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Conexões recomendadas (1)

Introdução à Cosmovisão Reformada: Anotações quase aleatórias (1)

D.A. Carson – O Deus que Não Destrói Rebeldes [O Deus Presente 2/14]

Investigacão sobre a mente humana segundo os princípios do senso comum: lançamento de livro

O reino milenar (em inglês): série de artigos sobre este importante tópico da escatologia, ora desconhecido, ora mal interpretado pelos cristãos contemporâneos

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Nossa vocação

A vocação é celestial (Hb 3.1), indicando que nossa profissão [de fé] não é terrena, não está ligada a casas religiosas terrenas, mas somos membros da casa celestial sobre a qual Jesus está no controle.

A vocação é santa (1Pe 1.15). Deus é quem nos chamou a Sua família, para que, como participantes da natureza divina, possamos evidenciar por nosso testemunho que temos algo de Deus, não somente em nós, mas demonstrado por nós. Portanto, somos diferentes e separados para viver vida santificada.

A vocação é de esperança (Ef 1.18). O futuro que Deus nos tem reservado é eterno, e será desfrutado não somente por nós, mas também por Deus mesmo. Pense não somente no que nossa herança é para nós, mas também no que ela significa para Deus, eternamente. Os dons e a vocação de Deus nunca são cancelados nem revogados. A herança está reservada no céu para nós (1Pe 1.4).

A vocação é soberana (Fp 3.14). Paulo se esforçava física e mentalmente, e pessoalmente afastava todo tipo de vantagem ou desvantagem terrena, e simplesmente prosseguia para o grande prêmio, a “soberana vocação” (Fp 3.20). Nós esperamos o Salvador (não o Juiz), o Senhor Jesus Cristo, o qual mudará nosso corpo limitado e o transformará em corpo glorioso e ilimitado. Que futuro glorioso aguarda cada um dos santos!

(G. Waugh, Comentário Ritchie, II Pedro. Edições Cristãs, pp. 286, 287)

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Por que nos reunimos assim?

(Palestra proferida por J. R. Gill em uma conferência em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1926).

Tenho o desejo, amados amigos cristãos, de tratar de um certo assunto que já conquistou a atenção de alguns de nós em uma ou duas reuniões recentemente, e gostaria de pedir a compreensão de alguém aqui que porventura já nos tenha ouvido tratar do mesmo assunto. Há aqui outras pessoas para quem o assunto é novo e creio ter a mente do Senhor ao voltar a tratar disso.

O assunto que tenho em mente é este: Por que nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor, nos reunimos desta maneira? Por que o fazemos?

Fui criado naquilo que creio ser a verdade, e naquilo a que normalmente se referem como “a verdade”. Posso me lembrar de meus tempos de infância quando meus pais costumavam me levar para um lugar diferente deste. Posso recordar com bastante clareza como costumávamos ir juntos à Igreja Episcopal – a Igreja da Inglaterra, como era chamada – e me lembro do efeito que aquilo produzia em minha mente juvenil; o tapete vermelho sobre o piso, os bancos de carvalho entalhados e os vitrais coloridos das janelas; o canto do coral, as majestosas entonações do órgão e outras coisas semelhantes. Eu aprovava tudo aquilo dentro da medida de compreensão de qualquer menino.

Depois de algum tempo fui levado a uma capela Batista, e aquela capela já era algo que eu não aprovava com a mesma facilidade. Parecia ser um lugar muito inferior comparado com Igreja da Inglaterra. Não tinha nada além das paredes caiadas, não havia vitrais coloridos e, que me lembre, nem mesmo um órgão e muito menos algum pregador eloquente. Não sabia a razão daquilo tudo; só que havia sido levado para ali.

Passou-se um intervalo de tempo depois daquilo, e acabei sendo encaminhado a um terceiro lugar. Tratava-se de uma sala no segundo andar de uma rua comercial na cidade de West Hartlepool, Inglaterra. Ali descobri umas vinte pessoas sentadas em bancos, com uma mesa no centro da sala. Para minha mente juvenil, aquilo parecia ser um estranho quebra-cabeça. Tudo era tão simples, tão primitivo. Não havia nenhum atrativo; e nem eu conseguia entender a razão de meus pais terem me levado ali.

De Acordo Com a Bíblia

Passaram-se alguns anos e, no devido tempo, acabei tomando meu lugar entre aquelas pessoas, crendo ser aquele o lugar certo para se estar. Mas mesmo então, se alguém tivesse me perguntado por que eu estava ali, eu teria tido uma grande dificuldade em dar uma resposta inteligente. Oh, se me interrogassem sobre o assunto, é bem capaz que eu dissesse que frequentava aquele lugar porque cria estar de acordo com a Bíblia. Mas isso não iria significar muito, não é mesmo? Quase todo mundo teria dado a mesma resposta. Um Presbiteriano, um Episcopal ou Metodista teria falado o mesmo; um Batista teria dito isto, e até mesmo um Adventista e os membros da, assim chamada, Ciência Cristã.

Precisamos ter algo mais definido do que uma resposta como esta, como a razão para ocuparmos o lugar que ocupamos. Nós que estamos reunidos ao nome do Senhor Jesus nem sempre somos capazes de dar uma explicação inteligente e bíblica do assunto. Eu descobri que assim sucede. Será que é suficiente dizer: “Nós nos reunimos de uma maneira simples, como faziam os cristãos em Pentecostes”? Será que isto já explicaria tudo? Talvez, se não se dispusesse de muito tempo para explicar; mas para o bem de nossas almas, é bom que saibamos qual é o fundamento doutrinário sobre o qual nos apoiamos.

Quais são os princípios das Escrituras – as doutrinas envolvidas – as verdades de Deus ligadas à posição que ocupamos?

Não creio que tenha que pedir desculpas por tratar deste assunto, já que vivemos numa época em que tudo se encontra sob ataque. Não existe uma única coisa que não esteja sendo atacada – cada fundamento da fé – e é bom que nós que amamos o Senhor, e que procuramos conhecer qual é a vontade do Senhor, estejamos fortalecidos e edificados em nossa “santíssima fé” (Jd 20). Creio que, à medida que o Senhor me capacitar, gostaria de tratar deste assunto em três partes nesta tarde, conforme se seguem:

Em primeiro lugar, gostaria de sugerir que nós nos reunimos assim por causa da dignidade do nome do Senhor Jesus.

Segundo: Nós nos reunimos assim porque desejamos dar ao Espírito Santo o lugar que Lhe pertence.

Terceiro: Nós nos reunimos assim porque queremos obedecer a ordem das Escrituras que dizem, “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13.13).

Quarto: Porque entendemos ser bíblico estar no terreno do um só corpo.

São estes os três subtítulos sob os quais desejo fazer algumas observações nesta tarde.

Que Nome Levamos?

Quanto ao primeiro – o nome para o qual nos reunimos: Que nome levamos? Se as pessoas perguntassem a você a que “igreja” você está ligado, o que responderia? Creio que alguns aqui já se sentiram embaraçados para responder a esta pergunta. Não há dúvida de que existem várias maneiras como esta pergunta poderia ser feita, mas porventura não é bom sermos bem claros sobre isto, ou seja, que reconhecemos somente o nome do Senhor Jesus Cristo? Nenhum outro nome. Alguns dirão: “Vocês são chamados ‘Irmãos de Plymouth’, não são?” O que você diria diante disto? Creio que alguém poderia dizer: “Sim; sim, somos chamados assim, mas não nos chamamos assim”. Não podemos evitar que nos chamem desta maneira. O nome pelo qual nos chamamos é de santos de Deus, reconhecendo a dignidade do nome do Senhor Jesus Cristo, e reunidos a este nome.

Poderíamos ler algumas passagens das Escrituras que tratam deste ponto, começando, talvez, com Filipenses 2, versículos 8 ao 11:

“E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”

Vamos ver também o primeiro capítulo de Colossenses, versículos 15 a 18:

“O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.”

Podemos também voltar para o primeiro capítulo de Efésios enquanto tratamos desta linha de pensamento, nos versículos 20 e 21:

“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro.”

O Nome do Senhor Jesus

Este nome, portanto, conforme descobrimos, é único nos pensamentos de Deus. Não existe, na estima de Deus, nenhum outro nome como este. Ele permanece único, tanto agora como para sempre. Se abrirmos no livro de Apocalipse, iremos descobrir que não existe nenhum nome no céu maior do que este nome. As hostes angelicais são vistas ali se prostrando e adorando diante dAquele mesmo Ser bendito cujo nome é tão exaltado. O nome do Senhor Jesus, devo admitir, é digno de ser aceito como o centro de reunião. Trata-se de algo bendito estar em harmonia com o pensamento do céu a este respeito.

Os primeiros cristãos estavam reunidos nesse nome. Foi assim que passaram a ser chamados de “cristãos”. Os crentes foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia. O que significa o termo “cristão”? Significa um seguidor de Cristo. Porventura eles tinham outros nomes? Não, pois não existiam Batistas ou Presbiterianos ou Congregacionais naquele tempo. Eles eram chamados “os de Cristo” ou “seguidores de Cristo”. Este era o único nome que estava associado a eles. E eles não adotaram nenhum outro nome e, queridos santos, trata-se de algo bendito não termos nenhum outro nome hoje.

Todavia, nossas convicções a este respeito são tanto positivas como negativas. Vamos abrir, por exemplo, em 1 Coríntios, onde vemos o outro lado da questão. “Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1.11-13). Nenhum nome deve ser tomado como base para o sectarismo. Até mesmo o nome de Cristo não é para ser desvirtuado deste modo.

Nenhum Outro Nome

Podemos olhar também o terceiro capítulo desta mesma epístola, versículos 4 ao 7: “Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”. Estes versículos confirmam aquilo com que, creio eu, todos aqui estejam de acordo; ou seja, Que não existe autorização, segundo o pensamento de Deus, para se adotar qualquer outro nome além do nome de Cristo, e que não existe qualquer base bíblica para se adotar qualquer outro nome.

Além do mais, se você adota um outro nome, um dia terá que deixá-lo. Suponha que você adote para si qualquer nome que venha ao seu pensamento – por exemplo, um Irmão Plymouth. Você não poderá levar este nome para o céu. Por que? Porque não existe lá nenhum espaço reservado para os Irmãos Plymouth. Suponha que você se denomine um Congregacional. Terá que deixar isto também. Não existe uma vaga reservada para os Congregacionais, e quando chegarmos ao céu e conversarmos com os redimidos, como certamente o faremos, não iremos achar lá um sequer que se faça diferente dos outros por meio de algum nome sectário. Lá só haverá um nome: O nome do Senhor Jesus, o Centro de todos – o Centro do trono – o Cordeiro que um dia foi morto. Aquela Pessoa, e o Seu nome, irá representar tudo o que é glorioso e bendito ali; o Centro que irá atrair todos os olhares, e o Centro das afeições de cada coração será aquele Ser bendito.

Se é esta a vontade de Deus agora com respeito ao Seu Filho, e se é esta a vontade de todo o céu em um dia vindouro no que diz respeito ao Filho de Deus, não deveríamos nós também estar concordes com a estima que é assim depositada nEle, e renegarmos todos os outros nomes? Queridos santos de Deus, são estes os pensamentos que têm estado diante de nós.

Reunidos Ao Seu Nome

Gostaria de abrir também no capítulo 18 de Mateus, versículo 20. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Este versículo diz respeito ao assunto que estamos tratando. Fala do povo do Senhor estar reunido ao (ou para) o Seu nome. Que lugar bendito é este.

Repare, todavia, que existe uma responsabilidade associada a levar o nome do Senhor. Vamos voltar a Deuteronômio onde encontramos este pensamento apresentado de uma forma simples. Leia o capítulo 5, versículo 11 – apenas a primeira parte: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Estar reunido ao nome do Senhor Jesus não é simplesmente uma questão de usar tecnicamente o Seu nome. Acredito que exista o reconhecimento do que este nome envolve. Você não pensa o mesmo? Estar reunido para o Seu nome, envolve o reconhecimento do que este nome implica – o nome do Senhor Jesus Cristo – o reconhecimento do Seu Senhorio. Se alguém segue naquilo que é contrário à Sua Palavra e à Sua vontade, dificilmente se poderia chamar isso de estar reunido ao nome do Senhor Jesus Cristo! Estar reunido para o Seu nome envolve mais do que atuar mecanicamente. Existe nisto algo que atinge nossos corações e nossas consciências também. Deve existir o reconhecimento, na prática, do Senhorio de Cristo, a fim de que a verdade possa ser acompanhada do conteúdo que a torna válida. Nenhuma passagem das Escrituras nos autoriza a adotarmos qualquer outro nome além do nome do Senhor Jesus como o Centro para o Seu povo.

O Espírito de Deus

O segundo ponto de que falamos foi: Nos reunimos assim porque concedemos ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence. Parece um modo estranho de se falar, não é mesmo? Algo de muito sério deve estar faltando para justificar o uso da expressão “conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar”! Quem é o Espírito de Deus? A terceira Pessoa da Divindade. O fato de Ele ser normalmente mencionado como a terceira Pessoa da Divindade, não traz consigo nenhuma idéia de inferioridade. O Espírito de Deus é Deus. Não existe diferença de importância entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O fato de cada uma destas Pessoas divinas ser divina, de cada uma delas ser Deus, traz consigo a impossibilidade de qualquer grau de comparação entre elas. Cada uma é uma Pessoa infinita. O Espírito de Deus está aqui na Terra. Em nossas reuniões de estudo vimos algumas passagens relacionadas ao Espírito de Deus.

Podemos voltar outra vez ao capítulo 14 do Evangelho de João, versículos 16 e 17: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”.

Ele Me Glorificará

Agora podemos ler o capítulo 15, versículo 26: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, Aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim”. Também no capítulo 16, versículos 13 e 14: “Mas quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar”. Estes versículos, e muitos outros que poderíamos ler, nos mostram que o Espírito de Deus está aqui na Terra.

O peso que isto tem não é suficientemente compreendido entre nós. Uma Pessoa Divina está aqui na Terra. Deus está aqui na Pessoa do Espírito Santo. Esta é uma verdade maravilhosa! Trata-se de uma verdade fundamental! Deus habita na Terra na forma do Espírito. Como tal Ele está aqui na Terra e para um propósito determinado. Que propósito é este? “Bem”, talvez você diga, “Ele está aqui para convencer pecadores”. Isto é verdade, sem dúvida nenhuma. Mas naquilo que diz respeito ao nosso tema nesta tarde, Ele está aqui para outro propósito. E qual é? Ele está aqui para tomar das coisas que são de Cristo, e mostrá-las para nós. Ele está aqui para glorificar a Cristo. É por esta razão que Ele está aqui. É este o Seu ofício.

Amados amigos cristãos, aqui vemos algo estranho a respeito da Bíblia. No Antigo Testamento podem ser encontradas as mais amplas instruções quanto a todos os cultos do povo terrenal de Deus. Cada ritual foi previsto. Tudo estava ligado aos sacrifícios; até as vestimentas dos sacerdotes; todos os vasos do santuário; tudo minuciosamente previsto de modo a não haver qualquer possibilidade de alguém cometer um erro, a menos que fosse por falta de cuidado.

O Espírito de Deus Está Aqui Para Guiar

Mas já que o Espírito Santo encontra-Se na Terra, você irá reparar como são poucas as instruções que temos quanto às cerimônias a serem celebradas pela Igreja. Onde é que encontramos instruções minuciosas quanto à maneira da assembléia proceder quando se reúne? Veja, por exemplo, a reunião que é tão preciosa aos nossos corações – o partimento do pão – a recordação da morte do Senhor. Onde está o capítulo que nos diz como devemos proceder? Não existe um tal capítulo. Não existe um versículo que nos diga que a reunião do partimento do pão deveria começar com um hino e que depois disso um irmão deveria se levantar e orar ao Senhor ou louvá-lo, e que então outro hino deveria ser dado, e que no final de trinta ou quarenta minutos os símbolos deveriam ser distribuídos, ou por quanto tempo mais a reunião deveria continuar. Por que razão não existe nenhuma passagem das Escrituras cobrindo estes pontos? Porque o Espírito de Deus está aqui para reger e conduzir tudo da maneira que Lhe agrade. (Estou apenas assinalando que não existem instruções escritas para estes detalhes. Não estou criticando o modo como é feito.) O Espírito de Deus está aqui para guiar e reger na Igreja, e Sua direção e regência na Igreja é feita com a finalidade de que Cristo seja glorificado. É este o Seu propósito – o objetivo que Ele tem em vista.

Bem, isto coloca diante de nós uma grande, importante e solene verdade. Na cristandade, de um modo geral, recusa-se conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar. Onde na cristandade, nas denominações, encontro que esteja sendo concedido ao Espírito de Deus o lugar que Lhe é devido? Onde é que Ele pode guiar, dirigir ou reger (e é este o seu gracioso ofício) se algum homem está guiando e dirigindo e tem um programa já elaborado com antecedência? Se este já decidiu quais os hinos que serão cantado e quem deverá orar – onde entra, então, o Espírito de Deus nisso tudo? Isto é o que normalmente se faz, não é mesmo? Sim, é. Que lugar é dado para o Espírito de Deus? Nenhum.

Nos credos das igrejas ortodoxas – das igrejas evangélicas – há muitos cristãos (graças a Deus por eles), mas, no entanto, embora seus credos reconheçam a presença do Espírito Santo, na prática eles negam a Sua presença, pois suas cerimônias são efetuadas como se não existisse tal Pessoa. Seu credo O reconhece, mas na prática O negam. Esta é realmente uma condição triste. Mais do que isto. Algo está radicalmente errado nisso tudo. Amados santos de Deus, existe uma razão para nos reunirmos como fazemos. Desejamos dar ao Espírito de Deus o lugar que Lhe pertence.

Como O Espírito de Deus Quer

Agora, com relação a estes últimos comentários, vamos abrir em 1 Coríntios 12.4: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”. Versículo 7: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil”. Versículo 11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Não como o ministro quer, mas como o Espírito de Deus quer.

Vamos abrir também em 1 Coríntios 14.28-33: “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos”, e assim por diante.

Não tenho tempo para falar aqui das manifestações sobrenaturais, mas quero declarar que creio que elas cessaram e não têm lugar hoje na Igreja. Na Igreja o Espírito é Aquele que guia e rege. É a Sua vontade que deve ser obedecida, não a vontade do homem. Esta é uma das razões de nos reunirmos assim. Quando nos reunimos como uma assembléia, nos reunimos de maneira que o Espírito de Deus tenha espaço para agir por meio de quem Ele quiser.

Nenhum Programa Estabelecido

Quando nos reunimos, por exemplo, para recordar o Senhor na Sua morte, não temos nenhum programa estabelecido. Se algum irmão estiver selecionando um hino em sua casa, estará cometendo um erro. Não tem base bíblica para fazê-lo. E se outro irmão escolher de antemão algo que acha bonito para ler no final da reunião, estará cometendo um erro. Não se deve fazer assim. O Espírito de Deus deve ter a direção nestas coisas. Não sabemos quem irá distribuir os símbolos [o pão e o vinho]. Não sabemos quem irá sugerir um hino, ou quem irá se levantar e louvar a Deus. Não temos um programa. Não seria correto se o tivéssemos. O Espírito de Deus deve ser Aquele a dirigir conforme a Sua vontade na reunião da assembléia.

É adequado que nos reunamos e nos comportemos de um modo tal que o Espírito de Deus possa ter liberdade para agir por meio de quem Ele quiser. Na reunião de oração, não é conveniente que se convide um irmão a orar ou que se peça a outro que dê um determinado hino. Não; o Espírito de Deus é Quem deve fazê-lo. Não estou dizendo que tudo acontece com perfeição em nossas assembléias, pois somos falhos, e podemos ser lembrados disto de vez em quando, mas o terreno sobre o qual estamos, e os princípios que sustentamos são de Deus. Nos reunimos assim para dar espaço ao Seu Espírito.

Em Wales, há muitos anos, Evan Roberts reuniu, em um grande salão público, alguns milhares de pessoas que haviam sido salvas. Eles estavam ali para uma cerimônia especial naquele dia. O que havia de peculiar naquela ocasião era o fato de não ter sido preparado nenhum programa de antemão. Além disso, quando a congregação chegou e todos os assentos estavam ocupados e havia pessoas em pé até nos corredores e portas, todos observaram que no centro do salão havia uma cadeira vazia. Ninguém poderia se sentar naquela cadeira. Ela estava reservada, como um símbolo – um lembrete – de que o Espírito de Deus estava presente. Naquele dia o desejo de Evans Roberts, e creio que de outros fiéis também, era que não tivessem nenhum programa estabelecido, mas que o Espírito de Deus pudesse ter liberdade para dirigir e reger. Aquilo gerou muitos comentários. Houve até uma notícia no jornal sobre aquela experiência extraordinária – uma cerimônia sem um programa preestabelecido e sem um ministro! O dia passou alegremente, e com uma clara evidência da direção do Espírito. Podemos agradecer a Deus pelas convicções de fé de Evans Roberts e outros cristãos, mas por que não continuou sendo assim depois? É isto que nos dá o segundo motivo para nos reunirmos do modo como nos reunimos. Queremos dar ao Espírito de Deus o Seu lugar e ofício em nosso meio.

Sair a Ele Fora do Arraial

A terceira razão da qual falei foi esta: A questão de se sair a Ele fora do arraial. Abra no último capítulo de Hebreus para encontrar isto, versículos 10 a 14: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo. Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério. Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.” Observe que estes versículos fazem parte da epístola aos Hebreus. Isto sugere que existe uma esfera judaica ligada ao que estamos observando. Jerusalém está diante de nós. Foi daquela cidade – daquela cidade religiosa – que o Senhor da glória foi expulso. Seu sangue foi derramado fora daquela cidade. Um novo centro foi estabelecido. A cruz de Cristo se torna agora um centro para a fé. Aquele lugar fora de Jerusalém, fora da organização religiosa, fala agora aos nossos corações que O conhecem.

Porque assim como Ele, em Quem todo o padrão judaico foi expresso e cumprido, morreu fora da cidade, é fora também que é estabelecido o altar do cristianismo. Não existe hoje nenhum outro altar. Estabelecer um altar em uma igreja é ridículo! É uma abominação! Estabelecer um altar em uma igreja hoje é sugerir que o único sacrifício de Cristo não é suficiente. “Temos um altar”. A poderosa obra foi completada. Uma oferenda foi feita. A obra está terminada. Nada mais há para se acrescentar. O Calvário, aquele lugar onde o Rejeitado sangrou e morreu – aquele lugar cancela todos os altares terrenos.

O Que Significa “O Arraial”?

Falamos com frequência do “arraial”, e talvez sem compreendermos completamente o que significa. Sem dúvida alguma, o “arraial”, em sua aplicação estrita, nos fala do tabernáculo, e da condição dos filhos de Israel no deserto, embora aqui ele seja claramente aplicado a Jerusalém. Ele coloca diante de nós a religião organizada e terrena. Jerusalém e seu templo, o lugar divino de adoração, durante muito tempo levou o selo do favor de Deus, e os cristãos judeus tinham sido vagarosos em se desligarem daquele sistema no qual haviam sido criados desde a infância. Todavia, agora eles são exortados a sair.

Vocês já repararam, amados amigos cristãos, quão singular era o estado de coisas que existia aqui no final de Hebreus? Repare a data que é dada na tradução King James [versão inglesa da Bíblia]: 64 A.D. Trinta anos ou mais após o princípio do cristianismo, eles ainda são encontrados em Jerusalém – crentes – seguindo adiante com o judaísmo, seguindo adiante ainda com o templo e os sacrifícios que eram oferecidos no templo. Você há de concordar que aquilo era algo muito estranho! É evidente que sim, e talvez se eu e você tivéssemos vivido naquela época, não teríamos tido a paciência que Deus teve, mas Ele os suportou. Aqui já se haviam passado trinta anos e nós os vemos prosseguindo da mesma maneira, mantendo uma doutrina que misturava a graça e as obras. Isso não era nada diferente de se misturar água com óleo. Eles foram exortados a sair “…a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério”.

Há certos pontos associados a este sistema que eu gostaria de tratar por alguns momentos. As características do arraial eram quatro. Primeiro, ele tinha um santuário terreno. (Originalmente era o tabernáculo; mais tarde foi o templo.)

Em segundo lugar, ele tinha uma ordem estabelecida de sacerdócio que se colocava entre Deus e os adoradores.

Terceiro, ele tinha uma congregação de adoradores composta de salvos e não salvos.

Quarto, todos eles juntos e coletivamente, estavam sob a lei para justiça. Estas quatro características marcavam o arraial.

O Santuário Terreno

“Bem”, alguém poderá dizer, “isso tudo é judaísmo e já terminou, e Jerusalém foi destruída”. Sim, sem dúvida isto é verdade, mas os princípios aqui estabelecidos continuam a existir. Uma condição paralela àquela ainda se apresenta para nós. O que quero dizer é que o santuário terreno ainda existe – grandes estruturas dedicadas ao, assim chamado, culto a Deus – mas Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Algumas destas estruturas são muito bonitas no que diz respeito à sua arquitetura e decoração. Mas são coisas que não têm valor aos olhos de Deus. Cristo está rejeitado e estamos no lugar da Sua rejeição, e somos chamados a seguir as Suas pegadas. A ostentação e a aparência exterior não é o que conta hoje.

Quanto ao sacerdócio, do mesmo modo como os judeus tinham um sistema de sacerdócio ordenado com o propósito de se colocar entre o povo e Deus, também em nossos dias não deixa de ser verdadeiro que a cristandade estabeleceu um sistema de sacerdócio ligado ao culto professo a Deus – homens ordenados por mãos humanas, para permanecerem entre os adoradores e Deus. Não é preciso irmos muito longe para encontrar isto. Trata-se de uma característica bem estabelecida nesta época da cristandade, como todos sabemos.

Quanto ao terceiro ponto – uma congregação mista de adoradores: não precisamo andar muito para encontrar isto. Será que é difícil encontrar uma congregação mista, composta por pessoas salvas e não salvas que professadamente se reúnem juntas para adorar a Deus? Não teríamos que ir muito longe para encontrar isto. É algo característico de nossa época.

Quanto ao quarto ponto – estar sob a lei para justiça, será que é difícil encontrarmos tal coisa? Não, não é. Isto também é comum ao nosso redor hoje em dia. Em muitas igrejas você descobrirá os dez mandamentos escritos sobre a parede, e as almas são ensinadas que para poderem chegar ao céu não basta crerem no Senhor Jesus, mas devem também guardar os dez mandamentos.

É Custoso Deixar o Arraial

Encontramos estas quatro coisas hoje e, em princípio, elas nos revelam o arraial. A Palavra de Deus é: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Não devemos pensar que este “saiamos” seja sempre uma questão fácil para aqules que estão no arraial. É custoso deixar o arraial. Trinta anos depois de terem recebido o cristianismo encontramos os cristãos hebreus sendo exortados a saírem do arraial. Você não acha que deve ter sido difícil para eles – o rompimento com os muitos vínculos e com amizades antigas? Todavia, por mais duro que fosse, a Palavra de Deus para eles era: “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial”. Procuremos nos solidarizar com aqueles que procedem assim hoje. Para alguns é fácil; para outros não, mas trata-se de uma senda de dificuldades e provações. As afeições naturais e os vínculos antigos prendem muitos ao sistema.

Em relação a isto, veja 2 Pedro 1.5-7: “E… à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” – divino amor. Não basta ir só até o amor fraternal. O amor divino deve ser o poder propulsor.

“Levando o Seu vitupério.” O vitupério está ligado ao lugar fora. Você já descobriu isto? Pergunte a um católico a que ele está ligado e ele lhe dirá que está ligado à Igreja Católica. Ele não se envergonha de dizer isto. Ele está no arraial e numa de suas partes maiores e principais. Suponha que eu esteja reunido ao nome do Senhor e alguém me pergunta a que estou ligado. Creio que não sou o único que sente uma certa medida de embaraço. Digo:

– Estou ligado a uma pequena reunião. – Que tipo de reunião? – Bem, uma reunião bem simples. – Que nome vocês têm? – Ora, não temos nenhum nome. – Nenhum nome? – Nenhum; bem, nós nos reunimos ao nome de Cristo. – Mas vocês devem ter algum outro nome… -Não, não temos.

Bem, ele irá pensar que sou um excêntrico, e depois de seguir por algum tempo falando acabará se convencendo de que é isto mesmo. “Aquele sujeito deve ser algum tipo de fanático religioso”, sairá ele dizendo.

Existe vitupério ligado a isto. Nos faz cair no nível de estima dos que nos cercam. Isto faz parte de nossa herança. Trata-se de algo bendito – algo para se dar valor e apreciar – algo que trará consigo um galardão peculiar. Você não encontra este vitupério dentro do arraial, mas fora dele.

Um Só Corpo

Quarto. Cremos que é bíblico estar reunido sobre o terreno do um só corpo. Este é um assunto muito vasto para ser tratado em poucos minutos.

Efésios 4.4. “Há um só corpo.” Esta é uma tremenda verdade! Uma verdade muito profunda! Uma verdade imensamente bendita! “Um só corpo”. Não duzentos, como poderia apontar o relatório do censo dos Estados Unidos. Deus olha lá do céu e de todos os grupos de crentes sobre a Terra, nas várias associações e lugares que são encontrados, Ele não pode reconhecê-los, mas só dizer: “Há um só corpo”. Quaisquer que sejam as associações em que estejam, todos os crentes constituem o um só corpo. Eles podem querer se denominar a si mesmos usando diferentes nomes. Muitos crentes podem ser encontrados entre os Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Congregacionais, Episcopais, e não há dúvidas de que muitos são encontrados em outros lugares também, mas esses nomes não têm valor nenhum para Deus. A única coisa que Ele reconhece é que esses crentes são membros do um só corpo. Pertencem a este corpo. Esta é uma grande, uma enorme verdade, não é mesmo? A verdade de que nós, que por graça somos dEle, pertencemos a este um só corpo, e ao único corpo que existe. Não há nenhum outro. No céu isto será perfeitamente manifestado. Aqui não é muito bem manifestado. Somente o olho de Deus pode ver este um só corpo. Todavia, assim é. Há um só corpo.

Os cristãos no princípio se reuniam simplesmente por pertencerem ao um só corpo. Se eu e você tivéssemos estado em Éfeso na manhã do dia do Senhor e procurássemos por aqueles que reconheciam o nome ou a autoridade do Senhor Jesus, iríamos descobrir que as condições para que participássemos da comunhão estariam baseadas única e tão somente no fato de sermos ou não membros do um só corpo. Eles não nos levariam para um canto para perguntar qual seria nossa opinião sobre o batismo, sobre a verdade dispensacional, sobre a interpretação da profecia ou um monte de outras coisas sobre as quais os homens disputam, mas estariam ansiosos por saber se poderíamos distinta e definitivamente demonstrar que éramos membros do um só corpo – se éramos idôneos quanto à Pessoa e obra de Cristo. Se pudéssemos mostrar que éramos idôneos, seria somente com base nisto que seríamos recebidos entre eles, e somente com base nisto que tomaríamos dos símbolos [o pão e o vinho], pois é esta mesma verdade que os símbolos apresentam diante de nossos olhos. (Estou supondo, evidentemente, que nossa profissão verbal não estivesse em contradição com nossa vida.)

Um Pão

O pão sobre a mesa do Senhor nos fala não apenas da morte do Senhor Jesus, mas antes de ser partido ele fala da verdade de que somos um só corpo. Partimos aquele pão como membros do um só corpo e de nenhum outro modo.

Nosso tempo já se esgotou e não podemos falar muito mais sobre este assunto tão abrangente, mas apenas expressar em palavras que continua coerente com o ensino das Escrituras estar reunido sobre este amplo terreno, reconhecendo cada membro do corpo de Cristo sobre a Terra como um irmão ou irmã, e reconhecendo o direito, ou melhor dizendo, privilégio, de cada um como tal de recordar o Senhor conosco – de tomar daquele um só pão.

É necessário que se acrescente isto: Embora no princípio estes assuntos fossem bastante simples, hoje não são tão simples pois existem aqueles que se denominam cristãos mas que não são cristãos, e já não é suficiente aceitar apenas a palavra humana a este respeito. Hoje em dia todo tipo de pessoa se denomina cristão. É nosso dever descobrir se realmente é assim. Somos responsáveis por aqueles que recebemos, e esta responsabilidade não pode ser deixada sobre eles.

Creio que o que foi falado está em conformidade com a verdade, e se assim for, o Senhor irá tornar isto uma bênção aos nossos corações.

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Encorajamento Irmãos Martin Lloyd-Jones

A parábola do filho pródigo (Martin Lloyd-Jones)

“E disse: Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15:11-32).

Não há parábola ou discurso de nosso Senhor que seja tão conhecido e tão popular como a parábola do filho pródigo. Nenhuma outra parábola é citada com mais freqüência em discussões religiosas, ou mais usada para apoiar várias teorias ou controvérsias em relação a este assunto. E é verdadeiramente espantoso e admirável quando observamos as inumeráveis formas em que ela é usada, e a infinita variedade de conclusões a que afirmam que ela leva. Todas as escolas de pensamentos parecem ter uma reivindicação sobre a mesma: ela é usada para provar toda espécie de teorias e idéias opostas, que combatem umas às outras e que se excluem mutuamente. É bastante claro, portanto, que a parábola pode facilmente ser manipulada ou mal interpretada. Como podemos evitar esse perigo? Quais os princípios que devem nos orientar quando a interpretamos? Pessoalmente creio que há dois principais fundamentais que devem ser observados, e que se observados, garantirão uma interpretação correta.

O primeiro principio é que sempre devemos nos precaver do perigo de interpretar qualquer passagem das Escrituras de uma forma que entre em conflito com o ensino geral da Bíblia. O Novo Testamento deve ser examinado como um todo. É uma revelação completa e integral, dada por Deus através dos Seus servos – uma revelação que foi dada em partes que, unidas, formam uma unidade completa. Portanto, não há contradições entre essas várias partes, não há conflito nem passagens ou declarações irreconciliáveis. Isso não significa que podemos entender cada uma de suas declarações. O que estou dizendo é que não há contradição nas Escrituras e sugerir que os ensinos de Jesus Cristo e de Paulo, ou os ensinos de Paulo e dos demais apóstolos não concordam entre si é contrário a todas as reivindicações do Novo testamento em si, e as reivindicações da Igreja através dos séculos, até o levantamento da chamada escola da alta crítica, há cerca de cem anos atrás. Não preciso abordar a questão aqui. Basta dizer que são apenas os críticos mais superficiais, os que agora estão ultrapassando em muitos anos, que ainda tentam defender uma antítese entre o que chamam de “a religião de Jesus” e a “fé do apóstolo Paulo”. Escrituras devem ser comparadas com Escrituras. Cada teoria que desenvolvemos deve ser testada pelo conjunto geral de doutrinas e dogmas da Bíblia toda, e que foi definido pela Igreja. Se esta regra fosse lembrada e observada, a maioria das heresias jamais teria surgido.

O segundo principio é um pouco mais específico: sempre devemos evitar o perigo de chegar a conclusão negativas a respeito dos ensinos de uma parábola. Isso não se aplica somente a esta parábola em particular, mas a toda as parábolas. Uma parábola nunca tem o propósito de ser um esboço completo da verdade. Seu objetivo é comunicar uma grande lição, ou apresentar um grande aspecto de uma verdade positiva. Sendo esse o seu objetivo e propósito, nada é mais tolo do que chegar a conclusões negativas a respeito de uma parábola. A omissão de certas coisas numa parábola não tem qualquer significado particular. Uma parábola é importante e significativa por causa daquilo que ela diz, e não devido às coisas que não diz. O seu valor é exclusivamente positivo, e de forma alguma negativo. Ora, digo a vocês que a desconsideração desta simples regra tem sido responsável pela maioria das estranhas e fantásticas teorias e idéias supostamente desenvolvidas a partir desta parábola do filho pródigo. É impressionante que tal coisa tenha sido possível, pois se aquele que fizeram isso tão-somente tivessem examinado as outras duas parábolas que encontramos neste mesmo capítulo, teriam compreendido imediatamente até que ponto seus métodos foram injustificáveis. Porque então, não tiraram delas também conclusões negativas? E igualmente com todas as outras parábolas?

Mas, à parte disso, como é ridículo e ilógico, basear e estabelecer nosso sistema de doutrina sobre algo que não é dito! É por demais desonesto! Desonesto, porque ignora toda a autoridade, deixando-nos sem quaisquer padrões exceto nossos próprios preconceitos, desejos e imaginações. E isso, repito, é o que tem sido feito com esta parábola com tanta freqüência. Quero ilustrar isso, lembrando-lhes de algumas das falsas conclusões tiradas desta parábola. Não seria esta parábola a qual se referem constantemente quando tentam provar que idéias de justiça, juízo e ira são completamente estranhas à natureza de Deus e aos ensinos de Jesus a respeito dEle? “Não vemos nada aqui”, dizem, “acerca da ira do pai, nem qualquer exigência de certos atos por parte do filho — somente amor, puro amor, nada senão amor”. Este é um exemplo típico de uma conclusão negativa tirada desta parábola. Só porque ela não apresenta um ensino declarado sobre a justiça e ira de Deus, presumem que tais características não fazem parte da natureza de Deus. O fato de Jesus Cristo enfatizar essas características em outros textos é completamente ignorado. Outro exemplo é o ensino de que esta parábola elimina a absoluta necessidade de arrependimento. Ouvi falar de um pregador que tentou provar que o pródigo era um farsante, mesmo quando voltou para casa, que ele decidiu dizer algo que soasse bem, ainda que realmente não viesse do seu coração, apenas para impressionar o pai, e que a repetição exata de suas palavras provava isso. O ponto crucial era que, apesar de tudo isso, apesar da repetição hipócrita das palavras, ainda assim o pai o perdoou. O argumento final desse pregador era que o pai não disse uma palavra concernente ao arrependimento. Portanto, uma vez que ele nada disse a respeito, não é importante; uma vez que o arrependimento não é ensinado nem enfatizado pelo pai, isso significa que arrependimento diante de Deus não importa!

Mas talvez a mais séria de todas as conclusões falsas é aquela que declara que não há necessidade de um mediador entre Deus e o homem e que a idéia de expiação é estranha ao evangelho — a qual deve ser atribuída à mente legalista de Paulo. “A parábola não faz qualquer menção”, dizem, “de alguém entre o pai e o filho. Nenhuma referência é feita sobre outra pessoa pagando um resgate, ou fazendo uma expiação; vemos apenas uma interação direta entre o pai e o filho, resultante apenas da volta do filho daquela terra distante”. Desde que tais coisas não são mencionadas ou enfatizadas de forma específica na parábola, essas pessoas concordam que elas não são realmente importantes ou imprescindíveis. Como se o objetivo de nosso Senhor nesta parábola fosse apresentar um esboço completo de toda a verdade cristã, e não apenas ensinar um aspecto dessa verdade. Certamente deve ser óbvio para você que, se um processo semelhante fosse aplicado a todas as parábolas, teríamos um completo caos, e enfrentaríamos uma multidão de contradição!

O propósito de uma parábola, então, é nos apresentar e ensinar uma grande verdade positiva. E se há um caso em que isso deve ser claro e evidente, é no caso desta parábola. Não é por acaso que ela é parte de uma série de três parábolas. Nosso Senhor parece ter feito um esforço especial para nos proteger do perigo ao qual estou referindo. Contudo, mesmo à parte disso, a chave de tudo nos é oferecida nos dois primeiros versículos do capítulo, que nos fornecem o contexto essencial. “E chegavam-se a ele os publicamos para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: este recebe pecadores, e come com eles”. Então se seguem estas três parábolas, obviamente com o objetivo de tratar dessa situação específica, e responder às objeções dos escribas e fariseus. E, como se desejasse acrescentar uma ênfase especial, nosso Senhor apresenta uma certa moral ou conclusão ao término de cada parábola. O elemento principal, certamente, é que há esperança para todos que o amor de Deus alcança, até mesmo publicanos e pecadores. A gloriosa verdade que brilha nesta parábola, e que o Senhor quer gravar em nós, é o maravilhoso amor de Deus, seu escopo e sua extensão; e isso é feito especialmente em contraste com as idéias dos fariseus e dos escribas sobre o assunto.

As primeiras duas parábolas têm o propósito de nos mostrar o amor de Deus expresso numa busca ativa do pecador, esforçando-se por encontrá-lo resgatá-lo; e elas nos mostram a alegria de Deus e de todas as hostes celestiais quando uma única alma é salva. E então chegamos a esta parábola do filho pródigo. Por que ela foi acrescentada? Por que essa elaboração suplementar? Por que um homem, em vez de uma ovelha ou moeda perdida? Certamente pode haver uma resposta. As primeiras duas parábolas enfatizam unicamente a atividade de Deus sem nos dizer coisa alguma a respeito das ações, reações ou condições do pecador; porém esta parábola é apresentada para realçar esse aspecto e esse lado da questão, para que ninguém seja tolo ao ponto de pensar que todos seremos salvos automaticamente pelo amor de Deus, assim como a ovelha e a moeda foram encontradas. O ponto fundamental ainda é o mesmo, mas sua aplicação aqui se torna mais direta e mais pessoal. Qual, então é o ensino desta parábola, qual é a sua mensagem para nós hoje? Vamos examiná-la à luz dos seguintes parâmetros.

A primeira verdade que ela proclama é a possibilidade de um novo começo, a possibilidade de um novo início, uma nova oportunidade, uma nova chance. O próprio contexto e cenário da parábola, como já mencionei, demonstra isso com perfeição. Foi porque eles sentiram e viram isso em Seus ensinos que os publicanos e pecadores “chegavam-se a ele para ouvir” — pois sentiam que havia uma oportunidade até mesmo para eles e que nos ensinos desse homem havia uma nova e viva esperança. E até mesmo os fariseus e os escribas viram exatamente a mesma coisa. O que irritava era que o Senhor tivesse qualquer tipo de associação com os publicanos e pecadores. Eles sempre tinham considerado tais pessoas como irrecuperáveis, sem qualquer esperança de redenção. Essa era a opinião ortodoxa de tais pessoas. Eram consideradas tão irremediáveis que eram totalmente ignoradas. A religião era para pessoas boas e nada tinha a ver com os que eram maus, e certamente nada tinha a lhes dar, nem aconselhava que boas pessoas se misturassem com os maus, tratando-os com bondade e oferecendo-lhes novas possibilidades. Então os ensinos de Senhor irritavam os fariseus e os escribas. Para eles qualquer um que visse possibilidade ou esperanças para um publicano ou pecador devia ser um blasfemo, e estava totalmente errado. Exatamente o mesmo ponto surge na parábola, nas diferentes atitudes do pai e do irmão mais velho para com o pródigo — não como ele devia ser recebido de volta, mas se ele devia ser recebido de volta, ou se merecia alguma coisa.

Isso, então é o que se salienta imediatamente. Existe a possibilidade de um novo começo, e isso para todos, mesmo para aqueles que parecem estar além de toda esperança. Não podia haver caso pior do que o do filho pródigo. Todavia até mesmo ele pode começar de novo. Ele chegara ao fim de si mesmo, tinha tocado os limites máximos da degradação, caindo tanto que não podia descer mais! Não há quadro mais desesperador do que o desse jovem, num país distante, em meio aos porcos, sem dinheiro e sem amigos, desesperançado e miserável, abandonado e desalentado. Mas até mesmo ele tem a oportunidade de um novo início; até mesmo ele pode começar outra vez. Há um ponto decisivo que pode resultar em êxito e felicidade, até mesmo para ele. Que evangelho abençoado, especialmente num mundo como o nosso! Que diferença a vida de Jesus Cristo operou! Ele trouxe nova esperança para a humanidade. Nada demonstra e prova mais o fato de que o evangelho de Jesus Cristo realmente é a única filosofia de vida otimista oferecida ao homem, do que publicanos e pecadores se chegarem a Ele para ouvi-lO. E a mensagem que ouviram, como nesta parábola do filho pródigo, era algo inteiramente novo.

Mas quero que observem que isso não só era novo para os judeus e os seus líderes, mas também para o mundo todo. A esperança estendida pelo evangelho aos mais vis e desesperados não só contrariava o miserável sistema dos judeus, mas também a filosofia dos gregos. Aqueles grandes homens tinham desenvolvido suas teorias e filosofias; todavia nenhum deles tinha algo a oferecer aos derrotados e liquidados. Todos exigiam um certo nível de inteligência, integridade moral e pureza. Todos requeriam muito da natureza humana à qual se dirigiam. Também não eram realistas. Escreviam e falavam de forma altamente intelectual e fascinante a respeito de suas utopias e suas sociedades ideais, mas deixavam a humanidade exatamente na mesma situação. Eram totalmente alienados à vida diária do homem comum. As únicas pessoas que podiam tentar colocar em prática seus métodos idealistas e humanísticos para resolver os problemas da vida eram os ricos e os desocupados, e mesmo estes invariavelmente descobriam que esses métodos não funcionavam. Não havia, como nunca houvera antes, qualquer esperança para os desesperados do mundo antes da vinda de Jesus Cristo. Ele foi o único que proclamou a possibilidade de um novo começo.

Ora, esse ensino não era novo apenas naquela época, durante os Seus dias aqui na terra; ainda é novo hoje em dia. Ainda é surpreendente e assombroso, e ainda espanta o mundo moderno tanto quanto espantou o mundo antigo há quase dois mil anos atrás. O mundo continua sem esperança e a filosofia que o controla ainda é profundamente pessimista. E isso talvez possa ser percebido com maior clareza quando ele tenta ser otimista, pois vemos que quando tenta nos confortar, ele sempre aponta para o futuro com suas possibilidades desconhecidas, e nos diz que no novo ano as coisas certamente serão melhores ou que de qualquer forma não podem piorar! E argumenta que a depressão já durou tanto que certamente uma mudança da maré deve ser iminente! Alegra-se que um ano terminou e outro vai começar. Qual é o segredo de um novo ano? Seu grande segredo está no fato de que nada sabemos a seu respeito! Tudo que sabemos é ruim; daí tentarmos nos consolar contemplando o que nos é desconhecido, imaginando que vai ser muito melhor. Ouçam também as suas idéias e seus planos para melhorar a humanidade. Tudo o que pode dizer é que está tentando tornar o mundo melhor para seus filhos, tentando edificar algo para o futuro e para a posteridade. Sempre no futuro! Nada tem a oferecer no presente; sua única esperança é tornar as coisas melhores para aqueles que ainda não nasceram. E quanto mais proclama isso e tenta colocá-lo em pratica, mais hesitante se torna. Como prova, basta compararmos a linguagem de 1875 com a de 1935 ou mesmo a de 1905 com a de 1935.

Pois bem, se essa é a situação em relação à sociedade em geral, quanto mais desesperada e irremediável ela é quando considerada num sentido mais individual e pessoal! Que solução o mundo tem a oferecer para os problemas que nos afligem? A resposta a essa pergunta pode ser vista nos esforços frenéticos de homens e mulheres para tentarem resolver seus problemas. E, no entanto, nada é mais evidente do que o fato que seus esforços são inúteis e sempre fracassam. Ano após ano homens e mulheres fazem novas revoluções. Compreendem que, acima de tudo, o que precisam é de um novo começo. Decidem voltar as costas ao passado e virar uma nova página — ou, às vezes, começam um novo livro! Esse é o seu desejo, essa é sua firme decisão e intenção. Querem desvincular-se do passado, e por algum tempo fazem o possível para isso, mas nunca permanecem no intento. Ao poucos, inevitavelmente, voltam à sua velha posição e sua antiga situação. E depois de algumas experiências assim, acabam desistindo de tentar outra vez, e concluem que é tudo inútil. Lutam e se esforçam por algum tempo, mas finalmente a fadiga e o cansaço os vencem, a pressão e a força do mundo e suas filosofias parecem estar totalmente do outro lado, e eles entregam os pontos. A posição parece ser inteiramente sem esperança. Eu me pergunto: quantos, até mesmo aqui neste culto hoje, sentem que estão nessa situação, de uma forma ou outra? Meu amigo, você sente que perdeu o mundo, que se desviou? Sente-se constantemente assediado pelo que “podia ter sido”? Sente que está em tal situação, ou em tal posição, que não tem nenhuma esperança de sair dela e endireitar-se novamente? Sente que esta tão longe daquilo que devia ser e do que gostaria de ser, que não pode mais alcançá-lo? Você sente que não tem mais esperança por causa de alguma situação que está enfrentando, ou devido alguma complicação em que se envolveu, um pecado que o domina, o qual não consegue vencer? Você já disse a si mesmo: “Que adianta tentar outra vez? Já tentei tantas vezes antes, e sempre fracassei; tentar outra vez só pode produzir o mesmo resultado. Minha vida é uma confusão; perdi minha oportunidade e daí para frente devo me contentar em fazer o melhor que posso na situação em que estou”. São estes os seus sentimentos e pensamentos? Já está convencido que perdeu sua oportunidade na vida, que o que passou passou, e que se você tivesse outra oportunidade tudo seria diferente, todavia isso é impossível? É essa a sua posição? Coitado! Quantos estão em tal situação? Como é infeliz e sem esperança a vida da maioria dos homens e das mulheres! Como é triste! Ora, a primeira palavra do evangelho para os que estão nessa situação é que eles devem erguer suas cabeças, que nem tudo está perdido, que ainda há esperança, ainda há esperança de um novo começo, aqui e agora, neste momento, sem qualquer relação com algo imaginário e pertencente a um futuro desconhecido; mas algo que se baseia num fato que se passou há quase dois mil anos atrás, o qual ainda é tão poderoso hoje como era então. Até mesmo o pródigo tem esperança. Há um ponto de retorno no caminho mais tenebroso e irremediável. Há um novo começo oferecido até mesmo aos publicanos e pecadores.

Contudo, quero enfatizar em detalhes o que já mencionei de passagem: esta mensagem do evangelho não é algo geral e vago como a mensagem do mundo, mas é algo que contém condições muito definidas. E é aqui que vemos com maior clareza porque nosso Senhor proferiu essa parábola em acréscimo às outras duas. Para que possamos tirar proveito desse novo começo oferecido pelo evangelho, precisamos observar os seguintes pontos. Ouçam amigos, permitam que eu enfatize a importância de fazermos isso! Se vocês simplesmente ficarem sentados, ouvindo e permitindo que o quadro brilhante do evangelho os emocione, voltarão para casa exatamente como chegaram aqui. Todavia, se observarem cada ponto com cuidado, e o colocarem em prática, voltarão para casa como pessoas totalmente diferentes. Se estão ansiosos por tirarem proveito da nova esperança e do novo começo oferecido pelo evangelho, então devem seguir suas instruções e seus métodos. Pois bem, quais são eles?

O primeiro é que devemos enfrentar nossa situação com franqueza e honestidade. É uma coisa estar numa posição má e difícil, outra coisa completamente diferente é enfrentá-la com sinceridade. Este filho pródigo estava numa situação péssima por muito tempo antes de chegar ao ponto de realmente compreender isso. Uma pessoa não cai subitamente na situação descrita aqui. Aquilo aconteceu aos poucos, quase sem que ele percebesse. E mesmo depois que aconteceu, ele levou algum tempo para percebê-lo. O processo é tão sutil e tão insidioso que a pessoa mal percebe. Ela contempla seu rosto no espelho todas as manhãs e não nota as mudanças que estão acontecendo. Somente alguém que não a vê com freqüência pode notar os efeitos com mais clareza. E muitas vezes, quando começamos a sentir terrível realidade da nossa situação, deliberadamente evitamos pensar a respeito. Colocamos tais pensamentos de lado e nos ocupamos com outras coisas comentando: “Que adianta pensar a respeito disso? Essa é a situação, acabou!” Ora, o primeiro passo no caminho da volta, é enfrentar a situação com honestidade e franqueza. Lemos que esse jovem “caiu em si”. Foi exatamente o que ele fez! Ele enfrentou a situação, e o fez com sinceridade. Compreendeu que seus problemas eram resultado exclusivo de sua próprias ações, que ele fora um tolo, que não devia ter abandonado a casa de seu pai, e certamente não devia tê-lo tratado da maneira que fizera. Ele olhou para si mesmo e mal conseguiu acreditar no que viu! Olhou para os porcos e as bolotas à sua volta. Encarou a situação de frente!

Meu amigo, você já fez isso? Já olhou para si mesmo? Já pensou se todas as suas ações durante o ano que passou fossem colocadas no papel? E se tivesse mantido um registro de todos os seus pensamentos e desejos, suas ambições e imaginações? Você permitiria que isso fosse publicado sob seu nome? O que você é hoje em comparação com o que foi no passado? Olhe para suas mãos — estão limpas? E os seus lábios — são puros? Olhe para seus pés — onde eles pisaram, que caminho percorreram? Olhe para si mesmo! É realmente você? E então olhe à sua volta, para a sua posição e os seu ambiente. Não fuja! Seja honesto! Do que você está se alimentando? Comida ou bolotas lançadas aos porcos? Em que você tem gastado seu dinheiro? Para que fins você usou dinheiro que talvez devesse ser usado para alimentar sua esposa e filhos, ou vesti-los? Do que você tem se alimentado? Olhe! É alimento próprio para ser humano? Avalie o que você gosta. Enfrente-o com calma. É algo digno de uma criatura criada por Deus, com inteligência e sabedoria? É coisa que pelo menos honra o ser humano — quanto mais a Deus? É alimento de porcos, ou é próprio para ser consumido por um seu humano? Não basta que você apenas lamente a sua sorte ou se sinta miserável. Como acabou em tal estado ou situação? Olhe para os porcos e as bolotas, e compreenda que é tudo devido você ter abandonado a casa do seu pai, agindo deliberadamente contra os ditames da sua própria consciência, deliberadamente zombando da religião e de todos os seus mandamentos e princípios; tudo é resultado exclusivo de suas próprias decisões. A situação em que se encontra hoje é conseqüência de suas próprias escolhas, e de sua próprias ações. Enfrente isso e admita-o. Esse é o primeiro passo essencial no caminho da volta.

O passo seguinte é compreender que há somente Um a que você pode recorrer, e somente uma coisa a fazer. Não preciso elaborar esse ponto em detalhes, no que se refere ao filho pródigo, pois é bastante claro. “Ninguém lhe dava nada”. Tentara de tudo, esgotara todos os seus recursos e seus esforços, bem como os esforços de outras pessoas. Tudo acabara para ele e ninguém podia ajudá-lo — exceto um. O pai! A última, a única esperança. O evangelho sempre insiste que cheguemos a esse ponto. Enquanto lhe resta um centavo que seja, o evangelho não o ajudara. Enquanto tiver amigos, ou entidades às quais pode recorrer em busca de ajuda, crendo que lhe darão assistência, o evangelho nada tem a lhe dar. Naturalmente, enquanto o homem achar que pode se manter recorrendo a qualquer um desses outros métodos, ele continuará tentando fazer isso. E em nossa estimativa, o mundo ainda está longe da falência. Ele ainda crê em seus métodos e em suas próprias idéias. E de que forma patética nos agarramos a ele! Confiamos em nossa força de vontade e em nosso próprio esforço. Recorremos aos “anos novos” do nosso calendário com se ele pudessem fazer qualquer diferença em nossa situação! Buscamos a ajuda de amigos e companheiros, de parentes e queridos. Ah, vocês estão familiarizados com o processo, não só em seus esforços de acertar a sua própria vida, mas também nos esforços de endireitar a vida de outros a respeito de quem estão preocupados ou ansiosos. E assim continuamos até termos esgotados os recursos. Como o pródigo, continuamos até nos tornarmos frenéticos, e até ao ponto em que “ninguém nos dá nada” Somente então é que nos voltamos para Deus. Oh que insensatez! Permitam que eu estoure essa falácia aqui, e agora. Enfrentem-na com franqueza. Compreendam que todos os seus reforços vão falhar, como sempre falharam até aqui. Entendam que a melhora será meramente transitória e temporária. Parem de se enganar a si mesmos. Compreendam como é desesperada a sua situação. E compreendam que existe somente um poder que pode colocar suas vidas no caminho certo — o Poder do Deus Todo-poderoso. Você podem continuar confiando em si mesmos e nos outros, e se esforçando ao máximo. Mas daqui a um ano a sua situação não só será a mesma, e sim muito pior. Somente Deus pode salvá-los.

No entanto, ao se voltarem para Deus, vocês precisam compreender também que nada podem pleitear diante dEle, exceto a Sua misericórdia e compaixão. Quando o pródigo abandonou o lar, sua exigência foi: “Dá-me!” “Ele exigiu seus direitos. Estava cheio de auto-confiança e até mesmo presunção, sentindo que não estava recebendo tudo a que tinha direito. “Dá-me”! Mas quando voltou para casa, o seu vocabulário mudou e o que ele diz agora é : “Faz-me”. Anteriormente ele sentira que era “alguém” e que estava na posição de exigir direitos inerentes e dignos de uma pessoa como ele. Agora ele sente-se reduzido a nada e ninguém, e compreende que sua maior necessidade é que algo seja feito de sua vida. “Faz-me!”. Amigo, se você acha que tem qualquer direito de exigir perdão de Deus, posso lhe assegurar que está perdido e condenado. Se sente que Deus tem o dever e a obrigação de perdoá-lo, você certamente não será perdoado. Se sente que Deus é severo e que está contra você, então é culpado do maior de todos os pecados. Se ainda sente que é “alguém” e que tem direito de dizer “dá-me”, você nada receberá além de miséria e contónua desolação. Todavia, se compreender que pecou contra Deus e O indignou, se sente que não passa de um verme, ou menos que isso, indigno até de ser considerado um ser homem — quanto mais indigno de Deus! — se sente que nada é, em vista da forma como se afastou dEle e Lhe voltou as costas, ingnorando-O e zombando dEle, se se lançar diante dEle e da sua misericórdia implorando-Lhe que na sua infinita bondade e amor, Ele faça algo da sua vida, então tudo será diferente. Nunca foi a vontade de Deus que você acabasse na situação em que esta. Foi contra a vontade dEle que você se afastou. A decisão foi toda sua. Diga-lhe isso, e confesse também que o que mais o preocupa e aflige não é apenas a miséria que trouxe à sua própria vida, porém o fato de ter desobedecido a Ele, insultando-O e ofendendo-O.

Então, tendo compreendido tudo isso, ponha-o em prática! Abandone a terra distante. Sua presença neste culto significa que você se levantou dentre os porcos e as bolotas. Mas afasta-te dessa terra longínqua. Faça-o! Volte-se para Deus, busque a reconciliação com Ele! Tome uma decisão. Entregue-se a Ele! Ouse confiar nEle! Como teria sido ridículo se o filho pródigo tivesse limitado a pensar aquilo tudo, sem colocá-lo em prática! Teria continuado na terra longínqua. Mas ele agiu. Pôs em pratica a sua decisão. Cumpriu sua resolução. Voltou para o pai e entregou-se à sua misericórdia e compaixão, e você precisa fazer o mesmo, da forma como já indiquei.

E se fizer isso, descobrirá que no seu caso, como no caso do filho pródigo, haverá um novo começo para a sua vida, um novo princípio firme e sólido. O impossível acontecerá, e você ficará assombrado e maravilhado com o que descobrirá. Não vou me deter na alegria e no gozo e na emoção disso tudo hoje, para que possa enfatizar a realidade desse novo começo que o evangelho nos dá. Não é algo etéreo ou trivial. Não é uma simples questão de sentimentos ou emoções. Não é uma anestesia ou um sedativo que amortece nossos sentidos, levando-nos a sonhar com um mundo brilhante e feliz. É real, é verdadeiro. Em Jesus Cristo, um novo começo, real e genuíno, é possível. E é possível somente através dele! A grandeza do amor do pai nesta parábola não é expressada tanto em sua atitude como no que ele fez. Amor não é um mero sentimento vago, ou uma disposição geral. O amor é algo ativo! É a atividade mais dinâmica do mundo, e transforma tudo. É por isso que também aqui somente o amor de Deus pode realmente nos dar um novo começo, uma nova oportunidade. O amor de Deus não se limita a falar sobre um novo começo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu…”. O pai fez certas coisas pelo seu filho pródigo; e somente Deus pode fazer por nós e para nós aquilo que nos levantará outra vez. Observemos como Ele o faz. Oh, a maravilha do amor de Deus, que realmente faz novas todas as coisas, o único que realmente pode fazer isso!

Observem como o pai oblitera o passado. Ele vai ao encontro do filho como se nada tivesse acontecido, ele o abraça e beija como se sempre tivesse sido zeloso e exemplar em toda sua conduta! E com que rapidez ordena aos servos que removam os farrapos e andrajos da terra longínqua, e com eles todos os traços e vestígios do seu passado pecaminoso. Com todas essas ações ele apaga o passado de uma forma que mais ninguém poderia fazer. Somente ele podia perdoar de fato, somente ele podia apagar o que o filho fizera contra ele e contra a família; e ele o fez. Removeu todos os traços do passado. E essa sempre é a primeira coisa que acontece quando um pecador se volta para Deus da forma como estamos descrevendo. Voltamo-nos para Ele esperando tão pouco quanto o pródigo, cuja expectativa era que fosse feito um servo. Quão infinitamente Deus transcende todas as nossas maiores expectativas quando Ele começa a tratar conosco! Tudo que pedimos é alguma forma de começara outra vez. Deus nos maravilha e surpreende com Sua primeira ação — obliterando todo o nosso passado! E isso, enfim, é o que almejamos acima de tudo. Como podemos ser felizes e livres em vista do nosso passado? Mesmo que não cometamos mais certas ações ou um certo pecado, o passado está presente e sempre temos diante de nós o que fizemos. Esse é o problema. Quem pode nos libertar do nosso passado? Quem pode apagar do livro da nossa vida aquilo que já fizemos? Há somente Um! E Ele pode fazê-lo! O mundo tenta me persuadir que não importa, que posso voltar as costas ao passado e esquecê-lo. Mas eu não posso esquecer — ele sempre me volta à lembrança. E me lança em miséria e desespero. Posso tentar de tudo, porém meu passado permanece um fato sólido, terrível, medonho. Há alguma forma de me livrar dele? Algum modo de apagá-lo? Há somente um que pode removê-lo dos meus ombros. Eu só posso ter certeza que meus farrapos e andrajos se foram quando os vejo na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que os tomou sobre Si e Se fez maldição em meu lugar. O Pai mandou que Ele tirasse de sobre mim os meus farrapos, e Ele o fez. Ele levou minha iniqüidade, e Se vestiu e cobriu com meu pecado. Ele o tirou, lançando-o no mar do esquecimento de Deus. E quando eu compreendo e creio que Deus em Cristo não só perdoou meu passado, mas também o esqueceu, quem sou eu para procurar por ele e tentar encontrá-lo? Minha única consolação, quando considero o passado, é lembrar que Deus o apagou. Ninguém mais podia fazer isso. Mas Ele o fez. E este é o primeiro passo essencial para um novo começo. O passado precisa ser apagado; e ele é apagado em Cristo e em Sua morte expiatória.

Todavia, para ter um começo realmente novo, mais uma coisa é necessária. Não basta que todos os traços do meu passado sejam removidos. Preciso de algo no presente. Preciso ser vestido, necessito de algo que me cubra. Preciso de confiança para começar outra vez e para enfrentar a vida, as pessoas e os problemas que fazem parte dela. Embora o pai tenha corrido ao encontro do filho e o beijado, isso por si só não lhe teria dado segurança. Ele saberia que todos veriam os andrajos e a lama. Por essa razão, o pai não se limitou a isso. Ele vestiu o rapaz com roupas dignas de um filho, com todas as provas externas dessa posição. Anunciou a todos que seu filho retornou, e o vestiu de forma que o rapaz não se sentisse envergonhado diante dos outros. Ninguém mais além do pai podia fazer isso. Outros podiam ter ajudado o rapaz, mas somente o pai podia restaurá-lo à sua posição de filho e prover tudo o que estava associado a ela.

Exatamente o mesmo acontece quando nos voltamos para Deus. Ele não só nos perdoa e apaga nosso passado, mas também nos torna filhos. Ele nos dá uma nova vida e novo poder. E Ele lhe dará tal certeza do Seu amor, meu amigo, que você poderá olhar para os outros sem qualquer sentimento de vergonha. Ele o vestirá com o manto da justiça de Cristo, e não só lhe dirá que o vê como filho, mas na verdade fará com que sinta que realmente o é. Quando olhar para si mesmo, você nem sequer se reconhecerá! Olhará para o seu corpo e verá esse manto de valor inestimável, olhará para os seus pés e os verá calçados de sandálias novas, olhará para sua mão e verá o anel, o selo do amor de Deus. E quando fizer isso, sentirá que pode enfrentar o mundo todo de cabeça erguida, sim, e poderá enfrentar o diabo e todos os poderes que o enganaram no passado e que arruinaram a sua vida. Sem essa posição e confiança, um novo começo não passa de um produto da imaginação. P mundo tenta limpar suas velhas vestes, buscando dar-lhes uma aparência respeitável. Somente Deus, em Cristo pode nos vestir com um manto novo, e realmente nos tornar fortes. Que o mundo tente apontar o dedo para nós, querendo trazer à tona o nosso passado! Que tente lançar seus piores estrategemas contra nós! Basta que olhemos para o manto, as sandálias e o anel, e saberemos que tudo está bem.

E se você ainda requer uma prova clara da realidade de tudo isso, ela pode ser encontrada no fato que até mesmo o mundo tem de reconhecer que é verdade. Ouça as palavras do servo, falando com o irmão mais velho. O que ele diz? “Um homem de aparência estranha, em andrajos, apareceu aqui hoje?” Não! “Veio o teu irmão”. Como ele soube que era o irmão? Ah, ele vira as ações do pai e ouvira suas palavras! Ele jamais teria reconhecido o filho, porém o pai o reconheceu, mesmo à distancia. O pai o reconheceu! E Deus reconhece você, e quando você se volta para Ele e permite que Ele o vista, todos ficarão sabendo. Até mesmo o irmão mais velho ficou sabendo. Era a última coisa que ele queria saber, mas os cânticos e os sons de júbilo e alegria não deixavam dúvidas quanto à conclusão inevitável. Ele estava por demais aviltado para dizer “meu irmão”, no entanto, até mesmo ele teve que dizer: “Este teu filho”. Não passou prometer que todos o amarão, que falarão bem a seu respeito se entregar sua vida a Deus em Cristo. Muitos certamente o odiarão, e o perseguirão zombando de você e fazer muitas outras coisas contra você, mas, ao fazerem isso, estarão na verdade testemunhando que eles também perceberam que você é uma nova pessoa, que sua vida foi renovada e recebeu a oportunidade de um novo começo.

O que mais você requer?

Aqui está a oportunidade para um começo realmente novo. É o único meio. O próprio Deus o tornou possível, enviando Seu Filho unigênito a este mundo, para viver, morrer, e ressuscitar. Não importa o que você tenha sido no passado, nem o que é no momento. Basta que se volte para Seus, confessando seu pecado contra Ele, lançando-se sobre Sua misericórdia em Cristo Jesus, reconhecendo que somente Ele pode salvar e guardar você, e descobrirá que:

O passado será esquecido
Gozo dado no presente,
Graça futura prometida —
E uma coroa de glória no céu.

Venha! Amém.

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* Sermão pregado em 06 de janeiro de 1935.
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Jesus orava (M. Wolfinger)

A vida do Senhor Jesus na Terra era vivida em comunhão contínua com Seu Deus e Pai. Essa comunhão se manifestava numa perfeita dependência, cuja expressão era a oração. “Orando”: este era o sinal distintivo do Senhor como homem na Terra, e disso dão freqüente testemunho os Evangelhos. Somente no Evangelho de Lucas nós O encontramos sete vezes em oração. Nenhum homem foi tão constante na oração; e, no entanto, Ele era Deus e, como tal, não necessitava depender dela. Mas, como homem perfeito na Terra, se dirigia a Deus em oração como nenhum outro.

Quanto regozijo Deus teve e quão honrado Ele foi ao ver SEu Filho na Terra, no meio da humanidade que se havia desviado Dele e se corrompido! (Veja Sl 14.3.) O profeta Isaías compara este mundo a uma terra seca, que não pode produzir nenhum fruto para Deus. No entanto, nesse terreno estéril devia brotar um “renovo”, uma “raíz” (53.2). Como isso aconteceria? Pela vinda do Senhor Jesus, o santo servo de Deus, o único homem que produziu um fruto perfeito para Deus. Esse santo servo tinha uma vida de oração e de inteira dependência de Deus.

Ficamos admirados quando vemos que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, se consagrou a Deus em oração como nenhum outro o fez. É uma verdade que nos assombra e que nos mostra que Jesus tomou perfeitamente a condição humana sendo ao mesmo tempo Deus.

Os próprios discípulos, que foram seus companheiros de caminho a cada dia, ficaram impressionados com essa vida de oração sem igual. Lucas indica isso ao relatar o pedido que um deles fez ao Senhor: “Senhor, ensina-nos a orar” (11.1). Desejam orar como seu Mestre orava, reconhecendo que, por si mesmos, não eram capazes. Não deveria ser este também nosso desejo a fim de nos parecermos mais com nosso Senhor a esse respeito?

Habitualmente, o Senhor se retirava para um lugar isolado ou aproveitava a tranqüilidade da noite para estar a sós com Deus e orar. Os discípulos sabiam que Ele orava, mas sabiam muito pouco do conteúdo de Suas orações. Os Evangelhos muito raramente relatam as palavras que o Senhor pronunciou nestas ocasiões. Encontramos algo em LUcas 22 e em João 17.

Entre as preciosas passagens que relatam as palavras do Senhor em Suas orações, podemos mencionar o salmo 16. É certo que é Davi quem se expressa ali, mas o apóstolo Pedro indica, em Atos 2, que essas palavras podem ser postas na boca de nosso Senhor (vv. 25-28).

Vejamos por um momento o início desta oração: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (Sl 16.1). Que motivo de adoração e, ao mesmo tempo, de humilhação para nós ver como o Senhor se confiava ao cuidado de Deus! Aquele que era absolutamente sem pecado e que não tinha nenhuma fraqueza — como nós tão freqüentemente temos — pedia, no entanto, que Deus O guardasse. Com uma profunda dependência Ele se confiava a Deus. Que maravilha!

“Porque em Ti confio.” O fundamento de Seu pedido era a confiança plena no poder do Deus Forte (ver 22.19) que pode guardá-Lo. Essa confiança de nosso Senhor era tão grande que os homens, até mesmo Seus inimigos, puderam vê-la e dela testemunhar quando Ele estava na cruz: “Confiou em Deus” (Mt 27.43).

Que exemplo para nós que, muitíssimo mais que Ele, necessitamos do cuidado de Deus e da dependência que se expresssa na oração!

(Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, n. 2/2012. Esse texto pode ser divulgado livremente, desde que não usado para fins comerciais, não seja alterado e seja mantida a informação sobre sua fonte.)

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A igreja em Filadélfia (Watchman Nee)

Leitura Bíblica: Ap 3:7-13; Mt 23:8-11; Jo 20:27; 1 Co 12:13; Gal 3:28

Neste capítulo apresentamos um diagrama sistemático que pode ajudar-nos a entender melhor o que temos falado. A primeira parte representa a Igreja na era dos apóstolos. Embora Éfeso seja uma Igreja que tenha enfraquecido, ela ainda está na mesma linha reta, uma vez que o Senhor reconheceu a igreja de Éfeso como continuação da igreja apostólica. Então veio Esmirna, que também continuou na mesma linha. Esmirna é realmente uma igreja sofrida. Não há louvor nem censuras para ela. Depois de Esmirna, algo ocorreu quando pareceu Pérgamo. Ela não continuou a ortodoxia dos apóstolos, mas se uniu ao mundo e iniciou uma curva descendente. Ela sucedeu a igreja em Esmirna, mas não continuou na ortodoxia dos apóstolos. Uma vez que Pérgamo fez essa curva, Tiatira seguiu seus passos. Ela tomou a mesma linha de Pérgamo, mais não a mesma dos apóstolos. Sardes saiu de Tiatira, e ela também regrediu. Tiatira e Sardes continuarão até a volta do Senhor.

Filadélfia é a igreja que retorna à ortodoxia dos apóstolos. Filadélfia também fez uma curva, desta vez, de volta à posição inicial da Bíblia. A virada da restauração começou com Sardes e foi completada com Filadélfia. Agora a igreja está de novo na mesma linha reta que a era dos apóstolos. Filadélfia saiu de Sardes. Ela nem a Igreja Católica Romana nem as Igrejas Protestantes, mas continua a igreja da era dos apóstolos. Mas tarde veio Laodicéia, a qual veremos no próximo capítulo. Agora gastaremos algum tempo para ver o que Filadélfia é, a fim de termos clareza com relação ao seu significado.

Entre as sete igrejas, cinco são repreendidas e duas não. As duas não repreendidas são Esmirna e Filadélfia. O Senhor aprova só essas duas. É realmente notório que as palavras faladas pelo Senhor a Filadélfia são muito parecidas com as que foram faladas a Esmirna. O problema de Esmirna era o judaísmo, e em Filadélfia também havia judaísmo. À Igreja em Esmirna o Senhor diz: “Para serdes postos a prova”, enquanto para em Filadélfia o Senhor diz: “Eu te guardarei da hora da provação que deve vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. O Senhor também fala às duas igrejas com relação à coroa. Para Esmirna ele diz: “Dar-te-ei a coroa da vida”, enquanto para Filadélfia ele diz: “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. As duas igrejas têm estes dois pontos semelhantes para mostrar que elas estão na mesma linha, isto é, na linha da ortodoxia da igreja apostólica. A Igreja em Sardes foi uma restauração, mas não completa (foi uma restauração que não foi bem feita). Mas Filadélfia restaurou até o ponto de satisfazer o desejo do Senhor. A igreja em Filadélfia não só não é censurada como também é louvada. A linha reta que desenhamos é a linha dos escolhidos, sabemos, evidentemente, que aquela que o Senhor escolheu foi Filadélfia. Filadélfia continua a ortodoxia dos apóstolos. Ela recuperou Esmirna. Portanto, as palavras do Senhor a ela são para guardar e obedecer. A virada de Pergamo e Tiatira foi tão grande que quando Sardes apareceu, embora agisse extraordinariamente bem, não recobrou a perfeição. Embora se voltasse em direção à restauração, ela não conseguiu atingir o alvo. Filadélfia é uma restauração completa. Precisamos ver isso claramente.

Filadélfia, em grego, é composta de duas palavras: o significado de uma é amar um ao outro, e o significado da outra é irmão. Assim, Filadélfia significa amor fraternal. Amor fraternal é a profecia do Senhor. Sacrifício é a característica principal de Tiatira e é cumprida na Igreja Católica Romana. Restauração é a característica de Sardes e é cumprida nas igrejas protestantes. Agora o Senhor diz-nos que há uma igreja que está completamente restaurada e é por Ele louvada. Os que lêem a Bíblia levantarão a questão: ” quem é ela na atualidade? Onde podemos encontrá-la na historia?” Não deixemos esta questão passar facilmente.

Já falamos do comportamento dos nicolaítas e do ensinamento dos nicolaítas nas Igrejas em Éfeso e Pergamo. Além disso, já mostramos que eles representam uma casta de sacerdotes. Entre os israelitas, os levitas podem ser os sacerdotes e o restante não pode. Mas na igreja todos os filhos de Deus são sacerdotes. A primeira Epístola de Pedro 2 e Apocalipse 5 nos dizem claramente que todos os comprados com o sangue são sacerdotes (vs. 9,10). Todavia, os nicolaítas criaram o emprego de sacerdote. O Laicato (crentes comuns ou leigos) deve ir ao mundo ter uma ocupação e executar negócios seculares. Os sacerdotes estão acima do laicato e encarregam-se dos negócios espirituais. Os judeus têm o judaísmo, e os nicolaítas desenvolveram o comportamento, tornando-o ensinamento. Veja a classe dos padres. Eles podem encarregar-se dos assuntos espirituais, enquanto outros cuidam de assuntos seculares. A imposição de mãos é assunto deles; somente eles podem abençoar. Se tenho de indagar sobre certo assunto, eu mesmo não posso perguntar a Deus, antes devo pedir-lhes que perguntem a Deus por mim. Na época de Sardes a situação melhorou. O sistema de padres foi abolido, mas o sistema clerical surgiu para tomar o seu lugar. Nas Igrejas protestantes, há as rigorosíssimas igrejas estatais, e há também as igrejas privadas dispersas. Contudo, quer seja na igreja do estado ou na igreja privada, a existência da classe mediadora é sempre vista. A primeira tem o sistema clerical, enquanto a ultima tem o sistema pastoral. Em relação a esse sistema de classe sacerdotal, quer sejam chamados de padres, clérigos ou de pastores, é algo rejeitado pelo Senhor. As igrejas protestantes são uma mudança de forma na continuação do ensinamento nicolaíta de Pérgamo. Embora nas igrejas protestantes ninguém seja chamado de padre, todavia os clérigos e os pastores são exatamente iguais em princípio. Mesmo se mudarmos o nome deles e chamá-los obreiros, enquanto permanecerem na mesma posição, eles tem o mesmo sabor.

Já expusemos bastante as Escrituras como base para mostrar que todos somos sacerdotes. Mas agora há uma controvérsia entre Deus e os homens. Desde que Deus diga que cada um na igreja está qualificado para ser sacerdote, por que os homens dizem que a autoridade espiritual está unicamente nas mãos de uma classe mediadora, tal como a dos padres? Todos os redimidos com o sangue são sacerdotes. Por que o Senhor não repreendeu Filadélfia, mas antes a louvou? Lembre-se que o inicio da classe mediadora foi em Pérgamo e a prática foi em Roma. Eles têm o papa que exerce domínio sobre eles, têm os altos oficiais exercendo autoridade sobre eles, e têm altos oficiais do Vaticano (a igreja-palácio) etc. Mas o Senhor diz: “Vós todos sois irmãos.” Apeguem-se a Mateus 20:25;23:8. É verdade que na Bíblia há pastores, mas a Bíblia não tem o sistema de pastores. Além disso, a palavra pastor é uma tradução; no texto original significa guardador de gado. Você pode chamá-lo de guardador de ovelhas ou guardador de gado. O Senhor diz: “Vocês não devem ter mestres entre vocês, e não devem ter padres”. Mas vejam como a Igreja Católica Romana chama os padres de “padre”, e as igrejas protestantes chamam os pastores de “pastor”. No século dezenove realizou-se um grande reavivamento que aboliu a classe mediadora. Após Sardes, uma grande restauração aconteceu: na igreja os irmãos amavam um ao outro e a classe mediadora foi abolida. Esta é Filadélfia.

Em 1825, em Dublin, capital da Irlanda, houve muitos crentes cujo coração foi movido por Deus para amar todos os filhos do Senhor, não importando em qual denominação estivessem. Este tipo de amor não foi frustrado pelos muros da denominação. Eles começaram a ver que a Palavra de Deus diz que há apenas um corpo de Cristo, não obstante em quantas seitas os homens possam dividi-lo. Eles continuaram lendo as Escrituras e viram que o sistema de um homem administrando a igreja e de um homem pregando não é bíblico. Então eles começaram a reunir-se a cada domingo para partir o pão e orar. O ano de 1825 foi (após mais de mil anos de Igreja Católica Romana e várias centenas de anos de igrejas protestantes) a primeira vez em que houve um retorno à adoração simples, livre e espiritual conforme as Escrituras. No inicio eram duas pessoas; mais tarde, quatro ou cinco.

Esses crentes, aos olhos do mundo, eram inferiores e desconhecidos. Mas eles tinham o Senhor no meio deles e a consolação do Espírito Santo. Eles permaneceram sobre a base de duas claras verdades: primeiramente, que a igreja é o Corpo de Cristo e que este Corpo é apenas um; em segundo lugar, no Novo Testamento não havia sistema clerical. Portanto, todos os ministros da palavra estabelecidos pelos homens não são bíblicos. Eles acreditavam que todos os verdadeiros crentes são membros deste único Corpo. Recebiam calorosamente todos os que vinham para o seu meio, não importando a que denominação pertencessem. Não tinham preconceito contra qualquer seita. Eles criam que todos os verdadeiros crentes tinham a função de sacerdote; portanto todos podem entrar livremente no Santo dos Santos. Eles também acreditavam que o Senhor Ascenso concedera diversos dons à igreja para o aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do Corpo de Cristo, Portanto, eles foram capazes de renunciar aos dois pecados do sistema clerical (oferecer sacrifício e pregar a Palavra). Estes princípios capacitaram-nos a dar boas vindas a todos os que estão em Cristo como seus irmãos e a estarem abertos a todos os ministros da Palavra ordenados pelo Espírito Santo para servir.

Durante essa época, havia um clérigo na Igreja Anglicana, chamado John Nelson Darby, que estava muito insatisfeito com sua posição na sua própria igreja, acreditando que ela não era bíblica. Ele também se reunia freqüentemente com os irmãos, embora nessa época ele ainda usasse as vestes do clero e fosse um clérigo da Igreja Anglicana. Ele era um homem de Deus, um homem de grande poder e um homem disposto a sofrer. Ele também era um homem espiritual que conhecia a Deus e a Bíblia, e julgava a carne. Em 1827 ele, oficialmente, deixou a Igreja Anglicana, tirou o uniforme de Clérigo e tornou-se um simples irmão reunindo-se com os irmãos. Originalmente o que os irmãos viram foi um tanto limitado, mas quando Darby se juntou oficialmente a eles, a luz do céu verteu como uma torrente. Em muitos aspectos a obra de Darby foi parecidas com a de Wesley, mas suas atitudes em relação à Igreja Anglicana foram totalmente diferentes. No século anterior, Wesley sentiu que não poderia ter paz deixando a igreja estatal; um século mais tarde, Darby sentiu que não poderia ter paz continuando na Igreja Anglicana. Mas quanto ao zelo, à sinceridade e à fidelidade, eles foram muito parecidos em muitos aspectos.

Foi neste mesmo ano que J.G.Bellett também compareceu às reuniões. Ele também era um homem extraordinariamente profundo e espiritual. Essas reuniões, que eram simples, contudo bíblicas, comoveram-no profundamente. A respeito da condição nessa época, ele disse:

Um irmão acabou de dizer-me que lhe ficou óbvio nas Escrituras que os crentes reunindo-se juntos como discípulos de Cristo, eram livres para partir o pão juntos, como o Seu Senhor os advertira; e que, até onde a prática dos apóstolos pode ser um guia, todo domingo deve ser separado para assim lembrar a morte do Senhor e obedecer o que Ele exigiu ao partir.

Em outra ocasião J.G. Bellett disse:

Caminhando certa ocasião com um irmão, enquanto descíamos a rua Lower Pembroke, ele me disse: Não tenho dúvidas de que este é o propósito de Deus com relação a nós – devemos estar juntos com toda simplicidade como discípulos, não servindo em qualquer púlpito ou ministério, mas confiando que o Senhor nos edificará ministrando, uma vez que Ele se agradou de nós e nos viu com bons olhos”. No momento que ele falou estas palavras, fiquei certo de que minha alma recebeu o entendimento correto, e aquele momento eu lembro como se fosse ontem, e posso descrever-lhe o lugar. Foi o dia da grande revelação da minha vida, permitam-me falar assim, como um irmão.

Foi assim que os irmãos gradativamente prosseguiam, recebiam revelação e viam a luz.

Depois de um ano, em 1828, Darby publicou um livrete chamado A natureza e a unidade da Igreja de Cristo. Este livrete foi o primeiro entre milhares de livros publicados pelos irmãos. Neste livro Darby declara claramente que os irmãos não tinham intenção de fundar uma nova denominação ou união de igrejas. Ele disse:

Em primeiro lugar, não é uma união formal de grupos publicamente conhecidos que é desejável; realmente é surpreendente que protestantes ponderados possam desejá-la: longe de estar fazendo o bem, creio que seria impossível que tal corpo fosse pelo menos reconhecido como a Igreja de Deus. Seria uma cópia da unidade da Católica Romana; perderíamos a vida da Igreja e o poder da Palavra, e a unidade da vida espiritual seria totalmente eliminada(…) A unidade verdadeira é a unidade do Espírito, e ela deve ser trabalhada pelo operar do Espírito(…) Nenhuma reunião, que não concebe incluir todos os filhos de Deus na base completa do Reino do Filho, consegue encontrar a plenitude da benção, porque ela não a contempla – porque a sua fé não a inclui(…) Onde dois ou três estão reunidos em Seu nome, Seu nome é lembrado ali para benção(…)

Além do mais, a unidade é a glória da Igreja; mas a unidade para assegurar e promover nossos próprios interesses não é a unidade da Igreja, mas uma confederação e negação da natureza e esperança da Igreja. A unidade, que é da Igreja, é a unidade do Espírito e somente pode estar nas coisas do Espírito; e, portanto, só pode ser aperfeiçoada nas pessoas espirituais.

Mas que deve fazer o povo do Senhor? Deixe-os esperar no Senhor, e esperar de acordo com o ensinamento do Seu Espírito, e em conformidade à imagem, pela vida do Espírito, do Seu Filho. Deixe-os seguir seu caminho pelas pegadas do rebanho, se quiserem saber aonde o bom pastor alimenta Seu rebanho ao meio-dia.

Em outro lugar Darby disse:

Porque a nossa mesa é a mesa do Senhor, não a nossa, recebemos todos os que Deus recebe, todos pobres pecadores fugindo para o Senhor como refúgio, não descansando em si mesmos, mas somente em Cristo.

Foi neste mesmo tempo que Deus operou simultaneamente na Guiana Inglesa e na Itália, levantando o mesmo tipo de reuniões. Em 1829 havia também reuniões na Arábia. Em 1830, em Londres, Plymouth e Bristol, na Grã-Bretanha também havia reuniões. Mais tarde, muitos lugares nos Estados Unidos tinham reuniões, e no continente da Europa havia também muitas reuniões.Não muito depois, em quase todo lugar no mundo, todos os que amavam o Senhor estavam se reunindo desta maneira. Embora não houvesse união exterior, contudo todos foram levantados pelo Senhor.

Uma característica que marcou o aparecimento desses irmãos foi que aqueles que tinham títulos e domínio abandonaram seus títulos e domínio, os com posição abandonaram a posição, aqueles que tinham diplomas rejeitaram seus diplomas, e todos abandonaram qualquer classe ou posição mundanas na igreja e tornaram-se simplesmente os discípulos de Cristo e irmãos uns dos outros. Exatamente como a palavra padre é largamente usada na Igreja Católica Romana e reverendo nas igrejas protestantes, assim a palavra irmãos é comumente usada no meio deles. Eles foram atraídos pelo Senhor e então reuniam-se; por causa do amor deles pelo Senhor, eles espontaneamente amavam uns aos outros.

Com o passar dos anos, entre estes irmãos Deus deu muitos dons para Sua Igreja. Além de J.N. Darby e J.G. Bellett, Deus também concedeu ministérios especiais para muitos irmãos para que Sua Igreja pudesse ser suprida. George Muller, que estabeleceu um orfanato, restaurou a questão de orar com fé. Durante sua vida ele recebeu 1.500.000 vezes respostas de orações. C.H. Mackintosh, que escreveu as notas sobre o Pentateuco, restaurou o conhecimento dos tipos, as prefigurações. D.L. Moody disse que se todos os livros do mundo inteiro fossem queimados, ele ficaria satisfeito em ter apenas uma cópia da Bíblia e uma coleção das notas de C.H.Mackintosh sobre o Pentateuco. James G. Deck deu-nos muitos bons hinos. George Cutting restaurou a certeza da salvação. Seu livrete “Segurança, Certeza e Desfrute” teve trinta milhões de cópias vendidas, em 1930; além da Bíblia este foi o livro mais vendido. William Kelly foi um expositor; ele foi descrito por C.H. Spurgeon como aquele que tinha a mente tão grande quanto o universo. F.W. Grant foi o mais entendido sobre a Bíblia nos séculos dezenove e vinte. Robert Anderson foi o homem que melhor conheceu o Livro de Daniel recentemente. Charles Stanley foi quem melhor levou as pessoas à salvação pregando a justiça de Deus. S.P. Tregelles foi o famoso filologista do Novo Testamento. A história da igreja por Andrew Miller foi a mais bíblica entre as muitas histórias da igreja. R.C. Chapman foi um homem grandemente usado pelo Senhor. Estes foram os irmãos daquela época. Além desses, se fôssemos contar minuciosamente outros entre os irmãos, o número de todos os que foram muito usados pelo Senhor ultrapassaria a mil.

Agora veremos o que esses irmãos nos deram: eles nos mostraram quanto o sangue do Senhor satisfaz a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o mais fraco crente pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito, e como crer na Palavra de Deus, como a base da salvação. Desde que começou a história da Igreja, nunca houve um período em que o evangelho tenha sido mais claro do que naquela época. Além disso, também foram eles que nos mostraram que a Igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a Igreja tem um chamamento celestial e que a Igreja não tem esperança terrena. Foram eles também que abriram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que a volta do Senhor é a esperança da Igreja. Foram eles que abriram o livro de Apocalipse e o livro de Daniel e mostraram-nos o Reino, a tribulação, o arrebatamento e a noiva. Sem eles conheceríamos hoje uma pequena porcentagem das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que é a lei do pecado, o que é ser libertado, o que é ser crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor pela fé e como ser transformado diariamente por contemplar o Senhor. Eles nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo e a unidade do Espírito Santo. Foram eles que nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a Igreja. Na Igreja Católica Romana e nas igrejas protestantes, esta diferença não é facilmente vista, mas eles fizeram-nos vê-la de maneira nova. Eles também nos mostraram o pecado da classe mediadora, mostraram que todos os filhos de Deus são sacerdotes e que todos podem servir a Deus. Foram eles que restauraram o princípio de reuniões de 1 Coríntios 14, expondo-nos que profetizar não está baseado em ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fôssemos enumerar tudo o que eles restauraram, poderíamos muito bem dizer que nas genuínas igrejas protestantes de hoje não há sequer uma verdade que não tenha sido restaurada por eles ou que não tenha sido eles quem as restauraram ainda mais.

Não é de admirar-se que D.M. Panton tenha dito: “O movimento dos irmãos e seu significado é muito maior que o da Reforma.” Thomas Griffith disse: “Entre os filhos de Deus, eles foram os mais qualificados para corretamente dividir a palavra da verdade.” Henry Ironside disse: “Quer sejam os que conheceram os irmãos, quer sejam os que não conheceram os irmãos, todos os que conheceram a Deus têm recebido ajuda deles direta ou indiretamente.

Esse movimento foi maior do que o movimento da Reforma. Podemos também dizer que a obra de Filadélfia é maior que a obra da Reforma. Filadélfia nos dá aquilo que a Reforma não nos deu. Agradecemos ao Senhor que o problema da igreja foi solucionado pelo movimento dos irmãos. A posição dos filhos de Deus foi, por ele, praticamente restaurada. Portanto, tanto em quantidade como em qualidade ela é maior que a Reforma. Por outro lado, notamos que o movimento dos irmãos não é tão famoso quanto a Reforma. A Reforma foi realizada com espada e lança, enquanto o movimento dos irmãos foi realizado pela pregação. Por causa da Reforma muitos perderam a vida nas guerras da Europa. Outra razão pela qual a Reforma é famosa foi seu relacionamento com a política. Muitas nações, por meio da Reforma, livraram-se politicamente do poder de Roma. Qualquer coisa que não seja relacionada à política não é facilmente conhecida pelos homens. Além disso, os irmãos viram duas coisas: uma, é o que chamamos de mundo organizado, isto é, o mundo psicológico, mas também, ao mesmo tempo, o mundo do cristianismo, que é representado pelas igrejas protestantes. Essa é a razão porque eles nem mesmo eram conhecidos nas igrejas protestantes, pois eles não apenas saíram do mundo do pecado, mas também do mundo do cristianismo.

A partir da época deles os homens conheceram o que é a Igreja, que a Igreja é o Corpo de Cristo, que os filhos de Deus são uma Igreja e que não deveriam estar divididos. A ênfase deles era nos irmãos e no verdadeiro amor de uns pelos outros. O Senhor Jesus diz que uma igreja aparecerá cujo nome é Filadélfia.

Agora observemos Apocalipse: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve”. Filadélfia é amor fraternal. Por que o Senhor louva Filadélfia? Ele diz que ela é amor fraternal; assim, a posição mediadora foi completamente anulada.

Em Cristo não há homem nem mulher, em Cristo não há irmãs. Somos irmãos, não irmãs. Então, as irmãs perguntarão: “Quem somos nós?” Somos todos irmãos. Por que somos irmãos? Porque todos temos a vida de Cristo. Hoje há muitos homens no mundo, mas eles não são nossos irmãos. Um homem é um irmão, não porque é um homem, mas porque há nela a vida de Cristo. Desde que eu também tenha a vida de Cristo em mim, somos irmãos.Quando ressuscitou e estava para ascender aos céus, o Senhor disse:” subo para o meu Pai e vosso Pai” (Jo 20:17). Em João 1, Ele é o Filho unigênito de Deus; em João 20, Ele é o Filho primogênito de Deus. No capítulo 1 Deus o tem como o único filho; no capitulo 20 sua vida foi dada aos homens, por isso, Ele é o Filho primogênito e todos nós somos irmãos. Pela morte e ressurreição o Filho unigênito de Deus tornou-se o filho primogênito. Podemos ser irmãos porque recebemos sua vida. Porque todos temos recebido a vida de Cristo, somos todos irmãos.Um homem é um irmão porque recebeu a vida de Cristo; uma mulher é um irmão porque também ela recebeu a vida de Cristo; então, todos são irmãos. Todas as epístolas foram escritas aos irmãos, não as irmãs. Individualmente falando, há irmãs, mas em Cristo há somente irmãos. Por causa desta vida todos nos tornamos os filhos de Deus. Todos os “filhos” e “filhas” do Novo Testamento deveriam ser traduzidos como “filhos”. Além da menção em 2 Coríntios 6:18, Deus não tem filhos e filhas. Em Cristo todos estão na posição de irmãos. Em Xangai havia um irmão que era pedreiro. Certa vez, quando eu estava lá, eu lhe disse: “Vá e chame algum irmão para entrar”; Ele replicou: “Você quer que eu chame os irmãos masculinos ou femininos?” Este foi um homem ensinado por Deus. Dirigimo-nos as irmãs, quando nos dirigimos a indivíduos, mas em Cristo não há distinção entre homem e mulher.

Na Igreja também não há escravo nem livre. Não é porque alguém é um mestre, que a vida que ele recebeu é maior, ou porque eu sou um escravo, portanto a vida que recebi é menor. No passado, lembro-me que certo irmão me disse: “Os locais de reuniões tem um aspecto pobre. É melhor prepararmos um lugar especialmente aos oficiais do governo.” Repliquei: “Que você colocaria sobre a placa?” Esta não seria a Igreja de Cristo; seria a Igreja dos oficiais e da alta sociedade. Quando vimos para a Igreja, não há oficiais nem alta sociedade. Na Igreja todos somos irmãos. Quando nossos olhos forem abertos pelo Senhor, veremos que estar acima dos outros é uma gloria no mundo, mas na Igreja não há tal distinção. Paulo diz que em Cristo não há grego nem judeu, escravo ou livre, homem ou mulher. A Igreja posiciona-se não na distinção, mas no amor fraternal.

Essa passagem é igual a outras nas quais o Senhor mencionou Seu próprio nome; aqui Ele diz:”Estas coisas diz o Santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá.” Santidade é sua vida; Ele próprio é santidade. Ele é a Verdade diante de Deus; Ele é a Realidade de Deus, e a realidade de Deus é Cristo. Sua mão segura a chave. Aqui, devemos destacar um fato: quando Sardes (referindo-se ao movimento da Reforma N.T.) se levantou para testemunhar pelo Senhor, havia os dominadores deste mundo que a ajudaram a travar a batalha. A luta prosseguiu no continente da Europa por muitos anos e depois na Grã-Bretanha por muitos anos. Mas, e o movimento dos irmãos? Não havia poder por trás deles para sustentá-los. Então, que poderiam eles fazer? O Senhor diz que Ele segura a chave de Davi, que significa autoridade. (A Bíblia chama Davi de rei.) Não se trata de força dos braços nem de propaganda, mas uma questão de abrir a porta. Houve certo editor jornalístico na Grã-Bretanha que disse: “Eu nunca pensei que houvesse tantos irmãos e nunca entendi como esse povo cresceu tão rápido”. Viajando por todo o mundo você descobrirá que em cada lugar há muitos irmãos. Embora entre eles alguns conheçam as doutrinas profundamente e alguns superficialmente, a posição dos irmãos ainda é a mesma. Ao vermos isso, precisamos agradecer o Senhor. O Senhor diz que ele é aquele que “abre e ninguém fechara e que fecha e ninguém abrirá.”

“Conheço as tuas obras (…) que tens pouca força”. Quando chegamos neste ponto, nossos pensamentos espontaneamente retornam ao tempo da volta de Zorobabel (do cativeiro babilônico N.T.), sobre quem certo profeta disse: “Pois quem despreza o dias dos humildes começos” (Zc 4:10). Não despreze o dia das pequenas coisas, isto é, o dia da edificação do templo. Nas Escrituras há uma grande prefiguração da Igreja _ o templo. Quando Davi reinava, o povo de Deus era unido. Mais tarde, eles se dividiram em reino de Judá e reino de Israel. Os filhos de Deus começaram a dividir-se e, ao mesmo tempo, começaram a idolatria e a prostituição. Como resultado, foram capturados e levados para a Babilônia. Todos reconhecem que o cativeiro na Babilônia tipifica Tiatira, a Igreja Católica Romana. Desde que a Bíblia faz da Babilônia um símbolo de Roma, então também a igreja tem um cativeiro babilônico. Que fez o povo de Deus quando retornou do seu cativeiro? Eles voltaram debilmente, grupo por grupo, e edificaram o templo. Parece que eles tipificaram o movimento dos irmãos. Havia muitos judeus, os mais velhos, que viram o templo antigo; agora eles viam com os próprios olhos o estabelecimento do fundamento do templo e choraram em alta voz, porque o templo era inferior em gloria se comparado com aquele do tempo de Salomão. Contudo, Deus falou por intermédio do profeta menor, dizendo: “Não despreze o dia das pequenas coisas, porque este é o dia da restauração”. Aqui , o Senhor diz as mesmas palavras: “tens pouca força”. O testemunho da igreja hoje no mundo, comparado com os dias de Pentecoste, é realmente o dia das pequenas coisas.

“Guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome”. O Senhor os reconhece por duas coisas: não negar o nome do Senhor e não negar a sua Palavra. Na historia da igreja, nunca houve uma era na qual os homens conheceram tanto a Palavra de Deus quanto os irmãos. A luz era como a chuva de uma grande enchente impetuosa. Uma noite, quando eu estava em Xangai, encontrei um irmão que me disse ser cozinheiro em uma embarcação. Falei com ele demoradamente. Receio que muito poucos missionários conhecem a Palavra de Deus tão bem quanto ele. Na verdade, esta é uma das suas características mais evidentes_ eles conhecem a Palavra de Deus. Mesmo se encontrarmos o mais simples entre eles, ele terá mais clareza que muitos missionários.

O Senhor diz: “Não negaste o meu nome”. Desde 1825, os irmãos diziam que somente seriam chamados cristãos. Se alguém lhes perguntasse quem eram eles, eles diriam: “Eu sou cristão”. Mas se alguém perguntar a um membro da igreja metodista, ele dirá: “eu sou um metodista”; se encontrar alguém da Igreja dos Amigos, ele dirá: “Eu pertenço a igreja dos amigos”; alguém da Igreja Luterana dirá: “Eu sou Luterano”; alguém da Igreja Batista vai dizer: ” Eu sou Batista”. Alem de Cristo, os homens ainda usam muitos nomes pelos quais se autodenominam. Mas os filhos de Deus tem um único nome pelo qual chamam a si mesmos. O Senhor Jesus diz: “Orai em Meu nome” e “Reunidos em Meu nome”. Temos somente o nome do Senhor. Whitefield disse: “Sejam todos os outros nomes abandonados; seja somente o nome de Cristo exaltado”. Esses irmãos foram levantados para fazer exatamente isso. A profecia do Senhor diz a mesma coisa, que eles honraram o nome do Senhor. O nome de Cristo é o centro deles. Eles ouvem muito freqüentemente entre eles esta palavra: “O nome de Cristo não é suficiente para separar-nos do mundo? Não é suficiente simplesmente termos o nome do Senhor?”

Certa vez encontrei um crente num trem, que me perguntou que tipo de cristão eu sou. Respondi-lhe que sou apenas um cristão. Ele disse: “Não há tal cristão no mundo. Dizer que você é um cristão não significa nada; você tem de dizer que tipo de cristão você é. Isso é que faz sentido.” Repliquei-lhe: “Eu sou simplesmente um homem que é cristão. Você diz que um homem ser cristão não significa nada? Que tipo de cristão você diria que faz sentido ser? Quanto a mim, só posso ser um cristão _ nada mais”. Naquele dia tivemos uma conversa muito boa.

Devemos observar uma coisa: o pensamento fundamental de muitas pessoas é que o nome do Senhor não é suficiente. Muitos pensam que precisam do nome de uma denominação; eles acham que devem ter outro nome além do nome do Senhor. Não considere que nossa atitude em relação a isto seja exagerada demais. Aqui o Senhor diz: ” Não negaste o meu nome”. Se o meu sentimento está correto, todos os outros nomes são uma vergonha para Ele. Esta palavra “negaste” é a mesma palavra usada para referir-se a negação de Pedro ao Senhor. Que tipo de cristão sou eu? Eu sou um cristão. Não quero ser chamado por outro nome. Muitos não querem honrar o nome de Cristo e não estão dispostos a serem chamados apenas de cristãos. Mas, graças a Deus, a profecia de Filadélfia foi cumprida nos irmãos. Eles mesmo não tem qualquer outro nome característico. Eles são irmãos; eles não são “A Igreja dos irmãos”.

“Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. O Senhor fala à igreja em Filadélfia sobre a porta aberta. Os homens freqüentemente dizem que se você andar de acordo com as Escrituras, a porta será logo fechada. A mais difícil barreira a ultrapassar ao submeter-se ao Senhor é o fechamento da porta. Mas aqui, na verdade, a uma promessa: “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar”. No tocante aos irmãos, isto é um fato. No mundo todo, seja ao expor a Bíblia ou a pregar o evangelho, nenhum outro grupo de pessoas, teve as oportunidades que eles tiveram. Fosse na Europa, América ou África, era sempre a mesma coisa. Não há necessidade de sustento humano, de anuncio, propaganda ou contribuições; eles sempre têm muitas oportunidades para trabalhar, e a porta para trabalhar ainda está aberta.

“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de satanás, desses que a si mesmo se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei”. Já vimos pelo menos quatro coisas as quais têm feito o cristianismo tornar-se judaísmo: os sacerdotes mediadores, a lei de letras, o templo material e as promessas terrenas. Que diz o Senhor? “Eis que farei vir e prostrar-se aos teus pés”. O judaísmo é destruído nas mãos dos irmãos. Em todo lugar, no mundo inteiro há tal movimento. Onde eles estão o judaísmo é derrotado. Entre os que hoje realmente conhecem a Deus, a principal força do judaísmo tornou-se algo do passado.

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança”. Isto está relacionado com “companheiro na tribulação, no reino e na perseverança em Jesus”, em Apocalipse 1. Perseverança aqui é usada como um substantivo. Hoje é tempo da perseverança de Cristo. Hoje o Senhor encontra muitos que escarnecem dele, mas Ele é perseverante. Um dia o julgamento virá, mas ele hoje é perseverante. Sua palavra hoje é a palavra da perseverança. Aqui Ele não tem reputação, ele é uma pessoa humilde, ainda um nazareno, ainda o filho de um carpinteiro. Quando seguimos o Senhor, ele diz: “Guarda a palavra da minha perseverança”.

“Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra”. Podemos usar Tchankin (cidades da china N.T.) como ilustração: dizer que o guardarei do bombardeio significa que você estará em Tchankin, mas será guardado do bombardeio. Se digo que o guardarei da hora, isto significa que antes daquela hora você acabou de partir para Chengtu. Quando o mundo todo estiver sendo testado (se refere à grande tribulação), não enfrentaremos a tribulação. Antes que aquela hora chegue, já teremos sido arrebatados. Em toda a Bíblia há somente duas passagem que falam da promessa do arrebatamento: Lucas 21:36 e Apocalipse 3:10. Hoje devemos seguir o Senhor, não viver frouxamente, aprender a viver no caminho de Filadélfia e pedir ao Senhor para livrar-nos de todas as provações que vêm.

“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. O Senhor diz: “Venho sem demora”, portanto, esta igreja deve continuar até a volta do Senhor. Tiatira não passou, Sardes não passou e Filadélfia ainda não passou também. “Conserva o que tens”, ou seja “A minha Palavra” e o “Meu nome”. Não devemos esquecer a palavra do Senhor e não devemos envergonhar o nome do Senhor. “Para que ninguém tome tua coroa”: todos em Filadélfia já têm a coroa. Nas outras igrejas há o problema de ganhar-se a coroa; aqui o problema é perdê-la. O Senhor diz que já temos a coroa. Em toda a Bíblia apenas uma pessoa sabia que tinha a coroa: Paulo (2Tim 4:8). Assim também entre as igrejas, somente Filadélfia sabe que tem a coroa. Não permita, agora, que nenhum homem tome sua coroa; não saia de Filadélfia deixando sua posição. Aqui diz: “Conserva o que tens para que nenhum homem a tome”.

Isto nos diz claramente que Filadélfia corre um perigo em particular; de outra maneira, o Senhor não lhe teria dado tal advertência. Além disso, esse perigo é bastante real; essa é a razão porque o Senhor lhes deu ordens de modo tão sério. Qual é o perigo que eles correm? O perigo está em perder o que já conseguiram. Assim, o Senhor pede a eles para conservarem o que têm. O perigo não está em não progredirem; antes, está no retrocesso. Eles estão agradando o Senhor porque amam uns aos outros e são fieis à Palavra do Senhor e a seu nome. O perigo está em perder este amor e fidelidade. Que terrível! Mas de fato isto foi o que realmente aconteceu. Após 20 anos, os irmãos também dividiram-se em dois grupos: os “exclusivos” e os “abertos”, e dentro das duas divisões há muitas facções. Portanto, em Filadélfia também há o chamado aos vencedores.

Qual foi a razão desse problema? Devemos ser muitos cuidadosos e humildes; do contrario, seremos envolvidos no mesmo erro. Cremos que qualquer tipo de divisão é resultado da perda de amor de um pelos outros; quando o amor não existe ou está faltando, as pessoas dão atenção às leis, enfatizam comportamentos forçados e perdem-se em detalhes procurando falhas. Uma vez que o amor está em perigo, as pessoas ficaram orgulhosas de si mesmas e invejosas das outras, gerando, então, controvérsias e disputas. O Espírito Santo é a força da unidade, enquanto a carne é a força da divisão. A menos que a carne seja tratada, cedo ou tarde ocorrerá a divisão.

Além do mais, creio que a carência dessa época foi que os Irmãos Unidos não viram a base e o limite da igreja. Eles viram claramente, do lado negativo, os pecados da igreja, mas do lado positivo, quanto à igreja deve amar um ao outro a ser unânime quanto á base e limite da cidade, eles não viram adequadamente. A Igreja Católica Romana dá atenção á união de uma igreja nesta terra, enquanto os Irmãos Unidos deram atenção a uma união idealista de uma igreja espiritual nos céus. Eles não viram ou, pelo menos, não viram tão claramente que o amor de uns pelos outros nas epistolas é o amor de uns pelos outros na igreja em uma cidade; a unidade é a unidade da igreja em uma cidade; o ajuntamento é o ajuntamento da igreja em uma cidade a edificação é a edificação da igreja na cidade; e até mesmo a excomunhão é a excomunhão da igreja em uma cidade. De qualquer forma somente dois tipos de pessoas falam sobre a unidade da igreja: a Igreja Católica Romana fala da unidade de todas as igrejas na terra, enquanto os Irmãos Unidos falam da unidade espiritual nos céus. Como resultado, a primeira não é senão a unidade em aparência exterior, enquanto a ultima é a unidade idealista; na verdade, porem, é divisiva. Ambas não atentaram para a unidade da igreja em cada e toda cidade como registrado na Bíblia.

Desde que os Irmãos Unidos não deram tanta atenção ao fato de que a igreja tem a cidade como seu limite, os “Irmãos Exclusivos” exigiram ação unificadora por todo o lugar, resultando na quebra do limite da cidade e caindo no erro da igreja unida; enquanto os “Irmãos Abertos” exigiram a administração independente de cada reunião, cujo resultado em muitas cidades foi muitas igrejas em uma cidade, caindo assim no erro da igreja congregacional, que torna cada congregação uma unidade independente. Os “Irmãos Exclusivos” excedem o limite da cidade, enquanto os “Irmãos Abertos” são menores que os limites da cidade. Eles esquecem que na Bíblia a uma e apenas uma igreja em cada cidade. As palavras na Bíblia para a igreja são dirigidas para esse tipo de igreja. É muito estranho que a tendência de hoje seja mudar as palavras que, na Bíblia, são ditas para a igreja em uma cidade, para palavras faladas para a igreja espiritual. Além disso, alguns irmãos estabelecem uma igreja que é menor que a cidade _ a igreja “casa” é um exemplo. Mas na bíblia não há nenhuma “união de igrejas” das igrejas de todo lugar nem há igrejas de congregações e de reuniões em uma cidade como igrejas independentes. Uma igreja para varias cidades, ou várias igrejas em uma cidade _ ambas não são ordenadas por Deus. A palavra de Deus claramente revela que uma cidade pode ter uma só igreja, e somente pode haver uma igreja em cada cidade. Ter uma igreja do tamanho de muitas cidades exige uma unidade que a Bíblia não exige, e ter várias igrejas em uma cidade divide a unidade que a Bíblia exige.

A dificuldade dos Irmãos unidos naqueles dias foi que eles não tinham suficiente clareza a respeito do ensinamento da Bíblia sobre a cidade. O resultado é que desde que aqueles que tomaram o tipo de unidade “União de Igrejas” uniram-se a irmãos em outros lugares, eles não mais temeram estar divididos com os irmãos na mesma cidade. E os que tomavam a reunião como uma unidade e não tinham problema com os irmãos da mesma reunião, não temeram estar dividido com os irmãos que estivessem em outras reuniões na mesma cidade. Porque eles não perceberam a importância dos ensinamentos da Bíblia a respeito da cidade, resultaram divisões em cada caso. O Senhor não exigiu a unidade impraticável de todos os lugares. O Senhor não permitiu tomar-se uma reunião como limite da unidade _ isso é livre demais; é licencioso, sem restrição ou instrução. Apenas uma palavra de desacordo e imediatamente outra reunião é estabelecida com três ou cinco como um grupo, e isso é considerado como unidade. Pode haver somente uma unidade em cada cidade. Que restrição para aqueles com licenciosidade carnal!

O movimento dos irmãos ainda continua. E a luz sobre a “cidade” está cada vez mais clara. Até que ponto o Senhor irá trabalhar, nós não sabemos. Podemos somente aguardar pela história; então teremos clareza. Se nossa consagração ao Senhor é absoluta e nós mesmos somos humildes, receberemos misericórdia para sermos guardados do erro.

“Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais saírá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome”. Durante a Época de Filadélfia tem havido muitos casos de excomunhão de irmãos. Mas aqui eles não podem mais ser excomungado; eles serão uma coluna no templo de Deus. Se a coluna é removida, o templo não permanece em pé. Filadélfia faz com que o templo de Deus permaneça em pé. Há três nomes gravados sobre o vencedor: o nome de Deus, o nome da Nova Jerusalém e o novo nome do Senhor. O plano eterno de Deus está cumprido. As pessoas em Filadélfia retornam ao Senhor e O satisfazem.

“Quem tem ouvidos, ouça o que o espírito diz as igrejas”. Lembre-se, Deus não manteve em segredo o desejo do Seu coração; Ele tem indicado muito claramente o caminho diante de nós.

(A Ortodoxia da Igreja, Watchman Nee)

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Irmãos

O sofrimento do Filho (Mackintosh)

“O caminho que trilhava na terra era escabroso. Como poderia ser de outra maneira num mundo onde tudo estava em oposição direta à Sua natureza santa e pura? Ele teve de suportar a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Teve de suportar a afronta dos que se opunham a Deus. O que não teve Ele de suportar? Foi mal compreendido, mal interpretado, injuriado, difamado, acusado de estar fora de Si e de ter demônio. Foi traído, negado, abandonado, escarnecido, esbofeteado, cuspido, coroado de espinhos, expulso, condenado e cravado entre dois malfeitores. Todas estas coisas Ele sofreu às mãos dos homens juntamente com os terrores indizíveis com que Satanás atormentou o Seu espírito; mas, deixai-me repetir mais uma vez e com ênfase, depois de os homens e Satanás terem esgotado o seu poder e inimizade o nosso bendito Senhor e Salvador tinha de suportar alguma coisa comparada com a qual tudo o mais era como NADA, e isto era a ocultação da face de Deus – as três horas de trevas e terrível escuridão, durante as quais sofreu aquilo que ninguém senão Deus pode conhecer”.

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Irmãos John Nelson Darby

Ignorado, mas bem conhecido

A vida e a obra de John Nelson Darby estão na internet

Conhecido como o Pai do Dispensacionalismo Premilenista, a Darby (1800 – 1882) também é atribuído o início do que se tornaram os Irmãos de Plymouth. Na verdade, ele nunca começou movimento formal algum. Darby ensinava, entre outras coisas, que os cristãos não deveriam adotar nenhum nome especial nem hierarquia – por isso, eram conhecidos apenas por “irmãos”. Mais tarde, o movimento se desdobrou, gerando grupos conhecidos como Igreja de Cristo, Irmãos Unidos, de Plymouth, Irmãos Exclusivistas, etc. Darby atuou principalmente na Irlanda, pregando para aqueles que não eram alcançados pelo cristianismo institucionalizado. Além de muitos livros e hinos, escreveu hinos, sinopses de toda a Bíblia (parte das quais você encontra, em inglês, aqui) e uma tradução da Bíblia (que pode ser consultada aqui). Nela, muitas vezes deixou de lado as regras da língua inglesa para tornar o texto o mais próximo possível dos originais. Ele mesmo fez versões também para o francês e o alemão. Alguns estudiosos consideram a contribuição de Darby e dos “irmãos” para a Igreja tão importante, se não mais, do que a da Reforma, apesar de bem menos conhecida e reconhecida. Sua biografia resumida, extraída de cartas que escreveu para amigos, pode ser lida aqui. Um pouco de sua obra está à disposição na forma de devocionais para cada domingo do ano ou juntamente com muitos textos de homens que trabalharam com ele, ambos endereços em espanhol. Se você quiser conhecer um pouco da história dos “irmãos”, em português de Portugal, clique aqui. Alguns de seus escritos, e de outros da sua “turma”, são publicados em português pelo Depósito de Literatura Cristã ou pela Verdades Vivas.

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Estudo bíblico Irmãos

Edificando em Graça e Verdade

Mais um sítio maravilhoso, este em espanhol, que traz um pouco da insondável herança dada pelo Senhor ao Seu Corpo por meio dos “irmãos”. É constantemente atualizado.

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