“E o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia” (Êx 16.4).
“Diariamente a porção para cada dia”: essa era a regra que governava o conceder do maná, por parte de Deus, e o colhê-lo, por parte do homem. Essa ainda é a lei no trato da graça de Deus com Seus filhos. Uma visão clara sobre a beleza e a aplicação dessa regra é um maravilhoso auxílio para compreender como alguém, que se sente completamente fraco, pode ter a confiança e a perseverança de prosseguir vigorosamente por todos os anos de sua carreira na terra. Em certa ocasião, um paciente, que havia sofrido um sério acidente, perguntou ao médico: “Doutor, por quanto tempo precisarei ficar deitado?”. O médico respondeu: “Apenas um dia por vez”. Tal resposta ensinou ao paciente uma preciosa lição. Foi a mesma lição que Deus registrou para Seu povo muitos anos antes: “diariamente a porção de cada dia”.
Sem dúvida, foi por causa disso, e da fraqueza do homem, que Deus graciosamente determinou a alternância entre dia e noite. Se o tempo tivesse sido concedido ao homem na forma de um único e longo dia, certamente isso o teria exaurido e oprimido. A alternância entre dia e noite continuamente revigora e restaura a força do homem. Se o tempo não tivesse sido dividido, não haveria esperança para o homem, à semelhança de uma criança que recebesse um livro para que fosse lido de uma vez. Mas, se ao contrário, apenas uma lição por dia fosse dada a essa criança, ela conseguiria ler o livro com certa facilidade. Assim, o homem consegue gerenciar seus desafios quando eles são quebrados em pequenos pedaços e divididos em fragmentos. O homem somente precisa atender aos cuidados e ao trabalho daquele dia – “diariamente a porção para cada dia”. O resto da noite cai-lhe muito bem para poder começar de forma nova a cada manhã. Os erros do passado podem ser, assim, evitados e as lições podem ser aperfeiçoadas. Além disso, ele tem diante de si somente um curto dia para ser fiel. Os longos anos e a vida longa cuidarão de si; sua duração e seu peso nunca se tornarão fardos.
Na vida da graça, o encorajamento que essa verdade traz é tão doce! Muitas almas se inquietam ao considerar como serão capazes de colher e guardar o maná necessário para todos seus anos de peregrinação em um deserto tão árido. Essas almas nunca experimentaram o conforto indizível que há nas palavras “diariamente a porção para cada dia”. Essas palavras eliminam completamente todo o cuidado com o amanhã. Apenas o hoje é seu. O amanhã é do Pai. “Que garantia tenho de que conseguirei permanecer em Cristo por todos os anos durante os quais tiver de contender com a frieza, as tentações e as tribulações desse mundo?” Essa é uma pergunta que você não precisa fazer. O maná, como alimento e força para você, é concedido apenas diariamente. Sua única garantia do futuro é ser fiel no presente. Aceite e desfrute – e cumpra com todo seu coração – a parte que lhe cabe desempenhar hoje. Se você se alegrar na presença e na graça de Deus hoje, você se verá livre de toda dúvida e será capaz de confiar a Ele seu amanhã também.
Permaneça em Cristo, e que isso seja dia a dia.
Essa verdade nos ensina a atribuir grande valor a cada dia. Muito facilmente somos levados a pensar na vida como um grande todo e passamos a negligenciar o pequeno hoje, bem como esquecemos que são os dias que compõem o todo, e que o valor de cada dia depende de sua influência sobre o todo. Um dia perdido é como um elo quebrado no meio de uma cadeia e, freqüentemente, é necessário mais do que outro dia para efetuar o conserto. Um dia perdido influencia o seguinte, que fica mais difícil de ser guardado. Sim, um dia perdido pode pôr a perder aquilo que foi garantido por meio do cuidadoso trabalho realizado ao longo de meses ou até mesmo de anos. A experiência de muitos cristãos pode confirmar isso.
Cristão, permaneça em Cristo, e que isso seja dia a dia! Você já ouviu a mensagem: “A cada momento” – a lição de permanecer em Cristo dia a dia tem algo a mais para nos ensinar. No que se refere a momentos, em muitos deles não há nenhum exercício direto da mente sendo feito por você, e o permanecer acontece no recôndito mais profundo do coração, guardado pelo Pai, a quem você se encomendou. Mas é precisamente esse trabalho que precisa a cada dia ser renovado para o dia que se inicia – trata-se de um renovar específico da rendição e da confiança necessários para viver a vida a cada momento. Deus ajuntou os momentos e os atou em feixes, para que pudéssemos valorizá-los adequadamente.
Pela manhã, ao olharmos para o dia adiante de nós, ou à noite, ao olharmos para trás, ponderando os momentos vividos, aprendemos a valorizá-los e a usá-los adequadamente. A cada manhã, à medida que o Pai cumprir Sua promessa de lhe conceder o maná necessário para aquele dia – não somente para você, mas também para todos os que participam com você –, apresente-se a Ele com amor, reafirmando aceitar a posição que lhe foi dada em Seu amado Filho. Acostume-se a considerar essa atitude como sendo uma das razões pelas quais Deus estabeleceu a alternância entre o dia e a noite. Deus lembrou-se de nossa fraqueza e fez provisão para ela. Permita que cada dia tenha seu próprio valor do ponto de vista de seu chamamento para permanecer em Cristo.
Ao acordar de manhã, quando seus olhos começarem a contemplar o novo dia, aceite-o nos seguintes termos: “Este é um dia, apenas um dia, mas é um dia concedido para que eu possa permanecer e crescer em Cristo Jesus”. Seja um dia de saúde ou de doença, de lutas ou vitórias, receba-o com gratidão e seja este o principal pensamento: “Mais um dia que o Pai me concedeu; neste dia posso e devo ser mais intimamente unido ao Senhor Jesus”. E ao perguntar-lhe ao Pai: “Será que você pode confiar em Mim, apenas por este dia, que Eu o guardarei e o farei permanecer em Meu Filho e mantê-lo-ei produzindo fruto?”, você não poderá dar qualquer outra resposta a não ser: “Confiarei e não temerei”.
Seja um dia de saúde ou de doença, de lutas ou vitórias, receba-o com gratidão e seja este o principal pensamento: “Mais um dia que o Pai me concedeu”.
A porção diária era dada a Israel cedo de manhã, a cada manhã. Aquela porção diária era para ser usada e deveria servir de alimento ao longo de todo o dia, mas tanto o conceder como o colher eram o trabalho da manhã. Isso sugere que o poder para viver bem um dia e para permanecer o dia todo em Cristo depende fortemente daquele período matinal. “Se as primícias são santas, também a massa o é” (Rm 11.16a). Durante o dia, há momentos de intensa ocupação no corre-corre das tarefas ou nos atropelos dos homens em que somente o cuidado do Pai pode manter intacta nossa conexão com o Senhor Jesus. O maná, colhido de manhã, era o alimento consumido ao longo de todo o dia. Somente quando o cristão consegue garantir, de manhã, um momento a sós com Deus, para renovar de forma distinta e eficaz a comunhão de amor com seu Salvador, é que o permanecer pode ser guardado ao longo de todo o dia. O simples fato de poder proceder assim já é motivo de grande gratidão. No sossego e no frescor de cada manhã, o cristão pode contemplar o dia que se descortina diante de si. Ele pode considerar as responsabilidades e as tentações e, por assim dizer, vivenciá-las de antemão diante de seu Salvador, lançando sobre Ele todas as coisas. Cristo é tudo de que o cristão precisa: seu maná, seu alimento, sua força, sua vida. De manhã, o cristão pode colher a porção daquele dia. Ele deve ver que Cristo é a provisão para todas as necessidades que esse dia possa trazer, e pode prosseguir na certeza de que o dia será de bênção e de crescimento.
À medida que a lição sobre o valor e a obra de um único dia é acolhida no coração, o aprendiz, inconscientemente, é guiado até o ponto de ganhar o segredo do “cada dia, continuamente” (Êx 29.38b). O bendito permanecer, que é aprendido por fé para cada dia, é um crescimento contínuo e cada vez mais pleno. Cada dia de fidelidade traz bênçãos para o dia seguinte, e torna a confiança e a rendição mais fáceis e abençoadas. É assim que cresce a vida cristã: à medida que entregamos nosso coração por inteiro à tarefa de cada dia, esse mover passa a ocorrer durante todo o dia e, a partir daí, opera todos os dias. Assim, permaneceremos em Cristo a cada dia separadamente, todo o dia continuamente e dia após dia sucessivamente.
São os dias que compõem a vida: aquilo que antes parecia alto demais, grandioso demais e inatingível, agora foi concedido à alma que se contentou em tomar e usar “a porção para cada dia” (Êx 16.4), “cada coisa em seu dia” (Ed 3.4). Mesmo sobre a terra ouve-se a voz: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.21). Nosso dia a dia torna-se uma maravilhosa experiência de comunhão da graça diária de Deus e nosso louvor diário: “Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de benefícios”, “para pagar os meus votos de dia em dia” (Sl 68.19; 61.8b). Passamos a compreender as razões de Deus de nos suprir diariamente como certamente Ele o faz: apenas, mas plenamente, o necessário para cada dia. Assim nos apresentamos em Seu caminho, o caminho de pedir diariamente e de esperar apenas o que é necessário – mas que é plenamente suficiente – para aquele dia. Desse modo, passamos a contar nossos dias, não baseados no raiar do sol, ou no trabalho que realizamos ou na comida que comemos, mas em função da renovação do milagre do maná: a bênção da comunhão diária com Ele que é a vida e a luz do mundo. A vida celestial, à semelhança da terrena, não se interrompe e é contínua. O permanecer em Cristo a cada dia traz para esse dia sua respectiva bênção. Permanecemos Nele a cada dia e durante todo o dia. “Senhor, faz com que seja essa a porção de cada um de nós”.
Então, disse Jesus a Seus discípulos: “Se alguém quiser…”. A palavra “quiser” aqui significa “desejam”, como no versículo “todos os que piamente querem viver” (2Tm 3.12). Isso significa “estar determinado”. “Se alguém quiser [desejar] vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz [não uma cruz, mas a sua cruz] e siga-Me”. E em Lucas 14.27, Cristo declarou: “E qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Portanto, não é uma opção. A vida cristã é muito mais do que subscrever um sistema de verdades, adotar um código de conduta ou submeter-se a ordenanças religiosas. Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus. E, apenas na proporção em que sua vida é vivida em comunhão com Cristo, você estará vivendo a vida cristã – somente nesta medida.
A vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si sua cruz e siga-Me”. Espero que você e eu ganhemos distinção pela proximidade com que seguimos a Cristo, e então teremos de fato comunhão íntima com Ele. Existe um grupo descrito nas Escrituras do qual é dito: “Estes são os que seguem o Cordeiro por onde quer que vá”. Mas, infelizmente, há um grupo, um grande grupo, que parece seguir o Senhor de forma irregular, espasmódica, ocasional e distante, não de todo o coração. Há muito do mundo e deles mesmos na vida deles, e tão pouco de Cristo. Três vezes mais feliz será aquele que, como Calebe, perseverar em seguir o Senhor.
Acima de tudo, a vida cristã é uma experiência pessoal de comunhão com o Senhor Jesus.
Ora, amados, nosso principal interesse e objetivo é seguir a Cristo, mas existem dificuldades pelo caminho. Existem obstáculos na vereda, e é a eles que a primeira parte de nosso texto se refere. Você nota que a palavra “siga-Me” vem no final. “A si mesmo” fica no caminho, e o mundo com suas milhares de atrações e distrações é um obstáculo; portanto, Cristo diz: “Se alguém quiser vir após Mim [primeiro], renuncie-se a si mesmo [segundo], tome sobre si a sua cruz e [terceiro] siga-Me”. E aí nós aprendemos a razão pela qual tão poucos cristãos professos seguem a Cristo de perto, clara e consistentemente.
O primeiro passo em direção ao seguir diário a Cristo é o negar a si mesmo. Há uma grande diferença, meus irmãos e irmãs, entre negar-se a si mesmo e a assim chamada auto-negação. A idéia popular, tanto para o mundo como entre os cristãos, é a de desistir das coisas que gostamos. Existe uma grande diversidade de opiniões sobre o que deveria ser abandonado. Há alguns que limitariam isso ao que é caracteristicamente mundano, como ir ao cinema, dançar e assistir às corridas. Há outros que limitariam isso a determinado período de tempo quando a diversão e outras coisas que são seguidas durante o resto do ano são rigidamente evitadas naquela época. Mas tais métodos, assim como os outros, só promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito se desisto de tanta coisa! Ah, meus amigos, o que Cristo fala em nosso texto (que o Espírito de Deus aplique isso a nossa alma) como sendo o primeiro passo para segui-Lo é a negação do próprio eu, não simplesmente algumas coisas que agradam o eu, não algumas coisas que o eu deseja, mas a negação do próprio eu.
O que significa “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo”? Significa, em primeiro lugar, abandonar sua própria justiça, mas quer dizer muito mais que isso. Significa parar de insistir sobre os próprios desejos, significa repudiar o próprio eu. Significa parar de considerar o próprio conforto, o sossego, a satisfação, o engrandecimento, os próprios benefícios. Significa acabar com o eu. Significa, amados, dizer com o apóstolo: “Para mim, o viver é…” , não o eu, mas “Cristo”. Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele. Esse é o significado! E, “se alguém quiser vir após Mim”, diz nosso Mestre, “renuncie-se, a si mesmo se negue”, ou seja, deixe o eu ser repudiado, ser aniquilado. Vemos isso, em outras palavras, em Romanos 12.1: “Apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.
Para mim, o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele.
Agora o segundo passo para seguirmos a Cristo é tomar a cruz. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz”. Ah, meus amigos, viver a vida cristã é algo mais do que ter uma vida fácil e tranqüila; é um compromisso sério. É uma vida que tem de ser disciplinada com sacrifício. A vida de discipulado começa com a auto-renúncia e continua com a auto-mortificação. Em outras palavras, nosso texto se refere à cruz não apenas como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como um distintivo do discipulado, como uma experiência da alma. E, atentem! Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz. Os benefícios legais do sacrifício estão assegurados pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós quando nós a tomamos diariamente.
Eu quero chamar sua atenção para o contexto. Mateus 16.21 diz: “Desde então, começou Jesus a mostrar a Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais sacerdotes e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-O de parte, começou a reprendê-Lo”. Pedro vacilou e disse: “Tem compaixão de Ti, Senhor”. Isso expressa a lógica do mundo. Este é o teor da filosofia do mundo: auto-proteção e egoísmo. Mas o que Cristo pregou não foi “poupar-se”, e sim “sacrificar-se”. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás e afastou-o de Si: “Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”. Em outras palavras, o que Cristo disse foi: “Eu estou subindo para Jerusalém, para a cruz; se algum de vocês quiser Me seguir, há uma cruz para ele. E, como Lucas 14 diz: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo” (v. 27). Não apenas Jesus devia subir para Jerusalém e ser morto, mas todo aquele que o seguir deve tomar sua cruz. O “deve” é tão imperativo em um caso como no outro. A cruz de Cristo permanece única em seu caráter expiatório, mas, no viver diário, ela é compartilhada por todo aquele que passou da morte para a vida.
Assim como é verdade que a cruz foi o único caminho de Jesus de Nazaré para o trono do Pai, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus, e da coroa ao final para o crente, é pela cruz.
Então, o que “a cruz” significa? O que Cristo quis dizer com “qualquer que não levar a sua cruz”? Meu amigos, se é deplorável que nesses últimos tempos uma pergunta como esse precise ser feita, é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha concepções anti-bíblicas da razão da existência da “cruz”. O crente em geral parece considerar a cruz a que se refere o texto como qualquer aflição ou dificuldade que possa lhe sobrevir. Qualquer coisa que venha perturbar nossa paz, que seja desagradável à carne, que nos irrita, é vista como uma cruz. Um diz: “Bem, essa é minha cruz!”; outro diz que outra coisa é a cruz dele. Meus amigos, a palavra nunca é utilizada dessa forma no Novo Testamento. A palavra “cruz” nunca é encontrada na forma plural, nem precedida por um artigo indefinido: “uma cruz”. Note também que no texto, nossa cruz está ligada a um verbo na voz ativa, e não na passiva. Não é uma cruz que é colocada sobre nós, mas uma cruz que deve ser “tomada”. A cruz significa realidades definidas que incorporam e expressam as principais características da agonia de Cristo.
Outros entendem que “a cruz” se refere a deveres desagradáveis que eles cumprem sem disposição ou a hábitos carnais que rejeitam. Eles imaginam que tomam “a cruz” quando, empurrados pela consciência, se abstêm de coisas realmente desejadas. Tais pessoas invariavelmente transformam suas “cruzes” em armas para agredir outras. Elas ostentam sua auto-negação e andam por aí insistindo que as demais deveriam imitá-las. Tais concepções da “cruz” são tão farisaicas quanto falsas, e tão prejudiciais quanto errôneas.
Agora, na medida em que o Senhor me permitir, deixem-me mencionar três coisas que a cruz significa.
Primeiro, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiou o Cristo de Deus, e seu ódio foi plenamente manifesto na crucificação. Em João 15, sete vezes Cristo faz referência ao ódio do mundo contra Si e contra Seu povo; e apenas na proporção em que você e eu seguimos a Cristo, em que nossa vida seguir a Dele, em que deixarmos o mundo e estivermos em comunhão com Ele, então, o mundo nos odiará.
Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.
Nós lemos no Evangelho que um homem veio e apresentou-se a Cristo para ser Seu discípulo e pediu que primeiro pudesse ir e enterrar o pai, um pedido muito natural, realmente louvável, e a resposta do Senhor é quase atordoante. Disse Ele àquele homem: “Segue-me. […] Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos” (Lc 9.59,60). O que teria acontecido àquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Eu não sei se ele obedeceu ou não, mas, se obedecesse, o que aconteceria? O que teriam pensado dele seus parentes e amigos? Seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que fez com que ele seguisse a Cristo e negligenciasse o que o mundo chamaria de um dever filial? Ah, meus amigos, se vocês seguem a Cristo o mundo pensará que estão loucos, e algumas pessoas encontram muita dificuldade em suportar as censuras contra sua sanidade. Sim, algumas que encontram na reprovação dos vivos uma provação mais difícil do que a perda dos mortos.
Outro jovem apresentou-se a Cristo para o discipulado e pediu ao Senhor que primeiro lhe deixasse ir despedir-se dos seus, um pedido muito natural. Então, o Senhor apresentou a “cruz”: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (vv. 61,62). Pessoas de temperamento afetuoso se ressentem dos puxões que desatam os laços do lar, e os acham difíceis de suportar; mais difíceis ainda são as suspeitas dos amados e amigos de terem sido desprezados. Sim, a censura do mundo se torna muito real se estivermos seguindo a Cristo de perto. Ninguém pode segui-Lo e permanecer em harmonia com o mundo.
Outro jovem veio e apresentou-se a Cristo e, ajoelhando-se a Seus pés, O adorou e disse: “Bom Mestre, que hei de fazer …?”, e o Senhor apresentou-lhe a cruz: “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres […] vem e segue-me” (18.18,22). E o jovem retirou-se triste. E Cristo ainda continuou a dizer, a vocês e a mim, hoje: “E qualquer que não levar a sua cruz, e vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. A cruz significa a reprovação e o ódio do mundo. Mas, assim como a cruz foi voluntária para Cristo, ela é voluntária para Seu discípulo. Ela tanto pode ser evitada quanto aceita, ignorada quanto “tomada”.
Mas, em segundo lugar, a cruz significa uma vida que é voluntariamente rendida à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte foi um sacrifício voluntário. Em João 10.17,18, lemos: “Por isto o Pai me ama: porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou. Tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la”. Porque Ele deu a vida? Veja o final do versículo 18: “Este mandamento recebi de Meu Pai.” A cruz foi a última exigência de Deus sobre a obediência de Seu Filho. Por isso, em Filipenses 2 é dito que Ele, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a Si mesmo, tomando a forma de escravo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a Si mesmo, sendo obediente até a morte…” – esse foi o clímax, esse foi o fim do caminho da obediência – “… e morte de cruz.”
Cristo nos deixou exemplo para que seguíssemos Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão – voluntária, não compulsória – voluntária, contínua, fiel, sem nenhuma reserva, até a morte. A cruz, portanto, significa obediência, consagração, rendição, uma vida à disposição de Deus. “ Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a Si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me”, e: “Qualquer que não levar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo”. Em outras palavras, caros amigos, a cruz significa o principio do discipulado, nossa vida sendo dirigida pelo mesmo principio que dirigiu a vida de Cristo: Ele veio aqui e não agradou a Si mesmo, nem devo eu procurar agradar a mim mesmo. Ele a Si mesmo se esvaziou; então, assim devo eu fazer. Ele ia por toda parte fazendo o bem: o mesmo deveria eu fazer. Ele não veio para ser servido, mas para servir: assim deveríamos agir. Ele se tornou obediente até a morte, e morte de cruz. É isto que a cruz significa: primeiro, a reprovação do mundo, porque nós nos opomos a ele e incitamos sua ira por nos separarmos dele, e por andarmos por uma direção diferente e por sermos dirigidos por princípios diferentes daqueles pelos quais ele é dirigido. Segundo, significa uma vida sacrificada a Deus – devotada a Ele.
Em terceiro lugar, a cruz significa sacrifício e sofrimento vicários. Vejamos 1João 3.16: “Conhecemos o amor nisto: que Ele [Cristo] deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Essa é a lógica do Calvário. Nós somos chamados à comunhão com Cristo, e devemos viver segundo os mesmos princípios que Ele: obediência a Deus e sacrifícios pelos outros. Ele morreu para que tivéssemos vida e, meus amigos, nós temos de morrer para que vivamos. Mateus 16.25 diz: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á” – isso diz respeito a todo cristão, pois Cristo estava ali falando aos discípulos. Todo o crente que tem vivido uma vida egocêntrica, preocupado com seu próprio conforto, sua própria paz de consciência, seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios, essa “vida” irá se perder para sempre – tudo desperdiçado à luz da eternidade; madeira, feno e palha, que virarão fumaça. Mas, “quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”, que quer dizer, alguém que não tem vivido considerando seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio benefício, sua própria promoção, mas tem sacrificado e gastado a vida a serviço dos outros por causa de Cristo; esse achará – o quê? –, ele a achará, não alguma outra coisa a mais: sua vida, não outra – a sua vida. Essa vida foi imortalizada, perpetuada, foi feita de materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste do fogo do dia por vir. Ele “a” achará. Cristo morreu para que pudéssemos viver, e nós devemos morrer se quisermos viver! “Quem perder a vida por minha causa, achá-la-á”.
Novamente, em João 20, Cristo disse a Seus discípulos: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (v. 21). Para que Cristo foi enviado? Para glorificar ao Pai, para expressar o amor de Deus, para manifestar a graça de Deus, para lamentar sobre Jerusalém, para ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho, para labutar tão diligentemente que Ele não tinha tempo nem para comer, para viver uma vida de tão alto sacrifício que Seus familiares disseram: “Está fora de Si”, e: “Assim como o Pai Me enviou”, Ele diz, “também Eu vos envio”. Em outras palavras, “Eu vos envio de volta para o mundo do qual vos salvei. Eu vos envio de volta para o mundo para viverdes com a cruz estampada em vós”. Ó irmãos e irmãs, quão pouco “sangue” há em nossa vida! Quão pequeno é o levar o morrer de Jesus em nosso corpo (2Co 4.10)!
Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós?
Já começamos, de algum modo, a “tomar a cruz”? Estamos surpresos com o fato de estarmos seguindo Cristo tão de longe? Estamos surpresos pelo fato de termos tão pouca vitória sobre o pecado que habita em nós? Há uma razão para tudo isso. Em seu caráter expiatório, a cruz de Cristo permanece única, mas no viver diário a cruz deve ser compartilhada por todos os Seus discípulos. Legalmente, a cruz do Calvário anulou e afastou de nós nossa culpa, a culpa de nosso pecado, mas, meus amigos, eu estou perfeitamente convencido de que a única maneira de nos libertarmos do poder do pecado sobre nossa vida e de obter domínio sobre o velho homem dentro de nós é tornando a cruz parte da experiência de nossa alma. Foi na cruz que o pecado foi tratado legal e judicialmente; somente na medida em que a cruz for “tomada” pelo discípulo é que ela se torna uma experiência – matando o poder e a corrupção do pecado que habita em nós. E Cristo diz: “Qualquer que não tomar a sua cruz […] não pode ser Meu discípulo!”. Oh, que necessidade tem cada crente de ficar a sós com o Senhor e consagrar-se a Seu serviço!
O mais doce relacionamento que existe entre um homem e uma mulher é o de esposo e esposa. O mais doce relacionamento que existe entre Deus e o homem é o de esposo e esposa. Israel é a esposa de Deus e a Igreja será a esposa do Senhor Jesus Cristo. Existem muitas esposas no Antigo Testamento que, em seu relacionamento com o marido, tipificam, simbolizam ou ilustram algum aspecto particular do relacionamento entre Cristo e Sua Noiva. Neste artigo, queremos considerar Eva como um tipo da Igreja, a Noiva de Cristo.
Nossa convicção, nascida de oração e estudo da Palavra, é que, embora as expressões noiva e igreja possam ser sinônimas, elas são diferentes; porém, semelhantes a corpo. Eva como a noiva de Adão tipifica a igreja, a Noiva de Cristo em dois aspectos:
1. Como a Noiva em predestinação. Quando Deus criou Adão e Eva, eles eram uma pessoa. Eva estava em Adão. Seu nome, embora sendo duas pessoas numa, era Adam (singular). Para que Adão fosse socialmente completo, Eva precisou ser tirada dele e feita uma personalidade distinta e depois levada a ele para que ele pudesse ter comunhão com ela. Efésios 1.4 fala da igreja como estando em Cristo antes da fundação do mundo. Assim, para que Jesus fosse socialmente completo, a igreja precisava ser tirada Dele e feita uma personalidade distinta e apresentada a Ele para comunhão por toda a eternidade.
Deus fez com que um profundo sono caísse sobre Adão e, durante esse período de tempo, Ele abriu-lhe o lado e tirou uma porção de seu corpo, do qual fez Eva, sua noiva. Ela era o universo e o complemento de Adão – seu outro ego. Da mesma forma, quando Cristo morreu, Seu lado foi aberto e surgiu aquela parte de Seu corpo que trouxe à existência Sua Noiva, a Igreja. Assim como Adão era incompleto sem Eva, assim Cristo era incompleto sem Sua noiva, a Igreja, Seu corpo e plenitude Daquele que a tudo enche. Por meio de Adão, Eva recebeu toda a sua dignidade, posição e bênção. Por meio de Cristo, a igreja na mente de Deus como a noiva de Cristo, foi predestinada e pré-ordenada desde a eternidade. Eva estar em Adão desde o dia da criação tipifica e ilustra maravilhosamente a Igreja na predestinação.
2. O segundo fato tipificado por Adão e Eva é relativo à composição ou constituição da Igreja. Tudo o que Deus faz é segundo um modelo, em número, peso e medida. Quando arquiteta um plano ou modelo, Ele nunca o muda, mas prossegue ao longo das eras, operando segundo Seu próprio modelo, que é perfeito desde o princípio. Tem-se tornado axiomático entre os estudantes de tipologia que, a primeira vez que um tipo ocorre, o modelo é estabelecido. Mas, nos tempos de Adão e Eva, temos muito mais do que simplesmente um tipo de ilustração. Aqui está uma norma divina e perfeita que nunca é mudada. Aqui está uma prova infalível e confirmada por muitas outras Escrituras que a companhia escolhida que há de formar a noiva de Cristo é apenas uma pequena parte do corpo de Cristo. A noiva é tirada do corpo e, no mais elevado sentido, o corpo de Cristo, assim como Eva é o corpo de Adão, mas não todo o seu corpo. Considere o relacionamento proporcional entre uma costela e o resto do corpo. Quando Eva foi tirada do corpo de Adão, ela foi chamada de isha, que significa “tirada do homem”, que era chamado de ish. Temos a mesma expressão em inglês: ela foi chamada de woman (man significa homem), porque foi “tirada do homem”. [Algumas traduções em português trazem varoa e varão para indicar esse fato registrado no hebraico. (N. do E.)]
Em 1Coríntios, Paulo chama nossa atenção para o fato de haver muitas ordens ou companhias de indivíduos na terra. Todos os salvos do Antigo e os do Novo Testamentos não constituem um só grupo. Existem diferentes grupos de salvos no Antigo Testamento e diferentes grupos de salvos no Novo Testamento! Todos os santos do Novo Testamento formam o Corpo de Cristo, mas certo grupo (por sua própria escolha de sofrer com Ele, vencer o mundo, a carne e o diabo, e manter obediência fiel a Seus mandamentos e conquistar coroas concedidas por Deus) constitui aqueles que serão tirados do grande corpo dos santos do Novo Testamento para compor a Noiva de Cristo. Isso segue o modelo de Eva sendo tirada do corpo de Adão e se tornando sua noiva.
Possivelmente, nenhuma outra interpretação incorreta tem resultado num viver relaxado e num total desprezo para com os mandamentos do Senhor do que o ensinamento de que todo cristão, a despeito de como vive, é um membro da Noiva de Cristo e reinará com Ele. Esteja informado e saiba que, embora a vida eterna seja uma dádiva de Deus, os galardões e o governo são baseados na fidelidade a nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
“Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (Hb 3.19).
“Então, os filhos de Judá chegaram a Josué em Gilgal; e Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o SENHOR falou a Moisés, homem de Deus, em Cades-Barneia por causa de mim e de ti. Quarenta anos tinha eu, quando Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia a espiar a terra; e eu lhe trouxe resposta, como sentia no meu coração.
“Mas meus irmãos, que subiram comigo, fizeram derreter o coração do povo; eu, porém, perseverei em seguir ao SENHOR, meu Deus. Então Moisés naquele dia jurou, dizendo: Certamente a terra que pisou o teu pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois perseveraste em seguir ao SENHOR, meu Deus.
“E agora eis que o SENHOR me conservou em vida, como disse; quarenta e cinco anos são passados, desde que o SENHOR falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e agora eis que hoje tenho já oitenta e cinco anos; e ainda hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força então, tal é agora a minha força, tanto para a guerra como para sair e entrar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois naquele dia tu ouviste que estavam ali os anaquins, e grandes e fortes cidades. Porventura o SENHOR será comigo, para os expulsar, como o SENHOR disse.
“E Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, a Hebrom em herança. Portanto Hebrom ficou sendo herança de Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, até o dia de hoje, porquanto perseverara em seguir ao SENHOR, Deus de Israel” (Js 14.6-14).
Estou certo de que isso soará para muitos como voltar por um longo caminho e entrar em um reino muito vasto quando digo que nós, cristãos, estamos sendo constantemente confrontados com nosso cristianismo e desafiados por ele. Muitos de nós ainda não entraram realmente no cristianismo. O que quero dizer? Bem, por um motivo: a única porta para o verdadeiro cristianismo é a porta do descanso, o descanso da fé. O modo muito simples pelo qual o Senhor colocou isso em Seu apelo foi: “Vinde a Mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Isso foi dirigido a uma multidão, e essas palavras geralmente são usadas nas mensagens evangelísticas para os não-salvos. O sentido do que o Senhor disse com essas palavras é dado na Epístola aos Hebreus – um significado muito mais profundo e completo do que aquele que é geralmente reconhecido no uso do singelo convite: “Vinde a mim […] e vos darei descanso”. Existe algo que devemos ouvir e detectar na frase: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.9).
Uma presente entrada no descanso
Se olharmos o contexto, a referência é a algo no qual o povo de Deus não entrou. “E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (3.19). Eles não puderam entrar. Quem eram eles? O povo de Deus. É para o povo de Deus que ainda resta um descanso. Não coloquemos isso no futuro, pois esse não é o significado de modo algum; como se depois, quando nós chegarmos em Casa na glória, então, chegaremos no dia de descanso sabático, entraremos no repouso. Não é algo que acontece na tumba: a pessoa entrou no descanso. É, antes, alguma coisa que resta agora como algo presente para o povo de Deus, não na morte, mas na vida. Resta ainda o descanso.
Não me julguem elementar, pois vocês sabem no coração, assim como sei no meu, que esse assunto de descanso do coração, o descanso da fé, é uma questão continuamente viva, que está vindo à tona em todo o tempo. Uma das coisas que está faltando em muitos de nós é o repouso, ou, colocando de outra maneira, as coisas que mais nos caracterizam são a agitação frenética, a ansiedade e a incerteza – e todas elas são o oposto da tranqüila segurança, da quieta confiança, do espírito, da atitude e da atmosfera que diz a todo tempo: “Não se preocupem, não se precipitem, está tudo bem”. Uma coisa que nosso grande inimigo está sempre tentando fazer é perturbar, destruir isso e nos roubar isso, agitar-nos, afligir-nos, conduzir-nos, atormentar-nos, qualquer coisa que roube nosso descanso ou nos impeça de entrar nele.
É o descanso da fé, não o descanso da passividade, da indiferença e da falta de cuidado. Há muita diferença entre falta de cuidado e falta de preocupação. Resta, ainda deve ser alcançado, deve ser obtido, ainda existe, ainda está preservado um descanso para o povo de Deus – para o povo de Deus. Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso. Nosso testemunho e nosso ministério estão ameaçados, enfraquecidos, limitados e desacreditados se nós mesmos não estivermos no repouso; e este é o objetivo da ação do inimigo com respeito a isso: tirar nosso crédito removendo de nós a primogenitura de nossa união com Cristo, Aquele que nunca está perturbado, nunca ansioso, nunca com dúvidas em qualquer questão a a respeito Daquele que reina. O repouso é o resultado exterior prático de nossa crença de que Ele é o Senhor, e de que o senhorio de Cristo está comprometido pela falta de descanso do povo de Deus.
Não temos o direito de ir aos não-salvos e persuadi-los a chegarem-se a Cristo e achar descanso até, e a menos, que nós próprios conheçamos esse descanso.
O descanso da fé deve ser nossa posição, não apenas na grande questão da justificação – mas se não estivermos alicerçados nela, não estaremos alicerçados em qualquer outro fundamento. Oh, o inimigo está atacando isso, mesmo com respeito ao povo de Deus; ele está sempre buscando desvalorizar isso; de certa forma buscando erguer novamente a questão da justificação, de estarmos apenas com Deus em nosso posicionamento, em nossa aceitação – que ainda não é plena e final em nosso estado apenas em Cristo; ou seja, não estamos finalmente perfeitos em nós mesmos, mas somente naquela união em relação ao que Cristo é. O inimigo nunca cessa de tentar diminuir isso, seus métodos são incontáveis, muito persistentes e muito vigorosos. O descanso da fé está nisso, mas também em cento e um outros aspectos das coisas práticas da vida cotidiana, coisas que não estão em nosso poder para arrumar, assegurar, estabelecer e fazer acontecer. Cada dia traz centenas de situações nas quais há a oportunidade de permanecermos no descanso da fé, naquela fé no Senhor que traz repouso. Assim, sutis são os modos do inimigo que sempre nos dirá que é algo muito pequeno com que preocuparmos o Senhor; “é um mero incidente, por que levar ao Senhor? Ele é maior e tem coisas mais importantes do que essa aí para fazer! Por que tentar fazer do Senhor nosso garoto de recados (digo-o com reverência), apenas para fazer todas as coisinhas que queremos que sejam feitas?” Se nessas coisas o testemunho é preservado pelo descanso, então, é algo grande para o Senhor, não algo pequeno. Se nessa questão a glória do Senhor corre risco de sofrer, então, é algo realmente muito grande. Talvez seja um incidente do dia-a-dia – sim, de muitas, muitas maneiras no cotidiano, você e eu podemos perder o equilíbrio, o descanso e a tranqüila confiança como se perdêssemos nossa espiritualidade, e o Senhor perde muito, pois isso prova que em algum lugar faltou fé, e, com isso, o repouso se foi. Esse é um lado. É um desafio para nós, um real desafio.
A necessidade de fé
“E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.” Não puderam – incredulidade paralisadora, desqualificante e incapacitante. Isso significa que, o quanto antes encararmos toda essa questão e a resolvermos, tanto quanto possível, melhor. Por 38 anos Israel esteve trancado, detido, andando em círculos, por assim dizer, nesta única questão de crer ou não em Deus. Ela foi levantada, digo novamente, de diversas formas. Ela apareceu em questões físicas, pois uma vida no deserto era fisicamente um grande desafio. O Senhor não mudou as condições físicas. Ele chamou os filhos de Israel a uma grande mudança neles mesmos primeiramente; as condições físicas seriam ajustadas quando Ele obtivesse a mudança dentro deles. Quando a questão da fé Nele foi resolvida, então, o Senhor tratou com o que era físico. A questão fora levantada nas áreas circunstancial, emocional, intelectual e volitiva; o desafio fora feito a todas elas de várias maneiras. Podemos considerar toda a experiência deles e ver como cada um tinha uma forma peculiar de desafiar a fé, e esse desafio mudava quase diariamente em seus aspectos e formas, porém era sempre o mesmo. Ocorreu em todas as áreas, e o Senhor jamais o mudou, ou impediu nem permitiu que toda a gama de condições fosse alterada, focando sempre apenas em um ponto: o que importava era o homem interior, e, enquanto esse ponto não fosse decidido, o Senhor lidava com todas as outras coisas.
A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus.
Bem, isso é muito compreensível. Não pensemos que é necessariamente essa ou aquela coisa que contribui para nossa condição. Podem ser fatores contribuidores, podem ser uma grande prova, podem ter muito peso sobre nós. As questões físicas – sim, elas pesam, tornam a situação extremamente difícil, fazem um monte de diferença. As circunstâncias nas quais temos de viver fazem muita diferença, tornando a situação demasiadamente difícil. Dizemos: “Se tão-somente o Senhor tratasse com essa questão física ou com essas circunstâncias ou algo mais! Tudo acontece por causa disso, que é sua causa, sua razão”. Essa é nossa maneira de arrazoar, mas de maneira nenhuma é o pensamento do Senhor. A coisa é mais profunda: é uma questão de simplesmente crer em Deus; fé resoluta, confiança em Deus. O Senhor está tentando nos tirar de nossa variável e volátil vida da alma, na qual estamos à mercê de todos os nossos sentimentos, pensamentos, razões e todas essas coisas, e nos colocar em um reino em que, em espírito, somos firmes. Este é o ponto sobre o qual tudo ficaria fixado, segundo o salmo: “Seu [do povo] coração não estava firme nele [em Deus]” (78.37), e em torno disso todos aqueles quarenta anos transcorreram. A chave para isso é espiritual; testados por todas as outras circunstâncias, por todos os outros meios, por fim constataram que era uma questão espiritual. Ser fortalecido com poder por Seu Espírito no homem interior (Ef 3.16) é a resposta a isso tudo. O outro modo de agir, então, dá lugar a esse; pelo menos devemos ganhar ascendência sobre o outro enquanto não é removido.
Fé em Deus, o segredo da coragem
Voltemos à palavra em Josué. Daquela primeira geração, apenas dois homens saíram do reino da alma: Josué e Calebe. Eles triunfaram nesse reino e sobre ele primeiro, e depois o Senhor os trouxe para fora, mas o fato é que o descanso da fé, que era o segredo do triunfo deles enquanto estavam nele, foi trazido tão bela e magnificentemente à luz em Josué 14. Penso que é algo excelente. Calebe, um dos dois, vem a Josué. Ele é agora um homem velho, mas ainda vivendo pela fé na posição que tomou com o Senhor anos antes. Ele tomou essa posição quando foi um dos espias e quando a grande maioria, a esmagadora maioria, trouxe seu péssimo testemunho. Os demais olharam para Deus através de suas circunstâncias, esses dois homens contemplaram suas circunstâncias através de Deus – e isso fez toda a diferença. Calebe tomou essa posição de olhar para tudo através de Deus, e ainda vive nessa posição; e agora, como um homem velho, vem a Josué, e, enquanto todos os outros estão recebendo suas heranças em posições agradáveis, fáceis e prósperas, “em que cada paisagem era agradável”, Calebe diz: “Dê-me esta montanha onde estão os gigantes e as grandes cidades muradas, esse país montanhoso! Dê-me esta montanha!”
Oh, queridos amigos, existe muito a ser dito sobre isso, mas ficarei contente, por ora, em apresentar este desafio ao meu coração e ao de vocês: O que estamos buscando? Uma herança fácil, uma horta em que trabalhar, algo que responderá a nosso toque imediatamente e nos dará satisfação? Buscamos uma terra florescente? A fé que trouxe Josué e Calebe ao descanso de coração antes do descanso da terra era este tipo de fé: “Dê-me uma possibilidade difícil! Eis aqui uma situação cheia de dificuldades, cheia de ameaças, cheia de adversidades; não obstante ser quase uma proposta aterradora, dê-me uma chance ali!” Vemos o desafio. As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor? “De que o Senhor falou aquele dia […] como o Senhor disse.” Como estamos encarando as grandes dificuldades? E elas existem! Existem problemas! E essas montanhas parecem se empilhar umas sobre as outras à medida que prosseguimos. Às vezes, o que está diante de nós parece ser uma perspectiva impossível, uma situação desesperadora. Talvez para nós individualmente, por alguma razão dentro de nós ou fora de nós, ou para a obra para a qual fomos chamados, para o ministério, o testemunho que está posto diante de nós, aquilo parece tão completamente desesperador, a montanha é impossível. Bem, e daí? “Dê-me esta montanha!” Nada a não ser uma fé real em Deus pode considerar as coisas desse modo e dizer: “Tudo bem. É difícil, não há dúvidas sobre isso, é uma proposta naturalmente aterradora, uma perspectiva desesperadora; não obstante, nós a tomaremos no nome do Senhor. Como o Senhor falou… O Senhor” olhando para a montanha através do Senhor, e não para o Senhor através da montanha.
As dificuldades nos aterrorizam ou apenas apresentam uma grande oportunidade para o Senhor?
Creio que esse seja o tipo de fé de que precisamos, que conduz ao descanso. Uma montanha – sim, uma montanha alta o bastante, uma montanha de fato, uma montanha circunstancial, uma montanha da perspectiva da obra. Naturalmente, faríamos a coisa certa, a sábia, a coisa do senso comum: “Não, não tocaremos nisso!” Mas a fé diz: “Não vou tentar contornar a montanha, não vou virar as costas para ela e fugir. Dê-me esta montanha!” Eu quero essa fé, você a quer. Não é apenas nossa coragem natural, nossa natureza tenaz, nossa pugnacidade que fará isso. Sabemos bem que nada temos; se deixados por nossa conta, seria melhor desistir. Mas o Senhor está desafiando, e Calebe vem como uma repreensão para nós. Ao final de uma longa vida – quando pensaríamos que talvez fosse o tempo dele herdar um belo jardinzinho e um chalé em algum lugar onde o trabalho fosse fácil e pudesse, então, descansar – ele diz: “Dê-me esse monte onde há gigantes e cidades muradas! Dê-me esta montanha!” Sua escolha foi uma coisa difícil, pois era uma oportunidade para o Senhor.
É provável que muito em breve sejamos trazidos, de modo muito prático, ao encontro de situações como as que temos descrito, mas consideremos o Senhor nelas. Vamos ter de enfrentar com naturalidade o que serão dificuldades aterradoras, por dentro e por fora, que querem arrancar nosso coração, mas, oh!, a essa quieta e repousante segurança e confiança em nosso Deus, a qual diz: “Dê-me esse monte como uma oportunidade de experimentar o Senhor!”
E assim fez Calebe – em Hebrom, e isso é outra história (Hebrom é uma longa história). Devemos conhecê-la, pois Hebrom foi um lugar maravilhoso nos propósitos de Deus. Davi fora primeiramente coroado rei lá, antes de o ser em Jerusalém. Hebrom significa “comunhão”. Há uma grande herança em Hebrom. Hebrom está assegurado para homens e mulheres com o tipo de fé de que falamos, que não querem escapar de suas dificuldades e do caminho árduo. Que a tomemos na força do Senhor, e que Ele tenha uma oportunidade de mostrar que pode fazer o que seria naturalmente impossível. O Senhor nos dê essa fé!
Se os homens soubessem que não merecem nada, que são devedores da misericórdia de Deus a cada dia, logo cessariam de se queixar.
(J. C. Ryle)
O sofrimento faz parte da condição humana e vem para todos nós. A chave é a forma como reagimos a ele: ou nos afastando de Deus com raiva e amargura ou nos aproximando Dele com confiança.
(Billy Graham)
Ninguém em seu leito de morte diz: “Tragam-me meus diplomas!” Não espere esse momento para descobrir a futilidade final das realizações humanas.
(Josemar Bessa)
Nada coloca uma pessoa tão fora do alcance dos demônios como a humildade.
(Jonathan Edwards)
Deus não espera que Lhe submetamos nossa fé sem o uso da razão, mas os próprios limites de nossa razão fazem da fé uma necessidade.
(Agostinho)
Estejam em muita oração secreta. Conversem menos com os homens e mais com Deus.
(George Whitefield)
O casamento pode ser uma grande bênção ou uma grande maldição, dependendo de onde você coloca a cruz.
Deus está disposto a lidar conosco pela graça, mas não às custas de Sua justiça.
(Jerry Bridges)
O Senhor sabe quem O está aguardando e quem não está; quem está vigiando e quem não está; quem está vencendo e quem está sendo vencido. O Senhor sabe. Que grande surpresa será!
(Stephen Kaung)
Se fugirmos da cruz, o ego nunca será destronado e a transformação não virá.
(Stephen Kaung)
O conhecimento é vago e infrutífero quando não é reduzido à prática.
(Matthew Henry)
O segredo de orar é orar em secreto.
(Leonard Ravenhill)
Se eu caminhar com o mundo, eu não posso andar com Deus.
(D. L. Moody)
Sempre vejo que os que são levados de um lado para outro por todo vento de doutrina são os preguiçosos demais para estudar doutrina.
A maioria de nós comete o erro de tentar mudar nossas circunstâncias, em vez de mudar a nós mesmos.
(Vance Havner)
A percepção de que meu relacionamento diário com Deus é baseado no infinito mérito de Cristo, e não em meu próprio desempenho, é uma experiência muito libertadora e alegre.
(Jerry Bridges)
A Igreja não tem como objetivo atrair as pessoas para si mesma. A Igreja tem como objetivo conduzir as pessoas a Cristo.
(Stephen Kaung)
Cuidado com você mesmo mais do que com qualquer outro homem; carregamos dentro de nós nossos piores inimigos.
(Charles H. Spurgeon)
Tudo o que fazemos é para a eternidade.
(Thomas Brooks)
Os que querem crescer na graça precisam ter sede de saber.
(Matthew Henry)
A natureza da esperança é esperar no que a fé crê.
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.7,8).
Nesta passagem, a ênfase é totalmente colocada na idoneidade moral da noiva para a grande ocasião. “Já a Sua esposa se aprontou” para a união; “e foi-lhe dado que se vestisse”.
A veste nupcial não é aquele esplendor vulgar da grande prostituta: roupas de púrpura e escarlata, brilhando com jóias e pérolas (17.4), que apenas escondem deformidade e corrupção ocultas. A noiva santa usa apenas linho fino, resplandecente e puro. A veste do sumo sacerdote no passado era assim, quando ele entrava anualmente no Santo dos Santos diante da Presença (Lv 16.4). Aquele linho fino era tecido por mãos humanas (Êx 35.25) e, semelhantemente, a veste da noiva é feita por ela mesma: “O linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.8).
A própria tradução na Almeida Corrigida e Fiel (ACF) não permite que essa justiça seja a de Deus, a qual é imputada ao pecador pela fé em Cristo, pois diz: “Justiça dos santos”, e não a justiça de Deus. O sentido do termo é fixado por seu uso anterior em 15.4. A ACF traduz de modo inexato: “Teus juízos são manifestos”, mas a Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduz corretamente: “Teus atos de justiça [ta dikaiomata] se fizeram manifestos” . “Este tecido puro, brilhante e feito de bisso, representa os atos justos dos santos […] a soma dos atos santos dos membros de Cristo, operados neles pelo Espírito Santo” (Swete). E também William Milligan (Expositors Bible, Revelation, 322):
Estes atos não são a justiça imputada de Cristo, embora só sejam realizados em Cristo. Eles expressam a condição moral e religiosa daqueles que constituem a noiva. Justiça alguma exterior apenas, com a qual possamos ser vestidos, é suficiente preparação para a bênção futura. Uma mudança interior é não menos necessária que uma idoneidade pessoal e espiritual para a herança dos santos na luz. Cristo deve ser não apenas como uma roupa, mas como vida em nós, se quisermos usufruir a esperança da glória (Cl 1.27). Não tenhamos medo de palavras como estas. Vistas corretamente, elas não interferem com nossa perfeição só no Amado, ou com o fato de que não pelas obras de justiça que tenhamos realizado, mas pela graça, é que somos salvos por meio da fé, e isto não vem de nós; é dom de Deus (Ef 2.8). Toda a nossa salvação é de Cristo, mas a mudança em nós deve ser interior como também exterior. Os eleitos são pré-ordenados para serem conformes a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29); e a condição cristã é expressa nas palavras que dizem não somente “fostes justificados”, mas também “vós vos lavastes, mas fostes santificados […] em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11, ARA).
E a tradução literal desta última parte, “vós vos lavastes”, enfatiza ainda mais a verdade em questão e mostra harmonia de Paulo e João sobre essa verdade.
Deve-se observar que a justiça imputada que justifica é colocada sobre o crente por Deus, não por si mesmo, sendo considerada por ele e não assumida por ele. Romanos 4.6 diz: “O homem a quem Deus imputa a justiça”. Mais ainda: esta imputação acontece no primeiro ato de fé de cada indivíduo, enquanto que o atavio dele só acontece no dia das bodas, no término da carreira de toda a igreja de Deus, e é visto como um ato unido ao primeiro.
Existe uma precisão nas palavras de Deus correspondendo exatamente ao fato das coisas. A esposa “se aprontou” e, todavia “foi-lhe dado” fazer isso. Se o Espírito de santidade não tivesse tornado possível, nenhum membro da igreja poderia realizar atos justos; mas, embora cada ato santo seja realizado pela graça do Espírito, é o santo quem o realiza. É Deus quem opera em nós o querer e o efetuar; mas somos nós quem devemos desenvolver essa salvação numa vida de atos justos (Fp 2.12,13); e, se entristecermos ou apagarmos o Espírito e assim frustrarmos a obra de Deus em nosso interior, então, o linho fino não será tecido. E nenhuma outra veste terá participação de qualquer um na glória nupcial, embora justificado na lei pela justiça imputada. Pois o perdão de uma mulher outrora rebelde não é o mesmo que se tornar, mais tarde, a esposa de seu soberano, nem tampouco existe necessidade de que o rei pensasse em tal honra para ela.
Tudo isso é ilustrado na história de Ester. De cativa ela é exaltada à posição de rainha. Com respeito às vestes e aos enfeites de que ela precisava, tudo era presente do rei, pois ela não tinha nada adequado. Mas ela tinha de vesti-los a fim de se aproximar do rei; como está escrito: “Ester se vestiu de trajes reais” (Et 5.1)
A justificação é um benefício inicial, concedido de uma vez por todas; a santificação é um processo para a vida toda: o sacerdote deve lavar as mãos e os pés até o fim de sua carreira.
Essa obra graciosa e indispensável no crente é operada por aquilo que Cristo fala à Igreja. Assim, é dado a ela se tornar pura. Porém, as palavras devem ser obedecidas, senão permanecerão inúteis, e por isso “é dado a ela vestir-se”, realizando os atos justos direcionados pela Palavra de Deus. Tudo é pela graça; mas é a graça usada e não abusada; é a graça obedecida e não negligenciada. Pois a graça “se manifestou […] ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa e piamente”, e só vivendo assim é que estaremos verdadeiramente “aguardando a bem-aventurada esperança e [até mesmo] o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, o qual se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo todo Seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.11-14). Portanto, “todo o que Nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como Ele é puro” (1Jo 3.3).
Aos justificados, “que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pd 1.1-4), Pedro acrescenta o encorajamento de que Deus “nos tem dado tudo o que diz respeito à vida e a piedade”, tornando assim a santidade de vida possível. Para este fim, Deus “nos tem dado as Suas grandíssimas e preciosas promessas”. Como um pai, que ao iniciar seu filho nos negócios lhe concede várias notas promissórias emitidas por um banco e pagáveis à vista, assim Deus enriqueceu Seus filhos para todas as exigências de uma vida santa. É pela oração e pela obediência às instruções de nosso Pai Celestial que asseguramos a riqueza espiritual prometida; e, à medida em que Seu caráter se torna desenvolvido progressivamente em nós, então, nos tornamos “participantes da Sua natureza divina”. Isso não é o mesmo que ter vida eterna, embora seja uma conseqüência dela. Todos os seres humanos têm vida humana, mas a natureza deles difere: alguns são rudes por natureza, outros, amáveis; uns são ativos, outros, indolentes; e assim por diante. Todos da família de Deus têm a vida do Pai, mas diferem no grau em que aquilo que é natural para Deus (como ser santo ou amar os inimigos) se torna natural neles. E essa diferença é proporcional à medida de apropriação de cada uma das promessas divinas. A negligência das promessas deixa a alma pobre, assim como negligenciar as promissórias do banco deixam o bolso vazio.
O padrão é alto, embora atingível pelo Espírito, por meio da obediência à Palavra. As histórias de José, Samuel e Daniel são narradas com detalhes. Cada um deles estava cercado de depravação moral e grosseira, mas Deus não registrou nada contra eles. Não quer dizer que não tinham pecado; só Cristo não pecou. E Paulo escreveu aos crentes numa cidade pagã e ímpia: “Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa” (Fp 2.12-16). É possível ao crente “guardar-se imaculado do mundo” (Tg 1.27), e aquele que assim anda de vestes brancas aqui e agora terá permissão de vestir-se para comunhão com Cristo como parte da noiva no final (Ap 3.4,5; 2Co 7.1; Ap 22.2,3). Cada um deve tecer sua veste nupcial própria e pura pela graça de Deus, e somente para o louvor e glória daquela graça. A noiva será, então, para o prazer e a honra do Noivo.
Quem quiser verificar sua verdadeira condição espiritual pode fazê-lo notando quais foram os seus pensamentos nas últimas horas ou nos últimos dias. Em que você pensou quando estava livre para pensar no que lhe agradasse?
O homem humilde aceita que se lhe diga a verdade. Ele crê que em sua natureza caída não habita bem nenhum. Reconhece que, separado de Deus, não é nada, não tem nada, não sabe nada, nem pode fazer nada. Mas esse conhecimento não o desanima, porque também sabe que, em Cristo, ele é alguém. Sabe que para Deus ele é mais precioso que a menina de seus olhos e que pode todas as coisas por meio de Cristo, que o fortalece; ou seja, pode fazer tudo o que está dentro da vontade de Deus que ele faça.
A vida em que o Espírito habita não é uma edição de luxo do cristianismo que deve ser desfrutada por determinados cristãos extraordinários e privilegiados que, por acaso, são melhores e mais sensíveis do que o restante. Ao contrário, é o estado normal para todo homem e mulher remido em todo o mundo.
O pecado tem sido disfarçado nestes dias, aparecendo com novos nomes e caras. Você pode estar sendo exposto a esse fenômeno na escola. O pecado é chamado por diversos nomes enfeitados ― qualquer nome, menos pelo que ele realmente é. Por exemplo: os homens já não ficam mais sob convicção de pecados; eles têm complexo de culpa. Em lugar de confessar suas culpas a Deus, para se livrarem delas, deitam-se num divã e tentam relatar o que sentem a um homem.
Toda a fraqueza dos fariseus jazia na qualidade de seus motivos.
Uma vida cristã estagnada e infrutífera é resultado da ausência de uma sede maior de comunhão com Deus.
O impulso de buscar a Deus origina-se em Deus, mas a realização do impulso depende de O seguirmos de todo o coração.
A prova pela qual toda conduta será finalmente julgada é o motivo.
Não queira saber coisas que são inúteis. Aprenda a orar interiormente a todo momento. Depois de algum tempo fará isso em qualquer lugar, inclusive no trabalho.
O contentamento religioso sempre é inimigo da vida espiritual. A biografia dos santos ensina que o caminho para a grandeza espiritual sempre foi por meio de muito sofrimento e dor no íntimo.
Por causa do que tenho pregado não sou recebido na maioria da igrejas da América do Norte.
Aiden Wilson Tozer nasceu no dia 21 de abril de 1897, em Newburg, Pensilvânia (EUA). A. W. Tozer foi alcançado por Cristo em 1915, aos 18 anos. Aos 22 anos, ingressou no ministério pastoral da Igreja Aliança Cristã e Missionária, denominação cristã fundada por Albert Benjamin Simpson. Tozer foi muito influenciado pelos ensinos de A. B. Simpson acerca do Espírito Santo, proporcionando sua aproximação com os ensinos da Convenção de Keswick organizada pelo Movimento da Vida Superior, que prezava os ensinamentos da linha da vida interior, representado por Madame Guyon, Andrew Murray, Jessie Penn-Lewis, T. Austin-Sparks, Watchman Nee, dentre outros.
Além da devoção coletiva realizada no culto, Tozer valorizava as orações individuais, pois eram cruciais no seu dia-a-dia. Seus escritos e suas pregações eram conseqüência de sua vida de oração. Seus livros e seu legado espiritual atraem muitos cristãos sinceros e interessados no conhecimento e na vida profunda em Deus. Christian Chen declarou: “A. W. Tozer e T. Austin-Sparks sãos os maiores profetas do século 20”. Aiden Wilson Tozer trilhou o caminho espiritual que poucos concluíram, caracterizado pelo conhecimento profundo de Deus, buscando desesperadamente a sabedoria do Salvador para servi-Lo e adorá-Lo plenamente. Convocou os crentes sinceros para voltarem às Escrituras e à prática que definiu o princípio da Igreja: fé e santidade.
A.W. Tozer cultivou estreita amizade com Leonard Ravenhill que utilizava muitos de seus livros para elaborar os sermões.
No dia 12 de maio de 1963, Tozer sofreu um ataque cardíaco e dormiu no Senhor, deixando um legado precioso para os cristãos sequiosos; no entanto, suas pregações trouxeram desconforto para as massas acomodadas do cristianismo.
O cientista moderno perdeu Deus no meio das maravilhas deste mundo; nós, os cristãos, estamos em verdadeiro perigo de perder Deus no meio das maravilhas de Sua Palavra.
(A. W. Tozer)
Se você vai caminhar com Jesus Cristo, você vai estar contra todo o mundo e contra a grande maioria dos evangélicos também.
(Paul Washer)
A pessoa que nunca medita sobre a glória de Cristo nas Escrituras agora não terá qualquer desejo real de ver a glória no céu.
(John Owen)
Não há doutrina mais excelente em si ou mais necessária para ser pregada e estudada do que a doutrina de Cristo, e este crucificado.
(John Flavel)
A fé é o que vence o mundo; ela faz nossas todas as promessas de Deus.
(Jeremias Burroughs)
O verdadeiro deus de seu coração é para onde seus pensamentos vão sem esforço quando não há mais nada exigindo sua atenção.
(Tim Keller)
Nada obterá mais sucesso em dividir a igreja do que o amor ao poder.
(Crisóstomo)
Há igrejas que se encontram tão completamente afastadas da mão de Deus que, se o Espírito Santo se afastasse delas, elas não perceberiam isso durante muitos meses.
Parece que Maria Madalena e o pequeno grupo de mulheres vieram cedo ao sepulcro, naquela terceira manhã, com a intenção de completar a unção do corpo de Senhor, que havia sido feita apressadamente na tarde do dia da Crucificação. Para isso elas levavam consigo as especiarias necessárias (Mc 16.1; Lc 24.1). Entretanto, ao se aproximarem do sepulcro elas viram que a grande pedra havia sido removida, e logo pensaram que o corpo de Jesus havia sido removido por alguma pessoa ou pessoas desconhecidas. Talvez as outras mulheres tenham demorado por ali para investigar, mas Maria Madalena partiu apressadamente para avisar Pedro e João dizendo: “Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram” (Jo 20.2). Como seria de esperar, aqueles dois discípulos foram imediatamente ao jardim, e João, o mais novo, ultrapassou Pedro, e chegou primeiro. Ele inclinou-se, olhou para dentro e viu os lençóis de linho no chão. A palavra traduzida “no chão” é muito importante. Por que não dizer simplesmente “ele viu os lençóis?” Haveria algo importante sobre a posição dos lençóis que chamou a atenção do discípulo? Tendo notado este fato João não entrou. Foi então que Pedro chegou e, típico deste discípulo impulsivo, ele entrou imediatamente no túmulo e viu, ele também, os lençóis “no chão”, e viu também o “lenço” que envolvera a cabeça do Salvador, como um turbante, não “no chão” com os lençóis, mas num lugar à parte. João então entrou no sepulcro e viu, e creu. Tudo ali evidenciava um milagre!
Devemos notar aqui diversos fatos importantes. Primeiro, se de fato o corpo tivesse sido roubado, por que os ladrões simplesmente não o levaram como estava enrolado nos lençóis? Por que perderam tempo removendo os lençóis e deixando-os no túmulo? Seria estranho, para começar. Mas, em segundo lugar, os lençóis estavam no “chão”, e a palavra no original significa que estavam estendidos exatamente da mesma forma como quando envolviam o corpo do Salvador, exceto pelo fato que o peso das especiarias dentro deles causou um achatamento, embora ainda retivessem o formato de rolo, camada sobre camada. Como Henry Lathan escreveu, em seu ótimo livro The Risen Master [O Mestre ressurreto]: “Se uma pessoa grega quisesse expressar a idéia de ‘estendido no chão’ ou ‘deitado estendido’, esta seria a palavra que ele usaria”. Os lençóis não foram deixados num monte embolado no chão. Eles “jaziam” estendidos de forma ordeira, mas o corpo desaparecera.
Uma terceira coisa a ser notada, e que é frequentemente ressaltada, é o fato que nos versículos que registram esses acontecimentos (vv. 5-8) são usadas três palavras diferentes para “ver”. Quando João chegou primeiro ao sepulcro ele parou do lado de fora, abaixou-se, olhou para dentro e “viu” (blepo, 991) os lençóis no chão. É a palavra comum para visão, e ver. João simplesmente viu os lençóis no chão do sepulcro. Mas Pedro, tendo entrado, “viu” (theoro, 2234) a posição dos lençóis. Esta palavra indica que Pedro estava examinando, considerando o que via, teorizando, tentando chegar a uma explicação pelo que via. Para citar Henry Lathan novamente: “João apenas viu o que não podia deixar de ver através da porta, mas Pedro olhou atentamente, com um propósito em mente; ele queria entender como o corpo poderia ter sido removido”. Em seguida, João entrou também e “viu” (eido, 1492) e creu. João agora viu com entendimento. Era, poderíamos dizer, um: “Agora vejo!” Ele vira, de fato, a evidência de um milagre. A mortalha jazia estendida, camada sobre camada, como já notamos, exatamente como estivera quando envolvia o corpo de Jesus, mas achatada sob o peso da mirra e aloés (19.39), mas o corpo do Salvador não estava mais nele. Mas como? Mesmo sem qualquer consideração das Escrituras naquele momento (20.9), João estava convencido da veracidade da ressurreição de Cristo.
Havia ainda o lenço que estivera envolvendo a cabeça do Senhor. Este não estava “com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte” (v. 7). Devemos lembrar que no túmulo haveria um recesso no qual o corpo estaria, e no seu final uma saliência, um tipo de degrau, de duas ou três polegadas de altura, que servia de travesseiro. A maneira oriental de preparar um corpo para o sepultamento era envolvê-lo todo, colocando especiarias entre as camadas, exceto a cabeça e o pescoço. A cabeça era tratada separadamente, envolta com um turbante que deixava o rosto à vista. Assim preparado, era o costume depositar o corpo com a cabeça repousando sobre a saliência. O que os discípulos agora viram foi que o lenço, o pano ou toalha, que envolvera a cabeça do Senhor não estava “no chão” com os lençóis de linho. Não estava achatado como eles, pois não teria peso suficiente de especiarias para fazê-lo ceder. Também, não havia sido caprichosamente dobrado e colocado em algum outro lugar. Nem fora colocado com os lençóis de linho. Estava num lugar sozinho, separado dos lençóis, sobre aquele travesseiro de pedra, e ainda enrolado como estivera ao envolver a cabeça do Salvador. Como diz uma tradução: “Não junto com os lençóis, mas enrolado em seu próprio lugar” (Moffatt).
Os lençóis e o lenço juntos serviram de testemunho para Pedro e João de que um milagre acontecera. A mortalha fora esvaziada e deixada intacta como um testemunho à ressurreição. Não nos surpreende ver que os discípulos saíram “admirando consigo” (Lc 24.12) sobre o que tinha acontecido. Isso não significa que eles deixaram o sepulcro duvidando. Eles saíram do jardim com admiração, maravilhando-se com o que tinham visto, pois este é o sentido da palavra “admirando” (thaumazo, 2296).
O testemunho de Maria Madalena
Alguém pode perguntar por que os discípulos foram para casa e deixaram uma mulher chorando, sozinha no jardim. Pode ser que eles nem perceberam que ela estava ali. Pode ser que ela tenha se isolado entre as folhagens do jardim, preferindo estar sozinha na sua tristeza. Mas, quando eles partiram, Maria permaneceu. Ela demorara junto à Sua cruz, e agora permaneceu junto ao Seu sepulcro. Conforme registrado em João 20, chorando, ela se abaixou como João fizera, pois a entrada do sepulcro tinha somente pouco mais de um metro de altura, e olhando para o seu interior por entre lágrimas ela viu dois anjos vestidos de branco assentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde o corpo de Jesus jazera. Maria não estava muito interessada em anjos. Ela bem poderia ter usado as palavras de outra mulher, que disse: “Vistes aquele a quem ama a minha alma?” (Ct 3.3). Mas os anjos falaram bondosamente a ela: “Mulher, por que choras?” (Jo 20.13). Ela respondeu: “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram”; e tendo dito isto, ela virou-se. Parecia haver certa indelicadeza no seu gesto. Será que ela observou os anjos olhando para além dela, como se estivessem vendo alguém às suas costas? Ou teria ela ouvido passos discretos? Seja como for, ela voltou-se e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. Ele lhe fez a mesma pergunta que os anjos haviam feito, mas com a terna adição: “Mulher, por que choras? A quem buscas?” (v. 15). Com certeza Ele sabia o significado daquelas lágrimas, e sabia também a quem ela buscava. Pobre Maria, ela supôs que falava com o hortelão, mas se ele soubesse onde o corpo do seu Senhor estava, então que tão somente o dissesse, e ela o levaria. Como poderia ela ter feito isso? Entretanto, o amor não se detém para calcular minúcias. Maria queria aquele a quem ela amava, e de alguma maneira haveria de levar aquele corpo sagrado. Note que agora ela dera as costas ao suposto hortelão, mas ao ouvir aquela única palavra: “Maria”, ela se volta imediatamente para Ele. Seria a forma do nome que Ele usou: “Míriam”? Ou foi o tom familiar da Sua voz? Ou foi um momento de revelação àquela alma devota? Sua resposta foi uma única palavra, assim como a Sua saudação havia sido: “Raboni”, “Meu Mestre”, ela disse, e se apegou a Ele. Mas Ele disse: “Não me detenhas” ou, em outra tradução, “Não me segure”. Ele ainda não havia subido para o Pai, e haveria outras oportunidades de vê-Lo novamente. Por agora, ela deveria ir aos discípulos e divulgar a nova a todos eles. Quem poderia ter convencido Maria Madalena de que seu Senhor não havia ressuscitado de entre os mortos? Ela nunca esqueceria aquela cena no jardim. Maria O viu, O tocou e conversou com Ele. Aquele que estivera morto esta novamente vivo. Havia de fato ressuscitado.
O testemunho das mulheres
Devemos lembrar que outras mulheres também foram ao sepulcro naquela manhã com Maria, e pode ser que houve outras que, além destas, também visitaram o sepulcro. Em algum momento estas mulheres, assim como Maria, viram ali um anjo que disse: “Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. Ide, pois, imediatamente, e dizei aos Seus discípulos que já ressuscitou dentre os mortos” (Mt 28.1-10). Elas partiram apressadamente, com sentimentos confusos de espanto e grande gozo, para levar as notícias, mas no caminho Jesus saiu-lhes ao encontro e falou uma palavra: “Salve”, que significa “Saudações, regozijai” (chairo, 5463). Elas abraçaram os pés Dele num ato de homenagem e reverência, e O adoraram. Ele então as mandou ir e dizer a Seus irmãos que logo os veria. Elas tiveram a garantia através do mensageiro angelical de que o Salvador estava vivo, mas agora, melhor ainda, elas O tinham visto e ouvido e O tocado. Não restava agora dúvida alguma quanto à Sua ressurreição. Ninguém poderia persuadir estas mulheres de que o seu Senhor não havia ressuscitado dentre os mortos.
O testemunho da dupla de Emaús
Foi depois disso, no mesmo dia, que dois discípulos caminhavam juntos pela estrada de Jerusalém a Emaús, cerca de onze quilômetros (veja Lc 24.13-35). É fácil crer, como muitos, que eles eram marido e mulher, embora isso não possa ser provado, mas realmente não importa. Ao caminharem juntos conversavam entre si e falavam sobre os acontecimentos dos dias anteriores. Estavam tristes, e isso era visível nos seus rostos. Foi então que o Forasteiro se juntou a eles. Ele falava com eles sobre os acontecimentos recentes como se fosse, de fato, um viajante solitário que não estivesse a par de tudo que acontecera. Jesus de Nazaré, que eles criam ser o Redentor prometido, fora entregue pelos seus líderes e crucificado, eles Lhe disseram. Eles falaram e em seguida Ele lhes falou, e abriu-lhes as Escrituras que profetizavam sobre os mesmos sofrimentos e morte do Messias que eles haviam testemunhado. Portanto, não deveria o Cristo ter padecido o que fora profetizado e então entrar na Sua glória? Eles devem ter crido em tudo que os profetas falaram, e assim essa conversa continuou até que chegaram à sua casa em Emaús. Com grande cortesia, Jesus, ainda desconhecido deles, fez como quem ia para mais adiante, mas eles O constrangeram a ficar com eles, e Ele se sentou à mesa com eles. Quase imperceptivelmente, Ele parece ter trocado de lugar com eles. Ele se tornou o anfitrião. Agora eles eram os convidados, quando Ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e o deu a eles. Naquele momento os seus olhos foram abertos e eles O reconheceram, mas Ele desapareceu da vista deles. Mas era o bastante! O Salvador estava vivo! Eles O viram; ouviram-No; conversaram com Ele; e Ele se assentara à mesa com eles. Apressadamente, então, eles voltaram a Jerusalém naquela mesma hora, com corações que ardiam, para relatar a história aos onze que estavam reunidos. Que eloqüente orador infiel poderia persuadir este casal de que Jesus não estava vivo, ressuscitado dentre os mortos?
O testemunho de Pedro
Quando a dupla da aldeia chegou ao grupo de discípulos, a grande nova já os havia precedido. Os onze disseram: “Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão” (v. 34). Muito pouco se sabe sobre esta aparição do Salvador ressurrecto, mas tal é a sua importância que Paulo a cita como prova da ressurreição de Cristo (1Co 15.5). Em algum lugar, em algum momento, por alguma razão, acerca da qual podemos somente fazer suposições, houve uma aparição especial do Senhor ressurrecto a Pedro, também chamado Cefas. Quem ousaria confrontar um homem como Pedro e tentar dizer-lhe que Jesus realmente não havia ressuscitado dentre os mortos? Ele diria simplesmente: “Mas eu O vi!”
O testemunho dos dez discípulos
Esta reunião dos “onze” em Lucas 24 é sem dúvida a mesma de João 20.19, da qual Tomé, por alguma razão desconhecida, estava ausente. Judas tinha partido, e assim o pequeno grupo de apóstolos, inicialmente conhecido como “os doze”, agora é chamado de “os onze”, embora um deles estivesse temporariamente ausente. Este termo tinha-se tornado como o termo “os doze”, usado para descrever aquele grupo apostólico, para diferenciá-los do grupo maior de discípulos. Eles estavam reunidos como que secretamente, atrás de portas fechadas por medo dos judeus. De repente, o Salvador pôs-se no meio deles, dizendo-lhes que não temessem, e mostrando-lhes as mãos e os pés como prova de que Ele era de fato Aquele que eles conheciam. Ele os convidou então a apalpá-Lo para mostrar-lhes que não estavam vendo um fantasma. Ele era de fato seu Senhor, ressuscitado dentro os mortos. Aqueles homens mais tarde pregaram ousadamente da ressurreição de Cristo. Eles O tinham visto!
O testemunho de Tomé
Como já foi mencionado, Tomé, por alguma razão desconhecida, estava ausente naquela ocasião. Quanto os discípulos lhe disseram: “Vimos o Senhor” (Jo 20.25), Tomé ficou cético. Afinal, ele vira o Salvador cravado na cruz, e sabia que uma lança havia traspassado o Seu lado. Se fosse para Tomé acreditar que se tratava realmente do Senhor, primeiramente ele precisaria ver e tocar o sinal dos cravos, e pôr a sua mão naquele lado traspassado. Do contrário, dizia ele, “de maneira nenhuma crerei”. Oito dias mais tarde o pequeno grupo estava reunido novamente e Tomé com eles. O Senhor apareceu no seu meio como fizera antes, e sabendo exatamente o que Tomé dissera Ele, em graça, o convidou a pôr o seu dedo nas marca dos cravos, e a sua mão no lado que fora traspassado. Tomé prostrou-se em adoração exclamando: “Senhor meu, e Deus meu!” Em certo sentido, a ausência de Tomé naquela primeira reunião provou ser uma bênção! Um cético foi convertido! O homem que dissera: “de maneira nenhuma o crerei”, é agora um crente convencido. Portanto, não fica insustentável, agora, a posição de incredulidade de outros? “Bem-aventurados os que não viram e creram” (v. 29).
O testemunho de sete discípulos junto ao lago
Esta história é contada em João 21. Pedro e Tomé, Natanael, Tiago e João e outros dois discípulos anônimos estavam reunidos junto ao Mar da Galiléia. Eles decidiram ir pescar por sugestão de Pedro, mas foi uma expedição infrutífera. Labutaram a noite toda e nada apanharam. Ao amanhecer, eles se aproximaram da praia e viram o Desconhecido na praia do lago. Assim como Maria no jardim, “eles não conheceram que era Jesus”. Ele lhes disse que lançassem a rede do lado direito do barco, e ao fazê-lo apanharam uma multidão de peixes. Foi João quem disse: “É o Senhor”. Logo depois estavam com Ele na praia. Ele acendera um fogo e assara um peixe e pão para eles, e depois de terem comido, Ele conversou ternamente com eles. Estes sete discípulos viram o Senhor ressurrecto. Mais tarde eles iriam, na sua pregação Pentecostal, testemunhar da Sua ressurreição.
O testemunho dos quinhentos
Não sabemos nada acerca dessa aparição do Salvador ressurrecto, além do fato que aconteceu, e isso é o suficiente! Muito provavelmente se deu na Galiléia, num lugar por Ele designado (Mt 28.16). Paulo, escrevendo talvez uns vinte e cinco anos mais tarde, podia dizer aos coríntios: “Depois apareceu, uma vez, a mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também” (1Co 15.6). Quinhentos de uma vez! Alguns já haviam morrido, mas a maioria ainda vivia quando Paulo escreveu, e podiam confirmar que viram de fato o Salvador ressurreto. Quem poderia duvidar deles?
O testemunho de Tiago
Tiago também teve um encontro pessoal particular com o Senhor, como Pedro tivera, em algum lugar, em alguma hora, por alguma razão, embora os detalhes não nos sejam revelados. Mas aconteceu (v. 7)! A observação do comentarista Albert Barnes é interessante. Comentando que este era Tiago, o irmão do Senhor, ele escreve: “Este Tiago, o autor da epístola que leva o seu nome, estava em Jerusalém. Quando Paulo foi para Jerusalém, depois da sua volta da Arábia, ele teve um encontro com Tiago (Gl 1.19): ‘E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor’, e é muito provável que Paulo lhe teria falado da visão que tivera do Senhor, no caminho para Damasco, e que Tiago também lhe contara que O tinha visto depois da ressurreição. Esta pode ser a razão por que Paulo menciona o fato; porque o havia ouvido dos lábios do próprio Tiago”. Fica cada vez mais difícil saber por que, ou como, os homens ainda podiam negar que Cristo ressuscitara, quando tantas testemunhas podiam se levantar e dizer: “Nós O vimos”.
O testemunho de Estêvão
A tocante história de Estêvão, o mártir, é contada em sua inteireza em Atos 6.8―7.58. Certos homens de uma das sinagogas de Jerusalém haviam disputado com Estêvão, mas foram incapazes de resistir à sabedoria com que lhes falava. Isso os levou a fazer com ele o mesmo que fizeram com seu Senhor antes dele: “Subornaram uns homens, para que dissessem: ‘Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus’. E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e, investindo contra ele, o arrebataram e o levaram ao conselho. E apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei; porque nós o ouvimos dizer que esse Jesus Nazareno há de destruir esse lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu”. A blasfêmia com certeza era deles, e, quando os do conselho fitaram Estêvão, viram que seu rosto resplandecia como o rosto de um anjo! Em seguida temos o que é chamado de “a defesa de Estêvão”, e por algum tempo eles lhe deram atenção enquanto lhes falava. Mas, quando ele ousadamente os acusou de não aceitarem a mensagem dos profetas com relação ao Justo, e da sua rejeição daquele Justo, de quem eles eram traidores e assassinos, eles, irados, rangeram os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para os Céus, e viu a glória de Deus e Jesus em pé à destra de Deus. Seu testemunho para eles foi: “Eis que eu vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus”. Eles o lançaram fora da cidade e o apedrejaram até a morte, mas o grande legado de Estêvão, para nós, é sua visão do Cristo ressurrecto, um Homem na glória à destra de Deus.
O testemunho de Paulo
A história de Paulo é bem conhecida. Ele fora Saulo de Tarso, blasfemo e perseguidor dos cristãos. Ele estivera presente, concordando com o apedrejamento de Estêvão (7.58). Mas ao viajar para Damasco com o propósito de trazer cristãos presos para Jerusalém, ele se encontrou com o Cristo ressurrecto (9.3-6). Ele conta a sua própria história em Atos 22: “Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que Me persegues? E eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus Nazareno, a Quem tu persegues.” Foi uma conversão imediata de um homem que pessoalmente confessa ter sido “um blasfemo e perseguidor, e um homem insolente e arrogante” (1Tm 1.13, JND), mas que mais tarde escreve: “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21). O que mudara tão radicalmente um homem como Saulo de Tarso? Foi a visão do Cristo ressuscitado, o mesmo Homem na glória que Estêvão viu. Quem poderia persuadir Paulo de que não houve ressurreição?
O testemunho de João
Embora sejam muito extensas para esse breve artigo, as visões que João teve de Cristo, no livro de Apocalipse, precisam ser acrescentadas à lista de testemunhos ao Senhor ressurrecto. Vez após vez, ao longo do último livro do Novo Testamento e de toda a Escritura Sagrada, João escreve sobre Aquele que ele viu. Estava lá, na glória, o Homem que estivera no Calvário. Ele estava exaltado nos céus, onde multidões O adoravam e Lhe prestavam culto e onde cantavam Daquele que as amou, e as lavou dos pecados com Seu sangue. As memórias de Sua cruz e de Sua morte cruel nunca se apagarão, mas Ele diz de Si mesmo: “Eu sou […] o que vivo, e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém” (Ap 1.18). Ele vive no poder de uma vida eterna e na vitória de Sua ressurreição.