A opinião de dez líderes da história da Igreja:
1. João Crisóstomo (344–407)
A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar.
(Fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.)
2. Agostinho (354-430)
Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas, que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra. Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou.
(Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98)
3. Teodoreto de Ciro (393-466)
Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram. O coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja . . . Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias.
(Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7. Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).
4. Martinho Lutero (1483-1546)
Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível. Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes. (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, “as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem”. Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou.
(Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949], pp 150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.)
5. João Calvino (1509-1564)
Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou a permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade.
(Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.)
O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre.
(Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.)
6. John Owen (1616-1683)
Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado.
(Fonte: John Owen, Obras, IV:518.)
7. Thomas Watson (1620-1686)
Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram.
(Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.)
8. Mattew Henry (1662-1714)
O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho.
(Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12)
O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela.
(Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.)
9. John Gill (1697-1771)
Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, e a versão Latina da Vulgata, dizem, “por um só Espírito”.
(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9)
Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam. Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião.
(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.)
10. Jonathan Edwards (1703-1758)
Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres. Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascenção ao céu. E, em conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.
Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras. Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles. E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;. Havendo ciência, desaparecerá”. E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem.
(Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado “O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino”, em 1 Coríntios 13:8)
Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluido e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram.
(Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.)
(Palestra proferida por J. R. Gill em uma conferência em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1926).
Tenho o desejo, amados amigos cristãos, de tratar de um certo assunto que já conquistou a atenção de alguns de nós em uma ou duas reuniões recentemente, e gostaria de pedir a compreensão de alguém aqui que porventura já nos tenha ouvido tratar do mesmo assunto. Há aqui outras pessoas para quem o assunto é novo e creio ter a mente do Senhor ao voltar a tratar disso.
O assunto que tenho em mente é este: Por que nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, nos reunimos desta maneira? Por que o fazemos?
Fui criado naquilo que creio ser a verdade, e naquilo a que normalmente se referem como “a verdade”. Posso me lembrar de meus tempos de infância quando meus pais costumavam me levar para um lugar diferente deste. Posso recordar com bastante clareza como costumávamos ir juntos à Igreja Episcopal – a Igreja da Inglaterra, como era chamada – e me lembro do efeito que aquilo produzia em minha mente juvenil; o tapete vermelho sobre o piso, os bancos de carvalho entalhados e os vitrais coloridos das janelas; o canto do coral, as majestosas entonações do órgão e outras coisas semelhantes. Eu aprovava tudo aquilo dentro da medida de compreensão de qualquer menino.
Depois de algum tempo fui levado a uma capela Batista, e aquela capela já era algo que eu não aprovava com a mesma facilidade. Parecia ser um lugar muito inferior comparado com Igreja da Inglaterra. Não tinha nada além das paredes caiadas, não havia vitrais coloridos e, que me lembre, nem mesmo um órgão e muito menos algum pregador eloquente. Não sabia a razão daquilo tudo; só que havia sido levado para ali.
Passou-se um intervalo de tempo depois daquilo, e acabei sendo encaminhado a um terceiro lugar. Tratava-se de uma sala no segundo andar de uma rua comercial na cidade de West Hartlepool, Inglaterra. Ali descobri umas vinte pessoas sentadas em bancos, com uma mesa no centro da sala. Para minha mente juvenil, aquilo parecia ser um estranho quebra-cabeça. Tudo era tão simples, tão primitivo. Não havia nenhum atrativo; e nem eu conseguia entender a razão de meus pais terem me levado ali.
De Acordo Com a Bíblia
Passaram-se alguns anos e, no devido tempo, acabei tomando meu lugar entre aquelas pessoas, crendo ser aquele o lugar certo para se estar. Mas mesmo então, se alguém tivesse me perguntado por que eu estava ali, eu teria tido uma grande dificuldade em dar uma resposta inteligente. Oh, se me interrogassem sobre o assunto, é bem capaz que eu dissesse que frequentava aquele lugar porque cria estar de acordo com a Bíblia. Mas isso não iria significar muito, não é mesmo? Quase todo mundo teria dado a mesma resposta. Um Presbiteriano, um Episcopal ou Metodista teria falado o mesmo; um Batista teria dito isto, e até mesmo um Adventista e os membros da, assim chamada, Ciência Cristã.
Precisamos ter algo mais definido do que uma resposta como esta, como a razão para ocuparmos o lugar que ocupamos. Nós que estamos reunidos ao nome do Senhor Jesus nem sempre somos capazes de dar uma explicação inteligente e bíblica do assunto. Eu descobri que assim sucede. Será que é suficiente dizer: “Nós nos reunimos de uma maneira simples, como faziam os cristãos em Pentecostes”? Será que isto já explicaria tudo? Talvez, se não se dispusesse de muito tempo para explicar; mas para o bem de nossas almas, é bom que saibamos qual é o fundamento doutrinário sobre o qual nos apoiamos.
Quais são os princípios das Escrituras – as doutrinas envolvidas – as verdades de Deus ligadas à posição que ocupamos?
Não creio que tenha que pedir desculpas por tratar deste assunto, já que vivemos numa época em que tudo se encontra sob ataque. Não existe uma única coisa que não esteja sendo atacada – cada fundamento da fé – e é bom que nós que amamos o Senhor, e que procuramos conhecer qual é a vontade do Senhor, estejamos fortalecidos e edificados em nossa “santíssima fé” (Jd 20). Creio que, à medida que o Senhor me capacitar, gostaria de tratar deste assunto em três partes nesta tarde, conforme se seguem:
Em primeiro lugar, gostaria de sugerir que nós nos reunimos assim por causa da dignidade do nome do Senhor Jesus.
Segundo: Nós nos reunimos assim porque desejamos dar ao Espírito Santo o lugar que Lhe pertence.
Terceiro: Nós nos reunimos assim porque queremos obedecer a ordem das Escrituras que dizem, “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13.13).
Quarto: Porque entendemos ser bíblico estar no terreno do um só corpo.
São estes os três subtítulos sob os quais desejo fazer algumas observações nesta tarde.
Que Nome Levamos?
Quanto ao primeiro – o nome para o qual nos reunimos: Que nome levamos? Se as pessoas perguntassem a você a que “igreja” você está ligado, o que responderia? Creio que alguns aqui já se sentiram embaraçados para responder a esta pergunta. Não há dúvida de que existem várias maneiras como esta pergunta poderia ser feita, mas porventura não é bom sermos bem claros sobre isto, ou seja, que reconhecemos somente o nome do Senhor Jesus Cristo? Nenhum outro nome. Alguns dirão: “Vocês são chamados ‘Irmãos de Plymouth’, não são?” O que você diria diante disto? Creio que alguém poderia dizer: “Sim; sim, somos chamados assim, mas não nos chamamos assim”. Não podemos evitar que nos chamem desta maneira. O nome pelo qual nos chamamos é de santos de Deus, reconhecendo a dignidade do nome do Senhor Jesus Cristo, e reunidos a este nome.
Poderíamos ler algumas passagens das Escrituras que tratam deste ponto, começando, talvez, com Filipenses 2, versículos 8 ao 11:
“E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”
Vamos ver também o primeiro capítulo de Colossenses, versículos 15 a 18:
“O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.”
Podemos também voltar para o primeiro capítulo de Efésios enquanto tratamos desta linha de pensamento, nos versículos 20 e 21:
“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro.”
O Nome do Senhor Jesus
Este nome, portanto, conforme descobrimos, é único nos pensamentos de Deus. Não existe, na estima de Deus, nenhum outro nome como este. Ele permanece único, tanto agora como para sempre. Se abrirmos no livro de Apocalipse, iremos descobrir que não existe nenhum nome no céu maior do que este nome. As hostes angelicais são vistas ali se prostrando e adorando diante dAquele mesmo Ser bendito cujo nome é tão exaltado. O nome do Senhor Jesus, devo admitir, é digno de ser aceito como o centro de reunião. Trata-se de algo bendito estar em harmonia com o pensamento do céu a este respeito.
Os primeiros cristãos estavam reunidos nesse nome. Foi assim que passaram a ser chamados de “cristãos”. Os crentes foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia. O que significa o termo “cristão”? Significa um seguidor de Cristo. Porventura eles tinham outros nomes? Não, pois não existiam Batistas ou Presbiterianos ou Congregacionais naquele tempo. Eles eram chamados “os de Cristo” ou “seguidores de Cristo”. Este era o único nome que estava associado a eles. E eles não adotaram nenhum outro nome e, queridos santos, trata-se de algo bendito não termos nenhum outro nome hoje.
Todavia, nossas convicções a este respeito são tanto positivas como negativas. Vamos abrir, por exemplo, em 1 Coríntios, onde vemos o outro lado da questão. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1.11-13). Nenhum nome deve ser tomado como base para o sectarismo. Até mesmo o nome de Cristo não é para ser desvirtuado deste modo.
Nenhum Outro Nome
Podemos olhar também o terceiro capítulo desta mesma epístola, versículos 4 ao 7: “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”. Estes versículos confirmam aquilo com que, creio eu, todos aqui estejam de acordo; ou seja, Que não existe autorização, segundo o pensamento de Deus, para se adotar qualquer outro nome além do nome de Cristo, e que não existe qualquer base bíblica para se adotar qualquer outro nome.
Além do mais, se você adota um outro nome, um dia terá que deixá-lo. Suponha que você adote para si qualquer nome que venha ao seu pensamento – por exemplo, um Irmão Plymouth. Você não poderá levar este nome para o céu. Por que? Porque não existe lá nenhum espaço reservado para os Irmãos Plymouth. Suponha que você se denomine um Congregacional. Terá que deixar isto também. Não existe uma vaga reservada para os Congregacionais, e quando chegarmos ao céu e conversarmos com os redimidos, como certamente o faremos, não iremos achar lá um sequer que se faça diferente dos outros por meio de algum nome sectário. Lá só haverá um nome: O nome do Senhor Jesus, o Centro de todos – o Centro do trono – o Cordeiro que um dia foi morto. Aquela Pessoa, e o Seu nome, irá representar tudo o que é glorioso e bendito ali; o Centro que irá atrair todos os olhares, e o Centro das afeições de cada coração será aquele Ser bendito.
Se é esta a vontade de Deus agora com respeito ao Seu Filho, e se é esta a vontade de todo o céu em um dia vindouro no que diz respeito ao Filho de Deus, não deveríamos nós também estar concordes com a estima que é assim depositada nEle, e renegarmos todos os outros nomes? Queridos santos de Deus, são estes os pensamentos que têm estado diante de nós.
Reunidos Ao Seu Nome
Gostaria de abrir também no capítulo 18 de Mateus, versículo 20. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Este versículo diz respeito ao assunto que estamos tratando. Fala do povo do Senhor estar reunido ao (ou para) o Seu nome. Que lugar bendito é este.
Repare, todavia, que existe uma responsabilidade associada a levar o nome do Senhor. Vamos voltar a Deuteronômio onde encontramos este pensamento apresentado de uma forma simples. Leia o capítulo 5, versículo 11 – apenas a primeira parte: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Estar reunido ao nome do Senhor Jesus não é simplesmente uma questão de usar tecnicamente o Seu nome. Acredito que exista o reconhecimento do que este nome envolve. Você não pensa o mesmo? Estar reunido para o Seu nome, envolve o reconhecimento do que este nome implica – o nome do Senhor Jesus Cristo – o reconhecimento do Seu Senhorio. Se alguém segue naquilo que é contrário à Sua Palavra e à Sua vontade, dificilmente se poderia chamar isso de estar reunido ao nome do Senhor Jesus Cristo! Estar reunido para o Seu nome envolve mais do que atuar mecanicamente. Existe nisto algo que atinge nossos corações e nossas consciências também. Deve existir o reconhecimento, na prática, do Senhorio de Cristo, a fim de que a verdade possa ser acompanhada do conteúdo que a torna válida. Nenhuma passagem das Escrituras nos autoriza a adotarmos qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus como o Centro para o Seu povo.
O Espírito de Deus
O segundo ponto de que falamos foi: Nos reunimos assim porque concedemos ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence. Parece um modo estranho de se falar, não é mesmo? Algo de muito sério deve estar faltando para justificar o uso da expressão “conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar”! Quem é o Espírito de Deus? A terceira Pessoa da Divindade. O fato de Ele ser normalmente mencionado como a terceira Pessoa da Divindade, não traz consigo nenhuma idéia de inferioridade. O Espírito de Deus é Deus. Não existe diferença de importância entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O fato de cada uma destas Pessoas divinas ser divina, de cada uma delas ser Deus, traz consigo a impossibilidade de qualquer grau de comparação entre elas. Cada uma é uma Pessoa infinita. O Espírito de Deus está aqui na Terra. Em nossas reuniões de estudo vimos algumas passagens relacionadas ao Espírito de Deus.
Podemos voltar outra vez ao capítulo 14 do Evangelho de João, versículos 16 e 17: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.
Ele Me Glorificará
Agora podemos ler o capítulo 15, versículo 26: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, Aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim”. Também no capítulo 16, versículos 13 e 14: “Mas quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar”. Estes versículos, e muitos outros que poderíamos ler, nos mostram que o Espírito de Deus está aqui na Terra.
O peso que isto tem não é suficientemente compreendido entre nós. Uma Pessoa Divina está aqui na Terra. Deus está aqui na Pessoa do Espírito Santo. Esta é uma verdade maravilhosa! Trata-se de uma verdade fundamental! Deus habita na Terra na forma do Espírito. Como tal Ele está aqui na Terra e para um propósito determinado. Que propósito é este? “Bem”, talvez você diga, “Ele está aqui para convencer pecadores”. Isto é verdade, sem dúvida nenhuma. Mas naquilo que diz respeito ao nosso tema nesta tarde, Ele está aqui para outro propósito. E qual é? Ele está aqui para tomar das coisas que são de Cristo, e mostrá-las para nós. Ele está aqui para glorificar a Cristo. É por esta razão que Ele está aqui. É este o Seu ofício.
Amados amigos cristãos, aqui vemos algo estranho a respeito da Bíblia. No Antigo Testamento podem ser encontradas as mais amplas instruções quanto a todos os cultos do povo terrenal de Deus. Cada ritual foi previsto. Tudo estava ligado aos sacrifícios; até as vestimentas dos sacerdotes; todos os vasos do santuário; tudo minuciosamente previsto de modo a não haver qualquer possibilidade de alguém cometer um erro, a menos que fosse por falta de cuidado.
O Espírito de Deus Está Aqui Para Guiar
Mas já que o Espírito Santo encontra-Se na Terra, você irá reparar como são poucas as instruções que temos quanto às cerimônias a serem celebradas pela Igreja. Onde é que encontramos instruções minuciosas quanto à maneira da assembléia proceder quando se reúne? Veja, por exemplo, a reunião que é tão preciosa aos nossos corações – o partimento do pão – a recordação da morte do Senhor. Onde está o capítulo que nos diz como devemos proceder? Não existe um tal capítulo. Não existe um versículo que nos diga que a reunião do partimento do pão deveria começar com um hino e que depois disso um irmão deveria se levantar e orar ao Senhor ou louvá-lo, e que então outro hino deveria ser dado, e que no final de trinta ou quarenta minutos os símbolos deveriam ser distribuídos, ou por quanto tempo mais a reunião deveria continuar. Por que razão não existe nenhuma passagem das Escrituras cobrindo estes pontos? Porque o Espírito de Deus está aqui para reger e conduzir tudo da maneira que Lhe agrade. (Estou apenas assinalando que não existem instruções escritas para estes detalhes. Não estou criticando o modo como é feito.) O Espírito de Deus está aqui para guiar e reger na Igreja, e Sua direção e regência na Igreja é feita com a finalidade de que Cristo seja glorificado. É este o Seu propósito – o objetivo que Ele tem em vista.
Bem, isto coloca diante de nós uma grande, importante e solene verdade. Na cristandade, de um modo geral, recusa-se conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar. Onde na cristandade, nas denominações, encontro que esteja sendo concedido ao Espírito de Deus o lugar que Lhe é devido? Onde é que Ele pode guiar, dirigir ou reger (e é este o seu gracioso ofício) se algum homem está guiando e dirigindo e tem um programa já elaborado com antecedência? Se este já decidiu quais os hinos que serão cantado e quem deverá orar – onde entra, então, o Espírito de Deus nisso tudo? Isto é o que normalmente se faz, não é mesmo? Sim, é. Que lugar é dado para o Espírito de Deus? Nenhum.
Nos credos das igrejas ortodoxas – das igrejas evangélicas – há muitos cristãos (graças a Deus por eles), mas, no entanto, embora seus credos reconheçam a presença do Espírito Santo, na prática eles negam a Sua presença, pois suas cerimônias são efetuadas como se não existisse tal Pessoa. Seu credo O reconhece, mas na prática O negam. Esta é realmente uma condição triste. Mais do que isto. Algo está radicalmente errado nisso tudo. Amados santos de Deus, existe uma razão para nos reunirmos como fazemos. Desejamos dar ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence.
Como O Espírito de Deus Quer
Agora, com relação a estes últimos comentários, vamos abrir em 1 Coríntios 12.4: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Versículo 7: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”. Versículo 11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Não como o ministro quer, mas como o Espírito de Deus quer.
Vamos abrir também em 1 Coríntios 14.28-33: “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos”, e assim por diante.
Não tenho tempo para falar aqui das manifestações sobrenaturais, mas quero declarar que creio que elas cessaram e não têm lugar hoje na Igreja. Na Igreja o Espírito é Aquele que guia e rege. É a Sua vontade que deve ser obedecida, não a vontade do homem. Esta é uma das razões de nos reunirmos assim. Quando nos reunimos como uma assembléia, nos reunimos de maneira que o Espírito de Deus tenha espaço para agir por meio de quem Ele quiser.
Nenhum Programa Estabelecido
Quando nos reunimos, por exemplo, para recordar o Senhor na Sua morte, não temos nenhum programa estabelecido. Se algum irmão estiver selecionando um hino em sua casa, estará cometendo um erro. Não tem base bíblica para fazê-lo. E se outro irmão escolher de antemão algo que acha bonito para ler no final da reunião, estará cometendo um erro. Não se deve fazer assim. O Espírito de Deus deve ter a direção nestas coisas. Não sabemos quem irá distribuir os símbolos [o pão e o vinho]. Não sabemos quem irá sugerir um hino, ou quem irá se levantar e louvar a Deus. Não temos um programa. Não seria correto se o tivéssemos. O Espírito de Deus deve ser Aquele a dirigir conforme a Sua vontade na reunião da assembléia.
É adequado que nos reunamos e nos comportemos de um modo tal que o Espírito de Deus possa ter liberdade para agir por meio de quem Ele quiser. Na reunião de oração, não é conveniente que se convide um irmão a orar ou que se peça a outro que dê um determinado hino. Não; o Espírito de Deus é Quem deve fazê-lo. Não estou dizendo que tudo acontece com perfeição em nossas assembléias, pois somos falhos, e podemos ser lembrados disto de vez em quando, mas o terreno sobre o qual estamos, e os princípios que sustentamos são de Deus. Nos reunimos assim para dar espaço ao Seu Espírito.
Em Wales, há muitos anos, Evan Roberts reuniu, em um grande salão público, alguns milhares de pessoas que haviam sido salvas. Eles estavam ali para uma cerimônia especial naquele dia. O que havia de peculiar naquela ocasião era o fato de não ter sido preparado nenhum programa de antemão. Além disso, quando a congregação chegou e todos os assentos estavam ocupados e havia pessoas em pé até nos corredores e portas, todos observaram que no centro do salão havia uma cadeira vazia. Ninguém poderia se sentar naquela cadeira. Ela estava reservada, como um símbolo – um lembrete – de que o Espírito de Deus estava presente. Naquele dia o desejo de Evans Roberts, e creio que de outros fiéis também, era que não tivessem nenhum programa estabelecido, mas que o Espírito de Deus pudesse ter liberdade para dirigir e reger. Aquilo gerou muitos comentários. Houve até uma notícia no jornal sobre aquela experiência extraordinária – uma cerimônia sem um programa preestabelecido e sem um ministro! O dia passou alegremente, e com uma clara evidência da direção do Espírito. Podemos agradecer a Deus pelas convicções de fé de Evans Roberts e outros cristãos, mas por que não continuou sendo assim depois? É isto que nos dá o segundo motivo para nos reunirmos do modo como nos reunimos. Queremos dar ao Espírito de Deus o Seu lugar e ofício em nosso meio.
Sair a Ele Fora do Arraial
A terceira razão da qual falei foi esta: A questão de se sair a Ele fora do arraial. Abra no último capítulo de Hebreus para encontrar isto, versículos 10 a 14: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.” Observe que estes versículos fazem parte da epístola aos Hebreus. Isto sugere que existe uma esfera judaica ligada ao que estamos observando. Jerusalém está diante de nós. Foi daquela cidade – daquela cidade religiosa – que o Senhor da glória foi expulso. Seu sangue foi derramado fora daquela cidade. Um novo centro foi estabelecido. A cruz de Cristo se torna agora um centro para a fé. Aquele lugar fora de Jerusalém, fora da organização religiosa, fala agora aos nossos corações que O conhecem.
Porque assim como Ele, em Quem todo o padrão judaico foi expresso e cumprido, morreu fora da cidade, é fora também que é estabelecido o altar do cristianismo. Não existe hoje nenhum outro altar. Estabelecer um altar em uma igreja é ridículo! É uma abominação! Estabelecer um altar em uma igreja hoje é sugerir que o único sacrifício de Cristo não é suficiente. “Temos um altar”. A poderosa obra foi completada. Uma oferenda foi feita. A obra está terminada. Nada mais há para se acrescentar. O Calvário, aquele lugar onde o Rejeitado sangrou e morreu – aquele lugar cancela todos os altares terrenos.
O Que Significa “O Arraial”?
Falamos com frequência do “arraial”, e talvez sem compreendermos completamente o que significa. Sem dúvida alguma, o “arraial”, em sua aplicação estrita, nos fala do tabernáculo, e da condição dos filhos de Israel no deserto, embora aqui ele seja claramente aplicado a Jerusalém. Ele coloca diante de nós a religião organizada e terrena. Jerusalém e seu templo, o lugar divino de adoração, durante muito tempo levou o selo do favor de Deus, e os cristãos judeus tinham sido vagarosos em se desligarem daquele sistema no qual haviam sido criados desde a infância. Todavia, agora eles são exortados a sair.
Vocês já repararam, amados amigos cristãos, quão singular era o estado de coisas que existia aqui no final de Hebreus? Repare a data que é dada na tradução King James [versão inglesa da Bíblia]: 64 A.D. Trinta anos ou mais após o princípio do cristianismo, eles ainda são encontrados em Jerusalém – crentes – seguindo adiante com o judaísmo, seguindo adiante ainda com o templo e os sacrifícios que eram oferecidos no templo. Você há de concordar que aquilo era algo muito estranho! É evidente que sim, e talvez se eu e você tivéssemos vivido naquela época, não teríamos tido a paciência que Deus teve, mas Ele os suportou. Aqui já se haviam passado trinta anos e nós os vemos prosseguindo da mesma maneira, mantendo uma doutrina que misturava a graça e as obras. Isso não era nada diferente de se misturar água com óleo. Eles foram exortados a sair “…a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.
Há certos pontos associados a este sistema que eu gostaria de tratar por alguns momentos. As características do arraial eram quatro. Primeiro, ele tinha um santuário terreno. (Originalmente era o tabernáculo; mais tarde foi o templo.)
Em segundo lugar, ele tinha uma ordem estabelecida de sacerdócio que se colocava entre Deus e os adoradores.
Terceiro, ele tinha uma congregação de adoradores composta de salvos e não salvos.
Quarto, todos eles juntos e coletivamente, estavam sob a lei para justiça. Estas quatro características marcavam o arraial.
O Santuário Terreno
“Bem”, alguém poderá dizer, “isso tudo é judaísmo e já terminou, e Jerusalém foi destruída”. Sim, sem dúvida isto é verdade, mas os princípios aqui estabelecidos continuam a existir. Uma condição paralela àquela ainda se apresenta para nós. O que quero dizer é que o santuário terreno ainda existe – grandes estruturas dedicadas ao, assim chamado, culto a Deus – mas Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Algumas destas estruturas são muito bonitas no que diz respeito à sua arquitetura e decoração. Mas são coisas que não têm valor aos olhos de Deus. Cristo está rejeitado e estamos no lugar da Sua rejeição, e somos chamados a seguir as Suas pegadas. A ostentação e a aparência exterior não é o que conta hoje.
Quanto ao sacerdócio, do mesmo modo como os judeus tinham um sistema de sacerdócio ordenado com o propósito de se colocar entre o povo e Deus, também em nossos dias não deixa de ser verdadeiro que a cristandade estabeleceu um sistema de sacerdócio ligado ao culto professo a Deus – homens ordenados por mãos humanas, para permanecerem entre os adoradores e Deus. Não é preciso irmos muito longe para encontrar isto. Trata-se de uma característica bem estabelecida nesta época da cristandade, como todos sabemos.
Quanto ao terceiro ponto – uma congregação mista de adoradores: não precisamo andar muito para encontrar isto. Será que é difícil encontrar uma congregação mista, composta por pessoas salvas e não salvas que professadamente se reúnem juntas para adorar a Deus? Não teríamos que ir muito longe para encontrar isto. É algo característico de nossa época.
Quanto ao quarto ponto – estar sob a lei para justiça, será que é difícil encontrarmos tal coisa? Não, não é. Isto também é comum ao nosso redor hoje em dia. Em muitas igrejas você descobrirá os dez mandamentos escritos sobre a parede, e as almas são ensinadas que para poderem chegar ao céu não basta crerem no Senhor Jesus, mas devem também guardar os dez mandamentos.
É Custoso Deixar o Arraial
Encontramos estas quatro coisas hoje e, em princípio, elas nos revelam o arraial. A Palavra de Deus é: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Não devemos pensar que este “saiamos” seja sempre uma questão fácil para aqules que estão no arraial. É custoso deixar o arraial. Trinta anos depois de terem recebido o cristianismo encontramos os cristãos hebreus sendo exortados a saírem do arraial. Você não acha que deve ter sido difícil para eles – o rompimento com os muitos vínculos e com amizades antigas? Todavia, por mais duro que fosse, a Palavra de Deus para eles era: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Procuremos nos solidarizar com aqueles que procedem assim hoje. Para alguns é fácil; para outros não, mas trata-se de uma senda de dificuldades e provações. As afeições naturais e os vínculos antigos prendem muitos ao sistema.
Em relação a isto, veja 2 Pedro 1.5-7: “E… à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” – divino amor. Não basta ir só até o amor fraternal. O amor divino deve ser o poder propulsor.
“Levando o Seu vitupério.” O vitupério está ligado ao lugar fora. Você já descobriu isto? Pergunte a um católico a que ele está ligado e ele lhe dirá que está ligado à Igreja Católica. Ele não se envergonha de dizer isto. Ele está no arraial e numa de suas partes maiores e principais. Suponha que eu esteja reunido ao nome do Senhor e alguém me pergunta a que estou ligado. Creio que não sou o único que sente uma certa medida de embaraço. Digo:
– Estou ligado a uma pequena reunião. – Que tipo de reunião? – Bem, uma reunião bem simples. – Que nome vocês têm? – Ora, não temos nenhum nome. – Nenhum nome? – Nenhum; bem, nós nos reunimos ao nome de Cristo. – Mas vocês devem ter algum outro nome… -Não, não temos.
Bem, ele irá pensar que sou um excêntrico, e depois de seguir por algum tempo falando acabará se convencendo de que é isto mesmo. “Aquele sujeito deve ser algum tipo de fanático religioso”, sairá ele dizendo.
Existe vitupério ligado a isto. Nos faz cair no nível de estima dos que nos cercam. Isto faz parte de nossa herança. Trata-se de algo bendito – algo para se dar valor e apreciar – algo que trará consigo um galardão peculiar. Você não encontra este vitupério dentro do arraial, mas fora dele.
Um Só Corpo
Quarto. Cremos que é bíblico estar reunido sobre o terreno do um só corpo. Este é um assunto muito vasto para ser tratado em poucos minutos.
Efésios 4.4. “Há um só corpo.” Esta é uma tremenda verdade! Uma verdade muito profunda! Uma verdade imensamente bendita! “Um só corpo”. Não duzentos, como poderia apontar o relatório do censo dos Estados Unidos. Deus olha lá do céu e de todos os grupos de crentes sobre a Terra, nas várias associações e lugares que são encontrados, Ele não pode reconhecê-los, mas só dizer: “Há um só corpo”. Quaisquer que sejam as associações em que estejam, todos os crentes constituem o um só corpo. Eles podem querer se denominar a si mesmos usando diferentes nomes. Muitos crentes podem ser encontrados entre os Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Congregacionais, Episcopais, e não há dúvidas de que muitos são encontrados em outros lugares também, mas esses nomes não têm valor nenhum para Deus. A única coisa que Ele reconhece é que esses crentes são membros do um só corpo. Pertencem a este corpo. Esta é uma grande, uma enorme verdade, não é mesmo? A verdade de que nós, que por graça somos dEle, pertencemos a este um só corpo, e ao único corpo que existe. Não há nenhum outro. No céu isto será perfeitamente manifestado. Aqui não é muito bem manifestado. Somente o olho de Deus pode ver este um só corpo. Todavia, assim é. Há um só corpo.
Os cristãos no princípio se reuniam simplesmente por pertencerem ao um só corpo. Se eu e você tivéssemos estado em Éfeso na manhã do dia do Senhor e procurássemos por aqueles que reconheciam o nome ou a autoridade do Senhor Jesus, iríamos descobrir que as condições para que participássemos da comunhão estariam baseadas única e tão somente no fato de sermos ou não membros do um só corpo. Eles não nos levariam para um canto para perguntar qual seria nossa opinião sobre o batismo, sobre a verdade dispensacional, sobre a interpretação da profecia ou um monte de outras coisas sobre as quais os homens disputam, mas estariam ansiosos por saber se poderíamos distinta e definitivamente demonstrar que éramos membros do um só corpo – se éramos idôneos quanto à Pessoa e obra de Cristo. Se pudéssemos mostrar que éramos idôneos, seria somente com base nisto que seríamos recebidos entre eles, e somente com base nisto que tomaríamos dos símbolos [o pão e o vinho], pois é esta mesma verdade que os símbolos apresentam diante de nossos olhos. (Estou supondo, evidentemente, que nossa profissão verbal não estivesse em contradição com nossa vida.)
Um Pão
O pão sobre a mesa do Senhor nos fala não apenas da morte do Senhor Jesus, mas antes de ser partido ele fala da verdade de que somos um só corpo. Partimos aquele pão como membros do um só corpo e de nenhum outro modo.
Nosso tempo já se esgotou e não podemos falar muito mais sobre este assunto tão abrangente, mas apenas expressar em palavras que continua coerente com o ensino das Escrituras estar reunido sobre este amplo terreno, reconhecendo cada membro do corpo de Cristo sobre a Terra como um irmão ou irmã, e reconhecendo o direito, ou melhor dizendo, privilégio, de cada um como tal de recordar o Senhor conosco – de tomar daquele um só pão.
É necessário que se acrescente isto: Embora no princípio estes assuntos fossem bastante simples, hoje não são tão simples pois existem aqueles que se denominam cristãos mas que não são cristãos, e já não é suficiente aceitar apenas a palavra humana a este respeito. Hoje em dia todo tipo de pessoa se denomina cristão. É nosso dever descobrir se realmente é assim. Somos responsáveis por aqueles que recebemos, e esta responsabilidade não pode ser deixada sobre eles.
Creio que o que foi falado está em conformidade com a verdade, e se assim for, o Senhor irá tornar isto uma bênção aos nossos corações.
Essa é uma prática antiga entre o povo de Deus, importante para manter famílias e igrejas firmes, mas, infelizmente, quase banida dos lares cristãos hoje. São muitas as razões (ou desculpas). Sei que não é tarefa fácil começar, manter e fazer atraente o culto doméstico, mas é necessário. Se imaginamos que nossos filhos um dia decidirão seguir o Senhor sem que nós O tenhamos apresentado como Alguém real, importante, vivo, agradável e que faz parte da vida de todo dia, estamos arriscando o destino (nessa vida e na próxima) deles.
Encontre hoje este arquivo em pdf, chamado “Culto Doméstico”, de Joel Beeke. Leia, estude e pratique. Seus filhos e sua família agradecerão pela eternidade.
Há muitos anos um filósofo alemão disse alguma coisa no sentido de que, quanto mais um homem tem no coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é prova de falência do homem interior.
Se isto é verdade (e eu creio que é), então o desordenado apego atual a toda forma de entretenimento é prova de que a vida interior do homem moderno está em sério declínio. O homem comum não tem nenhum núcleo central de segurança moral, nenhum manancial no seu peito, nenhuma força interior para colocá-lo acima da necessidade de repetidas injeções psicológicas para dar-lhe coragem para continuar vivendo. Tornou-se um parasita no mundo, extraindo vida do seu ambiente, incapaz de viver um só dia sem o estímulo que a sociedade lhe fornece.
Schleiermacher afirmava que o sentimento de dependência está na raiz de todo culto religioso, e que por mais alto que a vida espiritual possa subir, sempre tem que começar com um profundo senso de uma grande necessidade que somente Deus poderia satisfazer. Se esse senso de necessidade e um sentimento de dependência estão na raiz da religião natural, não é difícil ver porque o grande deus entretenimento é tão cultuado por tanta gente. Pois há milhões que não podem viver sem diversão. A vida para eles é simplesmente intolerável. Buscam ansiosos o alívio dado por entretenimentos profissionais e outras formas de narcóticos psicológicos como um viciado em drogas busca a sua injeção diária de heroína. Sem essas coisas eles não poderiam reunir coragem para encarar a existência.
Ninguém que seja dotado de sentimentos humanos normais fará objeção aos prazeres simples da vida, nem às formas inofensivas de entretenimentos que podem ajudar a relaxar os nervos e revigorar a mente exausta de fadiga. Essas coisas, se usadas com discrição, podem ser uma benção ao longo do caminho. Isso é uma coisa. A exagerada dedicação ao entretenimento como atividade da maior importância para a qual e pela qual os homens vivem, é definitivamente outra coisa, muito diferente.
O abuso numa coisa inofensiva é a essência do pecado. O incremento do aspecto das diversões da vida humana em tão fantásticas proporções é um mau presságio, uma ameaça às almas dos homens modernos. Estruturou-se, chegando a construir um empreendimento comercial multimilionário com maior poder sobre as mentes humanas e sobre o caráter humano do que qualquer outra influência educacional na terra. E o que é ominoso é que o seu poder é quase exclusivamente mau, deteriorando a vida interior, expelindo os pensamentos de alcance eterno que encheriam a alma dos homens, se tão-somente fossem dignos de abrigá-los. E a coisa toda desenvolveu-se dando numa verdadeira religião que retém os seus devotos com estranho fascínio, e, incidentalmente, uma religião contra a qual agora é perigoso falar.
Por séculos a igreja se manteve solidária contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo que era – um meio para desperdiçar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por isso ela própria sofreu rotundos abusos dos filhos deste mundo. Mas ultimamente ela se cansou dos abusos e parou de lutar. Parece Ter decidido que, se ela não consegue vencer o grande deus entretenimento, pode muito bem juntar suas forças às dele e fazer o uso que puder dos poderes dele. Assim, hoje temos o espantoso espetáculo de milhões de dólares derramado sobre o trabalho profano de providenciar entretenimento terreno para os filhos do Céu, assim chamados. Em muitos lugares, o entretenimento religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muitas igrejas nestes dias têm-se transformado em pouco mais do que pobres teatros onde “produtores” de quinta classe mascateiam as suas mercadorias falsificadas com total aprovação de líderes evangélicos conservadores que podem até citar um texto sagrado em defesa de sua delinqüência. E raramente alguém ousa levantar a voz contra isso.
O grande deus entretenimento diverte os seus devotos principalmente lhes contando estórias. O gosto por estórias, característicos da meninice, depressa tomou conta das mentes dos santos retardados dos nossos dias, tanto que não poucas pessoas, pelejam para construir um confortável modo de vida contando lorotas, servido-as com vários disfarces ao povo da igreja. O que é natural e bonito numa criança pode ser chocante quando persiste no adulto, e mais chocante quando aparece no santuário e procura passar por religião verdadeira.
Não é uma coisa esquisita e um espanto que, com a sombra da destruição atômica pendendo sobre o mundo e com a vinda de Cristo estando próxima, os seguidores professos do Senhor se entreguem a divertimentos religiosos? Que numa hora em que há tão desesperada necessidade de santos amadurecidos, numerosos crentes voltem para a criancice espiritual e clamem por brinquedos religiosos?
“Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso opróbrio. … Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós porque pecamos! Por isso caiu doente o nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos.” Amém. Amém.
Leitura Bíblica: Ap 3:7-13; Mt 23:8-11; Jo 20:27; 1 Co 12:13; Gal 3:28
Neste capítulo apresentamos um diagrama sistemático que pode ajudar-nos a entender melhor o que temos falado. A primeira parte representa a Igreja na era dos apóstolos. Embora Éfeso seja uma Igreja que tenha enfraquecido, ela ainda está na mesma linha reta, uma vez que o Senhor reconheceu a igreja de Éfeso como continuação da igreja apostólica. Então veio Esmirna, que também continuou na mesma linha. Esmirna é realmente uma igreja sofrida. Não há louvor nem censuras para ela. Depois de Esmirna, algo ocorreu quando pareceu Pérgamo. Ela não continuou a ortodoxia dos apóstolos, mas se uniu ao mundo e iniciou uma curva descendente. Ela sucedeu a igreja em Esmirna, mas não continuou na ortodoxia dos apóstolos. Uma vez que Pérgamo fez essa curva, Tiatira seguiu seus passos. Ela tomou a mesma linha de Pérgamo, mais não a mesma dos apóstolos. Sardes saiu de Tiatira, e ela também regrediu. Tiatira e Sardes continuarão até a volta do Senhor.
Filadélfia é a igreja que retorna à ortodoxia dos apóstolos. Filadélfia também fez uma curva, desta vez, de volta à posição inicial da Bíblia. A virada da restauração começou com Sardes e foi completada com Filadélfia. Agora a igreja está de novo na mesma linha reta que a era dos apóstolos. Filadélfia saiu de Sardes. Ela nem a Igreja Católica Romana nem as Igrejas Protestantes, mas continua a igreja da era dos apóstolos. Mas tarde veio Laodicéia, a qual veremos no próximo capítulo. Agora gastaremos algum tempo para ver o que Filadélfia é, a fim de termos clareza com relação ao seu significado.
Entre as sete igrejas, cinco são repreendidas e duas não. As duas não repreendidas são Esmirna e Filadélfia. O Senhor aprova só essas duas. É realmente notório que as palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que foram faladas a Esmirna. O problema de Esmirna era o judaísmo, e em Filadélfia também havia judaísmo. À Igreja em Esmirna o Senhor diz: “Para serdes postos a prova”, enquanto para em Filadélfia o Senhor diz: “Eu te guardarei da hora da provação que deve vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. O Senhor também fala às duas igrejas com relação à coroa. Para Esmirna ele diz: “Dar-te-ei a coroa da vida”, enquanto para Filadélfia ele diz: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. As duas igrejas têm estes dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é, na linha da ortodoxia da igreja apostólica. A Igreja em Sardes foi uma restauração, mas não completa (foi uma restauração que não foi bem feita). Mas Filadélfia restaurou até o ponto de satisfazer o desejo do Senhor. A igreja em Filadélfia não só não é censurada como também é louvada. A linha reta que desenhamos é a linha dos escolhidos, sabemos, evidentemente, que aquela que o Senhor escolheu foi Filadélfia. Filadélfia continua a ortodoxia dos apóstolos. Ela recuperou Esmirna. Portanto, as palavras do Senhor a ela são para guardar e obedecer. A virada de Pergamo e Tiatira foi tão grande que quando Sardes apareceu, embora agisse extraordinariamente bem, não recobrou a perfeição. Embora se voltasse em direção à restauração, ela não conseguiu atingir o alvo. Filadélfia é uma restauração completa. Precisamos ver isso claramente.
Filadélfia, em grego, é composta de duas palavras: o significado de uma é amar um ao outro, e o significado da outra é irmão. Assim, Filadélfia significa amor fraternal. Amor fraternal é a profecia do Senhor. Sacrifício é a característica principal de Tiatira e é cumprida na Igreja Católica Romana. Restauração é a característica de Sardes e é cumprida nas igrejas protestantes. Agora o Senhor diz-nos que há uma igreja que está completamente restaurada e é por Ele louvada. Os que lêem a Bíblia levantarão a questão: ” quem é ela na atualidade? Onde podemos encontrá-la na historia?” Não deixemos esta questão passar facilmente.
Já falamos do comportamento dos nicolaítas e do ensinamento dos nicolaítas nas Igrejas em Éfeso e Pergamo. Além disso, já mostramos que eles representam uma casta de sacerdotes. Entre os israelitas, os levitas podem ser os sacerdotes e o restante não pode. Mas na igreja todos os filhos de Deus são sacerdotes. A primeira Epístola de Pedro 2 e Apocalipse 5 nos dizem claramente que todos os comprados com o sangue são sacerdotes (vs. 9,10). Todavia, os nicolaítas criaram o emprego de sacerdote. O Laicato (crentes comuns ou leigos) deve ir ao mundo ter uma ocupação e executar negócios seculares. Os sacerdotes estão acima do laicato e encarregam-se dos negócios espirituais. Os judeus têm o judaísmo, e os nicolaítas desenvolveram o comportamento, tornando-o ensinamento. Veja a classe dos padres. Eles podem encarregar-se dos assuntos espirituais, enquanto outros cuidam de assuntos seculares. A imposição de mãos é assunto deles; somente eles podem abençoar. Se tenho de indagar sobre certo assunto, eu mesmo não posso perguntar a Deus, antes devo pedir-lhes que perguntem a Deus por mim. Na época de Sardes a situação melhorou. O sistema de padres foi abolido, mas o sistema clerical surgiu para tomar o seu lugar. Nas Igrejas protestantes, há as rigorosíssimas igrejas estatais, e há também as igrejas privadas dispersas. Contudo, quer seja na igreja do estado ou na igreja privada, a existência da classe mediadora é sempre vista. A primeira tem o sistema clerical, enquanto a ultima tem o sistema pastoral. Em relação a esse sistema de classe sacerdotal, quer sejam chamados de padres, clérigos ou de pastores, é algo rejeitado pelo Senhor. As igrejas protestantes são uma mudança de forma na continuação do ensinamento nicolaíta de Pérgamo. Embora nas igrejas protestantes ninguém seja chamado de padre, todavia os clérigos e os pastores são exatamente iguais em princípio. Mesmo se mudarmos o nome deles e chamá-los obreiros, enquanto permanecerem na mesma posição, eles tem o mesmo sabor.
Já expusemos bastante as Escrituras como base para mostrar que todos somos sacerdotes. Mas agora há uma controvérsia entre Deus e os homens. Desde que Deus diga que cada um na igreja está qualificado para ser sacerdote, por que os homens dizem que a autoridade espiritual está unicamente nas mãos de uma classe mediadora, tal como a dos padres? Todos os redimidos com o sangue são sacerdotes. Por que o Senhor não repreendeu Filadélfia, mas antes a louvou? Lembre-se que o inicio da classe mediadora foi em Pérgamo e a prática foi em Roma. Eles têm o papa que exerce domínio sobre eles, têm os altos oficiais exercendo autoridade sobre eles, e têm altos oficiais do Vaticano (a igreja-palácio) etc. Mas o Senhor diz: “Vós todos sois irmãos.” Apeguem-se a Mateus 20:25;23:8. É verdade que na Bíblia há pastores, mas a Bíblia não tem o sistema de pastores. Além disso, a palavra pastor é uma tradução; no texto original significa guardador de gado. Você pode chamá-lo de guardador de ovelhas ou guardador de gado. O Senhor diz: “Vocês não devem ter mestres entre vocês, e não devem ter padres”. Mas vejam como a Igreja Católica Romana chama os padres de “padre”, e as igrejas protestantes chamam os pastores de “pastor”. No século dezenove realizou-se um grande reavivamento que aboliu a classe mediadora. Após Sardes, uma grande restauração aconteceu: na igreja os irmãos amavam um ao outro e a classe mediadora foi abolida. Esta é Filadélfia.
Em 1825, em Dublin, capital da Irlanda, houve muitos crentes cujo coração foi movido por Deus para amar todos os filhos do Senhor, não importando em qual denominação estivessem. Este tipo de amor não foi frustrado pelos muros da denominação. Eles começaram a ver que a Palavra de Deus diz que há apenas um corpo de Cristo, não obstante em quantas seitas os homens possam dividi-lo. Eles continuaram lendo as Escrituras e viram que o sistema de um homem administrando a igreja e de um homem pregando não é bíblico. Então eles começaram a reunir-se a cada domingo para partir o pão e orar. O ano de 1825 foi (após mais de mil anos de Igreja Católica Romana e várias centenas de anos de igrejas protestantes) a primeira vez em que houve um retorno à adoração simples, livre e espiritual conforme as Escrituras. No inicio eram duas pessoas; mais tarde, quatro ou cinco.
Esses crentes, aos olhos do mundo, eram inferiores e desconhecidos. Mas eles tinham o Senhor no meio deles e a consolação do Espírito Santo. Eles permaneceram sobre a base de duas claras verdades: primeiramente, que a igreja é o Corpo de Cristo e que este Corpo é apenas um; em segundo lugar, no Novo Testamento não havia sistema clerical. Portanto, todos os ministros da palavra estabelecidos pelos homens não são bíblicos. Eles acreditavam que todos os verdadeiros crentes são membros deste único Corpo. Recebiam calorosamente todos os que vinham para o seu meio, não importando a que denominação pertencessem. Não tinham preconceito contra qualquer seita. Eles criam que todos os verdadeiros crentes tinham a função de sacerdote; portanto todos podem entrar livremente no Santo dos Santos. Eles também acreditavam que o Senhor Ascenso concedera diversos dons à igreja para o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do Corpo de Cristo, Portanto, eles foram capazes de renunciar aos dois pecados do sistema clerical (oferecer sacrifício e pregar a Palavra). Estes princípios capacitaram-nos a dar boas vindas a todos os que estão em Cristo como seus irmãos e a estarem abertos a todos os ministros da Palavra ordenados pelo Espírito Santo para servir.
Durante essa época, havia um clérigo na Igreja Anglicana, chamado John Nelson Darby, que estava muito insatisfeito com sua posição na sua própria igreja, acreditando que ela não era bíblica. Ele também se reunia freqüentemente com os irmãos, embora nessa época ele ainda usasse as vestes do clero e fosse um clérigo da Igreja Anglicana. Ele era um homem de Deus, um homem de grande poder e um homem disposto a sofrer. Ele também era um homem espiritual que conhecia a Deus e a Bíblia, e julgava a carne. Em 1827 ele, oficialmente, deixou a Igreja Anglicana, tirou o uniforme de Clérigo e tornou-se um simples irmão reunindo-se com os irmãos. Originalmente o que os irmãos viram foi um tanto limitado, mas quando Darby se juntou oficialmente a eles, a luz do céu verteu como uma torrente. Em muitos aspectos a obra de Darby foi parecidas com a de Wesley, mas suas atitudes em relação à Igreja Anglicana foram totalmente diferentes. No século anterior, Wesley sentiu que não poderia ter paz deixando a igreja estatal; um século mais tarde, Darby sentiu que não poderia ter paz continuando na Igreja Anglicana. Mas quanto ao zelo, à sinceridade e à fidelidade, eles foram muito parecidos em muitos aspectos.
Foi neste mesmo ano que J.G.Bellett também compareceu às reuniões. Ele também era um homem extraordinariamente profundo e espiritual. Essas reuniões, que eram simples, contudo bíblicas, comoveram-no profundamente. A respeito da condição nessa época, ele disse:
Um irmão acabou de dizer-me que lhe ficou óbvio nas Escrituras que os crentes reunindo-se juntos como discípulos de Cristo, eram livres para partir o pão juntos, como o Seu Senhor os advertira; e que, até onde a prática dos apóstolos pode ser um guia, todo domingo deve ser separado para assim lembrar a morte do Senhor e obedecer o que Ele exigiu ao partir.
Em outra ocasião J.G. Bellett disse:
Caminhando certa ocasião com um irmão, enquanto descíamos a rua Lower Pembroke, ele me disse: Não tenho dúvidas de que este é o propósito de Deus com relação a nós – devemos estar juntos com toda simplicidade como discípulos, não servindo em qualquer púlpito ou ministério, mas confiando que o Senhor nos edificará ministrando, uma vez que Ele se agradou de nós e nos viu com bons olhos”. No momento que ele falou estas palavras, fiquei certo de que minha alma recebeu o entendimento correto, e aquele momento eu lembro como se fosse ontem, e posso descrever-lhe o lugar. Foi o dia da grande revelação da minha vida, permitam-me falar assim, como um irmão.
Foi assim que os irmãos gradativamente prosseguiam, recebiam revelação e viam a luz.
Depois de um ano, em 1828, Darby publicou um livrete chamado A natureza e a unidade da Igreja de Cristo. Este livrete foi o primeiro entre milhares de livros publicados pelos irmãos. Neste livro Darby declara claramente que os irmãos não tinham intenção de fundar uma nova denominação ou união de igrejas. Ele disse:
Em primeiro lugar, não é uma união formal de grupos publicamente conhecidos que é desejável; realmente é surpreendente que protestantes ponderados possam desejá-la: longe de estar fazendo o bem, creio que seria impossível que tal corpo fosse pelo menos reconhecido como a Igreja de Deus. Seria uma cópia da unidade da Católica Romana; perderíamos a vida da Igreja e o poder da Palavra, e a unidade da vida espiritual seria totalmente eliminada(…) A unidade verdadeira é a unidade do Espírito, e ela deve ser trabalhada pelo operar do Espírito(…) Nenhuma reunião, que não concebe incluir todos os filhos de Deus na base completa do Reino do Filho, consegue encontrar a plenitude da benção, porque ela não a contempla – porque a sua fé não a inclui(…) Onde dois ou três estão reunidos em Seu nome, Seu nome é lembrado ali para benção(…)
Além do mais, a unidade é a glória da Igreja; mas a unidade para assegurar e promover nossos próprios interesses não é a unidade da Igreja, mas uma confederação e negação da natureza e esperança da Igreja. A unidade, que é da Igreja, é a unidade do Espírito e somente pode estar nas coisas do Espírito; e, portanto, só pode ser aperfeiçoada nas pessoas espirituais.
Mas que deve fazer o povo do Senhor? Deixe-os esperar no Senhor, e esperar de acordo com o ensinamento do Seu Espírito, e em conformidade à imagem, pela vida do Espírito, do Seu Filho. Deixe-os seguir seu caminho pelas pegadas do rebanho, se quiserem saber aonde o bom pastor alimenta Seu rebanho ao meio-dia.
Em outro lugar Darby disse:
Porque a nossa mesa é a mesa do Senhor, não a nossa, recebemos todos os que Deus recebe, todos pobres pecadores fugindo para o Senhor como refúgio, não descansando em si mesmos, mas somente em Cristo.
Foi neste mesmo tempo que Deus operou simultaneamente na Guiana Inglesa e na Itália, levantando o mesmo tipo de reuniões. Em 1829 havia também reuniões na Arábia. Em 1830, em Londres, Plymouth e Bristol, na Grã-Bretanha também havia reuniões. Mais tarde, muitos lugares nos Estados Unidos tinham reuniões, e no continente da Europa havia também muitas reuniões.Não muito depois, em quase todo lugar no mundo, todos os que amavam o Senhor estavam se reunindo desta maneira. Embora não houvesse união exterior, contudo todos foram levantados pelo Senhor.
Uma característica que marcou o aparecimento desses irmãos foi que aqueles que tinham títulos e domínio abandonaram seus títulos e domínio, os com posição abandonaram a posição, aqueles que tinham diplomas rejeitaram seus diplomas, e todos abandonaram qualquer classe ou posição mundanas na igreja e tornaram-se simplesmente os discípulos de Cristo e irmãos uns dos outros. Exatamente como a palavra padre é largamente usada na Igreja Católica Romana e reverendo nas igrejas protestantes, assim a palavra irmãos é comumente usada no meio deles. Eles foram atraídos pelo Senhor e então reuniam-se; por causa do amor deles pelo Senhor, eles espontaneamente amavam uns aos outros.
Com o passar dos anos, entre estes irmãos Deus deu muitos dons para Sua Igreja. Além de J.N. Darby e J.G. Bellett, Deus também concedeu ministérios especiais para muitos irmãos para que Sua Igreja pudesse ser suprida. George Muller, que estabeleceu um orfanato, restaurou a questão de orar com fé. Durante sua vida ele recebeu 1.500.000 vezes respostas de orações. C.H. Mackintosh, que escreveu as notas sobre o Pentateuco, restaurou o conhecimento dos tipos, as prefigurações. D.L. Moody disse que se todos os livros do mundo inteiro fossem queimados, ele ficaria satisfeito em ter apenas uma cópia da Bíblia e uma coleção das notas de C.H.Mackintosh sobre o Pentateuco. James G. Deck deu-nos muitos bons hinos. George Cutting restaurou a certeza da salvação. Seu livrete “Segurança, Certeza e Desfrute” teve trinta milhões de cópias vendidas, em 1930; além da Bíblia este foi o livro mais vendido. William Kelly foi um expositor; ele foi descrito por C.H. Spurgeon como aquele que tinha a mente tão grande quanto o universo. F.W. Grant foi o mais entendido sobre a Bíblia nos séculos dezenove e vinte. Robert Anderson foi o homem que melhor conheceu o Livro de Daniel recentemente. Charles Stanley foi quem melhor levou as pessoas à salvação pregando a justiça de Deus. S.P. Tregelles foi o famoso filologista do Novo Testamento. A história da igreja por Andrew Miller foi a mais bíblica entre as muitas histórias da igreja. R.C. Chapman foi um homem grandemente usado pelo Senhor. Estes foram os irmãos daquela época. Além desses, se fôssemos contar minuciosamente outros entre os irmãos, o número de todos os que foram muito usados pelo Senhor ultrapassaria a mil.
Agora veremos o que esses irmãos nos deram: eles nos mostraram quanto o sangue do Senhor satisfaz a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o mais fraco crente pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito, e como crer na Palavra de Deus, como a base da salvação. Desde que começou a história da Igreja, nunca houve um período em que o evangelho tenha sido mais claro do que naquela época. Além disso, também foram eles que nos mostraram que a Igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a Igreja tem um chamamento celestial e que a Igreja não tem esperança terrena. Foram eles também que abriram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que a volta do Senhor é a esperança da Igreja. Foram eles que abriram o livro de Apocalipse e o livro de Daniel e mostraram-nos o Reino, a tribulação, o arrebatamento e a noiva. Sem eles conheceríamos hoje uma pequena porcentagem das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que é a lei do pecado, o que é ser libertado, o que é ser crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor pela fé e como ser transformado diariamente por contemplar o Senhor. Eles nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo e a unidade do Espírito Santo. Foram eles que nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a Igreja. Na Igreja Católica Romana e nas igrejas protestantes, esta diferença não é facilmente vista, mas eles fizeram-nos vê-la de maneira nova. Eles também nos mostraram o pecado da classe mediadora, mostraram que todos os filhos de Deus são sacerdotes e que todos podem servir a Deus. Foram eles que restauraram o princípio de reuniões de 1 Coríntios 14, expondo-nos que profetizar não está baseado em ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fôssemos enumerar tudo o que eles restauraram, poderíamos muito bem dizer que nas genuínas igrejas protestantes de hoje não há sequer uma verdade que não tenha sido restaurada por eles ou que não tenha sido eles quem as restauraram ainda mais.
Não é de admirar-se que D.M. Panton tenha dito: “O movimento dos irmãos e seu significado é muito maior que o da Reforma.” Thomas Griffith disse: “Entre os filhos de Deus, eles foram os mais qualificados para corretamente dividir a palavra da verdade.” Henry Ironside disse: “Quer sejam os que conheceram os irmãos, quer sejam os que não conheceram os irmãos, todos os que conheceram a Deus têm recebido ajuda deles direta ou indiretamente.
Esse movimento foi maior do que o movimento da Reforma. Podemos também dizer que a obra de Filadélfia é maior que a obra da Reforma. Filadélfia nos dá aquilo que a Reforma não nos deu. Agradecemos ao Senhor que o problema da igreja foi solucionado pelo movimento dos irmãos. A posição dos filhos de Deus foi, por ele, praticamente restaurada. Portanto, tanto em quantidade como em qualidade ela é maior que a Reforma. Por outro lado, notamos que o movimento dos irmãos não é tão famoso quanto a Reforma. A Reforma foi realizada com espada e lança, enquanto o movimento dos irmãos foi realizado pela pregação. Por causa da Reforma muitos perderam a vida nas guerras da Europa. Outra razão pela qual a Reforma é famosa foi seu relacionamento com a política. Muitas nações, por meio da Reforma, livraram-se politicamente do poder de Roma. Qualquer coisa que não seja relacionada à política não é facilmente conhecida pelos homens. Além disso, os irmãos viram duas coisas: uma, é o que chamamos de mundo organizado, isto é, o mundo psicológico, mas também, ao mesmo tempo, o mundo do cristianismo, que é representado pelas igrejas protestantes. Essa é a razão porque eles nem mesmo eram conhecidos nas igrejas protestantes, pois eles não apenas saíram do mundo do pecado, mas também do mundo do cristianismo.
A partir da época deles os homens conheceram o que é a Igreja, que a Igreja é o Corpo de Cristo, que os filhos de Deus são uma Igreja e que não deveriam estar divididos. A ênfase deles era nos irmãos e no verdadeiro amor de uns pelos outros. O Senhor Jesus diz que uma igreja aparecerá cujo nome é Filadélfia.
Agora observemos Apocalipse: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve”. Filadélfia é amor fraternal. Por que o Senhor louva Filadélfia? Ele diz que ela é amor fraternal; assim, a posição mediadora foi completamente anulada.
Em Cristo não há homem nem mulher, em Cristo não há irmãs. Somos irmãos, não irmãs. Então, as irmãs perguntarão: “Quem somos nós?” Somos todos irmãos. Por que somos irmãos? Porque todos temos a vida de Cristo. Hoje há muitos homens no mundo, mas eles não são nossos irmãos. Um homem é um irmão, não porque é um homem, mas porque há nela a vida de Cristo. Desde que eu também tenha a vida de Cristo em mim, somos irmãos.Quando ressuscitou e estava para ascender aos céus, o Senhor disse:” subo para o meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Em João 1, Ele é o Filho unigênito de Deus; em João 20, Ele é o Filho primogênito de Deus. No capítulo 1 Deus o tem como o único filho; no capitulo 20 sua vida foi dada aos homens, por isso, Ele é o Filho primogênito e todos nós somos irmãos. Pela morte e ressurreição o Filho unigênito de Deus tornou-se o filho primogênito. Podemos ser irmãos porque recebemos sua vida. Porque todos temos recebido a vida de Cristo, somos todos irmãos.Um homem é um irmão porque recebeu a vida de Cristo; uma mulher é um irmão porque também ela recebeu a vida de Cristo; então, todos são irmãos. Todas as epístolas foram escritas aos irmãos, não as irmãs. Individualmente falando, há irmãs, mas em Cristo há somente irmãos. Por causa desta vida todos nos tornamos os filhos de Deus. Todos os “filhos” e “filhas” do Novo Testamento deveriam ser traduzidos como “filhos”. Além da menção em 2 Coríntios 6:18, Deus não tem filhos e filhas. Em Cristo todos estão na posição de irmãos. Em Xangai havia um irmão que era pedreiro. Certa vez, quando eu estava lá, eu lhe disse: “Vá e chame algum irmão para entrar”; Ele replicou: “Você quer que eu chame os irmãos masculinos ou femininos?” Este foi um homem ensinado por Deus. Dirigimo-nos as irmãs, quando nos dirigimos a indivíduos, mas em Cristo não há distinção entre homem e mulher.
Na Igreja também não há escravo nem livre. Não é porque alguém é um mestre, que a vida que ele recebeu é maior, ou porque eu sou um escravo, portanto a vida que recebi é menor. No passado, lembro-me que certo irmão me disse: “Os locais de reuniões tem um aspecto pobre. É melhor prepararmos um lugar especialmente aos oficiais do governo.” Repliquei: “Que você colocaria sobre a placa?” Esta não seria a Igreja de Cristo; seria a Igreja dos oficiais e da alta sociedade. Quando vimos para a Igreja, não há oficiais nem alta sociedade. Na Igreja todos somos irmãos. Quando nossos olhos forem abertos pelo Senhor, veremos que estar acima dos outros é uma gloria no mundo, mas na Igreja não há tal distinção. Paulo diz que em Cristo não há grego nem judeu, escravo ou livre, homem ou mulher. A Igreja posiciona-se não na distinção, mas no amor fraternal.
Essa passagem é igual a outras nas quais o Senhor mencionou Seu próprio nome; aqui Ele diz:”Estas coisas diz o Santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá.” Santidade é sua vida; Ele próprio é santidade. Ele é a Verdade diante de Deus; Ele é a Realidade de Deus, e a realidade de Deus é Cristo. Sua mão segura a chave. Aqui, devemos destacar um fato: quando Sardes (referindo-se ao movimento da Reforma N.T.) se levantou para testemunhar pelo Senhor, havia os dominadores deste mundo que a ajudaram a travar a batalha. A luta prosseguiu no continente da Europa por muitos anos e depois na Grã-Bretanha por muitos anos. Mas, e o movimento dos irmãos? Não havia poder por trás deles para sustentá-los. Então, que poderiam eles fazer? O Senhor diz que Ele segura a chave de Davi, que significa autoridade. (A Bíblia chama Davi de rei.) Não se trata de força dos braços nem de propaganda, mas uma questão de abrir a porta. Houve certo editor jornalístico na Grã-Bretanha que disse: “Eu nunca pensei que houvesse tantos irmãos e nunca entendi como esse povo cresceu tão rápido”. Viajando por todo o mundo você descobrirá que em cada lugar há muitos irmãos. Embora entre eles alguns conheçam as doutrinas profundamente e alguns superficialmente, a posição dos irmãos ainda é a mesma. Ao vermos isso, precisamos agradecer o Senhor. O Senhor diz que ele é aquele que “abre e ninguém fechara e que fecha e ninguém abrirá.”
“Conheço as tuas obras (…) que tens pouca força”. Quando chegamos neste ponto, nossos pensamentos espontaneamente retornam ao tempo da volta de Zorobabel (do cativeiro babilônico N.T.), sobre quem certo profeta disse: “Pois quem despreza o dias dos humildes começos” (Zc 4:10). Não despreze o dia das pequenas coisas, isto é, o dia da edificação do templo. Nas Escrituras há uma grande prefiguração da Igreja _ o templo. Quando Davi reinava, o povo de Deus era unido. Mais tarde, eles se dividiram em reino de Judá e reino de Israel. Os filhos de Deus começaram a dividir-se e, ao mesmo tempo, começaram a idolatria e a prostituição. Como resultado, foram capturados e levados para a Babilônia. Todos reconhecem que o cativeiro na Babilônia tipifica Tiatira, a Igreja Católica Romana. Desde que a Bíblia faz da Babilônia um símbolo de Roma, então também a igreja tem um cativeiro babilônico. Que fez o povo de Deus quando retornou do seu cativeiro? Eles voltaram debilmente, grupo por grupo, e edificaram o templo. Parece que eles tipificaram o movimento dos irmãos. Havia muitos judeus, os mais velhos, que viram o templo antigo; agora eles viam com os próprios olhos o estabelecimento do fundamento do templo e choraram em alta voz, porque o templo era inferior em gloria se comparado com aquele do tempo de Salomão. Contudo, Deus falou por intermédio do profeta menor, dizendo: “Não despreze o dia das pequenas coisas, porque este é o dia da restauração”. Aqui , o Senhor diz as mesmas palavras: “tens pouca força”. O testemunho da igreja hoje no mundo, comparado com os dias de Pentecoste, é realmente o dia das pequenas coisas.
“Guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome”. O Senhor os reconhece por duas coisas: não negar o nome do Senhor e não negar a sua Palavra. Na historia da igreja, nunca houve uma era na qual os homens conheceram tanto a Palavra de Deus quanto os irmãos. A luz era como a chuva de uma grande enchente impetuosa. Uma noite, quando eu estava em Xangai, encontrei um irmão que me disse ser cozinheiro em uma embarcação. Falei com ele demoradamente. Receio que muito poucos missionários conhecem a Palavra de Deus tão bem quanto ele. Na verdade, esta é uma das suas características mais evidentes_ eles conhecem a Palavra de Deus. Mesmo se encontrarmos o mais simples entre eles, ele terá mais clareza que muitos missionários.
O Senhor diz: “Não negaste o meu nome”. Desde 1825, os irmãos diziam que somente seriam chamados cristãos. Se alguém lhes perguntasse quem eram eles, eles diriam: “Eu sou cristão”. Mas se alguém perguntar a um membro da igreja metodista, ele dirá: “eu sou um metodista”; se encontrar alguém da Igreja dos Amigos, ele dirá: “Eu pertenço a igreja dos amigos”; alguém da Igreja Luterana dirá: “Eu sou Luterano”; alguém da Igreja Batista vai dizer: ” Eu sou Batista”. Alem de Cristo, os homens ainda usam muitos nomes pelos quais se autodenominam. Mas os filhos de Deus tem um único nome pelo qual chamam a si mesmos. O Senhor Jesus diz: “Orai em Meu nome” e “Reunidos em Meu nome”. Temos somente o nome do Senhor. Whitefield disse: “Sejam todos os outros nomes abandonados; seja somente o nome de Cristo exaltado”. Esses irmãos foram levantados para fazer exatamente isso. A profecia do Senhor diz a mesma coisa, que eles honraram o nome do Senhor. O nome de Cristo é o centro deles. Eles ouvem muito freqüentemente entre eles esta palavra: “O nome de Cristo não é suficiente para separar-nos do mundo? Não é suficiente simplesmente termos o nome do Senhor?”
Certa vez encontrei um crente num trem, que me perguntou que tipo de cristão eu sou. Respondi-lhe que sou apenas um cristão. Ele disse: “Não há tal cristão no mundo. Dizer que você é um cristão não significa nada; você tem de dizer que tipo de cristão você é. Isso é que faz sentido.” Repliquei-lhe: “Eu sou simplesmente um homem que é cristão. Você diz que um homem ser cristão não significa nada? Que tipo de cristão você diria que faz sentido ser? Quanto a mim, só posso ser um cristão _ nada mais”. Naquele dia tivemos uma conversa muito boa.
Devemos observar uma coisa: o pensamento fundamental de muitas pessoas é que o nome do Senhor não é suficiente. Muitos pensam que precisam do nome de uma denominação; eles acham que devem ter outro nome além do nome do Senhor. Não considere que nossa atitude em relação a isto seja exagerada demais. Aqui o Senhor diz: ” Não negaste o meu nome”. Se o meu sentimento está correto, todos os outros nomes são uma vergonha para Ele. Esta palavra “negaste” é a mesma palavra usada para referir-se a negação de Pedro ao Senhor. Que tipo de cristão sou eu? Eu sou um cristão. Não quero ser chamado por outro nome. Muitos não querem honrar o nome de Cristo e não estão dispostos a serem chamados apenas de cristãos. Mas, graças a Deus, a profecia de Filadélfia foi cumprida nos irmãos. Eles mesmo não tem qualquer outro nome característico. Eles são irmãos; eles não são “A Igreja dos irmãos”.
“Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. O Senhor fala à igreja em Filadélfia sobre a porta aberta. Os homens freqüentemente dizem que se você andar de acordo com as Escrituras, a porta será logo fechada. A mais difícil barreira a ultrapassar ao submeter-se ao Senhor é o fechamento da porta. Mas aqui, na verdade, a uma promessa: “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. No tocante aos irmãos, isto é um fato. No mundo todo, seja ao expor a Bíblia ou a pregar o evangelho, nenhum outro grupo de pessoas, teve as oportunidades que eles tiveram. Fosse na Europa, América ou África, era sempre a mesma coisa. Não há necessidade de sustento humano, de anuncio, propaganda ou contribuições; eles sempre têm muitas oportunidades para trabalhar, e a porta para trabalhar ainda está aberta.
“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de satanás, desses que a si mesmo se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei”. Já vimos pelo menos quatro coisas as quais têm feito o cristianismo tornar-se judaísmo: os sacerdotes mediadores, a lei de letras, o templo material e as promessas terrenas. Que diz o Senhor? “Eis que farei vir e prostrar-se aos teus pés”. O judaísmo é destruído nas mãos dos irmãos. Em todo lugar, no mundo inteiro há tal movimento. Onde eles estão o judaísmo é derrotado. Entre os que hoje realmente conhecem a Deus, a principal força do judaísmo tornou-se algo do passado.
“Porque guardaste a palavra da minha perseverança”. Isto está relacionado com “companheiro na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus”, em Apocalipse 1. Perseverança aqui é usada como um substantivo. Hoje é tempo da perseverança de Cristo. Hoje o Senhor encontra muitos que escarnecem dele, mas Ele é perseverante. Um dia o julgamento virá, mas ele hoje é perseverante. Sua palavra hoje é a palavra da perseverança. Aqui Ele não tem reputação, ele é uma pessoa humilde, ainda um nazareno, ainda o filho de um carpinteiro. Quando seguimos o Senhor, ele diz: “Guarda a palavra da minha perseverança”.
“Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”. Podemos usar Tchankin (cidades da china N.T.) como ilustração: dizer que o guardarei do bombardeio significa que você estará em Tchankin, mas será guardado do bombardeio. Se digo que o guardarei da hora, isto significa que antes daquela hora você acabou de partir para Chengtu. Quando o mundo todo estiver sendo testado (se refere à grande tribulação), não enfrentaremos a tribulação. Antes que aquela hora chegue, já teremos sido arrebatados. Em toda a Bíblia há somente duas passagem que falam da promessa do arrebatamento: Lucas 21:36 e Apocalipse 3:10. Hoje devemos seguir o Senhor, não viver frouxamente, aprender a viver no caminho de Filadélfia e pedir ao Senhor para livrar-nos de todas as provações que vêm.
“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. O Senhor diz: “Venho sem demora”, portanto, esta igreja deve continuar até a volta do Senhor. Tiatira não passou, Sardes não passou e Filadélfia ainda não passou também. “Conserva o que tens”, ou seja “A minha Palavra” e o “Meu nome”. Não devemos esquecer a palavra do Senhor e não devemos envergonhar o nome do Senhor. “Para que ninguém tome tua coroa”: todos em Filadélfia já têm a coroa. Nas outras igrejas há o problema de ganhar-se a coroa; aqui o problema é perdê-la. O Senhor diz que já temos a coroa. Em toda a Bíblia apenas uma pessoa sabia que tinha a coroa: Paulo (2Tim 4:8). Assim também entre as igrejas, somente Filadélfia sabe que tem a coroa. Não permita, agora, que nenhum homem tome sua coroa; não saia de Filadélfia deixando sua posição. Aqui diz: “Conserva o que tens para que nenhum homem a tome”.
Isto nos diz claramente que Filadélfia corre um perigo em particular; de outra maneira, o Senhor não lhe teria dado tal advertência. Além disso, esse perigo é bastante real; essa é a razão porque o Senhor lhes deu ordens de modo tão sério. Qual é o perigo que eles correm? O perigo está em perder o que já conseguiram. Assim, o Senhor pede a eles para conservarem o que têm. O perigo não está em não progredirem; antes, está no retrocesso. Eles estão agradando o Senhor porque amam uns aos outros e são fieis à Palavra do Senhor e a seu nome. O perigo está em perder este amor e fidelidade. Que terrível! Mas de fato isto foi o que realmente aconteceu. Após 20 anos, os irmãos também dividiram-se em dois grupos: os “exclusivos” e os “abertos”, e dentro das duas divisões há muitas facções. Portanto, em Filadélfia também há o chamado aos vencedores.
Qual foi a razão desse problema? Devemos ser muitos cuidadosos e humildes; do contrario, seremos envolvidos no mesmo erro. Cremos que qualquer tipo de divisão é resultado da perda de amor de um pelos outros; quando o amor não existe ou está faltando, as pessoas dão atenção às leis, enfatizam comportamentos forçados e perdem-se em detalhes procurando falhas. Uma vez que o amor está em perigo, as pessoas ficaram orgulhosas de si mesmas e invejosas das outras, gerando, então, controvérsias e disputas. O Espírito Santo é a força da unidade, enquanto a carne é a força da divisão. A menos que a carne seja tratada, cedo ou tarde ocorrerá a divisão.
Além do mais, creio que a carência dessa época foi que os Irmãos Unidos não viram a base e o limite da igreja. Eles viram claramente, do lado negativo, os pecados da igreja, mas do lado positivo, quanto à igreja deve amar um ao outro a ser unânime quanto á base e limite da cidade, eles não viram adequadamente. A Igreja Católica Romana dá atenção á união de uma igreja nesta terra, enquanto os Irmãos Unidos deram atenção a uma união idealista de uma igreja espiritual nos céus. Eles não viram ou, pelo menos, não viram tão claramente que o amor de uns pelos outros nas epistolas é o amor de uns pelos outros na igreja em uma cidade; a unidade é a unidade da igreja em uma cidade; o ajuntamento é o ajuntamento da igreja em uma cidade a edificação é a edificação da igreja na cidade; e até mesmo a excomunhão é a excomunhão da igreja em uma cidade. De qualquer forma somente dois tipos de pessoas falam sobre a unidade da igreja: a Igreja Católica Romana fala da unidade de todas as igrejas na terra, enquanto os Irmãos Unidos falam da unidade espiritual nos céus. Como resultado, a primeira não é senão a unidade em aparência exterior, enquanto a ultima é a unidade idealista; na verdade, porem, é divisiva. Ambas não atentaram para a unidade da igreja em cada e toda cidade como registrado na Bíblia.
Desde que os Irmãos Unidos não deram tanta atenção ao fato de que a igreja tem a cidade como seu limite, os “Irmãos Exclusivos” exigiram ação unificadora por todo o lugar, resultando na quebra do limite da cidade e caindo no erro da igreja unida; enquanto os “Irmãos Abertos” exigiram a administração independente de cada reunião, cujo resultado em muitas cidades foi muitas igrejas em uma cidade, caindo assim no erro da igreja congregacional, que torna cada congregação uma unidade independente. Os “Irmãos Exclusivos” excedem o limite da cidade, enquanto os “Irmãos Abertos” são menores que os limites da cidade. Eles esquecem que na Bíblia a uma e apenas uma igreja em cada cidade. As palavras na Bíblia para a igreja são dirigidas para esse tipo de igreja. É muito estranho que a tendência de hoje seja mudar as palavras que, na Bíblia, são ditas para a igreja em uma cidade, para palavras faladas para a igreja espiritual. Além disso, alguns irmãos estabelecem uma igreja que é menor que a cidade _ a igreja “casa” é um exemplo. Mas na bíblia não há nenhuma “união de igrejas” das igrejas de todo lugar nem há igrejas de congregações e de reuniões em uma cidade como igrejas independentes. Uma igreja para varias cidades, ou várias igrejas em uma cidade _ ambas não são ordenadas por Deus. A palavra de Deus claramente revela que uma cidade pode ter uma só igreja, e somente pode haver uma igreja em cada cidade. Ter uma igreja do tamanho de muitas cidades exige uma unidade que a Bíblia não exige, e ter várias igrejas em uma cidade divide a unidade que a Bíblia exige.
A dificuldade dos Irmãos unidos naqueles dias foi que eles não tinham suficiente clareza a respeito do ensinamento da Bíblia sobre a cidade. O resultado é que desde que aqueles que tomaram o tipo de unidade “União de Igrejas” uniram-se a irmãos em outros lugares, eles não mais temeram estar divididos com os irmãos na mesma cidade. E os que tomavam a reunião como uma unidade e não tinham problema com os irmãos da mesma reunião, não temeram estar dividido com os irmãos que estivessem em outras reuniões na mesma cidade. Porque eles não perceberam a importância dos ensinamentos da Bíblia a respeito da cidade, resultaram divisões em cada caso. O Senhor não exigiu a unidade impraticável de todos os lugares. O Senhor não permitiu tomar-se uma reunião como limite da unidade _ isso é livre demais; é licencioso, sem restrição ou instrução. Apenas uma palavra de desacordo e imediatamente outra reunião é estabelecida com três ou cinco como um grupo, e isso é considerado como unidade. Pode haver somente uma unidade em cada cidade. Que restrição para aqueles com licenciosidade carnal!
O movimento dos irmãos ainda continua. E a luz sobre a “cidade” está cada vez mais clara. Até que ponto o Senhor irá trabalhar, nós não sabemos. Podemos somente aguardar pela história; então teremos clareza. Se nossa consagração ao Senhor é absoluta e nós mesmos somos humildes, receberemos misericórdia para sermos guardados do erro.
“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais saírá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome”. Durante a Época de Filadélfia tem havido muitos casos de excomunhão de irmãos. Mas aqui eles não podem mais ser excomungado; eles serão uma coluna no templo de Deus. Se a coluna é removida, o templo não permanece em pé. Filadélfia faz com que o templo de Deus permaneça em pé. Há três nomes gravados sobre o vencedor: o nome de Deus, o nome da Nova Jerusalém e o novo nome do Senhor. O plano eterno de Deus está cumprido. As pessoas em Filadélfia retornam ao Senhor e O satisfazem.
“Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz as igrejas”. Lembre-se, Deus não manteve em segredo o desejo do Seu coração; Ele tem indicado muito claramente o caminho diante de nós.
Está se tornando usual, em nossos dias, a aplicação indevida dos verbos poder e dever. Conforme a conveniência ou ponto de vista que se queira defender, dissimuladamente fazem a substituição desses verbos em artigos ou comentários bíblicos que passam desapercebidos pelos menos atentos, gerando costumes ou tradição ao arrepio da sã doutrina.
O verbo poder representa a faculdade ou possibilidade de fazermos alguma coisa de acordo com o nosso livre-arbítrio. Tanto é verdade que esse verbo não é conjugável no modo imperativo. Já o verbo dever tem o significado absoluto de ter a obrigação de fazer-se aquilo que está determinado ou sugerido.
Para exemplificar: podemos cometer pecado? Sim, porque isso faz parte da influência carnal que possuímos, está dentro da nossa capacidade física ou mental; por isso pecamos e diariamente temos de confessar nossos pecados a Deus (1Jo 1.8-10). Por outro lado, devemos viver assiduamente no pecado? Claro que não, pois isto está claramente determinado na Palavra de Deus que não devemos permanecer no pecado, tendo em vista que é nisto que se diferenciam os filhos de Deus e os filhos do diabo (1Jo 3.9,10). Portanto, nem tudo que se pode fazer é o que deve ser feito, sob pena de estarmos pecando e nos identificando com os desobedientes a Deus.
Ninguém, em sã consciência, discordará da afirmação de Paulo que os maridos devem amar a esposa assim como Cristo amou a Igreja a ponto de se entregar por ela (Ef 5.22-33). Sabiamente, as mulheres dão grande ênfase a esta passagem, tendo em vista que a elas é determinado que sejam submissas ao marido, como ao Senhor, logo a recíproca tem de ser verdadeira, ou seja, as mulheres se submetem por obediência ao Senhor e, em nome dessa mesma obediência, o marido lhes deve amor na mesma plenitude que Cristo amou a Sua Igreja.
Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.
O que causa estranheza é que o mesmo vernáculo – deve – usado em Efésios 5.28, que, no original grego, denota uma inquestionável obrigação moral, não é aceito, principalmente pelas mulheres, em 1Coríntios 11.10, que afirma que a mulher deve trazer um sinal de submissão ou autoridade em sua cabeça por causa dos anjos. Nesta passagem o verbo está conjugado no modo imperativo afirmativo, que não deixa nenhuma dúvida quanto à ordem nele contida. Como é possível o mesmo verbo ter sentidos diferentes em Efésios 5.28 e em 1Coríntios 11.10? Dever implica em obrigação; logo, não cumprir aquilo que é determinado na Bíblia é desobediência a Deus.
É impressionante como muitas pessoas têm gasto um precioso tempo levantando argumentos, até mesmo absurdos, para justificar o descumprimento da determinação bíblica que a mulher deve cobrir a cabeça nas reuniões da igreja. Esses argumentos geram uma confusão tamanha que faz com que as lideranças de algumas igrejas locais deixem o uso do véu a critério pessoal de cada irmã, como se houvesse duas verdades na Bíblia.
A isto chamamos de a Síndrome de Pilatos, ou seja, conhece-se a verdade, porém é “politicamente correto” não a aplicar; com isso, “lavam-se as mãos” jogando a responsabilidade da decisão sobre as mulheres. Esse procedimento, de não assumir responsabilidades, foi utilizado por Pilatos para encaminhar Jesus Cristo para a morte. Por definição: responsabilidade não se transfere, assume-se para não se tornar um irresponsável.
Creio ser oportuno avaliarmos alguns dos argumentos apresentados por aqueles que procuram justificar a desobediência do não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas realizadas pela igreja local.
O Argumento Restritivo
“O assunto era específico à igreja em Corinto.”
Os que assim argumentam se estribam no erro de que a Primeira Epístola aos Coríntios se prende obstinadamente a fatos locais; logo, o uso do véu pelas mulheres seria específico para aquela igreja local.
Sem dúvida, essa afirmação é absurda, pois é claríssima a universalidade da epístola: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome do Senhor Jesus, Senhor deles e nosso” (1.2). Será por demais pretensioso afirmar que os males que afligiam aquela igreja jamais ocorreriam em outras. O Espírito Santo orientou Paulo nesse sentido a fim de que as demais igrejas aprendessem com os erros cometidos por aqueles irmãos e evitassem os mesmos procedimentos.
Sabemos que, apesar dessas admoestações, esses erros não deixaram de ser praticados, pois, ainda hoje, cometem-se os mesmos pecados apesar das advertências contidas nesta carta. Dizer-se que assuntos correlatos à ordem nos cultos, à participação na ceia, ao ordenamento dos dons espirituais, à sublimidade do amor, à ressurreição dos mortos e aos assuntos pertinentes à coleta seriam específicos à igreja em Corinto é, no mínimo, por desconhecimento bíblico, pois, se for de caso pensado, é má-fé.
O Argumento Cultural
“O uso do véu era um costume social da época em Corinto.”
Pelo fato de Paulo fazer uma referência quanto ao costume social do tamanho do cabelo a ser usado por homens e mulheres (1Co 11.14,15), isto não significa que ele estivesse fazendo o mesmo com o véu.
A comparação é uma figura de linguagem que facilita o ensino ou a explicação sobre determinado aspecto. Um quilo de ilustração vale por uma tonelada de explicações, porém, quando o espírito farisaico prevalece não há ilustração que dê jeito. Lembremo-nos das parábolas de Cristo e a rebeldia dos judeus.
Se a afirmação que o uso do véu para as mulheres é coisa do passado e era aplicado somente naqueles dias, isto vale dizer que o inverso também é verdadeiro, ou seja, os homens de hoje deveriam orar com a cabeça coberta, pois Paulo teria determinado somente para aquela época que o homem devia, ao contrário das mulheres, orar com a cabeça descoberta (v. 4). Teriam, porventura, os homens de hoje de usar o “tallith” (um xale de quatro pontas) sobre a cabeça como faziam e fazem atualmente os judeus que oram com a cabeça coberta nas sinagogas, tendo em vista que o costume da cabeça descoberta seria somente para aquela época?
Percebam o absurdo dessa interpretação! Se não bastasse isso, se o uso fosse válido somente para aquela época, isto equivale dizer que hoje em dia os anjos do Senhor não mais estariam ao redor daqueles que O temem. O verso 10 de 1Coríntios 11 é claríssimo: a mulher deve trazer a cabeça coberta por causa dos anjos. Ensinar que a mulher não deve usar véu é o mesmo que dizer que os anjos não existem ou não atuam mais!
O escritor de Hebreus não deixa dúvida quanto ao ministério dos anjos junto à igreja: “São todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Os anjos do Senhor não podem contemplar a desobediência das servas, pois o uso do véu pela mulher é um sinal da sua submissão, assim como eles são submissos e se cobrem com suas asas ao comparecerem perante o Trono de Deus (Is 6.2).
Com base nesse mesmo trecho de Isaías 6.2, há afirmações incorretas de que o homem também deveria cobrir a cabeça em suas orações a Deus. A Palavra de Deus é claríssima a esse respeito: “Na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus” (1Co 11.7).
É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância!
Convém ressaltar que o citado verso 10 de 1Coríntios 11 contém uma profunda sabedoria. O vernáculo grego exousia significa “o direito de fazer alguma coisa”, ou seja, a cabeça coberta da mulher lhe outorga autoridade para orar, adorar e exercer os seus dons espirituais e, com essa atitude, ela se legitima perante os anjos e concomitantemente perante a igreja, conforme os versos 13 e 16 de 1Coríntios 11. Portanto, fica extremamente claro que essa legitimidade é manifestada pelo véu que a mulher trouxer na sua cabeça, pois o exercício da sua autoridade está sendo demonstrado pelo sinal da sua submissão. Isto é sabedoria de Deus!
É lamentável a errônea interpretação de que a sujeição das mulheres pelo uso do véu é um sinal de que elas são inferiores aos homens. Isto é ignorância! Submissão não é sinônimo de inferioridade. Jesus sujeitou-se ao Pai, porém jamais Lhe foi inferior porque Ele – assim como o Pai – é Deus. Jesus deixou claro isso ao afirmar que, enquanto Ele aqui estivesse, o Pai seria maior e não melhor que Ele. Isto diferencia sujeição de inferioridade (Jo 10.30; 17.11,21-23). Qualquer outra interpretação fica por conta do inimigo de nossa alma.
O Argumento da Substituição
“O cabelo comprido substitui o uso do véu na igreja.”
Jamais Paulo fez tal afirmação. O uso da figura de linguagem do cabelo comprido das mulheres, que para elas era uma glória, pois a cabeleira lhes fora dada em lugar da mantilha (1Co 11.15), é uma explicação à sua própria indagação. “Julgai entre vós mesmos: é conveniente que uma mulher ore com a cabeça descoberta a Deus?” (v. 13). Essa figura de linguagem em hipótese nenhuma anula a obrigatoriedade do cumprimento do verso 10.
É erro grotesco afirmar-se que o cabelo comprido do verso 15 substitui o véu do verso 6, pois os vernáculos usados no original grego para essas vestimentas não são os mesmos; ou seja, no verso 6 trata-se realmente de um véu, peça de tecido mais leve, e, no verso 15, de mantilha, vestimenta feminina mais pesada.
Aprendemos em hermenêutica que, em nenhuma hipótese, devemos fixar uma doutrina ou norma tendo como base uma figura de linguagem, pois ela serve somente para ilustrar. Aquilo que está sendo ilustrado é que deverá prevalecer.
O Argumento da Ausência
“Se não houver varão presente às reuniões, a mulher pode orar sem véu.”
Outra afirmação improcedente. O que é que tem a ver uma coisa com a outra? A mulher não usa véu por causa do homem, mas por causa dos anjos, como sinal da sua autoridade e submissão à ordenança contida na Palavra de Deus. Os versos 5 e 6 de 1Coríntios 11 são extremamente claros: “Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também; se, porém, para a mulher é vergonhoso ser tosquiada ou rapada, cubra-se de véu.”
Paulo ilustra a cabeça descoberta com a punição que era dada às mulheres devassas [rapar o cabelo]. O Espírito Santo levou Paulo a ser extremamente enérgico nessas colocações. De fato, ele está afirmando que seria vergonhoso para a mulher orar com a cabeça descoberta porque, desta forma, estaria se colocando no mesmo nível daquelas que, por viverem no pecado, eram excluídos da sociedade.
O Argumento Indecoroso
“Paulo não gostava de mulher.”
Sem dúvida, essa afirmação vem do inferno. O movimento feminista infiltrado em algumas igrejas denominacionais tem lançado essa leviandade, com a maldosa insinuação de que Paulo era casto por não gostar de mulher.
Quanta maldade somente para justificar o uso do púlpito e o não uso do véu pelas mulheres nas reuniões públicas da igreja local! As revelações contidas na Palavra de Deus não são de entendimento humano, mas por inspiração do Espírito Santo. Paulo afirma em 2Timóteo 3.16: “Toda Escritura é divinamente inspirada”. Pedro reafirma em 1Pedro 1.20.21: “Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.”
Portanto, quem manda as mulheres se cobrirem nas reuniões públicas da igreja com o véu não é Paulo, mas o Espírito Santo que é de Deus. A maledicência lançada contra Paulo é indecente, pois ele jamais se desagradou das mulheres ou as menosprezou, como ele mesmo escreve em Gálatas 3.28: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois de Cristo Jesus.”
Propositadamente as feministas se esquecem da menção que Paulo faz em suas epístolas às valorosas e dedicadas servas que, como ele, gastaram a vida em prol do Evangelho, e que, por certo, oravam com a cabeça coberta. É torpeza colocar dúvida sobre a masculinidade de Paulo pelo fato de ele praticar a castidade (1Co 7.7-9). Por trás de toda essa desavença criada pelas feministas em torno do uso do véu, está o velado descontentamento das mulheres em usá-lo por entenderem que Paulo teria sido extremamente injusto com elas na medida em que as colocou em sujeição ao homem. Essa idéia é absurdamente errada! A sujeição da mulher ao homem vem desde a criação, e não se trata de uma “invenção” de Paulo, mas é uma determinação de Deus.
Desde o princípio da criação a liderança do homem e a sujeição da mulher são determinadas por Deus, tendo em vista que o homem é a imagem e glória de Deus e a mulher, a glória do homem (11.7). O homem foi colocado no mundo como representante de Deus para exercer domínio sobre a terra e a sua cabeça descoberta é um testemunho silencioso desse fato.
Portanto, o homem não deve cobrir a cabeça, pois tal ato seria um grande insulto a Deus porque estaria cobrindo a Sua glória. À mulher nunca foi dada essa liderança. Deus a colocou como ajudadora do homem. O diabo, em sua astúcia, induziu Eva a usurpar a liderança que pertencia a Adão na medida em que ela, sozinha, decidiu manter aquele fatídico diálogo. Por isso, Deus determinou à mulher: “Ele [o homem] te dominará” (Gn 3.16). Eliminar essa sujeição é coisa do diabo; desde o princípio ele persiste nisso.
O Argumento do Paradigma
“Nas igrejas denominacionais históricas as mulheres não usam véu.”
Se somos como somos é porque entendemos que assim devemos ser como igreja de Cristo que somos; ou seja: se nos reunimos dessa forma é porque cremos que devemos ter por modelo a igreja primitiva, que é algo sobremodo difícil em nossos dias em virtude das muitas tradições que foram criadas no meio tido como evangélico.
Assim como ocorreu no judaísmo e no catolicismo, o protestantismo se tem conduzido mais pelas tradições humanas do que propriamente pelas revelações contidas na Palavra de Deus. Amamos os irmãos denominacionais, porém, se nos reunimos procurando o padrão autêntico das igrejas neo-testamentárias, isso significa que não devemos aceitar tradições humanas misturadas ao ajuntamento solene.
As mesmas vozes que evocam o costume das denominacionais históricas para o não uso do véu pelas mulheres são as mesmas que não concordam, dentre tantas outras coisas, com a diferenciação que é feita entre o clérigo e o leigo cujo princípio eclesiástico nega, de fato, a unidade de todos os crentes. O vocacionamento clerical é estranho aos ensinamentos contidos na Palavra de Deus, pois “como pedras vivas, somos edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pe 2.5). Portanto, todos os cristãos nascidos espiritualmente de novo possuem o mesmo sacerdócio.
Que diremos, então, acerca de distorções doutrinárias? Por que, então, somente determinada prática nos serve, como o não uso do véu, e não há concordância em relação às demais? Não seria uma hipocrisia pensarmos dessa forma, ou seja, naquilo que atende aos anseios das mulheres as tradições das igrejas denominacionais devem ser seguidas? Creio que Paulo nos dá essa resposta em 1Coríntios 11.16: “Se alguém quiser ser contencioso [ao permitir que a mulher ore sem véu], nós não temos tal costume, nem tampouco as igrejas de Deus.”
O Argumento Doutrinário
“A obrigatoriedade do uso do véu não é um ponto doutrinário por estar revelado em apenas uma passagem da Palavra de Deus.”
É sobremodo estranho o ensino que surgiu em nosso meio de que uma doutrina bíblica somente é válida quando existe no mínimo mais de uma passagem que confirme a sua condição como tal.
O nosso assunto aqui não é o de abrir um debate sobre hermenêutica, porém, se essa afirmação fosse verdadeira, a maioria das citações escatológicas não seria doutrinária. Basta lermos o Apocalipse e veremos que grande parte dos assuntos nele contidos estão revelados somente lá; ou ainda, não poderemos afirmar que os mortos não serão arrebatados antes dos vivos simplesmente pelo fato de isso estar revelado apenas em 1Tessalonicenses 4.15-17.
É impressionante como se inventa tanto por causa de algo tão simples que é o uso do véu pelas mulheres.
O Argumento da Concorrência
“O tamanho e a cor do véu promovem um desfile de moda na igreja.”
Por último, justifica-se o não-uso do véu pelo fato de que poderá haver entre as mulheres uma concorrência ou desfile de moda pela multiplicidade de cores e tamanhos dos véus. Justificar que o uso do véu criaria uma disputa de moda entre as irmãs é uma afirmação temerária. Os vestidos, as calças compridas (por vezes coladas ao corpo), as saias (por vezes curtas demais), as bluas, os sapatos, as meias, os brincos, os anéis, os colares, os esmaltes, os batons, etc. não causam concorrência, mas o véu promoverá isso?! Não devemos subestimar a Deus dessa forma, pois é o Espírito Santo que determina o uso do véu.
Quanto ao tamanho gerar um modismo, pelo fato de que, quanto menor o véu, mais elegante a mulher fica, particularmente pode-se entender que se é ruim usar um véu pequeno, pior será não usar nenhum. Porém, é verdadeiro que está havendo um abuso em nossos dias pelo uso de véus minúsculos, que os descaracterizam como a cobertura estabelecida na Palavra de Deus.
Pelo fato do seu tamanho não ser determinado explicitamente no citado trecho, isto não significa que qualquer coisa que se coloca sobre a cabeça estaria cumprindo com a divina determinação. Convém lembrar que o uso do véu ordenado por Deus não é uma mera vestimenta, mas um sinal (1Co 11.10) e, por inferência, sabemos que qualquer que seja um sinal, ele somente atinge seu objetivo na medida que revela nitidamente aquilo que ele se propôs mostrar.
A prudência e a moderação são virtudes recomendadas para cercear qualquer tipo de exagero tanto para mais como para menos, pois há que se ter acentuado cuidado com as posições extremistas.
Segundo o consagrado servo do Senhor William MacDonald (The Believer’s Bible Comentary), “o véu somente é válido quando o seu uso exterioriza a graça interior da mulher. A coisa mais importante no uso do véu deve ser a certeza de que o coração está realmente submisso: o véu sobre a cabeça das mulheres possui esse real significado (…)”.
Portanto, o tamanho e a cor não são coisas fundamentais; o que verdadeiramente importa é a sujeição das mulheres às determinações contidas na Palavra de Deus. As cores e tamanhos serão adequados por elas próprias segundo a graça que interiormente possuem pela habitação do Espírito Santo.
Isto equivale dizer que o não-uso do véu significa a inexistência de reverência e temor a Deus, e é uma questão definitiva e incontestável na Palavra de Deus. A recusa ou omissão das mulheres com respeito ao uso do véu nas reuniões públicas da igreja são demonstrações de rebeldia a Deus. As vozes discordantes são por conta de interpretações de particular elucidação, não por revelação divina.
Que diremos, pois, à vista destes argumentos? Atentemos para o convite de Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1Co 11.1). Permita Deus que assim seja!
(Extraído de um xerox desse artigo na revista Amados…, 32, sem identificação de editora ou de local de publicação. Se alguém conhecer os detentores dos direitos autorais desse texto ou se a revista ainda é publicada, favor entrar em contato.)
“Pois vós, irmãos, vos tornastes imitadores das igrejas de Deus em Cristo Jesus que estão na Judéia” (1Ts 2:14)
A ignorância que prevalece no Cristianismo agora em relação às Igrejas de Deus é profunda e mais geral que qualquer outro erro sobre qualquer outro tema das Escrituras. Muitos que são fortes em relação ao Evangelho e são corretamente ensinados sobre os grandes fundamentos da fé, estão equivocados em relação à Igreja. Há de se notar que a confusão que abunda diz mais respeito a palavra “Igreja”. Há poucas palavras com tamanha variedade de sentidos. O homem comum entende por “igreja” um edifício no qual as pessoas se congregam para a adoração pública. Porém os que compreendem melhor, sabem que o termo se refere as pessoas que se congregam neste edifício.
Outros usam o termo em um sentido denominacional e chamam de a “Igreja Metodista” ou a “Igreja Presbiteriana”. Também se emprega para chamar de instituições do Estado como a “Igreja da Inglaterra” ou a “Igreja da Escócia”.
Para os papistas, a palavra “igreja” é quase sinônimo da palavra “salvação”, porque eles ensinam que todos os que estão fora da “Santa Igreja Mãe” estão eternamente perdidos.
Para muitos que são até mesmo povo de Deus, parece não interessar-lhes o que Deus pensa sobre o tema. É triste notar que homens devotos no Evangelho, que proclamam a Palavra de Deus, nos comentam que não se molestam em relação à doutrina da Igreja; que a salvação é um tema mais importante; e o estabelecimento dos Cristão nos fundamentos é tudo o que é necessário.
Vemos que eles dão capítulo e versículo para cada declaração que fazem e enfatizam a autoridade da Palavra de Deus, porém cerram os olhos à seus ensinamentos sobre a Igreja.
Que constitui uma Igreja Neotestamentária ?
Que haja multidões de supostos Cristãos que desdenham a importância desta questão em manifesto. Suas ações os demonstram. Não se molestam em contestar a pergunta. Alguns estão contentes em ficar fora de qualquer Igreja terrenal. Outros se unem a alguma igreja por considerações sentimentais, porque seus pais ou seus parentes pertencem à ela. Todavia outros se unem a uma igreja por motivos mais baixos, por razões políticas ou de negócios. Porém isto não deve ser assim.
Se o leitor é um Anglicano, deve sê-lo porque está convencido de que sua igreja é a mais bíblica. Se é presbiteriano, deve sê-lo pela convicção de que sua igreja está mais de acordo com a Palavra de Deus. E assim também se és Batista, ou Metodista, etc.
Há muitos outros que não guardam nenhuma esperança de poder contestar satisfatoriamente a pergunta: O que é uma Igreja Neotestamentária ? A confusão que causam no Cristianismo, as numerosas seitas e denominações, que diferem amplamente na doutrina e na constituição da igreja e na sua idéia sobre o governo, tem desanimado a muitos. Não dispõe de tempo necessário para examinar as declarações de muitas denominações. Muitos Cristãos são pessoas muito ocupadas, que trabalham muito para ganhar a vida, e não tem o tempo necessário para investigar adequadamente os méritos escriturísticos dos diferentes sistemas eclesiásticos.
Conseqüentemente deixam de um lado a questão, porque a vem demasiadamente difícil e complexa para poder chegar a uma conclusão satisfatória e conclusiva. Porém não, a solução não deve ser assim. Em vez de que estas diferenças de opiniões nos deixem perplexos, devem estimular-nos a chegar a compreender a mente de Deus em relação ao assunto. Se Ele nos diz que devemos “comprar a verdade”, o que implica que o esforço e o sacrifício são necessários, somos convidados a “provar todas as coisas”.
Agora, é óbvio a todos que deve haver uma maneira mais excelente do que examinar os credos e os artigos de fé de todas as demais denominações. O único método satisfatório para descobrir a resposta divina à pergunta é voltarmos para o próprio Novo Testamento e estudar seus ensinamentos relacionados à “Igreja”; não os pontos de vista de algum homem piedoso; não aceitando o credo de uma Igreja a qual pertencem os meus pais; mas sim provando todas as coisas por si mesma. O povo de Deus não tem nenhum direito de organizar uma igreja sobre fundamentos que não são os que governaram as Igrejas no tempo do Novo Testamento. Uma instituição cujos ensinamentos ou governo são contrários aos Novo Testamento sem dúvida não é uma igreja neotestamentária.
Agora, se Deus tem considerado de suma importância colocar entre as páginas de inspiração, o que é uma igreja neotestamentária, então deve ser importante para cada homem ou mulher estudar o que está escrito, e submetermos a sua autoridade e conformarmos à sua conduta. Assim que apelo ao Novo Testamento unicamente e busco a resposta a nossa pergunta.
1. Uma Igreja Neotestamentária é um corpo local de crentes.
Muita confusão tem sido o resultado de se utilizar adjetivos que não se encontram no Novo Testamento. Se fossemos perguntar a alguns Cristãos: a que igreja você pertence ? Contestariam: a grande igreja invisível de Cristo – uma igreja que é intangível e invisível. Quantos repetem o Credo dos Apóstolos, “Creio na santa igreja católica ?, que certamente não era parte alguma no credo que os apóstolos mantiveram. Outros falam de uma “igreja militante” e de uma “igreja triunfante”, porém nenhum destes termos se encontram nas Escrituras, e os empregarmos somente cria dificuldade e confusão. No momento que deixamos de reter “o modelo das sãs palavras” (2 Timóteo 2:13) e usamos termos não-escriturísticos, somente nos confundimos ainda mais. Não podemos melhorar as Sagradas Escrituras. Não há necessidade de inventar mais temos, fazê-lo é criticar o vocabulário do Espírito Santo. Quando alguns falam de uma igreja universal de Cristo, empregam um termo anti-escriturístico. O que querem dizer é “a família de Deus”. Esta última expressão inclui toda a companhia dos eleitos, porém a palavra “Igreja” não tem o mesmo sentido.
O tipo de Igreja que é enfatizado no Novo Testamento não é nem invisível nem universal, mas visível e local. A palavra para “igreja” é ekklesia e os que conhecem a língua grega estão de acordo que significa uma assembléia. Uma assembléia é uma companhia de gente que realmente se reúne. Se nunca se reúnem, então isso seria um mal uso da linguagem dizer que são uma assembléia. Por isso, como todo o povo de Deus nunca tem estado em uma assembléia, juntos, não há uma Igreja ou assembléia universal. Essa igreja é todavia futura porque ainda não tem uma existência corporal.
Para provar o que se disse acima, vamos examinar as passagens onde o termo foi usado pelo nosso próprio Senhor durante os dias de sua carne. Somente duas vezes nos quatro Evangelhos encontramos a Cristo falando de sua “Igreja”. A primeira está em Mateus 16:18, onde disse Jesus a Pedro “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. A que tipo de Igreja se referia o Salvador? A grande maioria dos Cristãos pensam que foi a grande Igreja invisível, mística e universal, que inclui todos os redimidos. Porém certamente estão equivocados. Se isto houvesse sido o sentido da palavras, necessariamente haveria dito “Sobre esta pedra estou construindo minha Igreja”. Porém disse “construirei”, tempo futuro. O que demonstra que quando falou estas palavras, a Igreja não tinha existência, salvo no propósito de Deus. A igreja à qual Cristo se refere em Mateus 16:18 não podia ser universal, isto é, uma igreja que inclui todos os santos de Deus, porque o tempo do verbo que emprega manifestamente exclui os santos do Antigo Testamento. Além disso, nosso Senhor não se referia à Igreja na glória, porque essa Igreja já não estará sob o perigo das portas do inferno. Sua declaração que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” sem dúvida esclarece que se refere a Sua Igreja sobre a terra, uma Igreja visível e universal.
O único outro exemplo de nosso Senhor falando da Igreja quando esteve na terra, se encontra em Mateus 18:17: “Se recusar ouvi-los, dize-o à igreja; e, se também recusar ouvir a igreja, considera-o como gentio e publicano”. Agora, o único tipo de Igreja a qual um irmão pode falar de seus problemas é um Igreja visível e local. Isto é tão óbvio que não há necessidade de falar mais deste ponto.
No último livro do Novo Testamento, encontramos o nosso Senhor usando o termo outra vez. Primeiro em 1:11 disse a João “Escreve em um livro o que vês, e enviá-lo às sete igrejas que estão na Ásia”. Outra vez, é claro que o Senhor fala de igrejas locais. Depois disto, o Senhor usa a palavra 19 vezes no Apocalipse e em cada passagem a referência foi à Igrejas locais. Sete vezes repete “O que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”, não disse “ouça o que o Espírito diz à Igreja” – o que haveria dito se a opinião popular fosse a correta.
A última referência no Apocalipse está em Apocalipse 22:16: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã”. A razão disto é que a Igreja de Cristo ainda não tem nenhuma existência tangível e incorporada, seja na glória ou sobre a terra; tudo o que tem agora são suas Igrejas locais.
Uma prova adicional de que o tipo de Igreja que é enfatizado no Novo Testamento é local e visível, está em outros passagens da Escritura. Lemos da “igreja que estava em Jerusalém” (Atos 8:1), “a igreja que estava em Antioquia” (Atos 13:1); “a igreja de Deus que está em Corinto” (1 Coríntios 1:2) – tomem nota de que ainda que esta Igreja tinha vínculos com as demais Igrejas, se distingue de “todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 1:2). Outra vez lemos de Igrejas, plural no número. “Assim as igrejas em toda a Judéia, Galiléia e Samária, tinham paz…” (Atos 9:31); “…As igrejas de Cristo vos saúdam” (Romanos 16:16); “…as igrejas da Galácia” (Gálatas 1:2). Assim que se pode ver que a idéia proeminente e dominante no Novo Testamento, foi de Igrejas locais e visíveis.
2. Uma Igreja Neotestamentária é um corpo local de crentes batizados.
Por “crentes batizados” quero dizer Cristão que tenha sido submergido em água. Em todo o Novo Testamento, não há nem um só caso de alguém que chegara a ser membro de uma igreja de Jesus Cristo sem ser primeiro batizado; há muitos casos, muitas indicações e provas de que todos os que pertenciam às igrejas nos dias dos apóstolos eram Cristãos batizados.
Vamos ver primeiro a última parte de Atos 2:47: “E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos”. Notem que o versículo não diz que “Deus” ou “o Espírito Santo” ou “Cristo” mas “o Senhor” acrescentava. A razão é esta: “o Senhor” leva a idéia de autoridade e os que Ele acrescentava à igreja haviam se submetido ao Seu senhorio. E a maneira pela qual haviam submetido a Ele está nos versículos 41-42: “De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas; e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Assim que durante os dias mais primitivos desta dispensação, o Senhor acrescentava à Sua igreja pessoas que estavam batizadas.
Vejam a primeira das epístolas. Romanos 12:4-5 demonstra que os santos em Roma formavam uma igreja local. Agora regressemos a Romanos 6:4-5 onde encontramos o apóstolo dizendo aos membros de Roma (e deles): “Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição”. Assim que os membros da igreja local em Roma eram cristãos batizados.
Agora considerem a igreja em Corinto. Em Atos 18:8 lemos: “e muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados”. Outra prova de que os santos de Corinto foram batizados se acha em 1 Coríntios 1:13-14; 10:2,6. E 1 Coríntios 12:13 traduzido corretamente (espero comentar sobre esta passagem em outro artigo mais adiante) expressamente afirma que a entrada à assembléia local é pelo batismo nas águas.
E antes de passar a outro ponto, permita-me dizer que um igreja composta de crentes batizados é óbvia e necessariamente uma igreja batista – de que mais a vamos chamar ? Este é o nome que Deus deu ao primeiro homem que chamou e comissionou para batizar. O nomeou “João Batista”. E por isso os verdadeiros batistas não devem ter vergonha do nome que levam. Se alguém perguntar: por que não chamou o Espírito Santo de a “igreja batista em Corinto”? ou, “das igrejas batistas na Galácia”? Contestamos, por esta razão: não havia, nesse tempo, necessidade de assinalar distinções utilizando este adjetivo. Não havia outros tipos de igrejas nos dias dos apóstolos, além de igrejas batistas. Todas eram Igrejas Batistas; isto é, todas estavam compostas de crentes batizados de acordo com as Escrituras. São os homens que tem inventado outras “igrejas” e nomes para as igrejas agora em existência.
3. Uma Igreja Neotestamentária é um corpo local de crentes batizados que formam uma organização.
Uma assembléia é uma companhia de pessoas que se reúnem juntos em uma organização, de outro modo não haveria nada para distinguir-lhes de uma multidão qualquer. Prova clara disto se acha em Atos 19:39: “E se demandais alguma outra coisa, averiguar-se-á em legítima assembléia”. Estas palavras foram pronunciadas pelo escrivão do povo à multidão que quebrantava a paz. E havendo “apaziguado a multidão” e havendo afirmado que os apóstolos não eram nem ladrões de igrejas ou blasfemadores da deusa do povo, lhes recordou a Demétrio e seus seguidores que “os tribunais estão abertos e há procônsules”; e lhes convida a acusar-se uns aos outros. A palavra grega para “assembléia” nesta passagem é ekklesia e a referência foi à corte jurídica Romana, isto é, uma organização governada por leis.
Também as figuras usadas pelo Espírito Santo em relação com a “igreja” são pertinentes unicamente a uma organização local. Em Romanos 12 e em 1 Coríntios 12 Ele emprega o “corpo” humano como uma analogia ou ilustração. Este exemplo não é próprio para representar uma igreja “invisível” ou “universal” cujos membros estão esparzidos por toda a terra. Não é necessário recordar ao leitor que não há organização mais perfeita na terra que o corpo humano, cada membro em seu lugar apropriado, cada um cumprindo seu dever e função. Em 1 Timóteo 3:15 a igreja é chamada “a casa de Deus”. Esta “casa” fala de organização, cada habitante tendo sua própria recâmara, os móveis em seu lugar, etc.
Outra prova de que uma “igreja” neotestamentária é uma companhia local de crentes batizados, em uma relação organizada, se acha em Atos 7:38, onde o Espírito Santo aplica o termo ekklesia aos filhos de Israel – “na congregação (igreja) no deserto”. Agora bem, os filhos de Israel no deserto eram uma assembléia organizada, redimida e batizada. Será que alguém se surpreenda que foram batizados ? Porém a Palavra de Deus é mui explícita neste ponto: “Pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés” (1 Coríntios 10:1-2). Também estavam organizados; tinham seus “príncipes” (Números 7:2) e seus “sacerdotes”, “anciões” (Êxodo 24:1) e seus “oficiais” (Deuteronômio). Assim pois podemos ver que foi correto aplicar o termo ekklesia a Israel no deserto. E podemos descobrir como sua aplicação a Israel nos ajudar a definir seu sentido exato. Vemos que uma igreja neotestamentária tem seus “oficiais”, seus “anciões” (que é o mesmo que “bispos”), “diáconos” (Timóteo 3:11,12), “tesoureiro” (João 12:6; 2 Coríntios 8:19), e “escrivão” – a enumeração dos membros (Atos 1:15) claramente implica um registro.
4. Uma Igreja Neotestamentária é um corpo local de crentes batizados em uma organização, pública e corporalmente adorando a Deus pela maneiras que Ele estabeleceu
Seria necessário citar uma boa parte do Novo Testamento, para amplificarmos sobre este tema. Melhor é que o leitor leia com cuidado o livro dos Atos e as epístolas, com uma mente aberta, e encontrará abundante confirmação do tema. Porém somente permita-me dizer em resumo: Primeiro, para manter “a doutrina dos apóstolos” e o companheirismo (Atos 2:42). Segundo, para preservar e perpetuar o batismo escriturístico e a ceia do Senhor: “as instruções tal como” Paulo as entregou à Igreja (1 Coríntios 11:2). Terceiro, para manter a disciplina santa: Atos 13:17; 1 Timóteo 5:20-21, etc. Quarto, para ir a todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura (Marcos 16:15).
5. Uma Igreja Neotestamentária é independente de tudo, menos de Deus.
Cada igreja local é completamente independente de todas as demais. Uma igreja em uma cidade não tem autoridade sobre outra igreja em outra cidade. Nem tampouco pode um grupo de igrejas locais eleger um “comitê”, “presbitério” ou “papa” para assenhorar-se sobre os membros daquelas igrejas. Cada igreja tem seu próprio governo, conforme 1 Coríntios 16:3; 2 Coríntios 8:19. Por “governo” quero dizer que sua obra é administrativa e não legislativa.
Uma igreja neotestamentária deve fazer todas as coisas decentemente e em ordem (1 Coríntios 14:40), e sua única regra para ordenar as coisas, é a Sagrada Escritura. Seu único modelo, sua corte de apelação, é a Bíblia e nada mais que a Bíblia, pela qual todas as questões de fé, doutrina, e a vida Cristã são determinadas. Sua única cabeça é Cristo: Ele é seu Legislador, Fonte e Senhor.
A Igreja local deve ser governada pelo que o Espírito disse às igrejas. Por isso logicamente está separada do Estado e deve recusar o sustento econômico do Estado. Ainda que seus membros são instruídos a submeterem-se “às autoridades superiores” (Romanos 13:1), não devem permitir que o Estado lhes dite nos assuntos da fé ou da prática.
A administração do governo de uma igreja neotestamentária reside em sua própria membresia e não em um corpo especial de homens, seja dentro ou fora da igreja. Uma maioria de seus membros decidem as ações da igreja. Isto se vê claramente em 2 Coríntios 2:6: “Basta a esse tal (a pessoa disciplinada) esta repreensão feita por muitos”. As últimas duas palavras “por muitos” é tradução de hupo ton pleionon. Pleionon é um adjetivo e literalmente significa pela maioria e é traduzido assim pelo Dr. Charles Hodge, um dos melhores e competentes conhecedores do Grego.
Em resumo: a menos que haja uma companhia de pessoas regeneradas, batizadas de acordo com as Escrituras, organizadas segundo o Novo Testamento, adorando a Deus segundo suas instruções, tendo companheirismo com a doutrina dos apóstolos, mantendo as ordenanças, preservando a disciplina estrita, ativa na evangelização, então não há uma igreja neotestamentária, chame o que se chame. Porém se uma igreja possui estas características, é então a única instituição em toda terra ordenada, construída e aprovada pelo Senhor Jesus Cristo. Assim que o escritor considera seu maior privilégio, depois de ser salvo, pertencer a uma de Suas igrejas. Que a graça divina me ajude a andar dignamente como membro de Sua Igreja!
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Obs.: Não concordo com todas as afirmações do autor, mas o texto é excelente ponto de partida para conversarmos sobre a igreja.
Ao lado da pessoa de Jesus Cristo, a Igreja foi, e continua a ser, o grande campo de batalha da História. Tanto é verdade que um número sempre crescente de livros, jornais, periódicos, “Concílios”, “Convocações”, discursos, etc. se ocupa dessa questão como uma preocupação primária. No entanto, a maior parte de todos eles é sujeito à controvérsia, assim justificando a frase “o campo de batalha”. Tudo isso é muito significativo, indicando que é uma questão primária e algo que ocupa uma posição de destaque em termos de nossa responsabilidade. Isso é certo e, talvez, muito mais do que tudo o que se escreve e se fala a respeito encerra. Trata-se de uma preocupação primária no campo cósmico como um todo, a esfera sobremundana, se formos levar a sério tanto a evidência prática como as afirmações definidas do Novo Testamento, como, por exemplo, toda a carta escrita aos efésios e, em particular, Efésios 3.10 e 6.12.
Pode parecer arrogante e ambicioso para nós, que somos de tão pequeno valor em nós mesmos e tão insignificantes como um pequeno pedaço de papel, pensar que podemos tratar dessa imensa questão a fim de obter alguma vantagem pessoal. Tendo essa como uma preocupação primária por tantos anos e tendo visto a Igreja e as igrejas em tantos lugares, do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente, exercitando a oração sobre a questão, talvez nos possa ser dado algo para dizer que lance um pouco de luz nas sombras ou na escuridão da imensa confusão existente com relação à Igreja. Nossa principal preocupação é a questão das expressões da assembléia local da Igreja, pois somente nela o verdadeiro significado da Igreja pode ser levado ao imediatismo.
Temos de começar fazendo a pergunta que inclui tudo o mais e realmente expressa o problema segundo a opinião de muitos:
Podemos agora aceitar a possibilidade de haver verdadeiras expressões locais da Igreja do Novo Testamento?
Essa pergunta — e não são poucos, mas muitos, os motivos pelos quais ela tem sido feita — tem recebido, em razão de sua agudez, muitas respostas ou tem sido criticada de muitas maneiras. Algumas delas são as seguintes:
1. Uma grande facção de cristãos tem respondido com um definitivo “NÃO”, e eles tomam como base o que chamam de “a posição de total ruína”. Eles dizem que a Igreja está em ruínas irremediáveis e, conseqüentemente, uma expressão corporativa não é mais possível. Sem dúvida, eles relacionam isso principalmente à Igreja em seu aspecto universal; no entanto, eles colocam o assunto da expressão local bem próximo disso, argumentando que no fim dos tempos tudo será individual. Eles baseiam sua argumentação em Apocalipse 2–3, onde o Senhor se dirige “ao vencedor”.
2. Depois, há aqueles cuja resposta é que a única possibilidade agora é uma expressão aproximada da Igreja. Ou seja, pode não existir uma expressão plena e completa, mas algo que se compare a ela, provisório e parcial. Pode haver algumas características e devemos nos basear em algumas coisas que percebemos estar no Novo Testamento. Dentre os maiores exemplos, as principais denominações representam essa posição. Os presbiterianos, por exemplo, baseiam sua posição em uma interpretação da ordem da igreja do Novo Testamento, segundo a concepção deles. O mesmo acontece com os luteranos, congregacionalistas, batistas, metodistas, irmãos unidos, etc. Para cada um deles, emprega-se o termo “igreja”. No entanto, trata-se de um conceito que é uma solução conveniente para o problema da expressão local, a saber, uma aproximação parcial do que ela é.
3. Em seguida, há a resposta expressa pelo que se pode chamar de “sublimidade”. Ou seja, a Igreja é uma concepção e idéia sublime. Ela é idealista e devemos viver no campo abstrato de uma concepção sublime e não tentar trazê-la “para a terra” nem sermos práticos e exigentes em demasia na realidade. Essa resposta e interpretação são expressas no termo “a Igreja mística”, mas não prática.
4. Existem aqueles que acabaram com toda a idéia de Igreja, dando-a tanto por impossível como por desnecessária. Elas são definitivamente instituições e organizações cristãs, mas não uma Igreja ou igrejas. A esta categoria pertencem os quacres, o Exército da Salvação e um vasto número de grupos de missões e “Missões”.
5. Finalmente, para nosso objetivo, existem aqueles cuja resposta é bastante positiva! Sim, devemos voltar ao padrão do Novo Testamento e “ter igrejas do Novo Testamento”! Eles acreditam que o Novo Testamento contém um projeto definido para igrejas locais e estão comprometidos com a “formação” dessas igrejas onde for possível. Infelizmente, eles variam muito quanto a ensinamentos, ênfases e práticas, e alguns deles são caracterizados por excessos, anormalidades e exclusivismo.
O que diremos diante de todas estas coisas? Como observamos, todos estão mais ou menos errados ou certos (destacamos o termo “mais ou menos”, mas diríamos que alguns estão completamente errados) porque a verdadeira natureza da Igreja se perdeu ou não pode mais ser vista.
A História de Israel
A história de Israel possui muitos fatos para iluminar essa questão da Igreja. O Israel histórico foi constituído sobre os mesmos princípios eternos que a Igreja cristã. Na verdade, eles eram chamados de “a igreja1 no deserto” (At 7.38) e foram denominados eleitos de Deus. Pretendia-se que eles representassem no tempo, na terra, um conceito eterno e celestial, que, em tipos e símbolos, figurativa e temporalmente, engloba princípios espirituais e pensamentos divinos. Para o objetivo de nosso estudo, temos de limitar toda a questão aos principais princípios envolvidos na história de Israel. Dividimos essa história em duas fases. A primeira se deu antes do cativeiro na Babilônia, os setenta anos, e para lá os levou. A razão desse cativeiro foi pura e definitivamente idolatria. O cativeiro tratou com a idolatria e, depois disso, não houve mais idolatria do mesmo gênero em Israel. Mas, então, veio — e ainda existe — a segunda, ainda pior e mais longa, fase de juízo. Essa é revelada no segundo aspecto do ministério dos profetas. É óbvio que os profetas profetizaram com relação ao futuro imediato do cativeiro na Babilônia e na Assíria, e também com relação ao futuro. Esse segundo aspecto é freqüentemente discutido no Novo Testamento e aplicado, ou apresentado para que seja aplicado, àqueles tempos e eventos, com uma característica adicional de que os tempos pós-Novo Testamento (até os nossos dias) foram vistos. Mas, por que essa segunda mais longa e mais terrível relegação ao juízo? Por que a confusão, fraqueza e perda da presença e poder imediatos de Deus por parte de Israel e apenas a soberania de Deus por trás de sua história? A resposta está em uma frase: cegueira espiritual. “O endurecimento veio em parte sobre Israel” (Rm 11.25). Há uma grande quantidade de referências a esse fato nos Evangelhos, e tanto os ensinamentos como os milagres de Jesus estavam voltados para essa cegueira e contra ela. A visão dada aos cegos foi um testemunho para Israel, bem como para o mundo. Essa cegueira, no entanto, estava relacionada principalmente à Pessoa, ao significado e ao propósito de Cristo. Aquela intervenção na história foi uma missão para a remissão, restauração e restabelecimento daquele conceito eterno no coração de Deus, que era como “o mistério” em Israel. Ou seja, os princípios e propósitos espirituais ocultos em sua eleição e constituição temporal, e para expressar tudo isso em uma Pessoa que devia ser reproduzida pela igreja, como o Grão de Trigo, por meio da morte, sendo reproduzido na ressurreição em um corpo de muitos membros.
Nesse ponto atingimos a essência da verdadeira natureza da Igreja. A pedra de toque da Igreja é uma percepção, por meio da revelação e iluminação divina, sobrenatural, do Espírito Santo, da verdadeira importância e significado de Jesus Cristo e Sua missão. É óbvio que o notável apóstolo do “mistério”, a Igreja, veio a conhecer e compreender a verdadeira Igreja mediante a revelação de Cristo para ele e nele (Gl 1.16).
Ter uma visão real de Cristo é ver a Igreja, e somente desse modo uma verdadeira igreja pode vir a existir. Foi somente logo após o Senhor poder dizer a respeito de Pedro que carne e sangue não revelaram a verdade de Sua Pessoa (de Cristo) que, Ele, Cristo, fez a primeira declaração pública definida sobre a Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16.18). Tudo isso significa que, fundamentalmente, uma verdadeira expressão da Igreja, em termos locais, não é mais, nem menos, nem outra senão a compreensão espiritual de Cristo por parte dos cristãos. A igreja, local ou universal, não é tradicional. Isso a faria perder seu caráter original e, conseqüentemente, tornar-se artificial. A Igreja não pode ser vista pelos olhos de outras pessoas2, quer seja pelos daqueles do passado (apóstolos, etc.) ou do presente (mestres).
Temos conhecimento de pessoas que vivem na presença de ensinamento por anos e se alegram nele, repetem-no e pensam que estão no melhor nível e, então, por fim, prova-se que elas não viram, na verdade, com seus próprios olhos espirituais ao contradizerem e descartarem tudo isso de modo tão fácil. Elas o viram mentalmente pela perspectiva de outra pessoa, o mestre ou o pregador. Quando Paulo viu, sua visão provocou um efeito nele que se tornou ele mesmo, e nenhuma parcela ou forma de sofrimento e frustração visível poderia fazê-lo desistir da “visão celestial” (At 26.19). Repetimos que todo o seu entendimento valioso e pleno da Igreja não veio, em primeiro lugar, de uma revelação de algo chamado “a Igreja”, mas de uma visão de Cristo no conselho eterno de Deus. Como o próprio fundamento, essa colocação responde, e de modo compreensivo, os cinco pontos que mencionamos anteriormente. É possível haver expressões locais da Igreja? A resposta é afirmativa, dadas a existência dessa visão e a compreensão de Cristo, e teremos de rejeitar o Espírito Santo e Sua obra caso digamos que essa visão não é possível agora (Ef 1.17,18).
No entanto, feita essa declaração, é necessário dizer algo mais quanto aos princípios essenciais de uma igreja local como um microcosmo da Igreja universal.
O primeiro fato (incluído no que dissemos acima) e o mais difícil de explicar, apesar de não o ser de experimentar, está naquela palavra mal-compreendida, detestada e não vista com bons olhos: espiritualidade. Não deve ser difícil entender porque qualquer cristão verdadeiramente nascido de novo sabe que há algo a seu respeito que não é apenas natural. Uma mudança na mentalidade, disposição, conceito e direção aconteceu nele. Ele apenas ficou diferente desde que aconteceu o novo nascimento. (O que estamos falando sobre a Igreja não tem sentido se não houve esta mudança fundamental.) No entanto, ainda temos de definir espiritualidade.
Como uma palavra e uma idéia, espiritualidade não é peculiar à Bíblia e aos cristãos. O mundo a utiliza. Na ida à uma galeria de arte, por exemplo, o visitante observa alguns quadros e continua andando. No entanto, outro quadro prende-lhe a atenção, pois há algo que transcende a tela, a pintura e um objeto retratado. Aquele quadro possui uma “atmosfera” que fala a seu respeito, que lhe toca as emoções, que instiga uma sensação de admiração — não se trata apenas de um quadro. Há algo mais a seu respeito do que o próprio quadro. A observação deste fator complementar é que há algo “espiritual” sobre ele. O mesmo pode ser dito de uma canção, da execução de uma peça musical, de uma construção adornada e formosa, de uma forma de culto, e assim por diante. Isso é o que o mundo chama de espiritual, mas o que eles realmente deveriam dizer é misticismo. Isso pode ser particularmente encontrado na literatura, e há uma categoria de escritores conhecida como místicos. A religião é um campo especial do misticismo.
Digamos de uma vez por todas, e com ênfase, que misticismo e verdadeira espiritualidade, de acordo com a Bíblia, são duas coisas completamente diferentes. Elas pertencem a dois campos diferentes. A primeira é temperamental ou uma questão de temperamento. Possui seus graus. A simples reação à beleza ou emoção, ou, em formas mais intensas, pode ser psíquica, fanática. Pode ser induzida por apelos patéticos e trágicos. Pode ser instigada pelo estímulo e paroxismos por meio de repetições, como as de refrões e encantamentos. Dessa forma, quer seja de modo suave ou extravagante, outro elemento pode aparecer ou dar caráter. A religião se presta particularmente para o místico nessas várias formas e graus.
No entanto, a espiritualidade da Bíblia da qual estamos falando é diferente. É o resultado de um novo nascimento por intermédio do Espírito Santo. Representa uma mudança de natureza e constituição, não a libertação e intensificação do que já existe. Na verdade, é um “totalmente outro”, assim como Cristo era, na realidade mais profunda de Sua pessoa, um totalmente outro. Nesse “outro”, Ele não era conhecido, entendido e explicável. Ele era inescrutável, não apenas misterioso, mas de outra ordem. Havia outra inteligência e consciência, outra capacidade e habilidade. Havia outra relação. Tudo isso é verdade no que se refere a cada cristão por ser “nascido do alto”3 (Jo 1.13; 3.6,7). A Igreja é o agregado desses cristãos em que o que é verdade a respeito de Cristo é verdade a seu respeito, com exceção da divindade.
Cristo e a Igreja são o significado espiritual de todos os símbolos, e Ele disse definidamente que, com Sua vinda, a antiga ordem de representações materiais e simbólicas havia cedido todo o lugar para aquilo que eles representavam. Não havia mais coisas para representar, senão aquilo que eles representavam sem essas coisas (Jo 4.20-24), e observe que o Evangelho de João e a Epístola aos Hebreus são dois notáveis documentos da principal transição do histórico, temporal e tangível para o espiritual. Os apóstolos foram movidos pelo Espírito Santo para aquela transição. Foi necessário que padecessem para que nascessem de novo4; contudo, eles venceram por meio da energia divina.
Portanto, espiritualidade, que é uma natureza e um atributo de caráter diferente e celestial, é o primeiro princípio básico da Igreja. Repetimos que a Igreja é o vaso e a incorporação “do mistério” tantas vezes mencionados no Novo Testamento, principalmente por Paulo. O mistério era e é o significado oculto das coisas e de Israel, mas agora é revelado para e na nova ordem, o novo Israel, a Igreja. O “mistério de Cristo” é o significado de Cristo, inescrutável para todos, exceto para aqueles que têm o espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento Dele.
Local e Sobrenatural
Quando fez a notável declaração sobre Sua Igreja: “Edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18), nosso Senhor anunciou três coisas. Primeiro, que Ele estabeleceria uma entidade definida chamada de Sua Igreja. Segundo, que essa Igreja encontraria uma força de oposição com sua hostilidade total e final. Terceiro, que esse poder seria levado ao nível máximo e seria destruído, ou seja, se tornaria incapaz de prevalecer contra a Igreja. Nessa afirmação plena, há uma indicação muito definida da natureza fundamental de Sua verdadeira Igreja. Dissemos anteriormente que a Igreja é algo essencialmente espiritual e que a espiritualidade é seu princípio básico. Mas podemos ser ainda mais claros quanto ao que pretendemos dizer com espiritualidade? Podemos, utilizando uma palavra alternativa: sobrenatural.
A Igreja é Essencialmente Sobrenatural
A Igreja é a personificação do verdadeiro cristianismo, e o verdadeiro cristianismo é sobrenatural ou não é coisa alguma! É apenas no momento e no local em que a Igreja é completamente percebida e aceita que ela realmente existe e pode ser o poder que se pretende que ela seja.
Sobrenatural na Origem
Em primeiro lugar, o cristianismo5 e a Igreja (na verdade, termos idênticos) vieram do céu e ainda têm de ser continuamente recebidos e revelados a partir de lá. Essa é a própria verdade fundamental do próprio Cristo e da Igreja em todo indivíduo incorporado a ela. Esse é o ensinamento do Novo Testamento em todas as partes. A origem e a moradia de Cristo estavam no céu. O Evangelho de João e a carta de Paulo aos efésios constituem um argumento específico e enfático para essa afirmação e compreendem todo o Novo Testamento nessa verdade. No primeiro, a afirmação repetitiva de Cristo quanto à Sua origem celestial é a base de todas as coisas no Evangelho como um todo. São expressões do tipo “na verdade, na verdade”, “mais verdadeiramente”, e tudo o que está no Evangelho tem a finalidade de sustentar e evidenciar essa verdade.
Contudo, quando isso é reconhecido, o Evangelho e o restante do Novo Testamento voltam para afirmar do mesmo modo que a Igreja incorpora essa verdade e fato de Cristo. O capítulo 3 do Evangelho de João empregará a mesma linguagem — “na verdade, na verdade” — em conexão com qualquer indivíduo que entra na Igreja. Esse indivíduo, não importando se ele é o melhor exemplo e representante de Israel do Antigo Testamento (como Nicodemos) simplesmente não pode percorrer a linha do horizonte dessa nova criação; ele não pode atravessar a porta da natureza humana, da tradição, da “religião”; ele “deve nascer do alto”. Por meio desse nascimento, ele é constituído um ser sobrenatural na mais íntima realidade de seu ser — a isso Paulo chama de “nova criação”.
Então, de modo equivalente, a Igreja nasce do alto, no dia de Pentecostes. A diferença entre as mesmas pessoas antes e depois desse evento e a natureza corporativa da nova entidade são evidentes para todos os que têm olhos para ver. É sobrenatural.
Sobrenatural na Base
O que era, e é, verdade sobre a origem e moradia de Cristo e de Sua Igreja mostra-se ser, com fascinante evidência, a verdade sobre Sua sustentação e sobrevivência. “Pão do céu” (Jo 6.32, 51) apenas significa o poder que os recursos celestiais têm de sustentar e apoiar. Isso é visto em relação a dois fatos. Primeiro, na lei de total dependência de Deus e do céu, que é o próprio princípio da encarnação: “Aniquilou-se a Si mesmo” (Fp 2.7). Novamente, o Evangelho de João é uma constante declaração enfática disso. A repetição “na verdade, na verdade” é empregada para afirmar isso: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma” (5.19), e assim por diante. Pois em toda obra, toda palavra e todo tempo, Ele declarou que dependia de Seu Pai que está no céu. O Evangelho explica Seu humilde nascimento, Sua humilde criação, Seu último desamparo. Explica o fato de Ele ser “desprezado e rejeitado pelos homens”. No entanto, existiu uma vida e uma obra tão poderosa como a Dele?
O outro fato é em relação à Igreja. Quando consideramos o material humano do primeiro núcleo e, principalmente, seu crescimento; quando levamos em conta sua falta de bens e apoio deste mundo e quando pensamos em tudo o que estava contra ela de todo modo concebível, empenhando-se para aniquilá-la; e, em seguida, observa-se sua sobrevivência como uma entidade, há uma única palavra para descrevê-lo: sobrenatural! Reconheço que me admirei com a fé provada e triunfante de um homem como o apóstolo Paulo quando o vejo sofrendo como sofreu e quando leio seus próprios relatos de sofrimentos. A mente natural diria: “Este não é o apoio do céu”, mas temos o veredito de muitos séculos, e é a evidência e o veredito do sobrenatural.
Tudo isso inclui-se naquela repetição da expressão “na verdade” de João 6, onde, com uma alusão à vida de Israel no deserto, Jesus declara ser Ele mesmo o pão de Deus que veio do céu. Na verdade, Sua mente é tão forte, significativa e imperativa sobre essa questão que naquele capítulo Ele utiliza a repetição da expressão “na verdade” quatro vezes. O deserto sempre foi o símbolo ou imagem de um lugar fora do mundo, e o socorro e sustento em condições tão adversas à vida exigem recursos de outra esfera. A história da vida espiritual é a história do sustento sobrenatural secreto. Em silêncio e sem alarde, garantida e sem falta, suficiente e sem pobreza o maná descia, e o Senhor celestial da vida tem sustentado Sua igreja da mesma forma. Sim, embora fosse silenciosa e muitas vezes quase imperceptível aos sentidos naturais, ainda, na verdade, constitui-se uma obra de imenso poder. O Novo Testamento nos ensinará que o nascimento e sustentação da Igreja são réplicas da emancipação de Israel do Egito. Agora e naquela ocasião, o poder de Deus se estendeu e consumiu todo o poder do Egito e de seus deuses e, depois, anulou a própria morte.
A passagem do Novo Testamento que evidencia a Igreja de modo mais específico utiliza palavras como: “A suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos” (Ef 1.19). Estamos longe de entender a terrível coisa que estava envolvida na morte e ressurreição de Cristo para guardar a Igreja em Deus!
Sem dúvida, já dissemos o suficiente para destacar a extrema importância de uma ou duas coisas: primeiro, mostrar no que a verdadeira Igreja está de acordo com a revelação do Novo Testamento. Se esse não é um equívoco dessa revelação, deve ser algo muito distinto. Ou seja, deve revelar uma diferença muito grande entre a verdadeira Igreja, por um lado, e aquela imensa coleção de coisas que leva o nome de Igreja, por outro; uma coleção sob a qual concentraram-se tantas instituições e concepções conflitantes.
A afirmação de que a verdadeira Igreja tem de estar de acordo com a revelação do Novo Testamento deve ser um corretivo para dois extremos. Um extremo é o de uma abrangência tão grande que negligencia a natureza fundamental e essencial do sobrenatural, da qual temos falado: o sobrenatural no novo nascimento de todos os indivíduos na Igreja. Também um corretivo para o extremo oposto de um exclusivismo não-bíblico que torna Cristo menor do que Ele realmente é por excluir da comunhão cristãos verdadeiramente nascidos de novo usando como base para isso alguma técnica particular de “proteção” ou alguma interpretação específica da verdade.
Além disso, se o que temos dito é uma verdadeira definição da Igreja e de sua natureza, então, sem dúvida, isso explica a perda de poder, impacto e influência sobrenatural. Isso também explica a confusão, a escassez de alimento espiritual para ovelhas famintas e a dispersão que é a estratégia especial de Satanás para roubar da Igreja sua vocação para receber o reino e reinar!
A explicação é que o grande poder da dependência total de Deus, que é a exigência categórica de Deus para a revelação de Sua própria glória, tem sido abandonado para buscar-se recursos no mundo por meios, métodos, modas, etc. a fim de fazer com que a obra de Deus tenha “sucesso”. Satanás não está nem um pouco preocupado com qualquer coisa que use seu próprio reino para a glória desses métodos! Ele até protegerá qualquer coisa que lhe dará um lugar. A maldição que está sobre ele e sobre este mundo sempre significará frustração, confusão e eventual vaidade para tudo que faz parte do seu reino; conseqüentemente, muitas destas coisas estão em uma igreja que é, com todo o respeito, deste mundo. A Igreja tem falhado grandemente em perceber o motivo pelo qual, em relação essencial com a missão e ministério de Cristo, a tentação de Jesus no deserto ocupou lugar em três dos Evangelhos; e nessa relação específica com o Evangelho de João que temos apresentado, o assunto ali revelado concentrou-se no capítulo 17, onde a ênfase de Jesus está no fato de Ele não ser deste mundo, e o mesmo com relação à Sua Igreja!
A igreja, tanto em seu aspecto universal como no local, que está constituída sobre princípios espirituais e celestiais terá alimento suficiente para suas próprias necessidades e para distribuir para o mundo todo6. Os famintos correrão em sua direção. Ela será um ímã espiritual que reunirá o povo de Deus em uma comunhão espiritual. Será, por essa razão, um objeto de atenção especial por parte de Satanás para desfazê-la. Mas, mesmo que ele tenha sucesso em destruir seus aspectos temporais, por meio do martírio, fogo, dissensões, dispersões, posições, etc., essa Igreja terá conquistado valores espirituais indestrutíveis e eternos, “porque as (coisas) que se vêem são temporais (transitórias, passageiras) e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18). O teste definitivo é o eterno!
Dissemos no início que, embora estejamos preocupados com a natureza da verdadeira Igreja universal, temos uma preocupação especial com a expressão local. Portanto, agora concentraremos nossa atenção nessa expressão.
Se levarmos a sério os três primeiros capítulos do livro de Apocalipse (e, sem dúvida, devemos fazer isso) ficaremos impressionados com a seriedade da preocupação do Senhor com as expressões locais. Uma incomparável apresentação do próprio Senhor é dada por meio de Ele julgar as igrejas de acordo Consigo mesmo. Cada aspecto dessa apresentação é um fator de julgamento. Então, é dado às igrejas uma definição simbólica de duas partes: a das estrelas e a dos castiçais. Deixando muitos detalhes para depois, observaremos agora que a característica comum a esses dois símbolos é a do poder do testemunho. É o elemento positivo de um desafio para as trevas do mundo. Tudo o que se segue com relação às igrejas, o aspecto e fator positivos da vida e influência espiritual é dominante e primordial. Toda controvérsia do Senhor com as igrejas, em qualquer aspecto específico, se concentra nesta última questão definitiva: o efeito positivo da igreja onde ela está. Existe um impacto no aspecto interior (candeeiro) e no exterior (estrelas)? Elas, as igrejas, estão dizendo algo explicável, eficaz e inconfundível? Elas causam um impacto que exerce influência sobre o que as cerca? Existe um poder espiritual dotado de efeitos? Enfim, a continuação de sua posição na economia divina — ser mantida ou “movida” — se encontra nessa questão. Muitas coisas são detalhadas como a causa da perda de poder, mas é essa perda que resulta no julgamento.
Tendo observado a questão inclusiva que determina todas as coisas em um testemunho local, continuamos a perguntar e a responder à questão: Quais são
As Características Essenciais de Uma Verdadeira Igreja Local?
Estamos tentando permanecer próximos e fiéis ao princípio geral de que a Igreja, tanto universal como local, é chamada para ser uma expressão de Cristo. É impossível ler o Novo Testamento sem observar que a presença de Cristo em qualquer lugar era a presença de:
Luz e Poder Celestiais
Temos mostrado que esse fato é a base do julgamento de Cristo sobre as igrejas. Em relação a Ele, não se tratava apenas da luz do ensinamento ou da doutrina: tratava-se do ensinamento personificado. Havia o ensinamento encarnado na raça humana. O ensinamento e as obras de Cristo formavam uma coisa única. Era uma luz muito prática! Era a luz de outro mundo. Se a lua governa a noite, ela o faz por meio da luz refletida do sol. Se as igrejas devem ter o poder da verdade, elas devem tê-lo porque propiciam um reflexo de Cristo nas trevas humanas. Uma expressão local de Cristo deve significar que há luz efetiva, tanto para o povo de Deus (os candelabros) como para o mundo (as estrelas)7. O povo que tem contato com essa igreja local deve sentir o poder do ensinamento, ser afetado por ele e dar frutos nele. Não se trata apenas de um teste, mas de um testemunho daquilo que o Senhor tem suprido. Por meio daquele vaso, recebe-se um povo que vive na luz celestial? O pecado é repreendido ou exposto? Os pecadores são convencidos? Os perplexos conseguem entender aquela apresentação de Cristo?
Vida Celestial
O Senhor disse que Sua vinda a este mundo era para “que eles tivessem vida” (Jo 10.10). Portanto, Sua presença em um lugar por meio da Igreja deve significar que todos os que vêm e vão registram haver ali uma existência celestial. Não apenas estímulo, barulho, atividades, etc., mas uma vida que não é deste mundo. [Onde Cristo está,] não existem formas e costumes sem vida. Não há coisa alguma monótona. A vida é mediada por tudo que tem um lugar e uma parte. Há uma elevação espiritual como a da vida de ressurreição, não depressão!
Alimento Celestial
Como vimos anteriormente, a presença de Cristo significava pão para os famintos. A compaixão de Cristo significava que Ele não suportava ver as pessoas vindo com fome e partindo na mesma situação. Uma verdadeira expressão local de Cristo significará que aquela reunião do Seu povo terá, não apenas para si mesma, mas terá superabundância para todos os espiritualmente famintos. Aquela será uma casa que oferecerá pão onde ninguém jamais deixará de ser suprido. Não apenas se encontrará alimento, mas este será ministrado para muitos que estão distantes.
Comunhão Celestial
Uma característica impressionante de Cristo, quando Ele estava presente fisicamente entre os homens, foi o modo como Ele transcendia as coisas que dividem os homens neste mundo. Ele não tentou fazer com que todas as pessoas e coisas fossem iguais por organização, instituição, denominação, classe, categoria, formas, sistemas, etc. Todo tipo e temperamento, se despojado de preconceito e hipocrisia, de coração aberto e consciente da necessidade espiritual, encontrou um terreno comum de comunhão e unidade em Cristo. Ele apenas se colocou acima do que servia de divisão e, em resposta a Ele, as pessoas perceberam que as coisas que as separavam simplesmente desapareceram. Cristo tornou-se o terreno comum a todas elas.
Assim deve acontecer em qualquer expressão local corporativa de Cristo. Questões de associação, denominação, seita, tradição, etc., não devem se levantar, mas simplesmente desaparecer na presença do ardor da comunhão e da inteira ocupação com Cristo. O único caminho efetivo para a verdadeira unidade e comunhão celestial é aquele que é mais elevado do que o campo do mundo: o amor do céu.
Ordem Celestial
Todas as quatro coisas que mencionamos como características de uma verdadeira expressão local da Igreja e de Cristo serão ajudadas pela presença ou ocultadas pela ausência de uma ordem celestial e espiritual. Todas as ordenações, posições, departamentos, devem acontecer pelo testemunho definido do Espírito Santo, não pela escolha de um homem, seja pela ambição de outros ou dele mesmo. Como resultado de muita oração por parte da igreja, isso deve ser manifesto onde a unção e os dons estão para que a função daqueles em qualquer posição de liderança definitivamente signifique que a igreja é inspirada, fortalecida e edificada. Não cumprir esta ordem celestial possibilitará a existência de um elemento de artificialidade, uma força para criar algo e fazer com que esse algo continue em andamento. O nível mais alto de genialidade sempre ficará muito longe da menor medida de inspiração divina. É essa inspiração divina que determina toda a obra e funções divinas. Não há esforço ou força onde a unção repousa, mas espontaneidade, liberdade e unção. O óleo sempre foi um símbolo do Espírito Santo, e onde Ele está as coisas devem-se mover como no óleo.
Este não é um modelo de todo impossível, mas é a expressão normal do senhorio e governo de Cristo. O que Deus requer Ele torna possível.
A Igreja: O Vaso Ungido
Nas Escrituras, há muitas maneiras pelas quais se fala da obra do Espírito Santo. Há o “recebimento”, o “enchimento”, o “batismo”, o “cumprimento” e o “dom”. Não é nosso objetivo considerar o significado dessa variedade de expressões, mas dar ênfase em uma: a unção. A unção, tanto no Antigo como Novo Testamento, é apresentada como geral e particular, compreensiva e específica.
O primeiro fato sobre o aspecto geral da unção é que, em virtude de o Espírito de Deus ser o Espírito que unge, a unção é Deus juntando e unindo e comprometendo a Si mesmo com qualquer coisa ou pessoa que seja ungida. Significa que sempre e onde quer que esteja a unção, ali Deus deve ser considerado. Tocar no que é ungido é tocar em Deus. Para obtermos um conhecimento verdadeiro dessa verdade e desse fato, temos apenas de ler aquelas passagens do livro de Números que tratam dos levitas, do tabernáculo e dos vasos nele usados. Vida e morte estavam ligadas a todos esses ungidos porque, por meio da unção, Deus estava ligado a eles. No Novo Testamento, este aspecto compreensivo relaciona-se em primeiro lugar a Cristo e, em seguida, à Igreja.
A própria palavra ou nome “Cristo” significa ungido: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré” (At 10.38). Deus estava comprometido com Ele. Tocar Nele era tocar em Deus, como a história tem provado. No final, todos serão julgados e seu destino determinado de acordo com sua atitude e decisão com relação a Jesus Cristo. Quantos detalhes tremendos essa verdade inclusiva compreende!
Quando passamos para a Igreja, descobrimos que, de acordo com o Novo Testamento,
A Igreja é o Vaso Ungido
No dia de Pentecostes, um grupo de mais de quinhentos homens e mulheres foi constituído como a Igreja de Deus pela unção do Espírito Santo (At 2.1-4). Aquele grupo era controlado pela liderança ungida do Senhor Jesus exaltado, pois a unção inclusiva sempre estava sobre a cabeça Dele. Daquele tempo em diante, a Igreja levou para o mundo a implicação de Deus: e soberanos, impérios e pessoas tiveram de se acertar com Deus na Igreja. Tudo o que era verdade sobre Cristo como o Ungido passou Dele, como Cabeça, para a Igreja, o Seu Corpo, não por causa do que as pessoas eram, ou são, nelas mesmas, mas pela unção, pois as pessoas ungidas são assim porque não permanecem em seu próprio terreno, mas no terreno de Cristo.
É certo no Novo Testamento que os cristãos verdadeiramente nascidos do alto e batizados têm a unção, e surpresa é manifestada se a evidência não se faz presente (At 19.2,3). Coloque ao lado dessa referência 2 Coríntios 1.21, entre outras. O lugar dos cristãos ser “em Cristo” os coloca sob Sua unção, ou Nele, como o Ungido.
No entanto, embora o Espírito Santo seja compreensivo e multi-facetado em significado, a unção é, em toda parte na Bíblia, o termo que apresenta o significado específico de posição e função, ofício e propósito. Diz-se que Satanás (Lúcifer) em sua posição caída foi o “querubim ungido para proteger” (Ez 28.14). É óbvio que se tratava de uma posição e função específicas. Assim, os profetas, sacerdotes e reis eram ungidos para sua posição e vocação. Do mesmo modo, o tabernáculo e todos os seus vasos e instrumentos eram ungidos para cumprimento de um propósito específico, e nada poderia ocupar um lugar ou cumprir um propósito divino sem a unção. Todas as coisas e pessoas tinham de ser ungidas para um uso e propósito específico e nenhum instrumento podia escolher sua função e posição ou realizar a obra de outro. Tudo isso fazia parte da lei de Deus de eficiência, eficácia, harmonia e bênção. A vida e a morte estavam ligadas a esse princípio.
A unção sempre esteve na soberania divina e nunca na escolha, poder ou nas mãos de homens. É muito sério receber ou ser colocado em uma posição que não tenha sido designada por Deus pela unção.
Quando vamos ao Novo Testamento, essa lei da unção é claramente reconhecível no que diz respeito tanto a Cristo como à Igreja. Primeiro, o ato de soberania, depois as muitas e diversas funções. O Novo Testamento é muito claro tanto nas principais ordenações, tais como apóstolos e profetas — que se relacionam principalmente à Igreja universal —, como nas funções específicas na expressão local da Igreja. O Espírito Santo é considerado aquele que retém os dons, funções, ordenações e realizações nas igrejas. É ordem de Deus; negligenciar, ignorar, violar e ultrapassar essa lei significa uma afronta ao Espírito Santo. Isso resultará em confusão, restrição e divisões. Onde os homens colocam as mãos em uma obra de Deus, a história subseqüente tem invariavelmente se dividido em duas partes: divisões e a relegação desses homens para um lugar onde impera o descrédito sobre eles e onde perderam a posição de utilidade plena. Por outro lado, não há outra verdade mais animadora e inspiradora revelada nas Escrituras do que que, por meio da unção, todos os membros de Cristo têm uma função e valor específicos. A unção é diferente da capacidade e qualificação naturais. O que tem menos dons naturais não está, por isso, desqualificado para o uso de Deus, e o que tem mais dons ou qualificações naturais não tem vantagem nesse caso. A unção é única. Vemos isso ao juntar 2 Coríntios 1.21, 1 Coríntios 1.26-30 e todo o capítulo 2 de 1 Coríntios.
No tabernáculo de Israel, houve grandes vasos sob a unção e havia instrumentos simples como os apagadores, mas até os últimos eram ungidos. Agora, tenha cuidado! Eram apagadores ungidos. Há muitas pessoas que tomam para si a função de apagadores. Elas apagarão qualquer coisa e acabarão com qualquer coisa. Os apagadores do tabernáculo não serviam para reduzir ou extinguir a luz do testemunho, mas para mantê-la viva e impedi-la de criar uma atmosfera desagradável. É necessário unção para esse ministério.
Há outra coisa de que devemos sempre nos lembrar: é que todo vaso, função e posição deriva-se do valor de sua relação com todos os outros. Na verdade, nenhum vaso, por mais que seja importante, tem significado ou valor separado dos outros. A unção é única, embora em uma diversidade de operações. As lâmpadas pedem os apagadores que, por sua vez, não têm sentido sem as lâmpadas.
Tudo o que dissemos aqui é apenas uma alusão e indicação de uma esfera muito ampla e importante da verdade divina; muitos volumes seriam necessários para esgotá-la e explicá-la. No entanto, sem dúvida, se esta é a verdade de Deus, basta – pelo menos – indicar
1. a verdadeira natureza da Igreja, das igrejas e sua função;
2. o motivo pelo qual há tanta fraqueza, confusão e perda do impacto divino;
3. o motivo pelo qual o inimigo está tão preocupado em imitar o Espírito Santo e, desse modo, acabar com a unção da qual uma vez foi privado.
Essa última questão será uma característica específica dos últimos tempos. Esse é o motivo pelo qual, nas Escrituras, a unção ocupava uma posição sempre próxima e decisiva junto com a guerra. Pense nisso!
A Expressão Local da Igreja
Antes de concluir nossa consideração sobre a Igreja, sinto fortemente que devo dizer algumas coisas de vital importância quanto à verdadeira expressão local da Igreja. Sei muito bem como é difícil encontrar uma expressão verdadeira e assegurar que ela o é, mas não há motivo para abandonarmos todo esse assunto. Antes de ser um indicador de seu valor, a história e experiência têm mostrado que essa é a única coisa de grande importância com a qual o adversário de Cristo se preocupa. Impedir ou destruir essas expressões sempre foi uma preocupação maior dos poderes do mal. A verdadeira Igreja, universal e local, é uma ameaça muito grande para o reino de Satanás. Enfatizamos isso nos primeiros capítulos. Contudo, resumamos:
1. A importância da Igreja em expressões locais
Em primeiro lugar devemos lembrar que uma seção sólida do Novo Testamento foi escrita especificamente para igrejas locais, as quais constituíram o primeiro resultado do ministério apostólico. Esse ministério, e todo o sofrimento envolvido, foi vindicado em grupos de reunião locais de cristãos. Foi por essas igrejas que os apóstolos padeceram, trabalharam, oraram e lutaram. A essência do Novo Testamento tem sua preocupação suprema com essas assembléias que conheceram grandes sofrimentos em sua origem e estavam em “uma grande batalha de aflição” por sua continuação e sobrevivência.
Por isso, devemos lembrar que a própria preocupação e avaliação pessoal do Senhor com relação às igrejas locais se fizeram muito evidentes por meio de Suas mensagens diretas para as sete igrejas na Ásia com as quais o livro do fim (Apocalipse) se inicia. Não há como interpretar mal a importância das igrejas locais para o Senhor exaltado quando lemos essas mensagens, cujo enfoque é uma oração que se encontra em uma delas: “Isto diz o Filho de Deus”. O salmista diria “Selá”, “Pense nisso”.
2. Essa importância deve ser vista nos valores específicos de uma reunião local, quando estiver em correto funcionamento
a) Aqui, o princípio de que “nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si” (Rm 14.7) é enunciado com relação à igreja local e deve ser aplicado às mensagens para as igrejas na Ásia. Diz-se da igreja em Éfeso que, por meio dela, “todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus” (At 19.10; veja 1Ts 1.8). Deve ser impossível a existência de uma assembléia local do povo de Deus sem que seja conhecida por uma região muito maior do que sua própria localidade. Um grupo vivo, mais cedo ou mais tarde, será conhecido no exterior pelo que ele tem da parte do Senhor.
b) Para ampliar a questão, uma igreja local deve ter não apenas pão espiritual suficiente para si, mas cestos cheios para distribuir, e muitos além de suas fronteiras devem estar sendo enriquecidos por sua saúde espiritual. A história não mostra quão evidente isso é? O povo de Deus não tem sido alimentado por anos até o dia de hoje com o pão ministrado para – e por meio de – aquelas igrejas do Novo Testamento? Não é verdade que multidões foram e ainda estão sendo alimentadas com o alimento ministrado em igrejas locais em muitos lugares no último século? Do mesmo modo teria feito o Senhor. A igreja que apenas ministra para si e não o faz para a Igreja como um todo está cometendo um pecado contra o direito da vida; ela se tornou uma via de mão única, não uma rodovia. Sem dúvida, é particularmente importante que o ministério em uma igreja local seja um ministério verdadeiramente ungido, não por qualquer ordenação, seleção ou decisão do homem, não pelos discursos instruídos e arranjados, mas pela iluminação e inspiração vinda de um céu aberto, não apenas fazendo com que algo continue em andamento como um dever, mas pela revelação de Jesus Cristo. Deve ser óbvio para todos que aqueles que lideram e ministram estão sob um encargo genuíno do Senhor, e a evidência disso é a vida!
c) A igreja local deve, e pode, ser um refúgio, um abrigo, uma proteção para seus próprios membros. Uma das principais táticas de Satanás é isolar os cristãos e depois derrotá-los. Isso pode ser feito por ações imprudentes e independentes e por escolhas, passos e decisões frutos da falta de conselho. A igreja por meio de suas orações, conselho e comunhão é uma provisão divina contra as tragédias que se encontram no caminho da independência e isolamento. Assim como a cooperação e a coordenação no corpo físico são uma provisão e uma lei contra muitas doenças, o mesmo acontece com os membros do corpo espiritual.
d) A igreja local deve fornecer ministérios pessoais para o povo de Deus e para os não-salvos, próximos e distantes, e oferecer uma proteção e apoio abrangente para a realização desses ministérios. Aqueles que se apresentam para o ministério da igreja devem saber que estão sendo defendidos e sustentados por aqueles com os quais andaram. Na verdade, eles devem prosseguir como enviados pela igreja!
A falta e ausência dessas características em organizações locais são a causa de tanta fraqueza na Igreja universal.
e) Por fim, uma igreja local que funciona corretamente é uma provisão maravilhosa para o treinamento de seus membros para a obra. O treinamento é principalmente uma questão de ser capaz de trabalhar corporativamente. O modo de viver e trabalhar com outras pessoas e afundar o individualismo na comunhão é uma parte verdadeira da disciplina que torna frutífero um ministério!
Há um perigo real no departamentalismo: a separação em grupos isolados de modo que esses grupos não alcancem uma vida e função corporativa da Igreja. É possível termos grupos associados à uma igreja local que realmente não possuem uma verdadeira vida da igreja. Isso significa fraqueza e perda. Além disso, a igreja local deve ser sua própria escola bíblica, para instrução sistemática na Palavra de Deus.
A leitura cuidadosa da Bíblia, principalmente do Novo Testamento, mostrará que tudo o que dissemos acima está contido nela como exortação, admoestação, advertência, instrução e exemplo.
Se eu tivesse de acrescentar outra coisa vital e todo-inclusiva, eu diria que o essencial absoluto para essas igrejas é uma verdadeira obra da cruz em todos os a ela relacionados.
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1 Em grego, a palavra usada nesse versículo é eclésia (que significa “chamados para fora”) traduzida, na maior parte dos versículos em que aparece, como igreja. 2 Ou seja, a visão, a percepção da realidade espiritual acerca da Igreja, é individual e deve ser buscada individualmente. 3 A palavra grega traduzida como “do alto” pode também ser corretamente traduzida para “de cima”. Ela é traduzida com esse sentido nos seguintes versículos: Mt 27.51; Mc 15.38; Jo 3.31; 19.11,23; Tg 1.17; 3.15,17. 4 O autor não está se referindo à regeneração; entendemos que o “nascer de novo” aqui refira-se ao processo pelo qual os apóstolos passaram na transição da velha aliança, com suas figuras e símbolos, para a nova aliança, na qual Cristo é a realidade de todas as coisas. 5 No sentido de fé cristã, não de organizações e movimentos cristãos ou da religião cristã. 6 O autor trata especificamente deste assunto no livro O Testemunho do Senhor e a Necessidade do Mundo, publicado por esta editora. 7 No sentido de que os candelabros representam a igreja em uma cidade, portanto, um testemunho coletivo do povo de Deus, enquanto as estrelas representam membros da igreja, indicando um testemunho individual diante do mundo.
(Extraído da extinta revista O Chamamento Celestial ano 2, n. 6, publicada por CCC Edições, janeiro de 2001. Traduzido por Valéria Lamim Delgado Fernandes. Os artigos que compõem esta edição foram originalmente publicados na revista A Witness and a Testimony, vol. 47, números 1-5, em 1969. Em sua forma original, o texto é uma transcrição das mensagens faladas. Por isso, quando necessário, fez-se adaptações no texto, procurando conservar, quanto possível, o estilo original. Nesses artigos, os termos “Igreja universal” e “igreja local” não são nomes próprios, ou seja, eles não identificam grupos cristãos, denominações, movimentos ou qualquer outra instituição que se utilize de algum destes termos. “Igreja universal” significa o Corpo de Cristo que inclui todos os membros, em todos os tempos e lugares, enquanto “igreja local” é a expressão desse Corpo em uma cidade.)
“Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia” (Cl 1.18). “No qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Cl 3.11).
Muito tem sido feito nos últimos dias para trazer as grandes magnitudes do universo à compreensão do homem e da mulher comuns. Isso significa que muitas pessoas estão interessadas na explicação do universo e, sem dúvida alguma, do curso desta Terra e da criação e história do homem; mas cremos ter a resposta final e positiva para esta investigação. Para nós há somente uma definida e conclusiva explicação do universo, e esta explicação é uma Pessoa – o Senhor Jesus Cristo, com tudo que é eternamente relacionado a Ele. Não importa quanto leiamos e estudemos, nunca teremos a explicação do universo, no todo ou em parte, até que venhamos a enxergar o lugar do Senhor Jesus no eterno propósito de Deus. As simples, contudo abrangentes, palavras “Cristo é tudo em todos” resumem toda a matéria desde a eternidade, ao longo de todos os estágios de tempo, até a eternidade.
Primeiramente, então, vemos que “Cristo é tudo em todos” significa:
1. A explicação da própria criação
Esta carta aos colossenses faz esta mesma declaração em outras palavras. Ela nos diz que “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste” (1.16,17). Esta é uma declaração abrangente, e claramente mostra que Cristo como tudo em todos é a explicação de toda a criação. Por que foram todas as coisas criadas? Por que Deus por meio Dele trouxe o universo à existência? Por que este grande sistema universal existe e se mantém? Qual é a explicação do mundo? A resposta é: para que Cristo possa ser tudo e em todos.
A intenção no coração de Deus ao ter trazido este universo à existência era que, ao final, toda a criação apresentasse a glória e a supremacia de Seu Filho, Jesus Cristo. E este específico pequeno fragmento “e nele tudo subsiste” diz muito claramente que, se não fosse o Senhor Jesus Cristo, o universo inteiro se desintegraria, desmembrar-se-ia; ele estaria sem seu fator unificador; ele cessaria de ter uma razão para ser mantido como uma completa e concreta unidade. Seu subsistir, sua falha em se desintegrar e acabar é por causa disto: Deus tem determinado que o Senhor Jesus será o centro – o centro governante – deste universo inteiro, e Ele, o Filho de Deus, é a explicação da criação. Se não fosse por Ele, nunca teria havido uma criação. Tire-O fora, e a criação perde seu propósito e seu objeto, e não precisa mais ir adiante. “Cristo é tudo, e em todos” era o pensamento – o pensamento dominante – na mente de Deus durante a criação do universo.
Isto pode deixá-los indiferentes em certa medida e não levá-los muito longe, mas eu arrisco pensar que o que irei dizer irá levá-los um pouco mais adiante e lhes aquecerá o coração. Pois a perspectiva é esta: que quando Deus tiver as coisas como na eternidade passada determinou tê-las – e Ele irá tê-las assim –, cada átomo deste universo inteiro irá mostrar a glória de Jesus Cristo. Vocês não serão capazes de olhar para algo ou alguém sem ver Cristo glorificado. Uma abençoada perspectiva!
É algo feliz quando, como um grupo de filhos do Senhor, nós podemos estar juntos por horas a fio ou mesmo dias a fio; quando nós estamos ocupados com o Senhor como nosso único interesse comum e todos estão enlevados Nele. Quando temos um tempo como este e voltamos ao mundo, que atmosfera diferente encontramos! Como nos sentimos frios! É algo agradável encontrar o Senhor em Seus filhos e estar enclausurado com Ele desta forma; contudo mesmo isto é apenas em parte. Todavia o eterno dia está chegando, quando não haverá o voltar para o mundo em uma manhã de segunda-feira depois de um dia nos átrios do Senhor; quando estaremos tocando ninguém mais além do Senhor, e o universo inteiro estará cheio Dele – “Cristo, tudo em todos”! Este é o alvo de Deus. Isto é o que Ele tem determinado; tudo mostrando o Senhor Jesus; tudo para Ele.
Agora vemos uns nos outros muitas outras coisas que não o Senhor Jesus; o dia está chegando quando vocês nada verão exceto o Senhor Jesus em mim, e eu nada verei exceto o Senhor Jesus em vocês; nós seremos “conformados à imagem do Seu Filho”: Sua glória moral brilhará e será mostrada; Cristo será “tudo em todos”. Deus o determinou, e, o que Deus determinou, Ele terá. Esta, então, é a explicação da criação: que Cristo seja tudo, e em todos, e sobre tudo tenha a preeminência.
Em Romanos, o apóstolo Paulo tem uma declaração muito notável dentro deste contexto: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (8.19-22).
Notem o que isto realmente diz e implica. A criação está imbuída por uma expectativa ardente. Esta expectativa é com gemidos tais como em árduo trabalho, uma expectativa de esperança – não da dissolução do universo, sobre o quê certos cientistas tanto falam. Contudo, a esperança e os gemidos até o momento estão deliberadamente colocados sob um reinado de vaidade – feitos para ser tudo em vão – até um tempo e alvo fixados. Este clímax é em duas partes: uma, a revelação dos filhos de Deus; a outra – ligada com aquela – o livramento da criação de estar sujeita à corrupção.
Tudo isto é levado de volta à eternidade passada e unido com o Senhor Jesus como Filho: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (8.29).
Na passagem anterior há uma declaração definida e uma clara implicação. A declaração é que a criação estava sujeita à vaidade, e seu estado é o cativeiro da corrupção. Claramente, a implicação é que houve um tempo definido quando, por causa de sua corrupção, a criação inteira foi levada a uma condição na qual é forçada a gemer e se esforçar em direção a um alvo que não pode ser alcançado. É em conexão com isto que surge espaço para toda a gama e natureza da interferência satânica na criação, a qual objetiva a desafiar o propósito divino final na criação e a frustrá-lo ao trazer corrupção. Tão universal foi esta corrupção que uma sentença de vaidade foi pronunciada sobre “toda a criação”. O efeito disto foi, e é, que a criação nunca pode atingir o objetivo de sua existência, salvo no campo da santidade e semelhança divina.
Aqui também se encaixa toda a gama da “redenção que está em Cristo Jesus”; a obra universal que Ele consumou por meio de Sua cruz destruindo a obra do diabo e, potencialmente, o próprio diabo; com todo o poder destruidor do pecado e destruidor da corrupção advindos de Sua natureza e vida sem pecado, a eficácia de Seu incorruptível sangue, e a provisão de justificação e santificação para todos os que crêem, estes por regeneração se tornando uma nova criatura em Cristo Jesus (2Co 5.17).
Apenas por este meio a criação pode ser liberta. Quando estes filhos de Deus forem manifestos – seu número completo – e todos que têm recusado esta salvação forem rejeitados do domínio de Deus, então, a criação será libertada e sua intenção original será atingida, Cristo sendo tudo e em todos.
2. A explicação do homem
Depois, em seguida, como uma parte central da criação, temos o homem. Qual é a explicação do homem? Qual é a explicação de Adão como o primeiro homem? Há uma pequena passagem da Escritura que responde a isto: “Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5.14), que é Cristo. Uma figura Daquele que havia de vir – esta é a explicação do homem. Deus planejou que cada homem ingresso neste mundo seja conformado à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo. Multidões perderão isto, mas haverá multidões tais que nenhum homem poderá enumerar, de cada tribo, raça, nação e língua, que alcançarão isto. Que alto chamamento! Que concepção diferente do homem esta é daquela que é popularmente aceita, e que tremenda coisa a ser perdida! E ainda assim, há muitos que dizem reclamando que, se tivessem podido escolher, nunca teriam vindo a este mundo. Tem havido aqueles que, numa hora de eclipse, maldizem o dia em que viram a luz. Ah! Mas algo deu errado aí; isto não é como o Senhor planejou que fosse. E não importa quantos dias depressivos tenhamos: quando nos perguntarmos depois de tudo se realmente vale a pena, retornemos em nosso íntimo ao pensamento de Deus. É nosso tremendo privilégio, a mais alta honra que podia ser conferida a nós do ponto de vista divino: que tenhamos nascido.
Nem sempre nos sentimos ou falamos deste jeito, mas constantemente somos compelidos a nos voltar ao ponto de vista de Deus sobre isto e a nos lembrar que Seu propósito é o de ter um universo povoado com tais que sejam conformados à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo, um povo que é uma manifestação universal do Cristo glorificado com a glória do Pai. Este é um privilégio, uma honra, algo para o qual vale a pena ter nascido! Esta é a explicação do homem.
Podemos apenas tocar levemente muitos destes assuntos, e caminhar adiante.
3. A explicação da redenção
Além disso, esta palavra “Cristo é tudo em todos” é a explicação da redenção. As coisas, é claro, deram errado: o propósito de Deus sofreu interferência. Ele não poderia nunca ser frustrado completamente, mas houve outro que determinou, tanto quanto estivesse em seu poder, que aquela apresentação universal de Jesus Cristo – o “ser-tudo-em-todos” do Senhor Jesus – nunca acontecesse. Houve alguém que desejou ter aquilo para si mesmo – que ele pudesse ser o senhor universal da terra e céu. Esta interferência tem feito uma grande diferença por certo tempo. Ela tem interferido com o homem e o transformado em outro, aquém do que Deus pretendia que ele fosse. Ela tem arruinado a imagem.
No entanto, há redenção pela cruz do Senhor Jesus. Qual é a explicação da cruz? Por um lado, qual é a explicação de toda aquela expiação, aquela obra redentiva do Senhor Jesus ao tratar com o pecado, em tomar o pecado universal sobre Si, e ser feito uma maldição por nós, em nosso lugar?
E ainda, por outro lado, como complemento disto, qual é a explicação daquela cruz sendo operada no crente de forma que o crente se torne unido com Ele na semelhança de Sua morte e sepultamento como uma experiência espiritual? – toda aquela aplicação do Calvário que é tão dolorosa, tão terrível de passar por ela: sim, a desintegração do “velho homem”, o cortar fora do “corpo da carne”, aquele conhecimento interior do poder da cruz, tão terrível à carne. Qual é a explicação? Amados, é que Cristo seja tudo e em todos.
Por que somos quebrados? Para dar lugar ao Senhor Jesus. Por que somos trazidos ao pó pelo Espírito Santo quando Ele opera a morte do Calvário sobre nós? De forma que o Senhor Jesus possa tomar o lugar que nós na carne temos ocupado. Algumas vezes entendemos errado esta aplicação da cruz. O inimigo está sempre em nosso ombro, insinuando e sugerindo a inclemência de Deus em nos esmagar, nos humilhar, nos reduzir a nada, e dizendo que não há fim nisto, tentando assim nos derrubar.
Amados, a cruz foi pretendida somente para fazer o Senhor Jesus tudo em todos, para nós. Devido ao modo como o Senhor tem tratado conosco, o modo pelo qual Ele tem aplicado a cruz, nos plantando naquela morte e sepultamento, não é verdade que nós O conhecemos de um modo que nunca O conhecêramos antes? Não é por este modo que Ele se tem tornado o que é para nós, cada vez mais e mais amado do nosso coração? O aumento do Senhor Jesus em nós e para nós é pelo caminho da cruz. Sabemos muito bem que nosso principal inimigo é nosso eu, nossa carne. Esta carne não nos dá descanso, nem paz nem satisfação; não temos alegria nela. Ela é obsessiva, nos absorve, constantemente se pavoneia atravessando nosso caminho para nos roubar a verdadeira alegria de viver. O que deve ser feito com ela? Bem, na cruz e pela cruz somos libertados de nós mesmos; não apenas de nossos pecados, mas de nós mesmos; e, sendo libertados de nós mesmos, somos libertados para Cristo, e Cristo se torna muito mais que nós.
É um processo doloroso, mas gera um fim abençoado; e aqueles dentre nós que tenham tido a maior agonia ao longo deste caminho testificariam, eu creio, que o que isto nos trouxe do conhecimento e das riquezas do Senhor Jesus faz todo o sofrimento valer a pena. Assim é a obra do Senhor por nós! E a obra do Senhor em nós, pela cruz, somente é pretendida no pensamento divino para abrir espaço para o Senhor Jesus.
O altar de bronze do tabernáculo, assim como o do templo, era um altar bem grande. Era possível pôr toda a mobília restante do tabernáculo inteiro dentro dele. Sim, o altar tem que ser bem grande; deve haver um grande espaço para Cristo crucificado. Ele irá preencher todas as coisas e Ele será a plenitude de tudo, e não haverá lugar para nós no final de tudo. Isto o deixa atônito? Certamente não. Assim a cruz, a obra de redenção por meio daquela cruz, tem como sua explicação simplesmente isto: que Cristo seja tudo e em todos; que em todas as coisas Ele tenha a preeminência.
Isto, pois, é a explicação de nossas experiências – o porquê do Senhor tratar conosco como Ele trata; o porquê dos crentes passarem pelas experiências que atravessam; o porquê eles passam por coisas que ninguém mais parece chamado a atravessar; o porquê de algumas vezes eles quase invejarem os incrédulos pela vida fácil que tantos deles têm. Isto explica os tratamentos do Senhor com Israel no deserto. Mesmo após sua libertação do cativeiro e tirania do Egito, houve quebrantamento de corações e agonia. Por que esta disciplina? No deserto, eles ainda pensavam no Egito. A obra que o Senhor estava fazendo neles era de forma que Ele pudesse ser tudo neles e para eles. Se Ele cortava seus recursos naturais, era apenas para mostrar quais eram seus recursos celestiais. Se Ele cortava seu poder natural, era para que eles pudessem vir a conhecer o poder dos céus. O que quer que seja que Ele pudesse tirar deles ou os conduzir a, era com vistas a tirá-los de si mesmos e com vista a que Ele mesmo pudesse ser tudo em todos.
Esta é a explicação de nossas dificuldades. O Senhor conhece como melhor tratar com cada um de nós, e Ele não usa métodos padronizados. Ele trata com você de um modo e comigo de outro. Ele sabe como nos conduzir a experiências que são bem calculadas para nos trazer à posição onde o Senhor é tudo e em todos.
4. A explicação do crescimento cristão
O que é crescimento espiritual? O que é maturidade espiritual? O que é caminhar no Senhor? Temo que tenhamos idéias embaralhadas sobre isto. Muitos pensam que maturidade espiritual é um conhecimento mais abrangente da doutrina cristã, uma compreensão mais larga da verdade das Escrituras, uma ampla expansão do conhecimento das coisas de Deus; e muitas destas características são registradas como marcas de crescimento, desenvolvimento, maturidade espiritual. Amados, não é nada disso. A marca distintiva do verdadeiro desenvolvimento e maturidade espiritual é esta: que nós tenhamos crescido bem pouco e que o Senhor Jesus tenha crescido muito mais. A alma madura é aquela que é pequena a seus próprios olhos, mas em cujos olhos o Senhor Jesus é grande. Isto é crescimento. Nós podemos saber muitas coisas, podemos ter uma maravilhosa compreensão da doutrina, do ensino, da verdade, até mesmo das Escrituras, e ainda ser espiritualmente muito pequenos, muito imaturos, muito infantis. (Há muita diferença entre ser infantil e ser semelhante a uma criança.) O crescimento espiritual real é somente isto: eu diminuo, Ele cresce. É o Senhor Jesus se tornando mais. Vocês podem testar o crescimento espiritual por meio disso.
Então, de novo, esta palavra é
5. A explicação de todo o serviço
O que é o serviço cristão de acordo com a mente de Deus? Não é necessariamente termos uma programação cheia de atividades cristãs. Também não é que estejamos sempre ocupados naquilo que denominamos “coisas do Senhor”. Não é a medida e a quantidade de nossa atividade e trabalho nem o grau de nossa energia e entusiasmo nas coisas do reino de Deus. Não são nossos esquemas, nossos projetos para o Senhor. Amados, o teste de todo serviço é seu motivo. Será que o motivo é, do começo ao fim, que em todas as coisas Ele tenha a preeminência, que Cristo seja tudo em todos?
Vocês conhecem as tentações e a fascinação do serviço cristão; a fascinação de estar engajado, de estar ocupado com muitas coisas; ter sua programação, esquemas, projetos; estar envolvido nestas coisas e sempre presente a elas. Há um perigo aí que tem apanhado multidões dentre os servos do Senhor. O perigo é que isto os leva à projeção, torna-se a obra deles; é a obra deles, interesses deles e, quanto mais governam e caminham nisto, mais satisfeitos ficam.
Não, há uma diferença entre passar o dia no serviço cristão como mero desfrutar da atividade, com a fascinação disto e todas as vantagens e facilidades que isto provê para nós mesmos, e a gratificação disto à nossa carne – há uma grande diferença entre isto e “Cristo, tudo em todos”. Algumas vezes este último é alcançado ao sermos postos fora de ação. Pois então, este é o teste: se estamos ou não completamente satisfeitos de ser colocados totalmente fora de ação para que tão somente o Senhor venha a ser mais glorificado deste modo. Se tão somente Ele puder vir ao que é Seu, não importa nada se somos vistos ou ouvidos. Estamos alcançando um lugar, na graça de Deus, onde ficamos bem contentes em ser largados num canto, sem ser vistos ou notados, se deste modo o Senhor Jesus puder vir para o que é Seu mais rápida e completamente.
De algum modo temos sido pegos nisto e pensamos que o Senhor somente pode vir ao que é Seu se nós formos o instrumento. A rivalidade na plataforma e no púlpito; a sensibilidade porque um é posto antes do outro, porque o sermão de um recebe mais atenção que o do outro; os comentários favoráveis feitos todos em uma só direção, etc! Conheço bem tudo isto. Afinal de contas, o que nós estamos buscando? Estamos buscando impressionar nossa audiência pela nossa habilidade ou fazer conhecido nosso Senhor? É uma grande diferença! Algumas vezes o Senhor ganha mais de nossos maus momentos do que pensamos, e pode ser que quando temos bons momentos Ele não tenha obtido o máximo. É por causa disto que há a necessidade de sermos postos de lado, mantidos fracos e humildes, para que Ele tenha a preeminência.
O desafio do serviço conforme o pensamento de Deus é somente este – por que o estamos fazendo? Queremos estar na obra porque gostamos de estar ocupados? Ou é absolutamente e somente para que, por qualquer meio, Ele possa vir ao que é Seu, para que o alvo de Deus possa ser concretizado? Se Ele puder ser tudo, e em todos, pela nossa morte assim como pela nossa vida, será que chegamos ao ponto onde realmente desejamos que “Cristo seja glorificado em meu corpo, quer pela vida ou pela morte” (Fp 1.20)? Esta é a explicação do serviço do ponto de vista de Deus.
É claro, isto é a explicação de muitas outras coisas. É também…
6. A explicação de todo o Antigo Testamento
Nós não nos demoraremos examinando em detalhes como é isto, mas apenas o indicaremos e passaremos adiante. O que é o Antigo Testamento? Ele está todo resumido em grandes representações de Jesus Cristo. Veja as duas principais, o tabernáculo e o templo. Estas são representações abrangentes do Senhor Jesus tanto em Sua pessoa como em Sua obra e elas ocupam, desta forma, o lugar central na vida do povo escolhido, cuja vida é unida a elas. As duas são uma. Enquanto o povo eleito se mantém num relacionamento correto com aquele objeto central (o tabernáculo ou o templo), enquanto lhe dá seu lugar de honra e reverência e o mantém em seu lugar da mais alta santidade, enquanto eles são verdadeiros ao seu espírito, suas leis e seu testemunho, e embora sejam entre todos os povos da terra os menos capazes naturalmente de cuidar de seus próprios interesses, ainda assim são o povo supremo da terra: não há uma nação ou povo na terra capaz de permanecer diante deles. Eles nunca foram treinados na arte da guerra, não têm uma longa história de armas e estratégia militar, e são em si mesmos um povo indefeso, ainda assim eles tomam ascendência não apenas sobre nações individuais maiores e mais fortes que eles, mas sobre uma combinação de nações. E embora todos se unam contra eles, enquanto verdadeiros àquele objeto central, eles são supremos. Aquele objeto central é uma representação do Senhor Jesus em Sua pessoa e obra.
A interpretação espiritual disto é que quando o Senhor Jesus tem Seu lugar há supremacia; há absoluta supremacia quando Ele em todas as coisas tem a preeminência em, através e por meio de Seu povo. “Cristo é tudo em todos”. Quando isto é verdade em Seu povo não existem forças capazes de lhes resistir. O segredo da absoluta supremacia e soberania é o Senhor Jesus ter Seu lugar nas vidas e nos corações, em todos os afazeres e relacionamentos do Seu próprio povo; então os portões do inferno não poderão prevalecer.
Além disto, é também…
7. A explicação do Novo Testamento
O Novo Testamento traz diminutos grupos, pequenos entre os povos da terra, desprezados, expulsos, dificilmente permitidos a falar sem serem amargamente molestados, e sobre os quais eventualmente vinha a ira e o ódio organizado das nações deste mundo, culminando em que todos os recursos do grande império de ferro foram explorados e postos em operação para destruir a memória deste humilde e desprezado povo.
A história é exatamente esta: que os impérios quebraram, e os poderes mundiais cessaram de existir. Nós rodamos o mundo agora para olhar as relíquias e ruínas destes grandes impérios; mas onde está aquele povo do caminho do desprezado Nazareno? Uma grande multidão que nenhum homem pode numerar! O céu está cheio deles, e aqui na terra há dezenas de milhares que conhecem e amam o Senhor Jesus, que são deste Caminho. A explicação é que Deus determinou que Seu Filho seja tudo, e em todas as coisas tenha a preeminência.
Tenha um relacionamento vivo com o Filho de Deus, e homens e inferno podem fazer o que quiserem – Deus irá atingir Seu alvo e tal povo será triunfante.
Uma palavra mais. Isto também é…
8. A explicação da Igreja
O que é a igreja? O pensamento de Deus não é o Cristianismo; não é o de ter igrejas como centros organizados do Cristianismo; não é a propagação do ensino e empreendimento cristãos. O pensamento de Deus é o de ter um povo na terra no qual, e no meio do qual, Cristo é tudo em todos. Esta é a igreja. Temos que revisar nossas idéias. No pensamento de Deus a igreja começa e termina com isto – a absoluta supremacia do Senhor Jesus Cristo. E o que Deus está sempre buscando é juntar aqueles de Seu povo que mais completamente concretizarão este pensamento Dele, e serão para Ele a satisfação de Seu próprio desejo eterno: o Senhor Jesus em todas as coisas tendo a preeminência e sendo tudo em todos. Ele ignora a grande instituição, a assim chamada “Igreja”, e está com aqueles que em si mesmos são de um humilde e contrito espírito e que tremem diante de Sua palavra, e nos quais o Senhor Jesus é o único objeto de reverência e adoração. Estes satisfazem o coração de Deus. Estes, para Ele, são a resposta à Sua eterna busca.
Vocês percebem que a Palavra de Deus diz isto. Vejam novamente Cl 3:11: “No qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Eles têm se revestido “do novo homem, que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. Observem atentamente estas palavras e vocês entenderão que este é o homem corporativo, a Igreja, o Corpo de Cristo, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:23). E ali, naquele homem corporativo, não pode haver grego ou judeu. Note as palavras. Não diz que gregos e judeus se unem em uma abençoada comunhão. Não, não há nacionalidades na igreja; livramo-nos de todas as nacionalidades, e agora temos um novo homem espiritual, uma nova criação, onde não pode haver grego, judeu, escravo, livre. Todas as distinções terrenas se foram para sempre – é um novo homem. O braço direito não é um judeu e o braço esquerdo um grego!
Não, isto passou. Nesta Igreja há apenas um novo homem – não uma combinação onde anglicanos, metodistas, batistas, congregacionais e todo o resto se juntam e esquecem suas diferenças por um tempo; isto não é a Igreja. Na Igreja estas diferenças não são meramente cobertas por um tempo – elas não existem. Há um Corpo, um Espírito. A Igreja é isto: “Cristo é tudo em todos”. Tenha isto e tem-se a Igreja. Chamar qualquer outra coisa de Igreja e deixar isto de fora é uma contradição. Testem-na por meio disso.
Se é verdade que a vida cristã conforme o pensamento e a mente de Deus é somente isto, “Cristo, tudo em todos”, então somos eu e você verdadeiros cristãos? Pois temos visto que mediante a cruz nós desaparecemos para dar lugar para o Senhor Jesus. Agora, se professamos ter vindo pelo caminho do Calvário até o Senhor, a implicação é que desaparecemos por intermédio desta cruz, para que Cristo seja tudo em todos.
O que pensar? Queremos nós um pedacinho do mundo? Nós ainda voluntariamente nos apegamos a esta ou aquela coisa fora do Senhor, porque o Senhor Jesus não tem nos satisfeito plenamente e precisamos ter um contrapeso? Um cristão mundano é uma contradição de termos. Ter um pouquinho de algo fora de Cristo é negar o Calvário e permanecer diretamente em oposição ao eterno propósito de Deus referente a Cristo. Você assume esta responsabilidade? Deus determinou isto desde toda a eternidade no referente a Seu Filho. Podemos nós professar pertencer ao Senhor Jesus e ao mesmo tempo ainda não ser verdade que Ele é tudo em todos para nós? Se podemos, há algo errado, há uma negação, uma contradição. Estamos nos opondo ao pensamento e propósito de Deus. É verdade que Ele é tudo em todos? Ele será isto se tomarmos todo o caminho.
Oh! Estas sugestões sutis que estão sempre sendo sussurradas em nossos ouvidos, que se desistirmos disto ou daquilo iremos nos arruinar, e a vida será mais pobre, e seremos reduzidos até que nada tenha restado. É uma mentira! É isto que contrapõe o grande pensamento de Deus sobre nós. O pensamento de Deus sobre nós é que Alguém, nada menos que Seu Filho, Jesus Cristo, em Quem toda a plenitude da divindade habita em forma corpórea, seja a nossa plenitude. Toda a plenitude de Deus em Cristo para nós! Você nunca obterá isto ao rejeitá-Lo. A vida será muito menos do que precisa ser se você não for até o fim com o Senhor. E o que se obtém em matéria de nossa consagração ao Senhor, nosso inteiro e completo abandono a Ele em nossa vida, nosso deixar completamente tudo que não é do Senhor, isto se obtém no domínio do serviço. Esta carne ama se jactar na obra cristã, e nos diz que se passarmos a ser dependentes do Senhor nós passaremos a ter um tempo de ansiedade. Mas uma vida de dependência de Deus pode ser uma vida de contínuo romance. É ali que fazemos descobertas que são constantes maravilhas.
Você pode estar quase morto num minuto e no seguinte o Senhor lhe dá algo para fazer e você fica muito vivo, dependendo Dele para cada respiração sua. Assim você vem a conhecer o Senhor. Mas, depois daquela experiência, você se torna de novo inútil e morto por um tempo, contudo você se lembra de que o Senhor fez algo. Então Ele faz de novo; e a vida se torna um romance. Ninguém pensaria que você estava dependendo do Senhor para sua própria respiração. É algo muito abençoado saber que o Senhor está fazendo isto, quando você não pode fazê-lo de jeito nenhum – é humana e naturalmente impossível, mas o Senhor o está fazendo!
Prossigamos, amados, no assunto da Igreja. Apliquem o teste. Não estou falando com julgamento ou censura, nem tenciono discriminar num sentido errado, mas deixe-me ser fiel – para nós, nossa comunhão deve estar onde o Senhor Jesus é mais honrado. Nossa comunhão deve estar onde Deus tem o que é seu mais plenamente, onde Cristo é tudo em todos. Nós não podemos estar presos por tradições, por coisas que levantam um clamor e assumem uma denominação. Onde o Senhor é mais honrado, aí é onde nossos corações devem estar; onde tudo o mais é feito subserviente a apenas isto: “Cristo, tudo em todos”. Este é o pensamento de Deus sobre a Igreja, e este deve ser o lugar onde nosso coração gravita. O lugar onde Deus vai registrar Seu testemunho e trazer o impacto deste testemunho sobre outros será encontrado onde o Senhor Jesus é mais honrado. E vocês perceberão que onde houver pessoas famintas vocês terão oportunidade de ministério se vocês estiverem completamente em acordo com o propósito de Deus referente a Seu Filho.
9. Vivenciando tudo
Lembre-se que tudo relacionado ao cristão é experimental. Tudo em relação ao Senhor Jesus é essencialmente experimental. Não é apenas doutrina. Não é questão de credo. Não é que aceitemos certas declarações de doutrina ou credo, e que somente por isto sejamos trazidos a um relacionamento com o Senhor Jesus. Nós não nos tornamos cristãos por aceitar declarações doutrinárias ou credos ortodoxos, ou fatos sobre o Senhor Jesus. A Igreja não se constitui sobre estes parâmetros, embora a Igreja defenda certos princípios. A experiência tem que ser operada na vida, você deve ser tornar parte dela e ela parte de você. Não é suficiente crer que Cristo morreu na cruz. Isto deve se aplicar aqui em nossas vidas tornando-se uma experiência, uma poderosa e operante força e fator em nosso ser. A igreja não é constituída sobre uma base de declarações doutrinárias. Você não pode juntar pessoas e dizer: “isto parece perfeitamente confiável, constituiremos nossa igreja sobre esta base”. Você não pode fazer isto.
A Igreja é aquela na qual a verdade tem operado, na qual ela se tornou experimental. Credos não podem nos manter juntos quando o inferno se levanta para nos dividir. Não, o credo mais ultrafundamentalista não tem conseguido manter as pessoas juntas. A unidade do Espírito é algo trabalhado lá dentro. A menos que seja assim, nada pode resistir contra os espíritos de divisão e cismas que estão por aí. Tudo precisa ser experimental, não apenas doutrinário ou confessional.
Agora, é aqui onde você chega à realidade de Deus. Uma coisa é cantar hinos sobre Cristo ser tudo em todos, olhar para isto como algo objetivo e concordar com isto; mas é outra coisa ser trazido experimentalmente ao lugar onde a verdade realmente opera. Há muitos que dirão hoje: “Sim, isto está certo. Cristo é tudo em todos”, e amanhã de manhã, quando você os toca sobre algum assunto melindroso em que suas preferências estão envolvidas, você percebe que Cristo não é tudo em todos. Temos de chegar a isto pela experiência. Que o Senhor nos dê graça para isso.
O apelo final que faço é que nós todos busquemos novamente a entronização do Senhor Jesus como supremo Senhor em nosso coração, em cada parte de nossa vida, em todos os nossos relacionamentos; que se houver algo que temos segurado, que deixemos ir; se temos tido qualquer reserva, que a quebremos agora; se temos sido menos que completamente comprometidos com Ele, de agora em diante isto não seja mais assim, mas que Ele seja tudo em todos, a partir de agora. Este deve ser nosso entendimento, nosso compromisso com o Senhor. Fará você isto? Peça ao Senhor para quebrar cada amarra que está no caminho de Ele ser tudo em todos. Estamos preparados para isto?
“Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo da Tua casa Me consumirá” (Jo 2.13-17).
Creio que, de tempos em tempos, todos consideramos o estado e a condição do mundo em que vivemos, com apreensão na mente e no coração, e este fato é inevitável e certo1. A fé cristã não é um conto de fadas. Não é algo que ignora o mundo, mas é sempre muito prática. Assim, estamos conscientes de que vivemos num mundo em constante crise, cheio de problemas. Novamente, lembramo-nos da natureza precária de qualquer tempo de paz que estejamos desfrutando, já que somos, uma vez mais, confrontados pelos conflitos, que estão longe de serem apenas conflitos de idéias e podem, a qualquer momento, se tornar embates físicos2. Então, recordamo-nos do tipo de mundo em que vivemos: um mundo de guerras, de discórdias e derramamento de sangue.
E, claro, a grande pergunta para nós é: Qual é a mensagem do Cristianismo? O que a Igreja tem a dizer? Qual é a mensagem da Bíblia à luz de tudo isso? Ainda vivemos neste mundo e temos de compartilhar as conseqüências das quais a raça humana é herdeira. Porém, somos distintos por possuir uma visão diferente de todas as coisas, e nossa tarefa é descobrir, exatamente, o que deveríamos estar pensando e falando aos nossos vizinhos que não conhecem a Cristo e estão fora da Igreja.
Bem, não há dificuldade alguma em se responder às questões que mencionei acima. Está tudo muito claro. Pregamos que a Bíblia, por si só, nos dá a compreensão de por que as coisas são como são. Não há outra explicação para o mundo e sua condição, fora daquilo que a Palavra de Deus nos fornece. Conhecemos muito bem, como um fato puramente histórico, que o discurso ufanista e otimista dos homens de Estado e outros ilustres, particularmente no século 19, não se cumpriu. O mesmo ocorre com os estadistas do século 20. Sabemos que o mesmo pode ser dito sobre os pensadores e suas filosofias idealistas, sobre a teoria da evolução e do avanço. Quão ridículo tudo isso parece quando olhamos para os problemas globais! O mesmo pode ser dito a respeito dos humanistas e outros que depositam toda a sua fé na humanidade.
E nós, cristãos, o que temos a dizer? O que a Bíblia diz para todos os que acreditam nisso? Desejo mostrar a vocês que a resposta encontra-se nessas palavras do Evangelho de João. No relato de João sobre a purificação do templo, uma explicação é fornecida e somente uma única solução para o problema é apresentada a nós.
A resposta está em uma Pessoa abençoada. Ele é a resposta para todas as coisas. É Sua chegada a este mundo que faz a diferença e marca o ponto de transformação da História. Finaliza uma era e dá início a outra. É a “plenitude do tempo” (Gl 4.4). A resposta está em Sua vinda a este mundo, em todas as maravilhas que realizou enquanto esteve aqui e em tudo o que continua a fazer, pois desde então temos a chave para o problema. Jesus, e somente Ele, é a única solução.
Porém, devo apressar-me em acrescentar que é muito importante que O escutemos como Ele é, que permitamos que Ele fale a nós. Muitos se extraviam e falham na percepção das bênçãos e dos benefícios da vida cristã apenas porque não O escutaram. Creio ser este o principal problema do presente tempo. Em vez de dar a palavra a Cristo, as pessoas preferem falar. Acrescentam suas próprias idéias ao ensino do Senhor. Distorcem e pervertem Seus ensinamentos. As pessoas estão tão ansiosas para falar que tomam emprestadas algumas de Suas idéias e imaginam que isto é Cristianismo. Por conseguinte, claro, essas pessoas perdem a bênção.
Nos Evangelhos, pode ser claramente percebido que Jesus sempre controla toda a situação quando surge em cena. Estamos estudando a festa de casamento de Caná da Galiléia, onde a situação ficou tensa e problemática pela falta de vinho e nada se podia fazer para remediá-la. Então, Ele começa a agir e o problema é solucionado. A resposta está sempre Nele. Ele comanda a situação. Afirmo que a essência da sabedoria consiste em escutá-Lo quando Ele fala. Esta é a suprema necessidade do mundo. Literalmente, não há esperança em nenhum outro lugar.
Uma das primeiras coisas que precisamos compreender é que Jesus apresenta muitas facetas. Essa falta de compreensão explica, em parte, porque muitas pessoas se extraviam. Elas sempre procuram moldar Jesus às suas próprias imagens. Algumas enfatizam somente um dos aspectos: há as que destacam apenas Sua morte na cruz, o que, para elas, é a suprema ilustração do pacifismo; há aquelas que acentuam o aspecto estético de nosso Senhor, enquanto outras focalizam, talvez em demasia, o aspecto severo. O que pretendo sublinhar é que devemos aceitar Jesus como Ele é e não tentar enquadrá-Lo a certos pontos de vista. Ele supera todos os limites que as pessoas sempre procuram impor-Lhe.
Bem, aqui este ponto é apresentado a nós de uma forma interessante e dramática. Detivemos nosso olhar sobre Jesus na festa de casamento em Caná da Galiléia, onde, naquela ocasião festiva, transformou água em vinho. Que quadro mais feliz é este! Temos discorrido sobre como este evento nos ensina a respeito da plenitude da bênção que Ele pode dar a todo aquele que, verdadeiramente, enxerga sua necessidade, cai aos pés do Senhor, obedece a tudo quanto o Senhor lhe ordena e espera Nele. Que bem-aventurança e alegria esta passagem nos transmite!
No entanto, isto é o que lemos neste outro episódio: “Tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas cousas; não façais da casa de Meu Pai casa de negócio.” É um quadro bem diferente daquele primeiro, não é mesmo? A mesma pessoa, mas um contraste impressionante.
João Batista viu tudo isso e resumiu o que viu em uma afirmação notável. Quando as pessoas começaram a pensar que ele, João, era o Cristo, ele negou dizendo: “Eu, na verdade, vos batizo com água, mas vem O que é mais poderoso do que eu, do Qual não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). Encontramos estas palavras: “Espírito Santo! Fogo!” As bênçãos da plenitude, o batismo do Espírito Santo – que maravilha e glória! Porém, não se esqueça de que há também o fogo. Então, João prossegue: “A Sua pá, Ele a tem na mão, para limpar completamente a Sua eira e recolher o trigo no Seu celeiro; porém queimará a palha em fogo inextinguível” (v. 17).
Infelizmente, esse é o grande equívoco dos nossos tempos. Nosso Senhor tem sido considerado apenas como o Príncipe da Paz, mas nos esquecemos de que Ele também é o Rei da Justiça. Ele exerce os dois papéis. Jesus é o perfeito Salvador da humanidade – e, repito, a essência da sabedoria está em cair a Seus pés, olhar para Sua face e ouvir o que Ele tem a nos dizer. Nunca antes a Igreja e o mundo necessitaram ouvir com tamanha atenção. Não se esqueça do mundo em que você vive. Olhe-o de forma direta e justa. Não pisque diante de nada. Não encubra nada.
E qual é a mensagem que o mundo tanto precisa ouvir? Deixe-me, primeiro, colocar o que ela não é. A mensagem do Senhor e Sua Palavra não são um pensamento emocional ou geral. Há pessoas que se deixam levar pelas emoções. Normalmente, elas só pensam no Senhor em determinadas ocasiões, quando estão apenas buscando uma vaga e emocional mensagem de conforto. Claro que Ele tem consolo a nos oferecer, mas é Seu consolo, é Sua paz. Ele afirmou: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27). O Senhor não oferece uma paz que o mundo já conhece. Sua paz é composta pelos elementos da retidão, justiça e verdade. Não é simplesmente a ausência de guerras. Tampouco é uma conversa geral e vaga sobre sacrifício e seu valor intrínseco. O sacrifício é uma atitude grandiosa, maravilhosa e nobre, mas não como o mundo a utiliza. Freqüentemente, o Evangelho é transformado em um tipo de mensagem terrena sobre sacrifício, dever e coragem. Todas estas coisas são corretas, nos seus devidos lugares, mas não devem ser elevadas a tão suprema posição. Não estamos interessados em nenhuma idéia sobre sacrifício, dever e coragem que não seja diretamente derivada dos ensinamentos do Filho de Deus.
Nem mesmo o Evangelho é uma mensagem de conselho aos estadistas e líderes mundiais. Não é a pregação do pastor, pois este não é meu negócio. A Igreja não está aqui para dizer aos estadistas o que eles devem fazer ou não. Ela possui um chamado muito maior e mais profundo, como pretendo mostrar a você. Assim, não desperdicemos o tempo expressando nossa opinião a respeito de como as coisas deveriam estar acontecendo em períodos de crises políticas, dividindo a Igreja em grupos de posições diferentes. Tampouco é função do pregador apelar aos líderes do mundo para que promovam a paz e terminem as guerras. Sempre haverá guerras e rumores de guerras. Não é isso de modo algum! O pastor deve proclamar a verdade.
Então, qual é a mensagem do Evangelho? É uma mensagem radical a proclamar a única esperança e o único caminho de salvação. É exatamente o que nosso Senhor fez quando foi a Jerusalém por ocasião da Páscoa, e é muito interessante que este episódio apareça aqui, nos capítulos iniciais do Evangelho de João, no começo do ministério de Jesus Cristo. Este é um dos mais significativos e cruciais eventos ocorridos durante a vida e o ministério do Senhor na terra.
Na purificação do templo, vemos o Senhor dando aos judeus uma advertência final. Ele lhes estava fornecendo uma indicação de que, a menos que obedecessem ao que Ele lhes veio anunciar, não haveria salvação para a nação judia. De fato, Jesus estava dizendo: “Ouçam as Minhas palavras e as coloquem em prática, ou estejam preparados para o ano 70 d.C.” A História nos mostra que, neste ano, as tropas romanas marcharam sobre Jerusalém e a saquearam, destruindo o templo e forçando os judeus a se espalharem entre as nações. Neste episódio, o Senhor está-lhes mostrando a única maneira de evitar aquela catástrofe.
Grande parte do ministério de Jesus foi devotada a essa palavra. O Senhor apresentou aos judeus essa única possibilidade, essa singular esperança, e eles a rejeitaram. Então, nada lhes restou a não ser o cumprimento da destruição que fora predita. Assim, no final de Seu ministério, Jesus olhou para a cidade de Jerusalém e disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37).
Aqui, então, está a mensagem do Senhor, que permanece inalterada para nós, hoje. Por essa razão é que desejo mostrá-la a vocês. Longe de ser uma mensagem dos líderes da Igreja aos estadistas, dizendo-lhes o que devem fazer em suas funções, ela é, primariamente, uma palavra aos cristãos e seus líderes, a fim de dizer-lhes o que eles devem fazer em sua própria esfera. Esta é a tragédia quando a Igreja tenta dizer ao mundo o que fazer e a pergunta que surge é: “A Igreja está em uma condição apropriada para agir assim?” Por isso, não deve causar surpresa o fato de o mundo não nos dar ouvidos.
A primeira ênfase da mensagem cristã reside na verdade de que a coisa mais importante na vida de uma pessoa ou nação é o relacionamento de cada um com Deus. E tudo isso é tipificado pelo templo. Afinal de contas, o templo era o maior e mais grandioso de todos os palácios e edificações em Jerusalém. Os judeus eram o povo de Deus e era naquele lugar que o povo se reunia para cultuá-Lo e para se relacionar com Ele. Aquele local era o centro da vida da nação. Eis por que nosso Senhor não somente foi ao templo, mas reagiu daquela maneira e disse o que disse, naquela ocasião.
Se você ler a história dos filhos de Israel no Antigo Testamento, descobrirá que quando tudo estava em seus devidos lugares no templo e os filhos de Israel eram leais a Deus, todos os outros aspectos da vida da nação iam bem – nas guerras, na prosperidade material, e assim por diante. Porém, a partir do instante em que havia um declínio na qualidade de culto, via de regra essa deterioração também ocorria na vida das pessoas, ou seja: tais pastores, tal povo. Este tema surge ao longo de todo o Antigo Testamento. Portanto, neste incidente nosso Senhor está, como estava, indicando que esta verdade ainda é relevante, que as leis de Deus não mudam nunca e que são a única forma de as pessoas viverem em segurança e paz.
No Antigo Testamento, há muitas frases gloriosas que expressam a mesma verdade. Aqui estão algumas delas: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18), não importa quanta riqueza possuam ou quão poderosos sejam seus armamentos. “Não havendo profecia” – isso é o que controla tudo o mais. A História mostra que é possível para uma pessoa ou nação caminhar por longo tempo na visão daqueles que vieram antes deles. A queda não ocorre de forma súbita. Sempre há um declínio gradual. Porém, uma vez que essa visão se perde, você pode esperar o que estamos colhendo hoje.
Veja outro versículo: “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (14.34). O mais importante não são as possessões, nem as riquezas ou o poder material, mas a “justiça”. E quando uma nação ou qualquer indivíduo pratica a justiça, todas as outras coisas são supridas. Nosso Senhor resumiu tudo isso em uma frase, proferida durante o Sermão do Monte: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).
Talvez, a ilustração mais notável seja a história de Eli, o sacerdote, encontrada em 1 Samuel. Eli era um bom homem, porém muito brando e indulgente. Ele permitia que seu sentimento e temperamento o guiassem, em lugar de ser guiado pela lei de Deus. Por conseguinte, seus dois filhos eram maus. No livro de 1 Samuel capítulo 2 você poderá ver como os filhos de Eli abusaram de suas funções de sacerdotes. Aquele pai idoso sentia-se débil para deter os filhos, de modo que eles prosseguiram no erro, juntando bens e privilégios para si mesmos por meio de seus santos ofícios, vivendo de maneira imoral e indigna. Observamos ali o declínio começar a cair sobre a casa de Deus e logo atingir toda a nação. O exército filisteu veio, e Israel foi fragorosamente derrotado, tendo o inimigo até mesmo levado embora a Arca da Aliança.
Esta é a mensagem típica do Antigo Testamento, e agora a encontramos no Novo. Quando as coisas não vão bem no templo, tudo o mais começa a declinar. A chave para tudo é nosso relacionamento com Deus.
Este é o princípio controlador e, inevitavelmente, surge o segundo princípio – estou apenas expondo o que encontramos aqui em João 2.13-17 –: o maior perigo que corremos é interpretar mal e abusar dos meios da graça, mediante os quais Deus fortalece nosso culto individual e nossa caminhada com Ele. Nós os usamos para alcançar nossos próprios fins e propósitos. Esta é a grande lição que os filhos de Israel colocam diante de nós, de forma dramática, aqui e mais tarde, nos acontecimentos do ano 70. O problema dos judeus é que eles sempre usavam mal o que Deus lhes dava. Como mostrado por nosso Senhor neste episódio, eles abusaram do templo. Este não foi apenas seu problema, mas a causa do trágico fim que atingiu a nação.
E eu, solenemente, sugiro que a explicação para a condição crítica de muitas nações nos dias de hoje é o abuso e mau uso do “templo”: a apropriação indébita das coisas que Deus lhes deu e a utilização desta dádiva para fins indignos e egoístas. Esta sempre é a causa de todos os problemas e, com o passar do tempo, não somente será uma atitude errada, mas insana.
Do que estou falando? Bem, com extrema freqüência em Israel, a primeira coisa que começava a dar errado quando os judeus perdiam o Espírito vivente é que eles transformavam o culto no templo em algo formal e exterior. Não existe nada mais terrível na vida de uma pessoa ou nação do que uma religião calcada no formalismo, apenas agindo de acordo com as conveniências, sem qualquer sentimento, sopro do espírito ou fé real, indo à igreja em ocasiões especiais porque é uma boa atitude. O formalismo e a ênfase no que é exterior é uma grande maldição. E não somente a história dos judeus demonstra isso, mas se você ler a história subseqüente da era cristã, encontrará exatamente a mesma coisa.
O que é extraordinário nesse incidente de João 2 é que a presença de bois, ovelhas, pombas e de cambistas, por si só, não deveria ser considerada como imprópria, mas, ao contrário, até mesmo necessária. Por ocasião destas festas, as pessoas iam a Jerusalém de muito distante e não podiam trazer os animais consigo na longa viagem. Assim, era legítimo que houvesse vendedores de bois, ovelhas e pombas. Ainda, para lá afluíam pessoas de diferentes partes do mundo que traziam diferentes moedas e era necessário que houvesse cambistas para viabilizar a troca. Não havia nada de errado com isso.
Mas eis o que estava errado: o comércio ocorria dentro do templo, e para muitas pessoas esta atividade era o único motivo para que estivessem ali. Homens estavam enriquecendo com ela. Nosso Senhor estava preocupado com o mau uso daquilo que era correto e adequado. Deus tem indicado a forma de culto para nós. Na época do Antigo Testamento, Deus instituiu os rituais exteriores do templo e o cerimonial que deveria ser obedecido. Em nossos dias, nós O cultuamos de uma forma mais interior, espiritual. Porém, o princípio permanece o mesmo, e Deus tem ordenado estas coisas.
Aqui é que está o perigo. Corremos o risco de nos apropriarmos das coisas que o próprio Deus nos tem indicado e utilizá-las para servir nossos próprios objetivos, da nossa maneira, adequando-as aos nossos interesses e conveniências. Eis contra o que o Senhor se revolta daquela majestosa e dramática maneira.
Vamos ser práticos a esse respeito. Você está realmente preocupado com a condição do mundo? Se estiver, este não é o momento para sentimentalismos, mas para ouvir o Filho de Deus e Sua mensagem. E creio que, nos dias em que vivemos, Ele está falando de uma forma mais intensa e urgente, especialmente à luz dos recentes acontecimentos mundiais. Isto é um assunto muito sério. É um indicativo de que algo profundo está em marcha, e acho que a principal causa é o uso, em causa própria, daquilo que Deus nos tem dado, especialmente em Sua Igreja e em Seu culto. O uso da igreja, como parte da vida da nação, é como um departamento de Estado, um cenário para grandes ocasiões e para cerimônias de batismos, casamentos e enterros. O cerimonial, dado por Deus, está sendo utilizado para nossos próprios fins e propósitos. Assim, por exemplo, cultos cristãos comemorativos são mantidos por homens e mulheres não-cristãos, conhecidos escarnecedores da fé cristã. O uso da Igreja desta maneira e a boa vontade desta em ser assim usada são abusos daquilo que Deus nos deu.
Isso é importante? Bem, creio que é importante por estas razões: sustenta e fortalece a razão alegada por muitas nações nominalmente ateístas. Em tais países, o Estado e a Igreja estavam ligados de tal forma que, quando o povo desejou uma mudança no Estado, a Igreja foi envolvida. Foi a associação entre a família real russa e a Igreja Ortodoxa, especialmente representada pelo diabólico Rasputin, que levou à revolução russa. O povo abominava a Igreja. As pessoas diziam que, se aquilo fosse Cristianismo, elas não o queriam. Eis a razão pela qual elas se voltaram ao comunismo ateu. Os franceses fizeram o mesmo, por ocasião da sua revolução.
Certamente, tudo isso tem muito a nos dizer. Podem os ingleses alegar inocência da acusação de terem utilizado a Igreja como parte de sua política de colonização? Hoje, este fato assume grande relevância porque as outrora colônias têm-se tornado nações independentes e, em muitas delas, estamos vendo a mesma história se repetir. Nesses países, a política colonial é identificada com o Cristianismo. A Igreja e o Estado estiveram juntos. A espada e o bispo, assim como o foram no passado, estão entrelaçados, e quando um é rejeitado, o outro sofre o mesmo tratamento. Estes assuntos são vitais e muito sérios. Se a Igreja for utilizada como parte de uma política colonialista ou como parte de uma tentativa de impor a civilização ocidental a essas nações, então, quando houver uma rebelião contra o Ocidente, a Igreja também será envolvida no conflito. Colhemos apenas o que plantamos e os resultados não devem nos surpreender.
Houve o risco, especialmente na Primeira Guerra Mundial, de usar a Igreja como um tipo de posto glorificado de recrutamento. A mensagem cristã foi transformada em apelos para heroísmo, sacrifício e coragem, em benefício dos interesses do Estado. Por isso, não deve ser motivo de espanto o fato de multidões estarem fora da Igreja. As pessoas não são tolas. Elas observam estas coisas e muitas reagiram de modo violento ao que aconteceu na Primeira Grande Guerra.
Porém, à parte de tudo isso, há muitos que utilizaram a Igreja, e ainda o fazem, simplesmente para propagar teorias e ensinamentos humanos. Alguns até mesmo defendem o comunismo em nome do Cristianismo. Eles passam adiante suas próprias filosofias, sempre pregando a política e lidando com assuntos materiais, mas usando as Escrituras, a terminologia e idéias fora de seu verdadeiro significado, sempre visando a seus próprios interesses. Além disso, com freqüência, a Igreja tem sido inocente o suficiente para permitir-se ser usada pela cultura. Muitas pessoas vão aos cultos cristãos apenas para ouvir as músicas, sem demonstrar interesse por nada mais. E a Igreja tem-se permitido ser utilizada pela música, pela arte e por outros movimentos artísticos. Outros têm usado a Igreja para servir à sua ambição pessoal, buscando uma carreira bem-sucedida e avanços mundanos. Quantas vezes se disse no passado, que nas famílias tradicionais, o filho mais velho ia servir a Marinha, o segundo, o Exército e, então, lá no fim da linhagem, o mais novo ia servir a Igreja?
Mas tudo isso é, simplesmente, apropriação indébita. Aqui nós vemos a ovelha, os bois, as pombas e os cambistas. E esta é a razão pela qual multidões estão fora da Igreja. As pessoas argumentam: “Se isto é Cristianismo, não temos interesse.”
Portanto, a história de nosso Senhor no templo é relevante, não acha? Foi Jesus quem expulsou os animais e cambistas do interior do templo. Não estou expressando aqui minhas próprias opiniões. Estamos estudando Suas reações quando foi a Jerusalém, por ocasião da Páscoa.
Assim, meu próximo princípio é que, nos dias de hoje, é de suprema necessidade que as pessoas conheçam a presença do Senhor em poder, na Igreja. Eis por que não estou pregando sobre fatos políticos. A necessidade não é para que algo aconteça no meio governamental, mas no meio da Igreja. Por que razão os estadistas a ignoram? Porque a Igreja não detém nenhum poder. Já houve tempos em que os estadistas davam ouvidos a ela. Pense em John Knox pregando a mensagem e, sentada na audiência, a rainha da Escócia ouvindo e tremendo. Esta é a ordem certa. Porém, isto somente acontece quando Cristo está presente no templo, com poder. Assim, ao olhar para o mundo e lembrar das duas guerras mundiais e toda a devastação que trouxeram, ao ver o que está acontecendo a multidões de pessoas, padecendo de dores diferentes em muitos lugares, quando percebo as sombrias possibilidades existentes, eu afirmo que a mensagem necessária é esta que surge quando Cristo entra no templo e começa a falar e a agir. E, portanto, se você e eu estamos sinceramente preocupados com a situação atual e os rumos que o mundo está tomando, nossa primeira tarefa é orar pedindo um reavivamento na Igreja. Não é dizer coisas ao mundo, mas buscar este poder que nos tornará capazes de falar ao mundo de tal maneira que as pessoas temerão ao nos ouvir.
A seguir, devemos examinar o que Ele faz quando aparece em cena. “Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém” – e as coisas começaram a acontecer. E o que descobrimos? Imediatamente, vemos a manifestação de Sua glória, de Sua autoridade, de Seu zelo e poder. Você percebeu, ao ler esta passagem, que isto é um milagre? Foi tão milagroso como a transformação da água em vinho, na festa de casamento em Caná da Galiléia. Olhe para esses homens, ricos e espertos, comercializando no interior do templo e, ainda assim, uma pessoa indefesa, somente munida com uma espécie de chicote feito de cordas, os expulsou a todos daquele lugar, com suas ovelhas e bois. Após ter feito isso, voltando-se para os homens que vendiam pombas, disse: “Tirai daqui estas cousas.” Então, Ele vira as mesas dos cambistas, e joga ao chão todo o dinheiro.
Mas como uma coisa dessas pode acontecer por meio de uma única pessoa, munida de um chicote improvisado? Há somente uma resposta possível, qual seja: é a manifestação de Sua glória, assim como na festa de casamento. Lembre-se do que lemos ao final daquela passagem: “Com este, deu Jesus princípio a Seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a Sua glória” (2.11). A palavra de Cristo tem poder. Ele é o Filho de Deus encarnado. Ele falava com autoridade, e os homens sentiam isso em seu íntimo.
Encontramos o mesmo fato acontecer em inúmeras outras passagens nas páginas dos quatro Evangelhos. Quando Jesus falava, ou mesmo olhava para homens e mulheres, eles reconheciam esse poder e autoridade, pois não conseguiam sequer fitá-Lo. Jesus é o Filho de Deus, detentor de toda a autoridade e poder. Eis por que devemos orar para que esse poder seja conhecido hoje. Foi Ele que nos constituiu e é o único que pode nos capacitar, conforme Sua promessa. Nossa maior necessidade está Nele, em Sua força, para que possamos falar com igual autoridade.
Nesse incidente, vemos Jesus agindo como sempre faz. Ele anuncia e executa julgamento. Ele vê esta situação acontecendo: “E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados”. E sente indignação. O zelo pela Casa do Pai O consome. Ele está tomado de um santo senso de justiça e, desta forma, anuncia o julgamento sobre todos.
Eu me desespero só de pensar que você não tem consciência do julgamento de Deus sobre a Igreja de nossos dias. Você não consegue ouvir isso? Não consegue sentir ou ver? Por que essa tremenda confusão? Por que pessoas comuns de todos os países vêem a Igreja como algo ridículo? Este é o julgamento de Deus. Deus está permitindo que a Igreja seja ridicularizada em virtude do abuso e mau uso dos quais todos nós somos culpados.
E o que mais? Bem, nosso Senhor institui a reforma. Ele lança fora as coisas que não pertencem ao lugar. E, repito, a maior necessidade de nossos dias é uma reforma na Igreja e sua doutrina, é lançar fora todo o traço de paganismo. Ouça as palavras do Senhor: “Tirai daqui estas cousas.” Todos os ornamentos e parafernália, todo o incenso e as tentativas de oferecer sacrifícios e ofertas queimadas, a liturgia vazia, devem ser lançados fora. Este é o exemplo dado pelo Senhor. Deve haver uma ampla reforma, abrangendo a doutrina, todas as superstições e mentiras. Tudo aquilo que torna os homens grandes e importantes, que encobrem o Senhor e Sua glória eterna, deve ser lançado fora. Foi isso o que aconteceu na Reforma Protestante e se repete em cada um dos outros períodos de reforma e reavivamento. Ele extirpa o que é falso, seja na doutrina, na prática ou no comportamento. Em suma, o que Ele faz? Ele restaura a simplicidade original.
Mais tarde, o Senhor falou algo muito similar porque as pessoas não Lhe deram atenção. Ao fim de Seu ministério, Jesus diz que os homens haviam transformado a casa do Pai em covil de salteadores (Mt 21.13). Porém, a casa do Pai deveria ser um lugar de oração! A função da Igreja é trazer homens e mulheres a Deus, mantendo-os em comunhão com Ele. A Igreja deveria ser tão repleta do poder de Deus que todas as pessoas, em certo sentido, seriam forçadas a ouvir. A partir do instante em que você simplifica sua religião, o poder aumenta. Todas as outras coisas, a falsidade doutrinária, a mentira na conduta, colocam-se entre a verdade e as multidões e precisam ser removidas. Temos de retornar àquela simplicidade que está em Cristo Jesus.
O que acontece quando se faz isso? Procure conhecer a história da Igreja, leia sobre a Reforma Protestante. O que resultou destes movimentos? Bem, entre outras coisas, levou ao período Elizabetano.
O mesmo aconteceu na época do Movimento Puritano. Você pode rir dos puritanos, se quiser, mas lembre-se de que o período correspondente ao governo de Oliver Cromwell, o período do Commonwealth – referente ao governo republicano na Inglaterra, de 1649 a 1660 –, foi um dos melhores períodos de toda a história da Inglaterra e País de Gales. Todos concordam, inclusive historiadores seculares, que a base da grandeza destes países está naquela época, quando havia uma ética moral na nação, quando homens e mulheres colocavam Deus em primeiro lugar em sua vida. Assim, toda a nação foi elevada, como está escrito: “A justiça exalta as nações” (Pv 14.34).
É correto e verdadeiro dizer-se que tudo o que era glorioso e grandioso no século 19 foi resultado direto do Despertamento Evangélico, ocorrido no século 18. Isso pode ser estabelecido historicamente. Certo historiador afirma que foi este fato, e apenas ele, que salvou o país de experimentar algo semelhante à Revolução Francesa. Outros historiadores confirmam que o movimento evangélico deu origem, não somente ao engrandecimento da nação, mas também ao esclarecimento do povo. O movimento sindicalista, por exemplo, resultou diretamente deste reavivamento. Tudo o que eleva homens e mulheres, tudo o que os faz compreender quem e o que são, que os faz lembrar de que possuem mente e os inspira a aprender e a progredir, tudo isso resulta da bênção original de ouvir o Filho de Deus e permitir que Ele lide com a Igreja e, individualmente, conosco.
Uma vez que a pessoa certa esteja no centro e que o templo esteja purificado, reformado e renovado, a mudança começa a permear toda a vida e um novo tom surge. Não havendo profecia, o povo se corrompe. Havendo profecia, o povo é bem-sucedido. Esta é a suprema necessidade de nossos dias. Precisamos recapturar a visão, voltarmo-nos a Ele, permitir que Ele atue e fale a nós, purificar e lançar fora.
Portanto, para mim, esta é a mensagem da Bíblia para este mundo. Que este Cristo volte e, novamente, com Sua autoridade enfrente os oportunistas, vire as mesas, lance fora e purifique o templo, dando-nos a conhecer, uma vez mais, em simplicidade e pureza de coração, Sua fé e o poder que, inevitavelmente, cai sobre todos aqueles que crêem e se submetem a Ele, todos os que desejam ser cheios do abençoado Espírito Santo. Ah! Que Jesus venha mais uma vez ao templo! Vamos começar a oferecer aquela oração. Tudo bem, ore pelos outros, mas esta não é a oração primordial. A principal oração não é pelos estadistas, parentes ou amigos, tampouco pelas nações. Em primeiro lugar, devemos orar para que Jesus volte ao Seu templo, que manifeste Sua glória e nos mostre um pouco de Sua autoridade e poder, enchendo-nos com este poder.
1 Este sermão foi pregado no domingo, Dia do Armistício, 1965. 2 Em novembro de 1965, a comunidade branca da antiga Rodésia do Sul, atual Zimbábue, recusou-se a aceitar as regras impostas pela maioria negra e proferiu uma declaração de independência unilateral e ilegal.
(Extraído do livro O segredo da bênção celestial, cap. 6, de Martin Lloyd-Jones, co-edição Editora Textus e Editora dos Clássicos, 2002, com permissão da Editora Textus para publicação no sítio Campos de Boaz.)