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A acusação contra Estêvão, sua defesa e seu martírio (Robert Govett)

 

O significado do discurso do primeiro mártir

Poucos leitores ou mesmo estudantes da Escritura percebem muita força na defesa de Estevão, registrada em toda a sua extensão em Atos 7. Parece-lhes apenas uma citação desconexa de partes da história patriarcal e israelita, tendo pouca ou nenhuma influência sobre as acusações feitas contra ele. Eles pensam também que, muito provavelmente, a defesa foi interrompida antes de chegar à conclusão pretendida pela violência provocada ou que se iniciava. Portanto, eles são incapazes de perceber por que os inimigos de Estêvão estavam tão exasperado com o discurso.

Com a ajuda do Senhor, o Espírito, penso ser capaz de conduzir o leitor a um tal ponto de vista que ele possa perceber que a defesa do mártir é cheia de vigor, dando forte testemunho contra os pontos de vista de seus acusadores e uma real e triunfante refutação de suas acusações.

Estêvão era um dos sete judeus de língua grega designados pela igreja em Jerusalém e pelos apóstolos para atender à nova tarefa emergencial, que surgiu da necessidade de suprir as necessidades das viúvas helenistas daquele dia (cap. 6). Estêvão era um dos novos diáconos; mas, além disso, ele operou muitos prodígios e milagres. Ele foi levado à discussão com os judeus do partido contrário a Cristo. Provavelmente, a discussão se deu na sinagoga dos libertinos (v. 9)1; e, ao que parece, o desafio se originou com eles.

No conflito, Estêvão provou-se vitorioso, pela sabedoria e pela graça do Espírito Santo que lhe foram dadas. Isso desagradou o partido derrotado, e seus membros procuraram matá-lo. É mais fácil matar um homem de Deus do que refutar os argumentos que ele deriva das Escritura.

Eles o acusaram, então, de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Eles o apresentaram perante o conselho religioso da nação e trouxeram contra ele falsas testemunhas que afirmavam: “Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar [o templo] e a lei. Porque nós lhe ouvimos dizer que esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu” (vv. 13,14).

A resposta de Estêvão nos apresenta, de modo indireto, os argumentos geralmente utilizados pelos judeus que se opõem ao Messias. Vemos neles os homens da carne e da lei, cheios de justiça própria, confiantes de serem melhores do que seus pais e com direito de esperar o cumprimento das bênçãos prometidas a Israel por Moisés e os profetas (Lc 18.9; Mt 23.30). Nós os vemos aqui esperando um Messias reinante e recusando o Sofredor. Entre os acusadores de Estêvão estavam saduceus, homens que criam que as únicas recompensas e punições eram recebidas nesta vida; a imortalidade do homem era, para eles, apenas um dogma dos fariseus. Esses homens podiam mediria a criminalidade de cada pessoa pela história dela. Se um problema se abatia sobre alguém, isso era uma prova de culpa e de que ele era recusado pelo Altíssimo (Lc 13.1-5).

Assim, os argumentos dos oponentes judeus de Estêvão tinham a seguinte forma:

“Jesus não é o Cristo.”

  1. “Como Ele pode ser o Messias se nunca recebeu de Deus o trono e o cetro prometidos ao Filho de Davi (Sl 72; 89)? Jesus falou muitas vezes sobre o reino de Deus, mas este nunca veio (Lc 17.20). Se Ele fosse o profeta como Moisés, como Seus amigos afirmam, Ele teria tido a confiança de Israel e teria provado ser o Libertador de Israel, como Moisés foi (cap. 24). Agora, pelo contrário, quando foi preso e condenado, Ele nunca se livrou da maldita e cruel morte da crucifixão. Deus não liberta sempre Seus amados servos quando estão em dificuldades e em perigo de morte? Não foi prometido que o Messias seria coberto pela mão de Deus, salvo e exaltado (Sl 91.14,15; 41)?”
  2. “Não foi prometido nas Escrituras que os inimigos do Messias seriam cortados (Sl 89.23; 72.9; 97.3)? Como veio a acontecer, então, se Jesus era o Messias, que os discípulos de Moisés que resistiram a Suas reivindicações e mataram o povo Dele não foram destruídos por juízos miraculosos, como os profetas anunciaram.” A partir dos apelos feitos a Jesus na cruz, vemos que esse argumento era considerado muito poderoso e satisfatório. Passantes, escribas, anciãos, sumos sacerdotes, espectadores, soldados, os ladrões, todos, judeus e gentios, juntaram-se a desafiá-Lo a descer da cruz e a salvar-se, se Ele fosse verdadeiramente o Cristo, o Rei de Israel, o Filho de Deus (Mt 27.39-44; Lc 23.35-46). Era de supor, portanto, que Sua morte tenha sido a destruição de Suas pretensões.
  3. Outro argumento contra as reivindicação de nosso Senhor era fundado sobre a decisão judicial de Sua própria nação contra Ele. “O sábio, o douto, o poderoso haviam rejeitado Suas alegações e deram a sentença de morte contra Ele. Escribas e sacerdotes em seu concílio O condenaram como blasfemo. E a lei dizia que a decisão dos sacerdotes e dos juízes em Jerusalém devia ser considerada infalível (Dt 17.8-11). Ele foi justamente condenado à morte, então, por ser um enganador (Mt 27.63; Jo 7.48).” Esse argumento também foi considerado de grande peso, como podemos ver pelo discurso dos dois discípulos de Emaús indo. “Jesus”, eles disseram, “foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. No entanto, os principais sacerdotes e governantes O entregaram aos romanos para ser condenado à morte e O crucificaram. Se Sua própria nação O rejeitou como impostor, como Ele poderia ser o Messias? O povo do Messias seria de súditos voluntários, como o salmista declarou” (Sl 110; Lc 24.19-21).
  4. “Como Ele poderia ser o Messias, se Ele ameaçou destruir o templo e mudar os costumes de Moisés? Não foram todos os reis piedosos da linhagem de Davi zelosos com a manutenção de toda a lei, restaurando-a quando ela caía em desuso?”
  5. “Por fim, como poderiam os cristãos ser ‘os filhos do reino’ do Messias, como eles pretendiam, quando eles eram desprezados, detidos e despojados? Em vez de serem exaltados, eles estavam perdendo até mesmo os privilégios que haviam conquistado pela lei de Moisés. Se Jesus fosse de fato seu Cabeça, como diziam, por que Ele não os defende? Por que Ele não os vinga daqueles que os maltratam? O que havia acontecido com Ele? Se Ele havia ressuscitado, por que não se mostra, para que pudessem vê-Lo e confessá-Lo como de fato ressurreto?”

Agora, o discurso de Estêvão transmite, principalmente na forma de narrativa, uma resposta àqueles argumentos, e a outros semelhantes. Visto desse ponto de vista, sua defesa é uma rajada bem dirigida – cada tiro é o que disse – e derrubando irresistivelmente seus oponentes.

O mártir toma a história de Abraão, de José e de Moisés, e por essas duas ou três testemunhas estabelece cada palavra.

1. Primeiramente, toma o caso de Abraão.

O que Israel pensa acha dele? Que ele era “o amigo de Deus, o grande e justo cabeça de sua nação, seu pai, fonte das promessas feitas a si mesmo e à nação”.

Se agora vamos julgar pelas circunstâncias, como eles iriam provar seu ponto de vista a partir da vida de Abraão?

O Altíssimo começou tirando-o de seu país, parentes e amigos. Abraão devia deixara a todos por uma terra estrangeira, da qual ele não sabia de nada. Deus prometeu-lhe que a (a) terra seria dele e que uma (b) posteridade numerosa quanto a areia da terra e como as estrelas do céu lhe seria dada.

O Altíssimo cumpriu essas promessas feitas a ele?

(a) Será que Ele lhe deu a terra da Palestina como sua posse? “E não lle lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé” (At 7.5).

Ele prometeu a terra à sua descendência. Israel obteve isso? Ou Jacó? Ou os doze patriarcas?

(b) Ele viu o cumprimento de uma inumerável descendência? Por longos anos, ele não teve filho (v. 5).

O que Deus diz sobre a descendência de Abraão? “A sua descendência seria peregrina em terra alheia, e a sujeitariam à escravidão e a maltratariam por quatrocentos anos” (v. 6).

Como, então, eles deviam julgar Abraão, se usassem com ele a mesma medida que usaram com Jesus Cristo? Eles deveriam dizer: “Ficou claro que Abraão foi iludido ou era um impostor, pois ele não havia ainda apreciado as promessas que ele imaginou que o Todo-Poderoso lhe havia feito!”

Mas, se o tratamento da descendência de Abraão por 400 anos foi tão grave como predito, então, isso era prova de que os crentes em Jesus como o Cristo não foram iludidos, porque eles foram afligidos e perseguidos em sua própria terra, e por mais tempo que aquilo.

A seguir, não há nenhuma prova contra Jesus ser o Herdeiro individual e o Cabeça prometido da descendência de Abraão, por Ele ter sido recusado e rejeitado até a morte.

Como eles poderiam responder? “Nós admitimos tudo isso, mas outra era está vindo, em que Abraão, Isaque e Jacó serão ressuscitados dentre os mortos, e a descendência deles irá, então, desfrutar a terra e se tornar inumerável, enquanto outras promessas serão cumpridas para eles, que estão incluídos no reinado do Messias, o grande Herdeiro de Abraão. Além disso, Deus prometeu, no exato momento em que ratificou a aliança com Abraão, que Ele julgaria a nação que os perseguiu e os tiraria de sua servidão para servi-Lo em riqueza e liberdade.”

Para esse argumento, a resposta era facilmente evidente.

“Nós, cristãos, concordamos com vocês. Mas, se o tempo futuro de retribuição e do cumprimento das promessas serve no caso de Abraão, serve para nós também. Nós também dizemos: “O julgamento é vindo sobre aqueles que perseguem a descendência espiritual de Abraão, os filhos de sua fé. E os verdadeiros filhos de Abraão devem ter uma maior libertação e melhores riquezas do que aqueles do Israel resgatado do Egito. Assim, afinal de contas, Jesus pode ser o herdeiro de Abraão, a semente a quem a promessa foi feita (Gn 15.18). Jeová deu um símbolo do tempo de angústia que devia preceder a libertação, o qual deve confirmar nossa fé: quando o pacto foi ratificado, um forno de fumaça precedeu a tocha de fogo (v. 17). Ou seja, a fornalha de tijolos e o rigor do Egito deveriam preceder o glorioso livramento (Dt 4.20; Is 62.1). Muito longe de a presente perseguição provar que nós e nosso Senhor não somos a descendência de Abraão, ela é, na verdade, uma prova a nosso favor!”

Também a observação de Estêvão, de que o Deus da glória mostrou-se a Abraão, na Mesopotâmia, muito antes de habitar em Canaã, é uma refutação inicial da idéia deles de que o culto a Jeová só poderia ocorrer na terra santa e na cidade santa.

O mártir, a seguir, fala do pacto da circuncisão (Gn 17), que se seguiu ao primeiro pacto (cap. 15), e, então, traça a linha da posteridade circuncidada de Abraão até José.

2. José

“O que vocês, hebreus, pensam de José?”

“Ele era grande e sábio, o favorecido de seu pai e de seu Deus, governante do mundo e libertador de Israel em tempo de extrema necessidade. Ele também era amado por Deus, como testemunham os sonhos que falavam de sua grande exaltação, e que, como enviados do céu, foram por fim cumpridos.”

Mas o que dizer de sua história terrena, tanto no meio da própria família como com os gentios?

“Os patriarcas, movidos de inveja, venderam José para o Egito” (At 7.9). Eles o odiavam, e nem sequer conseguiam falar pacificamente com ele. No Egito, ele é falsamente acusado, contado com os transgressores e enfiado na prisão por seu mestre gentio. O que vocês dizem dele agora? Esses problemas tão repetidos e que continuaram por tanto tempo não provam que ele fora rejeitado por Deus! Quando seus irmãos disseram: “Eis lá vem o sonhador-mor! Vinde, pois, agora, e matemo-lo e lancemo-lo numa dessas covas, e veremos que será de seus sonhos” (Gn 37.19,20), qual foi o partido aprovado? Quem foi condenado por Deus: os onze chefes da nação ou José? “Deus era com ele” (At 7.9; cf. Gn 39.2,3,21,23).

O homem rejeitado era o homem aprovado por Deus. Portanto, a mesma conduta por parte de Israel contra Cristo, incitada pelo mesmo espírito de inveja, não é prova de que Jesus não é o Cristo, o Filho amado de Deus (Mt 27.18; Mc 15.19). José foi vendido por vinte moedas de prata (Gn 37.28); Jesus, por trinta (Mt 26.15). José foi entregue aos midianitas; Jesus, aos romanos.

Será que aflição e humilhação provam que José foi abandonado pelo Altíssimo? Se isso não aconteceu, não pode a mesma aflição ser usada como argumento contra Jesus. Deus não apenas estava com José, mas “livrou-o de todas as suas tribulações e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” (At 7.10).

Talvez, então, pode ser verdade que Jesus desprezado, vendido, falsamente acusado por Seus irmãos, pode não só ter sido livrado de todas as Suas provações pela ressurreição, mas ter sido promovido no alto diante do Rei dos reis, para ser governante do mundo e Senhor da família de Deus, tanto de anjos como de homens! José, rejeitado por sua própria família, e esquecido, encontrou casa e glória no Egito. Jesus, desprezado como “um sonhador” por Israel, foi, no entanto, considerado supremamente sábio pelo Governante da terra e do céu!

A primeira metade da vida de José é fortemente marcada pela aflição. “Até ao tempo em que chegou [se cumpriu] a sua [de José] palavra, a palavra do Senhor o provou” (Sl 105.19). A segunda metade foi gloriosa como nunca vista anteriormente, e sem interrupção. Não poderia, portanto, ser assim um dia com o rejeitado Nazireu também?

Vocês dizem: “Como Ele pode ser o Messias e Libertador de Israel se não pôde livrar a Si mesmo da degradante morte da crucificação?” Tentem o mesmo raciocínio com José! Ele poderia ser o exaltado de Deus e o libertador de sua nação e do mundo que não podia se livrar de ser lançado em um poço, de ser vendido por menos do que o preço de um escravo e ser jogado num calabouço como um malfeitor sob falsa acusação?

Logo veio o juízo sobre seus perseguidores. A fome os assaltou. O Egito era o único país onde se podia obter comida. Isso os trouxe involuntariamente às mãos de José. Ele era dono da vida e da fortuna deles, e estava ciente disso. Talvez isso seja uma tipologia de um dia por vir, o dia da Grande Tribulação, quando Israel lançará suas esperanças no Messias e vai pedir Sua ajuda e Sua vinda, ignorante de que Jesus é o Messias.

Na segunda vez em que os patriarcas foram a José, este se revelou a eles, e deu a conhecer sua parentela a Faraó.

Assim também, Jesus, o rejeitado em Sua primeira vinda, pode, em Sua segunda vinda, fazer-se conhecer a seus irmãos de Israel e perdoá-los, enquanto Ele os estabelece no alto das nações do mundo e os reúne em sua própria terra.

Jacó e os outros patriarcas morreram no Egito, nunca recebendo a posse da terra da promessa. Eles tiveram uma tumba em Canaã.2 Eles eram apenas peregrinos e estrangeiros. Não seria maravilhoso, então, se os cristãos ocupassem o mesmo lugar de fé? Pois Israel e Jerusalém agora se tornaram Egito (Ap 11.8). Então, Deus começou a cumprir Sua profecia a Abraão com respeito às aflições e escravidão do povo no Egito. Seu aumento além da medida provou que Deus não se esqueceu deles. No entanto, esse aumento foi o motivo de sua aflição. Ele fez o Egito e seu rei muito ciumento deles. Talvez, então, o rápido crescimento dos cristãos naqueles dias fosse a prova de que Deus estava com eles, e as aflições que suportaram não fosse uma prova contra eles, mas, sim, uma evidência de que eles eram a verdadeira semente de Abraão, abençoados por Deus conforme a promessa, e prestes a serem libertados.

3. Moisés

Chegamos agora à história crítica de Moisés.

O que dizer de Moisés? “Ele era o chefe e mais fiel dos servos de Deus, o maior dos homens. Deus o amava e falou face a face com ele, e colocou Sua glória sobre o semblante dele.”

Apliquem agora a Moisés o mesmo princípio pelo qual vocês condenaram Cristo. O que vocês teriam pensado dele, se o julgassem pelas circunstâncias de sua vida?

Que ele foi rejeitado por Deus! Embora tenha liderado sua nação com a esperança da terra que manava leite e mel, ele próprio ficou fora dela pela decisão judicial de Deus. Isso não põe por terra o que vocês pensam de Moisés? Nem desfaz um pouco seu ponto de vista sobre Cristo?

Mas vamos com Estêvão entrar mais particularmente nessa história.

1. Moisés nasceu quando o momento da libertação prometida se aproximava, mas ele estava em perigo desde o nascimento. Jesus, por Sua vez, nasceu em circunstâncias em que não havia nenhuma prova contra Ele, mas, sim, uma evidência de que Ele era o predito profeta como Moisés, a quem Ele começou a se assemelhar a partir do momento de Seu nascimento.

Moisés “era mui formoso”, ou “formoso para Deus”, como trazem algumas traduções (At 7.20). Não foi Jesus muito mais reconhecido por Deus, como comprovado pelo cântico dos anjos que glorificaram o Altíssimo no nascimento Dele? E o que dizer do testemunho de Jeová em Seu batismo? “Tu és o Meu Filho amado em quem Me comprazo” (Mc 1.11).

“Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Jesus foi grande em sabedoria, de modo que surpreendia a todos os que O conheceram, embora a houvesse adquirido sem ensino humano (Mt 13.54). Jesus é descrito pelos dois discípulos que iam para Emaús como “homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19).

Moisés, caso quisesse, poderia ter morado na casa do rei, muito acima das aflições que se abateram sobre seu povo; e seria uma maneira justa de estar próximo ao trono do Egito, se não no próprio trono. Mas seu coração de compaixão enternecia-se por seus irmãos oprimidos. Ele deixou, então, de forma voluntária, sua glória para tomar parte com o povo aflito de Deus, quando ele tinha 40 anos, e plenamente competente para pesar as conseqüências dessa escolha. Não pode, então, ser Jesus o Profeta como Moisés, se Ele desceu de um trono mais elevado, movido pela compaixão por Israel e o mundo? Será que eles admiram Moisés por sua condescendência desinteressada? Por que, então, não admirar Jesus também pela mesma razão?

Isso não foi tornar-se um profeta como Moisés, embora ainda fosse superior a ele?

Moisés, empenhado com o bem-estar de seu povo, em uma ocasião deu um passo adiante, por meio de um ato público, para testemunhar quão completamente ele havia tomado o lado de Israel. “E, vendo maltratado um deles [israelitas], o defendeu e vingou o ofendido, matando o egípcio” (At 7.24). Não foi a conduta de Jesus como essa, quando Ele avançou para libertar Seu povo da escuridão espiritual, para resgatá-lo da doença e para mostrar Seu poder sobre Satanás e a morte? “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Jesus a ninguém feriu com a morte3, mas Ele libertou os oprimidos por demônios e venceu o príncipe deles.

Moisés ficou desapontado em sua tentativa de envolver-se com as aflições de seu povo. “E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade [salvação, na tradução usada pelo autor] pela sua mão, mas eles não entenderam” (7.25). A causa de Jesus foi assim também! Deus estava dando uma salvação superior para Israel e para o mundo, e Jesus iria fazê-los conhecê-la, mas eles não a perceberam! Talvez esse tenha sido o tempo predito da cegueira dos filhos de Israel, quando eles deveriam ver o Messias e Suas obras e não O receberem, deveriam ouvir Suas palavras de sabedoria e não as compreenderem (Is 6).

Temos, a seguir, a descrição da crise do esforço de Moisés. Seu próprio povo estava dividido, a parte injusta prevalecendo (At 7.26). Ele alegremente teria removido as discórdias [entre os israelitas], como um primeiro passo para o salvamento deles. Mas o que fazia mal a seu próximo rejeitou-o, tanto por palavras como por obras. Ele repeliu Moisés e negou sua missão de libertação, reprovando Moisés com próprio ato deste a favor de seu compatriota. Não seria, então, que a bondade e a graça de Jesus com respeito a Israel tenham sido de igual modo incompreendidas pela nação e seu propósito de redimi-la, recusado pela seita orgulhosa e opressora dos fariseus? Não que, em certo sentido, a censura lançada contra Moisés possa ser dirigida contra os judeus. Quando foi solicitado a dividir uma herança entre dois irmãos em desacordo, Jesus se recusou, com palavras como este opositor de Moisés: “Homem, quem Me pôs por juiz ou repartidor entre vós?” (Lc 12.14). Moisés, pela justiça, matou o egípcio. Cristo, na graça, libertou alguns da morte e curou a orelha ferida de um de Seus perseguidores. Moisés foi censurado por seu ato de graça com respeito a Israel, um ato que colocou sua vida em perigo? E não foi a morte de Cristo instigada por ter Ele ressuscitado Lázaro dentre os mortos? Por outro lado, Ele foi insultado na cruz por Seus inimigos com: “Salvou os outros e não pode salvar a Si mesmo” (Mc 15.31).

Qual dos dois partidos, então, eles [os judeus que ouviam Estêvão] diriam estar certo em palavras e atos na primeira ocasião? Moisés? Ou Israel? “Moisés!”, eles responderiam. Talvez, então, a rejeição a Jesus por parte da nação era como o mal nos dias deles, como a recusa de Moisés tinha sido nos dias de outrora!

Poderia Deus amar Moisés e estar com ele, apesar da rejeição nacional? Isso não pode ser verdade com respeito a Jesus? É a Pedra rejeitada, rejeitada pelos construtores cegos de Israel, que um dia será a Pedra de esquina.

Desse modo, Moisés, rejeitado, está em perigo de vida e foge. Por 40 anos, ele se demora em outra terra; ali encontra uma esposa e tem uma família. Jesus rejeitado poderia ter fugido, mas, por amor a outros, entregou Sua vida. Enquanto não está pronto, Israel se afasta para outra região, onde é gratamente recebido. Se Jesus deve se afastar de Seu povo por um tempo maior do que o de Moisés, Ele ainda seria o único semelhante a Seu antecessor, e Sua ausência de Seu povo cego e oprimido não seria nenhuma prova contra Sua missão divina, mas, sim, a favor dela.

Avançamos para a segunda e, desta vez, bem-sucedida visita a Israel. “E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor no deserto do monte Sinais, numa chama de fogo no meio de uma sarça” (At 7.30). A primeira aparição de Deus a Abraão originou a dispensação patriarcal. Essa aparição de Jeová a Moisés originou a dispensação mosaica.

De Moisés se pode dizer que sua primeira tentativa de libertar Israel havia sido prematura. Ele agiu provocado por seus sentimentos naturais, não endossado por qualquer comissão sobrenatural de Deus. Foi apenas na segunda ocasião que milagres lhe foram dados, e, assim, ele foi bem-sucedido.

Mas da missão de Jesus isso não poderia ser dito. Deus apareceu a Jesus em Seu batismo. O novo nome de Deus, como Pai, Filho e Espírito, estava lá exibido no ato. Moisés foi obrigado a perguntar o nome de Deus que ele deveria apresentar a Israel; Jesus estava ciente dele: Ele é o Filho. Moisés tem medo, e é avisado para não se aproximar sem preparação. Jesus não tem medo, e sobre Ele o céu se abriu e o Espírito desceu e repousou sobre Ele. Não há aqui um maior do que Moisés?

Mas se for dito: “O aparecimento de Moisés teve lugar depois de sua rejeição e de sua fuga”, nós ainda encontraremos novas semelhanças que se revelam e novas superioridades. Pela intercessão do Cristo ascenso, como Pedro testemunha, o Espírito Santo, como o anjo (ou O enviado) do Senhor, desce em fogo sobre os discípulos do Cristo rejeitado. Não poderiam eles, então, ser a sarça que queimava, mas não se consumia? Moisés se maravilhou da visão. E não se maravilharam os homens de Israel vindos de todas as nações, quando o Espírito Santo desceu em vento e fogo, deu aos 120 que falassem novas línguas, enquanto línguas de fogo que não consumia estavam sobre a cabeça deles? Do fogo da sarça saiu a voz de Jeová, testificando que Ele era o Deus dos pais. Não podem, assim, os testemunhos dos apóstolos inspirados serem verdade: que essa nova manifestação veio do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó (At 313,25; 5.30; 22.14).

Onde foi que aconteceu essa manifestação de Deus nos dias de Moisés? Na Terra Santa e em seu templo? Não, mas antes de qualquer tabernáculo ou templo terem sido construídas, no deserto da Arábia! Por que, então, eles [os judeus que apedrejavam Estêvão] deviam imaginar, que a revelação de Si mesmo que Deus fazia fora confinada ao templo ou que Ele era obrigado a morar apenas lá? Não foi essa aparição de Deus no deserto a Moisés que anulou quaisquer antigos locais de moradia de Deus, se eles existissem? Então, não poderia ser verdade que a Igreja de Deus, Sua casa de pedras vivas [e obedientes4], fosse o lugar de Sua morada atual, deixando de lado o templo de Herodes?

Enquanto Moisés era rejeitado, Israel continuava sob opressão dos gentios. Então, não pode ser verdade, se Jesus fosse o profeta como Moisés, e superior a ele, que Israel pudesse continuar cego em relação a Deus e oprimido por homens, enquanto rejeitar Jesus, por mais longo que esse tempo possa ser?

“Agora, pois, vem, e enviar-te-ei ao Egito” (At 7.34).

“A este Moisés, ao qual eles haviam negado, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz?, a este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera na sarça” (v. 35).5

A nação negou Moisés e o afastou. Negou-o naqueles exatos aspectos em que, como ele viu, o Deus de Israel desejava usá-lo. A nação estava certa em sua negação? Eles [os contemporâneos de Estêvão] diziam: “Não!” Não pode, então, a nação estar errada em outra negação, esta diante de Pilatos? O Espírito Santo os acusou disso: “”O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou Seu Filho [servo6, na versão usada pelo autor], Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes7, tendo ele determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos” (3.13-15). Não poderia, então, Jesus, apesar de ser o rejeitou de Israel, ser, no entanto, o Escolhido de Deus? Ainda que vos, ó homens de Israel, diante de Pilatos tenhais rejeitado a Jesus como seu rei, Ele não pode ainda ser o Rei eleito de Deus? A boa vontade de Deus e Seu conselho para o futuro não foram mais plenamente declarados na ressurreição de Jesus dentre os mortos do que na extensão da vida de Moisés? Sim! Jesus é, portanto, declarado ser o Juiz de todos (10.42; 17.31). Talvez, então, Jesus seja o libertador de há muito esperado! Sua rejeição por parte dos grandes homens de Israel fez os dois no caminho de Emaús vacilarem. Mas o Salvador rapidamente os endireitou: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse [primeiro] estas coisas e [então] entrasse na Sua glória?” (Lc 24.26). Não deveria a Pedra que seria a Pedra de esquina ser primeiramente rejeitada pelos sábios construtores de Israel? Na rejeição de Moisés por Israel, a quem isso condena? A Moisés? Ou a Israel? Talvez, então, a condenação deles a Jesus não era além da luta de Israel contra o Escolhido de Deus, e uma condenação de si mesmo!

Moisés, no trabalho de libertação, não estava sozinho. Uma Pessoa Divina participou com Seu mandamento divino para organizar tudo e para acabar com todo o poder humano com a força divina. E não foi a mesma coisa, em parte, mostrada quando o Espírito Divino, no batismo de Jesus, desceu sobre Ele? Então, Ele começou a agir publicamente na sabedoria e no poder de Deus. Isso não foi algo superior à comissão de Moisés no deserto? E o que havia acontecido depois disso? Não tinham ouvido todos de Jerusalém a respeito da descida do Espírito Santo no Pentecostes, em vento e fogo? E da sabedoria divina e do poder de milagres que se seguiram, atestando, então, de Jesus como o Libertador ascenso?

“Foi este [Moisés] que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no Mar Vermelho e no deserto por quarenta anos” (At 7.36).

Repetidamente, aquele que fala [Estêvão] justapõe, a sua contrariada audiência, a identidade do Escolhido de Deus com a daquele que foi negado pelos pais! Eles [os israelitas do passado] falaram de Moisés naquele dia de outrora com desprezo: “Este Moisés” (v. 35). Agora, eram homens dos dias de Estêvão que, com desprezo similar, tratavam o Senhor da glória: “Esse Jesus Nazareno” (6.14). Nos dias de Estêvão, a nação inteira se levantou para vingar no mártir um suposto desrespeito contra Moisés, embora, mesmo sem nenhuma palavra pronunciada! Talvez, então, um dia as coisas possam se inverter no que dizem respeito a Jesus, e a nação possa adorá-Lo e regozijar-se Nele como seu libertador a quem seus pais perseguiram e mataram!

Moisés, que na primeira aparição a Israel não operou nenhum milagre, na segunda ocasião não veio armado com o poder de realizar sinais e maravilhas? Como, então, não pode ser crido que Jesus, o qual em Seu primeiro apelo a Israel mostrou sinais e maravilhas maiores e mais numerosos do que os de Moisés, opere prodígios ainda maiores na ainda futura libertação de Israel?

Por um período de 40 anos, milagres no Egito, no Mar Vermelho e no deserto ocorreram. Não pode, então, haver um período em que, de acordo com o pacto de maravilhas feito com Moisés (Êx 34), a mão de Deus fira e resgate pelo poder de Jesus seja vista?

“Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor, vosso Deus, vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis” (At 7.37).

Moisés, o outrora rejeitado de Israel, predisse um profeta que seria como ele. Ele seria como Moisés em poder, em caráter e em história. Talvez, então, Moisés tenha dado a entender que o Profeta que viria a seguir e que seria como ele seria semelhante a ele também ao ser rejeitado por Israel em Sua primeira aparição! Se assim for, essa rejeição a Jesus por Sua nação não era nenhuma prova contra Sua missão dada por Deus, mas, sim, uma testemunha a seu favor! Moisés pôde testemunhar dos filhos de seu povo que eles tinham sido rebeldes contra o Senhor desde que os conhecera (Dt 9.7). Talvez o profeta que fora predito teria o mesmo testemunho a dar, um testemunho não aplicável a Sua própria condenação, mas para a condenação de Israel!

“A Ele ouvireis” (At 7.37).

Oh! Então, esse novo profeta deveria ser também um doador de lei, um emitente de mandamentos divinos! Talvez esses mandamentos possam ser uma revogação de alguns ou de todos aqueles de Moisés! Então, não seria blasfêmia contra Moisés testemunhar que o profeta que ele predissera havia chegado e que o novo profeta deveria ser ouvido, de preferência ao velho. Moisés não mudara os costumes dos pais? Para ser como Moisés, então, Jesus deveria mudar os deles [os contemporâneos de Estêvão]!

Moisés era manso? Jesus foi ainda mais manso. Certa vez, Moisés, sob forte provocação, orou contra seus oponentes. Jesus permitiu aos Seus que procedessem a flagelação, as cuspidas, as zombarias e a crucificação!

Nesse ponto, o mártir se volta contra seus acusadores com imensa força: “Vocês me acusam de blasfêmia contra Moisés. Vocês lhe obedecem? Vocês não estão em evidente oposição a ele? Ele predisse um sucessor para si mesmo, que seria guia e legislador para Israel. Vocês O rejeitaram; mais que isso, vocês O negaram e mataram. Você falam Dele com desprezo. Agora, em tudo isso, vocês não estão sendo testemunhas contra si mesmos? Seus pais não lançaram sobre Moisés as mesmas provocações que vocês lançam contra Jesus? Jesus, então, é o profeta como Moisés; é como ele em história e na comissão dada por Deus; é como ele em caráter é como ele também em sua rejeição por Israel.”

“Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar” (At 7.38).

A glória de Moisés foi vista não só na libertação de Israel, mas em sua presença com a congregação de Deus durante os quarenta anos no deserto. Jesus também não fez uma congregação, a quem Ele liderou tão verdadeiramente como Moisés? Se eles insultassem os seguidores de Jesus com sua rejeição, com a perda da herança e com sofrimentos, os discípulos poderiam responder: “Sim, esse Jesus que nos tirou do mundo nos indicou um enterro sob as águas e uma ressurreição a partir dali, que corresponde à passagem de Israel pelo Mar Vermelho. Nossa libertação é muito maior do que a antiga, e se encontrarmos problemas agora, isso apenas corresponde às provações da anterior congregação8 (ou “igreja”) de Deus no deserto. Cristo ainda está conosco, como Moisés estava com Israel, apesar das provações do povo no deserto.”’

Mas Moisés não estava sozinho em sua tarefa no deserto. Com ele foi o anjo do Senhor, o anjo da aliança, Aquele que falou com ele no monte Sinai. Então, podemos dizer de Jesus: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos [ou da era]. Amém.” (Mt 28.20). E não poderia Estêvão gabar-se de que o Espírito Santo ainda habitava com [os membros obedientes d]a Igreja de Cristo? Ele também não era um anjo falando? Não estavam profetas em todos os lugares cuja palavra era: “Assim diz o Espírito Santo”? Moisés teria ficado feliz por terem todos do povo do Senhor sinalizados pelo Espírito sobre eles. Estêvão podia afirmar que esse desejo de Moisés fora cumprido em todos os crentes daquele dia. O Senhor tinha visivelmente dado o Espírito em poder a todos os que obedeceram a Jesus. Eles receberam dons ou de palavra ou de atos. Pedro já tinha apelado para isso como um poderoso testemunho a seu favor (At 5.32).

Será que Deus do passado falou no deserto? Ele estava, naquele momento, falando a Israel em sua terra. Será que o Senhor distribuiu do Espírito que estava sobre Moisés a setenta anciãos? Não seria maior do que Moisés Aquele que concedeu profecia, ou línguas ou cura a cada um que O aceitou?

Eram vivos os oráculos de Moisés? Os oráculos de Cristo, pelo Espírito Santo, davam vida. Eles testemunham Daquele que é ressurreição e vida.

“Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram e em seu coração se tornaram ao Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós, porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu” (At 7.39,40).

O paralelo e sua força ainda continuam e se aprofundam. Mesmo depois de Israel ter visto as maravilhas operadas por Deus por intermédio de Moisés e ter-lhe reconhecido como seu libertador, eles não amavam obedecer. Eles não estavam satisfeitos com as restrições sob as quais ele os tinha liderado; e rejeitaram-no com desprezo, mesmo quando falaram dele para Arão, seu irmão. Eles desejavam ser não o povo separado de Deus, mas ser como as nações. Também nos dias de Estêvão, os herodianos, homens que glorificavam os romanos e adotavam suas práticas, eram sinais da terrível incredulidade de Israel nos últimos dias.

Moisés, por causa de sua ausência, invisível no monte, mas aparecendo na presença do Senhor por causa do povo, foi desprezado e deixado de lado pelas tribos, e, com ele, seu Deus. Mas o que é dito dos homens dos dias de Estêvão zombando de Jesus: “O que aconteceu com seu Cristo?”? A mesma provocação que seus pais haviam lançado a Moisés. A mesma resposta deveria ser dada quanto a Moisés, como os discípulos de Jesus deram a respeito de Cristo: “Ele está no alto, na presença de Deus por nós”. Mas a boca de Arão foi impedida de dar esse testemunho, pois ele com os outros anciãos tinham, na incredulidade, deixado o lugar que Moisés lhes tinha atribuído (Êx 24.14).

O desprezo que os judeus daquela época estavam expressando por Jesus – “Esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar” –, seus pais o haviam pronunciado da mesma maneira contra Moisés: “Porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu”. Isso foi particularmente mordaz. Cerca de seis ou sete vezes o mártir faz uso da palavra de desprezo dele para glorificar Moisés, e revelar-lhes a oposição entre os pensamentos divinos de Moisés e os da nação. “A este Moisés, ao qual haviam negado […] a esse enviou Deus” (v. 35). “Foi este [Moisés] que os conduziu” (v. 36). “Este é aquele Moisés que disse […]” (v. 37). “Este [Moisés] é o que esteve entre a congregação no deserto” (v. 38).

“E naqueles dias fizeram o bezerro, e ofereceram sacrifícios ao ídolo e se alegraram nas obras das suas mãos” (v. 41).

O resultado da incredulidade de Israel quanto ao retorno de Moisés do monte foi idolatria. Moisés e seu Deus foram juntos colocados de lado. Está acontecendo exatamente o mesmo agora, em nossos dias. Com a cessação da expectativa com respeito ao retorno de Cristo, há cada vez mais uma inclinação em direção a imagens. E, embora Israel nos dias de Estêvão se opusesse aos ídolos, irá, no entanto, nos últimos dias cair na idolatria. Isso é sugerido na parábola do Salvador sobre o retorno do espírito mau para a casa que ele voluntariamente tinha deixado por algum tempo. Ele irá retornar com sete espíritos piores do que si mesmo (Mt 12).

Isso é-nos mostrado em Apocalipse 9.20, 21. Nos dias de Moisés, os israelitas adoraram um bezerro. Nos últimos dias, haverá a adoração a Satanás e a seu rei besta selvagem (cap. 13). Com a rejeição ao Cordeiro e a Seu Pai, Satanás, seu rei blasfemo e o falso profeta tomarão lugar.

“Mas Deus se afastou e os abandonou a que servissem ao exército do céu, como está escrito no livro dos profetas: Porventura me oferecestes vítimas e sacrifícios no deserto por quarenta anos, ó casa de Israel? Antes tomastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do vosso deus Renfã, figuras que vós fizestes para as adorar. Transportar-vos-ei, pois, para além da Babilônia” (At 7.42,43).

Deus estava tão descontente com esse ato de idolatria nos dias de Moisés, que judicialmente entregou o povo ao culto ao exército do céu. E, em conseqüência direta, surgiu um sistema de adoração falsa, zombando das promessas e das esperanças dadas por Jeová. Eles carregavam no deserto um tabernáculo rival, dedicada ao rei Moloque, o rei do céu. Eles também carregavam a estrela de Renfã, que significa “O que cura”. Assim, em lugar vez de “O Senhor que te sara” (Jeová Rafá [heb.], Êx 15.26) e da estrela que procederia de Jacó, com o cetro que subiria de Israel (Nm 24.17), eles criaram uma falsa adoração de acordo com sua própria concepção. Jesus, em cujo nascimento apareceu a verdadeira estrela, Jesus, o verdadeiro Rei do céu e rei dos judeus, em Sua vida tinha se mostrado como o que curava cada enfermidade e cada doença das pessoas. Quando Jesus foi rejeitado, o julgamento de Deus sobre Israel poderia ter sido muito mais grave e Seu abandono mais completo no dia por vir do que no primeiro caso. Amós tinha previsto um cativeiro ainda por vir. E quando isso acontecer, poderia ser diferente de o templo reconstruído de Herodes ser novamente destruído, como tinha sido o anterior?9

Essa passagem do discurso de Estêvão é dirigida contra determinados idéias e fundamentos falaciosos de Israel sobre esse assunto, expressas do seguinte modo: “Deus não pode tirar-nos de novo de nossa terra, pois nós não somos idólatras, como nossos pais foram. Nós somos obedientes a Moisés, zelosos de suas leis, odiamos ídolos. A nós, então, e a nosso tempo pertencem as promessas de Jeremias, Ezequiel e Zacarias: de que Jerusalém, seu templo e sua nação não serão arrancados ou derrubados para sempre”.

Não é assim. Deus nunca perdoou Israel pelo pecado do bezerro (Êx 32.35). A idolatria irrompeu novamente na terra, e sob os reis (1Rs 12). Seu terceiro e último aspecto ainda está por vir, que será os dias de cativeiro de Israel, no dia da grande tribulação.

A parte do discurso de Estêvão que se segue refere-se à acusação de ele ter blasfemado contra o templo.

“Estava entre nossos pais no deserto o tabernáculo do testemunho [ou de testemunha], como ordenara Aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto” (At 7.44).

Eles se gabavam do templo e de Moisés. Mas Moisés e os pais tinham apenas um templo em movimento. Aquele só era adequado para sua freqüente mudança de lugar. Ele também era “o tabernáculo do testemunho”, não “o templo da realização [dos tipos e das profecias]”. Esse edifício prestou testemunho em vários aspectos.

  1. Contra a idolatria dos israelitas. Não era o tabernáculo de Jeová um testemunho contra o de Moloque? Como o tabernáculo de Jeová, que comportava Sua arca da aliança, foi um testemunho das coisas melhores por vir de acordo com Suas promessas, assim o tabernáculo de Moloque era nada mais que um símbolo dos dias sombrios de juízo de Deus ainda por vir. O primeiro proclamava que povo deveria entrar na terra e os inimigos das tribos, exterminados, enquanto o outro indicava o triunfo dos inimigos de Israel e as tribos sendo varridas para fora da terra da promessa de Jeová.
  2. Mas o tabernáculo do testemunho feito por Moisés também fora um testemunho de um sistema de coisas ainda por vir, muito superior a si mesmo. Pois Moisés, como mediador de Israel, subiu a Deus, estava no meio do tabernáculo celestial e viu os modelos [pelos quais o tabernáculo e seus móveis deveriam ser feitos] lá em cima, os quais, quando desceu, deveria copiar. Assim, o tabernáculo terrestre e o templo que se seguiu foram testemunhas do tabernáculo celestial do qual Estêvão dava testemunho como sendo aquele em que Jesus tinha entrado. [Estêvão poderia ter dito:] “Vocês se vangloriam do tabernáculo terrestre. Mas os vasos e móveis dele são apenas cópias daqueles em meio aos quais nosso Mediador e Sacerdote ascenso, o Senhor Jesus, está ministrando (Hb 9). É onde Deus está agora, e Jesus é, como Moisés, Mediador de uma aliança, de uma melhor aliança, tanto quanto as coisas celestiais são superiores às da terra”.

“O qual [tabernáculo], nossos pais, recebendo-o também, o levaram com Josué [nome hebraico com o mesmo significado de Jesus: Jeová salva] quando entraram na posse das nações que Deus lançou para fora da presença de nossos pais, até os dias de Davi, que achou graça diante de Deus e pediu que pudesse achar tabernáculo para o Deus de Jacó. E Salomão lhe edificou casa” (At 7.45-47).

O lugar de adoração sob Moisés, e mesmo por quatrocentos anos, era apenas uma tenda, movida de um lugar para outro. Davi desejou construir uma casa para o Senhor, mas, ainda que tenha encontrado grande favor com Jeová, não lhe foi permitido. Foi muito significativo que Moisés não tenha podido levar seu povo para terra da promessa. Ele teve de dar lugar a Jesus (Josué, em hebraico). Não poderia, então, ser Jesus, a quem desprezaram, o conquistador, Aquele que lhes deve dar a posse de sua terra em um dia por vir e derrubar os inimigos gentios, como os profetas predisseram?

“Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono e a terra, o escabelo dos meus pés. Que casa me edificareis?’, diz o Senhor, ‘Ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura não fez a minha mão todas estas coisas?’” (At 7.48-50).

Embora, no passado, o Senhor tenha prometido um dia habitar em Jerusalém, e no templo da cidade (S. 68.16; 132.14; Ez 43.7), isso ainda não foi cumprido. Ele havia deixado a terra e voltado ao céu, como mostrou Ezequiel (8.4; 9.3; 10.3,4,18,19; 11.22,23). Para lá Jesus tinha foi, como os apóstolos haviam testemunhado à nação de Israel (At 2; 3). Na devoção de Israel ao templo terreno, como o local de residência de Deus naquela época, a nação estava realmente lutando contra Deus.

Assim, o mártir tem mostrado que Jeová não estava vinculado a nenhum lugar de manifestação. Ele havia se revelado a Abraão na Mesopotâmia; a Moisés, na sarça do deserto e no topo da montanha. Então, Ele se mudou de lugar para lugar, com as peregrinações de Seu povo. Mesmo quando o povo entrou na terra, havia ainda apenas uma tenda, por longos anos. Embora Deus tenha prometido habitar no templo de Salomão, seria apenas em certas condições, com a quebra das quais o Senhor abandonaria a morada que o homem tinha feito. Portanto, não era uma blasfêmia contra Deus dizer, como Jesus tinha dito, que o templo reconstruído por Herodes deveria ser destruído.

“Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós, que recebestes a lei por ordenação de anjos e não a guardastes” (At 7.51-53).

A circuncisão era o orgulho de israelitas. O mártir tira esse orgulho deles. Eles tiveram a circuncisão na carne, mas não no espírito; o sinal, não a coisa significada. Seu próprio Moisés os havia censurado, como sendo de dura cerviz, rebeldes contra Deus e cegos. Eles se recusaram a se converter do mal por qualquer testemunho (Lv 26.41; Dt 10.16). O coração deles rejeitava os mandamentos de Deus. Além disso, eles se recusavam até mesmo a ouvir as palavras do Senhor, proferidas por Estêvão, o inspirado, como, naquela ocasião, viriam a demonstrar.

Eram os homens diante de Estêvão melhores do que seus pais? De maneira nenhuma! Eles rejeitaram o Filho de Deus. Após o Espírito descer para dar testemunho do Filho, rejeitaram o Espírito também. Eles haviam rejeitado os profetas e os perseguido. Mesmo aqueles em cuja boca Deus havia posto mensagens de esperança, sobre o Libertador por vir, foram maltratados e mortos. Como, então, eles podiam imaginar que sua condenação nacional e oficial a Cristo realmente refutada as reivindicações que Ele fazia? Isso somente os condenava. Isso mostrou apenas que o espírito de todos de Israel ao longo do tempo era do mesmo tipo. Se eles mataram os precursores do Messias, homens inspirados pelo Espírito Santo, por que se admirar de que houvessem matado o próprio Messias?

Jesus aqui é identificado por um título particular: “o Justo”. Os salmos freqüentemente falam das aflições do justo. Os israelitas testemunharam de conspirar contra Ele, de discursar orgulhosamente contra Ele e de terem-No vendido. Mas tanto os salmos como os profetas testemunharam Sua glória futura. “Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma e ficará satisfeito; com o Seu conhecimento o Meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre Si” (Is 53.11). “Levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra”(Jr 23.5; Zc 9.9).

Um homem foi distinguido acima do mundo dos pecadores como “Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2.1). Como os israelitas tinham servido a Ele? Eles o traíram entregando-O aos romanos e levando-O à morte.

Mas eles não eram estritos observadores da lei? Não! Embora os anjos a tenham proclamado, eles e seus pais a haviam desobedecido toda, especialmente em sua recusa ao profeta predito por Moisés e pela crucificação do Justo.

Tal era o testemunho do Espírito Santo contra aqueles homens de justiça própria. Tal era o desmanchar-se de todos os seus argumentos! Uma declaração tranquila de fatos inegáveis dada por Deus espatifou todas as objeções de confiança deles. O efeito do discurso é dado notavelmente, mais ainda no original do que na tradução.

“E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele” (At 7.54).

Eles se recusaram a aceitar o testemunho. Portanto, eles estavam atribulados com a verdade. Ela não poderia ser negada. Era mais forte que o coração deles. Eles podiam resistir como madeira, mas a verdade era forte como ferro, afiada com muitos dentes como a serra10. Cada declaração era uma nova ponta a perfurá-los. Isso foi entregue com o poder do Espírito Santo. Eles não iriam ceder, mas exibiram com raiva seu ódio pela verdade. Eles eram como os próprios condenados. Ranger os dentes é uma das características dos perdidos. Aqui, os transgressores rangem os dentes contra o inspirado pelo Espírito Santo, o homem que era justo por meio da fé. Pois isso foi escrito: “O ímpio maquina contra o justo e contra ele range os dentes. O Senhor se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia” (Sl 37.12,13; 112.10; 35.16).

O mensageiro do Senhor foi odiado com uma malícia que não pôde conter até mesmo sua expressão visível. Isso mostra quão completamente todo o discurso falou contra os sentimentos e os argumentos deles.

Faltava-lhes, porém, mais um ponto.

“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus. E disse: ‘Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus’” (At 7.55,56).

Ele tinha provado o argumento de que Deus não estava ligado a qualquer lugar na terra. Ele tinha apresentado o testemunho de Moisés, de que havia um melhor santuário de Deus do que aquele que o homem edificou na terra. Ele citou o profeta como uma prova de que, nesta dispensação, Deus não habita em templos feitos por mãos na terra. Mas agora Estêvão está ainda a se tornar uma testemunha ocular do verdadeiro templo e da glória de Deus no céu. Lá, ele contempla a Jesus, a quem eles rejeitaram, de pé no lugar da mais alta honra com Deus, onde nem Moisés nem Elias são vistos.

O discurso tinha mostrado que, apesar da condenação dos israelitas a Jesus, Ele pôde subir aos céus. Mas agora Estêvão, com os olhos abertos pelo Espírito de Deus, pode testemunhar: “Ele está no céu, eu O vejo!”

Ele chama Jesus de “Filho do homem”. Esse é Seu título em Daniel 7.13,14. Foi Dele, então, que Daniel falou como o governante de toda a terra. Esse é o título do Governador de todas as coisas no céu e na terra (Sl 8) no prometido dia da glória.

Isso não podia ser suportado. Como a víbora surda, eles taparam os ouvidos, recusando-se a ouvir a verdade (Sl 58.4.) Eles se apressam sobre ele com pés ligeiros para derramar sangue. Eles lançam pedras, e dessa forma muitos puderam tomar parte em sua morte.

Eles o lançaram fora da cidade, como fizeram com nosso Senhor, porque o discípulo que é perfeito será como seu Mestre.

Ele ora a Jesus, como o Salvador, ao partir, orou ao Pai: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). O Redentor, então, é “o Senhor” do salmo 110. O Pai fez do Jesus rejeitado Senhor e Cristo. Estêvão, portanto, O tem como Adonai, ou Senhor, Senhor Jesus. “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At 7.60). O antigo sumo sacerdote é contra ele, mas o novo Sumo Sacerdote no céu está do seu lado, uma Ajuda divina. Com o sangue da nova aliança é também vindo um novo espírito, muito além do antigo. Quando “o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada” para testemunhar contra a idolatria de Israel, “eles conspiraram contra ele e o apedrejaram por mandado do rei, no pátio da casa do Senhor […] o qual, morrendo, disse: O Senhor o verá e o requererá” (2Cr 24.18-22). Assim, no mesmo ano, os inimigos entraram na terra, roubaram-na e mataram os príncipes do povo, enquanto o rei assassino era morto por seus próprios servos que conspiraram contra ele.

No caso do presente mártir, a terra se fechou contra o homem de fé, o inspirado pelo Espírito de Cristo. Mas o céu se abriu para ele, e, pela visão das glórias lá, ele pôde ignorar a tempestade na terra. A morte, para ele, foi roubada de seu aguilhão. Ele apenas “adormeceu” (At 7.60). Na primeira e bendita ressurreição ele reinará com seu Mestre.

De todo o argumento, então, vemos que uma nova dispensação deve surgir a fim de cumprir as promessas feitas aos patriarcas, a Israel e à Igreja de Cristo. O tempo do cumprimento das esperanças dos patriarcas nunca havia chegado a eles. Eles estão esperando. O banquete não pode começar até que todos os convidados estejam assentados e o Rei se coloque em Seu verdadeiro lugar (Mt 22.1-14). Para nós, se aceitos por Cristo, o lugar mais elevado na era que está chegando deverá ser atribuído (Hb 11.39,40).

Agora é o tempo da paciência de Deus, de chamamento de um mundo mau ao arrependimento, de chamamento para os homens de fé saírem do mundo a fim de trabalhar e sofrer por e com um Cristo rejeitado. O reino da glória por vir está diante de nós, como conforto para nós sob provações por Cristo e como recompensa e prêmio de nossa vocação (Fp 3). Logo, os dias de vingança pelo sangue dos mártires irão cair sobre a terra, e os discípulos vigilantes serão guardados da hora da tentação que há de vir sobre toda a terra habitável, para testar seus moradores e exibir sua pecaminosidade (Mt 23; 24; Ap 16). Naquele dia, a glória de Jesus vai encher o céu e a terra, e Israel vai lamentar sua cegueira e suas transgressões contra Ele. Então, aqueles que trabalharam por Cristo e sofreram com Ele, com Ele serão exaltados e reinarão mil anos (Ap 20.4-6).

Coragem, então, cristãos que sofrem por Cristo! A semente inferior de Abraão foi deixada em cativeiro e provações por 400 anos. Por que admirar-se, então, se a semente superior da fé de Abraão é chamada a sofrer muito e por um período mais longo? Nosso chamado não é para consertar o mundo e encontrar nossa porção aqui embaixo, nessa vida fugaz. Mas devemos esperar até que o Redentor vem, até que os mortos em Cristo despertem e o Salvador distribua Seus galardões a Seus servos fiéis. Que estejamos entre os que se reunirão em alegria naquele dia!

Notas

1 Judeus que anteriormente eram escravos romanos, mas haviam sido libertados por seus amos. (N. do E.)

2 “Jacó desceu ao Egito, e morreu, ele e nossos pais; e foram transportados para Siquém e depositados na sepultura que Abraão comprara por certa soma de dinheiro aos filhos de Hamor, pai de Siquém” (At 7.15,16). “A memória de Estêvão tropeçou aqui? Não foi de Efrom, o heteu, a sepultura que Abraão comprou (Gn 23)? E não estava a caverna de Macpela situada não em Siquém, mas em Hebrom?” Sim, se (1) a leitura do grego está correta e (2) se o mártir se refere à mesma transação registrada em Gênesis 23. (2) Mas, disso podemos bem duvidar. Nem tudo o que Abraão ou Jacó fez está escrito (48.22). (1) A leitura atual pode não ser aceita. Tregelles, com a autoridade de bons manuscritos, lê: “Que Abraão comprara por certa soma de dinheiro aos filhos de Hamor em Siquém”. (N. do E.)

A American Standard Version, a English Standard Version e a International Standard Version trazem essa forma, enquanto a tradução de Darby e a King James Version trazem “father” (pai) em itálico, indicando que a palavra não se encontra nos originais utilizados. (N. do T.)

3 Isto é, durante o tempo de Sua primeira vinda à terra, mas isso não se aplica ao futuro: “E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que Eu sou Aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras” (Ap 2.23). (N. do E.)

4 Ver At 5.32. (N. do E.)

5 Moisés disse: “Toma minha vida”; Jesus deu Sua vida. (N. do E.)

6 Referência ao “servo, o justo” de Is 53.11. Paulo é o primeiro a dar testemunho de Cristo como “o Filho” (At 9). (N. do E.)

7 Mesma palavra de At 7.35. (N. do E.)

8 A palavra grega ekklesia é traduzida por “congregação” em At 7.38 (a KJ traduz por “igreja” nesse versículo), mas também por “igreja”, “ajuntamento” (19.32) e “assembléia” (vv. 39,41). (N. do T.)

9 Isso se refere ao cerco de Jerusalém no ano 70 (aproximadamente 35 anos após o discurso de Estêvão) pelo general romano Tito. Na ocasião, a cidade foi saqueada e o templo, queimado e demolido. (N. do T.)

10 “When they heard these things, they were cut to the heart” (KJV). Foram cortados, feridos, retalhados, lancetados, feridos no coração, como se tivessem sido serrados ao meio [idéia dada pelo verbo grego]. Todos ficaram cheios de angústia, com grande dor e desconforto; eles estavam cheios de ira e de loucura e não podia suportar nem a si mesmos nem a Estêvão. (John Gill, adaptado) (N. do T.)


(Traduzido por Francisco Nunes de Stephen’s Accusation, Defence, and Martyrdom, de Robert Govett. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Cativeiro no Senhor (T. Austin-Sparks)

Plantado como semente na prisão

“Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (Ef 3.1).

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (4.1).

“Sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa” (2Tm 2.9).

“Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8).

Há um sentido muito real em que o apóstolo Paulo, em sua pessoa e experiência, foi uma corporificação da história da Igreja nesta era. Na verdade, parece ser um princípio na economia divina que aqueles a quem uma revelação foi confiada devem tê-la tão trabalhada em seu próprio ser e em sua história que sejam capazes de dizer: “Eu sou um sinal para vocês”. Ao considerar os trechos citados, vemos que o fim da vida de Paulo experimentou um processo de estreitamento e limitação operando por meio de “uma grande apostasia”, por um lado, e um confinamento do geral para o específico, em que ele, Paulo, representou o testemunho do outro. Isso é precisamente o que está predito quanto às condições relativas ao “fim”, e não é sem importância que seja especialmente mencionado nas declarações proféticas a Timóteo, na carta final. Desse modo, a ocorrência da expressão “o prisioneiro do [no] Senhor” nos últimos escritos é profética em seu significado, e maravilhosamente explicativa da forma final da soberania do Senhor.

O que temos aqui, então, é

1. O instrumento do testemunho do Senhor em um lugar de limitação, pela vontade de Deus.

Ao lermos o registro dos incidentes que levaram Paulo a Roma como prisioneiro – especialmente quando lemos as palavras de Agripa: “Bem podia soltar-se este homem, se não houvera apelado para César” (At 26.32) –, não podemos deixar de sentir que houve erros e acidentes, mas para os quais poderia ter havido um resultado muito mais propício, e o ministério geral do apóstolo poderia ter-se estendido. Pode ter havido momentos de estresse, quando o próprio Paulo foi tentado a se perguntar se não tinha sido impulsivo ao apelar ao imperador. Mas, conforme avançava, e quando o Senhor falou com ele, ocasionalmente, dando-lhe luz, ficou claro que, apesar da coisa ter sido humanamente realizada, havia o governo soberano de Deus em tudo e que ele estava na prisão, não como prisioneiro do imperador, mas como o prisioneiro no Senhor.

Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.

Talvez Paulo não tenha aceito isso tudo de uma vez. Possivelmente ele não tenha percebido como isso iria operar. Um julgamento e uma libertação mais ou menos rápidas podiam ter estado em sua mente. Alguma esperança de um ministério posterior entre os amados santos parece não estar ausente de sua correspondência. (Provavelmente, havia decorrido um curto período desde a libertação da primeira prisão.) Por fim, no entanto, ele aceitou totalmente que estava se tornando cada vez mais claro como o caminho do Senhor, e cresceu nele a certeza de que esse caminho estava de acordo com os maiores interesses do Corpo de Cristo. Assim, vemos que, quando vem o momento do povo do Senhor ser colocado face a face com as coisas últimas e supremas da revelação de Jesus Cristo – coisas além da salvação pessoal, coisas que se relacionam com a mente de Deus desde os tempos eternos e bem além de ser salvo –, então, tem de haver um estreitamento, um confinamento, um limitante. Muita atividade que foi feita, e tudo que foi feito a fim de trazer coisas para determinada posição e estado, agora cessam para levá-los mais adiante, e algo mais intensivo é necessário.

O que representa o testemunho em sua aproximação mais completa e mais próxima do propósito final de Deus, então, tem de ser despojado de muito do que tem sido bom, necessário e de Deus numa forma preparatória, e deve ser encarcerado para o que é final . O cativeiro não é uma verdade concebida ou uma aceitação doutrinária imposta. Ele é operado em cada fibra do ser pela experiência que segue à revelação, e a revelação interpreta a experiência. Não é a vitória de alguma interpretação defendida: é a própria vida dos instrumentos, e o instrumento é aquilo em seu próprio ser. Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.

2. A importância e o valor de ver e aceitar as coisas na luz de Deus

Isso se aplicava a Paulo e àqueles que estavam com ele. Para o apóstolo, estar confortável na soberana ordenação de Deus em sua prisão resultava em iluminação crescente que levava à emancipação espiritual.

Ninguém pode deixar de reconhecer o enorme enriquecimento do ministério como o contido nas que são chamadas de “epístolas da prisão”: [ Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom]. Se ele tivesse sido obstinado, ressentido, rebelde ou amargo, não teria havido o céu aberto, e um espírito de controvérsia com o Senhor teria fechado e selado a porta para as mais plenas revelações e aclaramentos divinos.

Quando tudo foi aceito de acordo com a mente do Senhor, logo “os lugares celestiais” se tornaram as extensões eternas de sua caminhada sobre a terra, e servidão terrena deu lugar à liberdade celestial. Assim deve ser com cada instrumento separado para os interesses superiores do testemunho do Senhor.

A leitura de certas passagens em suas cartas e o registro de sua prisão mostra como isso se aplicava aos outros. Considere as seguintes:

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu” (2Tm 1.8).

“E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo […] e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo” (At 28.30,31).

“O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou, e não se envergonhou das minhas cadeias. Antes, vindo ele a Roma, com muito cuidado me procurou e me achou” (2Tm 1.6,7).

É evidente que essas passagens indicam que tinha de haver uma compreensão divina e não apenas uma apreciação humana da posição de Paulo. Níveis humanos de mentalidade teriam produzido uma atmosfera de dúvida, desconfiança, questionamentos, e teriam deixado elementos de falsa imputação. Considerada em linhas meramente naturais, a associação com o prisioneiro teria envolvido tais associados em suspeita e preconceito. A dúvida sobre o servo do Senhor era muito difundida, e até mesmo muitos do povo do Senhor não tinham certeza sobre ele. Mas o Senhor estava fechando uma revelação muito importante para esse canal, e para os que estavam realmente em necessidade espiritual; estes que tinham de permanecer em uma relação viva com a plenitude do testemunho da identificação com Cristo na morte e na ressurreição, na união no trono com Ele, o poder sobre principados e potestades, e para o ministério “nos séculos vindouros”, tinham de ser postos de lado de todas considerações humanas, pessoais e diplomáticas, e permanecer bem ali com o instrumento com que Deus os colocou na prisão honrosa. Para a posse do que estava por vir por meio do vaso, tinha de haver uma ida ao lugar em que o vaso1 estava, sem consideração por reputação, influência ou popularidade.

Dessa forma, o Senhor peneira Seu povo e encontra quem realmente é inteiramente para Ele e para Seus testemunho, e quem age em qualquer medida por outras considerações e interesses. O instrumento nessa posição de rejeição popular é, portanto, a ferramenta de busca do Senhor pelos realmente necessitados e pobres de espírito. Eles serão encontrados e terão suas necessidades satisfeitas.

A outra verdade que permanece aqui, então, é que

3. Vergonha, desprezo e limitação são muitas vezes formas de Deus enriquecer todo o Corpo de Cristo.

Tem sido sempre assim. A medida de aproximação à plenitude da revelação tem sido sempre acompanhado por um custo relativo. Cada instrumento do testemunho tem sido colocada sob suspeita e desprezo em uma medida proporcional ao grau de valor para o Senhor, e isso fez com que, humanamente, eles sejam limitados a esse ponto. Muitos têm apostatado, caído, se afastado, duvidado, temido e questionado. Mas, como Paulo pôde dizer: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória” (Ef 3.13.), ou: “Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (v. 1), então, a medida de limitação no Senhor é a medida de enriquecimento de Seu povo. Quanto mais completa a revelação, menos aqueles que a apreendem ou maior o número daqueles que permanecem ao longe. Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação, e tê-los experimentalmente significa compartilhar o custo de alguma forma. Mas essa é a maneira divina de garantir para Deus um lote2 de semente espiritual.

Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação.

Um lote de sementes é uma coisa intensiva. Ali as coisas são reduzidas a dimensões muito limitadas. Não é algo visível de grande extensão que está imediatamente em vista, mas as coisas são consideradas, em primeiro lugar, à luz da semente. O verdadeiro significado das coisas não é sempre reconhecido , mas você pode viajar por todo o mundo e encontrar um grande número de jardins que são a expressão daquele intensivo e restrito lote de sementes. Se alguma vez houve tal lote de semente, foi a prisão de Paulo em Roma.

Tudo isso pode se aplicar a vidas individuais em relação ao testemunho do Senhor. Muitas vezes pode haver um atrito contra a limitação, o confinamento, e um desejo inquieto por aquilo que chamaríamos de algo mais amplo ou menos restrito. Se o Senhor nos quer no lugar em que estamos, nossa aceitação disso em fé pode provar que isso se torna uma coisa muito maior do que qualquer avaliação humana pode julgar. Gostaria de saber se Paulo tinha alguma idéia de que sua prisão significaria sua contínua expansão de valor para o Senhor Jesus ao longo 1.900 anos? O que se aplica a indivíduos também se aplica aos ajuntamentos, assembléias ou grupos do povo do Senhor espalhados na terra, mas um em sua comunhão com respeito ao testemunho pleno do Senhor.

Que o Senhor esteja graciosamente agradado de fazer com que o aspecto meramente humano dos muros da prisão sejam expulso e nos dê a percepção de que, longe de ser limitada por homens e circunstâncias, é prisão no Senhor, e isso significa que todas as era e todos os reinos entram por essa prisão.

(De Toward a Mark (Em direção à marca), jan-fev 1980, vol. 9-1.)

(Traduzido por Francisco Nunes. Original aqui. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)

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1Instrumento e vaso, como visto neste artigo, são termos normalmente usados por Austin-Sparks para se referir aos servos de Deus. (N.T.)

2No sentido de um canteiro, um terreno pequeno. (N.T.)

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Igreja John Nelson Darby Ministério

A fonte do ministério (J. N. Darby)

“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2Co 5.19).

Aqui há três coisas que resultam da vinda de Deus em Cristo: “reconciliando”, “não lhes imputando” e “pôs em nós a palavra da reconciliação”. Sem este último ponto, a obra da graça ficaria imperfeita em sua aplicação, pois Jesus, que, em Sua vinda ao mundo, reconciliava e não imputava, devia ser feito pecado por nós (v. 21), morrer e ir-se. A obra consumada ficaria, assim, suspensa em sua aplicação. O complemento desta obra gloriosa da graça de Deus era confiar aos homens “a palavra da reconciliação“, segundo Seu poder e Seu agrado. Desta maneira, introduzia dois elementos no ministério:

1. Uma profunda convicção, um sentimento poderoso do amor manifestado nesta obra de reconciliação;

2. Os [homens-]dons que eram capazes de anunciar aos homens, segundo suas necessidades, as riquezas desta graça que animava o coração daqueles que a anunciavam.

É o que a parábola dos talentos nos apresenta (Mt 25). Tanto o que tinha cinco talentos como o que tinha dois eram movidos pela confiança que a graça dá e pela segurança produzida pelo conhecimento do caráter de seu Mestre. As capacidades e os dons deles não eram iguais. Deus é soberano a este respeito. Àquele que tinha só um talento, em proporção a sua capacidade, faltava esta confiança que inspira o conhecimento de Deus em Cristo. Ele estava equivocado sobre o caráter de seu Mestre. Foi inativo por causa do estado de sua alma, como os outros dois foram ativos pela mesma razão.

Aqui vemos que o princípio do ministério é a energia do amor, da graça, que se origina na fé que nos faz conhecer a Deus. Atacar isso é fazer cair tudo de sua base fundamental. Em sua essência, o ministério emana do conhecimento individual do caráter do Mestre. Conhecer a graça, sentida profundamente, torna-se a graça ativa em nosso coração, única fonte verdadeira, a única possível, na natureza das coisas, para um ministério segundo Deus.

Além disso, vemos que em Sua soberania Deus distribui como Lhe parece bem, quer seja a capacidade natural como utensílio para conter o dom, ou o próprio dom, conforme a medida do dom de Cristo, tirado de Seus tesouros que se encontram Nele e que recebeu para dar aos homens.

Encontramos o ministério baseado no mesmo princípio quando o Senhor disse a Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me […]?” e, à resposta dele, acrescenta: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.15,16). Isso leva a duas partes essenciais do ministério: primeira, a livre atividade do amor que motiva a chamar as almas e, segunda, o serviço que não cessa em seus esforços para edificá-las quando elas são chamadas.

Com respeito ao ministério da Palavra (pois há outros dons), estas duas partes são-nos apresentadas claramente em Colossenses 1. No verso 23, Paulo é ministro do evangelho, “o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu”, e, nos versos 24 e 25, é ministro da igreja, “para cumprir a palavra de Deus”.

Como energia e fonte de todo ministério estão, portanto, estas duas coisas:

1. O amor que a graça produz no coração, o amor que impulsiona a atividade, e

2. A soberania de Deus que comunica dons segundo Seu querer e chama para este ou aquele ministério, chamamento este que faz do ministério um assunto de fidelidade e de dever por parte daquele que é chamado.

Devemos notar que estes dois princípios supõem, um e outro, uma inteira liberdade em relação aos homens, que não deveriam intervir dando origem ou autorização ao ministério sem neutralizar, por um lado, o amor como fonte da atividade nem fazer, por outro, intrusão na soberania de Deus que chama, que envia e cujo chamamento é um dever. A cooperação e a disciplina segundo a Palavra permanecem sempre no lugar que lhes corresponde.

Todo ministério que não está fundamentado nos dois princípios que acabamos de enunciar não é, de fato, ministério. Não há nenhuma outra fonte cristã de atividade além do amor de Cristo e do chamamento de Deus.

(Traduzido por Francisco Nunes do artigo “La fuente del ministerio”, revista Creced, n. 2/2014, marzo-abril, publicada por Ediciones Bíblicas, Perroy, Suíça.)

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, exclusivamente de forma gratuita, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria como de tradução.)

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Disciplina Igreja

Disciplina na igreja: castigo ou amor? (Fred Greco)

Disciplina na igreja — a própria frase parece trazer à mente da maioria dos cristãos um desfile de horrores. Parece que a nossa imagem atual da disciplina eclesiástica é aquela de tiranos repressivos e alheios, nos dizendo o que podemos e o que não podemos fazer. Isso não nos surpreende quando consideramos os incidentes públicos de abuso de autoridade tanto dentro quanto fora da igreja. Também há a ideia de que a disciplina na igreja parece alheia ao nosso entendimento moderno de liberdade cristã, um entendimento no qual o indivíduo cristão é seu próprio juiz em todas as questões concernentes à fé e à vida cristãs. Mas para entender o motivo pelo qual a disciplina eclesiástica tem sido considerada uma “marca” na igreja historicamente, devemos nos lembrar do verdadeiro propósito da disciplina na igreja.

Uma marca da igreja

Desde o tempo dos reformadores, para distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, teólogos têm descrito três “marcas” da igreja: a pregação adequada da Palavra de Deus, a administração apropriada dos sacramentos e a administração apropriada da disciplina eclesiástica. Embora não seja controverso pensar que uma igreja verdadeira ensinaria a Palavra de Deus e obedeceria o mandamento de Cristo para observar os sacramentos, muitos cristãos duvidariam que a disciplina eclesiástica é necessária para se ter uma verdadeira igreja. Na realidade, contudo, a ideia da disciplina na igreja é um paralelo essencial às primeiras duas marcas. Afinal, a Bíblia não nos diz que não é suficiente que a Palavra seja ensinada e pregada apropriadamente, mas que ela também deve ser obedecida e praticada (Rm 2.13; Tg 1.22)? E como a igreja pode administrar os sacramentos apropriadamente sem determinar a quem eles se aplicam? A disciplina eclesiástica é o mecanismo que o Senhor decretou para designar e edificar a sua igreja, a família de Deus.

A igreja não é apenas uma organização — é a personificação do propósito e do plano de Deus para redimir pecadores e reconciliá-los consigo mesmo. O mesmo crente em Jesus Cristo que é justificado através da fé também é adotado através da fé. Nosso grande Deus triuno não se satisfaz apenas com o fato de seu povo ser declarado não culpado diante do seu trono de julgamento (Rm 5.1). Ele também torna cada pecador redimido seu filho, parte da família de Deus (João 1.12). Quando vemos a igreja como uma família, começamos então a ver o propósito e a bênção da disciplina eclesiástica. Assim como pais e mães que carinhosamente amam os seus filhos devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los, pastores e presbíteros que amam o Senhor e o povo do Senhor devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los.

Disciplina e discipulado

Para melhor apreciar a posição da disciplina na vida da igreja, devemos vê-la através de uma lente bíblica em vez de tentarmos enxergá-la por meio de casos individuais que possamos ter ouvido (ou experimentado). A palavra disciplina traz à tona imagens de julgamento e punição que podem nos colocar imediatamente na defensiva. Mas esse não é o uso bíblico primário da disciplina. A disciplina bíblica está mais relacionada com outra palavra bíblica bem conhecida: discípulo. Um discípulo é alguém que é ensinado (Mt 10.24), e no Novo Testamento, discípulo tem uma especial referência a aprender a observar todos os mandamentos de Jesus (28.19-20). De maneira similar, disciplina é aprender os caminhos do Senhor. Paulo usa a palavra nesse sentido em Efésios 6.4: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. De fato, a palavra do Novo Testamento para disciplina é a mesma palavra grega que é usada para educação ou instrução (especialmente de crianças) em um sentido mais amplo. Disciplinar alguém é treiná-la no caminho em que ela deve seguir (Pv 22.6) e edificar alguém que é querido (Hb 12.5-11) por amor (Ap 3.19).

Esse modelo bíblico também nos ajuda a entender que a disciplina eclesiástica é necessária para o nosso crescimento na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Se disciplina é o trabalho de um pai amoroso que instrui os seus filhos, como podemos recusar a instrução do nosso Pai celestial? O Senhor concedeu pastores à sua igreja para o propósito de edificar e capacitar o rebanho, e ele usa esses pastores como meio para disciplinar o seu povo (Ef 4.11-16). Em primeiro lugar, disciplina começa com instrução a partir da Palavra de Deus. Disciplina na igreja nunca deveria começar no estágio de algum tipo de ação formal. Ela começa com os líderes da igreja dando direção, instrução e admoestação a partir da Bíblia. Para que sejamos edificados pelo Senhor, devemos conhecer os mandamentos do Senhor. Para sermos colocados no caminho correto, devemos conhecer os caminhos do Senhor. Em um sentido muito real, se não desejamos ser parte de uma igreja que pratica a disciplina eclesiástica, estamos desistindo do privilégio de sermos instruídos e constrangidos pela Palavra de Deus.

Como deve ser a disciplina na igreja?

Se a disciplina eclesiástica é uma marca de uma igreja legítima, e se isso é uma extensão da disciplina amorosa de Deus para com seus filhos, por que ela não é praticada em mais igrejas? Por que ela é tão subestimada? A resposta para tais perguntas é frequentemente encontrada na maneira como a disciplina eclesiástica é (mal) praticada. Assim como os pais devem cuidar de aplicar fielmente e biblicamente  disciplina a seus filhos, os líderes da igreja devem usar a sua autoridade com coerência e amor. O Antigo Testamento está cheio de advertências sobre os perigos do favoritismo (como Jacó com José e seus irmãos), e a falha em aplicar a disciplina (como Eli e seus filhos). O Senhor de fato disciplina aqueles a quem ele ama (Hb 12.6), e a igreja também deve fazê-lo. Mas nunca podemos nos esquecer que a disciplina eclesiástica é um exercício de amor. Isso significa que a disciplina na igreja não é algo que deve ser buscado apenas após uma situação não parecer mais ter jeito. Disciplina não é a “gota d’água”, onde o julgamento é pronunciado. Disciplina eclesiástica bíblica é uma cultura de responsabilidade, crescimento, perdão e graça que deve permear as nossas igrejas. Cada membro de igreja tem a responsabilidade de ajudar os outros em suas lutas contra o pecado — não através de julgamento e críticas, mas, ao invés disso, com gentileza e visando à restauração, sabendo que ele mesmo também está sujeito à tentação (Gl 6.1). Mateus 18 não descreve uma espécie de litígio alternativo; é uma cartilha sobre como abordamos amorosamente uns aos outros, pacientemente esgotando os passos menores (por exemplo, ir até a pessoa) antes de passar para os passos maiores (por exemplo, levar à igreja).

Os líderes da igreja devem sempre se lembrar que a autoridade que eles possuem quanto à disciplina não vem deles mesmos, mas é a autoridade de pastoreio de Cristo. Esta é a igreja de Cristo (Ef 1.22-23; Cl 1.18), e é ele quem a está edificando para torná-la sem mácula (Ef 5.27). Os líderes, portanto, devem fazer todo esforço para evitar agir de maneira dominadora e tirânica simplesmente para resolver rapidamente os problemas (1Pe 5.3), ou demonstrando parcialidade em disciplinar alguns enquanto ignora outros (Tg 2.1). Os membros devem saber que o processo de disciplina não é um método secreto de punição, mas é a maneira de Deus restaurar pecadores, curar relacionamentos e honrar a sua Palavra. Os líderes não devem temer que a disciplina na igreja seja vista à luz do dia, ao passo que, ao mesmo tempo, devem empregar todo esforço para proteger a reputação dos membros de desnecessária notoriedade e potenciais fofocas. O fim almejado não é simplesmente resolução, mas o fortalecimento de crentes individuais e de todo o corpo de Cristo.

Qual é o propósito da disciplina na igreja?

Por último, a disciplina eclesiástica é algo que requer oração, reflexão e coerência, porque possui propósitos importantes na vida da igreja. Há três propósitos principais para a disciplina na igreja. Primeiro, a disciplina na igreja existe para recuperar o pecador de volta à igreja, e em última análise, ao Senhor. A disciplina eclesiástica que é praticada em amor é uma poderosa maneira de confrontar um pecador com seu pecado e mostrar que a igreja o ama, não desistirá dele e deseja vê-lo restaurado à plena comunhão. Em um sentido muito real, a disciplina pode ser a atuação do evangelho diante dos nossos olhos. Devemos reconhecer o nosso pecado, nos arrepender e pedir perdão, o qual é livre e plenamente concedido.

Segundo, a disciplina é necessária para manter a pureza da igreja e seu testemunho diante de um mundo vigilante. Isso não significa que colocamos uma máscara hipócrita de perfeccionismo, mas admitimos diante do mundo que a Palavra de Deus é o padrão para as nossas vidas e que somos verdadeiros cristãos — não perfeitos, mas perdoados.

Por último e mais importante, a disciplina na igreja é feita para a glória de Deus. Cristãos são exposições vivas da glória de Deus, e nós mostramos muito mais a sua glória quando lutamos para refletir seu amor e seu santo caráter (Ef 3.10). Que maneira melhor de mostrar que um Deus santo é um Deus amoroso do que através da disciplina? Conforme buscamos a restauração daqueles que tropeçam, em espírito de amorosa humildade, colocamos em exposição uma honorável conduta que apontará para aquele que é a fonte de toda a restauração no universo (1Pe 2.12).

Tradução: Alan Cristie.

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.)

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Citações Francis Schaeffer Igreja

Igreja (Francis Schaeffer)

Ninguém pode explicar a explosão da igreja primitiva sem considerar o fato de que ela praticava duas coisas simultaneamente: ortodoxia doutrinária e ortodoxia de comunidade no meio da igreja visível, uma comunidade que o mundo pode ver. Pela graça de Deus, portanto, a igreja deve ser conhecida simultaneamente por sua pureza doutrinária quanto pela realidade de sua comunidade.

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Heresias Igreja John MacArthur Modernismos

Cristianismo de entretenimento (John MacArthur)

A igreja pode enfrentar a apatia e o materialismo satisfazendo o apetite das pessoas por entretenimento? Evidentemente, muitas pessoas das igrejas pensam assim, enquanto uma igreja após outra salta para o vagão dos cultos de entretenimento.

Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.

 O que eles querem

Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.

Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.

O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.

Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.

A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.

 A idéia fundamental

O que fundamenta esta tendência é a idéia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.

Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.

Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.

Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.

Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.

 O verdadeiro padrão

Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.

Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo.

Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.

Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).

 Estilo de vida

A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.

Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.

Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.

Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?

É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.

 Tornando vulgar

Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.

Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.

Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).

Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.

(Fonte)

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Cruz Igreja T. Austin-Sparks Vida cristã

O altar (a cruz) governa tudo (T. Austin-Sparks)

Em Ezequiel 43.13-27, temos o grande altar e seu serviço. Não vamos ler toda a seção, mas apenas seus primeiros versos: “E estas são as medidas do altar, em côvados (o côvado é um côvado e um palmo): e o fundo será de um côvado de altura, e um côvado de largura, e a sua borda em todo o seu contorno, de um palmo; e esta é a base do altar.” Então, são dadas mais informações sobre as medidas e o ministério. Todos entendemos que o altar no Antigo Testamento é sempre um tipo da Cruz. Esse altar é o lugar do holocausto, o que corresponde a Hebreus 10, onde o Senhor Jesus é comparado ao holocausto. Então, nesta manhã, vamos pensar sobre a centralidade e a universalidade da Cruz.

Vimos que toda a área do templo era quadrada. Se desenharmos linhas diagonais a partir de cada canto, elas se encontrarão no local onde o grande altar estava. O lugar central de toda a área era o altar. Você vai reconhecer que isso é diferente do tabernáculo no deserto. O átrio do tabernáculo não era quadrado, e o altar do holocausto ficava à direita da entrada, mas, nesse templo, o altar está no centro de um quadrado. É importante perceber isso. Todas as linhas se encontram no altar, e todas as linhas saem do altar. O lugar central de tudo é o altar.

O altar governava tudo. Governou tudo na casa, isto é, tudo o que estava de fato no templo era governado pelo altar. Governou tudo o que estava imediatamente ao redor da casa. Se você tivesse uma planta de toda a casa, com os diferentes caminhos e toda a área, você veria que todas as câmaras dos sacerdotes e os lugares onde as ofertas eram elaboradas estavam todos ao redor. Tudo estava reunido em volta da casa, mas tudo na casa e em toda a área era governado pelo altar.

E também todo o ministério da casa era governado pelo altar. Poderíamos dizer que não havia nenhum ministério que não fosse relacionado ao altar. Além disso, para além da casa, e para além da área imediata, mesmo fora de toda a terra, tudo era governado pelo altar. Podemos ver isso ao notar que o rio, que desceu por toda a terra, veio por meio do altar. Mas voltemo-nos para dentro da casa primeiro.

 

A cruz em seu lugar

Aqui temos uma verdade muito importante e vital. Quando a Cruz está em seu lugar, com sua medida plena, tudo vai estar em ordem, e a tudo o mais será dado seu significado e seu valor. Sinto não conseguir dizer com a força que deveria. Estamos muitas vezes preocupados com as coisas exteriores, com a ordem da Casa do Senhor, com o ministério da casa do Senhor, com as pessoas que estão relacionadas com a Casa do Senhor. Estamos sempre começando com o exterior. Estamos tentando estabelecer uma ordem para a Casa de Deus. Estamos tentando colocar as pessoas no lugar correto na Casa. Estamos muito preocupados com os ministros e os ministérios. Mas, se a Cruz está realmente em seu lugar, com suas dimensões totais, todas essas coisas podem cuidar de si mesmas. O povo estará certo se a Cruz estiver no lugar. Os ministérios serão vivos, se a Cruz estiver no lugar. A ordem da Casa estará certa se a Cruz estiver no lugar. Funciona desta maneira: se a cruz está bem no centro, na medida plena – e note que é um altar grande –, então, tudo o mais irá para seu lugar certo, numa relação viva.

Embora não seja dito aqui, penso ser correto concluir que esse altar era de bronze. O altar no tabernáculo era de bronze, o altar do templo de Salomão era de bronze, e acho que podemos assumir que este altar era também de bronze. Nós já encontramos o bronze. Vimos bronze no Homem à porta, e dissemos que com sua cana de medir Ele mediu tudo de acordo com o que Ele era (40.3). O bronze é tipo dos julgamentos justos de Deus. Esse grande altar representa a plenitude dos justos juízos de Deus. Esse altar de bronze é medido pelo Homem de bronze, de modo que o altar representa os pensamentos de Deus acerca do julgamento.

Nesse altar do holocausto, o homem injusto é completamente removido. Esse altar de bronze vê um homem produzir cinzas. As cinzas foram tiradas desse altar e despejadas no chão, ao lado do altar. Isso é um retrato da mente de Deus sobre o homem injusto, ou o homem natural. Ele é consumido no fogo do juízo de Deus, ele é reduzido a cinzas e é derramado no chão. Isso é a mente de Deus sobre o homem natural. Por outro lado, somente o homem justo pode ficar aqui, na presença deste altar. Claro, esses são os dois lados da pessoa e da obra do Senhor Jesus. Por um lado, Ele foi feito pecado por nós e, nessa qualidade, foi totalmente consumido e convertido em cinzas. Quando ele gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”, esse era o grito das cinzas! Ele tinha sido tornado em cinzas e derramado no chão.

Mas então há o outro lado da Cruz: “Ele não conheceu pecado” (2Co 5.21). Nele não havia injustiça e, portanto, ele pôde passar pelo altar, Ele pôde viver além do fogo! “Nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (Sl 16.10). Porque Nele não havia pecado, não poderia ser retido pela morte. Sua própria natureza poderia superar todos os juízos de Deus! Este é o significado do grande altar: um homem é levado a um fim, e outro Homem está em seu lugar. Tudo foi julgado no altar. Tudo é julgado na Cruz.

Fomos julgados na Cruz do Senhor Jesus, e em nós mesmos fomos levados a um fim. Tudo do natural foi julgado e levado a um fim na Cruz do Senhor Jesus. É uma coisa muito importante reconhecer isso. Perceba que isso faz qualquer coisa possível. É por isso que disse que, se a cruz está em seu lugar, tudo estará certo. A Casa estará certa, isto é, a Igreja estará certa. O ministério estará certo. A ordem estará certa. Você não terá de se esforçar para tentar produzir uma ordem certa. Ela espontaneamente virá da obra da Cruz.

Eu espero que você esteja escrevendo isso em sua mente. Você pode encontrar desordens na Casa de Deus. Você pode encontrar o homem natural na Casa de Deus. Você pode encontrar condições que sejam totalmente erradas na Casa de Deus. Como você vai lidar com isso? Você só pode tratar com essas coisas pelo princípio da Cruz. Você não pode lidar com as próprias pessoas, não pode lidar com as próprias coisas, mas, se você tão somente trouxer a Cruz àquela situação, terá resolvido todo o problema. Se tão-somente a Cruz tomar o lugar dela, todos os outros problemas serão resolvidos. É assim. Não começamos a partir do exterior. Não começamos com as pessoas, não começamos com a ordem da casa do Senhor, não começamos com o ministério: começamos com a cruz. E se tão-somente as pessoas virem a cruz, tudo o mais será endireitado. Tudo é julgado pela Cruz.

A Epístola aos Romanos é a mensagem da Cruz em sua plenitude. Nessa carta, você vê a grande medida da Cruz. Ali, a Cruz alcança todas as coisas. Ela traz toda a raça em Adão ao fim, e começa uma raça totalmente nova em Cristo ressuscitado! É muito impressionante que a primeira carta do Novo Testamento apresenta a Cruz em sua plena medida. Vocês todos sabem que a Epístola aos Romanos não foi a primeira carta escrita por Paulo, mas o Espírito Santo a colocou em primeiro lugar na disposição [dos livros]. Eu penso que o Espírito Santo tinha algo a fazer com o arranjo dos livros do Novo Testamento e, em Seu arranjo soberano deste livro, colocou o altar em sua plenitude logo no início. Bem, é claro, você tem de lembrar de tudo o que sabe sobre Romanos para ver isso.

Em 1Coríntios, a Cruz é aplicada ao homem natural e ao homem carnal dentro da Igreja. O homem natural e o carnal vieram para o lugar em que não tinham o direito de estar. Esse homem maligno se enfiou pela porta, e, por isso, o apóstolo traz Cristo crucificado sobre e contra o homem natural e o carnal. A Cruz em 1Coríntios tem relação com aquele homem, não fora da igreja, como em Romanos, mas dentro da Igreja.

A Segunda Epístola aos Coríntios estabelece a Cruz em relação ao ministério. Essa carta nos mostra que o ministério flui de um vaso quebrado e humilhado. Posso dizer apenas isso e deixar [para outro momento] a explicação completa.

Em Gálatas a Cruz é diminuída ao fazer do cristianismo outro sistema legalista e levar os cristãos à escravidão. Quão forte é o apóstolo nessa carta e ver como ele usa a Cruz. Ele usa a Cruz com vigor contra esse esforço de tornar o cristianismo um sistema legalista e levar os crentes de volta à escravidão.

Em Efésios, o trabalho da Cruz é colocar a Igreja em solo celestial. A Cruz em Efésios corta completamente a Igreja de toda a base terrena. Ela coloca a Igreja fora do tempo. Ela coloca a Igreja fora do mundo.

Em Filipenses, a Cruz é aplicada àquilo que corrompe a harmonia do povo do Senhor. Há uma dolorosa desarticulação dentro da Igreja. Há um ponto em que as coisas estão infelizes, e isso é causado por interesse pessoal e orgulho. Algumas pessoas não vão abandonar seu interesse pessoal. Algumas pessoas não vão deixar o orgulho. Elas foram ofendidas, e não vão perdoar. Assim, o apóstolo traz a Cruz contra essa discórdia e desarticulação, e ressalta que, se tão-somente a Cruz estiver naquelas vidas, tudo será corrigido.

A Epístola aos Colossenses mostra que a Cruz liberta de toda falsa espiritualidade. A Cruz coloca de lado tudo o que é mero misticismo e tudo o que faria Cristo menos do que Ele é.

Em seguida, há as cartas aos Tessalonicenses. Ali, a cruz é a força para o sofrimento, uma inspiração até a vinda do Senhor. Pode não haver muito, de fato, sendo dito sobre a Cruz nessas cartas, mas o princípio delas é o princípio da Cruz. As pessoas estavam sofrendo por amor a Cristo. Elas estavam sofrendo a perda de todas as coisas, e pensavam que o Senhor viria para libertá-las, e que Ele estava retardando Sua vinda. Assim, o apóstolo diz que os sofrimentos delas culminarão na vinda do Senhor e da glória. Os sofrimentos de sofrer com Cristo. Aqueles irmãos estavam sofrendo por amor a Cristo: é a comunhão na Cruz, mas os sofrimentos levam à glória. O Senhor está vindo, e então tudo vai estar certo. A Cruz tem uma mensagem muito real para os crentes em sofrimento.

E vamos apenas concluir isso com Hebreus.

Em Hebreus, a Cruz mostra como tudo é levado à plenitude e à finalidade. E tudo isso se relaciona com a Casa em seu interior. Ela toca a conduta. Ela toca o caráter. Ela toca a ordem. Ela toca o ministério. Se a cruz está em seu lugar, tudo vai ser eficaz.

Eu não lhes dei apenas alguns ensinamentos da Bíblia. A Cruz é a chave para tudo. Então, o que é verdadeiro para o interior é também verdadeiro para o exterior. É a cruz que afeta todos os aspectos de influência da Igreja. O rio vem pelo caminho da cruz, isto é, a influência que sai do santuário para toda a terra. É a cruz que dá eficácia ao ministério para o mundo todo. Então, os apóstolos pregaram por toda parte Cristo crucificado.

 

A Cruz é a defesa contra o mundo

E notemos outra coisa: o altar foi a grande defesa contra o inimigo. Em Esdras 3.3 lemos: “E firmaram o altar sobre as suas bases, porque o terror estava sobre eles, por causa dos povos das terras”. Porque o medo dos povos das terras estava sobre si, os israelitas colocaram o altar em seu lugar. A Cruz é uma grande defesa: a Cruz nos defende do mundo. O mundo é o grande inimigo da Igreja. O espírito do mundo sempre foi o grande inimigo da Igreja. Satanás sempre tentou trazer o mundo para dentro da Igreja e, assim, afundar a Igreja e seu ministério, destruir a influência da Igreja no mundo. É um movimento muito inteligente e sutil do inimigo para destruir a influência da Igreja no mundo: trazer o mundo para dentro da Igreja. Paulo disse: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14).

Um povo verdadeiramente crucificados nunca está em perigo no mundo. É somente quando a Cruz não fez sua obra que o mundo tem um lugar. O mundo não tem lugar em um homem ou em uma mulher crucificado, ou em um grupo de crentes crucificados. A Cruz é uma grande defesa contra o mundo. Se você quer manter o mundo fora, coloque a Cruz no lugar dela. Se a cruz está verdadeira e plenamente em seu lugar, então, tudo o mais estará em ordem. A Cruz é a grande defesa contra o mundo. A Cruz é a grande defesa contra os poderes do mal. A Cruz torna tudo seguro; torna tudo seguro para o Senhor.

O Senhor quer se comprometer. Ele quer se confiar a Seu povo, mas, se a cruz não está operando, o Senhor não pode fazê-lo. O Senhor diz: “Não é seguro para Mim dar-me, ou eu estarei envolvido em sua condição não-crucificada.” A Cruz torna tudo seguro para o Senhor, e a Cruz faz tudo seguro para a Igreja. Se a Cruz está operando em todos nós, podemos confiar uns nos outros. É bastante seguro confiar-se a um homem ou a uma mulher crucificado.

Concluo essa manhã enfatizando que a Cruz não é uma doutrina a ser ensinada. Não é um assunto a ser pregado. É claro que deve ser ensinada pregada. Mas, em primeiro lugar, não é um assunto a ser ensinado. Não é apenas uma doutrina. A Cruz é poder. A Cruz é uma experiência. A Cruz é um evento em nossa vida. A Cruz é uma crise. A Cruz é uma revolução. A Cruz é um terremoto. Houve um terremoto quando Jesus foi crucificado. Se a Cruz entra em nossa vida, haverá um terremoto. Tudo vai ser abalado, tudo vai ser derrubado. A Cruz é um terremoto. É algo tremendo. A Cruz não é apenas uma teoria, não apenas uma doutrina: a Cruz governa tudo. Bem, essa é nossa mensagem sobre a centralidade e a universalidade da cruz.

O Senhor conceda que sejamos homens e mulheres crucificados. Que a assembléia à qual pertencemos seja uma assembléia crucificada. Que o Senhor conceda a toda a Sua Igreja ver o significado da Cruz.

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(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Altar (the Cross) Governs Everything, capítulo de The Persistent Purpose of God (O persistente propósito de Deus), por Emmanuel Church, Tulsa, OK, EUA, 1996. Editado de uma mensagem dada em Taiwan, em janeiro de 1957.)

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Citações Igreja John Wesley Ministério Serviço cristão

Sermão para o clero (John Wesley)

Trechos

Não deveria um ministro ter, primeiramente, uma boa compreensão, uma apreensão clara, um julgamento sadio e uma capacidade de argumentar com um pouco de competência? […] Não seria determinado conhecimento (a metafísica) chamado de a segunda parte da lógica, se não tão necessário como [a própria lógica], ainda assim altamente apropriado? Não deveria um ministro se familiarizar ao menos com os fundamentos gerais da filosofia natural?

1) Como alguém que se esforça para explicar a Escritura a outras pessoas, tenho o conhecimento necessário para que ela possa ser luz nos caminhos das pessoas?… Estou familiarizado com as várias partes da Escritura; com todas as partes do Antigo Testamento e do Novo Testamento? Ao ouvir qualquer texto, conheço o seu contexto e os seus paralelos?… Conheço a construção gramatical dos quatro evangelhos, de Atos, das epístolas; tenho domínio sobre o sentido espiritual (bem como o literal) do que leio?…Conheço as objeções que judeus, deístas, papistas, socinianos e todos os outros sectários fazem às passagens das Escrituras, ou a partir delas?… Estou preparado para oferecer respostas satisfatórias a cada uma dessas objeções?

2) Conheço grego e hebraico? De outra forma, como poderei (como faz todo ministro) não somente explicar os livros que estão escritos nessas línguas, mas também defendê-los contra todos os oponentes? Estou à mercê de cada pessoa que conhece, ou pelo menos pretende conhecer o original?…Entendo a linguagem do Novo Testamento? Tenho domínio sobre ela? Se não quantos anos gastei na escola? Quantos anos na universidade? E o que fiz durante esses anos todos? Não deveria ficar coberto de vergonha?

3) Conheço meu próprio ofício? Tenho considerado profundamente diante de Deus o meu próprio caráter?O que significa ser um embaixador de Cristo, um enviado do Rei dos céus?

4) Conheço o suficiente da história profana de modo a confirmar e ilustrar a sagrada? Estou familiarizado com os costumes antigos dos judeus e de outras nações mencionadas na Escritura? …Sou suficientemente (se não mais) versado em geografia, de modo a conhecer a situação e dar alguma explicação de todos os lugares consideráveis mencionados nela?

5) Conheço suficientemente as ciências? Fui capaz de penetrar em sua lógica? Se não, provavelmente não irei muito longe, a não ser tropeçar em seu umbral… ou, ao contrário, minha estúpida indolência e preguiça me fizeram crer naquilo que tolos e cavalheiros simplórios afirmam: “que a lógica não serve para nada?” – Ela é boa pelo menos… para fazer as pessoas falarem menos – ao lhes mostrar qual é, e qual não é, o ponto de uma discussão; e quão extremamente difícil é provar qualquer coisa. Conheço metafísica; se não conheço a profundidade dos eruditos – as sutilezas de Duns Scotus ou Tomás de Aquino – pelo menos sei os primeiros rudimentos, os princípios gerais dessa útil ciência? Fui capaz de conhecer o suficiente dela, de modo que isso clareie minha própria apreensão e classifique minhas ideias em categorias apropriadas; de modo que isso me capacite a ler, com fluência e prazer, além do proveito, as obras do Dr. Henry Moore, “A Busca da Verdadede – de Malenbranche”, “A Demonstração do Ser e dos Atributos de DEUS – do Dr. Clark?” Compreendo a filosofia natural? Tenho alguma bagagem de conhecimento matemático?… Se não avencei assim, se ainda sou um noviço, que é que eu tenho feito desde os tempos em que saí da escola?

6) Estou familiarizado com os Pais da Igreja, aqueles veneráveis homens que viverem aqueles tempos, aqueles primeiros dias? Li e reli os restos dourados de Clemente de Roma, de Inácio de Antioquia, Policarpo, dei uma lida, pelo menos rápida nos trabalhos de Justino Mártir, Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria e de Cipriano?

7) Tenho conhecimento adequado do mundo? Tenho estudado as pessoas (bem como os livros), e observado seus temperamentos, máximas e costumes? […] Esforço-me para não ser rude ou mal-educado…sou afável e cortês para com todas as pessoas? Se sou deficiente mesmo nas capacidades mais básicas, não deveria me arrepender frequentemente dessa falta? Quão frequentemente…tenho sido menos útil do que eu poderia ter sido!

“A idéia que Wesley faz de um pastor é notável: um cavalheiro qualificado nas Escrituras e familiarizado com a história, a filosofia e a ciência de seus dias. Como ficam os pastores que se formam em nossos seminários quando comparados a esse modelo?” (J. P. Moreland & William Lane Craig, in Filosofia e cosmovisão cristã. Editora Vida Nova, 2008; pág. 19)

(Fonte; fonte; texto completo)

Sou contra a idéia de clero, por entender que ela não é bíblica. Não reconheço o clero instituído, os títulos distribuídos, auto-atribuídos, votados… Reconheço, sim, irmãos que sejam chamados pelo Senhor para exercer funções na igreja, entre estas a de pregar (ministrar) a Palavra, a de pastorear os irmãos, a de presidir a assembléia, etc. Para estes irmãos chamados, considero oportuníssimo e necessário o sermão de Wesley. Na verdade, ele se aplica a todos os cristãos. Não somos chamados a colocar o cérebro, os pensamentos, a avaliação crítica de lado (como o exigem as seitas em geral), mas a usá-las ao máximo para compreender a fé e saber como apresentá-la. Nenhum cristão, alegando ser espiritual, tem desculpa para ser mentalmente preguiçoso, vazio, raso, despreparado.

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A Igreja (Stephen Kaung)

O que é a igreja? A igreja é o lugar onde o nome do Senhor é colocado. Você lembra que o Senhor Jesus disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles?” (Mt 18.20). Essa é a explicação mais simples daquilo que a igreja é. A igreja é o lugar onde o nome do Senhor é o centro. Na igreja, as pessoas estão reunidas, mas não em seu próprio nome, nem em qualquer outro nome, senão no nome do Senhor Jesus. Isso é a igreja. Deus chamou pessoas de toda tribo, de toda língua, de todo povo e de toda nação e as colocou juntas no nome do Senhor Jesus. Nesse lugar você encontra a igreja.

O que significa “estar reunidos no nome do Senhor”? Isso quer dizer que essas pessoas tomam sobre si o nome do Senhor. Creio que a ilustração mais simples disso acha-se no casamento. Quando uma moça casa-se com um rapaz, ela toma sobre si o nome dele. Ela junta-se àquele homem e eles se tornam um só. Portanto, quando pessoas estão reunidas no nome do Senhor Jesus, isso significa que elas deixaram de lado o próprio nome, deixaram de lado a si próprias e se submeteram voluntariamente ao nome do Senhor. Elas tomam o nome do Senhor Jesus como seu próprio nome e permitem que Ele seja sua Cabeça. Essas pessoas permitem que o nome do Senhor seja colocado sobre elas, que Sua autoridade seja conhecida nelas, que Seu trono seja estabelecido nelas.

Irmãos, o trono de Deus não é estabelecido apenas no coração de cada um de nós, mas também no meio de Seu povo. Precisamos que esse trono onde Cristo se assenta seja estabelecido na vida de cada um de nós. Normalmente nós sentamos em nosso próprio trono e governamos nossa vida. Contudo, se pertencemos ao Senhor e sabemos o que significa a salvação, então, temos de descer de nosso próprio trono e entronizar a Cristo. Ele deve estar no trono de cada um de nós, pois somos chamados por Seu nome. Isso também é verdade no sentido corporativo. Quando o povo de Deus se reúne, o que ali se estabelece é o trono do Senhor Jesus. Sua autoridade é então conhecida. Não há autoridade senão a autoridade do Senhor Jesus, e isso é o que constitui a Igreja.

(Extraído do livro Havendo Deus Falado – volume 3, Edições Tesouro Aberto)

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O fundamento da Igreja e a fé (Mauro Meister)

Em Mateus 16 temos a narrativa de um diálogo entre Jesus e seus discípulos durante um “retiro espiritual” que fizeram pelas “bandas de Cesaréia de Filipe” (v. 13). Afastado das multidões, das controvérsias com os fariseus e outros adversários, das tremendas demandas diárias que recebia de todos à volta, o Senhor chama aqueles que estavam mais próximos à reflexão, para lhes mostrar alguns dos fundamentos sobre os quais a “sua igreja” seria continuada e firmada na face da terra.
Com a excelência da pedagogia que sempre é evidente nos Evangelhos, nosso Senhor começa a sua lição sobre os fundamentos da Igreja com uma pergunta que vai levar a uma outra: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”.  Certamente, o simples invocar do nome “Filho do Homem” já faria com que os discípulos refletissem a respeito das mais diversas conversas e discussões acaloradas, tidas depois das leituras dos textos da Torá aos sábados na Sinagoga. Quem é o “Filho do Homem” segundo os Salmos ou o Daniel, ou mesmo na forma como a expressão é empregada para chamar o profeta Ezequiel?  Quem é esse a quem tanto esperamos, era a pergunta no ar?
A resposta estava pronta, mostrando que havia algumas principais correntes de interpretação entre os doutos, correntes essas que se espalhavam na opinião do povo: João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas… (v. 14). Mal sabia o povo que o Filho do Homem já andava entre eles a cerca de 30 anos, e pouquíssimos o reconheceram, dentre eles, alguns cegos, exatamente para mostrar que o real problema da humanidade não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual.
Continuando com a sua sutil e certeira pedagogia, Jesus faz, então, a pergunta que realmente interessa: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Observe que a associação é imediata: “o Filho do Homem” e quem “eu sou”.  Aqui está a primeira lição direta: Jesus é o Filho do Homem anunciado no Antigo Testamento.
Como é usual, Pedro sai na frente ao dar a resposta. É peculiar de Pedro adiantar-se em falar e agir. E a resposta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta é carregada de conceitos teológicos fundamentais que são trazidos pelos textos da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em resumo, Pedro faz uma associação teológica dizendo que o Filho do Homem é o mesmo Messias, que é o Cristo e que este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, afinal, era este homem que estava diante dos seus próprios olhos na região de Cesaréia de Filipe. A partir desta realidade, aprendemos alguns importantes princípios no diálogo que se desenvolve.
Princípio da Revelação
Na resposta do diálogo, Jesus mostra, então, o primeiro grande fundamento sobre o qual a sua igreja está firmada: a iluminação do Espírito Santo sobre a Revelação, ou como chamarei aqui, o Princípio da Revelação.  O Senhor Jesus diz que não foi carne ou sangue que fizeram Pedro reconhecer esta verdade revelada nas Escrituras e agora exposta diante de seus próprios olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma das fundamentais diferenças entre o cristianismo e outras religiões. A revelação que vem da parte de Deus e que corresponde à realidade dos fatos. Jesus é aquele que a Escritura diz que ele é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser. Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos aqui três ideias básicas. Primeiro, que a revelação passada se cumpre em Cristo, afinal, ele é o Messias prometido. Segundo, que a revelação presente, na encarnação do Filho do Deus vivo, é superior. Não no sentido de que a revelação anteriormente dada fosse imperfeita, mas agora, ela é completa e plena. Tudo o que Deus quis revelar, mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3; Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a iluminação individual é fundamental. O verso 17 nos ensina que Deus revelou a Pedro esta verdade. Os escribas, fariseus e todos os estudiosos da época tinham as mesmas fontes que Pedro tinha, mas foi Pedro quem conectou os pontos da revelação passada com a revelação presente diante dos seus olhos. Esta mesma verdade é viva hoje quando, pela iluminação do Espírito Santo, percebemos na Escritura a verdade de Deus. Crer na revelação da Palavra de Deus é uma bem-aventurança: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Sobre esta revelação é que a fé da Igreja deve ser fundamentada.
Princípio da Edificação
A resposta de Jesus a Pedro começou com uma troca de palavras: você disse que eu sou o Cristo, e eu digo, Simão Barjonas (Simão filho de Jonas), que você é pedra (o significado do apelido de Simão, Pedro). Jesus usa deste trocadilho para trazer à luz uma das mais importantes verdades a respeito da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (v. 18).
O catolicismo romano imediatamente interpretou o jogo de palavras, Pedro e pedra, como sendo a mesma palavra e nisto construiu a doutrina do papado, sendo Pedro o primeiro desta suposta sucessão. Mas há aí uma falácia. Quando Jesus diz “esta pedra”, não refere-se a Pedro, mas à verdade pronunciada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É sobre esta verdade que a Igreja irá subsistir, a obra do Filho de Deus. O próprio Pedro, refletindo sobre esta verdade, fala-nos em sua primeira epístola: “Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1Pe 2.6).
A grande lição aprendida aqui é que a Igreja de Jesus nunca poderá ser edificada sobre fundamentos humanos. Sempre que interferimos e nos colocamos no lugar do fundamento verdadeiro encontramos diante de nós uma igreja falsificada, trasvestida e irreconhecível como igreja de Cristo.
Princípio da Propriedade
Da mesma forma como a igreja não pode ter fundamentos lançados por homens, ela não pode ter homens como seus proprietários! No final do verso 18, o Senhor Jesus usa a expressão “minha igreja”. A igreja é dele, sua noiva, pela qual ele tem verdadeiro zelo e compromisso. Com base nesta verdade é que são feitas muitas promessas à Igreja e a respeito da Igreja, dentre elas, a de que vai ele apresentá-la sem mancha, ruga ou mácula.
O Senhor sabe que é necessário cumprir toda a sua obra pela Igreja, para que possa resgatá-la de forma completa. Por isto mostra aos seus discípulos:  “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Ele diz “minha igreja”  porque ele é o único dono dela, trabalhou até a morte para que pudesse comprá-la com seu sangue e ninguém mais pudesse clamar posse sobre ela e seus membros. A Igreja de Jesus não existiria como tal sem a sua morte e ressurreição, o que lhe dá completa posse dela.
Princípio da Autoridade
Por último, podemos perceber o princípio da autoridade de Cristo sobre a sua Igreja. Para demonstrar este princípio temos, em primeiro lugar, a afirmação desta autoridade: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18b). O conceito é, de certa forma, muito simples: o fato da Igreja ter a autoridade da revelação de Deus, ser a propriedade e a edificação de Cristo, não há nada neste mundo, nem o próprio inferno, que possa se colocar contra ela e vencer. Assim, a verdadeira Igreja de Cristo não tem o que temer; não há poderes que possam terminá-la, porque ela pertence a Cristo. Aliás, opor-se à obra de Cristo na Igreja é obra de Satanás e é por isto que Pedro é repreendido severamente ao opor-se, quando foi dito que era necessária a morte e ressureição do Senhor.
Por outro lado, a verdadeira Igreja trabalha como uma agência do céu aqui na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (v.19). Veja que o texto é muito claro em dizer que a ordem da ação de ligar e desligar começa no céu e é implementada na terra pela Igreja. Acredito que aqui temos o ensino claro, somado ao contexto de Mateus 18.15-18, onde aparece a mesma expressão, que a Igreja tem a obrigação de admitir e demitir aqueles que não cogitam das coisas de Deus. A Igreja tem a responsabilidade de abrir e fechar a porta para que as “portas do inferno” não operem dentro dela mesma. Logo, a Igreja na terra deve viver na busca de realizar a vontade soberana do Pai do céu.
E como, afinal, esta fé deve ser vivida aqui na terra?
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.  Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?  Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.  Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (16.24-28).
O que o texto nos mostra é que a vida de fé na igreja deve ser vivida em torno da cruz! É, com certeza, uma vida de negação dos padrões da individualidade egoísta para viver os padrões da vida do bem-aventurado. Da mesma forma como era necessário que o Senhor fosse a Jerusalém para passar pela cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a Jesus nos passos da ressurreição.
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Sobre o autor: Mauro Meister é graduado pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary e doutorado em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. É pastor da Igreja Presbiteriana Barra Funda, em São Paulo, presidente do Conselho de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana do Brasil e membro do Conselho Editorial da Cultura Cristã (Casa Editora Presbiteriana). Atua no campo da educação básica como Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI). É autor do livro “Lei e Graça” (2003) e de artigos na revista Fides Reformata, da qual é co-editor.
(Fonte)
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A cessação dos dons apostólicos (Nathan Busenitz)

A opinião de dez líderes da história da Igreja:

1. João Crisóstomo (344–407)

A passagem inteira (falando sobre 1 Coríntios 12) é muito obscura, mas a obscuridade é produzida por nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, fatos que ocorriam, mas agora não tem mais lugar.

(Fonte: João Crisóstomo, Homilias em I Coríntios, 36.7 Crisóstomo está comentando 1 Co. 12:1-2 como introdução ao capítulo inteiro. Citado de 1-2 Coríntios in: Ancient Christian Commentary Series, 146.)

2. Agostinho (354-430)

Nos tempos antigos o Espírito Santo veio sobre os crentes e eles falaram em línguas, que não haviam aprendido, conforme o Espírito concediam que falassem. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois aquilo foi o sinal do Espírito Santo em todas as línguas [idiomas] para mostrar que o Evangelho de Deus era para ser espalhado a todas as línguas sobre a terra.  Isto foi feito por um sinal, e o sinal findou.

(Fonte: Agostinho. Homilias sobre a Primeira Epístola de João, 6.10. Cf. Schaff, NPNF, First Series, 7:497-98)

3. Teodoreto de Ciro (393-466)

Em tempos antigos, aqueles que aceitaram a divina pregação e que foram batizados para a sua salvação, receberam sinais visíveis da graça do Espírito Santo trabalhando neles. Alguns falaram em línguas que eles não sabiam e que ninguém lhes havia ensinado, enquanto outros realizaram milagres ou profetizaram.  O coríntios também fizeram essas coisas, mas não usaram os dons como deveriam ter usado. Eles estavam mais interessados em se mostrar do que em usar os dons para a edificação da igreja . . . Mesmo no nosso tempo a graça é dada para aqueles que são julgados dignos do santo batismo, mas não pode assumir a mesma forma que possuía naqueles dias.

(Fonte: Teodoreto de Ciro. Comentário sobra a primeira epístola aos Coríntios, 240, 43; em referência à 1Co 12:1,7.  Citado de 1-2 Coríntios, ACCS, 117).

4. Martinho Lutero (1483-1546)

Na Igreja primitiva, o Espírito Santo foi enviado de forma visível.  Ele desceu sobre Cristo na forma de uma pomba (Mt. 3:16), e à semelhança de fogo sobre os apóstolos e outros crentes.  (Atos 2:3) Esse derramamento visível do Espírito Santo foi necessário para o estabelecimento da Igreja primitiva, como também foram necessários os milagres que acompanharam o dom do Espírito Santo. Paulo explicou o propósito destes dons miraculosos do Espírito em I Coríntios 14:22, “as línguas são um sinal, não para os que crêem, mas para os que não crêem”.  Uma vez que a Igreja tinha sido estabelecida e devidamente anunciada por estes milagres, a aparência visível do Espírito Santo cessou.

(Fonte: Martinho Lutero, traduzido por Theodore Graebner [Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1949], pp  150-172. A respeito do comentário de Lutero sobre Gálatas 4:6.)

5. João Calvino (1509-1564)

Embora Cristo não declare expressamente se Ele pretende que esse dom [de milagres] seja temporário ou a permaneça perpetuamente na Igreja, é mais provável que os milagres tenham sido prometidos apenas por um tempo, para dar brilho ao evangelho enquanto ele era novo ou em estado de obscuridade.

(Fonte: João Calvino, Comentário sobre os Evangelhos Sinóticos, III:389.)

O dom de cura, como o resto dos milagres, os quais o Senhor quis que fossem trazidos à luz por um tempo, desapareceu, a fim de tornar a pregação do Evangelho maravilhosa para sempre.

(Fonte: João Calvino, Institutas da Religião Cristã, IV: 19, 18.)

6. John Owen (1616-1683)

Dons que em sua própria natureza excederam completamente o poder de todas as nossas habilidades, essa dispensação do Espírito há muito cessou e onde ela agora é simulada por alguém, pode ser justamente presumida como um delírio entusiasmado.

(Fonte: John Owen, Obras, IV:518.)

7. Thomas Watson (1620-1686)

Claro, há tanta necessidade de ordenação hoje como no tempo de Cristo e no tempo dos apóstolos, quando então havia dons extraordinários na igreja, os quais agora cessaram.

(Fonte: Thomas Watson, As Bem-Aventuranças, 140.)

8. Mattew Henry (1662-1714)

O que eram esses dons nos é largamente dito no corpo do capítulo [1 Coríntios 12], ou seja, ofícios e poderes extraordinários, concedidos a ministros e cristãos nos primeiros séculos, para a convicção dos descrentes, e propagação do evangelho.

(Fonte: Mattew Henry, Comentário Completo, em referência a 1 Coríntios 12)

O dom de línguas foi um novo produto do espírito de profecia e dado por uma razão particular, retirar o judeu e demonstrar que todas as nações podem ser conduzidas à igreja. Estes e outros sinais da profecia, começaram como sinais, e há muito cessaram e foram deixados para trás, e nós não temos nenhum incentivo para esperar um avivamento deles; mas, pelo contrário, somos direcionados para o chamado das Escrituras a mais certa palavra de profecia, mais certa que vozes dos céus, e ela nos orienta a tomar cuidado, a busca-la e se firmar nela.

(Fonte: Mattew Henry, Prefácio ao Vol IV de sua Exposição do At e NT, vii.)

9. John Gill (1697-1771)

Agora esses dons foram concedidos comumente, pelo Espírito, aos apóstolos, profetas e pastores, ou anciãos da igreja, naqueles primeiros tempos: a cópia de Alexandria, e a versão Latina da Vulgata, dizem, “por um só Espírito”.

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:9)

Não; quando estes dons estavam presentes, nem todos os possuíam.  Quando a unção com óleo, a fim de curar o doente, estava em uso, ela só foi executada pelos anciãos da igreja, e não pelos seus membros comuns, que deveriam buscar o doente nesta ocasião.

(Fonte: Comentário de John Gill de 1 Coríntios 12:30.)

10. Jonathan Edwards (1703-1758)

Nos dias de sua [Jesus] encarnação, os seus discípulos tinham uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo habilitados desta forma para ensinar e fazer milagres.  Mas, depois da ressurreição e ascensão, ocorreu o mais completo e notável derramamento do Espírito em seus dons milagrosos que já existiu, começando com o dia de Pentecostes, depois da ressureição Cristo e Sua ascenção ao céu.  E, em conseqüência disto, não somente aqui e ali uma pessoa extraordinária era dotada de dons extraordinários, mas eles eram comuns na igreja, e assim continuou durante a vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, mesmo o apóstolo João, que viveu por cerca de cem anos desde nascimento de Cristo, de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou o primeiro século, foi a era dos milagres.

Mas, logo após a finalização do cânon da Escritura quando o apóstolo João escreveu o livro do Apocalipse, não muito antes de sua morte, os dons miraculosos tiveram seu fim na igreja. Pois, agora, a revelação escrita da mente e da vontade de Deus estava completa e estabelecida. Revelação na qual Deus havia perfeitamente gravado uma regra permanente e totalmente suficiente para Sua igreja em todas as eras.  Com a igreja e a nação judaica derrotadas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito já não eram mais necessários e, portanto, eles cessaram; pois embora eles tenham continuado na igreja por tantas eras, eles se extinguiram, e Deus fez com que fossem extintos porque já não havia ocasião favorável a eles.  E assim foi cumprido o que está dito no texto: “Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;. Havendo ciência, desaparecerá”.  E agora parece ser o fim para todos os frutos do Espírito tais como estes, e não temos mais razão de esperar que voltem.

(Fonte: Jonathan Edwards, sermão intitulado “O Espírito Santo deve ser comunicado ao Santos para sempre, In na graça da caridade, ou amor divino”, em 1 Coríntios 13:8)

Os dons extraordinários foram dados para a fundação e o estabelecimento da igreja no mundo. Mas, depois que o cânon das Escrituras foi concluido e a igreja cristã foi plenamente fundada e estabelecida, os dons extraordinários cessaram.

(Fonte: Jonathan Edwards, Caridade e seus frutos, 29.)

(Fonte)

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Por que nos reunimos assim?

(Palestra proferida por J. R. Gill em uma conferência em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1926).

Tenho o desejo, amados amigos cristãos, de tratar de um certo assunto que já conquistou a atenção de alguns de nós em uma ou duas reuniões recentemente, e gostaria de pedir a compreensão de alguém aqui que porventura já nos tenha ouvido tratar do mesmo assunto. Há aqui outras pessoas para quem o assunto é novo e creio ter a mente do Senhor ao voltar a tratar disso.

O assunto que tenho em mente é este: Por que nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, nos reunimos desta maneira? Por que o fazemos?

Fui criado naquilo que creio ser a verdade, e naquilo a que normalmente se referem como “a verdade”. Posso me lembrar de meus tempos de infância quando meus pais costumavam me levar para um lugar diferente deste. Posso recordar com bastante clareza como costumávamos ir juntos à Igreja Episcopal – a Igreja da Inglaterra, como era chamada – e me lembro do efeito que aquilo produzia em minha mente juvenil; o tapete vermelho sobre o piso, os bancos de carvalho entalhados e os vitrais coloridos das janelas; o canto do coral, as majestosas entonações do órgão e outras coisas semelhantes. Eu aprovava tudo aquilo dentro da medida de compreensão de qualquer menino.

Depois de algum tempo fui levado a uma capela Batista, e aquela capela já era algo que eu não aprovava com a mesma facilidade. Parecia ser um lugar muito inferior comparado com Igreja da Inglaterra. Não tinha nada além das paredes caiadas, não havia vitrais coloridos e, que me lembre, nem mesmo um órgão e muito menos algum pregador eloquente. Não sabia a razão daquilo tudo; só que havia sido levado para ali.

Passou-se um intervalo de tempo depois daquilo, e acabei sendo encaminhado a um terceiro lugar. Tratava-se de uma sala no segundo andar de uma rua comercial na cidade de West Hartlepool, Inglaterra. Ali descobri umas vinte pessoas sentadas em bancos, com uma mesa no centro da sala. Para minha mente juvenil, aquilo parecia ser um estranho quebra-cabeça. Tudo era tão simples, tão primitivo. Não havia nenhum atrativo; e nem eu conseguia entender a razão de meus pais terem me levado ali.

De Acordo Com a Bíblia

Passaram-se alguns anos e, no devido tempo, acabei tomando meu lugar entre aquelas pessoas, crendo ser aquele o lugar certo para se estar. Mas mesmo então, se alguém tivesse me perguntado por que eu estava ali, eu teria tido uma grande dificuldade em dar uma resposta inteligente. Oh, se me interrogassem sobre o assunto, é bem capaz que eu dissesse que frequentava aquele lugar porque cria estar de acordo com a Bíblia. Mas isso não iria significar muito, não é mesmo? Quase todo mundo teria dado a mesma resposta. Um Presbiteriano, um Episcopal ou Metodista teria falado o mesmo; um Batista teria dito isto, e até mesmo um Adventista e os membros da, assim chamada, Ciência Cristã.

Precisamos ter algo mais definido do que uma resposta como esta, como a razão para ocuparmos o lugar que ocupamos. Nós que estamos reunidos ao nome do Senhor Jesus nem sempre somos capazes de dar uma explicação inteligente e bíblica do assunto. Eu descobri que assim sucede. Será que é suficiente dizer: “Nós nos reunimos de uma maneira simples, como faziam os cristãos em Pentecostes”? Será que isto já explicaria tudo? Talvez, se não se dispusesse de muito tempo para explicar; mas para o bem de nossas almas, é bom que saibamos qual é o fundamento doutrinário sobre o qual nos apoiamos.

Quais são os princípios das Escrituras – as doutrinas envolvidas – as verdades de Deus ligadas à posição que ocupamos?

Não creio que tenha que pedir desculpas por tratar deste assunto, já que vivemos numa época em que tudo se encontra sob ataque. Não existe uma única coisa que não esteja sendo atacada – cada fundamento da fé – e é bom que nós que amamos o Senhor, e que procuramos conhecer qual é a vontade do Senhor, estejamos fortalecidos e edificados em nossa “santíssima fé” (Jd 20). Creio que, à medida que o Senhor me capacitar, gostaria de tratar deste assunto em três partes nesta tarde, conforme se seguem:

Em primeiro lugar, gostaria de sugerir que nós nos reunimos assim por causa da dignidade do nome do Senhor Jesus.

Segundo: Nós nos reunimos assim porque desejamos dar ao Espírito Santo o lugar que Lhe pertence.

Terceiro: Nós nos reunimos assim porque queremos obedecer a ordem das Escrituras que dizem, “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13.13).

Quarto: Porque entendemos ser bíblico estar no terreno do um só corpo.

São estes os três subtítulos sob os quais desejo fazer algumas observações nesta tarde.

Que Nome Levamos?

Quanto ao primeiro – o nome para o qual nos reunimos: Que nome levamos? Se as pessoas perguntassem a você a que “igreja” você está ligado, o que responderia? Creio que alguns aqui já se sentiram embaraçados para responder a esta pergunta. Não há dúvida de que existem várias maneiras como esta pergunta poderia ser feita, mas porventura não é bom sermos bem claros sobre isto, ou seja, que reconhecemos somente o nome do Senhor Jesus Cristo? Nenhum outro nome. Alguns dirão: “Vocês são chamados ‘Irmãos de Plymouth’, não são?” O que você diria diante disto? Creio que alguém poderia dizer: “Sim; sim, somos chamados assim, mas não nos chamamos assim”. Não podemos evitar que nos chamem desta maneira. O nome pelo qual nos chamamos é de santos de Deus, reconhecendo a dignidade do nome do Senhor Jesus Cristo, e reunidos a este nome.

Poderíamos ler algumas passagens das Escrituras que tratam deste ponto, começando, talvez, com Filipenses 2, versículos 8 ao 11:

“E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”

Vamos ver também o primeiro capítulo de Colossenses, versículos 15 a 18:

“O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.”

Podemos também voltar para o primeiro capítulo de Efésios enquanto tratamos desta linha de pensamento, nos versículos 20 e 21:

“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro.”

O Nome do Senhor Jesus

Este nome, portanto, conforme descobrimos, é único nos pensamentos de Deus. Não existe, na estima de Deus, nenhum outro nome como este. Ele permanece único, tanto agora como para sempre. Se abrirmos no livro de Apocalipse, iremos descobrir que não existe nenhum nome no céu maior do que este nome. As hostes angelicais são vistas ali se prostrando e adorando diante dAquele mesmo Ser bendito cujo nome é tão exaltado. O nome do Senhor Jesus, devo admitir, é digno de ser aceito como o centro de reunião. Trata-se de algo bendito estar em harmonia com o pensamento do céu a este respeito.

Os primeiros cristãos estavam reunidos nesse nome. Foi assim que passaram a ser chamados de “cristãos”. Os crentes foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia. O que significa o termo “cristão”? Significa um seguidor de Cristo. Porventura eles tinham outros nomes? Não, pois não existiam Batistas ou Presbiterianos ou Congregacionais naquele tempo. Eles eram chamados “os de Cristo” ou “seguidores de Cristo”. Este era o único nome que estava associado a eles. E eles não adotaram nenhum outro nome e, queridos santos, trata-se de algo bendito não termos nenhum outro nome hoje.

Todavia, nossas convicções a este respeito são tanto positivas como negativas. Vamos abrir, por exemplo, em 1 Coríntios, onde vemos o outro lado da questão. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1.11-13). Nenhum nome deve ser tomado como base para o sectarismo. Até mesmo o nome de Cristo não é para ser desvirtuado deste modo.

Nenhum Outro Nome

Podemos olhar também o terceiro capítulo desta mesma epístola, versículos 4 ao 7: “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”. Estes versículos confirmam aquilo com que, creio eu, todos aqui estejam de acordo; ou seja, Que não existe autorização, segundo o pensamento de Deus, para se adotar qualquer outro nome além do nome de Cristo, e que não existe qualquer base bíblica para se adotar qualquer outro nome.

Além do mais, se você adota um outro nome, um dia terá que deixá-lo. Suponha que você adote para si qualquer nome que venha ao seu pensamento – por exemplo, um Irmão Plymouth. Você não poderá levar este nome para o céu. Por que? Porque não existe lá nenhum espaço reservado para os Irmãos Plymouth. Suponha que você se denomine um Congregacional. Terá que deixar isto também. Não existe uma vaga reservada para os Congregacionais, e quando chegarmos ao céu e conversarmos com os redimidos, como certamente o faremos, não iremos achar lá um sequer que se faça diferente dos outros por meio de algum nome sectário. Lá só haverá um nome: O nome do Senhor Jesus, o Centro de todos – o Centro do trono – o Cordeiro que um dia foi morto. Aquela Pessoa, e o Seu nome, irá representar tudo o que é glorioso e bendito ali; o Centro que irá atrair todos os olhares, e o Centro das afeições de cada coração será aquele Ser bendito.

Se é esta a vontade de Deus agora com respeito ao Seu Filho, e se é esta a vontade de todo o céu em um dia vindouro no que diz respeito ao Filho de Deus, não deveríamos nós também estar concordes com a estima que é assim depositada nEle, e renegarmos todos os outros nomes? Queridos santos de Deus, são estes os pensamentos que têm estado diante de nós.

Reunidos Ao Seu Nome

Gostaria de abrir também no capítulo 18 de Mateus, versículo 20. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Este versículo diz respeito ao assunto que estamos tratando. Fala do povo do Senhor estar reunido ao (ou para) o Seu nome. Que lugar bendito é este.

Repare, todavia, que existe uma responsabilidade associada a levar o nome do Senhor. Vamos voltar a Deuteronômio onde encontramos este pensamento apresentado de uma forma simples. Leia o capítulo 5, versículo 11 – apenas a primeira parte: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Estar reunido ao nome do Senhor Jesus não é simplesmente uma questão de usar tecnicamente o Seu nome. Acredito que exista o reconhecimento do que este nome envolve. Você não pensa o mesmo? Estar reunido para o Seu nome, envolve o reconhecimento do que este nome implica – o nome do Senhor Jesus Cristo – o reconhecimento do Seu Senhorio. Se alguém segue naquilo que é contrário à Sua Palavra e à Sua vontade, dificilmente se poderia chamar isso de estar reunido ao nome do Senhor Jesus Cristo! Estar reunido para o Seu nome envolve mais do que atuar mecanicamente. Existe nisto algo que atinge nossos corações e nossas consciências também. Deve existir o reconhecimento, na prática, do Senhorio de Cristo, a fim de que a verdade possa ser acompanhada do conteúdo que a torna válida. Nenhuma passagem das Escrituras nos autoriza a adotarmos qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus como o Centro para o Seu povo.

O Espírito de Deus

O segundo ponto de que falamos foi: Nos reunimos assim porque concedemos ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence. Parece um modo estranho de se falar, não é mesmo? Algo de muito sério deve estar faltando para justificar o uso da expressão “conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar”! Quem é o Espírito de Deus? A terceira Pessoa da Divindade. O fato de Ele ser normalmente mencionado como a terceira Pessoa da Divindade, não traz consigo nenhuma idéia de inferioridade. O Espírito de Deus é Deus. Não existe diferença de importância entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O fato de cada uma destas Pessoas divinas ser divina, de cada uma delas ser Deus, traz consigo a impossibilidade de qualquer grau de comparação entre elas. Cada uma é uma Pessoa infinita. O Espírito de Deus está aqui na Terra. Em nossas reuniões de estudo vimos algumas passagens relacionadas ao Espírito de Deus.

Podemos voltar outra vez ao capítulo 14 do Evangelho de João, versículos 16 e 17: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.

Ele Me Glorificará

Agora podemos ler o capítulo 15, versículo 26: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, Aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim”. Também no capítulo 16, versículos 13 e 14: “Mas quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar”. Estes versículos, e muitos outros que poderíamos ler, nos mostram que o Espírito de Deus está aqui na Terra.

O peso que isto tem não é suficientemente compreendido entre nós. Uma Pessoa Divina está aqui na Terra. Deus está aqui na Pessoa do Espírito Santo. Esta é uma verdade maravilhosa! Trata-se de uma verdade fundamental! Deus habita na Terra na forma do Espírito. Como tal Ele está aqui na Terra e para um propósito determinado. Que propósito é este? “Bem”, talvez você diga, “Ele está aqui para convencer pecadores”. Isto é verdade, sem dúvida nenhuma. Mas naquilo que diz respeito ao nosso tema nesta tarde, Ele está aqui para outro propósito. E qual é? Ele está aqui para tomar das coisas que são de Cristo, e mostrá-las para nós. Ele está aqui para glorificar a Cristo. É por esta razão que Ele está aqui. É este o Seu ofício.

Amados amigos cristãos, aqui vemos algo estranho a respeito da Bíblia. No Antigo Testamento podem ser encontradas as mais amplas instruções quanto a todos os cultos do povo terrenal de Deus. Cada ritual foi previsto. Tudo estava ligado aos sacrifícios; até as vestimentas dos sacerdotes; todos os vasos do santuário; tudo minuciosamente previsto de modo a não haver qualquer possibilidade de alguém cometer um erro, a menos que fosse por falta de cuidado.

O Espírito de Deus Está Aqui Para Guiar

Mas já que o Espírito Santo encontra-Se na Terra, você irá reparar como são poucas as instruções que temos quanto às cerimônias a serem celebradas pela Igreja. Onde é que encontramos instruções minuciosas quanto à maneira da assembléia proceder quando se reúne? Veja, por exemplo, a reunião que é tão preciosa aos nossos corações – o partimento do pão – a recordação da morte do Senhor. Onde está o capítulo que nos diz como devemos proceder? Não existe um tal capítulo. Não existe um versículo que nos diga que a reunião do partimento do pão deveria começar com um hino e que depois disso um irmão deveria se levantar e orar ao Senhor ou louvá-lo, e que então outro hino deveria ser dado, e que no final de trinta ou quarenta minutos os símbolos deveriam ser distribuídos, ou por quanto tempo mais a reunião deveria continuar. Por que razão não existe nenhuma passagem das Escrituras cobrindo estes pontos? Porque o Espírito de Deus está aqui para reger e conduzir tudo da maneira que Lhe agrade. (Estou apenas assinalando que não existem instruções escritas para estes detalhes. Não estou criticando o modo como é feito.) O Espírito de Deus está aqui para guiar e reger na Igreja, e Sua direção e regência na Igreja é feita com a finalidade de que Cristo seja glorificado. É este o Seu propósito – o objetivo que Ele tem em vista.

Bem, isto coloca diante de nós uma grande, importante e solene verdade. Na cristandade, de um modo geral, recusa-se conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar. Onde na cristandade, nas denominações, encontro que esteja sendo concedido ao Espírito de Deus o lugar que Lhe é devido? Onde é que Ele pode guiar, dirigir ou reger (e é este o seu gracioso ofício) se algum homem está guiando e dirigindo e tem um programa já elaborado com antecedência? Se este já decidiu quais os hinos que serão cantado e quem deverá orar – onde entra, então, o Espírito de Deus nisso tudo? Isto é o que normalmente se faz, não é mesmo? Sim, é. Que lugar é dado para o Espírito de Deus? Nenhum.

Nos credos das igrejas ortodoxas – das igrejas evangélicas – há muitos cristãos (graças a Deus por eles), mas, no entanto, embora seus credos reconheçam a presença do Espírito Santo, na prática eles negam a Sua presença, pois suas cerimônias são efetuadas como se não existisse tal Pessoa. Seu credo O reconhece, mas na prática O negam. Esta é realmente uma condição triste. Mais do que isto. Algo está radicalmente errado nisso tudo. Amados santos de Deus, existe uma razão para nos reunirmos como fazemos. Desejamos dar ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence.

Como O Espírito de Deus Quer

Agora, com relação a estes últimos comentários, vamos abrir em 1 Coríntios 12.4: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Versículo 7: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”. Versículo 11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Não como o ministro quer, mas como o Espírito de Deus quer.

Vamos abrir também em 1 Coríntios 14.28-33: “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos”, e assim por diante.

Não tenho tempo para falar aqui das manifestações sobrenaturais, mas quero declarar que creio que elas cessaram e não têm lugar hoje na Igreja. Na Igreja o Espírito é Aquele que guia e rege. É a Sua vontade que deve ser obedecida, não a vontade do homem. Esta é uma das razões de nos reunirmos assim. Quando nos reunimos como uma assembléia, nos reunimos de maneira que o Espírito de Deus tenha espaço para agir por meio de quem Ele quiser.

Nenhum Programa Estabelecido

Quando nos reunimos, por exemplo, para recordar o Senhor na Sua morte, não temos nenhum programa estabelecido. Se algum irmão estiver selecionando um hino em sua casa, estará cometendo um erro. Não tem base bíblica para fazê-lo. E se outro irmão escolher de antemão algo que acha bonito para ler no final da reunião, estará cometendo um erro. Não se deve fazer assim. O Espírito de Deus deve ter a direção nestas coisas. Não sabemos quem irá distribuir os símbolos [o pão e o vinho]. Não sabemos quem irá sugerir um hino, ou quem irá se levantar e louvar a Deus. Não temos um programa. Não seria correto se o tivéssemos. O Espírito de Deus deve ser Aquele a dirigir conforme a Sua vontade na reunião da assembléia.

É adequado que nos reunamos e nos comportemos de um modo tal que o Espírito de Deus possa ter liberdade para agir por meio de quem Ele quiser. Na reunião de oração, não é conveniente que se convide um irmão a orar ou que se peça a outro que dê um determinado hino. Não; o Espírito de Deus é Quem deve fazê-lo. Não estou dizendo que tudo acontece com perfeição em nossas assembléias, pois somos falhos, e podemos ser lembrados disto de vez em quando, mas o terreno sobre o qual estamos, e os princípios que sustentamos são de Deus. Nos reunimos assim para dar espaço ao Seu Espírito.

Em Wales, há muitos anos, Evan Roberts reuniu, em um grande salão público, alguns milhares de pessoas que haviam sido salvas. Eles estavam ali para uma cerimônia especial naquele dia. O que havia de peculiar naquela ocasião era o fato de não ter sido preparado nenhum programa de antemão. Além disso, quando a congregação chegou e todos os assentos estavam ocupados e havia pessoas em pé até nos corredores e portas, todos observaram que no centro do salão havia uma cadeira vazia. Ninguém poderia se sentar naquela cadeira. Ela estava reservada, como um símbolo – um lembrete – de que o Espírito de Deus estava presente. Naquele dia o desejo de Evans Roberts, e creio que de outros fiéis também, era que não tivessem nenhum programa estabelecido, mas que o Espírito de Deus pudesse ter liberdade para dirigir e reger. Aquilo gerou muitos comentários. Houve até uma notícia no jornal sobre aquela experiência extraordinária – uma cerimônia sem um programa preestabelecido e sem um ministro! O dia passou alegremente, e com uma clara evidência da direção do Espírito. Podemos agradecer a Deus pelas convicções de fé de Evans Roberts e outros cristãos, mas por que não continuou sendo assim depois? É isto que nos dá o segundo motivo para nos reunirmos do modo como nos reunimos. Queremos dar ao Espírito de Deus o Seu lugar e ofício em nosso meio.

Sair a Ele Fora do Arraial

A terceira razão da qual falei foi esta: A questão de se sair a Ele fora do arraial. Abra no último capítulo de Hebreus para encontrar isto, versículos 10 a 14: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.” Observe que estes versículos fazem parte da epístola aos Hebreus. Isto sugere que existe uma esfera judaica ligada ao que estamos observando. Jerusalém está diante de nós. Foi daquela cidade – daquela cidade religiosa – que o Senhor da glória foi expulso. Seu sangue foi derramado fora daquela cidade. Um novo centro foi estabelecido. A cruz de Cristo se torna agora um centro para a fé. Aquele lugar fora de Jerusalém, fora da organização religiosa, fala agora aos nossos corações que O conhecem.

Porque assim como Ele, em Quem todo o padrão judaico foi expresso e cumprido, morreu fora da cidade, é fora também que é estabelecido o altar do cristianismo. Não existe hoje nenhum outro altar. Estabelecer um altar em uma igreja é ridículo! É uma abominação! Estabelecer um altar em uma igreja hoje é sugerir que o único sacrifício de Cristo não é suficiente. “Temos um altar”. A poderosa obra foi completada. Uma oferenda foi feita. A obra está terminada. Nada mais há para se acrescentar. O Calvário, aquele lugar onde o Rejeitado sangrou e morreu – aquele lugar cancela todos os altares terrenos.

O Que Significa “O Arraial”?

Falamos com frequência do “arraial”, e talvez sem compreendermos completamente o que significa. Sem dúvida alguma, o “arraial”, em sua aplicação estrita, nos fala do tabernáculo, e da condição dos filhos de Israel no deserto, embora aqui ele seja claramente aplicado a Jerusalém. Ele coloca diante de nós a religião organizada e terrena. Jerusalém e seu templo, o lugar divino de adoração, durante muito tempo levou o selo do favor de Deus, e os cristãos judeus tinham sido vagarosos em se desligarem daquele sistema no qual haviam sido criados desde a infância. Todavia, agora eles são exortados a sair.

Vocês já repararam, amados amigos cristãos, quão singular era o estado de coisas que existia aqui no final de Hebreus? Repare a data que é dada na tradução King James [versão inglesa da Bíblia]: 64 A.D. Trinta anos ou mais após o princípio do cristianismo, eles ainda são encontrados em Jerusalém – crentes – seguindo adiante com o judaísmo, seguindo adiante ainda com o templo e os sacrifícios que eram oferecidos no templo. Você há de concordar que aquilo era algo muito estranho! É evidente que sim, e talvez se eu e você tivéssemos vivido naquela época, não teríamos tido a paciência que Deus teve, mas Ele os suportou. Aqui já se haviam passado trinta anos e nós os vemos prosseguindo da mesma maneira, mantendo uma doutrina que misturava a graça e as obras. Isso não era nada diferente de se misturar água com óleo. Eles foram exortados a sair “…a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.

Há certos pontos associados a este sistema que eu gostaria de tratar por alguns momentos. As características do arraial eram quatro. Primeiro, ele tinha um santuário terreno. (Originalmente era o tabernáculo; mais tarde foi o templo.)

Em segundo lugar, ele tinha uma ordem estabelecida de sacerdócio que se colocava entre Deus e os adoradores.

Terceiro, ele tinha uma congregação de adoradores composta de salvos e não salvos.

Quarto, todos eles juntos e coletivamente, estavam sob a lei para justiça. Estas quatro características marcavam o arraial.

O Santuário Terreno

“Bem”, alguém poderá dizer, “isso tudo é judaísmo e já terminou, e Jerusalém foi destruída”. Sim, sem dúvida isto é verdade, mas os princípios aqui estabelecidos continuam a existir. Uma condição paralela àquela ainda se apresenta para nós. O que quero dizer é que o santuário terreno ainda existe – grandes estruturas dedicadas ao, assim chamado, culto a Deus – mas Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Algumas destas estruturas são muito bonitas no que diz respeito à sua arquitetura e decoração. Mas são coisas que não têm valor aos olhos de Deus. Cristo está rejeitado e estamos no lugar da Sua rejeição, e somos chamados a seguir as Suas pegadas. A ostentação e a aparência exterior não é o que conta hoje.

Quanto ao sacerdócio, do mesmo modo como os judeus tinham um sistema de sacerdócio ordenado com o propósito de se colocar entre o povo e Deus, também em nossos dias não deixa de ser verdadeiro que a cristandade estabeleceu um sistema de sacerdócio ligado ao culto professo a Deus – homens ordenados por mãos humanas, para permanecerem entre os adoradores e Deus. Não é preciso irmos muito longe para encontrar isto. Trata-se de uma característica bem estabelecida nesta época da cristandade, como todos sabemos.

Quanto ao terceiro ponto – uma congregação mista de adoradores: não precisamo andar muito para encontrar isto. Será que é difícil encontrar uma congregação mista, composta por pessoas salvas e não salvas que professadamente se reúnem juntas para adorar a Deus? Não teríamos que ir muito longe para encontrar isto. É algo característico de nossa época.

Quanto ao quarto ponto – estar sob a lei para justiça, será que é difícil encontrarmos tal coisa? Não, não é. Isto também é comum ao nosso redor hoje em dia. Em muitas igrejas você descobrirá os dez mandamentos escritos sobre a parede, e as almas são ensinadas que para poderem chegar ao céu não basta crerem no Senhor Jesus, mas devem também guardar os dez mandamentos.

É Custoso Deixar o Arraial

Encontramos estas quatro coisas hoje e, em princípio, elas nos revelam o arraial. A Palavra de Deus é: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Não devemos pensar que este “saiamos” seja sempre uma questão fácil para aqules que estão no arraial. É custoso deixar o arraial. Trinta anos depois de terem recebido o cristianismo encontramos os cristãos hebreus sendo exortados a saírem do arraial. Você não acha que deve ter sido difícil para eles – o rompimento com os muitos vínculos e com amizades antigas? Todavia, por mais duro que fosse, a Palavra de Deus para eles era: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Procuremos nos solidarizar com aqueles que procedem assim hoje. Para alguns é fácil; para outros não, mas trata-se de uma senda de dificuldades e provações. As afeições naturais e os vínculos antigos prendem muitos ao sistema.

Em relação a isto, veja 2 Pedro 1.5-7: “E… à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” – divino amor. Não basta ir só até o amor fraternal. O amor divino deve ser o poder propulsor.

“Levando o Seu vitupério.” O vitupério está ligado ao lugar fora. Você já descobriu isto? Pergunte a um católico a que ele está ligado e ele lhe dirá que está ligado à Igreja Católica. Ele não se envergonha de dizer isto. Ele está no arraial e numa de suas partes maiores e principais. Suponha que eu esteja reunido ao nome do Senhor e alguém me pergunta a que estou ligado. Creio que não sou o único que sente uma certa medida de embaraço. Digo:

– Estou ligado a uma pequena reunião. – Que tipo de reunião? – Bem, uma reunião bem simples. – Que nome vocês têm? – Ora, não temos nenhum nome. – Nenhum nome? – Nenhum; bem, nós nos reunimos ao nome de Cristo. – Mas vocês devem ter algum outro nome… -Não, não temos.

Bem, ele irá pensar que sou um excêntrico, e depois de seguir por algum tempo falando acabará se convencendo de que é isto mesmo. “Aquele sujeito deve ser algum tipo de fanático religioso”, sairá ele dizendo.

Existe vitupério ligado a isto. Nos faz cair no nível de estima dos que nos cercam. Isto faz parte de nossa herança. Trata-se de algo bendito – algo para se dar valor e apreciar – algo que trará consigo um galardão peculiar. Você não encontra este vitupério dentro do arraial, mas fora dele.

Um Só Corpo

Quarto. Cremos que é bíblico estar reunido sobre o terreno do um só corpo. Este é um assunto muito vasto para ser tratado em poucos minutos.

Efésios 4.4. “Há um só corpo.” Esta é uma tremenda verdade! Uma verdade muito profunda! Uma verdade imensamente bendita! “Um só corpo”. Não duzentos, como poderia apontar o relatório do censo dos Estados Unidos. Deus olha lá do céu e de todos os grupos de crentes sobre a Terra, nas várias associações e lugares que são encontrados, Ele não pode reconhecê-los, mas só dizer: “Há um só corpo”. Quaisquer que sejam as associações em que estejam, todos os crentes constituem o um só corpo. Eles podem querer se denominar a si mesmos usando diferentes nomes. Muitos crentes podem ser encontrados entre os Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Congregacionais, Episcopais, e não há dúvidas de que muitos são encontrados em outros lugares também, mas esses nomes não têm valor nenhum para Deus. A única coisa que Ele reconhece é que esses crentes são membros do um só corpo. Pertencem a este corpo. Esta é uma grande, uma enorme verdade, não é mesmo? A verdade de que nós, que por graça somos dEle, pertencemos a este um só corpo, e ao único corpo que existe. Não há nenhum outro. No céu isto será perfeitamente manifestado. Aqui não é muito bem manifestado. Somente o olho de Deus pode ver este um só corpo. Todavia, assim é. Há um só corpo.

Os cristãos no princípio se reuniam simplesmente por pertencerem ao um só corpo. Se eu e você tivéssemos estado em Éfeso na manhã do dia do Senhor e procurássemos por aqueles que reconheciam o nome ou a autoridade do Senhor Jesus, iríamos descobrir que as condições para que participássemos da comunhão estariam baseadas única e tão somente no fato de sermos ou não membros do um só corpo. Eles não nos levariam para um canto para perguntar qual seria nossa opinião sobre o batismo, sobre a verdade dispensacional, sobre a interpretação da profecia ou um monte de outras coisas sobre as quais os homens disputam, mas estariam ansiosos por saber se poderíamos distinta e definitivamente demonstrar que éramos membros do um só corpo – se éramos idôneos quanto à Pessoa e obra de Cristo. Se pudéssemos mostrar que éramos idôneos, seria somente com base nisto que seríamos recebidos entre eles, e somente com base nisto que tomaríamos dos símbolos [o pão e o vinho], pois é esta mesma verdade que os símbolos apresentam diante de nossos olhos. (Estou supondo, evidentemente, que nossa profissão verbal não estivesse em contradição com nossa vida.)

Um Pão

O pão sobre a mesa do Senhor nos fala não apenas da morte do Senhor Jesus, mas antes de ser partido ele fala da verdade de que somos um só corpo. Partimos aquele pão como membros do um só corpo e de nenhum outro modo.

Nosso tempo já se esgotou e não podemos falar muito mais sobre este assunto tão abrangente, mas apenas expressar em palavras que continua coerente com o ensino das Escrituras estar reunido sobre este amplo terreno, reconhecendo cada membro do corpo de Cristo sobre a Terra como um irmão ou irmã, e reconhecendo o direito, ou melhor dizendo, privilégio, de cada um como tal de recordar o Senhor conosco – de tomar daquele um só pão.

É necessário que se acrescente isto: Embora no princípio estes assuntos fossem bastante simples, hoje não são tão simples pois existem aqueles que se denominam cristãos mas que não são cristãos, e já não é suficiente aceitar apenas a palavra humana a este respeito. Hoje em dia todo tipo de pessoa se denomina cristão. É nosso dever descobrir se realmente é assim. Somos responsáveis por aqueles que recebemos, e esta responsabilidade não pode ser deixada sobre eles.

Creio que o que foi falado está em conformidade com a verdade, e se assim for, o Senhor irá tornar isto uma bênção aos nossos corações.

(Fonte)

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