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A noiva, o Espírito e a Palavra

 

“Cristo amou a Igreja”! Aqui está a fonte da qual fluem todas as bênçãos; “e a Si mesmo se entregou por ela”, a fim de libertá-la para sempre de suas misérias.

A figura nos faz pensar na jovem escrava que conquista o coração do príncipe, o qual paga o preço do resgate libertando-a de toda escravidão para ele mesmo. Porém, antes que possa cumprir o propósito de seu amor e recebê-la em seu palácio, algo mais é exigido além da redenção dela. Ela não pode passar direto do mercado de escravos para o trono. Primeiro, deve ser purificada, educada e vestida adequadamente para tal mudança de esfera e de posição. E essa é a obra que o Senhor realiza atualmente na Igreja. A obra de redenção foi absoluta, legal e eternamente consumada, e assim a possibilidade foi aberta para a escrava se tornar rainha.

A redenção tem em vista a santificação, e ambas visam à apresentação da Noiva a seu amado Noivo em glória. Nem todos serão encontrados “sem mácula” no dia das Bodas do Cordeiro. O termo foi tomado emprestado de Levítico 22, onde é dito que o sacerdote examinava minuciosamente o animal e, encontrando-o “sem mácula”, declarava-o “irrepreensível”, isto é, em condições de ser apresentado ao Senhor. O direito da jovem escrava ao trono e à alegria nupcial estava no preço do resgate oferecido pelo príncipe, segundo sua boa vontade; mas a aptidão dela para aquele dia ele deve assegurar de outro modo. Por isso, Cristo santifica Seu povo pelo “lavar de água pela Palavra” (Ef 5.26).

A pia para a lavagem no tabernáculo não visava garantir o perdão e a isenção do julgamento merecido ao israelita culpado. Isso era realizado no altar de bronze. Quando, porém, se tratava de comunhão com Deus e da entrada nos lugares santos, o lavar-se era tão essencial quanto o derramamento de sangue no altar (Êx 30.17-21; Lv 8.6; 2Cr 4.6).

A Igreja deve ser redimida e também santificada pelo Senhor. É Sua graça infinita que provê das riquezas de Sua glória os meios de purificação. A pia do lavatório era composta de duas coisas: (1) a água que estava na (2) pia. A “Palavra” é o vaso pelo qual entramos em contato com a água, que é o Espírito de Deus (Jo 7.38,39). “Santifica-os na verdade: a Tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Já Pedro menciona a “santificação no Espírito” (1Pe 1.2). Somente quando utilizamos na prática a Palavra de Deus, sendo obedientes a seus preceitos, é que conhecemos a energia purificadora do Espírito Santo. Ele está na Palavra, assim como a água estava na pia; a Bíblia é soprada pelo Espírito de Deus, o qual está perpetuamente nela, prova de Sua influência purificadora universal. Infelizmente, existe a possibilidade do discípulo negligenciar a Palavra de Deus ou habitualmente desobedecer a suas ordens e, assim, entristecer o Espírito Santo, impedindo a lavagem que assegura a santificação. Quando um pai vê algo errado no filho, ele lhe fala sobre aquele ponto. Se o filho obedece à palavra do pai, a palavra atua como água que realiza purificação.

Pedro havia seguido o Senhor por alguns anos e O amava ardentemente. Ele podia dizer o que poucos podem: “Tudo deixamos e Te seguimos” (Mt 19.27). Observe, porém, as palavras que nosso Senhor lhe disse: “Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés” (Jo 13.10). Entretanto, para gozar de maior participação com o Senhor, algo mais é necessário: “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo” (v. 8). Em outras palavras, era necessário que Pedro estivesse disposto a receber de modo humilde a purificação pessoal da sujeira diária. Por que a oposição de Pedro foi quebrada imediatamente, a ponto dele pedir mais do que era necessário? Se você é um crente que tem negligenciado a Palavra do Senhor, pondere nestas palavras, e pode ser que o Senhor repita a seu coração novamente, por Seu Espírito com poder restaurador.

O Senhor não disse: “Se Eu não te lavar, não tens parte em Mim”. Isso significaria a perda de tudo, até mesmo da vida eterna e de sua segurança. Isso faria com que a justificação fosse dependente da santificação, como se a superestrutura da casa pudesse sustentar o fundamento. Mas observe que Ele disse: “Não tens parte [metémou] Comigo”. Esse termo não tem nenhuma relação com salvação de um pecador da perdição, mas sim com os privilégios dos salvos (Lc 15.31; 11.7; 12.13; Tt 3.15; Mc 16.18; Jo 15.27; Lc 22.28; Mt 24.38; Jo 17.24; Ap 3.20; 3.4,21; 22.12). A fim de nos tornarmos “participantes [companheiros] de Cristo” (Hb 3.14), devemos nos submeter à purificação contínua que nosso Senhor realiza por meio do Espírito Santo e da Palavra. Caso contrário, não seremos achados “igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem qualquer outra coisa semelhante […] santa e irrepreensível” (Ef 5.27).

Uma confirmação clara disso está em Apocalipse 19, onde a ceia das bodas do Cordeiro é proclamada para alegria no céu. A circunstância que ocasiona o casamento e a festa é manifestada nas palavras: “E já a Sua noiva se preparou” (v. 7). Ela era uma pobre escrava sem recursos, mas seu Amado providenciou o tecido caríssimo e as jóias a fim de que ela se vestisse dignamente para aquela hora. Somente pela graça do Senhor Jesus é que poderemos ser encontrados vestidos com vestes de beleza e glória. Entretanto, é verdade também que cabe a nós usar aquilo que a graça nos oferece. A virgem deve fazer seu próprio vestido de noiva com o material fornecido por seu abastado Noivo. O tipo pode ser encontrado nas vestes sacerdotais, pois com elas os sacerdotes compareciam nos lugares santos; tais roupas eram feitas pelo próprio povo com o tecido e as jóias com que Deus os havia enriquecido. Há quanto tempo a Igreja está envolvida com tal trabalho? Quão pouco vemos de santidade em nossa vida, nós que somos “chamados santos” (1Co 1.2)!

O processo de uma vida santa é simples: obediência à Palavra de Deus. É possível a preparação de nossa veste nupcial, e a glória e a alegria das bodas podem ser alcançadas. Assim, esquecendo das coisas que ficam para trás, sejam fracassos ou vitórias, prossigamos para a perfeição, procurando nos manter no caminho da obediência irrestrita à Palavra Daquele que nos redimiu de toda iniqüidade e cujo prazer é agora nos purificar para Si mesmo e fazer de nós um povo de Sua própria possessão, cuja característica são as boas obras.

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de Orvalho (126)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Se você está combatendo o pecado, está vivo. Anime-se. Mas, se o pecado domina sem oposição, você está morto, não importa quão vivo esse pecado faça você se sentir.

(John Owen)

Nunca começo a trabalhar de manhã sem pensar que Cristo talvez venha interromper meu trabalho e começar o Dele. Não estou esperando a morte – estou esperando por Ele.

(G. Campbell Morgan)

Na igreja contemporânea tudo parece estar na moda, exceto a pregação bíblica.

(John MacArthur)

Aprenda a dizer não. Será mais útil para você do que aprender a ler em latim.

(Charles H. Spurgeon)

Deus nos prova pela forma como lidamos quando fracassamos nas provações.

(John Piper)

A conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão.

(John Wesley)

As pessoas podem ser objeto de muitas influências do Espírito de Deus e, mesmo assim, às vezes se deixarem levar pelas ilusões de Satanás.

(Jonathan Edwards)

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de Orvalho (111)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Na justificação, o pecado é perdoado; na santificação, ele é subjugado.

(Catecismo Maior de Westimenter, pergunta 77)

A santificação é um processo contínuo pelo qual Deus, por Sua misericórdia, muda os hábitos e o comportamento do crente, levando-o a praticar obras piedosas.

(A. Booth)

A santificação é o começo da glória e a glória é a santificação completada.

(F. F. Bruce)

O problema de muitos cristãos é que eles estão mais preocupados com sua doutrina da santidade do que com o fato de serem revestidos da beleza da pureza de Cristo.

(Paul S. Rees)

Nenhum assunto que já ocupou os pensamentos dos crentes pode ser mais urgente do que o da santificação pessoal.

(J. Sidlow Baxter)

O problema de grande parte do ensino sobre santidade é que ele deixa de fora o Sermão da Montanha e nos pede que experimentemos a santificação. Esse não é o método bíblico.

(Martyn Lloyd-Jones)

Deixa eu te fazer uma pergunta. Você olha para o mundo e deseja ser como o mundo? Agir como o mundo? Falar como o mundo? Se vestir como o mundo? Tem respeito e a estima do mundo? Se você se sente desse jeito, você deve ficar aterrorizado. Porque isso pode ser uma evidência de que Deus não fez uma obra em você. Se o poder de Deus não pode ser visto em sua vida, guiando você para uma crescente santidade, então, talvez não haja poder de Deus em sua vida. Então, Ele não regenerou seu coração. Você não nasceu de novo. Você não é um cristão. Porque Ele disse: ‘Eu vou salvar pessoas.’ Por quê? ‘Para demonstrar ao mundo o quão poderoso sou para salvar suas almas e para transformar suas vidas.’ Deus está transformando a sua vida? Cristãos não são infalíveis. Cristãos não são perfeitos. Cristãos vão ter dificuldade com o pecado. E cristãos podem até cair, mas em meio aquela fraqueza ficará evidente que Deus está trabalhando, Deus está ensinando, Deus está disciplinando e Deus os está levando para níveis mais altos de maturidade cristã e santidade. Este é você? Desde que você professou sua fé em Cristo, os seus desejos por Cristo cresceram? Ou seu desejo por santidade cresceu? O poder de Deus para transformar sua vida está cada vez mais evidente? Você está deixando de parecer com o mundo e parecendo cada vez mais com Cristo? Ou você está parecendo cada vez mais com o mundo?

(Paul Washer)

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de Orvalho (101)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

O fim destinado ao homem não é felicidade nem saúde, mas, sim, santidade. O único objetivo de Deus é a produção de santos.

(Oswald Chambers)

Pela justificação de Cristo, os crentes passam legalmente a ter vida; pela santificação são tornados espiritualmente vivos; pela primeira, recebem o direito à glória; pela segunda, são tornados dignos da glória.

(George Whitefield)

Um estado de salvação é um estado de santidade. As duas coisas são inseparáveis: porque a salvação não é só a redenção da pena do pecado, mas também livramento de seu poder.

(Charles Hodge)

Santos sem santidade são a tragédia do cristianismo.

(A. W. Tozer)

Quem tem uma visão superficial da salvação deprecia a doutrina da santificação.

(John F. MacArthur Jr.)

Nossa santificação não depende de mudanças ou obras, mas em fazer essas coisas por causa de Deus quando geralmente fazemos por nossa causa. Meu tempo de trabalho não é diferente do meu tempo de oração. A oração nada mais é do que o senso da presença de Deus.

(Irmão Lourenço)

Muitas vezes, eu oro: “Senhor, faze-me tão santo quanto pode ser um pecador perdoado”.

(Robert Murray M’Cheyne)

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Citações Gotas de orvalho Humildade John Owen John Stott Oração Pecado Samuel Chandwick Sofrimento Thomas Brooks Thomas Watson William Law

Gotas de orvalho (77)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

Não há nada mais poderoso que a oração perseverante, como a de Abraão pleiteando por Sodoma; como Jacó lutando no silêncio da noite; como Moisés permanecendo na brecha; como Ana, embriagada de tristeza; como Davi, com o coração quebrantado pelo arrependimento e pela dor; como Jesus suando sangue. Acrescente a essa relação, a partir dos registros da história da Igreja, sua própria observação e experiência pessoal, e sempre haverá o custo da paixão até o sangue. Essa é a oração eficaz que traz o poder, que traz o fogo, que traz a chuva. Ela traz a vida, ela traz a presença de Deus.

(Samuel Chandwick)

Tem cuidado com as más companhias. Evita qualquer familiaridade desnecessária com os pecadores. Ninguém pode apanhar a saúde de outrem, mas pode-se apanhar doenças. E a doença do pecado é altamente transmissível.

(Thomas Watson)

A fé não é uma noção, mas uma fome essencial poderosa, um desejo magnético atrativo de Cristo, que, uma vez que procede de uma semente da natureza divina em nós, atrai-nos para Ele e se une com Ele.

(William Law)

Os feitos mais gloriosos de um homem serão também seus maiores pecados. Basta terem sidos realizados para sua própria glória, e não para a glória de Deus.

(Thomas Brooks)

Não há maior obstáculo ao conhecimento do que o orgulho, e nenhuma condição mais essencial do que a humildade.

(John Stott)

Alguma forma de sofrimento é praticamente indispensável para a santificação.

(John Stott)

Um homem só prega bem um sermão a outros quando ele prega para sua própria alma. Se a Palavra não residir poderosamente em nós, não será poderosamente comunicada por nós.

(John Owen)

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Autores Disciplina Eric Sauer Pecado Santidade Vida cristã

Privilégios desperdiçados

É realmente elevada a posição conferida na salvação do Novo Testamento; todavia, embora sendo profunda, pode vir a ser ruína. Portanto, em toda vida cristã sadia, deve-se acrescentar seriedade à alegria, à gratidão a responsabilidade, à confiança o zêlo. Por esta razão existem tantas advertências em Hebreus. Uma das mais impressionantes é aquela que se refere a Esaú (Hb 12.16,17).

Esaú era o primogênito de Isaque. O escritor desta carta está chamando a atenção dos leitores para os seus privilégios, responsabilidades e perigos, referindo-se à conduta de Esaú e seus resultados.

Os primeiros leitores de Hebreus conheciam bem, sendo judeus por nascimento, quais eram os privilégios do filho primogênito. O termo é usado no Novo Testamento como figura da alta posição de honra dos membros da igreja de Cristo, na verdade de Cristo mesmo. No contexto de Hebreus 12 a plena posse e o desfrutar do privilégio celestial do primogênito é equivalente ao prêmio do vencedor na corrida, quando o corredor na arena da fé alcançará o alvo glorioso.

Preeminentemente e de modo singular, Cristo é Quem é o Primogênito. Esta Sua glória irradia na revelação do Novo Testamento de forma tríplice:

  1. Ele é o “Primogênito de toda a criação” (Cl 1.15). Esta é a Sua posição de honra vista do passado, Cristo, sendo o “Primogênito” desde o início, como “Filho” antes e acima de todas as criaturas.
  2. Ele é o “Primogênito dentre os mortos” (Cl 1.18; Ap 1.5). Esta é a Sua posição de honra no presente, a qual Ele mantém como o Ressurreto, Aquele que possui a “preeminência” como “Cabeça” do Seu corpo, a igreja.
  3. Ele é o “Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Esta será Sua posição de honra no futuro eterno quando Ele será revelado como glorificado o Redentor dos Seus redimidos glorificados (Hb 1.6)

Desse modo o testemunho do Novo Testamento no tocante a Cristo como o Primogênito refere-se a todos os três períodos de tempo durante todo o curso da história da salvação. Ele é mostrado ao mesmo tempo na mais alta posição em todas as esferas da revelação Divina: no reino da criação, no reino da redenção e no reino da perfeição. De qualquer lado que O contemplarmos, Cristo é o Primogênito.

Além disso, o termo “primogênito” é usado para expressar a posição especial da Igreja na graça. Por isso a carta aos Hebreus depois de falar do “direito da primogenitura” de Esaú, e tendo tirado dela certas conclusões para os leitores do Novo Testamento, acrescenta apenas algumas sentenças: “Mas tendes chegado … à Igreja dos Primogênitos inscritos nos céus” (Hb 12.22,23). E Tiago diz: “Segundo a Sua própria vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das Suas criaturas” (Tg 1.18).

A ênfase principal jaz não tanto na ordem do nascimento com respeito ao tempo, mas antes, à posição e dignidade. De outra forma seria impossível falar de um homem “se tornando o primogênito” (algo que acontece no Antigo Testamento) muito tempo depois do seu nascimento: “Ele me invocará dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação. Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Sl 89.26-27). E o reverso não seria possível para alguém que, do ponto de vista do tempo, nasceu como primogênito, mas perdeu este direito de primogenitura numa ocasião posterior sob determinadas circunstâncias: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito, mas, por ter profanado o leito de seu pai, deu-se a primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que, na genealogia, não foi contado como primogênito. Judá, na verdade, foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o príncipe; porém, o direito da primogenitura foi de José)” (Rúben – 1Cron 5.1,2); “Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por uma refeição (prato de lentilhas), vendeu o seu direito de primogenitura” (Esaú – Hb 12.16,17).

O fato de que a idéia essencial de ser o “primogênito” está na prioridade da posição e não no acidente do nascimento, pode ser visto também nessa passagem: “De Hosa, dos filhos de Merari, foram filhos: Sinrim, a quem o pai constituiu chefe, ainda que não era o primogênito” (1Cron 26.10). Aqui nos é dito que numa certa família de Levitas um dos filhos, de nome Sinri, era o chefe, pois, “embora não fosse o primogênito, contudo seu pai o constituiu chefe”. A mesma verdade é a força de Colossenses 1.15. Ali Paulo diz que Cristo é “o Primogênito de toda a criação”; não que Ele tenha sido o primeiro a nascer no tempo declarando que Ele teve um princípio, mas sim que Ele tem a preeminência como Governador de todo o universo.

O grande perigo

Sem dúvida, o direito de primogenitura não é idêntico à filiação. Esaú permaneceu sendo filho de Isaque mesmo depois de ter sido rejeitado com respeito a herdar a benção da primogenitura. Na verdade, ele recebeu, a despeito da sua grande falha, uma espécie de segunda benção (Gn 27.38,40b; Hb 11.20). O relacionamento de vida para os primogenitura do Novo Testamento com o Pai celestial permanece e nunca será dissolvido, pois já passaram da morte para a vida (I Jo 3.14). Porém, num sentido espiritual, poderão passar por experiência semelhante à de Esaú.

A despeito de todas as riquezas podemos viver em pobreza espiritual. Nenhum fluir das abundâncias celestiais será evidente. Riqueza alguma interior resplandecerá para o exterior. Nenhuma alegria feliz da redenção se manifestará. Embora filhos de eterna alegria, podem viver tristes e deprimidos e, ao invés de desfrutar prazer e deleite em nosso bendito Senhor podemos olhar para trás cheios de anseio para as alegrias vãs e os bens deste mundo.

A despeito da posição sacerdotal podemos deixar de viver uma vida sacerdotal de oração! Pode não haver coração e mente de sacerdote. Nenhuma súplica amorosa! Nenhuma adoração sacerdotal de Deus em espírito e em verdade! E finalmente:

A despeito da nossa elevada e nobre chamada podemos viver praticamente como escravos. Toda mentalidade terrena é escravidão. Todo esforço pecaminoso para ganhar dinheiro ou bens terrenos faz do “rei” um “mendigo”. Qualquer preocupação é indigna de um rei. Todo o temor do homem é indigno de um filho do grande Pai e Soberano Celestial. Toda sensibilidade demasiada e o sentimento fácil de ser ferido e ofendido é mesquinho. É lamentável e primitivo. Na verdade, todo o serviço do pecado faz praticamente daquele que é designado para ser um governador, um servo rebaixado, e o pecado que na realidade está vencido, atua como se fosse o vencedor e como tal age como regente e tirano, quando na verdade o cristão é que deveria ser o vencedor.

Assim o crente embora pertencendo à igreja dos primogênitos, pode praticamente rejeitar seu direito de primogenitura. Ao invés de riquezas, pobreza interior; ao invés de separação, prática sacerdotal, separação de Deus; ao invés de reinado, real escravidão!

O grave erro

Esaú vivia por coisas visíveis e trocou por elas coisas espirituais; Esaú vivia por prazeres humanos e negociou as bençãos dadas por Deus; Esaú vivia sem disciplina e auto-controle e trocou sua posição de autoridade e honra; Esaú desprezou a promessa e oferta de dignidade que Deus lhe ofereceu e trouxe vergonha sobre si (Gn 27.37); Ele viveu para o seu próprio Ego e assim negociou a suprema vocação da sua família; ele viveu para o presente e trocou sua nobre comissão para o futuro; ele viveu para o momento transitório e deu em troca dele tesouros eternos.

Meu leitor, leia as sentenças acima outra vez e pergunte a si mesmo se não pode haver um reflexo da sua própria atitude e prática espiritual. Portanto, preste atenção à advertência desta passagem em Hebreus! Muita coisa está colocada na balança: ganho eterno glorioso ou perda irrecuperável. Naquele momento desastroso Esaú, às custas do futuro, escolheu o prazer do presente. Assim ele experimentou em sua própria vida o princípio da palavra do Senhor: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á” (Jo 12.25). “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26).

Por isso Paulo diz: “E também se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar legitimamente” (2Tim 2.5). O que significa “lutar legitimamente”, isto é, segundo as normas dos jogos? Significa transgredir as regras do jogo por algum truque para ganhar uma vitória fácil. Ele pode tentar encurtar a extensão da corrida fazendo atalhos. Do mesmo modo muitos hoje desejam ser cristãos reais, mas evitam o calor da batalha fazendo compromisso aqui e ali. Eles desejam atingir o alvo, mas pensam poder alcançá-lo pagando um preço mais baixo. Não nos enganemos neste assunto! Cristo Senhor espera nossa total devoção. Fora com todos os compromissos! Fora com todas as tentativas de tornar o caminho estreito um pouco mais largo e transitável! O Senhor busca o nosso coração por inteiroDe outro modo Ele não pode usar nosso serviço e não coroará os nossos esforços. A fim de conquistar a coroa eterna precisamos oferecer toda a nossa vida.

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Citações D. L. Moody Fénelon Gotas de orvalho J. C. Ryle Martin Lloyd-Jones R. A. Torrey Serviço cristão Thomas Watson

Gotas de Orvalho (36)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

O problema de grande parte do ensino sobre santidade é que ele deixa de fora o Sermão da Montanha e nos pede que experimentemos a santificação. Esse não é o método bíblico.

(D. Martyn Lloyd-Jones)

Muitos daqueles que se denominam cristãos só possuem religiosidade suficiente para torná-los miseráveis. Não conseguem mais apreciar o mundo e ainda não entraram na “alegria do Senhor”. Permanecem ali no meio do caminho, privados dos “pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” do Egito e, também, sem o leite e o mel e o melhor do trigo de Canaã. Esse é um lugar miserável para se estar.

(R. A. Torrey)

Quando um homem não está profundamente convicto de seus pecados, é um sinal bem certo de que ainda não se arrependeu de verdade. A experiência tem me ensinado que as pessoas que têm uma convicção muito superficial de seus pecados, cedo ou tarde recaem na velha vida que tinham. Nos últimos anos, tenho estado bem mais ansioso por uma profunda e verdadeira obra de Deus entre os já convertidos do que em alcançar grandes números [de novos convertidos]. Se um homem confessa ser convertido sem reconhecer a atrocidade de seus pecados, provavelmente se transformará num ouvinte endurecido que não irá muito longe. No primeiro sopro de oposição, na primeira onda de perseguição ou ridículo, ele será carregado de volta para o mundo.

(D. L. Moody)

Segue a sinceridade. Sê o que pareces ser. Não sejas como os remadores, que olham para um lado e remam para outro. Não olhes para o céu, com tua profissão de fé, para, então, remar em direção ao inferno, com tuas práticas. Não finjas ter o amor de Deus, ao mesmo tempo que amas o pecado. A piedade fingida é uma dupla iniqüidade.

(Thomas Watson, em seu último sermão)

“A tolice”, diz Salomão “está ligada ao coração da criança” (Pv 22.15). “A criança deixada a si mesma traz vergonha à sua mãe” (24.15). Nosso coração é como a terra onde andamos; deixe-a a si mesma, e é certo que ela produzirá ervas daninhas. Se você deseja, portanto, lidar de modo sábio com seus filhos, não deve deixar que eles sejam guiados pela própria vontade. Pense por eles, julgue por eles, aja por eles, assim como você faria por alguém que se encontra em estado de fraqueza e de cegueira; mas, pela misericórdia, nunca os entregue a suas próprias vontades e inclinações rebeldes. Não são os gostos e desejos deles que devem ser consultados. Eles ainda não sabem o que é bom para sua mente e alma, assim como também não sabem o que é bom para seu corpo. Você não deixa que eles decidam o que vão comer ou beber, ou como se vestirão. Seja consistente, e lide com a mente deles da mesma maneira. Treine-os no caminho que é bíblico e correto, e não no caminho que eles imaginam e desejam. A vontade própria é quase sempre a primeira coisa a aparecer na mente de uma criança; e seu primeiro passo deve ser resistir a ela.

(J.C.Ryle)

As menores coisas se tornam grandes quando Deus as requer de nós. Elas são pequenas somente em si mesmas. Elas são sempre grandes quando feitas por Deus e quando servem para unir-nos com Ele eternamente.  

(François Fénelon)

A inquietação sempre terminará em pecado. Pensamos que um pouco de ansiedade e preocupação é indício de que somos de fato sensatos; mas é muito mais indício de que somos de fato pecadores. A impaciência brota da determinação de desejarmos fazer aquilo que queremos. O Senhor nunca se preocupava e nunca se mostrava ansioso, porque não estava aqui para concretizar Suas próprias idéias; estava aqui para pôr em prática as idéias de Deus. Se você é filho de Deus, a impaciência é pecado. Será que você tem estado alimentando sua alma com a idéia de que sua situação é grave demais para esperar em Deus? Ponha de lado todas as “suposições” e “habite na sombra do Onipotente” (Sl 91.1). Diga firmemente a Deus que você não mais se impacientará com qualquer situação. Toda a nossa impaciência e preocupação é conseqüência de fazermos planos sem levar os planos de Deus e a forma de Deus em conta.

(Osvald Chambers)

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Charles Spurgeon Oração

Reflexões sobre a beleza do Senhor

“Quanto a mim, contemplarei a Tua face na justiça; eu me satisfarei da Tua semelhança quando acordar” (Sl 17.15).

A porção dos homens enche-lhes o corpo e enriquece seus filhos, mas a porção do crente é de outro tipo. Os homens do mundo têm seus tesouros neste mundo, mas os homens do mundo vindouro olham para além e para mais alto.

Nossa possessão é dupla: temos a presença de Deus aqui e Sua semelhança na vida futura. Aqui contemplamos a face do Senhor em justiça, pois somos justificados em Cristo Jesus. Oh, a alegria de contemplar a face de um Deus reconciliado! A glória de Deus na face de Jesus Cristo faz-nos nos render abaixo do céu, e ela será para nós o céu dos céus acima.


Porém, ver não é tudo: temos de ser transformados naquilo que contemplamos. Devemos dormir por um pouco e, então, acordar para vermos a nós mesmos como espelhos que refletem as belezas de nosso Senhor. A fé vê Deus com um olhar transformador. O coração recebe a imagem de Jesus em sua própria profundeza, até que o caráter de Jesus seja impresso na alma. Isso é santificação. Ver Deus e ser como Ele – o que mais posso desejar? A segura confiança de Davi é aqui, pelo Espírito Santo, tornada a promessa do Senhor. Creio nisso. Espero isso. “Senhor, conceda-o. Amém.”

Aprendemos pela oração a detectar a diferença entre a ordem de Deus e Sua vontade permissiva. A ordem de Deus é: sem dor, sem doença, sem mal, sem guerra, sem pecado. Sua vontade permissiva é todas essas coisas, a confusão em que estamos agora. O que o homem precisa fazer é se agarrar à ordem de Deus no reino interior e, então, começará a ver como lidar com o enigma do universo no exterior.

O fim do homem é a oportunidade de Deus.

(John Flavel)

Devemos considerar quem é Aquele a quem oramos. [Devemos considerar] a infinitamente bendita Majestade de Deus, comparada à qual nada pode ser concebido mais bom, mais santo, mais puro, mais ilustre, mais adorável, mais compassivo, mais incompreensível ou mais indescritível. O próprio pensamento de Deus tira nosso fôlego. Ele é três Pessoas vivas. Vivemos, nos movemos e respiramos Nele. Ele pode fazer o que quiser conosco. Ele não está mais comprometido conosco do que tem graciosa e piedosamente escolhido se comprometer. Ele sabe de todas as coisas sem que Lhe digamos ou peçamos. E ainda assim é a Ele que oramos. Agora, pensemos onde é que oramos. Mais do que ser em um lugar consagrado ou não, é no próprio Deus. Estamos Nele, como os peixes estão no mar. Sua imensidão é nosso templo.

(Frederick William Faber)

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Bíblia Vida cristã

O grande meio de santificação! (Jared Waterbury)

“Santifica-os na Tua verdade. A Tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).

As Escrituras são o grande meio de santificação. Elas são o encanto que tanto atrai o coração piedoso. Tal coração não é insensível à elegância do estilo bíblico nem indiferente a suas arrojadas e belas figuras de linguagem – porém essas não são as atrações principais. A Bíblia é a Palavra de Deus!

Ela convence do pecado.
Ela estimula a obediência.
Ela desperta da preguiça.
Ela alerta contra o perigo.
Ela revela o caráter de Deus.
Ela expõe o caminho para a salvação.
Ela delineia a providência de Deus.
Ela apresenta o Cordeiro de Deus morto por nossas transgressões.
Ela comunica doces cargas de devoção espiritual.
Ela traz à vista uma brilhante e eterna recompensa.
Ela expõe as feridas de nossa natureza e oferece o bálsamo curador.

Resumindo, ela incorpora tudo o que um cristão pode precisar em sua peregrinação.

Ela é seu único guia para essa vida tempestuosa.
Na tormenta, ela é seu consolo.
Na prosperidade, ela é seu regulador.
Na dificuldade, ela é seu guia.

Em meio à escuridão da morte, e quando entrando no vale escuro, é a estrela da manhã que…

ilumina seu caminho,
faz seus olhos sem vida brilharem de esperança e
alegra sua alma com a perspectiva da glória imortal!

Quanto mais freqüente e diligentemente você examinar as Escrituras, mais belas elas irão parecer e menos gosto você terá por leituras levianas e superficiais. Existe algo santificador e enobrecedor em um íntimo conhecimento e na meditação diária das Escrituras. Uma satisfação é sentida ao possuí-los, à qual nenhuma composição humana pode incitar.

Confie nisto: quanto mais estreita atenção você der à Palavra, mais interessante e preciosa ela se tornará e mais rapidamente você crescerá em graça e santidade.

Você sente como se estivesse conversando com Deus.
Você respira uma atmosfera do céu.
A alma é banhada em águas celestiais.
Ela se embebe de uma doçura e de uma serenidade que transborda sobre seus atrativos que não são deste mundo.
Por esta fonte de luz e vida procuremos diariamente.

Aqui está a influência curadora.
Aqui está o poço de Betesda.
Aqui abunda consolo para o aflito.
Aqui habita a esperança que alegra e guia.

Ate esse precioso livro ao pescoço, escreva-o nas tábuas do coração!

Ele provará ser…

seu escudo no conflito,
seu guia na perplexidade,
seu consolo na adversidade.

Se for fielmente estudada nesta vida, ela proporcionará temas para contemplação celestial pela eternidade.

Devemos nos aproximar desse Livro Sagrado com reverência. Quando o abrimos ouvimos a voz de Deus. Não deveríamos, portanto, prestar uma reverente atenção quando Jeová fala? Nossa postura não deveria ser a de mais profunda humilhação e respeito?

Na Palavra escrita, temos Deus falando conosco como a Seus filhos. Vá, então, meu amigo, e diligentemente escute os santos oráculos. Pesquise as Escrituras. Examine-as sistematicamente. Faça delas sua companhia diurna e noturna. E que a influência celestial delas esteja tão infundida em sua alma que você perca progressivamente a imagem do que é terreno e assuma a dos habitantes celestiais.

Confie nisto: quanto mais estreita atenção você der à Palavra, mais interessante e preciosa ela se tornará e mais rapidamente você crescerá em graça e santidade.
A Palavra de Deus deve crescer constantemente em sua estima, até que você exclame como Davi: “Quanto amo a Tua lei! […] Quão doces são os Teus decretos ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca” (Sl 119.97,103).


(Traduzido por Tathyane Faoth. Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Espírito Santo Martin Lloyd-Jones Santidade Vida cristã

Mortificando o pecado pelo Espírito Santo (D. M. Lloyd Jones)

“Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.12-13).

 

A santificação é um processo em que o próprio homem desempenha uma parte. Nessa parte, o homem é chamado a fazer algo “pelo Espírito”, que está nele. Consideraremos agora o que exatamente o homem tem de fazer. A exortação é esta: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo”. O crente é chamado a mortificar os feitos do corpo.

Temos, primeiramente, de abordar a palavra corpo, que se refere ao nosso corpo físico, nossa estrutura física, conforme vemos também no versículo 10. A palavra não significa “carne”. Até o grande Dr. John Owen se enganou neste ponto e trata a palavra como uma alusão à “carne” e não ao “corpo”. Mas o apóstolo, que antes falara tanto a respeito de “carne”, agora fala sobre o “corpo”. Ele fez isso no versículos 10 e 11, assim como o fizera no versículo 12 do capítulo 6. Paulo se referia a este corpo físico em que o pecado ainda permanece e que um dia será ressuscitado em “incorruptibilidade” e glorificado, para tornar-se semelhante ao corpo glorificado de nosso bendito Senhor e Salvador.

Enfatizo novamente que temos de ser claros neste assunto, porque está sujeito a ser mal entendido. O ensino não é que o corpo humano ou a matéria são inerentemente pecaminosos. Já houve heréticos que ensinaram esse erro conhecido como dualismo. Ao contrário disso, o Novo Testamento ensina que o homem foi criado bom tanto em corpo, alma e espírito. Não ensina que a matéria é sempre má e que, por essa razão, o corpo é sempre mau. Houve um tempo em que o corpo era… totalmente livre do pecado. Mas, quando o homem caiu e pecou, todo o seu ser caiu, e ele se tornou pecaminoso no corpo, mente e espírito.

Temos visto que pelo novo nascimento o espírito do homem é liberto. Ele recebe vida nova — “O espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10). Mas o corpo ainda “está morto por causa do pecado”. Esse é o ensino do Novo Testamento! Em outras palavras, embora o crente seja regenerado, ainda permanece em um corpo mortal. Por isso enfrentamos problemas para viver a vida cristã, visto que temos de lutar contra o pecado enquanto estivermos neste mundo, pois o corpo é fonte e instrumento de pecado e corrupção. Nossos corpos ainda não foram redimidos. Eles o serão, mas agora o pecado ainda permanece neles.

Conforme vimos, o apóstolo deixa isso bem claro. Em 1 Coríntios 9.27, ele disse: “Esmurro o meu corpo” (1 Coríntios 9.27), porque o corpo nos impele a obras más. Isso não significa que os instintos do corpo são em si mesmos pecaminosos. Os instintos são naturais e normais, não sendo, inerentemente, pecaminosos. Mas o pecado que permanece em nós está sempre tentando levar os instintos naturais a direções erradas. O pecado tenta levá-los a “afeições imoderadas”, a exagerá-los; tenta fazer-nos comer demais, satisfazer em excesso todos os nossos instintos, de modo que se tornem “imoderados”. Vendo esse assunto de outro ângulo, esse princípio pecaminoso tenta impedir-nos de dar atenção ao processo de disciplina e autocontrole ao qual somos constantemente chamados nas páginas das Escrituras. O pecado remanescente no corpo tende a agir dessa maneira. Por isso, o apóstolo fala sobre os “feitos do corpo”. O pecado tenta tornar o natural e normal em algo pecaminoso e mau.

O termo “mortificar” explica-se a si mesmo. “Mortificar” significa matar, trazer à morte… logo, a exortação diz que temos de matar, por um fim nos “feitos do corpo”. De uma perspectiva prática, esta é a grande exortação do Novo Testamento em conexão com a santificação e se dirige a todos os crentes.

Como devemos fazer isso?… O apóstolo esclarece: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo” — pelo Espírito! É claro que o Espírito é mencionado particularmente porque a sua presença e sua obra são características peculiares do verdadeiro cristianismo. Isto é o que diferencia o cristianismo da moralidade, do “legalismo” e do falso puritanismo — “pelo Espírito”. O Espírito Santo, conforme já vimos, está em nós crentes. Você não pode ser um crente sem o Espírito Santo. Se você é um crente, o Espírito Santo de Deus está em você, agindo em você. Ele nos capacita, nos dá forças e poder. Ele nos traz a grande salvação que o Senhor Jesus Cristo realizou, capacitando-nos a desenvolvê-la. Portanto, o crente nunca deve se queixar de falta de capacidade e poder. Se o crente diz: “Eu não posso fazer isso”, está negando as Escrituras. Aquele que é habitado pelo Espírito Santo nunca deve proferir tais palavras; fazê-lo significa negar a verdade a respeito dele mesmo.

Conforme disse o apóstolo João, o crente é alguém que pode dizer: “Temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16). No capítulo 15 de seu evangelho, João descreve os cristãos como ramos da Videira Verdadeira. Por isso, nunca devemos afirmar que não temos poder. Certamente, o Diabo está ativo no mundo e tem grande poder; contudo, “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Ou considere novamente aquela importante declaração feita em 1 João 5.18-19: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado”. A expressão “não vive em pecado” expressa uma ação contínua no presente, e o sentido é este: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando”. Por que não? Porque “Aquele que nasceu de Deus” — ou seja, o Senhor Jesus Cristo — “o guarda, e o Maligno não lhe toca”.

João afirmou que isso é verdade em relação a todos os crentes. O crente não vive no pecado porque Cristo está vivendo nele, e o Maligno não pode tocar-lhe. Isso significa não somente que o Maligno não exerce controle sobre o crente, mas também que o Maligno não pode nem mesmo tocar-lhe. O crente não está sobre o poder do Maligno. E, para incutir isso no crente, João afirmou em seguida: “Sabemos que somos de Deus”; e quanto ao mundo: “O mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19). O mundo está nos braços e domínio do Maligno, que o controla… O Diabo tem completamente em suas mãos e controle o mundo e os homens que pertencem ao mundo, os quais são suas vítimas indefesas. Não há sentido em dizer a tais pessoas que mortifiquem “os feitos do corpo”; elas não podem fazer isso, porque estão sob o poder do Diabo. Mas a situação do crente é outra; ele pertence a Deus e o Maligno não lhe pode tocar. O Diabo pode rugir para o crente e amedrontá-lo ocasionalmente, mas não pode tocar-lhe e, muito menos, controlá-lo.

Essas são afirmações típicas que o Novo Testamento faz a respeito do crente. E, quando compreendemos que o Espírito está em nós, experimentamos o seu poder. Somos chamados a usar e exercitar o poder que está em nós pela habitação do Espírito Santo. “Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito” — que habita em vós —, “mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” A exortação diz que devemos exercitaro poder que está em nós “pelo Espírito”. O Espírito é poder e está habitando em nós. Por isso, somos instados a exercer o poder que está em nós.

Mas, como isso se realiza na prática?… Para começar, temos de entender nossa posição espiritual, pois muitos de nossos problemas se devem ao fato de que não compreendemos e não recordamos quem e o que somos como crentes. Muitos se queixam de que não têm poder e de que não sabem fazer isto ou aquilo. O que precisamos dizer-lhes não é que eles são absolutamente incapazes e que devem desistir. Pelo contrário, todos os crentes precisam ouvir estas palavras de 2 Pedro 1.2-4: “Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Tudo que “conduz à vida e piedade” nos foi dado por meio do “conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. E, outra vez: “Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas [por meio dessas mui grandes e preciosas promessas] vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.

Apesar disso, há crentes que lamentam e se queixam de não terem forças. A respostas para esses crentes é esta: “Todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade lhes foram dadas. Parem de lamentar, murmurar e queixar-se. Levantem-se e usem o que está em vocês. Se vocês são crentes, o poder está em vocês pelo Espírito Santo. Você não estão desamparados”. Todavia, o apóstolo Pedro não parou ali. Ele disse também: “Aquele a quem estas coisas não estão presentes” — em outras palavras, o homem que não faz as coisas sobre as quais foi exortado — “é cego, vendo só o que está perto” (2 Pe 1.9). Ele tem uma visão curta, havendo “esquecido da purificação dos seus pecados de outrora”. Não possui uma visão verdadeira da vida cristã. Está falando e vivendo como se fosse uma pessoa não-regenerada. Ele diz: “Não posso continuar sendo cristão; é demais para mim”. Pedro exorta esse homem a compreender a verdade a respeito de si mesmo. Precisa ser despertado, ter seus olhos abertos e sua memória refrescada. Ele precisa se animar e fazer, em vez de lamentar as suas imperfeições.

Além disso, temos de compreender que, se somos culpado de pecado, entristecemos o Espírito Santo de Deus, que está em nós. Pecamos a todo momento. O fato deveras grave não é o de que pecamos e nos tornamos infelizes, e sim o de que entristecemos o Espírito de Deus que habita em nosso corpo. Quão frequentemente pensamos nisso? Acho que, ao falarem comigo a respeito desse assunto, as pessoas sempre falam sobre si mesmas — “meu erro”. “Estou sempre caindo nesse pecado.” “Este pecado está me desanimando.” Falam completamente a respeito de si mesmas. Não falam sobre o seu relacionamento com o Espírito Santo. E, por essa razão: o homem que compreende que o maior problema de sua vida pecaminosa é o fato de que está entristecendo o Espírito Santo, esse homem para de fazer isso imediatamente. No momento que o crente percebe que esse é o seu verdadeiro problema, ele lida com esse problema. Não se preocupa mais com seus próprios sentimos. Quando o crente compreende que está entristecendo o Espírito Santo de Deus, ele age imediatamente.

Outra consideração importante sobre este tema geral é o fato de que temos sempre de fixar-nos no alvo crucial. Pedro enfatizou isso no mesmo capítulo da sua epístola: “Procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.10-11). Se vocês fizerem o que exorto-os a fazer, ele disse, a morte, quando lhes chegar, será algo maravilhoso. Você não somente entrarão no reino de Deus; antes, terão uma entrada ampla. Haverá um desfile triunfante; os portões do céu serão abertos, e haverá grande regozijo. Pedro não estava se referindo à nossa salvação presente, e sim à nossa glorificação final, à nossa entrada nos “tabernáculos eternos” (Lc 16.9).

Portanto, temos de manter os olhos fixos nesse alvo. Nosso maior problema é que sempre estamos olhando para nós mesmos e para o mundo. Se pensarmos mais e mais sobre nós mesmos como peregrinos da eternidade (o que, de fato, somos), todo o nosso viver será transformado. Paulo afirmou isso no versículo 11 deste capítulo. Mantenham seus olhos nisso, eles disse em outras palavras; mantenham seus olhos no alvo. João disse a mesma coisa: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 Jo 3.2-3). A causa de muitos de nossos problemas, como crentes, é que vivemos demais para este mundo. Persistimos em esquecer que somos apenas “peregrinos e forasteiros” neste mundo. Pertencemos ao céu; nossa pátria está no céu (Fp 3.20), e estamos indo para lá. Se apenas mantivéssemos isso diante de nossa mente, o problema de nossa luta contra o pecado assumiria um aspecto diferente…

Devemos nos mover agora do geral para o específico, relembrando-nos de que tudo é feito “pelo Espírito”, com uma mente iluminada por Ele. O que temos de fazer especificamente? O ensino do apóstolo pode ser considerado sob dois aspectos: direto e negativo, indireto e positivo.

No aspecto direto ou negativo, a primeira coisa que o crente tem de fazer é abster-se do pecado. É bem simples e direto! Pedro disse: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Esse é um ensino bastante claro. Aqui não há qualquer sugestão de que somos incapazes, temos de desistir da luta e entregar tudo ao Senhor ressuscitado. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes…” — parem de fazer isso, parem imediatamente, não o façam mais! Vocês precisam se abster totalmente desses pecados, essas “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. Vocês não têm o direito de dizer: “Sou fraco, não posso; as tentações são poderosas”.

A resposta do Novo Testamento é: “Parem de fazer isso”. Vocês não precisam de hospital e de um tratamento médico; precisam recompor-se e compreender que são “peregrinos e forasteiros”. “Exorto-vos… a vos absterdes.” Vocês não têm qualquer negócio com essas coisas. Lembrem outra vez o ensino de Efésios 4: “Aquele que furtava não furte mais… Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”. Não haja em vocês nenhuma dessas conversas ou gracejos tolos! Não façam isso! Abstenham-se! É tão simples e claro como estas palavras: parem de fazer isso!

Em segundo lugar, de modo específico, citando outra vez as palavras do apóstolo em Efésios: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Ef 5.11-12). Observe o que ele disse: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas”. Vocês não devem apenas abster-se dessas coisas, mas também não ter comunhão com pessoas que fazem essas coisas ou têm esse modo de vida. “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” O princípio governante de sua deve ser o não associar-se com pessoas desse tipo. Fazer isso é ruim para você e lhe será prejudicial… Não devemos ter qualquer comunhão com o mal; antes, precisamos fugir dele e manter-nos tão distantes quanto pudermos.

Outro termo é “esmurrar” (1 Co 9.27). “Esmurro o meu corpo”, disse o apóstolo. “Todo atleta” — ou seja, aquele que compete nas corridas — em tudo se domina”. As pessoas que passam por treinos visando as grandes competições atléticas são bastante cuidadosas quanto à sua dieta; param de fumar e ingerem bebidas alcoólicas. Quão cuidadosos eles são! E fazem tudo isso porque desejam ganhar o prêmio! Se eles faziam isso, disse Paulo, por causa de coisas corruptíveis, quanto mais devemos disciplinar-nos a nós mesmos… O corpo tem de ser “esmurrado”. Nas palavras de nosso Senhor registradas em Lucas 21.34, há uma sugestão a respeito de como isso deve ser feito. Ele disse: “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente”. Não coma bem beba demais; não se preocupe excessivamente com as coisas deste mundo. Coma o suficiente e o alimento correto; mas não se torne culpado de “excesso”. Se uma pessoas satisfaz em demasia seu corpo, com alimento, bebida ou outra coisa, ele achará mais difícil viver uma vida cristã santificada e mortificar os feitos do corpo. Portanto, evite todos esses obstáculos, pois, do contrário, seu corpo se tornará indolente, pesado, moroso e lânguido. Há uma intimidade tão grande entre o corpo, a mente e o espírito, que achará grande problema em seu conflito espiritual. “Esmurre o corpo.”

Outra máxima usada pelo apóstolo, na Epístola aos Romanos, se acha no capítulo 13: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (v. 14). Se querem mortificar os feitos do corpo, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. O que isso significa? Em Salmos 1, achamos um discernimento claro quanto ao significado dessas palavras do apóstolo. Eis a prescrição: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores” (Sl 1.1). Se vocês querem viver esta vida piedosa e mortificar os feitos do corpo, não gastem tempo permanecendo nas esquinas das ruas, porque, se fizerem isso, provavelmente cairão em pecado. Se permanecerem no lugar por onde o pecado talvez passará, não se surpreendam se voltarem para casa em tristeza e infelicidade, porque caíram no pecado. Não se detenham no “caminho dos pecadores”. E, menos ainda, devem vocês assentar-se “na roda dos escarnecedores”. Se permanecerem em tais lugares, não haverá surpresa em caírem no pecado. Se vocês sabem que certas pessoas lhes são má influencia, evitem-nas, fujam delas. Talvez vocês digam: “Eu me ajunto com elas para ajudá-las, mas percebo que, todas as vezes, elas me levam ao pecado”. Se isso é verdade, não estão em condições de ajudá-las…

No livro de Jó, o homem sábio disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Era como se dissesse: “Olhem diretamente, não olhem para a direita ou para a direita. Cuidem de seus olhos propensos a vaguear, esses olhos que se movem quase automaticamente e veem coisas que iludem e induzem ao pecado”. “Faça uma aliança com os seus olhos”, declara esse homem. Concorde em não olhar para coisas que tendem a levá-lo ao pecado. Se isso era importante naqueles dias, é muito mais importante em nossos dias, quando temos jornais, cinemas, outdoors, televisão e assim por diante! Se há uma época em que os homens precisam fazer aliança com seus olhos, esta época é agora. Tenham cuidado com o que leem. Certos jornais, livros e diários, se os lerem, eles lhes serão prejudiciais. Vocês devem evitar tudo que lhes prejudica e diminui sua resistência. Não olhem na direção dessas coisas; não queira nada com elas… Na Palavra de Deus, vocês são instruídos a mortificar “os feitos do corpo” e não satisfazer “a carne no tocante às suas concupiscências”. Agradeça a Deus pelo evangelho poderoso. Agradeça a Deus pelo evangelho que nos diz que agora somos seres responsáveis em Cristo e que nos exorta a agir de um modo que glorifica o Salvador. Portanto, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Meu próximo assunto é sobremodo importante: enfrentem as primeiras movimentações e impulsos do pecado em vocês; combatam-nos logo que aparecerem. Se não fizerem isso, estão arruinados. Vocês cairão, conforme somos ensinados na epístola de Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. O primeira moção do pecado é um encantamento, um leve incitação de cobiça e sedução. Esse é o momento em que temos de lidar com o pecado. Se deixarem de enfrentar o pecado nesse estágio, ele os vencerá. Cortem o mal pela raiz. Ataquem-no de imediato. Nunca lhes permitam qualquer avanço. Não o aceitem de maneia alguma. Talvez sintam-se inclinados a dizer: “Bem, não farei tal coisa”; mas, se aceitam a ideia em sua mente e começam a afagá-la e entretê-la em sua imaginação, vocês já estão derrotados. De acordo com o Senhor, vocês já pecaram. Não precisam realmente cometer o ato; nutri-lo no coração já é o suficiente. Permitir isso no coração significa pecar aos olhos de Deus, que conhece tudo a respeito de nós e vê até o que acontece na imaginação e no coração. Portanto, destruam o mal pela raiz, não tenham qualquer relação com ele, parem-no imediatamente, ao primeiro movimento, antes que comece a acontecer esse processo ímpio descrito por Tiago.

No entanto, lembrem-se de que isto — que será nosso próximo assunto — não significa repressão. Se vocês apenas reprimirem uma tentação ou esse primeiro movimento do pecado, ele provavelmente surgirá novamente com mais vigor. Nesse sentido, concordo com a psicologia moderna. A repressão é sempre má. “Então, o que devo fazer?”, alguém pergunta. Eu respondo: quando sentir aquele primeiro movimento do pecado, erga-se e diga: “Isto é mau; isto é vileza; é aquilo que expulsou do Paraíso os nossos primeiros pais”. Rejeite-o, enfrente-o, denuncie-o, odeie-o pelo que é. Assim, terá lidado realmente com o pecado. Você não deve apenas fazê-lo recuar, com um espírito de temor e de maneira tímida. Traga-o à luz, exponha-o, analise-o e, denuncie-o pelo que ele é, até que o odeie.

Meu último assunto neste tema é que, se você cair no pecado (e quem não cai?), não restaurem a si mesmos de modo superficial e apressado. Leiam 2 Coríntios 7 e considerem o que Paulo disse sobre a “a tristeza segundo Deus” que produz arrependimento. Outra vez, tragam à luz aquilo que fizeram, contemplem-no, analisem-no, exponham-no, denunciem-no, odeiem-no e denunciem a si mesmos. Mas não façam isso de um modo que os atire nas profundezas da depressão e desânimo! Sempre tendemos a ir aos extremos; ou somos muito superficiais ou muito profundos. Não devemos curar superficialmente a ferida (cf. Jr 6.14), mas tampouco devemos lançar-nos no desespero e melancolia, dizendo que tudo está perdido, que não podemos ser crentes, e retornar ao estado de condenação. Isso é igualmente errado. Temos de evitar ambos os extremos. Façam uma avaliação honesta de si mesmos e do que fizeram, condenando totalmente a si mesmos e seu ato; porém compreendam que, confessando-o a Deus, sem qualquer desculpa, “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Se vocês fizerem essa obra de maneira superficial, cairão novamente no pecado. E, se vocês se lançarem em um abismo de depressão, hão de sentir-se tão desesperados que cairão em mais e mais pecado. Uma atmosfera de melancolia e fracasso leva a mais fracasso. Não caiam em nenhum desses erros, mas respondam à obra da maneira como o Espírito sempre nos instrui a fazê-la.

 

Extraído de Romans: Na Exposition of Chapter 8:15-17, The Sons of God, p. 132-144, publicado pela Banner of Truth Trust.

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Tradução: Pr. Wellington Ferreira

© Editora FIEL 2009.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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Cristo John Gill Santidade Vida cristã

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (John Gill)

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2.10)

Também nEle estais aperfeiçoados, ou “completos”, ou “preenchidos” nEle; que é, estão perfeitos nEle: os Santos estão em Cristo, e toda completude nEle está, assim estão eles cheios também, de tanto quanto eles necessitam, e são capazes de conter: Estas palavras não são uma exortação à perfeição, como as contidas em Ge 17:1 Mt 5:48 2Co 13:11; mas são uma afirmação, ratificando, não o que os cristãos serão daí em diante, ou o que serão no céu, mas o que são agora; não neles mesmos, porque em si mesmo ninguém é perfeito, nem mesmo aqueles que estão verdadeiramente santificados; entretanto toda a graça está seminalmente implantada neles, e eles tem uma perfeição de partes, de todas as partes do novo homem, ou nova criatura, e são perfeitos em comparação com o que antes foram, assim como ante os profanos e os hipócritas, e e também ante os que fraquejam na fé, ainda que ninguém seja absolutamente perfeito; a boa obra da graça não está finalizada neles, o pecado habita neles, estão cheios de desejos e concupiscências; o melhor deles nega a perfeição como buscam alcançar, e expressa seu desejo de alcançá-la; mas eles são perfeitos em Cristo, seu cabeça, que tem toda completude nEle, em quem eles são eleitos e aperfeiçoados: eles são perfeitos e completos nEle quanto a santificação; Ele tem toda completude de graça e santidade para eles, eles a tem em Cristo; e Ele foi feito perfeito em santidade para eles: também quanto a justificação, Ele cumpriu perfeitamente a Lei para eles, Ele fez completa expiação pelo pecado, obteve redenção eterna, adquiriu uma completa e perfeita retidão, pela qual os santos são justificados de todas as coisas; são libertos do pecado, e feitos perfeitos, sem mancha ou mácula, ou coisa semelhante: e quanto ao conhecimento, embora imperfeito neles em seu presente estado, já em Cristo estão todos os tesouros de sabedoria, e não há necessidade de ir a lugar algum outro para encontrá-los; eles estão preenchidos com o conhecimento de Deus e de sua vontade, e são completos em Cristo; e o conhecimento que os santos tem, é a vida eterna, as primícias, o penhor, e a fiança dela; assim eles não tem razão de contemplar anjos ou homens, cabe-lhes olhar somente a Cristo.

John Gill (1697-1771)

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Horatius Bonar Salvação Vida cristã

Deus nos chama para fora do pecado (Horatius Bonar)

Em cada sentido e aspecto, Deus nos chama para fora do pecado. Ele está sempre a nos exortar contra tudo quanto é excessivamente pecaminoso, contra aquelas coisas abomináveis, as quais ele odeia e contra as quais ele exercerá vingança. Ele nos fala como seres “formados em iniquidade e concebidos em pecado”, carregando em nosso corpo o mal; pior ainda, saturados do mal e dominados por ele; não meramente como seres enfermos e necessitados de medicina; ou desafortunados e necessitados de comiseração; porém, como seres culpados, debaixo da lei, debaixo da condenação, mortos em delitos e pecados, com um inevitável juízo pendente sobre nós. Ele não ameniza nem tampouco agrava o nosso estado, porém calmamente nos mostra o pior, revelando-nos o que somos, convocando-nos a sermos aquilo que o quê ele propôs que fôssemos. Em seu Filho Jesus Cristo, ele nos chama para fora de toda impureza, de toda contaminação, de toda injustiça, de toda corrupção, de toda via tortuosa, de toda desobediência, de toda imundícia da carne e do espírito.

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