Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
Great is Thy faithfulness, O God my Father;
There is no shadow of turning with Thee,
Thou changest not, Thy compassions they fail not,
As Thou hast been,Thou forever wilt be.
Refrain
Great is Thy faithfulness!
Great is Thy faithfulness!
Morning by morning new mercies I see
All I have needed Thy hand hath provided
Great is Thy faithfulness, Lord unto me!
Summer and winter and springtime and harvest,
Sun, moon, and stars in their courses above;
Join with all nature in manifold witness,
To Thy great faithfulness, mercy, and love.
Refrain
Pardon for sin and a peace that endureth,
Thine own great presence to cheer and to guide;
Strength for today, and bright hope for tomorrow
Blessings all mine, with ten thousand beside.
Refrain
Tradução
Grande é a Tua fidelidade, ó Deus, meu Pai;
Não há sombra de variação em Ti:
Tu não mudas, Tuas compaixões não falham,
Como foste, Tu serás para sempre.
Refrão
Grande é a Tua fidelidade!
Grande é a Tua fidelidade!
Manhã após manhã novas misericórdias eu vejo.
Tudo o que preciso, Tua mão tem provido.
Grande é a Tua fidelidade, Senhor, a mim!
Verão e inverno e primavera e outono,
Sol, lua e estrelas em seu curso pelo céu;
Juntam-se a toda a natureza no testemunho multiforme
De Tua grande fidelidade, misericórdia e amor.
Refrão
Perdão para o pecado e uma paz permanente,
Tua própria grande presença para animar e orientar;
Força para hoje e esperança radiante para amanhã:
Bênçãos que são minhas, com dez mil ao lado.
Refrão
Versão: Tu és fiel
Tu és fiel, Senhor, ó Deus eterno!
Teus filhos sabem que não falharás!
Nunca mudaste, Tu nunca faltaste;
Tal como eras, sim, sempre serás.
Refrão
Tu és fiel, Senhor! Tu és fiel, Senhor!
Dias após dia Tuas bênçãos nos dás.
Tua mercê nos sustenta e nos guarda;
Sim, para sempre, ó Deus, fiel serás.
Nuvens no azul do céu, Sol refulgente,
Montes e vales, campinas em flor,
Tudo criaste na terra e nos ares,
E todos louvam-Te, fiel Senhor.
Refrão
Pleno perdão nos dás, que segurança!
Sempre nos guias na senda do bem;
E no porvir, oh! Que doce esperança!
Tu nos receberás no lar de além.
Refrão
História
Chisholm teve uma vida adulta difícil. De saúde muito frágil, várias vezes ficou acamado, impossibilitado de trabalhar. Ao ser salvo aos 27 anos, encontrou muito conforto nas Escrituras e no fato de que Deus era fiel para ser sua força no tempo de enfermidade e suprir suas necessidades. Lamentações 3.22,23 era uma de suas passagens favoritas: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as Suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã. Grande é a Tua fidelidade”.
Quando em viagens missionárias, Thomas escrevia com freqüência a William Runyan, um amigo, músico relativamente desconhecido. Vários poemas foram trocados nessas cartas. Runyan considerou esse poema de Williams tão comovente que decidiu compor uma trilha musical para acompanhá-lo. “Great is Thy Faithfulness” foi publicado em 1923. O hino permaneceu desconhecido por muitos anos, até que foi descoberto por um professor do Moody Bible Institute, que o apreciou muitíssimo e solicitou muitas vezes que fosse cantado nos cultos na capela, de tal modo que se tornou o hino não-oficial da faculdade. O hino se tornou mundialmente conhecido em 1945, quando George Beverly Shea começou a cantá-lo nas cruzadas evangelísticas de Billy Graham.
Thomas Chisholm morreu com 94 anos. Ele escreveu mais de 1.200 poemas e hinos, incluindo “O To Be Like Thee” (Oh! Ser como Tu) e “Living for Jesus” (Vivendo para Jesus).
Tribulações são tesouros, e, se formos sábios, iremos reconhecer nossas aflições entre nossas mais raras jóias.
(Charles Spurgeon)
Há uma doce teologia do coração que só se aprende na escola da renúncia.
(A. W. Tozer)
Aqueles que conhecem o grande e terno coração de Deus certamente serão levados a negar seus próprios amores para participar da expressão do amor Dele.
(Jim Elliot)
De todas as coisas que nos irão surpreender na manhã da ressureição, esta, creio eu, é a que mais causará surpresa: que amamos tão pouco a Cristo durante nossa vida.
(J. C. Ryle)
Satanás moldará suas tentações de acordo com as inclinações e o caráter de cada pessoa. Se são pessoas dotadas e muito capacitadas, serão tentadas à auto-suficiência e à presunção. Se são pessoas temerosas e inseguras, ele as tentará à preocupação e à ansiedade. Aqueles de consciência sensível serão tentados a se preocupar com cada detalhe e cada coisa que fazem, por mais insignificantes que sejam. Se são pessoas flexíveis, serão tentadas à inconstância e a comprometerem-se indevidamente. Se são pessoas orgulhosas, serão tentadas à obstinação e à necedade, etc. Conhecer a nós mesmos pode nos ajudar muito a resistir às tentações do inimigo. Não devemos nos esquecer de que ser tentado não é o mesmo que pecar.
Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: a menção a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
Artigos que merecem ser lidos
Carta aberta aos pais cristãos de filhos incrédulos. Poucas coisas angustiam tanto pais cristãos quanto filhos que ainda não obedecem à fé ou que dela apostataram. Esse artigo pode lhe trazer ajuda, consolo e orientação prática.
O que é a comunhão da igreja? Basta os cristãos estarem juntos para haver comunhão? A genuína comunhão é marca distintiva da igreja que se reúne segundo o modelo do Novo Testamento.
“Deus me revelou”. Devemos dar ouvidos a quem alega ter uma revelação nova de Deus, à parte de Sua Palavra?
Mensagem que merece ser ouvida
Amando a Deus com todo o nosso entendimento, por Héber Campos Júnior
Hino que merece ser ouvido
It’s well with my soul
Letra de Horatio G. Spafford (1873) e música, Ville du Havre, de Philip P. Bliss (1876). Inspirado em 2Reis 4.26 e Salmos 146.1. A música recebeu o nome do navio em que as filhas de Spafford pereceram. Ironicamente, Bliss morreu num trágico acidente de trem, ao tentar salvar a esposa, pouco tempo depois de escrever a música. Veja mais detalhes abaixo.
Enquanto lê a letra, ouça essa maravilhosa versão orquestral do hino.
Letra em inglês
When peace, like a river, attendeth my way,
When sorrows like sea billows roll;
Whatever my lot, Thou hast taught me to say,
It is well, it is well with my soul.
Refrain
It is well with my soul,
It is well with my soul,
It is well, it is well with my soul.
Though Satan should buffet, though trials should come,
Let this blest assurance control,
That Christ hath regarded my helpless estate,
And hath shed His own blood for my soul.
My sin—oh, the bliss of this glorious thought!—
My sin, not in part but the whole,
Is nailed to the cross, and I bear it no more,
Praise the Lord, praise the Lord, O my soul!
For me, be it Christ, be it Christ hence to live:
If Jordan above me shall roll
No pang shall be mine, for in death as in life
Thou wilt whisper Thy peace to my soul.
But, Lord, ’tis for Thee, for Thy coming we wait,
The sky, not the grave, is our goal;
Oh, trump of the angel! Oh, voice of the Lord!
Blessed hope, blessed rest of my soul!
And Lord, haste the day when the faith shall be sight,
The clouds be rolled back as a scroll;
The trump shall resound, and the Lord shall descend,
Even so, it is well with my soul.
Tradução literal em português
Está tudo bem com minha alma
Quando a paz, como um rio, estiver presente em meu caminho,
Quando tristezas se agitarem como ondas do mar –
Seja qual for minha sorte, Tu me ensinaste a dizer:
“Está tudo bem, está tudo bem com minha alma”.
Refrão
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem com minha alma,
Está tudo bem, está tudo bem com minha alma.
Embora Satanás tenha de me esbofetear, embora provas tenham de vir,
Que esta certeza abençoada tome o controle:
Que Cristo considerou minha situação sem esperança
E derramou Seu próprio sangue por minha alma.
Meus pecados – Oh, a felicidade desse glorioso pensamento! –,
Meus pecados, não em parte, mas todos eles,
Estão pregados na cruz, e eu não os carrego mais.
Louve ao Senhor, louve ao Senhor, ó minha alma!
Para mim, seja Cristo, seja Cristo, portanto, a viver:
Se o Jordão1 acima devo atravessar,
Sem angústia estarei, pois, na morte como na vida,
Tu irás sussurrar Tua paz para minha alma.
Mas, Senhor, é por Ti, por Tua vinda que esperamos,
O céu, não a sepultura, é nosso objetivo.
Oh, trombeta do anjo! Oh, a voz do Senhor!
Bendita esperança, abençoado descanso de minha alma!
E, Senhor, apressa o dia em que a fé será visão,
As nuvens serão enroladas como um pergaminho,
A trombeta ressoará e o Senhor descerá.
Todavia, estará tudo bem com minha alma.
Versão em português
Sou feliz com Jesus
Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sefrer;
Oh, seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus hei de estar.
Refrão
Sou feliz com Jesus!
Sou feliz com Jesus,
Meu Senhor!
Embora me assalte o cruel Satanás,
E ataque com vis tentações,
Oh, sim certo estou, mesmo em tais provações,
Em Jesus acharei força e paz.
Jesus, meu Senhor, ao morrer sobre a cruz
Livrou-me da culpa e do mal;
Salvou-me Jesus, oh, mercê sem igual!
Sou feliz, hoje vivo na luz.
A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me buscar;
E então lá no céu vou pra sempre morar,
Com remidos na luz do Senhor
Nota biográfica
Esse hino foi escrito depois de dois grandes traumas na vida de Spafford, um devoto cristão e estudante das Escrituras, amigo de D. L. Moody e de Ira Sankey. O primeiro foi o enorme incêndio de Chicago em outubro de 1871, que o arruinou financeiramente (advogado rico, ele havia investido em imóveis na cidade). Em 1873, durante uma travessia do Atlântico, da qual ele havia desistido pouco antes da partida, as quatro filhas de Spafford (com 11, 9, 7 e 2 anos) morreram em uma colisão com outro navio. Sua esposa, Anna, sobreviveu e enviou-lhe o agora famoso telegrama: “Única salva”. Várias semanas depois, quando o navio em que Spafford estava (ele viajou para encontrar-se com a esposa) passou perto do local onde as filhas morreram, o Espírito Santo inspirou essas palavras. Elas falam da eterna esperança que todos os crentes têm, não importando a dor e o sofrimento eles tenham na terra. O hino foi cantado pela primeira vez em 24 de novembro de 1876, por Bliss mesmo, em uma grande reunião evangelística de Moody.
Nota
1 Referência à morte, muito usada antigamente pelos cristãos. (N. do R.)
(Tradução do hino por M. Luca. Revisão de Francisco Nunes)
Deixado a si mesmo, o homem é metade animal, metade demônio.
(George Whitefield)
Determinemos, pela graça de Deus, que, por mais simples e frágeis que sejam nossas orações, continuaremos a orar.
(J. C. Ryle)
Os filhos de Deus, sempre que forem chamuscados por aflições como por quentes raios de sol, podem recorrer a Ele, que é como a sombra de uma grande rocha, e serão eficazmente protegidos e docemente refrescados.
(Jonathan Edwards)
Não sou nenhum Enoque, não sou nenhum Elias, não sou ninguém que tenha visões, não sou profeta que possa ensinar e profetizar algo além do que esteja escrito na Palavra de Deus e seja compreendido no Espírito. Mais uma vez, não tenho visões nem inspirações angelicais. Nem as desejo, para não ser enganado. A Palavra de Cristo, por si só, é suficiente para mim.
(Menno Simons)
Cristo é a própria essência de todos os deleites e prazeres, as verdadeiras alma e substância deles. Como todos os rios estão reunidos no oceano, que é o ponto de encontro de todas as águas do mundo, assim, Cristo é aquele oceano no qual todos os verdadeiros deleites e prazeres se encontram.
(John Flavel)
Contentamento cristão é aquele doce, interior, quieto e gracioso estado de espírito que se submete livremente ao sábio e paternal arranjo de Deus em cada situação e se deleita nele.
Se eu acho que “Deus conhece meu coração” é um pensamento confortador e não um pensamento assustador é porque eu não conheço meu coração. Ele conhece Seu próprio coração.
(R. C. Sproul Jr.)
É, pois, uma verdade cristã ser o pecado ignorância, ignorância de sua própria natureza.
(Soren Kierkegaard)
Quando Deus começa a tratar com a velha natureza, Ele se dirige diretamente ao centro de todo aquilo que você retém com mais carinho. Deixe que Ele traga a cruz à própria medula do que você é. Não murmure nem se inquiete quando começar o processo: silêncio e paz serão mais valiosos do que estar desgostoso.
(Fénelon)
Quem não permite o trabalho de Deus em si mesmo não pode trabalhar para Deus.
(Watchman Nee)
A oração é o modo pelo qual a vida de Deus dentro de nós é nutrida.
(Oswald Chambers)
O conhecimento de Deus é evidenciado pela obediência a Sua Palavra.
(Matthew Henry)
Piedade se expressa em amor e temor reverente. Uma pessoa piedosa teme a Deus mais do que a própria morte.
(João Calvino)
O pecador está a tal ponto em poder do pecado que, não suspeitando seu alcance, nem sequer sabe que sua vida inteira está no caminho da perdição.
(Soren Kierkegaard)
Não há uma única alma que seja de fato Dele em cujo coração não haja esperança, pois ter Cristo em nós é ter em nós “a esperança da glória” (Cl 1.27).
(Watchman Nee)
Para a necessidade diária, há graça diária. Para a necessidade repentina, há graça repentina. Para a necessidade perturbadora, há a graça perturbadora.
(John Blanchard)
O coração do cristão caminha sobre rosas se está completamente sob a cruz.
“Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (Ef 3.1).
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (4.1).
“Sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa” (2Tm 2.9).
“Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8).
Há um sentido muito real em que o apóstolo Paulo, em sua pessoa e experiência, foi uma corporificação da história da Igreja nesta era. Na verdade, parece ser um princípio na economia divina que aqueles a quem uma revelação foi confiada devem tê-la tão trabalhada em seu próprio ser e em sua história que sejam capazes de dizer: “Eu sou um sinal para vocês”. Ao considerar os trechos citados, vemos que o fim da vida de Paulo experimentou um processo de estreitamento e limitação operando por meio de “uma grande apostasia”, por um lado, e um confinamento do geral para o específico, em que ele, Paulo, representou o testemunho do outro. Isso é precisamente o que está predito quanto às condições relativas ao “fim”, e não é sem importância que seja especialmente mencionado nas declarações proféticas a Timóteo, na carta final. Desse modo, a ocorrência da expressão “o prisioneiro do [no] Senhor” nos últimos escritos é profética em seu significado, e maravilhosamente explicativa da forma final da soberania do Senhor.
O que temos aqui, então, é
1. O instrumento do testemunho do Senhor em um lugar de limitação, pela vontade de Deus.
Ao lermos o registro dos incidentes que levaram Paulo a Roma como prisioneiro – especialmente quando lemos as palavras de Agripa: “Bem podia soltar-se este homem, se não houvera apelado para César” (At 26.32) –, não podemos deixar de sentir que houve erros e acidentes, mas para os quais poderia ter havido um resultado muito mais propício, e o ministério geral do apóstolo poderia ter-se estendido. Pode ter havido momentos de estresse, quando o próprio Paulo foi tentado a se perguntar se não tinha sido impulsivo ao apelar ao imperador. Mas, conforme avançava, e quando o Senhor falou com ele, ocasionalmente, dando-lhe luz, ficou claro que, apesar da coisa ter sido humanamente realizada, havia o governo soberano de Deus em tudo e que ele estava na prisão, não como prisioneiro do imperador, mas como o prisioneiro no Senhor.
Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.
Talvez Paulo não tenha aceito isso tudo de uma vez. Possivelmente ele não tenha percebido como isso iria operar. Um julgamento e uma libertação mais ou menos rápidas podiam ter estado em sua mente. Alguma esperança de um ministério posterior entre os amados santos parece não estar ausente de sua correspondência. (Provavelmente, havia decorrido um curto período desde a libertação da primeira prisão.) Por fim, no entanto, ele aceitou totalmente que estava se tornando cada vez mais claro como o caminho do Senhor, e cresceu nele a certeza de que esse caminho estava de acordo com os maiores interesses do Corpo de Cristo. Assim, vemos que, quando vem o momento do povo do Senhor ser colocado face a face com as coisas últimas e supremas da revelação de Jesus Cristo – coisas além da salvação pessoal, coisas que se relacionam com a mente de Deus desde os tempos eternos e bem além de ser salvo –, então, tem de haver um estreitamento, um confinamento, um limitante. Muita atividade que foi feita, e tudo que foi feito a fim de trazer coisas para determinada posição e estado, agora cessam para levá-los mais adiante, e algo mais intensivo é necessário.
O que representa o testemunho em sua aproximação mais completa e mais próxima do propósito final de Deus, então, tem de ser despojado de muito do que tem sido bom, necessário e de Deus numa forma preparatória, e deve ser encarcerado para o que é final . O cativeiro não é uma verdade concebida ou uma aceitação doutrinária imposta. Ele é operado em cada fibra do ser pela experiência que segue à revelação, e a revelação interpreta a experiência. Não é a vitória de alguma interpretação defendida: é a própria vida dos instrumentos, e o instrumento é aquilo em seu próprio ser. Não está relacionado com querer ser ou não querer ser, mas a não poder ser nada a não ser um prisioneiro, algo feito pela soberania de Deus.
2. A importância e o valor de ver e aceitar as coisas na luz de Deus
Isso se aplicava a Paulo e àqueles que estavam com ele. Para o apóstolo, estar confortável na soberana ordenação de Deus em sua prisão resultava em iluminação crescente que levava à emancipação espiritual.
Ninguém pode deixar de reconhecer o enorme enriquecimento do ministério como o contido nas que são chamadas de “epístolas da prisão”: [ Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom]. Se ele tivesse sido obstinado, ressentido, rebelde ou amargo, não teria havido o céu aberto, e um espírito de controvérsia com o Senhor teria fechado e selado a porta para as mais plenas revelações e aclaramentos divinos.
Quando tudo foi aceito de acordo com a mente do Senhor, logo “os lugares celestiais” se tornaram as extensões eternas de sua caminhada sobre a terra, e servidão terrena deu lugar à liberdade celestial. Assim deve ser com cada instrumento separado para os interesses superiores do testemunho do Senhor.
A leitura de certas passagens em suas cartas e o registro de sua prisão mostra como isso se aplicava aos outros. Considere as seguintes:
“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu” (2Tm 1.8).
“E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo […] e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo” (At 28.30,31).
“O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou, e não se envergonhou das minhas cadeias. Antes, vindo ele a Roma, com muito cuidado me procurou e me achou” (2Tm 1.6,7).
É evidente que essas passagens indicam que tinha de haver uma compreensão divina e não apenas uma apreciação humana da posição de Paulo. Níveis humanos de mentalidade teriam produzido uma atmosfera de dúvida, desconfiança, questionamentos, e teriam deixado elementos de falsa imputação. Considerada em linhas meramente naturais, a associação com o prisioneiro teria envolvido tais associados em suspeita e preconceito. A dúvida sobre o servo do Senhor era muito difundida, e até mesmo muitos do povo do Senhor não tinham certeza sobre ele. Mas o Senhor estava fechando uma revelação muito importante para esse canal, e para os que estavam realmente em necessidade espiritual; estes que tinham de permanecer em uma relação viva com a plenitude do testemunho da identificação com Cristo na morte e na ressurreição, na união no trono com Ele, o poder sobre principados e potestades, e para o ministério “nos séculos vindouros”, tinham de ser postos de lado de todas considerações humanas, pessoais e diplomáticas, e permanecer bem ali com o instrumento com que Deus os colocou na prisão honrosa. Para a posse do que estava por vir por meio do vaso, tinha de haver uma ida ao lugar em que o vaso1 estava, sem consideração por reputação, influência ou popularidade.
Dessa forma, o Senhor peneira Seu povo e encontra quem realmente é inteiramente para Ele e para Seus testemunho, e quem age em qualquer medida por outras considerações e interesses. O instrumento nessa posição de rejeição popular é, portanto, a ferramenta de busca do Senhor pelos realmente necessitados e pobres de espírito. Eles serão encontrados e terão suas necessidades satisfeitas.
A outra verdade que permanece aqui, então, é que
3. Vergonha, desprezo e limitação são muitas vezes formas de Deus enriquecer todo o Corpo de Cristo.
Tem sido sempre assim. A medida de aproximação à plenitude da revelação tem sido sempre acompanhado por um custo relativo. Cada instrumento do testemunho tem sido colocada sob suspeita e desprezo em uma medida proporcional ao grau de valor para o Senhor, e isso fez com que, humanamente, eles sejam limitados a esse ponto. Muitos têm apostatado, caído, se afastado, duvidado, temido e questionado. Mas, como Paulo pôde dizer: “Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória” (Ef 3.13.), ou: “Eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios” (v. 1), então, a medida de limitação no Senhor é a medida de enriquecimento de Seu povo. Quanto mais completa a revelação, menos aqueles que a apreendem ou maior o número daqueles que permanecem ao longe. Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação, e tê-los experimentalmente significa compartilhar o custo de alguma forma. Mas essa é a maneira divina de garantir para Deus um lote2 de semente espiritual.
Revelação só vem por meio de sofrimento e limitação.
Um lote de sementes é uma coisa intensiva. Ali as coisas são reduzidas a dimensões muito limitadas. Não é algo visível de grande extensão que está imediatamente em vista, mas as coisas são consideradas, em primeiro lugar, à luz da semente. O verdadeiro significado das coisas não é sempre reconhecido lá, mas você pode viajar por todo o mundo e encontrar um grande número de jardins que são a expressão daquele intensivo e restrito lote de sementes. Se alguma vez houve tal lote de semente, foi a prisão de Paulo em Roma.
Tudo isso pode se aplicar a vidas individuais em relação ao testemunho do Senhor. Muitas vezes pode haver um atrito contra a limitação, o confinamento, e um desejo inquieto por aquilo que chamaríamos de algo mais amplo ou menos restrito. Se o Senhor nos quer no lugar em que estamos, nossa aceitação disso em fé pode provar que isso se torna uma coisa muito maior do que qualquer avaliação humana pode julgar. Gostaria de saber se Paulo tinha alguma idéia de que sua prisão significaria sua contínua expansão de valor para o Senhor Jesus ao longo 1.900 anos? O que se aplica a indivíduos também se aplica aos ajuntamentos, assembléias ou grupos do povo do Senhor espalhados na terra, mas um em sua comunhão com respeito ao testemunho pleno do Senhor.
Que o Senhor esteja graciosamente agradado de fazer com que o aspecto meramente humano dos muros da prisão sejam expulso e nos dê a percepção de que, longe de ser limitada por homens e circunstâncias, é prisão no Senhor, e isso significa que todas as era e todos os reinos entram por essa prisão.
(De Toward a Mark (Em direção à marca), jan-fev 1980, vol. 9-1.)
(Traduzido por Francisco Nunes. Original aqui. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)
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1Instrumento e vaso, como visto neste artigo, são termos normalmente usados por Austin-Sparks para se referir aos servos de Deus. (N.T.)
2No sentido de um canteiro, um terreno pequeno. (N.T.)
“Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade […] Procura vir antes do inverno” (2Tm 4.13,21).
Preso pela segunda vez em Roma, como um criminoso comum, na prisão Mamertina, uma prisão úmida e sombria, de acordo com a história, onde ninguém podia sequer ficar em pé, o apóstolo Paulo, que tanto havia proclamado o evangelho por todo o império, percorrendo caminhos, rios e desertos, havia chegado ao final de sua vida: “O tempo da minha partida está próximo” (v. 6).
Um após o outro, os companheiros de antes, com exceção de Lucas, haviam partido; uns, é verdade, para o serviço do evangelho; outros, como Demas, por terem amado “o presente século” (v. 10). Eu sua defesa, ninguém esteve a seu lado, todos o abandonaram. Paulo, sendo pregador, apóstolo e mestre dos gentios, havia cumprido seu serviço perfeitamente, combatendo o bom combate e guardando a fé. Paulo havia se alegrado muito vendo a assembléia em Roma, cujos irmãos, anos antes, o haviam animado (At 28.15). Agora ninguém parecia se preocupar com este pobre e velho prisioneiro, que não tinha com que se proteger do frio que estava por chegar. Precisou pedir que lhe trouxessem sua velha capa, que estava na longínqua Trôade. Na verdade, “o inverno” já havia chegado.
Apesar de o apóstolo estar consciente de sua solidão e do abandono em que se encontrava, a presença do Senhor predominava em seu coração.
E esta súplica se repete: a Timóteo, ele pede: “Procura vir ter comigo depressa […] Procura vir antes do inverno” (vs. 9,21). Em breve, os carrascos conduziriam o condenado ao suplício. Teria ele antes a ocasião e o consolo de ver seu “filho” Timóteo?
Muitos servos do Senhor que estão entre nós chegaram a uma idade avançada. Para eles, o “inverno” chegou; as forças declinaram, a resistência física falta, freqüentemente seus pensamentos se anuviam. Seguramente, eles também desejam que os mais jovens vão vê-los. Ficarão muito gratos por ter amigos que, sem esquecer as necessidades materiais, pensem principalmente naqueles que poderiam alegrar seu coração. Então, esses irmãos em Cristo serão para eles como um raio de luz em circunstâncias muitas vezes sombrias.
Mas, apesar de o apóstolo estar consciente de sua solidão e do abandono em que se encontrava, a presença do Senhor predominava em seu coração. Alexandre lhe havia causado “muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras” (v. 14). Em seu processo, todos os abandonaram; “mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me […] o Senhor me livrará” (vv. 17,18). “Acabei a carreira […] A coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (vv. 7,8). Do caminho para Damasco até a prisão em Roma, o Senhor havia sido para ele o Amigo fiel que tantas vezes o havia animado: em Corinto, onde chegou com temor e tremor (At 18.9,10); em Jerusalém, na noite em que foi preso (23.11); durante a tempestade em alto mar (27.23-25), quando os passageiros haviam perdido toda a esperança de salvação. Havia chegado “o inverno” com seus tantos sofrimentos. Paulo estava desprovido de tudo, mas, uma vez mais, o Senhor se manteve a seu lado.
Que mensagem deixaria para seu jovem amigo Timóteo, a quem talvez nem sequer voltaria a ver? Uma última palavra, um último desejo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito” (2Tm 4.22). Timóteo, por sua vez, também teria de sofrer e cumprir plenamente seu serviço, e onde acharia forças senão naquele que era o conteúdo da visão de seu pai espiritual? Por isso, Paulo disse não apenas “o Senhor seja contigo”, mas “com teu espírito”, o qual tão facilmente poderia desfalecer e abandonar a fé.
Não ocorre o mesmo conosco hoje? Se aqueles que nos guiaram durante nossa infância e juventude partirem, um após o outro, se a tarefa que está diante de nós, com as numerosas necessidades, for pesada, se dificuldades reais aparecerem por todos os lados, a mesma promessa permanece: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito”.
(G. A.)
Toda atividade exterior que não seja o fruto da vida interior tende a fazer-nos trabalhar sem Cristo e a substituí-Lo pelo ego.
A carreira final
O amado apóstolo nos dá uma comovedora idéia das condições finais de seu combate e de sua carreira: a prisão, o frio, a nudez (1Co 4.11; 2Co 11.27; em 2Tm 4.13 pede sua capa), a maldade e a oposição dos homens (vv. 14,15), seu comparecimento diante de César Nero e a ausência de todos os amigos (v. 16). Esses haviam se dispersado, e Demas o havia abandonado. Não é possível fazer parte do grupo dos que amam “o presente século” [este mundo] (v. 10) e também ser dos que amam a vinda do Senhor (v. 8). A epístola termina mencionando o supremo recurso em um tempo de ruína: a graça. Era a saudação do apóstolo (1.2) e também sua despedida (v. 22). Que essa graça esteja com cada um de nós.
(J. K.)
O serviço
O que é o serviço? É ter parte no ministério de amor de Cristo.
Uma vida interior com Deus é o único meio para viver em público por Ele. Toda atividade exterior que não seja o fruto da vida interior tende a fazer-nos trabalhar sem Cristo e a substituí-Lo pelo ego. Tenho muito temor de que se manifeste um grande ativismo quando há pouco comunhão com o Senhor.
Todo verdadeiro serviço deve resultar do conhecimento do próprio Cristo.
(John Nelson Darby)
(Traduzido por Francisco Nunes de Un mensaje bíblico para todos, 10/2014, publicado por Ediciones Bíblicas Para Todos (Suíça). Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito.)
“As aflições de Cristo são abundantes em nós” (2Co 1.5).
Há uma grande quantidade de temas sumarizada nas passagens que acabamos de ler, mas o que tenho no coração para dizer vai se limitar a duas coisas: em primeiro lugar, os sofrimentos e o sofrimento, e, em segundo, a necessidade e os valores do sofrimento.
O fato e o alcance dos sofrimentos
Pouco precisa ser dito, eu penso, quanto ao fato dos sofrimentos. Sabemos que o povo de Deus não está isento de sofrimentos. Isso, eu acho, não precisa ser detalhado. Mas há muitos sofrimentos em que entramos por sermos o povo de Deus; isso, talvez, precise de alguma consideração. Há sofrimentos que podemos trazer sobre nós mesmos, sofrimentos desnecessários, mas eu não estou pensando sobre esses. Estou falando sobre os sofrimentos de Cristo, do fato deles, e que eles são a porção comum do povo de Deus, e que, quando eles vêm sobre nós, não há nada de errado nisso. De fato, veremos antes de passarmos por eles que é exatamente o contrário.
Mas quando você pensa sobre esses sofrimentos, com Paulo como seu grande exemplo e intérprete, você é levado a ver que eles não são apenas incidentes, coisas locais ou terrenas. Mesmo quando eles tomam forma e coloração legal e terrena em razão de situações, circunstâncias e eventos, eles têm um alcance muito maior do que qualquer coisa incidental, local, temporal, terrena. O alcance desses sofrimentos não é menos do que espiritualmente universal. Eles vão além de nós mesmos, de nosso círculo, de nossa vida, de nosso tempo, e além de tudo aqui e agora. Eu usaria a palavra “dispensacional”, mas ela pode, talvez, ser mal interpretada. Os sofrimentos de Paulo superam a dispensação e são virtuosos hoje, depois de tantos séculos, e tem tocado cada esfera do celestial e do diabólico. Esses sofrimentos são mais do que apenas incidentes na vida, mesmo que dolorosos. Eles são colocados dentro de uma vasta esfera de significado e eficácia. Eles são, em geral, uma amostra de um vasto e poderoso sistema de antagonismo a tudo o que é de Cristo.
Devemos, portanto, aceitar o fato de tais sofrimentos, e ajustar-nos para o significado espiritual disso. Se você e eu mantivermos a idéia de que a vida cristã deve ser um piquenique perpétuo, vamos nos meter em todo tipo de dificuldades, perplexidades e decepções. Se procurarmos escapar dos sofrimentos de Cristo, estamos cortando as próprias entranhas de nossa digna vida temporal espiritual. Devemos nos acautelar disso. Temos de aceitar o fato de que, sendo do Senhor aqui, nossa herança é uma herança dos sofrimentos de Cristo, e não devemos tentar evitá-los.
O sofrimento dentro dos sofrimentos
Eu usei as palavras os sofrimentos e o sofrimento, o plural e o singular. O sofrimento, isto é, o sofrimento que está dentro dos sofrimentos. Às vezes, é o sofrimento que traz os sofrimentos. Tome Paulo, por exemplo, e o sofrimento a que ele se refere em 2Coríntios 1.8-10: “A tribulação que nos sobreveio na Ásia”. A palavra “tribulação” é de uma raiz latina que significa “um mangual1”, e retrata o manejo de um mangual sobre o corpo nu de um homem amarrado, sendo machucado, quebrado e espancado; é uma palavra forte. Paulo diz que foi o que aconteceu com ele na Ásia. “Fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte […]”. “Nós tivemos resposta a nossa pergunta, e a resposta foi: é a morte!”
Isso é o sofrimento dentro dos sofrimentos. Não pense, nem por um momento, que era apenas uma coisa física. Um homem que podia passar por todas essas experiências, registradas por Paulo, e que podia dizer que partir e estar com Cristo era muito melhor, não tinha medo de morrer. De modo nenhum! Deve ter havido algum sofrimento dentro dos sofrimentos. “Sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar”: isso era algo interior; não era algo por ele estar desesperadamente doente, podendo morrer a qualquer momento. O que era, então? Sua situação pode ter sido devida ao relatório que veio a ele sobre as condições de Corinto, pois foi nessa época que ele recebeu as notícias do terrível estado de coisas em Corinto, registrado nessas cartas, e ele fala: “Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2Co 11.28). Mesmo que tenha sido doença física que o assaltou, sabemos que a doença do corpo é muitas vezes causada pela tristeza de coração, e os sofrimentos exteriores são, por vezes, o resultado de angústia interior Assim, temos o sofrimento dentro dos sofrimentos.
Há um sofrimento espiritual por amor a Cristo, ao qual Paulo se refere nessa porção como “sentença de morte”, que apesar de estar além de nossa explicação, parece sugerir que ele entrou em um estado espiritualmente terrível por causa de certas condições. Se eu fosse tentar descrever a situação, eu diria que Paulo havia recebido aquelas notícias terrivelmente más sobre as coisas na igreja em Corinto, com mais, talvez, de outros lugares também, e ele tinha desabado sob seu sofrimento e disse: “Vale a pena? Não é tudo em vão? Não é uma situação totalmente sem esperança? Eu não estou desperdiçando minha vida ao derramá-la para essas pessoas?”
Quando você começa algo assim, não há fim. Você pode afundar mais e mais até que as águas do desespero gradualmente cheguem perto de você. Você tenta orar e não consegue, pois um homem com dúvidas nunca pode orar. Ele pode chorar, mas não pode orar. Um homem que é levado a esse tipo de coisa não pode orar; o céu está fechado. E Paulo, por assim dizer, se questiona e diz: “Qual é o significado disso?” A resposta é: “É a morte; ao longo dessa linha é a morte. Se você chegar lá, não há caminho de volta e nenhuma maneira de sair. Isto é o fim de tudo: a morte!”
Eu não vou prosseguir para ver como Paulo chegou ao ponto de virada e a tão grande livramento. Isso não está em nossa atual consideração. Meu ponto neste momento é que a morte aqui era espiritual, não física. Ele estava provando algo da verdadeira natureza da morte. A morte é uma sensação de ser excluído de Deus, de céu sendo fechado, de não haver caminho nem saída, confinado e aprisionado, no final de tudo, e que isso é registrado em e sobre sua alma. Isso é mais do que a morte física. Alguns de nós, mais de uma vez, teriam ficado felizes em morrer fisicamente. Mas coisa diferente é a morte espiritual, e ela é terrível, é assustadora; não há alegria nela. Provar isso é saber alguma coisa sobre os sofrimentos de Cristo. Esses sofrimentos podem ser conhecidas por meio de outras passagens, mas não estamos aqui tentando definir em detalhes toda a gama de sofrimentos de Cristo, mas apenas enfatizando o fato deles.
A necessidade e os valores dos sofrimentos de Cristo
Qual é a aplicação para nós? Cada um de vocês terá de fazer a própria aplicação, pois eu não sei por que fui levado a essa mensagem; somente o Senhor conhece Sua própria sabedoria. Mas há algumas questões muito práticas vinculadas a isso; e assim chegamos à segunda parte de nosso assunto, ou seja, a necessidade e os valores desse tipo de sofrimento. Vamos deixar estabelecido, de uma vez por todas, que os sofrimentos de Cristo são uma necessidade absoluta. Eu vou dizer uma coisa muito forte: se você não sabe nada sobre os sofrimentos de Cristo, há algo de errado com você como cristão. Eu não estou, é claro, falando de quem recentemente entrou na vida cristã, embora o sofrimento às vezes seja encontrado desde o início. Mas a obediência e a fidelidade em breve levam à experiência de alguma forma dos sofrimentos de Cristo. Se você está evitando tais sofrimentos, se está se rebelando contra eles, você está assumindo uma direção totalmente errada. Eles são a verdadeira porção dos filhos de Deus. Eu não digo que vocês terão cada um deles na mesma medida ou do mesmo tipo, mas vocês vão tê-los. Peça ao Senhor caso seus maus momentos não estejam, afinal, de acordo com isso. Você tem pensado deles meramente como circunstâncias, como decepções, trabalhando para seu infortúnio, sua desvantagem. Mas veja se eles não estão, na verdade, ligados com sua vida espiritual, se eles não têm uma relação com seu crescimento espiritual. Interrogue-se, examine esta questão.
Realidade pelo sofrimento
Eles são necessários por vários motivos. Em primeiro lugar, para manter as coisas reais, práticas e atualizadas. O Senhor não vai permitir que qualquer um de nós viva de um passado, sobre uma teoria, sobre uma tradição, sobre uma doutrina apenas como doutrina. Ele vai nos permitir viver apenas do que é real, prático e atualizado, e, sendo nós feitos como somos, não viveremos assim a não ser que isso seja feito em nós. Eu poderia fazer muitas confissões pessoais agora, mas elas seriam de muito valor, exceto a título de ilustração. Se eu conheço mesmo apenas um pouco sobre o Senhor e as coisas do Senhor, posso dizer-lhe, de modo perfeitamente franco, que é por causa do sofrimento. Eu não poderia e não teria aprendido a não ser que o Senhor me fizesse aprender, e me ensinou em uma escola muito profunda e prática, na qual as coisas são mantidas sempre em dia e onde cada mínima parte do ministério surgiu de alguma nova experiência. É uma lei que se aplica a todos nós. O fato é que esses sofrimentos são absolutamente essenciais para manter as coisas reais; e você sabe tão bem quanto eu que as pessoas querem realidade. Elas têm o direito de dizer: “Como você conhece isso? Você já provou isso? Como foi para estar nas horas mais profundas da vida, quando as coisas estavam além de seu poder? Teve de provar que eram verdade?” Se não formos capazes de dizer de todo coração em absoluta sinceridade: “Descobri que Senhor é assim em minha experiência real. Eu coloquei a verdade para um teste completo e provei-a”, somos uma fraude. O Senhor não tem lugar para fraudes; por isso Ele nos mantém em dia. A realidade vem pelo sofrimento.
Crescimento pelo sofrimento
Progresso e crescimento também são garantidos por esse meio. Toda a natureza declara isso. Crescimento, desenvolvimento, aumento são por meio do poder que cria um rangido e um gemido e uma dor no organismo; e na vida espiritual é assim também. Nós falamos sobre as dores do crescimento. Creio que isso é considerado não científico agora, mas é uma frase muito útil. Sim, existem dores de crescimento, e os sofrimentos de Cristo nos membros de Seu corpo estão relacionados ao crescimento. A diferença é esta: no que temos chamado de dores de crescimento é o crescimento que está realmente acontecendo que provoca as dores, enquanto aqui, no que temos diante de nós, são as dores que produzem o crescimento posterior. Nós crescemos por meio de sofrimento, não há nenhuma dúvida sobre isso. Mostre-me uma vida espiritual madura, e você me mostrará a personificação de muito sofrimento de algum tipo, nem sempre físico, uma vida que passou por muitas coisas. Paulo encontrou seu ponto de virada aqui: “Para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2Co 1.9). Uma nova descoberta das profundezas. Onde ele tocou o fundo, descobriu Deus de uma nova maneira: “Deus, que ressuscita os mortos”. Tal saber Dele vem ao longo dessa linha. Os valores do sofrimento estão lá.
Habilidade pelo sofrimento
Mas, então, observe novamente o que ele diz nesse primeiro capítulo: “Deus […] que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos[…]” (vv. 3,4). Oh, há muito nisso! Fala de um estoque no comércio, os meios para servir, não é mesmo? Muitas vezes podemos ter momentos ruins por causa de nossa falta de habilidade em muitos aspectos, comparando-nos com outras pessoas e deplorando nossa falta de habilidade nesse aspecto ou naquele. Mas, afinal, qual é a maior habilidade? A melhor e mais frutífera habilidade é ser capaz de ajudar as pessoas nas experiências profundas da vida espiritual, ser capaz de explicar-lhes o significado dos tratos de Deus com elas, ser capaz de mostrar-lhes qual deve ser o resultado de tudo, ser capaz de dar-lhes algum apoio por meio de conselho que vem do conhecimento real – algo do conforto que nós mesmos recebemos de Deus. Isto é o serviço real, isto é a edificação do Corpo de Cristo, a Casa de Deus: ser realmente capaz, de uma forma espiritual, de fortalecer os aflitos. Isso vem mediante o sofrimento.
Você está passando por isso, está tendo um momento difícil? O que o está colocando para baixo? Você é do Senhor? Sua vida é comprometida com Ele? Então, veja se você realmente pode, de modo correto e preciso, separar seu momento de dor de sua vida espiritual. Se puder, tudo bem! É só pôr tudo isso de lado como a porção comum de qualquer um que não é cristão. Não, você não pode separar isso. Estão ligados. Isso terá um efeito sobre você, de uma forma ou de outra, seja para aumento espiritual ou para perda espiritual. Mas, oh!, vamos nos ajustar. Se os sofrimentos de Cristo abundam sobre nós, eles são os sofrimentos de Cristo. Eles podem ser sofrimentos de alma, podem ser no plano físico, podem ser uma combinação de ambos, mas o Senhor é soberano nesses sofrimentos, para fins grandes, benéficos e valiosos.
Termino lembrando você desta outra palavra que o apóstolo dirigiu aos coríntios: “E escrevi-vos isto […] para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho” (2.3,4). Você não pode ter amor sem sofrimento. As duas coisas andam juntas, e marcam você, sua disposição de sofrer, sua atitude com relação ao sofrimento, provando seu amor pelo Senhor. Muitas pessoas não estão experimentando os sofrimentos de Cristo por não terem amor suficiente por Seu povo. Se você realmente tem um coração de amor por um filho de Deus, você vai sofrer por aquele filho de Deus. Se você tem um coração de amor pelo povo de Deus, você vai sofrer pelo povo de Deus. Se você tem um coração de amor por uma pessoa do povo do Senhor que Ele uniu a você, você vai sofrer por essa pessoa. Se você tem um coração de amor por seu Senhor, você vai sofrer com seu Senhor quando vir o nome Dele desonrado e seus interesses anulados ou pervertidos. Nosso amor é a medida de nosso sofrimento. Se nosso sofrimento é pequeno, pode ser que o grande erro seja que nosso amor é muito pequeno.
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1Instrumento com que se malha cereal, composto de dois paus (o mango e o pírtigo) ligados por uma correia. Bras. Chicote, relho. Fonte: aulete.uol.com.br/mangual.
(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Fellowship of His Sufferings, de T. Austin-Sparks, publicado pela Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, reimpresso em 2000. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)
Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, mar/abr de 1948, vol. 26-2
“Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Isaías 63.9).
A primeira cláusula deste versículo é o que vai nos ocupar por uns poucos minutos, e será na mais correta tradução encontrada como nota marginal em algumas Bíblias. Apesar de haver alguma autoridade para a tradução comum das palavras aqui, a verdadeira redação do original é: “Em toda a adversidade deles, Ele não foi adversário”1. Você pode escolher entre as traduções aquela de que mais gosta, e você não estará errado se preferir uma à outra. Mas essa tradução alternativa para o texto usual transmite uma mensagem por si mesma, a qual penso deveria ser grande ajuda, encorajamento e força para nós.
O fato da adversidade
Em primeiro lugar, notamos que a adversidade contra o povo de Deus é reconhecida e aceita, isto é, é dada como certa. É desnecessário dizer que, entre o povo de Deus, a adversidade é um fato. Nenhum de nós precisa dizer isso. Aqui a Palavra de Deus destaca o fato de que o povo do Senhor conhece a adversidade e a sofre, e que ela está sob os olhos de Deus. Só resta dizer que ninguém deve pensar que a adversidade significa que as coisas estão erradas. Talvez, às vezes, sintamos que, por causa da severa e contínua adversidade, deve haver alguma coisa errada. Embora possa haver uma esfera na qual a adversidade é o resultado de alguma coisa errada que foi feita, e o inimigo tem um terreno legítimo, no entanto não é a isso que se refere aqui. Em primeiro lugar, não era adversidade por causa do mal ou do erro; era a adversidade que é a experiência comum do povo de Deus que está se movendo com Ele. E, quando é assim, conforme podemos ver em um momento, não há nada errado de modo algum. É isso, a propósito, quanto ao fato da adversidade.
A natureza da adversidade
Então, sigamos para a natureza da adversidade referida aqui. A palavra “angústia” ou “adversidade” é a palavra “aperto” [em sentido físico ou figurado]: “Em todo o aperto deles, Ele não foi adversário”. E a idéia de aperto é apta para múltiplas aplicações. Qual é o aperto referido aqui? Bem, Israel é aqui visto como no deserto. Você nota que todas as frases que se seguem levam você de volta à vida de Israel no deserto, e é a essa vida com suas muitas formas de aperto que a palavra se refere.
Em primeiro lugar, os israelitas estavam confinados com respeito a muitas coisas que o mundo tinha e que o mundo pode fazer, as quais constituem toda a vida do mundo e dão ao mundo seu prazer e, tanto quanto ele pode, sua satisfação. Eles foram cortados de tudo aquilo, e por vezes essa forma de aperto veio para eles de forma dura e severa. Você sabe que, quando eles passaram por um tempo especialmente difícil, o coração deles quis voltar para o Egito e eles pensaram nos alhos e cebolas e em tudo o mais que havia lá e os desejaram. No Egito, nós temos isso e também as outras coisas de sentimos falta agora, e é difícil ser separado, como fomos, dessas coisas. Havia um elemento de certeza no Egito, mas fora dali você nunca sabe para onde está indo, tendo de viver um dia após o outro, ou o que vai acontecer com você – tudo o que as evidências atuais conseguem é fazer você se preocupar por não saber o que vai comer amanhã. Isso é uma vida de fé, e fé é uma vida de aperto muito freqüente, separado de muitas coisas e confinado a esse deserto em as coisas são, para a mente natural, “reduzidas” a Deus. (Sabemos que essa é a maneira errada de apresentar isso. Para a mente espiritual, as coisas são expandidas a Deus, mas quem foi plenamente levado para esse lugar, onde o aperto terreno é sempre um alargamento celestial?) Naturalmente, era assim com Israel: confinado, reduzido, enclausurado, apertado no que diz respeito às muitas coisas deste mundo. Porque eles eram o povo de Deus, não podiam fazer nem ter nada. Havia uma esfera inteira de coisas cortadas deles; naturalmente, na alma, isso era aperto.
A adversidade não prova que o Senhor é nosso adversário
Quando você e eu começamos a sentir isso – e há dias em que a alegria pura e sem mácula do próprio Senhor e das coisas celestiais se tornam nubladas, veladas e remotas, e percebemos estar mais sensíveis ao aperto e a como estamos confinados –, quão rapidamente o inimigo vem e diz: “O Senhor está contra você! Isso não é a bondade do Senhor, isso não é a beneficência e a graciosidade do Senhor, esse tipo de vida realmente não é a vida que o Senhor prometeu a você.” Ele tenta fazer com que, em nosso coração e em nossa mente, o Senhor seja nosso adversário por causa da consciência da presente situação de dificuldade. Ele deturpa o Senhor; ele pinta o Senhor com as cores de nossa provação, de nossa dificuldade, e diz: “O Senhor é assim; Ele é um mestre difícil de servir. Essa vida cristã não é tudo que disseram que seria. O Senhor enganou você, Ele falhou com você. E mais…”. Ele mistura tudo para maldizer o Senhor.
O que a Palavra está dizendo aqui é definitivamente isto: em todo esse aperto, essa privação, esse confinamento, o Senhor não estava contra os israelitas; por mais que pareça, o Senhor não estava mesmo contra eles. Então, temos de encontrar outra explicação. Os fatos são muito reais, aquelas condições são muito verdadeiras. Adversidade, provação, sofrimento são muito reais, e se eles não significam que o Senhor está contra nós, qual é a explicação?
A intenção do Senhor para o bem
A única alternativa, com certeza, é que o Senhor está pretendendo o bem, que Sua intenção não é, em última instância, nossa limitação e privação, mas nosso alargamento, nosso enriquecimento. Evidentemente, o Senhor pode dizer algo diferente do que aquilo que as circunstâncias parecem indicar que ele quer dizer. Em todos esses apertos, Ele não é contra você. “Se Deus é por nós…” (Rm 8.31). Na adversidade, no aperto, no privar de muitas coisas, no dizer “Não” muitas vezes, o Senhor não é contra você, Ele não está roubando você de qualquer coisa realmente boa, tirando de você qualquer prazer real, Ele não está trabalhando contrariamente a seus interesses, Ele não é o adversário. Mas em tudo isso, Ele é por você enquanto você estiver no caminho da vontade Dele, seguindo com Ele.
Eu disse que a palavra “aperto” tem múltiplas aplicações. Eu não vou detalhar de que modo ela pode ser aplicada. Eu conheço o aperto. Quantas vezes o inimigo chuta as portas e, então, diz que o Senhor as chutou porque Ele é contra você! Quão freqüentemente o inimigo leva você ao sofrimento, coloca sobre você alguma coisa, e, então, diz: “Isso é o Senhor!” Quantas vezes o inimigo tenta anuviar sua segurança e trazer condenação e acusação sobre você, e colocar você sob uma sensação de julgamento e, depois, dizer: “É o Senhor!” Não é nenhum pouco!
Essa não é necessariamente a explicação ou a interpretação para tudo. Você percebe que a primeira fase dessas coisas encontra o povo fora e se movendo com o Senhor, e, conforme isso acontecia, os membros do povo iam entrando nessa adversidade de várias formas. E a declaração é que isso não significa que o Senhor era contra eles. Se quisermos, podemos acrescentar muitas outras passagens para mostrar como o Senhor era, na verdade, a favor deles exatamente naqueles dias de dificuldade e de adversidade. Eu só quero dar a você algo sobre o que firmar os pés.
O Senhor é o adversário dos rebeldes
A passagem segue para outro e escuro estágio. “Mas eles foram rebeldes […] por isso se lhes tornou em inimigo” (Is 63.10), seu adversário. Mas mesmo quando afirmamos o aspecto negro da coisa, isso amplia o outro. Você se rebelou contra o Senhor? Pode realmente ser dito que você tomou a mesma atitude tomada por aquele povo? Você conhece algumas das perversas e terríveis coisas que eles disseram em sua rebelião, quando o coração deles se afastou do Senhor. Eles, de fato, disseram: “Não queremos mais esse Senhor. Não queremos mais ter esse Senhor.” Isso pode ser dito de você? Bem, então, nessa situação, o Senhor se torna o inimigo daqueles, e será seu inimigo enquanto você estiver naquela posição; Ele não pode estar a seu favor enquanto você estiver lá. Mas se não é assim com você, e, a despeito de todas as fraquezas, falhas, faltas, imperfeições (sim, nós nunca estaremos sem alguma coisa que possa ser condenada em nós), não obstante tudo isso, seu coração é para o Senhor, é seu desejo seguir com Ele, então, Ele não é adversário. Sim, há muitas imperfeições, mas Ele não é adversário. Ele será quando nós, como aquele povo, deliberada e positivamente nos voltarmos e nos rebelarmos contra o Senhor e dissermos: “Não obedeceremos, não seguiremos!”. Então, Ele será nosso adversário. Isso significa que Ele tem de nos levar a julgamento.
O amor do Senhor pelos rebeldes
Mas, mesmo assim, a terceira fase é muito abençoada: “Todavia se lembrou […]” (v. 11). Mesmo quando Ele tem de ser adversário dos israelitas por causa da atitude que eles adotaram, o fim disto é que Ele “se lembrou […] de Moisés”. Ele lembrou de Sua Palavra, e a última fase é que Ele volta em amor para restaurar. No final, o Senhor alcança até mesmo os rebeldes. “[…] e até para os rebeldes […]” (Sl 68.18), diz a Palavra. “Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (103.14). Você é um daqueles que, às vezes, de fato desviou-se no coração, com dureza, amargura e ácida indisposição, contra o Senhor por causa da dificuldade do caminho e você se tornou realmente rebelde contra ele, e o inimigo disse: “A coisa toda é sem esperança. Veja que você chutou a porta, e isso é fim!” Oh, como esse inimigo irá tomar o controle de tudo para usar para sua destruição! Mas, mesmo que tenha feito isso, o fim é: Ele “se lembrou”. É uma maravilhosa abertura outra vez de Seu amor para os rebeldes.
Eles estão seguindo com o Senhor; eles sofrem adversidade, mas isso não significa que Ele esteja contra eles. Eles se rebelaram contra Ele, e Ele os tem de levar à disciplina, e naquele momento Ele poderia ser contra eles. Mas aquilo não precisa ser a situação estabelecida e permanente. “A sua misericórdia dura para sempre” (106.1). Se em nosso coração, vez por outra, temos nos tornado amargos, temos sentido que o Senhor foi muito duro e que o caminho não pode ser o caminho de Seu amor, se nós temos nos detido em pensamentos amargos e rebeldes, Satanás vem para tentar consolidá-los numa situação inalterável, que fechará para sempre a porta nos termos do pecado imperdoável. No entanto, o Senhor lembrará Sua Palavra, e Seu amor é manifestado, o qual, na verdade, nunca mudou. Eu espero que não haja muitos que tenham deserdado e se rebelado. Se você é um desses, esta é uma palavra de conforto e encorajamento para você.
O aspecto principal da palavra, no entanto, é para a maioria de nós que, enquanto o coração é para o Senhor, encontra muito aperto, muitos caminhos fechados, muita redução, muita privação, muito do que para a vida natural parece ser um caminho de trevas; porém, isso não significa que o Senhor é contra nós, mas exatamente o oposto. O Senhor está após um alargamento que é muito mais do que um alargamento da vida aqui. Pois, se tivermos tudo aqui, e ainda formos pequenos na medida de Cristo, o que teríamos ganho? Ganhamos nada. Assim, se o alargamento de Cristo parece significar a redução do ego e do mundo, isso é evidência de que o Senhor é por nós, e não contra nós. “Em toda a adversidade deles, Ele não foi seu adversário.” Em todo aperto deles, Ele não era contra eles.
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1Antes da palavra hebraica tsâr, “adversário, problema, angústia, etc.”, בכל צרתם לא, (a terceira da direita para a esquerda) não há verbo. A Young’s Literal Translation of the Holy Bible, de 1898, e a Literal Translation of the Holy Bible, de 1976, vertem o versículo como indicado por Austin-Sparks. (N.T.)
(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Lord’s Attitude To His Children In Adversity, de T. Austin-Sparks, publicado pela Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma. A maior parte dos textos de Austin-Sparks são transcrições de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de seu caráter oral, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento desse trabalho, por favor, deixe um comentário.)
Não é fácil crer na doutrina da providência de Deus, especialmente nesses dias em que parece que ela caiu sob os tempos difíceis…
Todas as pessoas – os cristãos e os não cristãos – experimentam ansiedade, frustração, mágoas e desapontamentos. Algumas sofrem intensa dor física e tragédias catastróficas. Mas o que deve distinguir o sofrimento dos cristãos do daqueles que não crêem é a confiança de que nosso sofrimento está sob o controle de um Deus todo-poderoso e todo-amoroso. Nosso sofrimento tem significado e propósito no plano eterno de Deus, e Ele traz ou permite que venha a nós somente aquilo que é para Sua glória e para nosso bem.
Há não muito tempo, encontramos uma carta numa antiga revista A Witness and A Testimony1, que foi escrita em janeiro de 1945; e, mesmo sabendo o que, na Inglaterra, as pessoas haviam sofrido nos intensos anos da II Guerra Mundial, parece que a tinta ainda está úmida e isto foi escrito para o Corpo de Cristo ontem.
Amados de Deus,
Que tempo de testes para a fé os santos enfrentam exatamente agora! E que tempo de fúria satânica! O que isso tudo significa? Parece haver somente duas respostas. Ou o Senhor está preparando movimento novo, e talvez final, para a consumação de Seu propósito na terra – o qual requer um estado que irá garantir profundidade, força e permanência, de modo que aquela plenitude real deverá marcar a recolha das colheitas para a glória em Sua manifestação – ou este é o fim de uma fase e o Senhor está vindo para os frutos maduros. Se Apocalipse 12 representa uma situação do fim dos tempos, então há muita coisa aqui que se ajusta com aquilo. As palavras aqui são, sem dúvida, proféticas, pois Apocalipse não foi escrito como história, mas como profecia em sua maior parte, isto é, não o que era passado, mas o que era naquele momento e o que viria a ser. O grande tema desse capítulo é: “Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado” (v. 10; grifos do autor).
Salvação aqui é “livramento de cada calamidade, vitória sobre inimigos, recuperação de doença e libertação do cativeiro”. O reino e a autoridade [poder] aqui referidos são resistidos pelo grande acusador, e uma grande batalha nos céus é travada para lograr o estabelecimento deles [o reino e a autoridade] pela emancipação dos eleitos tirados da esfera do poder de Satanás. Isso não joga luz sobre o teste de fé e o intenso conflito pelo qual os santos estão passando? Aqui está a explicação para as manifestações de resposta à oração há tanto tempo esperadas, as libertações postergadas, a passagem do poder de Deus da esfera temporal para a espiritual em nossa experiência: “O esconderijo da Sua força”.
A combinação de fé testada em relação às coisas visíveis e o intenso conflito na vida espiritual é muito verdadeiro em relação a esse assunto. Conforme clamamos por “salvação” em um ou outra de suas formas, e temos ficado apenas conscientes do conflito e da demora, o acusador vem e levanta perguntas sérias sobre nosso relacionamento com Deus e do relacionamento de Deus conosco. É a velha pergunta: “Se és Filho de Deus…” Assim, nós somos derrubados, ele acusa e busca fazer-nos aceitar que fomos colocados de lado, que fomos dispensados, que Deus não tem mais o que fazer conosco. O triunfo sobre isso é por testemunhar contra ele por meio do sangue do Cordeiro, pela declaração de nosso testemunho e pela eliminação do interesse próprio e de não amar-preocupar-se com a vida até a morte. O resultado é que ele é derrubado, e isso é a natureza e o objetivo da provação e da batalha. Que imensa questão está amarrada a uma pequena palavra: se. “Se… então, por quê?” Essa foi a pergunta de Gideão. Que foi apresentado a Cristo.
Mas, louvado seja Deus, o fim é revelado: o acusador é derrubado e o reino, o poder, a autoridade de Deus e de Seu Cristo são vistos chegando. Apesar de não querermos sugerir que um complexo-de-satanás deva ser desenvolvido, queremos instar que uma olhada para além das coisas, para a parte e o lugar dele nelas, será uma grande libertação da paralisia das próprias coisas. Quer estejamos vivos para isso ou não, “temos que lutar […] contra as hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12; grifo do autor), e somente quando atacarmos as forças espirituais por trás das coisas, na infinita virtude do sangue do Cordeiro, poderemos permanecer de posse da chave da situação. Mas vamos lembrar do valor do “eles” (Ap 12.11). É necessária uma ação coletiva, e nós precisamos tomar com muito mais seriedade a oração unida contra as forças espirituais. Assim, qualquer que seja o significado imediato da presente experiência, a necessidade é a mesma: um povo com força espiritual para levar à derrubada de Satanás, ou em situações e posições específicas ou na sua expulsão final das regiões celestiais.
Que o Senhor nos fortaleça com poder para essa batalha que, conforme Ele desejar que enfrentemos, teremos no novo ano.
Vosso, em Sua vida e esperança T. Austin-Sparks
Irmãos, ao lermos essa carta, a frase “O esconderijo de Sua força” destaca-se, e nós só a encontramos uma vez na Escritura, em Habacuque 3.4. Quando uma frase ou palavra é mencionada somente uma vez na Palavra de Deus, usualmente se refere a algo que é importante para Deus e para Seu povo. Habacuque é um pequeno livro profético que foi, provavelmente, escrito ao mesmo tempo em que Jeremias profetizou e a nação de Israel, como um todo, estava em um estado de idolatria e apostasia, como “aconteceu nos dias de Ló”.
Pouco se sabe de Habacuque além do que está em seus escritos, que nos permitem imediatamente reconhecer que era um guerreiro de oração, profundamente comprometido com o propósito de Deus. Ele era um homem que devia ter uma comunhão sem sombras com seu Senhor, pois três capítulos de seu livro são escritos em forma de colóquio, o que significa um discurso mútuo entre os que são íntimos e familiarizados um com o outro.
Assim, Habacuque e o Senhor estão mantendo uma comunhão recíproca, Espírito a espírito, alma a alma, profundeza a profundeza. Quando o discurso mútuo começa, vemos que Habacuque está desencorajado por não poder ver na esfera temporal que Deus estava trabalhando nas coisas de acordo com Seu plano: os ímpios governavam e pareciam não sofrer julgamento e os justos estavam sofrendo grandemente.
Habacuque ora (1.1-4):
“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? […] Por que razão me mostras a iniqüidade [problemas, com referência especial à natureza e às conseqüências da malignidade], e me fazes ver a opressão [injustiça que vem para o justo e o honesto]?”
“Até quando, Senhor! Até quando!” Habacuque perguntou isso como muitos de nós o fazem em tempos de tribulação. No entanto, algo que precisamos saber é que o clamor de Habacuque não é por seus desejos pessoais, mas está orando em nome de todos aqueles que sofrem nos tempos maus.
Deus responde a Habacuque (vv. 5-11):
“Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. […]” O Senhor menciona do julgamento que estava por vir. Ele diz a Habacuque que, não importa quão ruins as coisas possam parecer no reino natural, Ele está trabalhando nelas de acordo com o conselho de Sua própria vontade.
Habacuque continua o discurso com seu Senhor, por vezes ainda desencorajado, mas também encorajado, pois diz (vv. 12-17; 2.1):
“Sobre a minha guarda estarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que falará a mim, e o que eu responderei quando eu for argüido.”
Deus lhe responde e lhe diz que Seu propósito e conselho certamente virá no tempo que Ele determinou (2.2-20):
“A visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.” E diz que, durante o tempo da espera, a fé do fiel será provada! “O justo pela sua fé viverá.”
Esta é a única ordem que o Senhor dá a Habacuque: “Mas o justo pela sua fé viverá”. Nessa escritura, a palavra “mas” é muito importante. É uma conjunção adversativa, marcando geralmente um contraste distintivo, uma contradistinção em relação a tudo que o cerca. Em outras palavras, o Senhor está dizendo: “Quando as coisas parecem piorar, quando o inimigo parece estar conseguindo vencer, o justo deve viver por sua fé”. O Senhor está dizendo a Habacuque que a vida dele deve ser um contraste distinto, deve ser diametralmente oposta a tudo que Satanás instiga no mundo ou no meio do povo de Deus. Habacuque deve viver e se mover e ter seu ser na esfera da fé.
Então, o Senhor continua a falar do julgamento, bem como muitas palavras proféticas que seriam (e são) muito difíceis para os fiéis entenderem. No entanto, bem no meio de todo esse julgamento, Ele espantosamente declara:
“Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. […] Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (2.14,20)
Quando Deus partilha isso com Habacuque, o profeta irrompe numa gloriosa oração que é um salmo de louvor bem como uma oração de guerra do Espírito. Pois, mesmo que possa parecer que todas as coisas não estejam funcionando de acordo com o propósito de Deus, Habacuque vem a perceber que o exato oposto é verdadeiro: Deus está de fato ocultando Seu poder, e no reino invisível o inimigo está sendo derrotado e os eleitos de Deus estão sendo libertados para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
“[…] e ali estava o esconderijo da sua força. […] e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem” (3.4,6).
Amados, vamos nos tornar guerreiros de oração, tal como Habacuque, por unir-nos aos justos de todas as eras que, no meio de suas provações, viveram pela fé no Filho de Deus, e vamos, no Espírito, abraçar o encargo de nosso Senhor para Seu povo (o nome Habacuque implica “aquele que abraça o encargo”) e cantar como Habacuque:
“Porque ainda que a figueira não floresça
nem haja fruto na vide;
ainda que decepcione o produto da oliveira
e os campos não produzam mantimento;
ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas
e nos currais não haja gado;
todavia eu me alegrarei no Senhor,
exultarei no Deus da minha salvação.
O Senhor Deus é a minha força,
e fará os meus pés como os das cervas
e me fará andar sobre as minhas alturas”
(vv. 17-19).
Amém! Amém! Amém!
____ 1 Essa revista, Uma Testemunha e um Testemunho, cujo editor era T. Austin-Sparks, não é mais publicada. Ele partiu para o Senhor na primavera de 1971.
(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The hiding of His power, publicado em 1994 por Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, EUA, sem indicação de autoria.)