The human Christ: the search for the historical Jesus (“O Cristo humano: a busca pelo Jesus histórico”). Julho/2006.

Quando olhamos para as discussões e para a acelerada fragmentação da Igreja Episcopal nos EUA, da qual diversas paróquias, e até mesmo algumas dioceses, estão se desligando, não estamos falando apenas de bispos gays, da bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo ou da eleição de uma mulher como bispa presidente. Estamos falando também do desmantelamento da igreja cristã.

Abraçado pela liderança de todas as principais denominações protestantes, assim como por uma boa parte do Catolicismo nos EUA, o cristianismo liberal tem sido proclamado pelos seus entusiastas nos últimos 40 anos como o futuro da igreja cristã.

Ao contrário, como já admitem todos menos alguns poucos teimosos, todas as principais igrejas e movimentos interdenominacionais que relativizaram a doutrina e suavizaram princípios morais estão diminuindo em número e, no caso da Igreja Episcopal, desintegrando-se.

Não é apenas uma coincidência: Mais ou menos na mesma época em que os episcopais, na convenção geral de Columbus, Ohio, desdenhavam uma diretiva da Comunhão Anglicana Mundial que afirmava que a igreja estava “arrependida” de ter confirmado três anos antes a ordenação do bispo declaradamente gay V. Gene Robinson de New Hampshire, a Igreja Presbiteriana nos EUA, na sua assembléia geral em Birmingham, Alabama, tornou-se motivo de piada da blogosfera ao aprovar tacitamente designações alternativas para a supostamente sexista trindade cristã: Pai, Filho e Espírito Santo. Entre os nomes sugeridos constavam “Mãe, Filho/a e Ventre”, e “Pedra, Redentor/a e Amigo/a”[1]. Pegando o embalo dos revisionistas presbiterianos, o blogger Rod Dreher, do site www.beliefnet.com promoveu o concurso “Batize a Trindade”. Entre as respostas constavam “Pedra, Tesoura e Papel” e “Larry, Curly e Moe” (os Três Patetas).

Seguindo o exemplo dos episcopais, os presbiterianos também votaram a favor de deixar a critério das congregações locais a decisão de ordenar pastores gays e lésbicas que morassem com seu/sua parceiro/a, e endossaram a legalização da maconha para fins médicos. (Esta última decisão pode até ser uma boa idéia, mas é difícil entender por que uma denominação cristã deveria deliberar sobre isto).

A Igreja Presbiteriana dos EUA é famosa pela sua conferência de 1993, co-patrocinada pela Igreja Metodista Unida, a Igreja Evangélica Luterana na América e outras igrejas tradicionais, na qual os participantes “reimaginavam” Deus como “A Nossa Criadora Sofia” e praticavam um ritual feminista do “leite e mel”, com o objetivo de substituir a ceia tradicional do pão e do vinho.

Como se para disputar com os presbiterianos quem conseguia jogar fora mais elementos milenares da fé cristã, os Episcopais em Columbus surpreendentemente se recusaram até mesmo a considerar uma resolução que afirmava que Jesus Cristo é Senhor. Quando uma igreja cristã não consegue endossar uma declaração teológica básica encontrada diversas vezes no Novo Testamento, ela não é uma igreja cristã séria. Ela é uma Igreja da Moda, que dá uma licença de bem estar a qualquer coisa que os elementos liberais da sociedade secular considerem permissível ou politicamente correto.

Você quer fazer sexo gay? Mudar o nome de Deus para Sofia? Vá adiante. A recém-eleita bispa presidente episcopal, Katharine Jefferts Schori, é uma combinação única de todas essas coisas: Ela votou a favor de Robinson, abençoou uniões do mesmo sexo na diocese de Nevada, orou para um Jesus fêmea na convenção de Columbus, e convidou o antigo bispo de Newark, New Jersey, John Shelby Spong, famoso por negar a divindade de Cristo, para falar aos seus sacerdotes.

Quando uma igreja não se leva a sério, os seus membros também não a levam. É difícil acreditar que há tão pouco tempo, em 1960, membros das igrejas tradicionais – Episcopais, Presbiterianos, Metodistas, Luteranos e assim por diante – representavam 40% de todos os protestantes estadunidenses. Hoje, está mais para 12% (17 milhões entre 135 milhões). Uma parte do declínio acelerado se deve à queda das taxas de natalidade entre os tradicionais, geralmente democratas, mas também é óbvio que milhões de cristãos tradicionais (e especialmente os seus filhos) simplesmente abandonaram os bancos da igreja para nunca mais voltar. De acordo com o Instituto Hartford para a Pesquisa da Religião, em 1965 haviam 3,4 milhões de episcopais; hoje, são 2,3 milhões. O número de presbiterianos caiu de 4,3 milhões em 1965 para 2,5 milhões hoje. Compare isso com os 16 milhões de membros que os Batistas do Sul oficialmente têm.

Quando uma religião diz “tanto faz” para as questões doutrinárias, considera Jesus como apenas mais um mestre sábio, recusa-se por princípio a evangelizar e deixa os seus membros fazerem praticamente o que quiserem, é apenas um pequeno passo até eles decidirem que uma das coisas que eles não querem fazer é levantar domingo de manhã e ir para a igreja.

O sociólogo Rodney Stark (The Rise of Christianity) e o historiador Philip Jenkins (The Next Christendom) defendem que quanto maiores as demandas éticas e doutrinárias mais profundo é o compromisso dos fiéis a uma fé. As igrejas evangélicas e pentecostais, que pregam a moralidade bíblica, não têm nenhum problema em afirmar que Jesus é o Senhor, e geralmente evitam ordenar mulheres. Essas igrejas estão crescendo firmemente, tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo.

Apesar da freqüência dominical média a uma igreja episcopal ser de 80 pessoas, a Igreja Episcopal, como um todo, tem condições financeiras para continuar por algum tempo, graças ao seu inventário de terras, fruto dos seus anos dourados, e à renda proveniente dos dias (passados!) em que ela era o Partido Republicano em oração. Alem do mais, ela tem compensado algumas de suas perdas atraindo católicos liberais desafetos e gays e lésbicas. A situação da menos endinheirada Igreja Presbiteriana dos EUA é mais complicada. Logo antes da sua assembléia geral em Birmingham, ela anunciou que cortaria 75 empregos para conseguir uma redução orçamentária de US$9,15 milhões no seu escritório central, o terceiro corte de empregos nos últimos quatro anos.

Os episcopais têm perfumes, sinos, almofadas rendadas e bispos coloridos e ornamentados, do tipo católico, como atrativos. Mas quem, nas atuais circunstâncias, quer virar presbiteriano?

Ainda assim, deve ser humilhante para os liberais episcopais o fato de muitas das paróquias e dioceses que querem se desligar da Igreja Episcopal nos EUA (incluindo a de San Joaquin, na Califórnia) estão crescendo, e não diminuindo, têm membros ativos nos seus bancos, que pagam pela manutenção das suas igrejas e não ficam na dependência de ricos defuntos. A Igreja Episcopal de Cristo, em Plano, Texas, de 21 anos, por exemplo, é uma das maiores igrejas episcopais no país. As 2.200 pessoas que freqüentam os seus cultos todos os domingos equivalem mais ou menos ao número de episcopais ativos em toda a diocese de Nevada, sob o comando de Jefferts Schori.

Não é nenhuma surpresa a Igreja de Cristo, assim como outras paróquias dissidentes, pregar uma teologia bastante conservadora. A sua ruptura da igreja nacional veio depois de Rowan Williams, arcebispo de Cantuária e chefe da Comunhão Anglicana, propor uma estrutura em dois níveis de membresia, na qual a Igreja Episcopal nos EUA e outras igrejas que se negam a aderir a padrões bíblicos tradicionais teriam um status de “associados” na Comunhão. Os dissidentes esperam manter a comunicação plena com Cantuária ao se submeterem à supervisão de bispos anglicanos não estadunidenses.

Quanto ao resto dos Episcopais, eles nos lembram a expressão “rearranjar as cadeiras no convés do Titanic”. Vários sites episcopais liberais hoje são dedicados a ofender Peter Akinola, eloqüente primaz da diocese anglicana da Nigéria que, assim como a vasta maioria dos 77 milhões de anglicanos no mundo – de acordo com dados da Comunhão Anglicana – acredita que “as práticas homossexuais” são “incompatíveis com as Escrituras” (essas palavras são da resolução de 1998 da Comunhão, na conferência dos bispos em Lambeth). Akinola pode ter a maioria ao seu lado, mas ele é agora o Voldemort – não, melhor, o Karl Rove[2] – do mundo episcopal estadunidense. Outros liberais estão irados com uma simples resolução de última hora de Columbus, pedindo que a igreja “se restrinja” de consagrar bispos cujo estilo de vida possa ofender “a igreja maior” – uma resolução imediatamente ignorada quando um segundo homem gay, que mora publicamente com outro homem, foi nominado bispo de Newark.

Então esse é o cristianismo liberal que era para ser o cristianismo do futuro: confusão, cismas, queda vertiginosa do número de membros, um colapso da cristologia e encontros nacionais que competem com os da Modern Language Association (“Associação da Língua Moderna”) para ver quem tem maior potencial de piadas. E eles continuam dizendo para a Igreja Católica que é melhor ela adotar o programa liberal – ordenar mulheres, abençoar casamentos gays, e assim por diante – ou morrer. Tá bom, então…

__________________

[1] Nota do Tradutor: No original em inglês, não há designação de gêneros nos termos usados.
[2] Nota do Tradutor: Voldemort é o arquiinimigo do Harry Potter. Karl Rove é “Deputy Chief of Staff” do governo George W. Bush.

Categorias
Igreja Vida cristã

Doze Conselhos Importantes Para Aqueles Que Desejam Ser Líderes na Casa de Deus

Watchman Nee

1) Aprendam a amar os outros, a pensar no bem deles, a ter cuidado por eles, a negar-se a si próprios por causa deles e a dar a eles tudo o que têm. Se alguém não consegue negar-se a si próprio em beneficio dos outros, ser-lhe-á impossível conduzir alguém no caminho espiritual. Aprendam a dar aos outros o que você tem, ainda que se sinta como se nada tivesse. Então o Senhor começará a derramar-lhe a Sua bênção.

2) A força interior de um líder deveria equivaler à sua força exterior. Esforços em demasia, avanços desnecessários, inquietações, apertos, tensões, falta no transbordar, planos humanos e avanços na frente do Senhor, são todas as coisas que não devem ocorrer. Se alguém está cheio de abundância em seu interior, tudo o que emana dele é como o fluir de correntes de águas, e não existem esforços demasiados de sua parte. É preciso ser de fato um homem espiritual, e não simplesmente se comportar como um.

3) Ao fazer a obra de Deus aprenda a ouvir os outros. O ensinamento de Atos 15 consiste em ouvir, isto é, ouvir o ponto de vista de outros irmãos porque o Espírito Santo poderá falar por meio deles. Seja cuidadoso,, pois ao recusar ouvir a voz dos irmãos, você poderá estar deixando de ouvir a voz do Espírito Santo. Todos aqueles envolvidos em liderança devem assentar-se para ouvi-los. Dê a eles oportunidades ilimitadas de falar. Seja gentil, seja alguém quebrantado e esteja pronto para ouvir.

4) 0 problema de muito líderes é não estarem quebrantados. Pode ser que tenham ouvido muito, a respeito de serem “quebrantados” porem não possuem revelação dessa verdade. Se alguém está quebrantado, não tentará chegar as suas próprias decisões no que toca a questões importantes ou aos ensinamentos, não dirá que é capaz de compreender as pessoas ou de fazer coisas, não ousará tomar para si a autoridade ou impor a sua própria autoridade sobre os outros, nem aventurar-se-á a criticar os irmãos ou tratá-los com presunção. Um irmão quebrantado não tentará auto defender-se nem remoer-se por algo que ficou para traz.

5) Não deve existir nas reuniões nenhuma tensão, tampouco na Igreja. Com respeito às coisas da Igreja aprenda a não fazer tudo você mesmo. Distribua as tarefas entre os outros e os leve a aprender a usar suas próprias capacidades de executar. Em primeiro lugar, você deve expor-lhes resumidamente os princípios fundamentais a seguir e depois se certificar de que agiram de acordo. É um erro fazer você fazer muita coisa. Evite também aparecer demais na reunião, caso contrário os irmãos poderão ter a sensação de que você está fazendo tudo sozinho. Aprenda a ter confiança nos irmãos e a distribuí-la entre eles.

6) O Espírito de Deus não pode ser coagido na Igreja. Você precisa ser submisso a Ele pois, caso contrário, quando Ele cessar de ungi-lo a Igreja se sentirá cansada ou até mesmo enfadada. Se o meu espírito estiver forte em Deus, ele alcançará e tomará a audiência em dez minutos; se estiver fraco não adiantará gritar palavras estrondosas ou gastar um tempo mais longo, o que inclusive com certeza será prejudicial.

7) Ao pregar uma mensagem, não a faça demasiadamente longa ou trabalhada, caso contrário o espírito dos santos sentir-se-á enfadado. Não inclua pensamentos superficiais ou afirmações rasteiras no conteúdo da mensagem; evite exemplos infantis, bem como raciocínios passíveis de serem considerados pelas pessoas como infantis. Aprenda concluir o ponto alto da mensagem dentro de um período de meia hora. Não imagine que, o fato de estar gostando de sua própria mensagem, significa que as suas palavras são necessariamente de Deus.

8 ) Uma tentação com que freqüentemente nos deparamos numa reunião de oração é querer liberar uma mensagem ou falar por tempo demasiado. Uma reunião de oração deve ser consagrada a oração, muito falatório levará à sensação, de sentir-se pesado, com o que a reunião se tornará um fracasso.

9) Os obreiros precisam aprender muito, antes de assumirem uma posição onde tenham de lidar com problemas ou com pessoas. Com um aprendizado inadequado, um conhecimento insuficiente, um quebrantamento incompleto e um juízo não digno de confiança, serão incompetentes para lidar com os outros. Não tire conclusões precipitadas; mesmo quando se está prestes a fazer algo deve-se fazê-lo com temor e tremor. Nunca trate com leviandade as coisas espirituais. Pondere-as no coração.

10) Aprenda a não confiar unicamente em seus próprios juízos. Aquilo que consideras correto pode ser errado e aquilo que consideras errado pode ser correto. Se alguém está determinado a aprender com humildade, levará, com certeza, alguns poucos anos para terminar de fazê-lo. Portanto, por enquanto, você não deve confiar demasiadamente em si mesmo ou estar muito seguro a respeito, do seu modo de pensar.

11) É perigoso para as pessoas da Igreja seguirem as suas decisões antes de você ter atingido o estado de maturidade. O Senhor operará em você para tratar seus pensamentos e para quebrantá-lo antes que você possa compreender a vontade de Deus e ser definitivamente ‘autoridade de Deus’. A autoridade se baseia no conhecimento da vontade de Deus. Onde não estiver sendo manifestado a vontade e o propósito de Deus, ali não há autoridade de Deus.

12) A capacidade de um servo de Deus com certeza será expandida porem pelo mesmo Deus que o capacitou. Descanse em Deus, ame-o de todo o coração. Jesus disse “sem mim nada podereis fazer”. A autoridade necessária para o desempenho do ministério é fruto de nosso relacionamento. Nunca olhe para dentro de você mesmo, pois isso poderia desanimá-lo. Porém jamais abra mão de:
– Intimidade com Deus, e
– O conselho dos sábios que Deus colocou na Igreja.

“Não fostes vós que me escolhestes, porem eu vos escolhi a vós e vos designei para que vades e deis frutos e o vosso fruto permaneça afim de que tudo o pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos conceda” (Jo 15:16).

Extraído do livro “O Testemunho de Watchman Nee” e são partes de uma carta escrita em 10/03/1950 durante o período de vinte anos em que permaneceu preso pelo Regime Comunista Chinês.

Sair da versão mobile