Assim como o pastor usa o cajado para apartar as ovelhas dos bodes, a oração secreta é o cajado que separa os filhos de Deus dos filhos do Diabo, pois aqueles que entram em seu aposento e fecham a porta fazem-no como filhos e para orar a seu Pai. Certamente os que assim não fazem, e isso não lhes aflige, são bastardos e não filhos (Hb 12.8). A oração particular é o teste de nossa sinceridade, o indicador de nossa espiritualidade, o principal meio de crescimento na graça. A oração particular é a única coisa, acima de todas as demais, que Satanás busca impedir, pois ele bem sabe que, se puder ser bem-sucedido nesse ponto, o cristão falhará em todos os outros.
(John Bunyan)
Conhecimento teológico e viver piedoso andam de mãos dadas. Uma verdade desconhecida não pode santificar a alma.
(B. B. Warfield)
O trono de Deus não é apenas um trono de majestade, mas um trono de graça.
(João Calvino)
Em nada, a não ser no céu, vale a pena colocar nosso coração.
(Richard Baxter)
Ainda que não creiamos, isto é, ainda que o mundo inteiro não creia, o Evangelho de Deus não deve ser alterado para que se adapte aos caprichos e às fantasias do homem.
(Charles H. Spurgeon)
Obedecer a Deus não é a morte da felicidade. É a morte de tudo que o impede de ter felicidade plena e duradoura.
(John Piper)
Satanás dedica 168 horas por semana tentando enganá-lo. Você acha que pode manter uma mente renovada com um olhar de dez minutos no Livro de Deus uma vez por dia?
Nosso grande problema é o tráfico de verdades não vividas. Tentamos comunicar o que nunca experimentamos em nossa vida.
(Dwight L. Moody)
Eu peço a Deus que todos os cristãos professos destes dias apliquem essas coisas a seu coração. Que nunca esqueçamos que os privilégios sozinhos não podem nos salvar. Luz e conhecimento, pregações fiéis, meios abundantes de graça e a companhia de pessoas santas são grandes bênçãos e vantagens. Felizes aqueles que os têm! Mas, no final de tudo, há uma coisa sem a qual privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A esposa de Ló teve muitos privilégios, mas não teve a graça de Deus no coração.
(J. C. Ryle)
Quando percebemos nossa alma definhando, a melhor maneira de fortalecê-la na mesma hora é meditar em algo que a desperte, como, por exemplo, na presença de Deus, ou no fato de que haveremos de prestar contas a Ele, ou no infinito amor de Deus em Cristo e nos frutos provenientes desse amor; ou na grandeza do chamamento cristão; no curto e incerto tempo desta vida e no quão pouco proveito dentro em breve terão todas essas coisas que roubam nosso coração e o que fizermos aqui. Quanto mais dermos lugar a esse tipo de pensamento para que se aprofunde em nosso coração, mais nos aproximaremos do estado de alma que haveremos de gozar no céu.
(Richard Sibbes)
Há mais mal no mínimo pecado do que na maior aflição.
(Thomas Brooks)
Enquanto Roma queimava, Nero tocava música. Assim são alguns pregadores que, enquanto as almas se perdem, ficam falando coisas secundárias.
(Charles H. Spurgeon)
Os que amam as trevas, não a luz, terão sua ruína de acordo com essa preferência.
(Matthew Henry)
Não disponha do seu tempo em nada do que você saiba que terá de se arrepender; em nada pelo que você não possa orar pela benção de Deus; em nada que você não possa avaliar com a consciência tranqüila em seu leito de morte; em nada que você não possa ser segura e devidamente encontrado fazendo se a morte o surpreendesse em seu ato.
Os cristãos primitivos não tinham muitos privilégios e muitas vantagens dos quais nós desfrutamos. Eles não tinham livros impressos. Eles adoravam a Deus em covas, cavernas e câmaras superiores, tinham poucas e simples vestes eclesiásticas, e muitas vezes recebiam a Ceia do Senhor em vasos de madeira, e não de prata ou ouro. Eles tinham pouco dinheiro, não tinham doações às igrejas, nem universidades. Suas crenças eram pequenas. Suas definições teológicas eram escassas. Mas o que eles sabiam, sabiam bem. Eles foram homens de um Livro só. Eles sabiam em quem criam. Se eles tinham vasos comunitários de madeira, eles tinham ministros e professores de ouro. Eles “olhavam para Jesus” e notavam intensamente a personalidade de Jesus. Eles viviam para Jesus, e trabalhavam e morriam por Ele. Mas o que nós estamos fazendo?
(J. C. Ryle)
A cruz é o maior nivelador do universo. Ela leva cada um de nós à estaca zero e oferece um novo começo a toda humanidade.
(Watchman Nee)
Onde a razão não alcança pé, a fé pode nadar.
(Thomas Watson)
Eu gostaria, irmãos e irmãs, que todos imitássemos a ostra. Uma partícula irritante penetra-lhe a concha, e isso a irrita e a faz sofrer. Ela não consegue desfazer-se do mal, mas o que ela faz é “cobrir” aquilo que a irrita com uma substância de alto valor, extraída de sua própria vida, por meio da qual transforma aquele intruso numa pérola! Oh, que façamos o mesmo com as provocações que recebemos de nossos companheiros cristãos, de forma que as pérolas de paciência, docilidade e perdão sejam criadas dentro de nós por meio daquilo que, doutra forma, nos seria prejudicial.
(C. H. Spurgeon)
Os dois fundamentos que constituíam a vida e a alma dos fariseus era sua própria reputação e a reputação do partido a que pertenciam.
(John Owen)
Aprendam a não se agarrar a nenhum bem terreno e estejam prontos a abrir mão de qualquer coisa quando Deus a exigir de suas mãos. Alguns de vocês talvez tenham amigos que lhes são tão caros como a própria alma; e outros podem ter filhos a cuja vida sua própria vida está ligada. Todos têm seus Isaques, aquilo que lhes dá especial prazer. Eu lhes rogo, pelo amor a Deus, filhos e filhas de Abraão: esforcem-se para renunciar a eles a cada instante, por amor a Deus, de forma que, quando chegar o momento de Ele requerer que vocês realmente os sacrifiquem, vocês não consultem carne e sangue, assim como também não fez o bem-aventurado patriarca.
(George Whitefield)
Não posso garantir a todo aquele que lavra a terra que, infalivelmente, terá uma boa colheita; mas uma coisa posso dizer: Deus costuma abençoar o diligente e o prudente. Não posso dizer a todo aquele que deseja filhos: “Case e você terá filhos”. Não posso dizer com certeza absoluta ao que vai à guerra pelo bem de seu país que será bem-sucedido e obterá a vitória. Mas posso dizer, como Joabe: “Esforça-te, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades do nosso Deus, e faça o Senhor o que parecer bem aos Seus olhos” (1Cr 19.13). Não posso garantir que você obterá graça da parte de Deus; mas posso dizer a cada um e a todos: use os meios indicados por Deus, e confie o sucesso de seu esforço e sua própria salvação à boa vontade de Deus. Eu não posso garantir isso a você, pois não há como obrigar Deus a fazer alguma coisa. E, ao mesmo tempo, essa obra é fruto da vontade de Deus, de Seu soberano desígnio: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18). A nós compete fazer aquilo que Deus ordenou, e deixar que Ele faça a vontade Dele. Eu nem precisaria dizer isso, pois o mundo todo, em tudo o que acontece, é guiado por esse princípio. Cumpramos nossas obrigações, entregando a Deus os resultados. A maneira normal de Deus agir é encontrar-se com a criatura que O busca. Sim, Ele já está conosco agora. O sincero uso dos meios de graça já é um autêntico indício da operação de Sua graça. Dessa forma, uma vez que Ele já está conosco, e não demonstrou nenhum empecilho ao nosso bem-estar, não temos razão para desesperar de Sua bondade e misericórdia. Em vez disso, temos toda razão para esperar o melhor em nosso favor.
Estamos às vésperas de um novo ano. Podemos dizer, sem dúvida, que o Senhor nos trouxe até aqui: abençoou-nos, guardou-nos, corrigiu-nos, encorajou-nos, repreendeu-nos, alegrou-nos, sustentou-nos, capacitou-nos, renovou-nos, ensinou-nos, transformou-nos, amou-nos, disciplinou-nos, misericordiou-nos (como dizia certa irmã que conheci). Suas misericórdias se renovaram em cada uma das 365 últimas manhãs, permitindo-nos ter mais um ano.
Quer tenhamos andado no vale da sombra da morte, quer tenhamos desfrutado apenas de pastos verdejantes, o certo é que o Senhor não nos desamparou nem abandonou em nenhum momento. Ele é Emanuel, Deus conosco todo o tempo, mesmo quando está em silêncio, mesmo quando não O vemos, mesmo quando tudo indica que Ele nos deixou. Cada manhã é a garantia de que na próxima manhã Ele ainda estará conosco, com novas misericórdias.
Muitas pessoas supõem que tudo se fará novo (elas mesmas, o mundo, a sociedade) pelo simples fato de um novo ano se iniciar. Evidentemente, isso é uma tolice, uma expectativa que se frustrará logo no primeiro dia. Mas o início de um novo ano é um bom momento para considerarmos nossa caminhada passada com o Senhor, para renovarmos nossa entrega a Ele, para estabelecermos alvos na vida cristã. A leitura diária da Bíblia, por exemplo, é um desses louváveis compromissos a assumir com Deus, contando, sem dúvida, com Sua graça para cumpri-lo.
A equipe do Campos de Boaz decidiu partilhar com os leitores um pouco do que aprendeu com o Senhor nesse ano. Sem dúvida, foi um ano de experiências profundas, as quais não seria possível descrever aqui em sua totalidade. Decidimos, então, por apresentar um artigo Gotas de orvalho especial, mas escolhemos chamá-lo de Gotas de orvalho especiais, por conterem um pouco da história particular de cada um de nós com nosso amado Senhor.
Rafael Bernard
Seu Livro Antigo busca me dar esperança e refrigério:
Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
(Mateus 6.26)
Não é necessário cedermos ao peso deste mundo, pois o Senhor pediu que nossa carga a colocássemos sobre Ele. E, seguindo a atenção requerida pelas palavras do Mestre, um poema-canção de Stenius Marcius encoraja e corrige, pois Sua graça nos basta:
Acordo
Me diga, andorinha, você que já voou o mundo inteiro
Se houve um momento só, por cima de um continente,
Por sobre qualquer cidade, em que te faltou o céu?
Será que o infinito espaço a teu redor é suficiente
Pra voares livre e viveres feliz?
Me diga, peixinho dourado, senhor do vasto oceano,
Que brinca nas correntezas, se esconde em velhos navios
Mergulha nas profundezas, sem nunca chegar ao fim:
Será que os sete mares que são teus têm bastante água
Pra nadares livre e viveres feliz?
Puxa uma cadeira, minh’alma, que eu quero te perguntar:
Por que me roubas a calma, me botas tristeza no olhar?
Vamos entrar num acordo, vida tranqüila viver:
Lembra daquilo que o Mestre falou:
“A Minha graça te basta!”
Portanto:
Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
(Mateus 6.32,33)
Jacilara Conceição
Minha gota é um hino/poema (citado abaixo) extraído de um livro em que ele foi mencionado, e fala de estágios de consagração da vida cristã.
Esse livro me trouxe muita luz com respeito ao que é ter uma vida conduzida pelo Espírito Santo, e o hino me impactou bastante, complementando a mensagem. Creio (mesmo em fraqueza e ainda não tendo alcançado esse nível) que, para termos uma vida cheio de Cristo e sermos conduzidos por Sua perfeita vontade, completando a carreira que nos foi proposta, precisamos nos dar completamente ao Senhor e vivermos na dependência Dele. Por isso, sugiro esse hino aos leitores do Campos de Boaz e oro para que não desviemos nossos olhos do Senhor, mas que busquemos conhecê-Lo mais e mais no próximo ano; que consagremos toda nossa vida ao Senhor, todos os dias de 2017. Assim, certamente, teremos um novo ano pleno e feliz na presença Daquele em quem há plenitude de alegria e delícias perpetuamente.
Grande abraço!
Ai! Que tempo vergonhoso, quando altivo resisti,
Ao meu Salvador bondoso, respondendo desdenhoso:
Quero o eu, não quero a Ti!
Mas o Seu amor vencia, quando sobre a Cruz o vi;
E Jesus por mim pedia, já meu coração dizia:
Quero o eu e quero a Ti!
Com ternura me amparava, graça e força recebi;
Mais e mais eu exultava, mais humilde segredava:
Menos do eu e mais de Ti!
Por seu grande amor vencido, tudo ao Senhor cedi;
Ao meu Salvador unido, este agora é meu pedido:
Não mais eu, só quero a Ti!
(Robert Hawkey Moreton)
Servant
Bem, a razão em especial da frase abaixo:
A consciência de nossos próprios males, falhas, incompreensões, escuridão e o nosso conhecimento parcial, deveria operar em nós uma opinião caridosa para com as pobres criaturas que, encontrando-se em erro, assim estão com os corações sinceros e retos, com postura semelhante aos que estão com a verdade.
(John Owen)
deve-se ao fato de Owen resumir, de modo tão claro, a extrema cegueira que se abatera sobre mim, quando fui legalista-fariseu. Todos estavam errados, menos eu, em termos de doutrina! Doutrina era (e é) importante para mim, mas ela não é um fim em si mesma, mas o meio pelo qual eu devo ter comunhão com o Senhor Deus. Eu percebi que, quanto mais legalista, mais vazio eu era. Quanto mais fariseu, mais “seco” por dentro eu me tornava. E menos apto a discernir o certo do errado! Sim! Por ser fariseu, eu imaginava que eu, não Deus, era o ponto focal da Verdade. Graças a Deus que Ele teve compaixão e misericórdia de mim.
O versículo bíblico seria Atos 20.24, por ser este versículo como o resumo ideal e perfeito de todo o ministério do Apóstolo para os Gentios. Resume de modo cabal o que deve ser o ministério de todo servo do Senhor:
Mas de nada faço questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
Rogo humildemente suas orações, a fim de que eu glorifique a Cristo com meu viver. Isso é tudo o que importa, isso é tudo o que vale a pena.
Tathyane Faoth
Uma frase que me foi útil durante o ano:
Um casamento baseado em necessidades não dá testemunho da glória de Deus; focaliza-se em demandas pessoais que competem por supremacia.
(Dave Harvey).
Essa frase foi libertadora para mim porque me levou a perceber que buscar um casamento em que todas as necessidades fossem supridas não era o alvo de Deus para meu marido e para mim; mas que, ao contrário, nosso esperar em Deus, nossa fé, nosso exercício da misericórdia, nossa renúncia, nosso deixar sobre a cruz todo o nosso querer e confiar Nele e em Sua obra, isso, sim, traz a glória de Deus!
Maria de Luca
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que também sejamos capazes de consolar os que passam por qualquer tribulação, por intermédio da consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
(2Coríntios 1.3,4).
No meio de toda tribulação que passei esse ano, fui sempre lembrada que a Palavra de Deus é suficiente para alimentar a fé. Eu mesma precisei ser relembrada disso todos os dias, porque as muitas distrações, e as muitas dores, podem nos fazer esquecer das promessas de Deus. Em um momento especialmente difícil, repeti a estrofe de um hino de que gosto muito. Diz assim:
Se tribulado por provas
Meu coração desmaiar,
A minha fé esvair-se
E a esperança findar:
Que Tua fé me sustente
Com Teu divino poder,
E das riquezas na glória
Parte então eu vou ter.
Tens doce voz,
Ó Senhor da esperança
Meu coração se alegra em Ti.
As orações dos irmãos a nosso favor, as manifestações de carinho, as respostas às orações me relembravam do amor e do cuidado de Deus por nós. Fui lembrada das promessas de que, ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, não precisamos temer mal algum, porque Ele está sempre conosco. Que o Senhor dirige nossa vida tão frágil e, apesar de tão indignos, Ele insiste em nos dar provas de Seu amor, ainda que a maior delas já tenha sido dada no Calvário.
Francisco Nunes
Esse foi um ano ímpar, sob vários aspectos. Ou, talvez, um ano absolutamente comum, como pode ser um ano para um pecador à espera da plena redenção. Nada há de novo debaixo do sol: por que me surpreendo, então?
Mas algo me surpreendeu, sim. Várias vezes, e cada vez eu era surpreendido como se fosse pela primeira vez. Expressei isso numa frase:
Que os filhos de Deus nunca deixem de se maravilhar com o fato de que um Deus perfeito atende a imperfeitas orações.
Quão consolador, quão encorajador, quão terno, quão indescritível, quão imerecido: Deus ouve nossas orações! Orações imperfeitas, orações titubeantes, orações medrosas, orações sem fé. Mas Deus as ouve. Não sabemos orar como convém, mas Deus nos ouve. Não perseveremos em oração como o Senhor disse ser nosso dever, mas Deus nos ouve.
Devemos orar, aprender a orar, continuar orando, insistir em orar, almejar ter uma vida de oração séria e profunda, mas nunca esquecendo: não é por nada disso que nossas orações são ouvidas. Elas são ouvidas simplesmente porque Deus é bom e as ouve.
Gotas de orvalho
A graça ilimitada de Cristo confronta nossas mais profundas necessidades. A presença prometida de Cristo confronta nossa triste e melancólica solidão. Jesus assim encheu de graça tão transbordante, com amor tão tenro, com simpatia tão requintada, com poder tão ilimitado, com recursos tão amplos, com uma natureza tão imutável, os quais permanecem diante de nós e dizem a cada coração cambaleante: “Não temas!”
(Octavius Winslow)
Cristo se manifesta especialmente em tempos de aflição, porque então a alma se une de modo mais íntimo a Ele pela fé. A alma, em tempos de prosperidade, dispersa seus afetos, folgando na criatura; mas há um poder unificador na aflição santa, pelo qual o crente (como na chuva uma galinha apanha material para seu ninho) reúne suas melhores afeições em seu Pai e seu Deus.
(Richard Sibbes)
Deus não olha para a oratória de suas orações, ou para quão elegante elas são; nem para a geometria delas, ou para quão longas elas são; nem para sua aritmética, ou para quantas elas são; nem para a lógica de suas orações, ou para quão metódicas elas são. Para a sinceridade delas: é para isso que Ele olha.
(Thomas Brooks)
Prazer em Deus é a saúde de sua alma. Essa é a chave da adoração aceitável. Deus não está satisfeito, nem nós somos renovados, por uma obediência repleta de tarefas, mas isenta de prazer.
(Richard Baxter)
Não há nada que nos faça amar tanto uma pessoa quanto orar por ela.
(Willian Law)
Eu orei pedindo fé, achando que ela me atingiria como um raio. Mas não recebi fé. Um dia eu li: “A fé é pelo ouvir, e o ouvir, pela Palavra de Deus” (Rm 10.17). Eu havia fechado a Bíblia e pedido fé. Agora, estou estudando minha Bíblia, e minha fé está crescendo dia a dia.
(D. L. Moody)
Quanto mais maduro para a glória estiver um crente, à semelhança do milho maduro, tanto mais inclinará a cabeça para o chão. Quanto mais brilhante e clara for sua luz, tanto mais perceberá suas falhas e fraquezas, aninhadas em seu próprio coração. Quando ele, a princípio, converteu-se, diria que percebia bem pouco dessas falhas e fraquezas, em confronto com o que percebe agora. Quer alguém saber se está crescendo na graça? Verifique, em seu próprio interior, se sua humildade está aumentando.
(J. C. Ryle)
Hino a ser cantado no início de um novo ano… e a cada dia!
I Surrender All
Letra de Judson W. Van de Venter (1855-1939), música de Winfield Scott Weeden (1847-1908). Inspirada em Lucas 14.33.
Letra original
All to Jesus I surrender,
All to him I freely give;
I will ever love and trust him,
In his presence daily live.
Refrain
I surrender all,
I surrender all,
All to thee, my blessed Savior,
I surrender all.
All to Jesus I surrender,
Humbly at his feet I bow,
Worldly pleasures all forsaken,
Take me, Jesus, take me now.
All to Jesus I surrender;
Make me, Savior, wholly thine;
Let me feel the Holy Spirit,
Truly know that thou art mine.
All to Jesus I surrender,
Lord, I give myself to thee,
Fill me with thy love and power,
Let thy blessing fall on me.
All to Jesus I surrender;
Now I feel the sacred flame.
Oh, the joy of full salvation!
Glory, glory, to his name!
Tradução
Tudo a Jesus eu rendo,
Tudo a Ele livremente dou.
Eu irei amá-Lo e confiar nele,
Em Sua presença diariamente viver.
Coro
Eu rendo tudo,
Eu rendo tudo,
Tudo a Ti, meu bendito Salvador,
Eu rendo tudo.
Tudo a Jesus eu rendo,
Humildemente, a Teus pés, eu me curvo.
Prazeres mundanos, todos renunciados.
Toma-me, Jesus, toma-me agora.
Tudo a Jesus eu rendo,
Faz-me, Salvador, totalmente Teu.
Deixa-me sentir o Espírito Santo
Realmente saber que Tu és meu.
Tudo a Jesus eu rendo,
Senhor, eu me dou a Ti.
Enche-me com Teu amor e poder,
Deixa Tua bênção vir sobre mim.
Tudo a Jesus eu rendo,
Agora eu sinto a chama sagrada.
Oh, a alegria da plena salvação!
Glória, glória, a Seu nome!
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
tudo, sim, por Ti darei.
Resoluto, mas submisso,
sempre sempre seguirei.
Coro
Tudo entregarei, tudo entregarei;
Sim, por Ti, Jesus bendito, tudo entregarei.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
corpo e alma eis aqui.
Este mundo mau renego,
ó Jesus, me aceita a mim!
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
quero ser somente Teu.
Tão submisso à Tua vontade,
como os anjos lá no céu.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego.
Oh! Eu sinto Teu amor
transformar a minha vida
e meu coração, Senhor.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego –
oh, que gozo, meu Senhor!
Paz perfeita, paz completa,
glória, glória ao Salvador!
História
Judson W. Van DeVenter foi criado em um lar cristão. Aos 17 anos, creu no Senhor Jesus. Na universidade, graduou-se em arte e trabalhou como professor e administrador de arte do ensino médio. Viajou muito, visitando várias galerias de arte em toda a Europa.
Van DeVenter também estudou e ensinou música. Ele dominava 13 instrumentos diferentes, cantava e compunha. Ele estava muito envolvido no ministério de música da igreja metodista episcopal de que participava. Então, ficou dividido entre a carreira docente bem-sucedida e seu desejo de fazer parte de uma equipe evangelística. Essa luta interior durou quase cinco anos.
Em 1896, Van DeVenter estava conduzindo a música de um evento da igreja. Foi durante essas reuniões que ele finalmente rendeu seus desejos completamente a Deus: ele tomou a decisão de se tornar evangelista de tempo integral. Ele mesmo narra:
A canção foi escrita enquanto eu estava conduzindo uma reunião em East Palestine, Ohio (EUA), na casa de George Sebring (notável evangelista, fundador da Conferência Bíblica Campmeeting Sebring, em Sebring, Ohio, e mais tarde desenvolvedor da cidade de Sebring, Florida). Por algum tempo, eu tinha lutado entre desenvolver meus talentos no campo da arte e ir para o trabalho evangelístico em tempo integral. Por fim, a hora crucial de minha vida veio, e eu entreguei tudo. Um novo dia se iniciou em minha vida. Eu me tornei evangelista e descobri, no fundo de minha alma, um talento até então desconhecido para mim. Deus havia escondido uma canção em meu coração e, tocando um doce acorde, Ele me fez cantar.
Ao se submeter completamente à vontade de seu Senhor, uma canção nasceu em seu coração.
Winfield Scott Weeden publicou vários livros de música religiosa, mas esta canção parece ter sido sua favorita: o título dela está gravado em sua lápide.
Deus nos vê como somos, nos ama como somos e nos aceita como somos. Mas, por Sua graça, Ele não nos deixa como somos.
(Tim Keller)
A Lei de Deus não nos restringe, mas nos direciona. Obediência é sempre um convite à alegria.
(R. C. Sproul Jr)
Em nossas instabilidades de sentimentos, é bom lembrar que Jesus não tem mudanças em Suas afeições; nosso coração não é a bússola pela qual Jesus navega.
(Samuel Rutherford)
Nunca estamos mais perto de Cristo do que quando nos encontramos perdidos, maravilhados com Seu amor indizível.
(John Owen)
Se eu pudesse ouvir Cristo intercedendo por mim no quarto ao lado, não temeria um milhão de inimigos. No entanto, a distância não faz diferença: Ele está intercedendo por mim!
(Robert Murray M’Cheyne)
Quando atiramos uma flecha, ficamos olhando onde ela cairá; quando enviamos um navio ao mar, esperamos seu retorno; e quando lançamos uma semente, esperamos a colheita. Assim também, quando semeamos nossas orações no coração de Deus, não devemos esperar uma resposta?
(Richard Sibbes)
Cristo não irá guardar-nos se nos colocarmos descuidada e temerariamente no caminho da tentação.
(F. B. Meyer)
Satanás nunca coloca diante dos homens um prato que eles não apreciem.
Agora já não estou mais ansioso sobre coisa alguma, pois Ele [o Senhor], estou certo, é em tudo capaz de realizar a Sua vontade, e Sua vontade é a minha. Não importa onde Ele me coloque, nem como. Isso é mais para Ele do que para eu considerar; pois no lugar mais fácil Ele tem de me dar Sua graça, e, no lugar mais difícil, Sua graça me basta. Para meu servo, por exemplo, não fará diferença se eu o mandar sair para comprar algumas coisas de pequeno valor ou os artigos mais caros. Em qualquer caso, ele me procurará para eu lhe dar o dinheiro e para me trazer as compras. Assim, se Deus me colocar em sérias perplexidades, não precisará dar-me muita direção? Se, em posições de grande dificuldade, abundante graça? Em circunstâncias de fortes pressões e provas, grande força? Não há o perigo de que Seus recursos sejam insuficientes para qualquer emergência! E Seus recursos são os meus, pois Ele é meu, está comigo e habita em mim.
Um pequeno feixe da vontade de Deus está sempre atado a cada hora.
(F. W. Faber)
Aquele que crê no Senhor não se preocupa com o amanhã, mas labuta alegremente com o coração sereno.
(Martinho Lutero)
Antes que nosso conhecimento possa ser de muito proveito para outros, deve tornar-se um canal de comunhão secreta entre nossa própria alma e Deus.
(Robert C. Chapman)
A fé são os pés que nos levam a Jesus. Pés aleijados ainda são pés. Aquele que vem vagarosamente, de alguma forma vem.
(George Müller)
Aqueles que apreciam a graça com mais profundidade não continuam no pecado. Além disso, o medo produz a obediência dos escravos; o amor gera a obediência dos filhos.
(J. W. Sanderson Jr.)
Devemos nos aproximar da Palavra de Deus não apenas com fé e com amor, mas com o desejo de obedecer.
(Ruth Paxon)
O evangelho tem de ser antagonista a tudo o que é contrário a Deus.
Mais graça Deus dá quando as cargas aumentam,
Mais força concede ao crescer o labor,
Em grandes angústias envia consolo,
Em todas as provas dá paz e valor.
Amor sem limites, poder sem barreiras,
Que graça infinita, inefável tem Deus!
E desses tesouros, guardados em Cristo,
Em grande medida dará sempre aos Seus.
E, quando os recursos em nós se esgotarem
E em meio ao caminho a força faltar,
Veremos a fonte da graça divina
Em nós Seu poder começar a jorrar.
(Hino 300 no Cancioneiro Salvacionista – traduzido do CS da Argentina)
Letra em inglês:
He giveth more grace as our burdens grow greater,
He sendeth more strength as our labors increase;
To added afflictions He addeth His mercy,
To multiplied trials He multiplies peace.
His love has no limits, His grace has no measure,
His power no boundary known unto men;
For out of His infinite riches in Jesus
He giveth, and giveth, and giveth again.
When we have exhausted our store of endurance,
When our strength has failed ere the day is half done,
When we reach the end of our hoarded resources
Our Father’s full giving is only begun.
Annie Johnson Flint(1866-1932) escreveu alguns dos mais inspiradores hinos a ver com fé e triunfo em meio a provas e sofrimento, baseados na sua própria experiência.
Nascida em Vineland, New Jersey, Annie perdeu ambos os pais quando tinha somente seis anos de idade. Um casal sem filhos de nome Flint adotou-a.
Quando adolescente Annie contraiu artrite, que a impossibilitou de caminhar. Ela aspirava ser compositora e pianista, mas por causa da doença ficou impossibilitada de realizar o seu sonho, assim começou a escrever poesias, muitas das quais transformadas em canções.
Mais tarde na vida, impossibilitada de abrir suas mãos, escreveu muitos de seus poemas usando seus dedos dobrados em uma máquina de escrever.
Nessas circunstâncias, que poderiam tornar pessoas incapazes também emocionalmente, pelo sofrimento, Annie escreveu hinos que têm trazido forças espirituais a um número sem conta de pessoas enfrentando problemas.
Há graça e força vindas de Deus que não nos são dadas na rotina da vida. Mas Deus nô-las dá em nossas horas aflitivas quando colocamos nEle nossa fé. Quando problemas e provas surgem no nosso caminho, que possamos experimentar Sua graça adicionada, Sua força aumentada e Sua paz multiplicada.
Deleitar-se [em Deus] é a única alegria capaz de satisfazer a alma. Ir para o céu e desfrutar o Senhor de modo pleno é infinitamente melhor do que as coisas mais agradáveis aqui da terra. Pais e mães, maridos, esposas ou filhos, ou, ainda, a companhia de amigos terrenos não passam de sombras mas Deus é a substância. Essas coisas são apenas raios dispersos; Deus é o Sol. Elas são apenas córregos; Deus é o oceano.
(Jonathan Edwards)
Qualquer que seja o serviço ou a obediência que prestamos a Deus ou ao homem, se disso o amor é excluído, a lei não se cumpre.
(F. B. Meyer)
A medida de nosso amor pelos outros pode ser em grande parte determinada pela freqüência e intensidade de nossas orações em favor deles.
(A. W. Pink)
Existe muito barulho religioso nesta geração, mas ainda assim não há qualquer evidência da mortificação do pecado.
(John Owen)
Eu estimo o valor das coisas apenas pelo preço que devem ganhar na eternidade.
(John Wesley)
Jesus Cristo foi de mais boa vontade para a cruz que nós para o trono da graça.
(Thomas Watson)
Não é suficiente começar a orar, nem orar corretamente. Nem é suficiente continuar a orar por um determinado tempo. Mas precisamos pacientemente em fé continuar em oração até que obtenhamos uma resposta.
É com nossos pecados que nos achegamos a Deus, pois não podemos nos apresentar a Ele com qualquer outra coisa que seja realmente nossa. Essa é uma das lições que aprendemos com lentidão. Mas, sem termos aprendido a mesma, não poderemos dar um só passo correto naquilo que chamamos de vida religiosa.
Rebuscar coisa boa em nossa vida passada, ou apelar para algo de bom no presente, se descobrirmos que o nosso passado nada contém de positivo, é nosso primeiro pensamento quando começamos a procurar resolver a grande questão pendente entre Deus e nós – o perdão de nossos pecados. No favor de Deus há vida (Sl 30.5), e estar sem o favor divino é sentir-se infeliz neste mundo, é não desfrutar de alegria no mundo por vir. Não há vida digna de ser chamada de vida, exceto aquela que flui de Sua amizade infalível. Sem essa amizade, nossa vida aqui é um fardo e uma canseira. Nessa amizade, porém, não há qualquer mal, e toda a tristeza torna-se uma alegria.
“Como poderei ser feliz?” foi a pergunta de uma alma cansada que já experimentara cem maneiras diversas de obter a felicidade, mas sempre falhara.
“Obtenha o favor de Deus”, foi a resposta imediata de alguém que já havia provado pessoalmente que “o Senhor é bondoso” (1Pe 2.3).
“Não haverá outra maneira de alguém ser feliz?”
“Nenhuma!” foi a pronta e decidida resposta- ” O homem vem buscando algum outro caminho para a felicidade por seis mil anos, e tem fracassado totalmente. E você obteria sucesso?”
“Não, não teria possibilidade alguma; e não quero continuar tentando indefinidamente, Mas, esse favor de Deus me parece algo muito duvidoso; e o próprio Deus parece estar tão distante que não sei para onde voltar-me.”
“O favor de Deus não está cercado de dúvidas. Ele e real acima de todas as demais realidades; e Deus é o mais próximo de todos os seres, sendo tão acessível quanto é gracioso e bom.”
“Esse favor divino, do qual você fala, para mim sempre pareceu misterioso, e não posso entendê-lo.”
“Diga antes que é como a luz do sol que está sendo ocultada de você pelas suas dúvidas.”
“Sim, sim, acredito em você. Mas, como poderei deixar para trás as dúvidas e chegar à luz da certeza? Parece ser algo tão difícil, exigindo muito tempo para chegar a concretizar-se.
“Você é quem torna distante e difícil aquilo que Deus fez simples, próximo e fácil.”
“Você está querendo dizer-me que não há quaisquer dificuldades?”
“Em certo sentido, há mil dificuldades; mas, em um outro sentido, não há nenhuma.”
“Como pode ser isso?”
“O Filho de Deus porventura dificultou o caminho do pecador quando disse à multidão: ‘Vinde a mim, e eu vos aliviarei’?”
“Certamente que não. Ele queria que todos fossem imediatamente a Ele, e naquele momento em que estavam juntos Ele lhes daria descanso.”
“Portanto, se você estivesse pessoalmente naquele lugar, quais dificuldades teria encontrado?”
“Nenhuma, por certo. Falar em dificuldades, quando eu estivesse ao lado do próprio Filho de Deus, seria uma insensatez, ou pior ainda.”
“O Filho de Deus sugeriu alguma dificuldade para o pecador, ao conversar com a mulher samaritana, sentado à beira do poço de Jacó? Todas as dificuldades não foram antecipadas ou eliminadas por estas admiráveis palavras de Cristo: “…tu lhe pedirias, e ele te daria água viva?”
“Sim, sem dúvida. Tudo se resumia em pedir e receber. A transação inteira terminou ali mesmo. O tempo e o espaço, a distância e as dificuldades nada têm a ver com essa questão; a dádiva seguiu-se à petição, corno se fossem causa e efeito. Até esta altura, tudo é muito claro. Porém, desejo indagar: Não existe alguma barreira?”
“Nenhuma, se é que o Filho de Deus realmente veio salvar os perdidos. Mas, se Ele veio para aqueles que estavam apenas parcialmente perdidos, ou que pudessem salvar-se em parte, então a barreira seria infinita. Isso eu admito; de fato, insisto sobre esse ponto.
“Portanto, estar perdido não serve de barreira para quem quer ser salvo?”
“Eis uma pergunta tola que merece uma resposta tola. Quando sentimos sede, isso porventura serve de empecilho para obtermos água? ou o fato de que alguém é pobre serve de empecilho para receber riquezas dadas por algum amigo?”
“Não. A verdade é que a sede me prepara para a água, e a minha pobreza me prepara para as riquezas.”
“Ah, sim, o Filho do homem veio não para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. Se você não é um pecador completo, então há uma barreira. Mas, caso você seja um pecador completo, então não há nenhuma barreira.
“Um pecador na íntegra! Será que esse é o meu verdadeiro caráter?”
“Não há dúvida quanto a isso. Se você ainda duvida, examine a sua Bíblia. O testemunho de Deus é que você é um pecador completo, e que terá de tratar com Ele como tal, pois os sãos não precisam de médico. e, sim, os doentes.”
“Um pecador na íntegra! Bem, mas não deveria eu livrar-me de alguns dos meus pecados, para poder receber alguma bênção da parte de Deus?”
“Não, realmente. Pois somente Ele pode livrar alguém até mesmo de um pecado. Assim sendo, você terá de ir a Ele com toda a sua ruindade, sem importar quão grande ela seja. Se você não é um pecador na íntegra, então, na verdade você nem precisa de Cristo, pois Ele é o Salvador no mais total sentido da palavra. Ele não ajuda você a salvar-se; e nem você pode ajudá-lo a salvar a você mesmo. Ou Ele faz tudo, ou nada faz. Uma meia salvação só serve para aqueles que não estão totalmente perdidos. Ele mesmo carregou ‘em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados’ (1Pe 2.24).
O que acabamos de descrever foi a maneira como Lutero encontrou a paz e a liberdade de Cristo. A história de seu livramento é muito instrutiva, porque mostra como as pedras de tropeço da justiça-própria devem ser removidas, mediante a plena exibição do evangelho gratuitamente oferecido, e faia das boas-novas do amor de Deus para com aqueles que não são amados e nem São amoráveis; das boas-novas de perdão para o pecador, sem o concurso de dinheiro ou dos méritos humanos – as boas-novas da PAZ COM DEUS, oferecidas é exclusivamente através da propiciação daquele que estabeleceu a paz por meio do sangue de Sua cruz.
Uma das primeiras dificuldades encontradas por Lutero foi que ele pensava que teria de despertar o arrependimento dentro de si mesmo; e então que, tendo conseguido isso, teria de apresentar esse arrependimento como uma oferta pacífica ou como uma recomendação a Deus. E se esse arrependimento não pudesse ser apresentado como uma recomendação positiva, pelo menos poderia servir de apelo para que o seu castigo fosse mitigado.
Perguntava Lutero: “Como poderei ousar crer no favor de Deus, enquanto não houver em mim uma real conversão? Preciso mudar, antes que Ele possa receber-me.”
Foi esclarecido a Lutero que a “conversão” ou o “arrependimento” que ele tanto desejava jamais poderia ocorrer enquanto considerasse Deus um severo Juiz, destituído de amor. O que nos conduz ao arrependimento é a “bondade de Deus” (Rm 2.4). Se o pecador não reconhecer essa bondade, seu coração não poderá ser quebrantado. Um pecador impenitente despreza as riquezas da bondade, da longanimidade e da tolerância de Deus.
O idoso conselheiro de Lutero disse-lhe claramente que ele deveria descontinuar as penitencias e as mortificações, bem como todas as preparações da justiça-própria para tentar obter ou adquirir o favor divino
Conforme Lutero nos revela de forma tocante, essa voz pareceu descer do próprio céu: “Todo autêntico arrependimento começa com o conhecimento do amor perdoador de Deus”.
Enquanto Lutero ouvia, raiou-lhe a luz do entendimento, e uma alegria até então desconhecida tomou conta dele. Nada havia entre ele e Deus! Nada havia entre ele e o perdão! Nada de bondade preliminar ou de sentimentos preparatórios! Lutero aprendeu a lição dada pelo apóstolo. “Cristo… morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6). Deus “justifica ao ímpio” (Rm 4.5). Todo e qualquer mal existente no ímpio é incapaz de impedir essa justificação; e toda a bondade do pecador (se nele houver tal coisa) não pode ajudá-lo a obtê-la. Ele terá de ser recebido como um pecador, ou nem poderá ser recebido. O perdão oferecido reconhece somente a sua culpa; e a salvação provida na cruz de Cristo considera-o apenas um perdido.
Entretanto, o senso de culpa é por demais profundo para ser facilmente abafado. O temor voltou ao coração de Lutero, e ele foi aconselhar-se uma vez mais, exclamando: “Oh, o meu pecado, o meu pecado!” como se a mensagem de perdão, que ele recebera ainda tão recentemente, fosse boa demais para ser veraz, e como se pecados como os seus não pudessem ser fácil e simplesmente perdoados.
“você quer ser apenas um pecador aparente, e, portanto, necessitado apenas de um Salvador aparente?”
Assim indagou o venerável amigo de Lutero, adicionando então solenemente: “Reconheça que Jesus Cristo é o Salvador de grandes e autênticos pecadores, os quais nada merecem senão a mais total condenação?’
“Mas Deus não é soberano em Seu amor selecionador?” indagou Lutero. E completou: “Talvez eu não seja um dos escolhidos de Deus?’
“Olhe para as cicatrizes de Cristo”, foi a resposta, “e contemple ali a mente bondosa de Deus para com os filhos dos homens. Em Cristo enxergamos Deus, ficamos sabendo Quem Ele é, e como Ele nos ama. Pois o Filho é quem revela o Pai; e o Pai enviou o Filho para que fosse o Salvador do mundo”.
Certo dia, quando estava doente e acamado, disse Lutero a um amigo: “Creio no perdão dos pecados”. E ajuntou: “Porém, o que isso tem a ver comigo?”
“Ah, e isso não inclui os seus próprios pecados?” indagou aquele amigo, acrescentando: “Você crê que os pecados de Davi foram perdoados? e que os pecados de Pedro foram perdoados? Por que você não pode crer que os seus próprios pecados podem ser perdoados? O perdão tanto é para você como foi para Davi ou Pedro”
Foi dessa maneira que Lutero encontrou tranqüilidade. O Evangelho, uma vez crido dessa forma, trouxe a Lutero liberdade e paz. Ele compreendeu que havia sido perdoado, porque Deus dissera que o perdão seria a possessão imediata e garantida de todos quantos dessem credito ás boas-novas da salvação.
No solucionamento da grande questão entre Deus e o pecador, não poderia haver nem barganha e nem preço de qualquer espécie. A base do acordo foi lançada faz quase vinte séculos; e a poderosa transação realizada na cruz do Calvário foi tudo quanto se fez necessário para que o preço fosse pago. “Está consumado” é a mensagem de Deus aos filhos dos homens que perguntam: “Que devo fazer para ser salvo?” Essa transação concluída sobrepuja todos os esforços dos homens para se justificarem, ou para ajudarem a Deus a justificá-los. Vemos Cristo crucificado, bem como vemos Deus em Cristo reconciliando o mundo conSigo mesmo, não imputando aos homens as suas transgressões; e esse fato resulta daquilo que foi realizado na cruz, onde a transferência da culpa do pecador para o divino Filho de Deus foi efetuada de uma vez por todas. Ora, o Evangelho é justamente o anúncio das “boas-novas” dessa grande transação. Quem quer que dê crédito a esse anúncio, toma-se participante de todos os benefícios garantidos por essa transação.
“Mas, não deveria eu sentir-me endividado diante da realização do Espírito Santo em minha alma?”
“Sem dúvida; pois qual esperança poderia haver para você sem a operação do todo-poderoso Espírito, que vivifica os mortos?”
“Nesse caso, não deveria eu esperar pelos impulsos do Espírito? E uma vez recebidos esses impulsos, não deveria eu apresentar os sentimentos despertados por Ele como razões de minha justificação?”
“Não de modo nenhum. Ninguém é justificado pelas realizações do Espírito, mas somente pela realização de Cristo. E as operações do Espírito também não servem de base para a fé, e nem de motivos para alguém esperar o perdão da parte do Juiz de todos. O Espírito Santo opera em nós, não a fim de preparar-nos para sermos justificados, e nem para tomar-nos aptos para recebermos o favor divino, e, sim, para conduzir à cruz, tal e qual nós somos. Pois a cruz é o único lugar onde Deus trata misericordiosamente com os transgressores.”
É na cruz que encontramos paz com Deus e recebemos o Seu favor. Ali achamos não somente o sangue que nos lava, mas também a retidão que nos reveste e embeleza, de tal maneira que dali por diante somos tratados por Deus como se nunca tivesse havido a nossa injustiça, e como se a retidão de Seu Filho fosse nossa.
A isso Paulo chama de retidão “imputada” (ver Rm 4.6,8,11,22,24), a saber, Deus lança a retidão de Cristo em nossa conta, como se tivéssemos direito às bênçãos que tal retidão pudesse obter para nós. Retidão obtida por nós mesmos ou lançada em nossa conta por outro ser humano chamamos retidão infundida, concedida ou inerente, mas retidão alheia, a nós creditada por Deus, como se nossa, chamamos retidão imputada. Paulo alude a isso, quando diz: “…revesti-vos do Senhor Jesus Cristo…” (Rm 13.14 e Gl 3.27). Assim, Cristo nos representa; e Deus trata conosco como quem é representado por Cristo. E então, necessariamente haverá a retidão interna como conseqüência natural. Mas, não devemos esperar obtê-la, antes de irmos a Deus buscar a retidão de Seu Filho.
A retidão imputada deve vir primeiro. Ninguém tem a retidão no íntimo, enquanto não tiver recebido a retidão que vem de fora. Assim, fazer alguém de sua própria retidão o preço oferecido a Deus em troca da retidão que há em Cristo, é desonrar a Deus e negar o valor de Sua cruz. A obra do Espírito não consiste em tomar-nos santos, a fim de podermos ser perdoados, mas em mostrar-nos a cruz, onde os transgressores acham perdão. Tendo achado o perdão ao pé da cruz, iniciamos aquela nova vida de santidade à qual fomos chamados.
O que Deus oferece ao pecador é o perdão imediato: “…não por obras de justiça praticadas por nós..!’ (Tt 3.5), e, sim, pela grande obra de retidão realizada em nosso lugar por nosso Substituto. Nossa qualificação para a obtenção dessa retidão é o fato que somos injustos, tal como a qualificação para que um enfermo receba cuidados médicos é que ele esteja doente.
Sobre alguma bondade anterior, como base para o recebimento do perdão, o Evangelho faz total silêncio. Os apóstolos jamais aludiram a sentimentos religiosos preliminares, como algo necessário para que recebamos a graça de Deus. Temores, perturbações, auto-indagações, amargos clamores implorando misericórdia, pressentimentos de juízo e resoluções de mudança de vida, dentro da seqüência do tempo, podem anteceder o recebimento das boas-novas de salvação por parte do pecador, mas nenhuma dessas coisas constitui a sua preparação, e nem o qualifica. Ele é bem recebido, mesmo sem qualquer dessas coisas. Elas não lhe garantem o perdão, tornando este mais gracioso ou mais gratuito. As necessidades do pecador arrependido foram os seus argumentos: “Deus, sé propício para comigo, um pecador!” Sim, ele precisava de salvação, e dirigiu-se a Deus a fim de recebê-la, e também porque Deus deleita-se em socorrer aos pobres e necessitados. Ele precisava de perdão, foi a Deus e obteve o perdão sem qualquer mérito pessoal e sem ter de pagar coisa alguma. Quando ele NADA TINHA PARA PAGAR sua dívida, Deus o perdoou gratuitamente. Foi o fato que ele nada tinha para pagar que provocou o mais franco perdão.
Ah! Isso é graça. “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou” (1Jo 4.10)! Ele nos amou, mesmo quando estávamos mortos em nossos delitos. Ele nos amou, não porque fôssemos bondosos, mas por ser Ele “rico em misericórdia”; não porque fôssemos dignos de Seu favor, mas porque Ele se deleita em mostrar-se longânimo para conosco. Ele nos acolheu movido pela Sua própria graça, e não porque fôssemos dignos de ser amados. “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Sim, Cristo convida os cansados! Esse cansaço espiritual é que capacita o pecador a vir a Cristo, o que também permite que Cristo socorra o pecador. Onde houver esse cansaço, haverá também o descanso! Esses dois aspectos são encontrados lado a lado. Talvez você diga: “Este lugar de descanso não é para mim”. O quê? você quer dizer que esse descanso não se destina a você?” Ora, esse descanso não se destina aos cansados? Talvez você insista: “Mas, eu não posso fazer uso dele”. O quê? Você não pode fazer uso do descanso? Você quer dizer algo como: “Estou tão cansado que nem posso sentar-me?” Se você tivesse dito: Estou tão cansado que nem posso ficar de pé, nem andar e nem subir em lugares elevados, todos lhe entenderiam. Mas, dizer alguém: “Estou tão cansado que nem posso sentar-me” exprime uma grande tolice, ou algo pior, pois estaria fazendo do ato de sentar-se uma ação meritória, dando a entender que sentar-se é fazer algo importante, que requer um longo e prodigioso esforço.
Ouçamos, pois, as graciosas palavras do Senhor: “Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede. Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4.10). “Tu lhe pedirias, e ele te daria água viva!” Isso é tudo. Quão real, quão verdadeiro, quão gratuito; e ainda, quão simples! Ou então, escutemos a voz do servo, na pessoa de Lutero: “Oh, meu querido irmão, aprenda a conhecer a Cristo crucificado. Aprenda a entoar um novo cântico; a desistir de obras anteriores, e a clamar a Ele: Senhor Jesus, Tu és a minha retidão, e eu sou o Teu pecado. Tomaste sobre Ti o que é meu, e me deste o que é Teu. O que eu era, nisso Te tornaste, a fim de que eu me tornasse naquilo que eu não era. Cristo habita somente com os pecadores confessos. Medita com freqüência no amor de Cristo e provarás quão doce Ele é”. Sim, perdão, paz, vida – todas essas coisas são dádivas. Os dons divinos, trazidos do céu pelo Filho de Deus são oferecidos pessoalmente a cada pecador necessitado pelo Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Esses dons não se destinam a ser comprados, mas recebidos; da mesma forma que os homens recebem a luz do sol, completa, garantida e gratuitamente. Esses dons não se destinam a ser merecidos por meio de esforços ou sofrimentos pessoais, por meio de orações ou lágrimas; antes, devem ser aceitos imediatamente, como aquilo que foi adquirido pelos labores e pelos sofrimentos do nosso grande Substituto. Não devemos ficar esperando por esses dons, mas eles devem ser aceitos prontamente, sem qualquer hesitação ou falta de confiança, da mesma forma que os homens aceitam os presentes de amor de algum amigo generoso. E também não devem ser reivindicados com base na aptidão ou na bondade, mas antes, por causa da necessidade e indignidade da pobreza e do vazio espirituais.
Obs: O autor prossegue o livro desenvolvendo os seguintes temas: “Qual é Minha Esperança?”, “Em Meu Lugar”, “Muito Tempo”, “Não posso Largar!”, “Para Onde? Para Onde?”, “A Aparência deste Mundo Passa”, “E se Isso for Verdade?” e “A Era Vindoura”.
Horatius Bonar (1808-1889), pastor reformado e escritor de vários hinos. Foi um pastor escocês que se destacou como um perito pregador do Evangelho de Cristo, e também como autor de diversos poemas e hinos, como “Honra, Poder, Majestade”, “Cantai! Exultai!”, “Rio da Vida”, “A Voz de Jesus”, dentre tantos outros que enfileiram-se com os de Isaac Watts e Newton, além de escritor de livros como “Como Irei a Deus?” Editora Fiel.