Categoria: Salvação
Não podemos
Entrar no descanso de Deus
O primeiro dia de Adão nesta Terra foi um sábado. Deus criou o homem no sexto dia, e o primeiro dia completo que o homem teve foi o sábado, que se tornou o primeiro dia para ele. Considerado no Novo Testamento ― em que Deus termina e aperfeiçoa Sua nova obra de criação no Senhor Jesus e entra em Seu descanso –, é o sábado de Deus, e lá nós começamos. Aquele é nosso primeiro dia: o descanso de Deus.
Começamos em algo que já é perfeito. Essa é a base do “pacto eterno”. Alcançar o significado disso é ver o que é o “pacto eterno”, é começar sobre a base perfeita e crescer a partir dela. O que importa não é como nos vemos ou como nos sentimos a esse respeito, mas é o lugar de Deus para nós. O fato é que em Jesus Cristo você e eu nunca seremos mais perfeitos do que somos agora. Esses aperfeiçoamentos podem ser lavrados em nós progressivamente; entretanto, no que diz respeito à base de nossa aceitação, somos “aceitos no Amado” (versão King James), e Ele satisfaz completamente ao Pai, que veio a descansar Nele. Essa obra é perfeita.
Nossa aceitação está sempre fundamentada em o objetivo de Deus ter sido alcançado. Até que isso esteja bem estabelecido, não temos nada em que nos firmar quando Deus começar a trabalhar em nós. Não se esqueça disso. Se, quando Deus começa a lidar conosco em disciplina e castigo, em treinamento, moldagem e formação, passamos em dado momento qualquer a dizer: “Isso está acontecendo porque sou tão mau, tão perverso, e o Senhor tem de fazer algo comigo para que eu seja aceitável”, então, já abandonamos nossa base. Nunca seremos mais aceitáveis; no entanto, Deus faz muito em nós. Fomos aceitos, não com base no que somos – não importando quão bons ou maus fôssemos –, mas com base no Amado. “Aceitos no Amado.”
Nós cantamos – e eu desejo que isso habite mais e mais profundamente em nosso coração – que Suas perfeições são a medida de nossa própria aceitação. É ali que começamos. Bendito seja Deus, que essa é a base de confiança! E, quando o Senhor começa a nos tomar em Sua mão e sentimos quão abomináveis criaturas somos, isso nunca implica por um instante sequer que não sejamos aceitos. O pacto eterno significa aqui, em primeiro lugar, que somos aceitos com base na satisfação de Deus com Seu Filho. Se fôssemos aceitos com base em nós mesmos, e permanecêssemos em nós mesmos, não haveria pacto eterno e absolutamente nenhuma base segura. Tudo dependeria de como estivéssemos a cada dia. Mas não, a questão não é quem somos ou seremos. A base está firmada em Cristo. Deus está apenas trabalhando para tornar real em nós o que é verdadeiro em Seu Filho, mas Ele não muda a base para isso. Que não abandonemos nossa base.
(Publicado em 2.8.14. Atualizado em 26.4.18)
Esaú e a primogenitura
Que os santos podem se tornar culpados de fornicação é algo fora de qualquer dúvida; isso é confirmado tanto por tristes fatos quanto pelas Escrituras. “E chore por muitos que dantes pecaram e não se arrependeram da imundícia, e prostituição e lascívia que cometeram” (2Co 12.21). Qual será, então, o resultado de tais pecados cometidos após a fé e a confissão do nome de Cristo? Eles não afetarão a posição da parte culpada no futuro? Não existe nenhuma punição além da frieza e da morte espirituais agora? A Escritura nos dá um testemunho bastante diferente. Ela nos assegura que os tais, embora sejam salvos no final, não terão nenhuma parte no reino de mil anos do Salvador. “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9,10). “Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus” (Ef 5.5). O reino mencionado como sendo de Cristo (ou Messias) demonstra ser o reino temporário que Jesus receberá como Filho de Davi, o Messias dos judeus.
Parece que até mesmo punição positiva será aplicada aos santos culpados desse pecado. “Porque esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus. Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo” (1Ts 4.3-8). “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição e aos adúlteros, Deus os julgará” (Hb 13.4)
A ira de Deus contra este pecado foi vista em Seu tratamento a ele dado sob a lei, conforme nos foi indicado no resumo de Paulo a respeito dos caminhos do Senhor com relação a Seu povo do passado (1Co 10). Moisés, da mesma forma, observa este ponto, quando recorda aos israelitas os tratos do Senhor com eles: “Os vossos olhos têm visto o que o Senhor fez por causa de Baal-Peor; pois a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor, teu Deus, consumiu do meio de ti” (Dt 4.3).
Esaú é caracterizado como “profano”, e sua história confirma de modo real e completo a acusação. Ele “vendeu o seu direito de primogenitura”. O que estava contido no “direito de primogenitura” não está esclarecido em cada ponto. Sob a lei, uma porção dobrada das posses do pai pertencia ao primogênito (Dt 21.17). E, quando o pai era um rei, o reino era, naturalmente, dado a ele, a menos que o Senhor, como Governador Supremo, se agradasse em ordenar de outra forma (2Cr 21.3). Porém, no caso de Esaú, podemos ver o que ele perdeu, observando o que Jacó se tornou posteriormente. O Altíssimo inseriu o nome de Jacó em Seu próprio nome. Jeová era “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”. Freqüentemente Ele é chamado apenas de “o Deus de Jacó” ou “o Deus de Israel”. Tal glória, então, foi rasgada de Esaú, o profano. De Jacó também nasceram os doze patriarcas e o próprio Messias. O reino de Deus é fundado na base das doze tribos, e o nome delas está eternamente gravado nos portões da cidade eterna de Deus. Desistir das vantagens espirituais em troca daquelas que são terrenas é o ganho da profanação; e deste crime Esaú se tornou culpado ao vender seu direito de primogenitura.
Mas ele foi ainda mais culpado por ter aceitado em troca uma insignificante remuneração de categoria humana. Foi uma “única refeição”. Se ele tivesse exigido que Jacó o sustentasse durante toda a vida, como pagamento por sua rendição, teria sido profanação. Mas, desfazer-se do direito de primogenitura pela gratificação de uma hora, foi o extremo da profanação. Sua referência a tal direito revela desprezo enquanto efetua a venda: “Eis que estou a ponto de morrer; para que me servirá a primogenitura?” (Gn 25.32). Os homens em geral apregoam o valor dos bens que estão para vender; mas o próprio Esaú deprecia a primazia daquilo que estava para lançar fora. Ele o vendeu também com um juramento recorrendo a Deus para dar testemunho à ímpia transação (v. 33). Observe outro agravante do pecado! Levando em consideração a venda, o Espírito Santo acrescenta: “E ele comeu, e bebeu, e levantou-se e saiu” (v. 34). Ele foi cuidar das suas obrigações rotineiras quando terminou a refeição, como se nada de importância particular tivesse acontecido.
Observe, entretanto, a extensão do pecado. Não foi por ter caído em idolatria, ou por ter renunciado a Deus de seu pai, que Esaú perdeu seu direito de primogenitura. Também não foi por ter repudiado Isaque como pai. Isaque ainda o reconhecia como filho, embora fosse forçado a reter a bênção do primogênito. O exemplo de Esaú é, portanto, uma lição para o crente, para alguém que será reconhecido por Deus como Seu filho no dia da recompensa.
O desfecho do caso é transformado em aviso para nós. Esaú, por fim, desejou a bênção. Quando seu pai estava para concedê-la, ele se empenhou em consegui-la, mas foi negada a ele pela providência de Deus. (Não temos necessidade de defender a conduta de Jacó, tanto pela compra do direito de primogenitura como pela tentativa de obtê-lo fraudulentamente. Isso foi incorreto à vista de Deus e, como tal, foi punido. Mas este não é o ponto de que estamos tratando agora.)
O Senhor susten
Mas como o exemplo se aplica a nós, cristãos?
Uma conduta profana, como a de Esaú, causará a perda do direito de entrar no reino, que é o direito de primogenitura a nós proposto. Podemos trocar a bênção futura espiritual pelo presente e terreno. Em milhares de casos, essa venda profana tem acontecido, e até o dia presente é negociada das mais variadas formas:
- Um ministro crente vê que tais e tais doutrinas e práticas de sua denominação não têm apoio nas Escrituras. Elas ferem muito sua consciência. Mas o que ele fará se desistir de seu posto atual e dos benefícios que tira dele? Que proveito seu direito da primogenitura terá para ele, caso tenha de entregar sua posição atual e seu sustento? Assim argumenta sua incredulidade. E, sob a influência de tal motivo sem valor, ele continua numa posição que acredita ser pecaminosa. Em que tal procedimento difere do de Esaú? Em princípio, nada. Os benefícios mundanos que essa pessoa recebe por manter sua posição de infidelidade são como um prato de lentilhas e representam o preço que recebe pela venda de seu direito de primogenitura. Daí em diante, Deus o prenderá a sua barganha.
- Eis um negociante cristão. Ele descobre que algumas de suas práticas comerciais não são cristãs, e sim malignas. Mas como poderá agir de forma diferente de seus vizinhos incrédulos? Se ele deseja fazer fortuna, como é o caso deles, deve agir como eles; caso contrário, será deixado para trás na competição. Ele persevera em tais feitos, até que sua consciência se torna calejada. Que diremos, então? Não é a profana barganha de Esaú que se repete? Se esse homem recebe a realidade da troca ou não, Deus o prenderá à troca feita. Eles receberam suas boas coisas agora e as obtiveram pelo sacrifício dos interesses espirituais. Quando, portanto, vier o tempo da recompensa, sua venda real será lembrada. Foi uma barganha real, embora não tenha sido formal. Ela procede de pensamentos vulgares da prometida glória de Deus. É como o desprezo de Esaú pelo direito da primogenitura, manifestado em suas ações.
- Para esses, o dia da recompensa apresentará novamente a cena entre Esaú e seu pai. Esaú, apesar da venda e do juramento, ainda esperava receber plenamente a bênção do primogênito. Finalmente, quando rejeitado, podemos ouvi-lo falar como alguém que tivesse sido roubado naquilo que lhe era devido. Mas o Senhor cuidou para que ele fosse rejeitado. Assim serão tratados todos aqueles cristãos que, como Esaú, se mantém presos a suas trocas profanas das coisas espirituais pelas coisas temporais. No final, quando o reino e a glória de Cristo chegarem, eles despertarão para a percepção e valor da bênção e a desejarão ardentemente. Mas a troca permanecerá. O reino não poderá ser deles.
Observe o mais convincente ponto da representação: é uma transação entre pai e filho. O pai a recusa ao seu filho favorito. A despeito da ternura natural e especial, o choro e as lágrimas são inúteis.
Cuidado, cristão, para não desvalorizar seu direito de primogenitura e não vir finalmente a vendê-lo, embora sendo filho de Deus. Aquele que é imutável em justiça e santidade excluirá você como profano dos mil anos de glória do Messias. Pois, observe bem, Esaú não se retirou da presença do pai com uma maldição. Ele simplesmente perdeu a bênção que comerciou.
(Clique aqui para ver o primeiro artigo desta série.)
Como Mediador de Seu povo, Jesus o guarda em perfeita segurança de dia e de noite. Ninguém, ninguém pode arrancar alguém de Seu povo de Suas mãos; Ele se responsabiliza pela completa salvação deles. Morrer pelos pecados deles e ressuscitar por causa de sua justificação, mas não prover-lhes a segurança enquanto jornadeiam num mundo de pecado e tentação – deixá-los por conta própria como presa desprotegida das corrupções do próprio coração, das maquinações de Satanás e do embaraço do poder do mundo – teria sido apenas uma salvação parcial de Seu povo. Sofrendo a oposição de um triplo inimigo – Satanás e o mundo, aliados a seu próprio coração imperfeitamente renovado e santificado, esse inimigo traidor que mora dentro do acampamento, sempre pronto a desencaminhar a alma diante dos inimigos –, como poderia um pobre e fraco filho de Deus resistir e lutar contra essa poderosa falange? Mas Cristo, que foi poderoso para salvar, também é poderoso para guardar. Nele foram feitas provisões para todas as provações, todas as circunstâncias complicadas e perigosas em que o crente possa se encontrar. A graça é suprida para sujeitar toda corrupção inata; uma armadura é providenciada para cada assalto do inimigo; sabedoria, força, consolação, compaixão, bondade: tudo, tudo de que um pobre pecador crente possivelmente possa precisar está ricamente armazenado em Jesus, o Cabeça da aliança de toda a plenitude de Deus para Seu povo.
(Otávio Winslow)
O arrependimento produzido pelo evangelho não é um ligeiro inclinar de cabeça. É uma obra no coração até que o pecado se torne mais odioso do que qualquer punição a ele.
(Richard Sibbes)
Cristo será responsivo a todos aqueles que Lhe foram dados, no último dia, e portanto não precisamos duvidar de que Ele certamente empregará todos os poderes de Sua divindade para assegurar e salvar todos pelos quais for responsável. A responsabilidade e o cuidado de Cristo pelos que Lhe foram dados se estendem até o dia da ressurreição, pois Ele não os perderá, mas reuni-los-á novamente e leva-los-á para a glória a fim de serem uma prova de Sua fidelidade; pois disse: “Nada perderei, mas ressuscitarei novamente no último dia”.
(Thomas Brooks)
Estou convencido de que o primeiro passo para se alcançar um padrão mais elevado de santidade está em reconhecer plenamente a tremenda pecaminosidade do pecado.
(J. C. Ryle)
Nunca pedi coisa alguma em oração sem um dia, afinal, recebê-la de alguma maneira, de alguma forma.
(Charles Muller)
A solução para este mundo tão insaciável por pecado é uma igreja insaciável por oração. Precisamos explorar novamente as “preciosas e mui grandes promessas” de Deus (2Pe 1.4). Naquele grande dia, o fogo do juízo haverá de provar o tipo, e não a quantidade, da obra que fizemos. Aquilo que nasceu em oração passará pela prova.
(Leonard Ravenhill)
Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento.
(Fénelon)
Salvar
Nosso grande problema é o tráfico de verdades não vividas. Tentamos comunicar o que nunca experimentamos em nossa vida.
(Dwight L. Moody)
Eu peço a Deus que todos os cristãos professos destes dias apliquem essas coisas a seu coração. Que nunca esqueçamos que os privilégios sozinhos não podem nos salvar. Luz e conhecimento, pregações fiéis, meios abundantes de graça e a companhia de pessoas santas são grandes bênçãos e vantagens. Felizes aqueles que os têm! Mas, no final de tudo, há uma coisa sem a qual privilégios são inúteis: a graça do Espírito Santo. A esposa de Ló teve muitos privilégios, mas não teve a graça de Deus no coração.
(J. C. Ryle)
Quando percebemos nossa alma definhando, a melhor maneira de fortalecê-la na mesma hora é meditar em algo que a desperte, como, por exemplo, na presença de Deus, ou no fato de que haveremos de prestar contas a Ele, ou no infinito amor de Deus em Cristo e nos frutos provenientes desse amor; ou na grandeza do chamamento cristão; no curto e incerto tempo desta vida e no quão pouco proveito dentro em breve terão todas essas coisas que roubam nosso coração e o que fizermos aqui. Quanto mais dermos lugar a esse tipo de pensamento para que se aprofunde em nosso coração, mais nos aproximaremos do estado de alma que haveremos de gozar no céu.
(Richard Sibbes)
Há mais mal no mínimo pecado do que na maior aflição.
(Thomas Brooks)
Enquanto Roma queimava, Nero tocava música. Assim são alguns pregadores que, enquanto as almas se perdem, ficam falando coisas secundárias.
(Charles H. Spurgeon)
Os que amam as trevas, não a luz, terão sua ruína de acordo com essa preferência.
(Matthew Henry)
Não disponha do seu tempo em nada do que você saiba que terá de se arrepender; em nada pelo que você não possa orar pela benção de Deus; em nada que você não possa avaliar com a consciência tranqüila em seu leito de morte; em nada que você não possa ser segura e devidamente encontrado fazendo se a morte o surpreendesse em seu ato.
(Richard Baxter)
Acolher a Bíblia de forma meramente teórica, especulativa, gera um travesseiro desconfortável para a hora da morte. E é impressionante e solene refletir como cada assunto, cada tema, cada questão que surge da história, na filologia ou do objetivo da Palavra de Deus, naquele terrível momento dá lugar ao único assunto de fato importante: a sublime salvação nela revelada, por meio da qual a alma pode escapar do inferno e subir ao céu. Quem, nessa hora, deseja ouvir tratados, por mais cultos que sejam, a respeito da literatura, da eloqüência, da poesia ou da sublimidade da Bíblia? Quem, quando a natureza estiver se dissolvendo, a terra sumindo, a eternidade se abrindo, quem estará em condições de ponderar, examinar e verificar as evidências da inspiração das Escrituras? A linguagem ardente, a súplica de alguém nessa situação, cônscio do pecado e do perigo, é esta: “Haverá perdão, haverá salvação, haverá esperança para um pecador como eu? Será que a Palavra de Deus me diz como posso ser salvo? Leia para mim a respeito de Cristo. Fale-me do Salvador. Aponte-me o Cordeiro de Deus. Direcione meus olhos para a cruz, e ajude-me a ver Aquele cujo sangue purifica de todo pecado. Leia, fale, conte-me unicamente sobre Jesus!”.
(Otávio Winslow)
Não há nada mais inadequado do que pronunciar verdades solenes com um espírito brincalhão!
(Samuel Davies)
Existem, portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isso é quase a totalidade de sua fé. Mas o que essas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo! Que relação experiencial eles têm com os ofícios e a obra de Cristo, com Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um muçulmano. E, mesmo assim, essa é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo o mundo que são chamadas de cristãs.
(J. C. Ryle)
É terrível pensar que multidões de pessoas que se professam cristãs haverão de acordar no inferno para então descobrir que o conhecimento da verdade divina que possuíam não era mais sólido que um mero sonho!
(A. W. Pink)
Foi a certeza de que o homem terá de prestar contas a seu Criador que fez da América uma grande nação. Entre os antigos líderes encontrava-se Daniel Webster, cujos olhos flamejantes e cuja oratória ardente muitas vezes fascinou o Senado. Naqueles dias, o Congresso era composto de estadistas fortes, nobres, que carregavam no próprio coração e mente o peso da nação. Perguntaram, certa vez: “Sr. Webster, qual foi o pensamento mais sério que já lhe passou pela mente?” “O pensamento mais sério que já entrou em minha mente é minha responsabilidade de prestar contas a meu Criador”, replicou ele. Homens desse calibre não há como corromper nem comprar. Eles não precisam preocupar-se com escutas telefônicas. Aquilo que eram, em caráter e conduta, era resultado da convicção que tinham que no final teriam de prestar contas a Deus.
(A. W. Tozer)
Para alcançarmos o conhecimento proveitoso, a coisa mais necessária é temer a Deus. Não somos capazes de aproveitar as instruções que nos são dadas a não ser que nossa mente esteja possuída de santa reverência por Deus e que cada pensamento nosso seja trazido à obediência Dele. […] Da mesma forma que todo o nosso conhecimento precisa originar-se do temor de Deus, assim também ele precisa conduzir-nos ao temor de Deus como seu aperfeiçoamento e centro. Somente aqueles que sabem como temer a Deus, aqueles que são cuidadosos para em tudo agradá-Lo e que temem ofendê-Lo de qualquer forma, têm conhecimento adequado.
(Matthew Henry)
A idéia corrente sobre a oração parece ser que eu me achego a Deus e Lhe peço alguma coisa que quero, e minha expectativa é que Ele me dê aquilo que pedi. Mas essa é uma concepção que muito desonra e deprecia a oração. Essa crença popular reduz Deus a um servo, nosso servo: fazendo o que ordenamos, executando nossos desejos, concedendo-nos o que desejamos. Não, não! A oração consiste em aproximar-me de Deus, apresentar-lhe minhas necessidades, entregando-Lhe meu caminho e deixando que Ele lide com a situação como Lhe parecer melhor.
(A. W. Pink)
O Homem fiel do salmo 1 se torna o Homem desamparado do salmo 22, para que o homem corrompido do salmo 14 possa ser o homem perdoado do salmo 32.
No salmo 1, temos uma descrição de nosso bendito Senhor. Ele é o Homem fiel que sempre seguiu um curso reto, sem se desviar para a direita ou para a esquerda. Do lado negativo, Ele não andou, não se deteve, não se assentou no caminho dos pecadores. Do lado positivo, Ele se deleitou na lei do Senhor, na qual meditava dia e noite.
O Homem fiel do salmo 1 é desamparado no salmo 22, levando sobre Si o castigo que nós merecíamos. Ele foi desamparado para que nós fôssemos recebidos. Ele sofreu para que nós pudéssemos cantar. Ele foi ferido para que nós pudéssemos ser sarados. Ele entrou nas trevas para que nós pudéssemos viver em eterna luz.
O homem corrompido (Sl 14) que encontra o perdão se transforma no homem do salmo 32, que pode declarar do fundo do coração: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto” (v. 1).
Lembremos sempre do elevado custo de nossa redenção, e, como o salmista, exclamemos: “Bem-aventurados todos aqueles que Nele confiam” (Sl 2.12).
Senhor, no passado e nas eras distantes,
Muito antes daquilo que o homem pudesse ver,
Palavras de criação foram ditas,
Os céus e a terra começavam,
Tu estavas ali em toda a Tua glória –
Bendito Senhor, pomo-nos de joelhos –
Habitando, então, no amor irrestrito:
Com reverência agora nos rendemos a Ti.
Naquele amor nenhum pensamento pode penetrar;
Nem lábios humanos podem definir
Aqueles relacionamentos eternos,
Tão inescrutáveis, divinos!
Mas, no tempo, Tu irias, na humanidade,
Aqui o nome de Deus declarar,
Em uma maravilhosa, bendita relação
Que Tu poderias com outros compartilhar.
Toda a vontade Dele foi cumprida,
Toda a obra que Ele Te entregou foi feita;
Um em pensamento, plano e propósito:
Ele, o Pai, Tu, o Filho.
E na manhã da ressurreição,
Para Ti mesmo declaraste
Que Teu Pai era o Pai deles,
E de Teu amor eles agora poderiam partilhar.
O evangelho: o que é?
O evangelho é boas-novas de perdão ao culpado. É incalculável sua abrangência quanto aos diferentes níveis de culpa daqueles a quem ele é dirigido. O evangelho revela um sacrifício suficiente para todos; e a cada pecador da raça humana é ordenado recebê-lo como uma palavra fiel e digna de toda aceitação, a saber: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar até mesmo o pior dos pecadores.
O evangelho não nos ensina como devemos lançar o fundamento; ao contrário, esclarece-nos a respeito do firme fundamento que Deus lançou em Sião sobre o qual todos de igual forma são convidados e ordenados a edificar sua esperança, sem qualquer receio de serem repreendidos pelo gracioso Criador por causa de qualquer conduta do passado. De modo geral o Evangelho é um tanto mal compreendido por aqueles que nele professam crer. Esses o vêem como uma compensação para suas deficiências por meio dos méritos de Cristo, mas esse é outro evangelho. O evangelho de Cristo se destina aos que se acham longe da retidão, aos que são pobres, cegos e nus, os quais não têm dinheiro para comprar a salvação ou qualquer mérito que os recomende ao favor divino. Cristo veio, não para chamar os justos, mas os injustos ao arrependimento. Se não somos pecadores, nada temos a ver com o evangelho. Se somos pecadores, não rejeitamos o conselho de Deus contra nós supondo, em vão, haver em nós qualquer coisa que nos favoreceu diante Dele. Por outro lado, não imaginemos que nossos pecados são tão grandes que não podem ser perdoados. A justiça de Deus é totalmente independente de nossa obediência. O ladrão na cruz foi salvo pela fé em Cristo. Ninguém entrará no céu por qualquer outra maneira.
Tampouco devemos supor que temos ou viremos a ter em nós mesmos algo que nos recomende ao favor de Deus. “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (2Co 6.2). Portanto, cheguemo-nos a Deus com a oração do publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc 18.13). Procuremos por essa misericórdia mediante o sacrifício de Cristo.
Apesar das Escrituras serem claras e objetivas quanto a esse assunto, ele serve de pedra de tropeço e de loucura para muitos daqueles que ouviram o evangelho. Ofende-lhes o orgulho serem colocados no mesmo nível dos “párias” da sociedade. Pensam eles que há alguma diferença a ser feita; mas enganam-se, por não conhecerem as Escrituras e por não compreenderem a malignidade do pecado nem a graça de Deus. Enxergam o fato como uma barganha que Deus se propõe a fazer com Suas criaturas: que, sob certas condições, Deus os aceitará. Todavia, o que existe de fato é a mensagem da reconciliação, dirigida a todos os homens, declarando que já foi feita, na cruz, uma expiação completa pelo pecado e convidando cada pecador da raça adâmica a aproximar-se de Deus com urgência e tê-Lo como amigo e Pai, mediante Cristo.
Quando Moisés levantou a serpente no deserto, esse ato serviu como um remédio, igualmente apropriado a todos os que haviam sido picado. Quer a pessoa acabasse de ter sido picada, quer tivesse o veneno já infectado o sangue, ao olhar para a serpente o enfermo era curado. Em referência a essa simbologia, Cristo dirigiu-se a toda a humanidade, sem discriminação e disse: “Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu sou Deus, e não há outro… Deus justo e Salvador não há além de Mim” (Is 45.22,21).
Ao anunciar a promulgação do evangelho, o Senhor declarou pelo profeta: “Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia” (Is 2.11).
Ao mesmo tempo em que o evangelho é uma proclamação do perdão enviado os pecadores, sem qualquer exceção, e um convite ilimitado aos culpados para que se refugiem no sangue do sacrifício, é também o poder de Deus para salvação apenas daqueles que crêem. Porém, é inútil falar em ser justificado pela retidão de Cristo, a menos que o coração seja purificado pela fé.
Podemos dizer que cremos em Cristo e sermos ainda escravos do pecado. Podemos enganar a nós mesmos e afirmar que cremos na justiça de Cristo, enquanto continuamos a viver segundo a carnalidade. Mas todo ramo da videira que não der fruto será lançado no fogo. Nós não podemos enganar a Deus; e se, com a Bíblia em mãos, enganamos a nós mesmos, então, somos indesculpáveis.
Se cremos no evangelho de Cristo, ele operará eficazmente em nosso coração (1Ts 2.13) e nos ensinará que, renegando a impiedade e as paixões mundanas, devemos viver sensata, justa e piedosamente no presente século. Se aquilo em que cremos não produz tal efeito, então, não é sobre a verdadeira graça de Deus que estamos firmados. Toda a doutrina cuja crença não produz esse efeito é falsa; e o iludirmos a nós mesmos com nossos próprios enganos é o conforto que obtemos dessa doutrina. “Os que pertencem a Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24).
Como imaginado por George Mattheson
Senhor, prendeste-me na estrada de Damasco; transformaste a autoconsciência em humildade. Lancei-me à jornada transbordando de confiança em mim mesmo; não teria qualquer obstáculo, não experimentava qualquer dificuldade. De repente, numa volta do caminho minha alma paralisou-se. A confiança feneceu. O mundo não mais se me apresentava campo de prazer. Uma sombra estendeu-se sobre a cena, e eu não podia mais encontrar o caminho. Tudo aconteceu por causa de um encontro com um homem – um homem de Nazaré. Antes de encontrá-Lo, meu orgulho pessoal era incomensurável. Meu coração clamava “Escreverei meu próprio destino!” Mas um simples olhar ao Homem de Nazaré me prostrou. Minha glória imaginária transformou-se em cinzas; minha pretensa força tornou-se fraqueza; bati em meu peito e gritei: “Imundo!” Devo queixar-me por ter encontrado aquele Homem? Devo chorar porque um raio de luz numa esquina lançou toda a minha grandeza na sombra? Não, Pai, pois a sombra é o reflexo do resplendor. Foi por ter visto Tua beleza que a humanidade se ofuscou. Foi o crescimento que me tornou humilde. Contemplei por um momento um ideal perfeito, e seu brilho eclipsou minha lâmpada. Não é a noite, mas o dia que me torna cego quanto àquilo que possuo. É a luz que me faz odiar a mim mesmo. É o sol que revela minha imundície. É a aurora que me fala de minhas trevas. É a manhã que descobre minhas vestes insignificantes. É o brilho que mancha meus trajes. É a claridade que enumera minhas nuvens.
Ó Deus, meu Deus, só perco meu caminho quando iluminado por Ti!