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Devoção

Devoção demanda entrega total

A devoção se caracteriza pelo fato de não estar condicionada à necessidade, como a obediência. Ela é o resultado de um impulso do coração, do centro das inclinações e dos motivos profundos. Não é a resposta a um mandamento, e se encontra acima de toda forma de subordinação, quer seja a vontade de outra pessoa ou a obrigação que se deriva de um relacionamento.

A devoção de Cristo

“Cristo […] pelo Espírito eterno se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9.14). Eis aqui a expressão da maravilhosa devoção que fez Cristo agir voluntariamente e que revelou, assim, o motivo profundo de Seu coração: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu” (Sl 40.8).

Essa maneira espontânea de nosso Senhor agir, seguindo o movimento de Seu próprio coração, é o pensamento dominante do Evangelho de João. Encontramos ali a obra da cruz sob o caráter do holocausto. “Por isto o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou” (Jo 10.17,18). A morte do Senhor era necessária para nossa salvação, ambas são inseparáveis; mas o motivo específico do Evangelho de João é a devoção do Senhor. O holocausto evoca o que Deus encontrou na morte do Senhor, esse “cheiro suave” (Ef 5.2) que somente Ele podia apreciar e que, de uma maneira muito especial, respondia a Seu amor.

João 10 registra o restante do que o Senhor disse: “Tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de Meu Pai” (v. 18). Em virtude de Sua divindade, o Senhor era completamente livre com respeito à morte e à ressurreição, mas não fez nada de sua própria autoridade. Por isso, fala de um “mandamento”. Mas Seu ato de devoção se cumpria no perfeito acordo de Seu coração com o do Pai. Foi isso que o caracterizou em Sua vida de homem na terra.

A devoção de três valentes

Davi havia sido ungido rei, mas ainda não havia subido ao trono. Tinha de sofrer ainda a hostilidade de Saul e, além disso, lutar continuamente contra os filisteus para defender o povo de Deus. Um dia, durante o calor do tempo da sega, teve o desejo de beber da água do poço de seu povoado natal, ocupado pelos filisteus naquele momento, e deixou escapar as palavras: “Quem me dera beber da água da cisterna de Belém, que está junto à porta!” (2Sm 23.15). Três de seus homens o ouviram e, sem que ele os houvesse mandado, irromperam pelo acampamento dos filisteus e lhe trouxeram água daquele poço.

Por que essa água? Não havia água para tomar em outro lugar? Eles não se fizeram essas perguntas, pois, onde há verdadeira devoção, não é preciso fazer perguntas. Davi sentiu profundamente essa devoção. Viu nessa água a vida de seus companheiros, que a expuseram por ele. Por isso, “derramou-a perante o Senhor” (v. 16). E podemos estar certos de que seus homens o compreenderam muito bem. Precisamente porque essa água era preciosa para Davi, ela pertencia a Deus. Muitos anos depois, o Espírito Santo dá deles este testemunho eterno: “Isto fizeram aqueles três poderosos” (v. 17).

Onde há verdadeira devoção, não é preciso fazer perguntas.

Mas notemos ainda isto: se a devoção não tem relação com a necessidade, isso não quer dizer que o ato em si seja inútil. Não foi inútil regozijar o coração de Davi, o que é manifestado pelo testemunho do Espírito Santo. Também não foi inútil o ato de Maria quando derramou sobre o Senhor Jesus um perfume de nardo puro de muito preço, mesmo que alguns considerassem isso um desperdício (Jo 12.3-5).

A devoção do apóstolo Paulo

“Eu de muito boa vontade gastarei e me deixarei gastar por vossa alma, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2Co 12.15).

Se houve um servo do Senhor do qual podemos aprender o que seja um serviço de devoção, é o apóstolo Paulo. Desde o dia em que o Senhor glorificado lhe apareceu na estrada de Damasco, para ele viver nada mais era que Cristo. Em Paulo, encontramos todas as virtudes de um servo: o amor pelo Senhor e pelas almas, o zelo, a perseverança, a humildade… Estava pronto para sofrer e para dar tudo o que tinha e era. Nele havia uma devoção sem limites.

A devoção do servo: a devoção que entrega tudo, incluindo a si mesmo; não espera nada e, como conseqüência, está acima de toda decepção.

Paulo era plenamente consciente de que “cada um receberá de Deus o louvor” (1Co 4.5), e essa aprovação orientava sua vida. A idéia do tribunal de Cristo o motivava a procurar ser agradável a Deus (2Co 5.9,10). E a coroa da justiça que receberia naquele dia era um consolo para a última e difícil etapa de sua carreira na terra (2Tm 4.8). Mas jamais a aprovação dos homens.

O versículo citado mais acima é uma palavra especialmente comovente que Paulo escreveu aos coríntios, os quais lhe causavam tanta preocupação. Talvez seja a mais emocionante que ele tenha escrito sobre si mesmo, pelo menos nessa carta que, do princípio ao fim, é um combate para ganhar o corações dos coríntios. Aqui vemos a devoção do servo: a devoção que entrega tudo, incluindo a si mesmo; não espera nada e, como conseqüência, está acima de toda decepção. “Meu galardão [está] perante o Meu Deus”: essa palavra de Isaías 49.4, que aplicamos com gosto ao Senhor Jesus, também pode ser aplicada ao apóstolo Paulo.

 

(E. E. Hücking. Traduzido por Francisco Nunes de “Devoción”, da revista Creced 1/2015, publicada por Ediciones Bíblicas, da Suíça. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Teologia bíblica e crise de sexualidade

(Albert Mohler Jr.)

A sociedade ocidental experimenta, atualmente, o que pode se chamar de fato uma revolução moral. O código moral de nossa sociedade e a avaliação ética coletiva acerca de uma questão particular sofreram não apenas pequenos ajustes, mas uma completa inversão. O que antes era condenado, agora, é celebrado; e a recusa a celebrar, agora, é condenada.

O que torna a presente revolução sexual e moral tão diferente das revoluções morais anteriores é que ela está acontecendo a uma velocidade absolutamente sem precedentes. As gerações anteriores experimentaram revoluções morais ao longo de décadas, até mesmo séculos. A presente revolução está acontecendo à velocidade da luz.

À medida que a igreja responde a essa revolução, devemos nos lembrar de que os atuais debates acerca da sexualidade apresentam à igreja uma crise que é irredutível e inescapavelmente teológica. A crise é equivalente ao tipo de crise teológica que o gnosticismo apresentou à igreja primitiva, ou que o pelagianismo apresentou à igreja no tempo de Agostinho. Em outras palavras, a crise da sexualidade desafia o entendimento da igreja acerca do evangelho, do pecado, da salvação e da santificação. Advogados da nova sexualidade exigem uma completa reescrita da metanarrativa da Escritura, uma completa reordenação da teologia, uma mudança fundamental em como nós pensamos o ministério da igreja.

“Transgênero” está na concordância bíblica?

Textos-prova são a primeira reação de protestantes conservadores em busca de uma estratégia de resistência e reafirmação teológica. Essa reação hermenêutica ocorre naturalmente com os cristãos evangélicos porque nós cremos na Bíblia como a inerrante e infalível Palavra de Deus. Nós entendemos, como B.B. Warfield disse, que “quando a Escritura fala, Deus fala”. Eu devo deixar claro que essa reação não é inteiramente errada, mas também não é inteiramente certa. Não é inteiramente errada porque certas Escrituras (isto é, “textos-prova”) falam acerca de questões específicas de um modo direto e identificável.

Contudo, existem óbvias limitações a esse tipo de método teológico – o que eu gosto de chamar de “reação da concordância bíblica”. O que acontece quando você lida com uma questão teológica para a qual nenhuma palavra correspondente aparece na concordância? Muitas das questões teológicas mais importantes não podem ser reduzidas meramente a encontrar palavras relevantes e seus versículos correspondentes em uma concordância bíblica. Tente encontrar “transgênero” em sua concordância. Que tal “lésbica”? Ou “fertilização in vitro”? Elas certamente não estão no final da minha Bíblia.

Não é que a Escritura seja insuficiente. O problema não é uma falha da Escritura, mas uma falha de nossa abordagem da Escritura. A abordagem-concordância da teologia produz uma Bíblia rasa, sem contexto, sem aliança ou pacto, sem uma narrativa principal – três fundamentos hermenêuticos essenciais para entender a Escritura corretamente.

Uma teologia bíblica do corpo

A teologia bíblica é absolutamente indispensável para que a igreja molde uma resposta apropriada à presente crise sexual. A igreja precisa aprender a ler a Escritura de acordo com o seu contexto, envolta em sua narrativa principal e progressivamente revelada em linhas pactuais. Nós precisamos aprender a interpretar cada questão teológica por meio da metanarrativa bíblica da criação, queda, redenção e nova criação. Especificamente, os evangélicos precisam de uma teologia do corpo que esteja ancorada no próprio desvelar do drama da redenção ao longo da Bíblia.

Criação

Gênesis 1.26-28 indica que Deus criou o homem – diferentemente do resto da criação – à sua própria imagem. Essa passagem também demonstra que o propósito de Deus para a humanidade era uma existência corporal. Gênesis 2.7 também enfatiza esse ponto. Deus criou o homem do pó da terra e, depois, soprou nele o fôlego de vida. Isso indica que éramos corpo antes de sermos pessoa. O corpo, como se vê, não é incidental à nossa personalidade. Adão e Eva recebem a comissão de multiplicarem-se e sujeitarem a terra. Os seus corpos lhes permitem, pela criação de Deus e por seu plano soberano, cumprirem aquele mandato como portadores da imagem divina.

A narrativa de Gênesis também sugere que o corpo vem com necessidades. Adão sentiria fome, então Deus lhe deu o fruto do jardim. Essas necessidades revelam, no bojo da ordem criada, que Adão é um ser finito, dependente e derivado.

Além disso, Adão teria a necessidade de companhia, então Deus lhe deu uma esposa, Eva. Tanto Adão como Eva deveriam cumprir o mandato de multiplicar-se e encher a terra com portadores da imagem divina, mediante o uso apropriado das habilidades reprodutivas com as quais foram criados. Ligado a isso está o prazer corporal que ambos experimentariam ao se tornarem uma só carne – isto é, um só corpo.

A narrativa de Gênesis também demonstra que o gênero é parte da bondade da criação de Deus. Gênero não é meramente uma construção sociológica imposta a seres humanos que, de outro modo, poderiam negociar um número indefinido de permutas.

Ao contrário, Gênesis nos ensina que o gênero é criado por Deus para o nosso bem e para a sua glória. O gênero é planejado para o florescimento humano e é estabelecido pela determinação do Criador – assim como ele determina quando, onde e que nós devemos existir.

Em suma, Deus criou sua imagem como uma pessoa corpórea. Como seres corpóreos, recebemos do próprio Deus o dom e a mordomia da sexualidade. Nós somos feitos de um modo que testifica os propósitos de Deus a esse respeito.

Gênesis também molda toda essa discussão em uma perspectiva pactual. A reprodução humana não é simplesmente para propagar a raça. Em vez disso, a reprodução enfatiza que Adão e Eva devem multiplicar-se a fim de encher a terra com a glória de Deus refletida nos portadores de sua imagem.

Queda

A queda, o segundo movimento na história da redenção, corrompe a boa dádiva divina do corpo. A entrada do pecado traz a mortalidade ao corpo. Em termos de sexualidade, a Queda subverte os bons planos de Deus para a complementaridade sexual. O desejo de Eva é de dominar o seu marido (Gênesis 3.16). A liderança de Adão será cruel (3.17-19). Eva experimentará dor ao dar à luz filhos (3.16).

As narrativas que seguem demonstram o desenvolvimento de práticas sexuais aberrantes, desde a poligamia até o estupro, as quais a Escritura aborda com notável franqueza. Esses relatos em Gênesis são seguidos pela entrega da Lei, a qual é planejada para refrear o comportamento sexual aberrante. Ela regula a sexualidade e as expressões de gênero ao fazer pronunciamentos claros acerca da moralidade sexual, travestismo[1], divórcio e uma miríade de outras questões corporais e sexuais.

O Antigo Testamento também associa o pecado sexual à idolatria. Adoração por meio de orgias, prostituição cultual e outras horrendas distorções da boa dádiva divina do corpo são todas vistas como parte da adoração idólatra. As mesmas associações são feitas por Paulo em Romanos 1. Havendo mudado “a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis” (Romanos 1.23), e havendo mudado “a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Romanos 1.25), homem e mulher mudaram suas relações naturais um com o outro (Romanos 1.26-27).

Redenção

No tocante à redenção, precisamos notar que um dos mais importantes aspectos de nossa redenção é que ela vem por meio de um Salvador com um corpo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14; cf. Filipenses 2.5-11). A redenção humana é realizada pelo Filho de Deus encarnado – que permanece encarnado eternamente.

Paulo indica que esta salvação inclui não meramente a nossa alma, mas também o nosso corpo. Romanos 6.12 fala do pecado que reina em nosso “corpo mortal” – o que implica a esperança da futura redenção corporal. Romanos 8.23 indica que parte de nossa esperança escatológica é a “redenção do nosso corpo”. Mesmo agora, em nossa vida de santificação, nós somos ordenados a apresentar o nosso corpo como um sacrifício vivo a Deus, em adoração (Romanos 12.1). Além disso, Paulo descreve o corpo redimido como um templo do Espírito Santo (1Coríntios 6.19) e, claramente, devemos entender a santificação como tendo efeitos sobre o corpo.

A ética sexual no Novo Testamento, assim como no Antigo, regula as nossas expressões de gênero e sexualidade. Porneia, a imoralidade sexual de qualquer espécie, é categoricamente condenada por Jesus e os apóstolos. Semelhantemente, Paulo claramente indica à igreja de Corinto que os pecados sexuais – pecados cometidos no corpo (1Coríntios 6.18) – são o que traz má reputação à igreja e ao evangelho, porque proclamam ao mundo que nos observa que o evangelho não possui qualquer eficácia (1Coríntios 5-6).

Nova criação

Finalmente, chegamos ao quarto e último ato do drama da redenção – a nova criação. Em 1Coríntios 15.42-57, Paulo nos aponta não apenas a ressurreição de nosso próprio corpo na nova criação, mas também o fato de que a ressurreição corporal de Cristo é a promessa e o poder dessa esperança futura. Nossa ressurreição será a experiência da glória eterna, no corpo. Esse corpo será uma continuação transformada e consumada da nossa existência corporal presente, do mesmo modo como o corpo de Jesus é o mesmo corpo que ele possuía na terra, embora absolutamente glorificado.

A nova criação não será simplesmente uma recomposição do jardim. Será melhor do que o Éden. Como Calvino observou, na nova criação, nós conheceremos a Deus não apenas como Criador, mas como Redentor – e essa redenção inclui nosso corpo. Reinaremos com Cristo corporalmente, assim como ele também está reinando corporalmente como o Senhor do cosmo.

Em termos de nossa sexualidade, embora o gênero permaneça na nova criação, o mesmo não ocorrerá com a atividade sexual. Não é que o sexo seja nulificado na ressurreição; em vez disso, ele é cumprido. A ceia escatológica de casamento do Cordeiro, para a qual o casamento e a sexualidade apontam, terá finalmente chegado. Nunca mais haverá qualquer necessidade de encher a terra com portadores da imagem divina, como era o caso em Gênesis 1. Em vez disso, a terra estará cheia do conhecimento da glória de Deus, como as águas cobrem o mar.

A indispensabilidade da teologia bíblica

A crise da sexualidade tem demonstrado o fracasso do método teológico adotado por muitos pastores. A “reação da concordância” simplesmente não pode alcançar o tipo de pensamento teológico rigoroso que se exige nos púlpitos hoje. Pastores e igrejas devem aprender a indispensabilidade da teologia bíblica e devem praticar a leitura da Escritura de acordo com a sua própria lógica interna – a lógica de uma história que se move da criação para a nova criação. A tarefa hermenêutica diante de nós é imensa, mas é também indispensável para um fiel engajamento evangélico com a cultura.

Notas:

[1]: N.T.: Usar roupas do sexo oposto.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e/ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.)

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Firme e fiel como Daniel

(G. Setzer)

O profeta Daniel é mencionado na Bíblia, pela primeira vez, quando era ainda adolescente. E desaparece do cenário bíblico quando já era muito idoso. Durante os anos de seu cativeiro em Bailônia, Daviel viveu muitas experiências difíceis. Mas há algo que sempre o caracterizou: sua fidelidade a Deus.

Neste artigo, veremos como o profeta Daniel deu provas de sua fé nas diferentes e duras etapas pelas quais teve de passar.

Tempos de exaltação: Em primeiro lugar, Daniel pertencia à linhagem real, era bem aparentado e inteligente. Mas a beleza não era só física, pois também manifestava uma atitude interior excelente: desde jovem se mostrava diligente, idôneo e trabalhador (Dn 1.3,4).

Tempos de humilhação: Mas este jovem cheio de esperança foi deportado para o cativeiro babilônico. Mesmo como escravo em um país estrangeiro, ele dá grande importância à lei de seu Deus. Por isso, propõe no coração não se contaminar com comidas nem bebidas, mesmo que fossem os finos manjares do rei (vv. 6-16).

Exaltação: Ao fim de uma preparação de três anos em Babilônia, Daniel presta o exame final diante do grande rei Nabucodonosor e supera em dez vezes os intelectuais babilônicos (vv. 17-21).

Humilhação: Pouco depois, Daniel é um condenado à morte: Nabucodonosor decide matar a todos os sábios de Babilônia porque são incapazes de contar-lhe o sonho que tivera e de interpretá-lo. Ao tomar conhecimento da terrível ordem, Daniel reage com tranqüilidade e com sensatez: reúne-se com seus amigos e ora a Deus. Então, o Senhor lhe revela o sonho do rei e sua interpretação. Quando explica tudo a Nabucodonosor, ele o faz humildemente e dá a honra somente a Deus (2.1-45).

Exaltação: Pelo fato de Daniel ter interpretado o sonho de Nabucodonosor, este o enaltece: coloca-o por governador sobre toda a província de Babilônia e o promove a chefe supremo de todos os seus sábios (vv. 46-49). No entanto, essa ascensão não lhe sobe à cabeça. Na primeira ocasião, vemos que atesta fielmente a verdade a Nabucodonosor e não teme anunciar-lhe o juízo de Deus (4.1-24).

Humilhação: Depois da morte de Nabucodonosor, Daniel cai no esquecimento: Belsazar, neto de Nabucodonosor, não o conhece (5.7-12). No entanto, durante o tempo em que Daniel não é mais o centro da atenção e do poder, vive em íntima comunhão com Deus e recebe Dele profecias grandiosas (7.1ss; 8.1ss. No livro de Daniel, os acontecimentos nem sempre são narrados na ordem cronológica. Isso pode ser visto claramente nas indicações de tempo no começo dos capítulos em questão.). Quando Daniel é levado à presença de Belsazar para interpretar uma misteriosa escritura que apareceu na parede, anuncia, de novo, fiel e valentemente, a mensagem do juízo divino (5.17-28).

Exaltação: O rei Belsazar ficou impressionado com a interpretação que Daniel lhe dá da escritura divina na parede. Então, ordena que ele seja vestido de púrpura, que se lhe ponham um colar de ouro no pescoço e proclamem que ele é o terceiro senhor do reino de Babilônia (5.29). Mas Daniel não se deixa impressionar com as homenagens daquele homem mau.

Humilhação: Essa exaltação dura muito pouco tempo, pois nessa mesma noite Babilônia foi conquistada pelos medo-persas. Assim, o poder de Daniel é anulado. Mas o profeta também permanece fiel durante o reinado de Dario, da Média, que estava envolvido na conquista de Babilônia. No primeiro ano do reinado de Dario, Daniel estudava diligentemente as Santas Escrituras e compreendeu que o cativeiro de 70 anos dos judeus estava prestes a chegar ao fim (9.1ss).

Exaltação: Por esse tempo, Dario estabeleceu 120 sátrapas para que administrassem o reino, e, sobre eles, três governadores, dos quais um era Daniel. Nessa posição, Daniel também se comportou impecavelmente e superou a todos os seus companheiros e súditos, o que despertou a inveja daqueles governadores (6.1-10).

Humilhação: Os invejosos conseguiram fazer com que Dario promulgasse um edito insolente: por trinta dias, ninguém podia fazer qualquer petição a “qualquer deus ou homem” que não fosse o próprio rei. Era uma armadilha astuta em que aquele que orava fielmente a seu Deus cairia, pensaram os governadores e os sátrapas. E, de fato, com as janelas abertas para o lado de Jerusalém, Daniel continuava orando três vezes ao dia e expunha suas petições diante de Deus. Como castigo, foi lançado na cova dos leões. O ponto mais humilhante de sua vida havia chegado. Mas, também nesse momento, confia em Deus, e um anjo enviado pelo Senhor fecha a boca dos leões famintos (vv. 11-23).

Exaltação: Dario se alegra em ver que Deus havia livrado dos animais selvagens o melhor homem de seu reino, e ordena que o Deus de Daniel fosse reconhecido em toda a terra. Após isso, o nome de Daniel é mencionado esparsamente, e ele tem êxito durante o reinado de Dario e o de Ciro (vv. 26-29). A glória não mudou de nenhuma maneira a atitude desse servo de Deus: ele continuou andando com Deus incansavelmente. Deus pôde revelar-se novamente a ele, como mostram os capítulos 10 e 11.

Humilhação: Por fim, em Daniel 12, vemos sua última “humilhação”: sua morte. “Tu, porém, vai até o fim” (v. 13). Estamos convencidos de que o “homem muito amado” (10.11) viveu para Deus até seu último suspiro.

Exaltação: Mas sua história ainda não terminou. “E te levantarás na tua herança, no fim dos dias” (12.13). O livro termina mencionando a exaltação definitiva de Daniel. Na ressurreição, ele será recompensado por sua fidelidade e consagração, por sua firmeza e perseverança.

Nós nunca estivemos numa cova de leões, tampouco reinamos sobre nações; no entanto, na vida de cada um também há tempos bons e tempos ruins. Nossas circunstâncias variam, as situações mudam, mas uma coisa deve nos caracterizar constantemente: nossa fidelidade, assim como a vista em Daniel.

Você está bem e tem sucesso? Então, não se afaste ingratamente de seu Senhor. Sua vida está num vale contínuo? Descanse em Deus e não perca a confiança. Animemo-nos todos com o testemunho de Daniel, para que marchemos com fidelidade imperturbável.

(Traduzido por Francisco Nunes de “Firme y fiel como Daniel”, Un mensaje bíblico PARA TODOS, no. 01/2015. Publicado na Suíça por Ediciones Bíblicas PARA TODOS. Esse artigo pode ser reproduzido, desde que não haja alteração, sejam conservadas as informações de autoria e de tradução e seja usado exclusivamente de modo gratuito.)

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Deus aceita sua entrega (Andrew Murray)

Deus a opera no secreto de nosso coração, Deus exorta-nos, pelo poder oculto de Seu Espírito Santo, a vir e falar dela, e nós temos de trazer e dar a Ele essa entrega absoluta. Mas lembre-se: quando você vir e trouxer a Deus a entrega absoluta, isso pode, conforme seus sentimentos ou sua consciência avançam, ser algo de grande imperfeição, e você pode duvidar, hesitar e perguntar-se: “É absoluta?”

Mas, oh, eu lembro que houve uma vez um homem a quem Cristo disse: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.” E o coração do homem estava com medo, e ele gritou: “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade.”

Essa foi uma fé que triunfou sobre o diabo, e o espírito maligno foi expulso. E, se você disser: “Senhor, eu me entrego em entrega absoluta a meu Deus”, mesmo que seja com um coração trêmulo e com a consciência que diga: “Eu não sinto o poder, eu não sinto a determinação, eu não sinto a certeza”, ela será realizada. Não tema, mas apenas venha como você é, e até mesmo no meio de seu tremor o poder do Espírito Santo irá operar.

Você ainda não aprendeu a lição de que o Espírito Santo trabalha com grande poder enquanto, no lado humano, tudo parece fraco? Olhe para o Senhor Jesus Cristo no Getsêmani. Nós lemos que Ele, “pelo Espírito eterno”, ofereceu a Si mesmo como sacrifício a Deus. O Todo-poderoso Espírito de Deus estava habilitando-O a fazê-lo. E, ainda que agonia, medo e excessiva tristeza tenham se apoderado Dele, como Ele orou! Externamente, você pode não ver sinal algum do grande poder do Espírito, mas o Espírito de Deus estava ali. Do mesmo modo, quando você estiver fraco e lutando e tremendo, com fé na operação oculta do Espírito de Deus, não tenha medo, mas renda-se.

E quando você entregar-se em absoluta rendição, faça-o na fé de que Deus irá aceitá-la. Este é o grande ponto, e é isso que tantas vezes esquecemos: que os crentes devem estar ocupados com Deus neste assunto de rendição. Eu oro para que você esteja ocupado com Deus. Queremos obter ajuda, cada um de nós, de modo que em nossa vida diária Deus seja claramente por nós, que tenha o lugar correto e seja “tudo em todos”. E, se quisermos ter isso ao longo da vida, vamos começar agora e olhar para longe de nós mesmos e olhar para Deus. Que cada um creia que, mesmo sendo um pobre verme na terra e um temeroso filho de Deus, cheio de falhas e de pecado e de medo, ajoelhando-se aqui, e ninguém sabendo o que se passa em seu coração, e, na simplicidade, disser: “Ó Deus, eu aceito Teus termos; tenho implorado por bênção para mim e para os outros, eu aceitei a Teus termos para a rendição absoluta – enquanto seu coração diz isso em profundo silêncio, lembre-se de que existe um Deus presente que toma nota disso e o escreve em Seu livro, que existe um Deus presente que naquele exato momento toma posse de você. Você pode não sentir isso, você pode não perceber isso, mas Deus toma posse, se você confiar Nele.

Deus não só vindica minha rendição, e a opera e a aceita quando levo a Ele, mas Ele a mantém.

(Traduzido de God Accepts Your Surrender por Francisco Nunes. O uso deste artigo é livre desde que seja feito de forma gratuita, conservando-se as informações de autoria, tradução e endereço do original, sem alterações no texto.)

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A Palavra (Steven Lawson)

Quanto mais fundo cavarmos na Palavra, mais elevada será nossa adoração e mais perseverantes seremos nas provações.

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Um pensamento sobre a comunhão cristã

Recentemente, num domingo à tarde, rodeado de muitos amados irmãos, enquanto eu lavava louça me vieram dois pensamentos.

1) Nosso ajuntamento cristão não tem aquilo que o mundo tem.
Quando cristãos – e aqui me refiro a cristãos sérios, bíblicos, que levam a santidade a sério, que têm temor do Senhor, que honram Seu nome por meio do viver prático que têm – estão juntos, em ambiente informal (num almoço ou numa convivência, por exemplo), não há aquilo que caracteriza eventos mundanos semelhantes: bebedeira, palavrões, insinuações maldosas, piadas de baixo calão, fofocas, adultérios, crianças largadas a si mesmas, etc. Cristãos que honram a Deus em todos os aspectos da vida, começando com a linguagem, reúnem-se e conversam amenidades, trocam idéias sobre as questões mundiais, dicas sobre educação de filhos, riem de si mesmos, buscam orientação profissional, trocam receitas, dicas de tratamento médico, corujices sobre os filhos… É aquilo que chamam de ambiente saudável.

Isso é, sem dúvida, para quem teme a Deus, mil vezes melhor do que um ambiente mundano. (Infelizmente, sei de muitos cristãos que se sentem completamente à vontade em ambientes mundanos, que os preferem àqueles “crentes”, que estão plenamente conformados a este mundo, pensando, falando, rindo e vivendo como se a ele pertencessem.) Há ali segurança, respeito mútuo, alegria saudável, domínio próprio, ambiente propício para as crianças e tantas outras vantagens. É muito bom, é muito vantajoso estar em um lugar assim. E eu estava alegre com essa percepção e grato a Deus por estar ali.

Mas algo mais me veio ao coração:

2) Mas será que nosso ajuntamento cristão tem aquilo que o mundo não tem?
Isso me foi um choque instantâneo. O que há de distintivo, único, exclusivo dos cristãos? O que há nos cristãos que não há, de modo algum, naqueles que não obedecem à fé? A presença do Senhor Jesus, por meio do Espírito; a vida de Cristo Jesus habitando naqueles que Lhe pertencem. E é isto que faz a verdadeira e prática comunhão cristã: Cristo ser “servido” pelos cristãos uns aos outros. Quando Cristo é nosso centro e a esfera de nossa comunhão, podemos dizer que, de fato, estamos em comunhão. Do contrário, teremos, talvez, apenas um bom ajuntamento cristão (que, repito, é muito melhor do qualquer ambiente mundano).

Mas, tenho de reconhecer, é tão difícil termos genuína comunhão! É tão difícil sairmos da esfera natural, das coisas desta vida, e partilharmos das celestiais, daquilo que é nossa rica herança em Cristo, das riquezas insondáveis Daquele que nos salvou! Parece pouco espontâneo (perdoem-me se generalizo; falo, em primeiro lugar, de mim mesmo) voltar-se de um assunto desta vida para a Bíblia, como se fosse possível mantê-los separados, como se fossem antagônicos.

Como cristãos, temos algo único: um relacionamento vivo e real com Deus por meio de Seu Filho, Jesus Cristo! Isso nenhum ajuntamento secular tem. No entanto, é possível que um ajuntamento de cristãos também não o tenha, caso não falemos entre nós “com salmos, e hinos e cânticos espirituais”, que é modo de nos enchermos do Espírito (Ef 5.19); se não tivermos um falar que denuncie que estivemos com Jesus (At 4.13). Os primeiros discípulos não podiam deixar de falar do que tinham visto e ouvido (4.20). E nós, cristãos do século 21, por que deixamos tão facilmente? É possível que seja resultado de vermos e ouvirmos pouco nosso Senhor, de termos pouca comunhão com Ele, por Sua Palavra não habitar em nós ricamente (Cl 3.16), e como a boca fala do que está cheio o coração…

Os primeiros cristãos caíram na graça de todo o povo (At 2.47), pois seu viver diário e prático não tinha aquilo que o mundo tinha, era distinto, atraente. No entanto, “dos outros [os não-cristãos], porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (5.13), certamente porque naquele ajuntamento havia algo que no mundo não havia: Deus mesmo, real, manifestado palpavelmente por meio de Seus filhos – um Deus tão santo que não tolerava mentira entre eles (vv. 1-11). As pessoas de fora viam, naquele novo grupo, características que as atraíam, mas viam que havia também uma realidade interior, um padrão dela derivado, que impedia que qualquer um se achegasse e por ali ficasse se não fosse um “deles”, um discípulo, um nascido do alto, um filho de Deus.

No que depender de mim e de você, que tipo de ajuntamento cristão o mundo verá?

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Casamento Conselho aos pais Conselho às mulheres casadas Família

Conselho às mulheres casadas (1)

Se você não tem nada de bom para falar sobre o casamento, cale a boca!

 

Não acabe com o casamento das outras

 

Uns 20 anos atrás conheci dois jovens cristãos; vou chamá-los de Débora e de Moreira (nunca gravei o nome dele). Formavam um daqueles casais de capa de revista de moda, de anúncio de chinelo Havaianas, de comercial de plano de saúde: eram ambos lindos. Ela tinha longos cabelos loiros cacheados, um sorriso contagiante, era simpática ao máximo, cristã séria, nem um pouco exibida por sua beleza. Ele era um cara alto, de ombros largos, um sorriso branquíssimo, amplo, quase infantil de tão sincero, cabelos pretos bem arrumadinhos.

Não lembro exatamente em que ocasião os conheci, mas sei que fui próximo de ambos, principalmente dela, que conviveu mais comigo e com minha esposa a ponto de me chamar de pai. Pois lá estávamos, em uma grande conferência cristã. E lá eles entenderam ser de Deus o que já sentiam um pelo outro, e Moreira pediu a Débora em casamento.

Um dia ou dois depois disso, Débora nos procurou chorando, falando em terminar tudo com o Moreira. Perguntei a razão. “O que as pessoas estão falando! A Sílvia, esposa do presbítero Daniel, me disse que teve um sonho e que isso não é de Deus. E ela é minha amiga! Outras irmãs me disseram que hoje é tudo assim, cheio de amor, porque eu tô bonita, com tudo em cima, mas é só casar, ficar gorda, ter filhos, que a paixão toda vai acabar. Que o Moreira tá bonitão agora, mas é só casar que fica barrigudo, não tem mais carinho, só exigência.” Então, com os olhos vermelhos de chorar, me perguntou: “Será que todo casamento é assim?”

(Eu não recordo as palavras exatas ditas, mas o que ela me disse tinha exatamente esse teor.)

Fiquei furioso! Pensei em distribuir uns murros e uns puxões de cabelo neemiásticos (Ne 13.25) entre aquelas aves agoureiras. Mas preferi, com minha esposa, consolar a Débora.

“Será que todo casamento é assim?”

“Filha, ignore absolutamente o que essas frustradas estão falando. As casadas, por não viverem um casamento decente, satisfatório, por não se empenharem em ter um bom ambiente conjugal, por acharem que é assim mesmo, não conseguem ver um casal feliz sem achar que terá de terminar como elas. As solteiras estão, na verdade, doidinhas pra casar… com o Moreira! Você escolheu o cara; você acha que elas iam deixar barato? O Moreira deve estar ouvindo a mesma coisa por parte daqueles cretinos que estavam de olho em você. Estão torcendo pra vocês dois terminarem pra terem alguma chance. Débora, ignore essas pessoas que não têm um bom casamento porque não querem, porque não se submetem à orientação da Bíblia, porque não dependem do Senhor e de Sua graça, porque não fazem a lição de casa e querem só o bom resultado. Case e esfregue na cara delas, por anos a fio, que é possível, sim, ter um casamento constantemente cheio de alegria, prazer, satisfação mútua, respeito, carinho, doçura.”

(Eu não recordo as palavras exatas ditas, mas o que eu lhe disse tinha exatamente esse teor.)

Eles casaram. Infelizmente, o casamento não durou muito, pois Moreira não obedeceu à ordem bíblica de deixar pãe e mãe: permitiu que sua mãe se intrometesse na vida deles, a tal ponto que tiveram de se divorciar. A essa época, eu já havia perdido o contato com eles e não pude ajudá-los de modo algum. Só fiquei sabendo de tudo muitos anos depois. Mas mesmo isso confirma o que eu havia dito a ela: quem não se submete à orientação bíblica tem um casamento frustrado. Ou arruinado.

Com tristeza eu observo que aquilo que Débora sofreu acontece constantemente hoje em dia entre cristãos. Nada muda: mulheres frustradas com o casamento, em alguma área, em alguma medida, não suportam ver namorados ou recém-casados se acarinhando, se mimamdo, servindo-se mutuamente, sentindo prazer e alegria na presença um do outro, chamando-se de apelidos carinhosos, que logo precisam desfilar sua “experiência” na forma de alertas: “Isso só dura até chegarem os filhos! Ih, isso é fogo de recém-casado! Ainda estão na lua-de-mel, é? Cuidado, hein! Ele tá te explorando, querendo que você faça tudo pra ele. Não seja boba, não. Dê-se valor, minha filha!” E daí para baixo.

Querida irmã casada, vou dizer de novo: se você não tiver nada de bom para falar do casamento, cale a boca! Não peque com a boca (Mt 12.34), não amaldiçoe o relacionamento dos outros, não envenene quem está vivendo o que você gostaria de estar vivendo, mas não quer. Sim, você não quer! (Sei que há as responsabilidades de seu marido, mas falo com ele depois. Estou falando com você agora.) Deus abençoa abundantemente aqueles que se submetem a Sua vontade, que dependem Dele, que fazem o que lhes é exigido. E isso inclui um bom casamento.

Querida irmã casada, vou dizer de novo: se você não tiver nada de bom para falar do casamento, cale a boca!

Paulo escreveu algumas coisas interessantes a Tito, seu cooperador. Ele menciona a “sã doutrina” (1.9) e alerta para aqueles que, em lugar da sã doutrina, ensinam o que não convém (v. 11). Ele diz destes: “Aos quais convém tapar a boca” (v. 11a). No capítulo 2, ele ordena a Tito: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (v. 1). Talvez você esperasse, a seguir, que o apóstolo mencionasse coisas como soteriologia, escatologia, discussão sobre a Trindade divina, mas não é o que ele faz. “As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seu marido, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada” (vv. 3-5; grifos acrescentados).

Leu com atenção? A mulher que já é casada deve ensinar as que casaram há pouco tempo. Se você alegar que a orientação de Paulo é para mulheres idosas e você não se encaixa na categoria, eu lhe pergunto: se você hoje é incapaz de ser um exemplo para as mais novas e continuar alimentando suas frustrações no casamento, será que vai ser diferente quando for mais velha?

Leia com atenção! Amor é coisa que se ensina! E você só pode ensinar o que aprendeu, o que pratica. Como você ama seu marido? Queixando-se dele sempre? Falando mal dele pelas costas? Revelando seus segredos para outras mulheres? Desrespeitando-o diante dos filhos? Ignorando a opinião e a orientação dele? Fazendo greve de sexo como reprimenda por qualquer mágoa não resolvida? É isso que você tem a ensinar àquela mulher ainda apaixonada pelo marido? É assim que você espera que ela proceda futuramente?

Como você ama seus filhos? Apenas dando-lhes presentes? Comprando-lhes o mais cedo possível um celular ou um tablet? Levando-os para a Disney? Mas se você os culpa por terem estragado seu corpo, sua vida sexual com seu marido, suas noites de descanso… Isso é amor? Será que sua atitude com os filhos não é um altissonante recado para as casadas jovens: “Muito cuidado para não procriarem! Vocês vão destruir seu casamento!”?

Amor é coisa que se ensina!

Você leu com atenção? O que você ensina com suas atitudes pode ornar a doutrina de Deus ou pode fazer com que sua Palavra seja blasfemada (vv. 10,5). Seus comentários ácidos, desencorajadores, frutos de sua frustração, blasfemam da Palavra de Deus, a qual dá perfeitas e práticas instruções para um casamento feliz. Sua vida de casamento frustrada está dizendo a todos que a Bíblia mente, que aquilo que ela promete não é realizável, que não passa de um ideal inalcançável. Se você não o tem é porque ainda não fez tudo que devia, não lutou até o sangue contra o pecado (Hb 12.4) da falta de perdão, da falta de submissão, da falta de busca pelo poder do Espírito, da falta de alimentar-se espiritualmente, da falta de alimentar interiormente uma boa disposição com respeito a seu marido e a seus filhos, da preguiça, da má vontade, da ira…

As jovens cristãs precisam ver e ouvir muitas mulheres casadas que, com realidade e satisfação, falem quão bom é estarem casadas, quão satisfeitas estão, quão felizes são por fazerem o que está a seu alcance para satisfazer o marido e os filhos. As jovens cristão precisam ser ajudadas a crer que o casamento não é uma instituição falida, que o sexo sem compromisso não é uma opção, que vale a pena, sim, se guardarem para seu futuro marido. E são as já casadas que podem ensinar isso a elas. Mas, para tal, devem viver o que ensinam. E viver com alegria e satisfação.

Abraço.

(Este artigo inaugura uma sub-categoria de Conselho para os pais. Se você quiser saber a razão desta série de artigos, clique aqui.)

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Conselho aos jovens (1)

Honrem a seus pais. Para seu próprio bem

Sei que isso soa meio ameaçador. Não era a intenção. No entanto, não há como negar que a Bíblia fala desse assunto com extrema seriedade e solenidade. O quinto mandamento é muito sucinto e direto: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Dt 20.12). Não é preciso explicar muita coisa, não é verdade?

Talvez alguém alegue que isso é coisa do Antigo Testamento, que isso não se aplica mais, que não tem terra nenhuma dada pelo Senhor… Todas essas desculpas furadas para não obedecer à Palavra de Deus caem por terra pela pena de Paulo. Ele, apóstolo do Senhor, escrevendo sob a nova aliança, após a morte e ressurreição do Senhor Jesus, escrevendo para cristãos regenerados (as redundâncias são propositais) diz: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef 6.1-3).

Se havia alguma dúvida sobre o mandamento, Paulo as esclareceu. Honrar na prática é obedecer; a promessa é as coisas irem bem na vida e viver muito tempo. Simples assim.

Alguns engasgam com o “no Senhor” da ordem paulina, dizendo que isso só se aplica se os pais forem cristãos, ou seja, estiverem no Senhor. Interpretação errada. Vocês, filhos cristãos, que estão no Senhor, é que devem obedecer em tudo aquilo que não seja contrário ao Senhor. Isso é confirmado pela outra menção disso feita por Paulo: “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor” (Cl 3.20). Ele escreve para uma igreja, portanto, para cristãos; e para os cristãos jovens ali ele diz que devem obedecer aos pais. Sem nenhuma condicional: se os pais forem cristãos, se os pais forem legais, se os pais fizerem a parte deles primeiro…

É evidente que isso tem um limite: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29. Leia o contexto todo para entender melhor). Se uma ordem ou orientação paterna for clara e frontalmente contra à verdade de Deus revelada na Bíblia, o filho não deve obedecer de forma alguma. Fora isso, não há desculpa para desobedecer, ou seja, desonrar, aos pais.

“Pra você é fácil falar isso. Você não sabe os pais que eu tenho!” Sim, é fácil falar isso mais do que praticar. Sim, não conheço (provavelmente) seus pais. No entanto, nada disso muda a verdade bíblica. Honrar os pais é uma ordem de Deus, escrita por Seu dedo em tábuas de pedra e ratificada no Novo Testamento. Não há como fugir disso.

Esse não é um assunto sem importância. Vejo muitos jovens de consciência cauterizada declarando-se seguidores de Jesus, Seus adoradores e outros tantos adjetivos, chorando emocionados no louvor, declarando fidelidade ao Senhor que, ao mesmo tempo, desonram os pais, não se importando com suas necessidades, não lhes dando ouvidos, não obedecendo, não seguindo suas ordens ou seus conselhos, zombando deles, desrespeitando-os diante de outras pessoas. A Bíblia diz que os “desobedientes aos pais e às mães […] são dignos de morte”! Grave, não é? E não, isso não está no Antigo Testamento, debaixo da implacável lei; é, mais uma vez, palavra de Paulo. Confira na sua Bíblia: Romanos 1.30,32. Mas leia a partir do v. 18 e veja quão grave a coisa é. Paulo menciona isso dentro do grande quadro em que descreve a situação do homem à parte de Deus, do homem que vive sem Deus, que vive em impiedade e injustiça (v. 18), daqueles que se negam a reconhecer o testemunho de Deus pelas coisas criadas (v. 20). Nesse contexto, o apóstolo menciona os homossexuais (vv. 26-28) e, a seguir, lista uma série de práticas pecaminosas, incluindo prostituição, maldade, homicídio… e desobediência aos pais.

Não acabou ainda. Paulo volta ao assunto mais uma vez. Ao falar a Timóteo sobre os “últimos dias” (alguém duvida que os estamos vivendo?), ele descreve o caráter dos homens que tornarão aqueles “tempos trabalhosos”, difíceis, perigosos. Entre outras características, lá está: “desobedientes a pais e maẽs” (2Tm 3.1-5). Paulo diz que Timóteo deveria se afastar de pessoas desse tipo. Ou seja, esta seria uma característica marcante dos tempos do fim, mas já no tempo de Timóteo havia gente com esse perfil.

Não há muito a explicar. Paulo não se preocupou em detalhar isso, pois a coisa é clara, evidente. É o que Deus disse e Paulo, sob a inspiração do Espírito, confirmou: filhos têm de honrar os pais.

Eu sei que não é fácil. Tive dois pais e duas mães; na verdade, tenho uma ainda: minha mãe biológica é viva. Meus pais adotivos tinham idade para serem meus avós, o que produziu muitos conflitos entre nós. Quando fui salvo pelo Senhor, essa questão de relacionamento com meus pais (lembre-se: eram dois casais!) foi uma das grandes lutas que travei. E não fiz tudo o que devia ter feito. Estive muito aquém do padrão bíblico em muitas circunstâncias. E não posso culpar ninguém nem justificar-me de modo algum: fui culpa minha não obedecer à ordem do Senhor e não depender de Sua graça para fazê-lo.

Então, voltando: eu sei que não é fácil. Ninguém disse que seria. Mas deve ser feito, pois é ordem de Deus. E tem uma promessa maravilhosa! No Senhor, é possível fazer isso.

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Conselho aos pais (1)

Sua primeira responsabilidade é serem pais de seus filhos, não seus amigos

Sim, eu sei que isso soa estranho, contrário a tudo o que as propagandas de margarina ensinam sobre família. Mas essa é a verdade bíblica. Os pais têm responsabilidades de modo muito claro designadas por Deus em Sua Palavra, principalmente a de levar os filhos ao conhecimento e ao temor do Senhor. Isso implica uso de autoridade (não interprete como uso de violência), exemplo, amor, dedicação, oração, tempo, ensino. Se como resultado do adequado exercício de sua paternidade vocês forem amigos de seus filhos, muito melhor!

Essa busca pela amizade em detrimento do relacionamento pais-filhos impede que os filhos tenham a clara percepção de que existe, sim, uma hierarquia na família (e, por conseguinte, na sociedade), a qual deve ser respeitada e honrada. A Bíblia sempre chama os pais ao dever pelo fato de serem pais. Isso é o que os comissiona a terem de fazer o que têm de fazer. Não tenho a menor dúvida de que pais plenamente pais serão também amigos dos filhos. Mas ser amigos não pode impedir os pais do pleno cumprimento de suas obrigações, com o custo nisso implícito de não ser compreendido, da cara feia do filho, da birra, das tentativas de sabotar a autoridade…

É por serem pais que vocês devem ensinar seus filhos a respeito do Senhor quando estiverem com eles em casa, andando pelo caminho ao lado deles, ao deitar e ao levantar (Dt 6.7). O objetivo primeiro disto é que eles conheçam o Senhor, que O amem, que obedeçam a Sua Palavra.
Se produzir também amizade entre vocês, aleluia!

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Encorajamento Família

Pais, jovens e filhinhos

Recentemente, fiz uma viagem de quase 15 dias. Por diversos motivos, ela foi cheia de lições e de geração de perguntas. Ao lado de meu meio século de existência, três décadas de casamento (com a mesma mulher) e um pouco mais de tempo de fé em Cristo, três filhos, um neto e muitas cicatrizes, ela me fez considerar ou reconsiderar algumas coisas, e desejo partilhar aqui um pouco do que aprendi e sobre o que estou considerando. Descobri que ainda não sei tudo, que ainda não pratiquei tudo que sei e que ainda não sei tudo que tenho de praticar.

Inicialmente, pensei em escrever um único texto, mas, com o passar dos dias, ele foi se tornando grande demais, com divisões demais. Além disso, as lições não se encerraram com a viagem. Conforme penso no assunto, conforme analiso minha vida à luz delas, conforme sou iluminado, vejo que há há mais coisas a serem ditas, em primeiro lugar a mim mesmo.
Tomo emprestado o texto de 1João 2.12-14 para dirigir meus pensamentos. Entendo que ali o apóstolo estava se dirigindo a três categorias de pessoas enfatizando sua maturidade espiritual mais do que diferentes faixas etárias. Tenho um pouco disto em mente também, mas quero destacar os diversos relacionamentos no âmbito familiar, dirigindo-me aos pais – os mais velhos da família –, aos jovens – essa nebulosa idade que demora cada vez mais tempo para terminar – e aos filhinhos – as crianças, os menores da casa.

Muito provavelmente os filhinhos não vão ler isso. Não conheço muitos (conheço algum?) que eu colocaria nessa categoria e que costume pesquisar na internet por assuntos espirituais. Mesmo assim, espero que, de algum modo, essas dicas cheguem a eles e que as pratiquem. Sei que há muitos jovens cristãos desejosos de viver uma vida de fé genuína, que agrade a Deus. Oro para seja útil o que vou escrever aqui.

Mas, sem dúvida, a grande responsabilidade pesa sobre os pais, os mais antigos na fé, os que têm descendentes biológicos ou espirituais. Recai sobre estes o chamamento bíblico de instruir as outras gerações acerca do Senhor, de Sua Palavra e de Suas obras.

Os textos vão ser chamados de Conselhos para… cada uma das categorias. Pensei em chamá-los de dicas, mas resisti à tentação de querer parecer descolado, moderninho, informal. A Bíblia usa o termo “conselho”, e ele indica seriedade, gravidade, importância, necessidade de ser ouvido. Pretendo, com a ajuda do Senhor, escrever conselhos que sejam bíblicos e proveitosos. Com certeza, não serão novos, inéditos, como se fossem uma nova revelação. Não tenho essa pretensão; muito pelo contrário. Antes, serão a aplicação dos antigos (não antiquados…) princípios bíblicos a situações práticas, aos desafios do tempo presente. Que o resultado seja a capacitação de todos – pais, jovens e filhinhos – para viverem plenamente sua vida em Cristo.

Abraço.

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Citações Evangelho João Calvino

Evangelho (João Calvino)

Sem o evangelho, tudo é inútil e vão. Sem o evangelho, não somos cristãos. Sem o evangelho, todas as riquezas são pobreza; toda a sabedoria é tolice diante de Deus; a força é fraqueza, e toda a justiça do homem está sob a condenação de Deus. Mas, por meio do conhecimento do evangelho, somos feitos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, conterrâneos dos santos, cidadãos do reino dos céus, herdeiros de Deus com Jesus Cristo; por meio de quem os pecadores são justificados e os desolados, consolados; os duvidosos obtêm certeza, e os escravos são libertos. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

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