Categorias
Cristo Vida cristã

Em Cristo (Burk Parsons)

Repetitio mater studiorum est. “A repetição é a mãe de todo aprendizado.” O apóstolo Paulo entendeu isso. Sob a inspiração e a superintendência do Espírito Santo, Paulo constantemente repetia as verdades fundamentais da doutrina bíblica, e ele fazia isso não apenas dentro de cada uma de suas epístolas, mas às vezes dentro da mesma frase. O mais claro exemplo disso é encontrado na epístola de Paulo aos efésios. Conforme ele desenrola o glorioso mistério de nossa salvação, Paulo reitera a frase “em Cristo” ou “nele” continuamente ao longo do primeiro capítulo, e quase dez vezes nos versos 3 a 14, que é uma longa frase na língua original. Há muitos anos, enquanto eu pregava em Efésios 1, expliquei à nossa congregação que se eles fossem lembrar de apenas uma verdade de nosso estudo de Efésios, que fosse a frase “em Cristo”, que é uma maneira curta de se lembrar de um dos mais fundamentais aspectos da salvação — nossa união com Cristo.

A união do crente com Cristo há tempos vem sido uma doutrina negligenciada em muitas igrejas, embora seja uma doutrina central da Escritura. A Palavra de Deus nos ensina que somos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo e que somos unidos com Cristo pela graça justificadora de Deus através da nossa fé somente por causa da morte expiatória de Cristo somente (João 15:4-7; 1 Coríntios 15:22; 2 Coríntios 12:2; Gálatas 3:28; Efésios 1:4, 2:10; Filipenses 3:9; 1 Tessalonicenses 4:16; 1 João 4:13). A natureza dessa união não é apenas que estamos em Cristo, mas que ele está em nós (João 6:56; Romanos 8:10; 2 Coríntios 13:5; Gálatas 2:20; Efésios 3:17; Colossenses 1:27). As implicações teológicas de nossa união com Cristo são espantosas, e é o próprio Cristo quem nos ensinou que elas são. Em João 15, Jesus disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (v. 5). Na raiz de nossa santificação está nossa união com Cristo. Como ramos, nós damos frutos precisamente porque estamos unidos a Cristo, a videira, e estamos conectados à videira por causa da obra de Deus Pai, que é “o agricultor” (15:1). Além disso, em sua oração sumo-sacerdotal, Jesus expressou a profunda união que ele tem com os crentes, dizendo: “… eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (17:23). Nesta gloriosa oração, jesus revela a absoluta majestade desta doutrina quando expressa que nossa união com ele — o eterno Logos, o Filho de Deus, a segunda pessoa da Divindade, Deus conosco — tem a direta implicação que, em Cristo, o pai nos ama como ele ama seu Filho unigênito. E visto que estamos unidos com Cristo, estamos unidos com ele em sua morte e, portanto, também seremos unidos com ele em sua ressurreição (Romanos 6:5).

(Fonte)

Categorias
Cristo Cruz Salvação

Justificação pela fé: fora de moda? (B. B. Warfield)

Às vezes nos é dito que a Justificação pela Fé está “fora de moda”, obsoleta. Seria uma pena se fosse verdade. Isso significaria que o caminho da salvação estaria fechado e “nenhuma passagem” estaria “pregada sobre as barreiras”. Não há nenhuma justificação para pecadores a não ser pela fé. As obras de um pecador serão sempre, é claro, tão pecaminosas quanto ele mesmo, e nada exceto a condenação pode ser construído sobre elas. Então onde poderia ele conseguir obras nas quais pudesse fundamentar a sua esperança de justificação, exceto em algum Outro?
A sua esperança de Justificação, lembre-se, é de ser declarado íntegro diante de Deus. Será que Deus poderia declará-lo íntegro sem ser com base em obras que são, elas mesmas, íntegras? Onde um pecador poderá arrumar obras que são íntegras? Seguramente, não em si mesmo; afinal, não se trata ele de um pecador, e todas as suas obras tão pecaminosas quanto ele? Ele precisa, então, sair de si mesmo e encontrar obras que ele possa oferecer a Deus como justas. E onde ele poderá encontrar tais obras se não em Cristo? Ou como fará ele com que elas passem a ser suas a não ser pela fé em Cristo?
Justificação pela Fé, portanto, não é oposta à justificação através de obras. Só há contradição com a justificação por nossas Próprias obras. É uma justificação pelas obras de Cristo. A questão inteira, consequentemente, é se nós podemos esperar ser recebidos no favor de Deus com base no que nós fazemos, ou apenas com base no que Cristo fez por nós. Se nós esperamos ser recebidos com base no nós mesmos fazemos – isso é chamado Justificação por Obras.
Se o nosso fundamento é o que Cristo fez por nós – isso é o que significa Justificação por Fé. Justificação por Fé significa, portanto, que nós olhamos para Cristo e para ele somente em busca de salvação, e vamos a Deus alegando que a morte e a retidão de Cristo são a base da nossa esperança de sermos recebidos no favor dEle. Se a Justificação por Fé tornou-se obsoleta, isso significa, então, que a salvação em Cristo está obsoleta. Não há nada a se fazer, se for assim, a não ser que cada homem faça o melhor que puder para se salvar.
“A dificuldade em apresentar nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis a Deus. A dificuldade é que nós não temos nenhum mérito nosso para lhe apresentar.”
Portanto, Justificação por Fé não significa “salvação por acreditar em certas coisas” em vez de “salvação por fazer o que é certo”. Significa pleitear os méritos de Cristo perante o trono da graça em vez de nossos próprios méritos. Pode ser correto acreditar em certas coisas, e fazer coisas certas certamente é certo. A dificuldade em apresentar nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis a Deus.
A dificuldade é que nós não temos nenhum mérito nosso para lhe apresentar. Adão, antes da queda, tinha seus próprios méritos, e porque ele os tinha ele era, em si mesmo, aceitável a Deus. Ele não precisava de Outro para se interpor entre ele e Deus, cujos méritos ele pudesse pleitear. E, por isso, não havia nenhuma conversa sobre ele ser Justificado por Fé. Mas nós não somos como Adão antes da queda; nós somos pecadores e não temos nenhum mérito em nós mesmos. Se nós tivermos que ser justificados, terá que ser com base nos méritos de Outro, cujos méritos possam ser feitos nossos pela fé.
E foi por isso que Deus enviou seu Único Filho para que todo que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Se nós não crermos nele, obviamente teremos que perecer. Mas se nós acreditarmos nele, nós não morreremos, mas teremos a vida eterna. Isso é tão somente a Justificação pela Fé. Justificação pela Fé não é nada mais, nada menos, do que obter a vida eterna crendo em Cristo. Se a Justificação por Fé está obsoleta, então a salvação em Cristo está obsoleta. E como não há nenhum outro nome debaixo do céu, dado entre homens, pelo qual devamos ser salvos, se a salvação em Cristo está obsoleta então obsoleta está à própria salvação. Seguramente, em um mundo cheio de pecadores precisando de salvação, isso seria uma grande pena.
(Fonte)
Categorias
Bíblia Cristo Cruz Deus Espírito Santo Estudo bíblico Evangelho História Igreja Salvação Testemunho Vida cristã

O fundamento da Igreja e a fé (Mauro Meister)

Em Mateus 16 temos a narrativa de um diálogo entre Jesus e seus discípulos durante um “retiro espiritual” que fizeram pelas “bandas de Cesaréia de Filipe” (v. 13). Afastado das multidões, das controvérsias com os fariseus e outros adversários, das tremendas demandas diárias que recebia de todos à volta, o Senhor chama aqueles que estavam mais próximos à reflexão, para lhes mostrar alguns dos fundamentos sobre os quais a “sua igreja” seria continuada e firmada na face da terra.
Com a excelência da pedagogia que sempre é evidente nos Evangelhos, nosso Senhor começa a sua lição sobre os fundamentos da Igreja com uma pergunta que vai levar a uma outra: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”.  Certamente, o simples invocar do nome “Filho do Homem” já faria com que os discípulos refletissem a respeito das mais diversas conversas e discussões acaloradas, tidas depois das leituras dos textos da Torá aos sábados na Sinagoga. Quem é o “Filho do Homem” segundo os Salmos ou o Daniel, ou mesmo na forma como a expressão é empregada para chamar o profeta Ezequiel?  Quem é esse a quem tanto esperamos, era a pergunta no ar?
A resposta estava pronta, mostrando que havia algumas principais correntes de interpretação entre os doutos, correntes essas que se espalhavam na opinião do povo: João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas… (v. 14). Mal sabia o povo que o Filho do Homem já andava entre eles a cerca de 30 anos, e pouquíssimos o reconheceram, dentre eles, alguns cegos, exatamente para mostrar que o real problema da humanidade não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual.
Continuando com a sua sutil e certeira pedagogia, Jesus faz, então, a pergunta que realmente interessa: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Observe que a associação é imediata: “o Filho do Homem” e quem “eu sou”.  Aqui está a primeira lição direta: Jesus é o Filho do Homem anunciado no Antigo Testamento.
Como é usual, Pedro sai na frente ao dar a resposta. É peculiar de Pedro adiantar-se em falar e agir. E a resposta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta é carregada de conceitos teológicos fundamentais que são trazidos pelos textos da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em resumo, Pedro faz uma associação teológica dizendo que o Filho do Homem é o mesmo Messias, que é o Cristo e que este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, afinal, era este homem que estava diante dos seus próprios olhos na região de Cesaréia de Filipe. A partir desta realidade, aprendemos alguns importantes princípios no diálogo que se desenvolve.
Princípio da Revelação
Na resposta do diálogo, Jesus mostra, então, o primeiro grande fundamento sobre o qual a sua igreja está firmada: a iluminação do Espírito Santo sobre a Revelação, ou como chamarei aqui, o Princípio da Revelação.  O Senhor Jesus diz que não foi carne ou sangue que fizeram Pedro reconhecer esta verdade revelada nas Escrituras e agora exposta diante de seus próprios olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma das fundamentais diferenças entre o cristianismo e outras religiões. A revelação que vem da parte de Deus e que corresponde à realidade dos fatos. Jesus é aquele que a Escritura diz que ele é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser. Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos aqui três ideias básicas. Primeiro, que a revelação passada se cumpre em Cristo, afinal, ele é o Messias prometido. Segundo, que a revelação presente, na encarnação do Filho do Deus vivo, é superior. Não no sentido de que a revelação anteriormente dada fosse imperfeita, mas agora, ela é completa e plena. Tudo o que Deus quis revelar, mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3; Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a iluminação individual é fundamental. O verso 17 nos ensina que Deus revelou a Pedro esta verdade. Os escribas, fariseus e todos os estudiosos da época tinham as mesmas fontes que Pedro tinha, mas foi Pedro quem conectou os pontos da revelação passada com a revelação presente diante dos seus olhos. Esta mesma verdade é viva hoje quando, pela iluminação do Espírito Santo, percebemos na Escritura a verdade de Deus. Crer na revelação da Palavra de Deus é uma bem-aventurança: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Sobre esta revelação é que a fé da Igreja deve ser fundamentada.
Princípio da Edificação
A resposta de Jesus a Pedro começou com uma troca de palavras: você disse que eu sou o Cristo, e eu digo, Simão Barjonas (Simão filho de Jonas), que você é pedra (o significado do apelido de Simão, Pedro). Jesus usa deste trocadilho para trazer à luz uma das mais importantes verdades a respeito da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (v. 18).
O catolicismo romano imediatamente interpretou o jogo de palavras, Pedro e pedra, como sendo a mesma palavra e nisto construiu a doutrina do papado, sendo Pedro o primeiro desta suposta sucessão. Mas há aí uma falácia. Quando Jesus diz “esta pedra”, não refere-se a Pedro, mas à verdade pronunciada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É sobre esta verdade que a Igreja irá subsistir, a obra do Filho de Deus. O próprio Pedro, refletindo sobre esta verdade, fala-nos em sua primeira epístola: “Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1Pe 2.6).
A grande lição aprendida aqui é que a Igreja de Jesus nunca poderá ser edificada sobre fundamentos humanos. Sempre que interferimos e nos colocamos no lugar do fundamento verdadeiro encontramos diante de nós uma igreja falsificada, trasvestida e irreconhecível como igreja de Cristo.
Princípio da Propriedade
Da mesma forma como a igreja não pode ter fundamentos lançados por homens, ela não pode ter homens como seus proprietários! No final do verso 18, o Senhor Jesus usa a expressão “minha igreja”. A igreja é dele, sua noiva, pela qual ele tem verdadeiro zelo e compromisso. Com base nesta verdade é que são feitas muitas promessas à Igreja e a respeito da Igreja, dentre elas, a de que vai ele apresentá-la sem mancha, ruga ou mácula.
O Senhor sabe que é necessário cumprir toda a sua obra pela Igreja, para que possa resgatá-la de forma completa. Por isto mostra aos seus discípulos:  “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Ele diz “minha igreja”  porque ele é o único dono dela, trabalhou até a morte para que pudesse comprá-la com seu sangue e ninguém mais pudesse clamar posse sobre ela e seus membros. A Igreja de Jesus não existiria como tal sem a sua morte e ressurreição, o que lhe dá completa posse dela.
Princípio da Autoridade
Por último, podemos perceber o princípio da autoridade de Cristo sobre a sua Igreja. Para demonstrar este princípio temos, em primeiro lugar, a afirmação desta autoridade: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18b). O conceito é, de certa forma, muito simples: o fato da Igreja ter a autoridade da revelação de Deus, ser a propriedade e a edificação de Cristo, não há nada neste mundo, nem o próprio inferno, que possa se colocar contra ela e vencer. Assim, a verdadeira Igreja de Cristo não tem o que temer; não há poderes que possam terminá-la, porque ela pertence a Cristo. Aliás, opor-se à obra de Cristo na Igreja é obra de Satanás e é por isto que Pedro é repreendido severamente ao opor-se, quando foi dito que era necessária a morte e ressureição do Senhor.
Por outro lado, a verdadeira Igreja trabalha como uma agência do céu aqui na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (v.19). Veja que o texto é muito claro em dizer que a ordem da ação de ligar e desligar começa no céu e é implementada na terra pela Igreja. Acredito que aqui temos o ensino claro, somado ao contexto de Mateus 18.15-18, onde aparece a mesma expressão, que a Igreja tem a obrigação de admitir e demitir aqueles que não cogitam das coisas de Deus. A Igreja tem a responsabilidade de abrir e fechar a porta para que as “portas do inferno” não operem dentro dela mesma. Logo, a Igreja na terra deve viver na busca de realizar a vontade soberana do Pai do céu.
E como, afinal, esta fé deve ser vivida aqui na terra?
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.  Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?  Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.  Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (16.24-28).
O que o texto nos mostra é que a vida de fé na igreja deve ser vivida em torno da cruz! É, com certeza, uma vida de negação dos padrões da individualidade egoísta para viver os padrões da vida do bem-aventurado. Da mesma forma como era necessário que o Senhor fosse a Jerusalém para passar pela cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a Jesus nos passos da ressurreição.
__________________________
Sobre o autor: Mauro Meister é graduado pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary e doutorado em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. É pastor da Igreja Presbiteriana Barra Funda, em São Paulo, presidente do Conselho de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana do Brasil e membro do Conselho Editorial da Cultura Cristã (Casa Editora Presbiteriana). Atua no campo da educação básica como Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI). É autor do livro “Lei e Graça” (2003) e de artigos na revista Fides Reformata, da qual é co-editor.
(Fonte)
Categorias
Cristo John Gill Santidade Vida cristã

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (John Gill)

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2.10)

Também nEle estais aperfeiçoados, ou “completos”, ou “preenchidos” nEle; que é, estão perfeitos nEle: os Santos estão em Cristo, e toda completude nEle está, assim estão eles cheios também, de tanto quanto eles necessitam, e são capazes de conter: Estas palavras não são uma exortação à perfeição, como as contidas em Ge 17:1 Mt 5:48 2Co 13:11; mas são uma afirmação, ratificando, não o que os cristãos serão daí em diante, ou o que serão no céu, mas o que são agora; não neles mesmos, porque em si mesmo ninguém é perfeito, nem mesmo aqueles que estão verdadeiramente santificados; entretanto toda a graça está seminalmente implantada neles, e eles tem uma perfeição de partes, de todas as partes do novo homem, ou nova criatura, e são perfeitos em comparação com o que antes foram, assim como ante os profanos e os hipócritas, e e também ante os que fraquejam na fé, ainda que ninguém seja absolutamente perfeito; a boa obra da graça não está finalizada neles, o pecado habita neles, estão cheios de desejos e concupiscências; o melhor deles nega a perfeição como buscam alcançar, e expressa seu desejo de alcançá-la; mas eles são perfeitos em Cristo, seu cabeça, que tem toda completude nEle, em quem eles são eleitos e aperfeiçoados: eles são perfeitos e completos nEle quanto a santificação; Ele tem toda completude de graça e santidade para eles, eles a tem em Cristo; e Ele foi feito perfeito em santidade para eles: também quanto a justificação, Ele cumpriu perfeitamente a Lei para eles, Ele fez completa expiação pelo pecado, obteve redenção eterna, adquiriu uma completa e perfeita retidão, pela qual os santos são justificados de todas as coisas; são libertos do pecado, e feitos perfeitos, sem mancha ou mácula, ou coisa semelhante: e quanto ao conhecimento, embora imperfeito neles em seu presente estado, já em Cristo estão todos os tesouros de sabedoria, e não há necessidade de ir a lugar algum outro para encontrá-los; eles estão preenchidos com o conhecimento de Deus e de sua vontade, e são completos em Cristo; e o conhecimento que os santos tem, é a vida eterna, as primícias, o penhor, e a fiança dela; assim eles não tem razão de contemplar anjos ou homens, cabe-lhes olhar somente a Cristo.

John Gill (1697-1771)

(Fonte)

Categorias
Amor Bíblia Cristo Estudo bíblico John MacArthur Modernismos Mundo Salvação Santidade Vida cristã

O verdadeiro amor (John MacArthur)

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.
“Tudo o que você precisa é de amor”, assim cantavam os Beatles. Se eles tivessem cantado sobre o amor de Deus, a frase revelaria uma certa verdade. Mas aquilo que a cultura popular diz ser amor, não se trata, na verdade, de um amor autêntico, é antes uma verdadeira fraude. Longe de ser “tudo o que precisa”, é algo que deve evitar a todo o custo.

O apóstolo Paulo fala-nos sobre esse tema em Efésios 5:1-3. Ele escreveu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos”.

A simples ordem do verso 2 (“E andai em amor, como também Cristo vos amou”) resume toda a obrigação moral do cristão. No fundo, o amor de Deus é o único princípio que define completamente o dever do cristão, e este tipo de amor é exatamente “tudo o que você precisa”. Romanos 13:8 diz, “porque quem ama aos outros cumpriu a lei”. Os mandamentos resumem-se a estas palavras: “Amarás o próximo como a ti mesmo, já que o amor é o cumprimento da lei.” Gálatas 5:14 ecoa a mesma verdade: “Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Da mesma maneira Jesus ensinou que toda a lei e profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor – o primeiro e o segundo mandamentos (Mt. 22:38-40). Em outras palavras: “e, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3:14).

Quando o apóstolo Paulo nos diz para caminhar no amor, o contexto revela-se em aspectos positivos, pois ele fala-nos sobre sermos bons uns para os outros, misericordiosos e que nos perdoemos uns aos outros (Ef. 4:32). O modelo de tal amor, mais centrado nos outros que em si próprio, é Cristo, que se entregou para nos salvar dos nossos pecados. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (João 15:13). E “amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.” (1 João 4:11).

Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega de nós mesmos, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benignas (ver 1 Co. 13:4-8) são as que as Sagradas Escrituras associam ao amor divino.

Mas reparemos no lado negativo, também visto no contexto de Efésios 5. Aquele que ama os outros verdadeiramente, como Cristo nos ama, deve recusar todo o tipo de amor falso. O apóstolo Paulo nomeia algumas destas falsidades satânicas. Elas incluem a imoralidade, a impureza e a ganância. A passagem continua: “Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros.” (Ef 5:4–7).

A imoralidade é, talvez, o substituto favorito do amor na nossa atual geração. O apóstolo Paulo usa o termo grego porneia, o qual significa todo o tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente desvanecer a linha que separa o amor verdadeiro da paixão imoral. Mas tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, porque procura a autogratificação em vez do bem aos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. O apóstolo Paulo emprega aqui o termo akatharsia, o qual se refere a todo o tipo de imoralidade sexual e impureza. Especificamente, ele refere-se à sujidade, à impureza e à ganância, que são as características particulares do companheirismo com mal. Este tipo de companheirismo não tem nada a ver com o amor verdadeiro, e o apóstolo afirma claramente que não tem lugar para ele no caminho do cristão.

A ganância é outra corrupção do amor que tem origem no desejo narcisista de autogratificação. É exatamente o oposto do exemplo que Cristo deu quando “se entregou por nós” (v. 2). No verso 5, o apóstolo Paulo compara a ganância à idolatria. Também isto não tem lugar no caminho do cristão e, de acordo com o verso 5, a pessoa culpada de tal pecado “não tem herança no Reino de Cristo e de Deus.”

E tais pecados, diz o apóstolo Paulo, “nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (v. 3). “Portanto, não sejais seus companheiros”, ou seja, daqueles que praticam tais coisas, diz-nos o verso 7.

Em outras palavras, não demonstraremos amor verdadeiro a não ser que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor.

Hoje em dia, a maioria das conversas sobre o amor ignora este princípio. “O amor” foi redefinido como uma ampla tolerância que ignora o pecado e que abraça o bem e o mal de igual forma. Mas isso não é amor, é apatia.

O amor de Deus não tem nada a ver com isso. Lembra-te que a mais suprema manifestação do amor de Deus é a Cruz, sinal que Cristo “vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” (V. 2). A Sagrada Escritura explica o amor de Deus em termos de sacrifício, de arrependimento pelos pecados cometidos e de reconciliação: “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1 João 4:10). Em outras palavras, Cristo converteu-se em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar os nossos pecados com uma tolerância benigna, Deus deu o seu Filho como uma oferta pelo pecado para satisfazer a sua própria ira e justiça na salvação dos pecadores. Este é o coração do Evangelho. Deus manifesta o seu amor de uma forma que confirma a sua santidade, justiça e misericórdia sem compromisso. O amor verdadeiro “não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.” (1 Co. 13:6). Este é o tipo de amor, no qual fomos chamados para caminhar. É um amor que primeiro é puro e depois, harmonioso.

Fonte: The Gospel Coalition

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

(Fonte)

Categorias
Cristo Deus Disciplina Encorajamento Espírito Santo Estudo bíblico Igreja Jonathan Edwards Oração Santidade Serviço cristão Vida cristã

Como se conduzir na caminhada cristã (Jonathan Edwards)

Carta de Jonathan Edwards a uma jovem, escrita no ano de 1741

Minha querida jovem amiga,

Como era do seu desejo que eu a mandasse, por escrito, algumas diretrizes em como conduzir-se a si mesma em sua Caminhada Cristã, agora o faço. As doces lembranças das coisas maravilhosas que vi em sua igreja inspiram-me a fazer qualquer coisa que estiver a meu alcance, contribuindo para a alegria e prosperidade espirituais do povo de Deus que aí está.

1. Aconselho-te a manter o esforço e o fervor na religião, como se estivesse em seu estado natural, procurando converter-se. Aconselhamos pessoas com convicção a serem fervorosas e violentas para o Reino dos Céus; mas elas não devem ser menos vigilantes, trabalhadoras e fervorosas na seara quando já convertidas, porém, ainda mais, pois há infinitas coisas a mais a se fazer. Por ser esta uma característica que nos falta, muitas pessoas, em poucos meses de conversão, começam a perder seu doce e vivo senso das coisas espirituais, crescendo geladas e em trevas, “desviando-se da fé e a si mesmos se atormentando com muitas dores” (1 Tm 6; 10), enquanto se tivessem atentado às palavras do apóstolo em Filipenses 3; 12-14, seus caminhos seriam como “a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4; 18)

2. Não deixe de procurar a Deus, de jejuar e orar pelas mesmas coisas que exortamos a pessoas não-convertidas a orar e jejuar, tendo você já passado por este processo. Ore para que seus olhos estejam abertos, para que receba a visão correta, conhecendo-te a ti mesma, e para seus pés descansem em Deus. Que você veja a glória de Deus e Cristo, e tenha o amor de Cristo derramado em todo o teu coração. Aqueles quem tem a muitas destas coisas, ainda assim precisam orar por elas, pois ainda há tanta cegueira, dificuldade, orgulho e corrupção, que necessitam ter o trabalho de Deus sobre eles a fim de receber luz e vida, sendo trazidos da escuridão para a maravilhosa luz de Deus, recebendo como que uma nova conversão e ressurreição dos mortos. Há poucos deveres convenientes a um não-convertido que também não o são, de certa maneira, para o povo de Deus.

3. Quando ouvir a um sermão, ouça por si mesma. Mesmo que provavelmente o que está sendo pregado seja para não-convertidos ou para aqueles que, de outras maneiras, estão em diferentes circunstâncias que você. Assim, deixe com que a principal intenção de sua mente seja a ponderação: em quais aspectos isto é aplicável a mim? E em que posso melhorar para o próprio bem de minha alma?

4. Apesar de Deus ter perdoado e esquecido seus pecados, não os esqueça: lembre-se sempre deles, de como era uma escrava sem esperança na terra do Egito. Traga à memória suas ações de pecado antes de sua conversão, assim como o apóstolo Paulo está sempre mencionando sua antiga atitude de blasfêmia, em que perseguia o Espírito e maltratava o povo de Deus, humilhando seu coração, dizendo ser “o menor dos apóstolos”, indigno de “ser chamado apóstolo”, “menor dos santos” e “o maior dos pecadores”. Confesse sempre seus pecados a Deus e deixe com que este texto esteja sempre em sua mente: “para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16; 63)

5. Lembre-se que você tem muito mais motivos para lembrar-se e humilhar-se dos seus pecados agora, desde que se converteu, do que antes. Tudo isso se deve a suas muitas obrigações para com a vida com Deus, olhando para os escolhidos de Cristo, amando sempre sua amabilidade, apesar de toda a sua falta de valor desde sua conversão.

6. Esteja sempre vigilante para com seu contínuo pecado e não pense que você se preocupa muito com ele. Ainda sim, não esteja desencorajada nem permita que ele anule seu coração, pois, apesar de sermos exageradamente pecadores, temos um Advogado com o Pai, a saber, Jesus Cristo, o Santo. O sangue cuja preciosidade, o mérito cuja retidão, a grandeza cujo amor e fé infinitamente sobrepujam as mais altas montanhas de nossos pecados!

7. Quando começar a orar, ou tomar parte na Ceia do Senhor, ou participar de qualquer outra atividade de adoração, venha a Cristo como Maria Madalena fez!  Venha, e coloque-se aos Seus pés, e os beije, derrame perante Ele o doce óleo perfumado de amor oriundo de um coração puro e quebrantado, como ela derramou o perfume precioso de sua jarra de alabastro! “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.” (Lc 7; 37-38)

8. Lembre-se que orgulho é a pior víbora do coração, o grande distúrbio da paz da alma e da doce comunhão com Cristo: foi o primeiro pecado e se encontra bem baixo na fundação da obra de Satanás, sendo muito dificilmente arrancado fora, pois é o mais escondido, secreto e arruinador de todas as luxúrias, inserindo insensibilidade no meio da religião e até mesmo sob a desculpa de humildade. “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.” (Pr 8:13)

9. Que você faça um correto julgamento de si mesma, vendo sempre nos outros as melhores descobertas, o melhor conforto, pois têm esses dois lados: uns te fazem menor e insignificante, como uma criança. Outros, animam e consertam seu coração em uma disposição firme em negar-se a Deus, passar tempo com Ele e por Ele.

10. Se em algum momento você se encontrar em dúvidas sobre o estado de sua alma, em partes escuras e sem sentido, é necessário rever sua experiência passada. Mas não invista muito tempo e esforços neste caminho. Ao contrário, disponha-se com todo o seu ser a procurar ardentemente uma nova experiência, nova luz, novas ações de fé e amor. Uma nova descoberta da gloriosa face de Cristo fará mais sobre aterrorizadoras nuvens negras do que examinar experiências passadas durante um ano, sob as melhores nuances que podem dar.

11. Quando pouco se exercita a graça e a corrupção prevalece juntamente com o medo, não tente tirar isto de seu coração de qualquer outra maneira além de reviver o amor a Deus. Assim, o medo será efetivamente expulso, como a escuridão desaparece de um quarto quando os deliciosos raios de sol penetram-no.

12. Quando aconselhar e alertar as pessoas, o faça com vontade e afeição, com firme convicção. Lembre-se que estará falando ao seu próximo deixando que suas palavras contenham expressão de sua própria pequenez, mas também da graça soberana que te faz diferente.

13. Se você organizar encontros devocionais com jovens mulheres como você, uma vez a cada certo tempo, além de participar de outros encontros gerais, será muito proveitoso e útil.

14. Em quaisquer dificuldades, necessidades ou longos períodos de escassez, qualquer caso específico, para você ou outros, separe um dia para oração secreta e jejum. Gaste o dia, não tão somente pelas petições que faz, mas procurando seu coração olhando para sua vida, confessando seus pecados perante Deus. Não como se costuma fazer quando se ora publicamente, mas como um resumo a Deus de todos os pecados de sua vida, desde a infância, antes e depois da conversão, incluindo as circunstâncias e decaídas em relação a eles, apresentado diante d’Ele todas as particulares abominações de seu coração da maneira mais completa possível.

15. Não permita que os adversários da cruz reprovem a verdadeira religião. Quão retamente deveriam se comportar os filhos remidos e amados do Filho de Deus! Ainda, “caminhem como filhos da luz e do dia” e “adquira a doutrina de Deus seu Salvador”. E, especialmente, pondere sobre as virtudes cristãs que te fazem parecida com o Cordeiro de Deus. Seja humilde e submissa de coração, pura, celestial, amando a todos. Faça atos de amor aos outros e auto-negação pelos outros. Que haja em você uma disposição em pensar sobre os outros maior do que em você mesma.

16. Na sua vida, caminhe com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e desprotegida criança tomando a mão de Cristo. Mantenha seus olhos nas marcas das feridas em Suas mãos e lado, donde veio o sangue que te purifica do pecado, escondendo sua nudez nas vestes brancas celestiais.

17. Ore frequentemente pelos ministros da igreja de Deus, especialmente para que Ele continue seus glorioso trabalho que tem começado, até o dia da terra estar cheia de Sua glória.

FONTE: http://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm

Tradução: Projeto Castelo Forte

(Fonte)

Categorias
Bíblia Criação Cristo Deus Estudo bíblico Evangelho

As gêneses do Gênesis

Apreciação da estrutura e da teologia do primeiro livro do cânon veterotestamentário

I.    Introdução
Gênesis (palavra grega que significa origem) é o nome dado pelos tradutores da Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento, conhecida como LXX) ao primeiro livro da Bíblia.  Na Bíblia Hebraica, o livro de Gênesis (que está nessa mesma ordem, sendo o primeiro – o que não acontece com outros como Malaquias, por exemplo, que não é o último como nas nossas Bíblias) recebe como título a primeira palavra do livro: “No princípio” (bereshith).  Nele, temos o relato da origem do Universo e do ser humano, da obra criativa de Deus, da drástica queda do homem, contendo biografias que tecem a origem do povo de Deus.

Gênesis possui uma extensão histórica que começa com a criação do Universo e do homem e termina com a morte de José, filho de Jacó.  Geograficamente, o livro abrange desde o vale da Mesopotâmia, o “berço” da raça humana, até o vale do Nilo no Egito, o “berço” da raça hebraica.  Essa área, com uma configuração crescente, é conhecida e chamada de “Crescente Fértil”.

O fato mais antigo do Gênesis, a criação, conforme cálculo feito pelo rabino José ben Halafta em cerca de 125 d.C., é remontado ao ano 3.760 a.C. (Louis Finkelstein, “The Jews” – Os Judeus – Vol II, p. 1786).  Porém, o Arcebispo James Ussher, data a criação em 4.004 a.C. Já mais recentemente, Stanley A. Ellisen estruturou a cronologia de Gênesis a partir de 4.173 a.C. Tal variedade de sistemas cronológicos deve-se a questões exegéticas, das quais não temos tempo para tratar aqui e nem seriam relevantes para nossa reflexão.

II.    Estrutura de Gênesis
O material literário de Gênesis está acomodado em dez partes ou seções, que são introduzidas pela palavra hebraica tôledôt, traduzida como “história das origens” ou “descendentes” ou “gênese” ou “genealogia” etc. Com exceção do primeiro relato, que é o das “origens do céu e da terra”, os outros nove levam o nome das pessoas, contando suas histórias subseqüentes, sem se preocupar necessariamente com a origem das mesmas.  Derek Kidner diz que essa expressão em Gênesis sempre visa o futuro, introduzindo um novo estágio do livro.  Contudo, P.J. Wiseman argumenta que é sempre uma conclusão.  Não se deve ser tão rígido nesta questão, pois tôledôt pode ser aplicável em Gênesis tanto ao passado (parece ser o caso de 2.4) quanto ao futuro (parece provocar menos anomalia nos outros nove casos).

Trata-se de pequenas histórias, que às vezes se estendem em função de detalhes como no caso da de Jacó expressa em José que ocupa desde o capítulo 37 até o 50.  Essas histórias são de pessoas que fazem parte de famílias que, num dado momento histórico, obtém a atenção do relato revestindo-se de importância no meio em que estão vivendo por estarem também inseridas no programa histórico da aliança divina.  No entanto, essa diversidade de relatos não deve ofuscar nossa visão com respeito à unidade do livro. Observar essa estrutura com base no tôledôt é útil para a correta interpretação do Gênesis, pois revela o “desenho do texto”, mas não se deve desprezar o todo composto por essas partes.  Portanto, vamos a elas:

1. A Gênese dos céus e da terra:
A expressão aparece a em 2.4 e o relato vai até 4.26.  Se partirmos do pressuposto de que tôledôt pode ser flexível entre introdução e conclusão, essa parte começa em 1.1.  Essa porção narrativa descreve a criação do Universo em seis dias, a formação do homem e, posteriormente, da mulher.  O capítulo 3 revela como o mal, na figura da serpente sagaz, entrou na criação de Deus e tentou o homem a se rebelar contra a vontade do Criador.  O capítulo 4 demonstra como a maldade se espalhou rapidamente a ponto de Caim e Abel, os dois irmãos filhos de Adão e Eva, travarem um conflito que culminou com o assassinato de Abel. Não se deve deixar de notar que essa parte termina informando que “nessa época começou-se a invocar o nome do Senhor” (4.26 – conforme tradução da NVI).

2.  A Gênese de Adão:
Essa parte vai desde 5.1 (introduzido com a expressão tôledôt) até 6.8, traçando as gerações desde Adão até Noé.  Um tema notável desse relato é a “morte”, pois todos os homens aqui nomeados morreram, com exceção de um que “andou com Deus”: Enoque (5.22-24).  O desfecho do relato registra a corrupção na qual gradativamente os descendentes de Sete se envolveram.  É a maldade inicial que continua a se expandir. O mal incipiente foi encontrando recipiente favorável para se proliferar. Todavia, em 6.8, Noé é apontado como um que achou graça diante de Deus!

3.    A Gênese de Noé:
Começando em 6.9 (tôledôt) até 9.29, esse relato nos dá uma dupla e surpreendente mensagem concernente à justiça e a graça de Deus.  Fora da Arca o dilúvio destruía toda vida, mas dentro da Arca uma família era preservada, porque “Noé andava com Deus” (6.9).  O mesmo dilúvio universal, que trouxe o juízo divino sobre o pecado e a dura incredulidade, revelou também a graça de Deus ao salvar da morte e da destruição a Arca com sua carga preciosa: um homem, acompanhado de sua família, que alcançou graça diante de Deus.

4.    A Gênese dos filhos de Noé:
Com início em 10.1 (tôledôt) e se estendendo até 11.19, descreve a distribuição dos três filhos de Noé em várias nações e idiomas.  Este quadro examina o mundo das nações que foram conhecidas do antigo Israel. Aquelas nações que o povo escolhido de Deus teve maior contato são descritas com detalhes.  Concluindo esse relato, aparece a dispersão em Babel demonstrando que aqueles que buscaram sua própria glória em lugar de glorificar o nome de Iahweh (Javé) caíram outra vez no juízo de Deus.

5.    A Gênese de Sem:
Esse curto relato que vai de 11.10 (tôledôt) ao verso 26, traz a genealogia de Sem a Terá, pai de Abrão.  Sua importância está fora dele mesmo e se dá ao apontar para a origem do pai de Abrão e fazer a ligação deste com Sem e, conseqüentemente, com Noé e sua ascendência. Abrão será uma figura importante no relato seguinte de Gênesis e colocá-lo em “cena” sem revelar seu “berço” seria a criação de um hiato na história dos patriarcas.

6.    A Gênese de Terá:
Constitui um dos maiores relatos, ocupando o espaço entre 11.27 (tôledôt) e 25.11, cobrindo quase um quarto do livro de Gênesis.  Registra a história da escolha de Abrão e da promessa feita a ele de que seria uma grande nação.  Abraão é desafiado a confiar completamente na promessa de Deus, mas concorda com Sara, sua esposa, e tem um filho com Hagar – a quem chama Ismael – por causa da aparente demora de Deus em cumprir sua promessa. Dentro desse relato há a descrição do nascimento de Isaque e da prova a qual Deus submeteu Abraão, pedindo-lhe que lhe oferecesse seu filho em sacrifício (Gn 22).  O relato encerra-se com a morte do agora chamado “Abraão” demonstrando que, após sua morte, a promessa da benção é passada ao seu filho Isaque (25.11).

7.    A Gênese de Ismael:
Um curto relato de 25.12 (tôledôt) a 25.18; na verdade, o mais curto dos dez relatos.  O verso 12 deixa claro que este filho de Abraão é com Hagar “a serva egípcia de Sara”.  Trata-se de uma linha secundária na história da graça salvadora de Iahweh.  Esses sete versículos documentam como Deus cumpriu a sua promessa de que multiplicaria a descendência de Ismael (cf. 16.10).

8.    A Gênese de Isaque:
Razoavelmente extenso esse relato, que se inicia em 25.19 (tôledôt) e se estende até 35.19, apresenta as gerações que se seguiram a Abraão, através da família de Isaque.  Diferente de seu ilustre pai, Isaque foi de uma natureza tranqüila e introvertida e sua esposa, Rebeca, embora estéril fora agraciada com filhos gêmeos: Esaú e Jacó.  Desde antes do nascimento, o relato aponta para um conflito existente entre eles.  No desenrolar da história (de uma forma intrigante e atraente), Jacó – que seria o mais novo, pois nascera minutos após Esaú – obtém o direito de primogenitura e a benção de Isaque, tendo seu nome trocado para Israel.

9.    Gênese de Esaú:
Esse relato que começa em 36.1 (tôledôt) e se encerra em 37.1, concentra sua atenção nos descendentes de Esaú e, aparentemente, quer justificar a existência de Edom ao revelar a origem deste povo vizinho de Israel, que reaparecerá em outras partes da literatura do Antigo Testamento.

10.    Gênese de Jacó:
Este é o último e o maior de todos os relatos.  Começa em 37.2 (tôledôt) e vai até o último versículo de Gênesis em 50.26.  A história é de Jacó, mas quem ocupa boa parte da cena (quase toda!) é José, um de seus doze filhos.  Este é o registro da forma misteriosa como Deus usou a maldade dos irmãos de José para levar adiante seu plano para a nação que havia escolhido e que paulatinamente vai surgindo no cenário da história.  Aqui se tem a explicação de como o povo de Deus se estabeleceu no Egito e arma o cenário para o livro do Êxodo.

III.    Teologia do Gênesis
Em Gênesis encontramos material suficiente para discorrer acerca de vários pontos da teologia sistematizada.  No entanto, analisemos aqui as contribuições de Gênesis para a Teologia Própria – Deus, a Antropologia – o homem e a Soteriologia – a salvação.

1.    Teologia Própria
O Livro do Gênesis começa apresentando Deus sem, contudo, justificar sua origem ou existência.  Em Gênesis, Deus existe e o que não existe Ele vai criar!  O Livro não se propõe a responder todas as perguntas humanas acerca do Criador, mas O revela como pessoal, enfatizando o persistente interesse de Deus por relações pessoais com os seus servos.  Ele é único, Criador e Senhor Soberano sobre tudo o que existe.  Em Gênesis a questão de outras divindades não aparece, exceto no episódio de Labão (31.19,30,34; 35.4) onde há breves menções à ídolos ou deuses. Ele é responsável pelas “macro-ações”, como a criação de todas as coisas e o surgimento dos povos, mas também pelas “micro-ações” como a concepção de uma criança ou a chamada de um seguidor.  Deus é o regente capaz de pôr em ordem as situações mais intratáveis (cf. 45.5-8), sendo juiz amoroso cujos juízos são suavizados pela misericórdia (hesed) (cf. 3.21; 4.15; 6.8; 18.32, 19.16,21) e, às vezes, tarda para sobrevir (cf. 15.16).  Sua justiça contém amor e seu amor inclui exigência e excelência morais.  Em Gênesis, Deus é sempre Aquele que se dá, em alguma medida.  Neste livro, Ele é conhecido por muitos nomes: Iahweh; Elohim; El.  Alguns são títulos que exprimem facetas de seu ser como Altíssimo (14.18-22), Todo-poderoso (17.1), etc. Outros comemoram um momento especial de encontro, como Deus que vê (16.13), Deus de Israel (33.20), Deus de Betel (35.7).  Ainda outros declaram uma idéia de relação como Deus de Abraão (28.13); Temor de Isaque (31.42, 53), Poderoso de Jacó (49.24).

2.    Antropologia:
Gênesis apresenta a formação do homem, sua vocação, sua queda e sua situação em conseqüência da queda.  Na literatura de Gênesis o homem é um ser social que vive dentro de certo padrão de responsabilidade, isto é: na dimensão das coisas – onde seu dever é cultivar e guardar seu meio ambiente imediato e dominar e encher a terra; na dimensão das pessoas – onde o companheirismo é visto como uma necessidade primária do homem e alvo da atenção de Deus ao prover companhia complementar para o homem, bem como demonstrar as relações familiares ameaçadas por tensões motivadas pelo egoísmo e inveja; e na dimensão da autoridade – onde a responsabilidade de governar confiada ao homem tem por finalidade a ordem e o bom andamento de todas as coisas.

3.    Soteriologia:
Gênesis aponta a graça que, longe de ser mera resposta ao pecado, é fundamental para a própria criação.  A entrada do pecado põe em cena muitos aspectos da graça, ao revelar os meios e os modos que Deus se utilizou para preservar a humanidade e levar certos homens a entrarem em aliança com Ele, por meio dos quais abençoaria finalmente o mundo todo (cf. 18.18).  Deus, em Gênesis, restringe a corrupção e a anarquia produzidas pelo pecado, como no caso do dilúvio, da Torre de Babel e na decadência de Sodoma.  Num livro considerado tão antigo e com características primitivas, a obra salvadora de Deus não é menos completa nem menos variada.  É Ele, e não o homem, quem busca.  Aquela expressão pós queda “Adão, onde estás” (3.9) ecoa por todo o livro.  A salvação é muito mais que simples aceitação, é uma intimidade com o céu, de matizes tão variados como os personagens que a desfrutam; uma relação assumida e firmada numa aliança, na qual Deus prometia ser o Deus da descendência deles.

IV.    A Relevância de Gênesis para o Corpo Literário Neo e Veterotestamentário
O relato de Gênesis é de extrema relevância para a compreensão do Antigo e Novo Testamentos.  Há contribuições singulares como as que se seguem:

1. A apresentação de Deus como Soberano:
Deus é o criador e nada revela sobre sua origem ou passado, apenas surge da eternidade misteriosa para iniciar a sua obra de criação. A soberania de Deus é uma grande tônica no livro.

2.    Um registro específico das Origens:
Embora se tenha encontrado documentos antigos com vagos relatos sobre a criação do homem, nenhum deles, remotamente, pode ser comparado ao registro simples, específico e majestoso do Gênesis.   Sem esse registro não teríamos uma visão objetiva de como o mundo começou, de como as várias formas de vida tiveram seu início, da verdadeira origem do homem, de como entrou o pecado na história da humanidade, de como as várias raças foram formadas e por que os idiomas são variados.

3.    O Pecado original:
Gênesis demonstra claramente que Deus não criou o pecado e o mal, e o pecado não ficou inativo nem permaneceu apenas como um defeito de menor importância.  O livro descreve como o pecado foi se multiplicando e o resultado descrito em 6.11-12 é demonstrado em vidas e famílias no decorrer do relato (cf. 19.31-36 – as filhas de Ló).

4.    Julgamentos sobrenaturais:
A revelação de Deus como justo juiz em Gênesis é indiscutivelmente relevante para as Teologias veterotestamentária e neotestamentária.Os vários julgamentos, como a maldição após a queda, o dilúvio, a confusão de idiomas em Babel, a destruição de Sodoma e Gomorra, retratam a intolerância de Deus para com o pecado e a rebelião.

5.    O proto-evangelho:
A promessa divina de redenção descrita em 3.15 é uma descrição resumida do plano divino para resgatar a humanidade.  Isso é plenamente compreendido no Novo Testamento, onde entendemos que a vinda de Jesus não é um “arranjo” divino para uma situação que fugiu do seu controle, mas o cumprimento de promessas tão primevas quanto a criação do próprio homem.

6.    O conceito de Aliança:
A Chamada aliança Abraâmica é a base de todo o programa divino para a humanidade e reportam-se a ela vários autores da literatura canônica. Traria sérias dificuldades à exegese das outras alianças descritas nos relatos bíblicos se houvesse a inexistência do relato desta aliança.

7.    Cristologia:
Ainda que veladas à mente secular, há referências cristológicas sutis no relato do Gênesis.  A referência ao descendente da mulher (3.15), a semente de Abraão (12.3) e a um “Leão” da tribo de Judá (49.9-10) apontam para o Jesus do Novo Testamento, além das referências ao Anjo do Senhor que precisam ser intensamente estudadas e analisadas para ser corretamente identificadas como manifestações de Deus na terra, o que confirmaria o Jesus pré-existente (ou pré-encarnado).

Assim sendo, Gênesis constitui-se de suma importância para o estudo das Escrituras Sagradas em função de suas informações cósmicas, étnicas, históricas, religiosas e proféticas.

____________________________

Referências Bibliográficas:
ELLISEN, Stanley A. “Conheça Melhor o Antigo Testamento” – Editora Vida, São Paulo.SP, 1991. 371p.
JESKE, John C. “Gênesis” – Editorial Northwestern, Milwaukee, Wisconsin USA, 1996. 402 p.
KIDNER, Derek “Gênesis: Introdução e Comentário” – Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo.SP, 1991. 208p.
RAD, Gerhard Von. “Gênesis: A Commentary” – SCM Press LTD. USA, 1972. 440 p.
SCHMIDT, Werner H. “Introdução ao Antigo Testamento” – Editora Sinodal, São Leopoldo.RS, 1994. 395p.

(Fonte)

Categorias
Cristo Encorajamento Evangelho Modernismos Mundo Paul Washer Salvação Vida cristã

Mensagens da conferência Juntos em Cristo 2012

A Editora Fiel colocou à disposição o áudio das mensagens da Conferência Fiel 2012 e da conferência Juntos em Cristo 2012.

As mensagens podem ser baixadas e distribuídas gratuitamente. Sua comercialização é proibida.

Categorias
Cristo Encorajamento Escatologia Irmãos Salvação Vida cristã

Nossa vocação

A vocação é celestial (Hb 3.1), indicando que nossa profissão [de fé] não é terrena, não está ligada a casas religiosas terrenas, mas somos membros da casa celestial sobre a qual Jesus está no controle.

A vocação é santa (1Pe 1.15). Deus é quem nos chamou a Sua família, para que, como participantes da natureza divina, possamos evidenciar por nosso testemunho que temos algo de Deus, não somente em nós, mas demonstrado por nós. Portanto, somos diferentes e separados para viver vida santificada.

A vocação é de esperança (Ef 1.18). O futuro que Deus nos tem reservado é eterno, e será desfrutado não somente por nós, mas também por Deus mesmo. Pense não somente no que nossa herança é para nós, mas também no que ela significa para Deus, eternamente. Os dons e a vocação de Deus nunca são cancelados nem revogados. A herança está reservada no céu para nós (1Pe 1.4).

A vocação é soberana (Fp 3.14). Paulo se esforçava física e mentalmente, e pessoalmente afastava todo tipo de vantagem ou desvantagem terrena, e simplesmente prosseguia para o grande prêmio, a “soberana vocação” (Fp 3.20). Nós esperamos o Salvador (não o Juiz), o Senhor Jesus Cristo, o qual mudará nosso corpo limitado e o transformará em corpo glorioso e ilimitado. Que futuro glorioso aguarda cada um dos santos!

(G. Waugh, Comentário Ritchie, II Pedro. Edições Cristãs, pp. 286, 287)

Categorias
Bíblia Cristo Encorajamento Modernismos Oração Paul Washer Vida cristã

Mensagem de Paul Washer

Categorias
Cristo Cruz Deus Encorajamento Paul Washer Vida cristã

Meu povo está sendo destruído… (Paul Washer)

Categorias
Cristo Encorajamento Irmãos Oração Vida cristã

Jesus orava (M. Wolfinger)

A vida do Senhor Jesus na Terra era vivida em comunhão contínua com Seu Deus e Pai. Essa comunhão se manifestava numa perfeita dependência, cuja expressão era a oração. “Orando”: este era o sinal distintivo do Senhor como homem na Terra, e disso dão freqüente testemunho os Evangelhos. Somente no Evangelho de Lucas nós O encontramos sete vezes em oração. Nenhum homem foi tão constante na oração; e, no entanto, Ele era Deus e, como tal, não necessitava depender dela. Mas, como homem perfeito na Terra, se dirigia a Deus em oração como nenhum outro.

Quanto regozijo Deus teve e quão honrado Ele foi ao ver SEu Filho na Terra, no meio da humanidade que se havia desviado Dele e se corrompido! (Veja Sl 14.3.) O profeta Isaías compara este mundo a uma terra seca, que não pode produzir nenhum fruto para Deus. No entanto, nesse terreno estéril devia brotar um “renovo”, uma “raíz” (53.2). Como isso aconteceria? Pela vinda do Senhor Jesus, o santo servo de Deus, o único homem que produziu um fruto perfeito para Deus. Esse santo servo tinha uma vida de oração e de inteira dependência de Deus.

Ficamos admirados quando vemos que o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, se consagrou a Deus em oração como nenhum outro o fez. É uma verdade que nos assombra e que nos mostra que Jesus tomou perfeitamente a condição humana sendo ao mesmo tempo Deus.

Os próprios discípulos, que foram seus companheiros de caminho a cada dia, ficaram impressionados com essa vida de oração sem igual. Lucas indica isso ao relatar o pedido que um deles fez ao Senhor: “Senhor, ensina-nos a orar” (11.1). Desejam orar como seu Mestre orava, reconhecendo que, por si mesmos, não eram capazes. Não deveria ser este também nosso desejo a fim de nos parecermos mais com nosso Senhor a esse respeito?

Habitualmente, o Senhor se retirava para um lugar isolado ou aproveitava a tranqüilidade da noite para estar a sós com Deus e orar. Os discípulos sabiam que Ele orava, mas sabiam muito pouco do conteúdo de Suas orações. Os Evangelhos muito raramente relatam as palavras que o Senhor pronunciou nestas ocasiões. Encontramos algo em LUcas 22 e em João 17.

Entre as preciosas passagens que relatam as palavras do Senhor em Suas orações, podemos mencionar o salmo 16. É certo que é Davi quem se expressa ali, mas o apóstolo Pedro indica, em Atos 2, que essas palavras podem ser postas na boca de nosso Senhor (vv. 25-28).

Vejamos por um momento o início desta oração: “Guarda-me, ó Deus, porque em Ti confio” (Sl 16.1). Que motivo de adoração e, ao mesmo tempo, de humilhação para nós ver como o Senhor se confiava ao cuidado de Deus! Aquele que era absolutamente sem pecado e que não tinha nenhuma fraqueza — como nós tão freqüentemente temos — pedia, no entanto, que Deus O guardasse. Com uma profunda dependência Ele se confiava a Deus. Que maravilha!

“Porque em Ti confio.” O fundamento de Seu pedido era a confiança plena no poder do Deus Forte (ver 22.19) que pode guardá-Lo. Essa confiança de nosso Senhor era tão grande que os homens, até mesmo Seus inimigos, puderam vê-la e dela testemunhar quando Ele estava na cruz: “Confiou em Deus” (Mt 27.43).

Que exemplo para nós que, muitíssimo mais que Ele, necessitamos do cuidado de Deus e da dependência que se expresssa na oração!

(Traduzido por Francisco Nunes da revista Creced, n. 2/2012. Esse texto pode ser divulgado livremente, desde que não usado para fins comerciais, não seja alterado e seja mantida a informação sobre sua fonte.)

Sair da versão mobile