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A cessação dos dons apostólicos (Nathan Busenitz)

A opinião de dez líderes da história da Igreja:

1. João Crisóstomo (344–407)

A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar.

(Fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.)

2. Agostinho (354-430)

Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas, que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra.  Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou.

(Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98)

3. Teodoreto de Ciro (393-466)

Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram.  O coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja . . . Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias.

(Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7.  Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).

4. Martinho Lutero (1483-1546)

Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível.  Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes.  (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, “as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem”.  Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou.

(Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949], pp  150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.)

5. João Calvino (1509-1564)

Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou a permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade.

(Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.)

O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre.

(Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.)

6. John Owen (1616-1683)

Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado.

(Fonte: John Owen, Obras, IV:518.)

7. Thomas Watson (1620-1686)

Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram.

(Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.)

8. Mattew Henry (1662-1714)

O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho.

(Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12)

O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela.

(Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.)

9. John Gill (1697-1771)

Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, e a versão Latina da Vulgata, dizem, “por um só Espírito”.

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9)

Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam.  Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião.

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.)

10. Jonathan Edwards (1703-1758)

Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres.  Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascenção ao céu.  E, em conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.

Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras.  Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles.  E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;. Havendo ciência, desaparecerá”.  E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem.

(Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado “O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino”, em 1 Coríntios 13:8)

Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluido e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram.

(Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.)

(Fonte)

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O cristão pode apoiar a prostituição? (Vincent Cheung)

“Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais. Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo.”
(1 Tessalonicenses 4.1-8)

[É muito claro que em 1 Tessalonicenses 4, em seu início, o apóstolo Paulo está afirmando com toda autoridade dada por Deus que] A imoralidade sexual é a norma de conduta para não-cristãos. Paulo chama-nos a pensar de forma diferente, para viver de modo diferente, e distinguir-se dos incrédulos, que não conhecem a Deus.

Devemos mencionar isso uma e outra vez, porque o diabo é como um leão que ruge, procurando a quem possa tragar. É vital para a sobrevivência e progresso espiritual nos manter alerta e vigilante. Na falta desta vigilância, muitas famílias cristãs e congregações foram infiltradas por crenças e práticas não-cristãs. Alguns já perderam a sensibilidade para a imoralidade entre eles e em volta deles. Então, quando alguém desperta para a ordem divina e parte para combater a imoralidade, logo é ironicamente criticado e perseguido.

É  desnecessário salientar que só porque um pecado é comum não significa que não é um pecado. Quando consideramos o que a Escritura diz sobre esta questão da imoralidade sexual, torna-se óbvio que muitos cristãos não são diligentes o suficiente em proclamar os mandamentos de Deus.

Se a admoestação dos cristãos é rara e fraca para condenar a imoralidade sexual com ameaças de punição divina (v.6b) isto deve ser considerado social e eclesiasticamente inaceitável. Nenhum covarde é qualificado para proclamar a palavra de Deus, e infelizmente, poucos são qualificados.

Esse tipo de pregação é boa e necessária, e Paulo confere-nos a autoridade que precisamos (v.6c). Não faz diferença se a pessoa é um adúltero, um fornicador, uma prostituta, um homossexual ou alguma outra pessoa pervertida. Paulo escreve que Deus vai punir os homens de todos esses pecados. E acrescenta, “como já lhe dissemos e advertimos ” (1Ts 4.6c). O tema assume um lugar de destaque nos ensinamentos éticos do apóstolo, e ele considera digno de repetição, acompanhado de ameaças. O versículo 6 é melhor traduzido, “o Senhor é vingador em todas estas coisas “.  Isto é dito no contexto da declaração anterior.

Em outras palavras, Deus tomará para si a vingança. Portanto, é nada menos do que uma negligência grosseira do dever quando um ministro cristão falha em declarar a ordem de Deus sobre esta questão, e para isso exorta com ameaças. A Bíblia obriga-nos a pregar: “Se você cometer adultério, Deus vai puni-lo. Se você é um homossexual, Deus vai fazer você sofrer, Deus é o vingador. Ele vai destruir sua vida por trair seu cônjuge, Ele vai torturar você para sempre no inferno”. Quem pensar que isto é falso ou uma dura e desnecessária pregação cristã deve começar a ler a Bíblia. Nada menos que isso não é toda verdade. Este é o cristianismo: tomá-lo e obedecer-lhe ou deixá-lo e sofrer.

Está na moda pregar compreensão, compaixão, reconciliação [ecumênica],  e assim por diante, para adúlteros e homossexuais. A Escritura não fala sobre a imoralidade sexual dessa maneira. Ela define e mantém o padrão rigoroso de Deus sobre a questão e condena todos aqueles que transgridem. Há de fato perdão em Jesus Cristo, mas perceba que Paulo está alertando especialmente os cristãos, então que ninguém se ache no direito de parodiar o perdão divino.

Se quisermos refletir a ênfase bíblica sobre este assunto, então é necessário que multipliquemos as acusações e condenações em nossa pregação, em vez de evitar ou reduzir o assunto.

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Mensagens da conferência Juntos em Cristo 2012

A Editora Fiel colocou à disposição o áudio das mensagens da Conferência Fiel 2012 e da conferência Juntos em Cristo 2012.

As mensagens podem ser baixadas e distribuídas gratuitamente. Sua comercialização é proibida.

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Nossa vocação

A vocação é celestial (Hb 3.1), indicando que nossa profissão [de fé] não é terrena, não está ligada a casas religiosas terrenas, mas somos membros da casa celestial sobre a qual Jesus está no controle.

A vocação é santa (1Pe 1.15). Deus é quem nos chamou a Sua família, para que, como participantes da natureza divina, possamos evidenciar por nosso testemunho que temos algo de Deus, não somente em nós, mas demonstrado por nós. Portanto, somos diferentes e separados para viver vida santificada.

A vocação é de esperança (Ef 1.18). O futuro que Deus nos tem reservado é eterno, e será desfrutado não somente por nós, mas também por Deus mesmo. Pense não somente no que nossa herança é para nós, mas também no que ela significa para Deus, eternamente. Os dons e a vocação de Deus nunca são cancelados nem revogados. A herança está reservada no céu para nós (1Pe 1.4).

A vocação é soberana (Fp 3.14). Paulo se esforçava física e mentalmente, e pessoalmente afastava todo tipo de vantagem ou desvantagem terrena, e simplesmente prosseguia para o grande prêmio, a “soberana vocação” (Fp 3.20). Nós esperamos o Salvador (não o Juiz), o Senhor Jesus Cristo, o qual mudará nosso corpo limitado e o transformará em corpo glorioso e ilimitado. Que futuro glorioso aguarda cada um dos santos!

(G. Waugh, Comentário Ritchie, II Pedro. Edições Cristãs, pp. 286, 287)

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Mensagem de Paul Washer

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Meu povo está sendo destruído… (Paul Washer)

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Deus é por nós! (Stephen Kaung)

Irmãos, aprendamos um fato: Deus é por nós. Oh, bendito pensamento! O Senhor, o Senhor da aliança, é por nós. Ele está conosco e é por nós. Freqüentemente, no entanto, não é assim que sentimos. É possível que, algumas vezes, sintamos que Deus não é por nós, mas contra nós. Somos inclinados a crer que Deus está junto de alguma outra pessoa e não está a nosso favor – pensamos às vezes que Deus não está ao nosso lado –, que Ele é muito duro conosco. No entanto, mesmo que possa parecer assim, precisamos firmar-nos no fato de que Ele ainda é por nós. Pode não parecer verdade, mas há uma explicação muito boa para isso. Você sabe qual é a razão? É porque Deus quer trazer-nos para o lado Dele a fim de que Ele possa ser por nós.

Freqüentemente nós não estamos ao lado Dele e, por isso, sentimos que Ele não está ao nosso lado – e, de fato, Ele não pode estar. Mas isso não significa que Deus não é por nós. Em todas essas dificuldades, sejam elas provocadas por nós mesmos ou não, Ele está tentando trazer-nos para Seu lado a fim de poder revelar-se como aquele que, de fato, é por nós.

O Senhor é por nós; mas isso não é tudo, pois Ele não apenas é por nós, mas está conosco e dentro de nós. Deus nos amou tanto que deu Seu Filho unigênito por nós. Por isso, não pode haver dúvida alguma nem medo algum – o Senhor é por nós. Pode acaso ser possível que Ele esteja contra nós? Ele está trabalhando para nosso bem eterno. Está sempre tentando trazer-nos para o lado Dele. Ele é por nós. Ele é por nós eternamente. Este é o nosso Deus.

(Stephen Kaung, Os cânticos dos degraus, p. 126; ALC, 1997)

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Cristo Encorajamento Irmãos Oração Vida cristã

Jesus orava (M. Wolfinger)

A vida do Senhor Jesus na Terra era vivida em comunhão contínua com Seu Deus e Pai. Essa comunhão se manifestava numa perfeita dependência, cuja expressão era a oração. “Orando”: este era o sinal distintivo do Senhor como homem na Terra, e disso dão freqüente testemunho os Evangelhos. Somente no Evangelho de Lucas nós O encontramos sete vezes em oração. Nenhum homem foi tão constante na oração; e, no entanto, Ele era Deus e, como tal, não necessitava depender dela. Mas, como homem perfeito na Terra, se dirigia a Deus em oração como nenhum outro.

Quanto regozijo Deus teve e quão honrado Ele foi ao ver SEu Filho na Terra, no meio da humanidade que se havia desviado Dele e se corrompido! (Veja Sl 14.3.) O profeta Isaías compara este mundo a uma terra seca, que não pode produzir nenhum fruto para Deus. No entanto, nesse terreno estéril devia brotar um “renovo”, uma “raíz” (53.2). Como isso aconteceria? Pela vinda do Senhor Jesus, o santo servo de Deus, o único homem que produziu um fruto perfeito para Deus. Esse santo servo tinha uma vida de oração e de inteira dependência de Deus.

Ficamos admirados quando vemos que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, se consagrou a Deus em oração como nenhum outro o fez. É uma verdade que nos assombra e que nos mostra que Jesus tomou perfeitamente a condição humana sendo ao mesmo tempo Deus.

Os próprios discípulos, que foram seus companheiros de caminho a cada dia, ficaram impressionados com essa vida de oração sem igual. Lucas indica isso ao relatar o pedido que um deles fez ao Senhor: “Senhor, ensina-nos a orar” (11.1). Desejam orar como seu Mestre orava, reconhecendo que, por si mesmos, não eram capazes. Não deveria ser este também nosso desejo a fim de nos parecermos mais com nosso Senhor a esse respeito?

Habitualmente, o Senhor se retirava para um lugar isolado ou aproveitava a tranqüilidade da noite para estar a sós com Deus e orar. Os discípulos sabiam que Ele orava, mas sabiam muito pouco do conteúdo de Suas orações. Os Evangelhos muito raramente relatam as palavras que o Senhor pronunciou nestas ocasiões. Encontramos algo em LUcas 22 e em João 17.

Entre as preciosas passagens que relatam as palavras do Senhor em Suas orações, podemos mencionar o salmo 16. É certo que é Davi quem se expressa ali, mas o apóstolo Pedro indica, em Atos 2, que essas palavras podem ser postas na boca de nosso Senhor (vv. 25-28).

Vejamos por um momento o início desta oração: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (Sl 16.1). Que motivo de adoração e, ao mesmo tempo, de humilhação para nós ver como o Senhor se confiava ao cuidado de Deus! Aquele que era absolutamente sem pecado e que não tinha nenhuma fraqueza — como nós tão freqüentemente temos — pedia, no entanto, que Deus O guardasse. Com uma profunda dependência Ele se confiava a Deus. Que maravilha!

“Porque em Ti confio.” O fundamento de Seu pedido era a confiança plena no poder do Deus Forte (ver 22.19) que pode guardá-Lo. Essa confiança de nosso Senhor era tão grande que os homens, até mesmo Seus inimigos, puderam vê-la e dela testemunhar quando Ele estava na cruz: “Confiou em Deus” (Mt 27.43).

Que exemplo para nós que, muitíssimo mais que Ele, necessitamos do cuidado de Deus e da dependência que se expresssa na oração!

(Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, n. 2/2012. Esse texto pode ser divulgado livremente, desde que não usado para fins comerciais, não seja alterado e seja mantida a informação sobre sua fonte.)

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Seja o que for que Deus tenha que fazer, inquestionavelmente o fará, se ele o tiver prometido.

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Cristo Horatius Bonar

Não é… (Horatius Bonar)

Não é o que minhas mãos têm feito que pode salvar minha alma culpada;
Não é o que minha carne labutante tem suportado que pode encher o meu espírito;
Não é o que eu sinto ou faço que pode me dar a paz com Deus;
Nem todas as minhas orações, súplicas e lágrimas podem suportar a minha terrível carga;
Tua graça apenas, ó Deus, pode pronunciar perdão a mim;
Teu poder somente, ó Deus, pode quebrar esse penoso cativeiro;
Nenhuma outra obra, senão a Tua;
Nenhum outro sangue o fará;
Nenhuma força, senão aquela que é divina, pode me sustentar seguramente.

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Cristo Cruz Igreja Martin Lloyd-Jones

O santuário do Deus vivo (Martin Lloyd-Jones)

“Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo da Tua casa Me consumirá.” (João 2.13-17)

Detivemos nosso olhar sobre a purificação do templo, considerando, em termos gerais, a mensagem transmitida por esta passagem à Igreja, como um todo. Mas, como muitos comentaristas ao longo dos séculos concordam, obviamente, também há uma mensagem individual ao cristão. Vimos como as pessoas, imediatamente, obedecem ao Senhor quando O ouvem, e compreendemos que a única explicação para tal obediência é que essas pessoas se conscientizaram do poder eterno e da divindade Dele. Portanto, precisamos ter isso em mente ao aplicar individualmente a mensagem desse acontecimento.

Como tenho afirmado, minha proposição é que o grande tema do Evangelho de João está neste versículo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (10.10). Também estou sugerindo que cada um dos dramáticos acontecimentos relatados no Evangelho de João nos fornece algum aspecto adicional do ensino referente à forma pela qual Ele nos propicia a grande bênção de Sua plenitude.

É muito importante, portanto, que O consideremos como Ele é, ou seja, como o Senhor. É Ele quem age, quem decide quando e como agir. A pergunta que desejo colocar diante de você é esta: Você já recebeu de Sua plenitude e graça sobre graça? Sempre devemos nos fazer esta pergunta porque todas as ações de Jesus podem ser compreendidas e interpretadas à luz disso. Tudo o que Ele realizou e afirmou é uma indicação do que é essencial antes de alcançarmos aquela plenitude, e aqui Jesus nos mostra, de forma clara e definitiva, uma dessas condições.

Você se lembra que Jesus foi a Jerusalém por ocasião da Páscoa, conforme a lei ordenava que todos os judeus fizessem. Nós O vimos chegando ao templo e soubemos o que Ele encontrou ao entrar lá: no pátio externo, mercadores vendiam bois, ovelhas e pombas para os sacrifícios, e cambistas trocavam moedas estrangeiras pela moeda local. Aquele cenário encheu nosso Senhor com um sentimento de terror e indignação. Ele virou as mesas dos cambistas, expulsou os mercadores e seus animais e ordenou aos que vendiam pombas para que as retirassem daquele local. Ele, como o fez naquela ocasião, purifica o templo.

Qual é, então, o ensino? Qual é a mensagem que recebemos como indivíduos? Permita-me colocar desta forma: nossa alma é como templo no qual nosso Senhor faz moradia. Esta é nossa proposição básica e fundamental. Isso é definitivo neste assunto sobre salvação cristã. Esta salvação não apenas significa que nossos pecados são perdoados, ou que temos a certeza de que não iremos viver eternamente no inferno porque Deus perdoou aos nossos pecados. Tampouco apenas significa que recebemos uma nova natureza. De fato, todas essas coisas são verdadeiras e gloriosas, e devemos agradecer a Deus por elas. Porém, a salvação cristã nos oferece algo além disso que é, nada mais, nada menos, que o próprio Senhor Jesus Cristo habitando em nós. Essa é a ilustração que encontramos em diversos lugares da Bíblia. Realmente, no Antigo Testamento somos informados de que o templo não deveria apenas nos ensinar a respeito da Igreja em geral e sobre como prestar culto na casa de Deus, mas também nos fornece um quadro individual da nossa alma.

Mais adiante, no Evangelho de João, essa verdade é colocada diante de nós de forma clara e explícita. Nosso Senhor está lembrando aos discípulos que Ele irá deixá-los, mas acrescenta que não os deixará sem consolo. Ele disse: “Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós, em Mim, e Eu, em vós. Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu também o amarei e Me manifestarei a ele” (14.20, 21). Logo depois, no versículo 23, lemos: “Respondeu Jesus: Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra; e Meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” Esta é a plenitude da experiência cristã. O propósito supremo de Deus é habitar em nós, homens e mulheres, ou seja, “a vida de Deus na alma do homem”, como afirmou Henry Scougal.

Veja como Paulo expressa isso, na Segunda Carta aos Coríntios. Ao questionar: “Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos”, ele lembra aos seus leitores esta grande promessa: “Porque nós somos santuário do Deus vivente, como Ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo” (6.16). Em 1 Coríntios, ele diz: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós” (6.19). Esta é a suprema verdade que deveríamos sempre ter em mente com respeito à nossa fé. Como já vimos, a oração de Paulo pelos efésios era esta: “Para que, segundo a riqueza da Sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o Seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé” (3.16, 17). Paulo estava escrevendo aos cristãos, mas também estava orando para que eles perseverassem nesse conhecimento.

Nunca devemos nos contentar com algo que seja inferior a essa vida cristã. Temos de aprender a considerar nossa alma como santuário no qual Deus faz moradia: Deus, o Pai, Deus, o Filho e Deus, o Espírito Santo. Notamos que este ensino está sempre presente quando cristãos são levados a perceber tudo o que lhes é possível como crentes em Jesus Cristo.

Assim, havendo iniciado este capítulo com a proposição de que cada um de nós é o santuário de Deus, a próxima questão que devemos responder é esta: Em que condição se encontra este santuário? Agora é que percebemos a relevância daquele incidente ocorrido no templo de Jerusalém. Em tempo, quero deixar bem claro que não estou preocupado com aqueles que não são cristãos. Estou falando especificamente para aqueles que são cristãos. Nosso Senhor está no templo, o lugar que Deus concedeu aos filhos de Israel. Aqui Ele não está lidando com os gentios, mas com o povo judeu. Ele está lidando com pessoas religiosas, com o próprio povo de Deus. É importante ter isso bem claro em mente porque, caso contrário, poderemos perder o ponto principal desse incidente. Sempre estamos alertas para enxergar certas coisas que falam aos não-cristãos, porém aqui estamos preocupados com o que deve ser feito e com o que o Senhor fará com os crentes, a fim de que Ele possa vir e fazer moradia no coração deles, pela fé. Assim, é necessário que examinemos o templo, exatamente como o Senhor fez, quando foi a Jerusalém por ocasião da Páscoa.

Um antigo puritano colocou esse assunto de forma muito clara utilizando uma analogia. Considerando primariamente os irregenerados, ele afirmou que a condição de homens e mulheres no pecado, como resultado da Queda, é similar ao estado de muitos dos antigos castelos, facilmente encontrados nos países europeus. Você encontra o castelo em ruínas, tomado pela vegetação de espinhos e outras, mas, se olhar atentamente, com freqüência, descobrirá uma pequena inscrição, em algum lugar, onde lerá: “Em tal época, fulano e beltrano moraram aqui.” Aquele castelo foi moradia de alguma pessoa de destaque no passado. O antigo puritano disse que este é o tipo de inscrição que encontramos gravada na alma de cada um dos não-cristãos: “Deus já morou aqui.” Deus não mora mais ali, o local está em ruínas, em processo de destruição. As paredes e ameias estão parcialmente desmoronadas e a vegetação invadiu o local de tal maneira que é difícil perceber que aquelas ruínas já foram, algum dia, a morada de alguém. Este é o não-cristão, mas estamos considerando o cristão; por isso, a questão é: O que encontramos neste santuário?

Com certeza, a mensagem é de que a condição da alma de muitos crentes é muito similar àquela encontrada por Jesus, no templo de Jerusalém. Aqui está a casa de Deus, com todos os cerimoniais indicados e ordenados pelo próprio Deus, mas nosso Senhor descobre que há certo abuso de tudo isso. O lugar está sendo usado para servir aos propósitos egoístas dos homens, e atividades que, em si mesmas, são legítimas, como comprar e vender bois, ovelhas e pombas ou trocar dinheiro, têm-se transformado no centro, na atividade principal. Assim, nosso Senhor afirmou que eles haviam tornado “a casa do Pai em casa de negócio”. E aqui cada um de nós é desafiado a examinar o estado de nossa própria alma, este lugar no qual Deus deseja habitar.

Se o Senhor examinasse nossa alma, neste exato instante, como a encontraria? O que há para ser descoberto ali? Seria pecado? Seria maldade? Jesus encontraria coisas que não deveriam estar lá? Haveria certo elemento de descrença, dúvida ou incerteza? Haveria coisas horripilantes, tolas e sem valor? E sobre nossos pensamentos, fantasias e intenções do coração? Estas são as coisas pelas quais Ele esquadrinha nossa alma.

No Antigo Testamento, ao examinar todos os detalhes que Deus ordenou, primeiramente a Moisés, depois a Davi e Salomão sobre a construção do tabernáculo e do templo, podemos ver que tudo foi projetado com o intuito de criar um local adequado para que Deus pudesse ali habitar. Porém, há outra maneira, mais importante, pela qual devemos nos examinar. O grande problema com aquelas pessoas é que elas estavam fazendo um mau uso de muitas coisas que Deus indicou como formas e meios de culto, buscando servir a seus fins indignos. Portanto, o mais importante é nos questionarmos: Que uso estamos fazendo do Evangelho de nosso Senhor e Salvador?

Cremos na doutrina da justificação pela fé, no perdão gratuito dos pecados. Isso é correto, mas que uso estamos fazendo disso? Estamos dizendo que, portanto, não importa mais como agimos ou nos comportamos, que podemos pecar porque sabemos que seremos perdoados? Estamos fazendo algum tipo de “comércio” com a cruz de Cristo? Esta é uma expressão utilizada por Pedro: “Movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias” (2 Pe 2.3). As pessoas transformam o sangue e a cruz de Cristo em benefício pessoal.

Em outras palavras, será que estamos dizendo: “Bem, agora creio no Senhor Jesus Cristo. Eu sei que serei perdoado, não há dúvidas sobre isso. Portanto, posso fazer o que desejar. Tudo o que tenho de fazer é me arrepender, dizer que sinto muito e serei perdoado”? Se pensamos desta maneira, estamos fazendo um mau uso, um comércio com o sangue de Cristo.

Assim, este é o tipo de lição que nosso Senhor está nos ensinando quando, munido de um chicote de cordas, expulsou aquelas pessoas do templo. Estamos usando a graça, as glórias do Evangelho, simplesmente para cauterizar nossa consciência, para permanecer em pecado e evitar a punição? Esta é uma atitude terrível, e creio que, quando examinamos nosso interior, com freqüência, nos descobrimos culpados da acusação de estar, da maneira mais sutil e diabólica, fazendo mau uso das coisas que Deus nos concedeu em nosso próprio benefício.

Existem muitas coisas mais sobre as quais podemos nos examinar – não entrarei em detalhes. “Examine-se, pois, o homem a si mesmo”. Esta foi a instrução que Paulo nos deixou quando da celebração da Ceia do Senhor. Paulo disse isso porque os coríntios estavam abusando desta cerimônia. Alguns deles participavam da Ceia apenas para beber e comer em demasia. Por esta razão, encontramos esta terrível advertência: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo.” Por quê? Porque, diz Paulo, quer você faça isso ou não, acumulará juízo para si. Porque ele não criam como deveriam, havia entre ele muitos fracos e doentes e não poucos que dormiam (1 Co 11.28-30). Se você não deseja ser julgado e condenado com o mundo, examine-se a si mesmo, livre-se dessas coisas. E devemos fazer o mesmo, em todo o tempo. Não há nada mais terrível do que utilizar o dom da graça, a casa de Deus, as glórias e as bênçãos do Evangelho para servir a propósitos pessoais e egoístas.

Eu creio – graças a Deus por isso! – que hoje em dia há menos possibilidade de encontrarmos essa situação do que no passado. Há cem anos ou mais, quando o costume de ir à casa de Deus era mais freqüente, as pessoas eram mais culpadas desse pecado do que nos dias atuais. Como indiquei no capítulo anterior, as pessoas utilizavam a casa de Deus e os meios da graça em benefício de seus negócios pessoais ou sua carreira. Não há muito disso hoje, talvez porque vivemos em um tempo no qual o culto a Deus não seja mais tão popular como era no passado. Porém, ainda em nossos dias há a possibilidade de estarmos utilizando as coisas que Deus nos concede de forma indigna. Portanto, quando nos auto-examinamos, estou certo de que estamos prontos a compartilhar com aquele que disse:

Vem as ruínas da minha alma reparar,
e meu coração uma casa de oração tornar.
Charles Wesley

Mas, tendo expressado o princípio geral, permita-me mostrar-lhe as coisas particulares que precisamos compreender à luz deste ensino. A primeira é o senhorio de Cristo. Aqui está Ele, indo ao templo e assumindo o controle, a despeito de ser apenas um carpinteiro nazareno. Ele faz isso como Alguém que tem o direito de fazê-lo, que tem autoridade. O lugar Lhe pertence. Ele menciona, no versículo 16, “a casa de Meu Pai”. Ele não disse “nosso” Pai, mas “Meu” Pai, indicando, portanto, que Ele não era outro senão o Filho de Deus e que vinha como o Senhor do templo, o Único a ter o direito de fazer o que desejasse ali.

É trágico perceber que no evangelismo, com freqüência, se faz uma distinção de Jesus Cristo como Salvador e como Senhor. Claro que há uma diferença, mas se você força uma divisão está cometendo um dos mais perigosos erros que se pode conceber. Isso acontece, não é verdade? Jesus Cristo é apresentado apenas como o Salvador, transmitindo a idéia de que, em primeiro lugar, você deve aceitá-Lo como Salvador e, somente mais tarde, você será apresentado a Ele como Senhor. E, então, lhe dirão: “Já que você O aceitou como o Salvador, aceite-O agora como o Senhor de sua vida.” Como se fosse possível receber Jesus como Salvador e não como Senhor!

Uma das lições mais importantes desse incidente é que devemos aceitar Jesus como Ele é. Ele sempre surge na plenitude de Sua abençoada pessoa. Nós não acreditamos em “Jesus”, mas no Senhor Jesus Cristo. Não podemos dividi-Lo desta maneira. Ele insiste para que O recebamos integralmente. Não existe a possibilidade de recebermos as bênçãos do perdão e da purificação sem, ao mesmo tempo, crer em Jesus como o Senhor. Ele não veio apenas para que fôssemos perdoados, mas Ele “se deu por nós, a fim de remir-nos de toda a iniqüidade e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Ele veio para conduzir-nos a Deus (1 Pe 3.18). Ele veio para nos tornar um povo santo, e nenhum aspecto da salvação deve ser visto isolado desta verdade.

Você diz que crê na morte de Cristo na cruz por seus pecados. Muito bem, mas imediatamente isso implica outra dedução, como Paulo escreveu: “Acaso não sabeis (…) que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço” (1Co 6.19, 20). Ao morrer na cruz, Jesus “comprou” você e, portanto, você Lhe pertence, você é Dele. Ele é o Senhor do templo.

Este é o primeiro princípio da vida cristã. No momento em que somos convencidos do pecado, do perigo da punição e do inferno, compreendemos que temos sido escravos do pecado e de Satanás, mas que a partir daquele instante, mediante a fé em Jesus, não somos somente perdoados, mas estamos livres do antigo senhorio e pertencemos a Ele. Tornamo-nos escravos do Senhor Jesus Cristo.

Quantos problemas seriam evitados em nossa vida se apenas tivéssemos em mente esta compreensão! O cristão nunca é livre. Todos somos escravos, pois servimos ao diabo ou servimos ao Filho de Deus. O apóstolo Paulo gloriava-se com este título. Ele escreveu: “Paulo, servo de Jesus Cristo” (Rm 1.1). Portanto, desde o início nosso Senhor insiste em que observemos este senhorio.

Como vimos na festa de casamento em Caná da Galiléia, Ele não recebe ordens – Ele nem mesmo aceita sugestões. Ele é o Senhor que toma as decisões e determina o que fazer. Jesus agiu exatamente da mesma maneira no templo. Portanto, não há o que se discutir a esse respeito. Nós somos Sua legítima propriedade.

O próximo fato que Cristo deixa claro é que, quando Ele visita Sua propriedade, nada fica sem ser inspecionado. Não podemos esconder coisa alguma de Jesus. Novamente, há um grande princípio que aparece ao longo de toda a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. O exemplo clássico é o de Davi, filho de Jessé. Ele foi o maravilhoso rei de Israel, o “doce salmista”. Sim, este homem de Deus caiu em pecado. Ele planejou e conspirou, pensando que era muito esperto. Davi pensou que não havia deixado pista alguma, que todos os seus passos estavam encobertos. E, realmente, conseguiu enganar a quase todos. Somente uma ou duas pessoas sabiam o que ele havia feito. Davi pensou que tudo estava indo muito bem, mas logo percebeu que estava enganado. Deus enviou o profeta Natã para desmascará-lo, e seu pecado foi exposto.

No Salmo 51, Davi faz uma confissão completa, escrevendo palavras como estas: “Eis que Te comprazes na verdade no íntimo” (v. 6). Por fim, ele compreendeu que Deus não apenas se interessa por nossas ações externas, mas Ele conhece nosso coração.

Mais adiante, Davi escreveu: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido” (66.18). Agora, esta idéia significa esconder algo no coração. Ao mesmo tempo em que dizemos que somos cristãos, deliberadamente, escondemos algum pecado em nosso íntimo.

Davi escreveu que isso não era bom, pois o Senhor não o ouviria. Deus exige honestidade absoluta nesse assunto. Ele exige completa transparência, pois não pode ser enganado. Ele é onisciente e onipresente.

Encontramos a mesma idéia no Salmo 139: “Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também (vv.7, 8). Não importa onde eu esteja – norte, sul, leste ou oeste –, não posso escapar da presença de Deus. Esta verdade é fundamental para a vida cristã. O problema é que muitos de nós imaginam Deus nos olhando em termos de pecados particulares. Mas não devemos pensar assim. Devemos pensar em termos de relacionamento e compreender que Deus conhece tudo a nosso respeito.

Talvez a afirmação mais clara sobre o conhecimento que Deus possui de nós encontra-se no capítulo quarto da grande carta aos hebreus. O autor escreveu:

Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, seguindo o mesmo exemplo de desobediência. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há nenhuma criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as cousas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele a quem temos de prestar contas.
(vv. 11-13).

Ao final do Evangelho de Marcos, encontramos outra tremenda afirmação dessa verdade. Somos informados de que, pouco antes do fim, Jesus foi novamente ao templo em Jerusalém e observou tudo (11.11). Gosto de pensar que agora mesmo Ele está observando tudo em nossa alma, onde nada pode ser encoberto de Seus olhos, como o autor deste hino escreveu:

O Teu gentil, mas penetrante olhar,
pode esquadrinhar
as muitas chagas que a vergonha encobre.
Henry Twells

Estamos lidando com uma pessoa que é o Senhor, que não somente detém o direito e a autoridade, mas também possui completo conhecimento, visão e “poder de esquadrinhar” nosso interior.

Bem, o próximo princípio é que, desde cedo, Jesus deixa claro que abomina certas coisas. Ele não as tolerará em Sua casa e jamais caminhará lado a lado com elas. Essa é uma grande mensagem, não é? Não é incrível que possamos nos esquecer desta verdade? Estes são os primeiros princípios da vida cristã. Não há necessidade de apresentar grandes argumentos sobre os pecados particulares e tentar decidir o que é certo ou errado. É uma questão de relacionamento pessoal. Se você, simplesmente, pensar nisso, a maioria de seus problemas estará resolvida. Não haverá mais sentido em tentar fingir ou explicar certas atitudes, pois Ele está observando, vendo tudo o que fazemos.

Imediatamente, Ele revela o que pensa do pecado, e Sua atitude é clara. Há algo poderoso nisso. Possui seu aspecto terrível, mas também glorioso. Lemos no livro de Apocalipse como João O vê: “Os olhos como chama de fogo” (1.14). Seu olhar é de amor, de compaixão, o olhar de quem morreu por nossos pecados, mas também não podemos esquecer que Seus olhos são como chama de fogo. Este é o elemento de julgamento que é colocado no Evangelho de João nestes termos: “O zelo da Tua casa Me consumirá” (2.17).

Por que razão o Senhor desceu dos céus? Porque Ele viu a ruína e os estragos que o pecado no coração de homens e mulheres estava causando no Universo de Deus, especialmente na alma humana. Ele viu o que o diabo havia feito, e Sua alma de justiça foi afligida: “O zelo da Tua casa Me consumirá.”

Ele é consumido pela paixão da retidão, glória e justiça divinas. Este zelo está presente em Seu relacionamento conosco. Ele odeia o pecado: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar” (Hc 1.13). Isso também é verdadeiro com respeito ao nosso amado Senhor. Deus habita nesta “luz inacessível, a quem homem algum jamais viu” (1 Tm 6.16). Pense na visão de Isaías, encontrada em seu livro, no capítulo 6: a santidade de Deus, a fumaça enchendo toda a casa e as bases do limiar se movendo. Esta é uma visão de Deus e Sua glória eterna. Isso sempre revela o pecado e a impureza. Isaías clamou: “Então, disse eu: Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (v. 5).

E, claro, em todo este ensinamento, nosso Senhor mostra a condenação ao pecado. Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). Há uma absoluta incompatibilidade.

Ainda, veja o que escreveu o apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 6. Aqui vemos uma afirmação lógica do que Cristo representava no templo de Jerusalém. Ouça as perguntas que Paulo faz. Primariamente, referindo-se à questão do cristão casar-se com um não-cristão, o apóstolo afirma: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos” (v. 14). Ele diz para não fazermos isso. Mas, qual a razão dessa proibição? Paulo apresenta argumentos na esfera de princípios gerais e pergunta: “Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?” (vv. 14-16). Essas coisas, Paulo afirma, são completamente opostas. Você não pode misturar a justiça com a injustiça, a fé com a descrença. Tentar fazer isto sempre resultará em tragédia. Nosso Senhor deixa isso bem claro por Sua reação no templo de Jerusalém.

Tiago também tratou desse tema: “Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce” (3.11, 12). João utilizou uma linguagem ainda mais forte quando escreveu: “Aquele que diz: Eu O conheço, e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade” (1Jo 2.4).

Em outras palavras, o Senhor não habitará com bois, ovelhas, pombas e cambistas. Ele não fará moradia em um lugar de descontrole, enganos e impurezas. O último livro da Bíblia, Apocalipse, revela claramente esta verdade. Nos dois capítulos finais, uma visão do céu é apresentada, e lemos: “Nela, nunca jamais penetrará cousa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira” (21.27). Somente o que é puro, limpo e santo terá lugar no céu.

Então, à luz de tudo isso, o que acontece? A resposta é, de certo modo, bem simples. Há duas atividades; a nossa e a Dele. É sempre assim: “Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo (…) e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio.”

Primeiramente – creio que isso tornará as coisas mais claras para todos nós – a maneira como Jesus agiu naquele acontecimento, surpreendeu a muitos de nós. Não conseguimos entender Suas atitudes e começamos a nos perguntar o que está acontecendo. Com freqüência, quando percebemos que não estamos vivendo a vida cristã que deveríamos, quando enxergamos que podemos ir além, pensamos que tudo o que precisamos fazer é confessar a Ele e pedir-Lhe por Sua bênção, que a receberemos imediatamente. No entanto, isso é puro engano. Você sabe o que conseguirá? Provavelmente, será açoitado. Se você assumir essas coisas com seriedade e desejar que sua alma seja a moradia de Deus, esteja preparado para receber os açoites. Se você pensa que, no mesmo instante, receberá um presente e uma resposta positiva, sendo preenchido com uma grande alegria e maravilhoso êxtase, está incorrendo em um grande erro. Sempre deverá acontecer uma limpeza antes, sempre haverá um processo de exame terrível. Deus revelará o que está escondido nos recantos escuros de sua alma, Ele explorará os calabouços úmidos, e você verá coisas em seu interior que lhe causarão arrepios e horror. Com certeza, você irá se queixar. Por vezes, desejará nunca ter iniciado esse processo. Sentir-se-á miserável e perceberá que as coisas, em vez de melhorarem, ficarão piores.

Mas tudo isso está correto e faz parte do tratamento. Se você não estiver preparado para ser açoitado, com certeza se sentirá desapontado e não conseguirá ir muito longe no processo. Ele sempre age dessa maneira. No instante em que você se achegar a Ele e dizer-Lhe: “Sim, este é Teu templo, Tu tens direito a ele, podes iniciar a limpeza”, Ele começará a agir em você, confeccionando um pequeno chicote de cordas e o utilizando. Ele expulsará o que não prestar. Lançará fora coisas que você tem valorizado ou amado. Jesus o fará sentir que está contra você e que já não há mais esperança. Porém, esta é a maneira de agir Dele. “O Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.6).

Que coisa terrível é não conhecer a disciplina do Senhor. Se você não conhece isso, diz o autor de Hebreus, então, é um bastardos e não filho (v. 8). O texto prossegue: “Toda a disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza” (v. 11). No entanto, é Seu trabalho – permita que Ele vá até o fim. Você é santuário do Senhor e Ele sabe o que é melhor. Portanto, afirmo que não devemos apenas esperar por Sua disciplina, mas devemos até mesmo orar por ela. Creio que é um excelente teste para verificar nosso relacionamento com Ele.

Há alguma coisa debaixo do sol
que a Ti meu coração reluta em revelar?
Ah! Extirpe-a, então, e reine absoluto,
o Senhor de todas as ações em mim.
Então, meu coração da terra será livre,
quando repouso encontrar em Ti.
Gerhard Tersteegen (tradução de John Wesley)

Aqui está Tersteegen, sendo tratado com açoites e começando a compreender o propósito de Deus. Ele diz: “Há algo a ser removido que eu ainda não tenha visto? Ah! Extirpe isso, então.” Ele não consegue fazer isso, assim pede ao Senhor que o faça. “Remova o que está errado”, ele solicita. “Extirpe o que é necessário e reine absoluto. Seja o Senhor de todas as ações em mim”. Você já clamou por algo assim? Já solicitou ao Senhor que retire certas coisas de seu coração? Este é um claro sinal de que Ele está trabalhando em você e tem usado Seu abençoado açoite a fim de limpar, purificar Sua casa, Seu santuário.

Então, Ele nos conclama a realizar certas coisas. Jesus se volta para os vendedores de pombas e lhes diz: “Tirai daqui estas coisas.” Isso é um mistério. Não vou fingir que compreendo esta palavra. Por que Ele não tira tudo de errado que temos em nós? Quando os filhos de Israel foram levados do Egito para a terra de Canaã, muitos dos inimigos que encontraram pela frente foram destruídos por Deus. Porém, certos inimigos foram deixados para que os judeus enfrentassem e, se não fossem combatidos pelo povo de Deus, esses inimigos permaneceriam como ameaça constante. Moisés disse: “Os que deixardes ficar, ser-vos-ão como espinhos nos vossos olhos e como aguilhões nas vossas ilhargas” (Nm 33.55). O povo tinha de fazer a parte que lhe cabia. Deus realizou grande parte da tarefa, mas deixou que os judeus a terminassem. Esta lógica parece ser a regra em todos esses assuntos.

Deste modo, há uma grande ligação em 2 Coríntios 7.1: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda a impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.” Ou podemos colocar desta forma: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta” (Ap 3.20). Bem, usar este texto como uma mensagem evangelística é deturpar o contexto. Esta mensagem faz parte de uma carta endereçada às igrejas, aos crentes. Após o Senhor ter realizado certas coisas, Ele diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém (…) abrir a porta” – esta é nossa parte. Ele atua e, então, nos convoca a agir. “Aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co 7.1); purificando-nos de toda a impureza, tanto da carne como do espírito. Esta é a maneira mediante a qual nos prepara.

E para o que somos preparados? Bem, Ele está preocupado em nos possuir integralmente. Ele deseja que o santuário seja como deve ser, um lugar para Sua moradia. Ele deseja que a casa do Pai não seja um lugar de comércio, mas um lugar onde o Pai possa habitar. Esta é a grande promessa: “Nós somos santuário do Deus vivente, como Ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo” (6.16).

A vida de Deus está em sua alma? Isso é a verdadeira fé cristã, o que foi planejado para ser. Não é somente tomar uma decisão, acreditar que seus pecados estão perdoados e, então, prosseguir em grandiosas atividades. Isso não é o Cristianismo em essência. O real Cristianismo é saber que Deus está em sua alma, que caminha em seus caminhos e habita no santuário. É saber que Cristo come e bebe com você. É conhecê-Lo intimamente, que é a vida eterna (veja Jo 17.3). Ele veio ao mundo para que Sua experiência fosse vivida em cada um de nós. E, quando compreender isso e começar a desejar e a clamar por isso, então, esteja preparado para ser visto pelos olhos que são “como chama de fogo”. Nada poderá ser ocultado. Ele trará todas as coisas que estiverem erradas para a luz e as extirpará. Então, e somente então, você saberá que Ele está habitando no santuário e terá a certeza de que Cristo está morando em seu coração, pela fé.
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(Extraído do livro O Segredo da Bênção Celestial, cap. 7, de Martin Lloyd-Jones, co-edição Editora Textus e Editora dos Clássicos, 2002, com permissão da Editora Textus para publicação no sítio Campos de Boaz.)

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A. B. Simpson Cristo Vida cristã

O próprio Cristo (A. B. Simpson)

Gostaria de levar o pensamento de cada um a focalizar-se em Jesus, e somente nEle.

É comum ouvirmos os crentes dizerem: “Ah, como eu gostaria de obter a bênção da cura divina. Mas ainda não a obtive.”

E outros afirmam: “Eu já.”

Mas quando lhes pergunto: “O que obteve?”, não sabem responder.

Alguns dizem: “Recebi a bênção.” “Recebi a cura.” “Recebi a santificação.”

Mas, graças a Deus, o que devemos desejar não é a bênção, nem a cura, nem a santificação, nem outra coisa qualquer, mas Alguém muito superior. Devemos desejar Cristo, o próprio Cristo.

PRECISAMOS DE UMA PESSOA

Encontramos na Palavra a afirmação “Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Mt. 8:17); “Carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (I Pe. 2:24). É a Pessoa de Jesus Cristo que devemos desejar. Muitos indivíduos têm uma idéia sobre Cristo, mas não passam disso. Têm um conceito na mente, na consciência e na vontade, mas Ele mesmo ainda não faz parte da vida deles. Assim só possuem um símbolo e uma expressão material de uma realidade espiritual.

Certa vez vi uma reprodução da Constituição dos EUA feita sobre uma chapa de cobre. Quando se olhava de perto, via-se apena um texto impresso. Mas quando se afastava um pouco, divisava-se na chapa a efígie de George Washington. Vistas de certa distância, as letras formavam os traços de Washington, e quem olhasse para elas enxergava apenas a pessoa e não as palavras, nem as idéias. Então ocorreu-me um pensamento: “É assim que devemos olhar para a Bíblia, para entender os pensamentos de Deus. Neles vemos o amoroso rosto de Jesus delineando-se em meio às palavras. Ali está o próprio Jesus, que se apresenta como a Vida, a Fonte de Vida, e a presença constante que a sustenta.”

Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. É que estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo.

Às vezes, nos cultos, via pessoas dando testemunho sobre o gozo espiritual, e até achava que eu também o experimentara, mas não conseguia conservá-lo. É que minha fonte de alegria não era Jesus. Afinal, um dia, ele me disse com muita mansidão:

“Meu filho, receba-me, e eu próprio serei a fonte constante de tudo isso.”

Então resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que tendo Cristo tinha quem era maior do que uma necessidade do momento, tinha o Cristo que era tudo de que necessitava. E ali O recebi, de uma vez para sempre.

Assim que O vi por esse prisma, experimentei um revigorante descanso. Tudo ficou acertado de uma vez por todas. Nele tinha tudo de que precisava, não apenas para aquele momento, mas para o outro, e o outro, e o outro, e assim por diante. Vez por outra, Deus me deixa entrever como será minha vida daqui a um milhão de anos, quando resplandeceremos “como o sol, no reino de (nosso) Pai (Mt. 13:43) e teremos “toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:19).

MEU GRANDE SEGREDO

Se eu afirmasse agora que possuo uma fórmula secreta para se obter riqueza e sucesso, que recebi diretamente do céu, e que, por meu intermédio, Deus daria grandes quantidades dela a quem quisesse, todo mundo ficaria muito interessado. Pois quero mostrar-lhes na Palavra de Deus uma oferta muito mais valiosa que essa suposta fórmula. Inspirado pelo Espírito, o apóstolo Paulo diz que existe um “mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações” (Cl. 1:26). Trata-se de um segredo que o mundo tem procurado, mas não encontra; um segredo que os sábios estão sempre desejando. E o Senhor nos garante que “agora, todavia, se manifestou aos seus santos”. E Paulo viajou pelo Império Romano entregando essa mensagem a quem estivesse apto para recebê-la. Eis o segredo: “Cristo em vós, esperança da glória” (vs. 27).

O grande segredo é: “Cristo em vós”. E eu o passo a você agora, se quiser crer no que Deus diz. Para mim, ele tem sido maravilhoso. Faz alguns anos busquei a Deus, cheio de temores e de sentimentos de culpa. Apliquei esse segredo à minha vida e foi a solução para todas as minhas preocupações e meu fardo de pecados. Mas depois, após algum tempo, vi-me outra vez dominado pelo pecado, e a tentação me parecia forte demais. Busquei a Deus, e de novo Ele me disse: “Cristo em vós”.

Foi assim que obtive a vitória, o descanso, as bênçãos.

Antes era a bênção, agora é o Senhor.
Antes era o que eu sentia; agora é a Palavra.
Antes eu queria os dons; agora o Doador.
Antes queria a cura; agora basta-me o próprio Jesus.

Antes era o esforço penoso; agora, a confiança perfeita.
Antes era uma salvação incompleta; agora é a perfeição.
Antes me segurava nEle; agora Ele me segura firmemente.
Antes estava sempre à deriva; agora minha âncora está firme.

Antes era um plenejamento incessante; agora a oração da fé.
Antes era uma preocupação constante; agora Ele cuida de tudo.
Antes era o que eu queria; agora é o que Jesus disser.
Antes era uma petição constante; agora, adoração incessante.

Antes era eu quem trabalhava; agora Ele age por mim.
Antes eu tentava usá-Lo; agora é Ele que me usa.
Antes queria o poder; agora tenho o Todo-Poderoso.
Antes trabalhava por vaidade; agora, tão somente para Ele.

Antes tinha esperança de conhecer Jesus; agora sei que Ele é meu.
Antes minha luz era intermitente; agora brilha intensamente.
Antes esperava a morte; agora anseio por Sua volta.
E minhas esperanças estão firmadas no céu.

(Extraído do livro Jesus Cristo, Ele Mesmo, Editora Betânia)

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