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A soberana graça de Deus e a responsabilidade do homem (C. H. Spurgeon)

A Soberana Graça de Deus e a Responsabilidade do Homem
N0 207
Sermão pregado no Domingo, 1º de Agosto de 1858
Por Charles Haddon Spurgeon
No Music Hall, Royal Surrey Garden, Londres.


“E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.”
(Romanos 10:20-21, ACF)

Sem dúvida, estas palavras referem-se principalmente à rejeição dos judeus e à escolha dos gentios. Os gentios eram um povo que não buscava a Deus, mas vivia em idolatria. Apesar disso, naqueles últimos tempos aprouve a Jeová enviar o Evangelho da Sua Graça a eles – enquanto aos judeus, os quais por muito tempo haviam desfrutado os privilégios da Palavra de Deus, foram repudiados por causa da sua rebelião e desobediência. Creio, no entanto, que embora este seja o principal objetivo das palavras do nosso texto, ainda, como diz Calvino, a verdade ensinada aqui é um tipo de fato universal. Como Deus escolheu o povo que não O conhecia,  também tem escolhido, na abundância da sua graça, manifestar a Sua salvação aos homens que estão fora do caminho, enquanto, por outro lado, os que continuam perdidos após terem ouvido a Palavra, assim continuam devido ao seu pecado deliberado. Pois Deus o dia todo “estende as suas mãos a um povo rebelde e contradizente.”

A abordagem da Verdade não é uma linha reta, mas são duas. Ninguém nunca obterá uma visão correta do Evangelho até aprender como olhar para as duas linhas de uma vez. Em um livro sou ensinado a acreditar que o que semear, colherei. Em outro  sou ensinado que, “assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.” Em um lugar vejo a Providência de Deus governando tudo. E ainda assim vejo – e não posso deixar de ver – que o homem age como lhe agrada e que Deus tem, em grande medida, deixado seus atos à mercê da própria vontade dele. Então, se eu fosse declarar que o homem é livre para agir de modo que não existe a Providência de Deus sobre suas ações, seria levado sobremodo para perto do Ateísmo. E se, por outro lado, eu fosse afirmar que Deus domina tanto todas as coisas, como se o homem não fosse livre o suficiente para ser considerado responsável, sou levado imediatamente ao Antinomianismo ou ao fatalismo! A predestinação por Deus e a responsabilidade do homem são dois fatos percebidos por poucos e considerados inconsistentes e contraditórios. Mas não o são! A culpa está na nossa própria débil capacidade de julgamento. Duas verdades de Deus não podem se contradizer.  Se, então, uma parte ensina que tudo é pré-ordenado – é verdade. E se outra ensina que o homem é responsável por todas as suas ações –  é verdade. E é minha insensatez que me leva a imaginar que duas verdades de Deus podem, alguma vez, se contradizer. Acredito que estas duas verdades nunca poderão ser fundidas sobre nenhuma bigorna humana, mas como uma estarão na eternidade! São duas linhas quase tão paralelas que a mente que as buscar muito longe  nunca perceberá que convergem – mas de fato convergem e se encontrarão em algum lugar na eternidade, perto do trono de Deus de onde toda aVerdade emana!

Agora, esta manhã, eu estou a ponto de considerar as duas doutrinas. No versículo 20, aprendemos as Doutrinas da Graça Soberana:E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” No versículo seguinte, temos a Doutrina da culpa do homem por rejeitar a Deus. “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.”

I. Primeiro, então, a SOBERANIA DIVINA COMO EXEMPLIFICADA NA SALVAÇÃO. Se algum homem é salvo, assim o é pela Graça Divina e somente por ela. A razão da sua salvação não será encontrada nele, mas em Deus. Não somos salvos como resultado de algo que fazemos ou que desejamos – nossas ações e desejos são resultado da boa vontade de Deus e da obra da Sua graça em nossos corações! Nenhum pecador pode detê-Lo, isto é, não pode ir adiante dEle, não pode se antecipar a Ele. O Senhor vem primeiro na questão da salvação, antecede nossas convicções, desejos, medos e esperanças! Tudo o que é bom ou será bom em nós é precedido pela graça de Deus e é o resultado de uma ação divina em nós.

Agora, nesta manhã, falando de atos graciosos de salvação por Deus, noto primeiro que são totalmente imerecidos. Você constatará que as pessoas aqui mencionadas, sem dúvida,  não mereceram a graça de Deus. Elas o encontraram, mas nunca O buscaram; Foi manifestado a elas, porém nunca perguntaram por Ele. Nunca houve nenhum homem salvo por merecimento! Perguntem para todos os santos de Deus e eles lhes dirão que sua vida pregressa foi desperdiçada em desejos da carne, que nos dias de sua ignorância se rebelaram contra Deus e se desviaram dos Seus caminhos; e então, quando foram convidados a voltar-se para Ele, desprezaram o convite e quando alertados, jogaram fora o alerta! Vão dizer-lhes que o fato de terem sido atraídos por Deus não foi  resultado de qualquer mérito antes da conversão, porque alguns, longe de terem direito a algo, foram os mais terríveis entre os terríveis! Se jogaram no poço absoluto do pecado. Não se envergonharam de todas as coisas das quais sentiríamos vergonha se somente fossem mencionadas. Eram líderes do cartel do crime, príncipes na hierarquia do inimigo. E assim mesmo a Graça Soberana veio sobre eles e foram levados a conhecer o Senhor. Vão afirmar-lhes que não foi o resultado de algo primoroso em sua disposição,  embora agora acreditem na existência de algo excelente implantado neles, ainda que nos dias da sua carne não puderam ver uma qualidade que não fosse  corrompida em favor do serviço de Satanás! Perguntem-os se pensam que foram escolhidos como resultado da sua coragem e lhe dirão que não. Se alguma coragem havia neles, era deformada, pois esta se inclinava para o mal! Perguntem-os se foram escolhidos de Deus por causa das suas aptidões e lhe dirão que não; havia neles aptidões, porém as prostituíam ao serviço de Satanás! Perguntem-os se foram escolhidos devido à franqueza e à generosidade de seu temperamento e lhe revelarão que estes os levou a mergulhar tão mais profundamente no pecado do que do contrário teriam feito,  pois eram “bons camaradas” de cada homem mal, prontos para beber e se juntar a todas as festanças que cruzassem seus caminhos.

Não havia neles nenhuma razão para que Deus usasse de misericórdia em seu favor. E se maravilharam porque Ele não os rejeitou no tempo de seus pecados, não excluiu seus nomes do Livro da Vida e não os arrastou para dentro do abismo onde queima o fogo que irá devorar os ímpios! Mas alguns têm afirmado que Deus escolhe o Seu povo porque prevê que após elegê-los farão isto ou aquilo, e outras tantas ações meritórias e excelentes. Recorra novamente ao povo de Deus e lhes revelarão que desde sua conversão têm tido muitas razões para chorar. Embora possam alegrar-se com a boa obra que Deus começou em suas vidas, muitas vezes tremem com medo de que a obra possa não ser de Deus. Irão dizer-lhe que se às vezes abundam na fé, ainda há tempos em que superabundam na incredulidade! Se às vezes estão cheios de obras de santidade, ainda existem momentos em que choram profusamente por considerar que estes mesmos atos de santidade foram manchados pelo pecado! O cristão irá dizer-lhe que chora profusamente. Sente que há imundície mesmo nos melhores desejos – que precisa pedir perdão a Deus por suas próprias orações – pois existe pecado no meio de suas súplicas e que precisa de aspergir mesmo suas melhores ofertas com o sangue expiatório, porque nunca é capaz de trazê-las sem mancha ou defeito. Você pode recorrer ao mais iluminado dos santos, ao homem cuja presença em meio à sociedade retrata a presença de um anjo e ele assegurará ainda sentir vergonha de si mesmo. “Ah”, ele dirá, “você pode me elogiar, mas eu não posso elogiar a mim mesmo. Pode falar bem de mim, me aplaudir, mas se conhecesse meu coração, enxergaria razões suficientes para me considerar um pobre pecador salvo pela graça, destituído de motivos para se gloriar e constrangido a inclinar sua cabeça e confessar suas iniquidades perante Deus.” A graça é, portanto, totalmente imerecida.

Mais uma vez, a graça de Deus é soberana. Isto significa que Deus tem direito absoluto de dispensá-la como Lhe agrada. Não tem a obrigação de dá-la a ninguém, e se escolher concedê-la a um e não a outro, Sua resposta é: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia.” Então, quero que observe como está ilustrada no texto a Soberania da Graça Divina – “Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” Imagine se Deus fosse esperar que o homem o buscasse seriamente para poder concedê-la? Imagine se Ele, do mais alto dos céus, dissesse: “Tenho misericórdias, mas deixarei o homem só e quando delas necessitar e então se empenhar em me buscar com todo seu coração, dia e noite, com lágrimas, sacrifícios e súplicas, o abençoarei – mas não o farei antes disso.” Mas amados, Deus não diz tais coisas! Sim, é verdade que Ele abençoa aqueles que clamam por Ele, porém os abençoa antes de clamarem, porque Deus mesmo colocou esses clamores em seus lábios! Seus desejos não provêm deles, mas de boas sementes lançadas pelo Senhor no solo de seus corações. Deus salva homens que não O buscam! Oh, quantas maravilhas! É mesmo ato de misericórdia quando Ele salva quem o busca, mas não é esta misericórdia ainda mais gloriosa quando Deus mesmo salva os que não o buscam? Considere a parábola da ovelha perdida. Não diz assim: “Certo homem tinha cem ovelhas e uma delas se perdeu. Permaneceu em casa esperando e veja – a ovelha retornou. Ele a recebeu com alegria e disse aos seus amigos que se regozijassem pois a ovelha perdida havia retornado.” Não. Ele saiu a buscá-la porque nunca teria voltado por conta própria. Teria vagado cada vez mais distante. Ele saiu a buscá-la. Através das montanhas da dificuldade e dos vales do desalento, perseguiu seus passos errantes e a recuperou. Não a conduziu por esse caminho, não a liderou, mas a carregou ao longo dele, e quando a trouxe de volta para casa não disse: “A ovelha retornou”, mas “Encontrei a ovelha que se havia perdido.” Deus busca o homem primeiro, e não ao contrário! E se alguém o busca hoje é porque Ele o buscou primeiro! Se alguém o deseja, saiba que Ele o desejou primeiro; sua busca e desejos sinceros não provêm da sua salvação, mas dos efeitos da graça previamente concedida a você.

“Bem”, alguém argumenta, “eu poderia ter pensado que, embora o Salvador não exija uma busca sincera e constante, suspiros e gemidos por Ele, ainda assim desejaria e demandaria que todo homem deva clamar pela Graça antes de recebê-la”. Amados, de fato esta situação parece natural e Deus a concederá aos que por ela clamarem. No entanto, observem no texto que Ele foi manifestado “aos que por Ele não perguntaram.” Ou seja, o Senhor nos concede Graça antes de pedirmos por ela! A única razão pela qual qualquer homem começa a orar é porque a Graça derramada anteriormente em seu coração o levou a isto. Lembro-me que quando me converti, eu era um Arminiano completo. Pensei que eu mesmo havia começado a boa obra e costumava me sentar e pensar: “Bem, busquei o Senhor por quatro anos antes de encontrá-lo”, e acho que comecei a me elogiar porque havia clamado por Ele insistentemente em meio a muito desânimo! Mas um dia me ocorreu um pensamento: “O que me levou a buscar a Deus?”, e num instante a resposta veio de minha alma: “Por quê? Por que Ele me conduziu a isto! Primeiro deve ter me mostrado minha necessidade Dele, senão eu nunca O teria buscado! Deve ter me mostrado Sua preciosidade, ou eu nunca teria achado que vale a pena buscá-Lo.” Então de uma vez enxerguei com a maior clareza possível as Doutrinas da Graça. DEUS deve começar! A natureza nunca poderá se sobrepujar. Coloca-se água em um reservatório e ela o encherá até um dado limite, mas nunca passará disto sozinha. Então, não está na natureza humana o buscar a Deus. Esta é depravada, logo, deve haver uma pressão excepcional do Espírito Santo sobre o coração para inicialmente nos levar a pedir por misericórdia. Mas veja, não percebemos nada disto durante a operação do Espírito! Clamamos como se fossemos responsáveis por desejarmos o Senhor e O buscamos como se o Espírito Santo não existisse; e embora não saibamos, deve existir um movimento prévio do Espírito em direção ao nosso coração antes de existir um movimento em nosso coração em direção a Ele.

Nenhum pecador pode estar com o Senhor de antemão,
Sua Graça é mais soberana, mais rica e mais livre.”

Deixe-me dar um exemplo. Vê aquele homem montado em um cavalo cercado por seus soldados? Como está orgulhoso! Com quão consciente dignidade dali exerce controle! O que tens aí contigo, senhor? O que são essas expedições que entesouras com tanto apreço? “Oh, senhor, o que tenho em minhas mãos irá afligir a Igreja de Deus em Damasco. Arrastarei os membros, homens e mulheres, para a sinagoga. Açoitá-los-ei e forçá-los-ei a blasfemarem. E tenho esta comissão do sumo sacerdote de levá-los à força à Jerusalém para matá-los.” “Saulo! Saulo! Não tem amor por Cristo?” “Amor por Ele? Não! Quando apedrejaram Estevão, me encarreguei das roupas das testemunhas e tive prazer em fazê-lo. Como gostaria de ter participado da crucificação do seu mestre, pois os odeio profundamente e contra eles expiro ameaças e massacres.” O que você afirma deste homem? Se ele for salvo, não irá admitir que alguma soberania divina o converteu? Olhe para o pobre Pilatos, quanta esperança havia nele. Queria salvar o Mestre, porém temeu e tremeu. Se tivéssemos tido a chance, teríamos dito: “Senhor, salve Pilatos porque ele não quer matar Jesus e se esforça para livrá-lo. Mas mate o sanguinário Saulo – ele é o líder absoluto dos pecadores.” “Não”, exclama Deus, “farei com os meus como me for aprazível.” ”Os céus se abrem e o brilho da glória desce mais luminosa que o sol do meio-dia! Impressionado com a luz, Saulo cai no chão e uma Voz se dirigindo a ele é ouvida: “Saulo, Saulo, por que me persegues?  Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” Ele se levanta. Deus aparece para ele:“Veja, porque és para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios.” Não é esta Soberania – Graça Soberana – desprovida de qualquer busca prévia? Deus foi achado por aquele que não o havia buscado! Se manifestou ao que não havia perguntado por Ele. Alguns dirão que aquilo foi um milagre, mas é um que se repete todos os dias da semana!

Uma vez conheci um homem que não ia à casa de Deus por muito tempo. E num domingo de manhã, tendo ido ao mercado comprar dois patos para seu jantar, aconteceu de ver a casa de Deus aberta quando passava. “Bem”, pensou ele, “vou observar o que estes companheiros estão fazendo.” Ele entrou. O hino que cantavam prendeu sua atenção. Ouviu o sermão, esqueceu-se dos patos, descobriu seu próprio caráter – foi para casa e se pôs de joelhos perante o Senhor – e após certo tempo aprouve a Deus dar-lhe alegria e paz em crer! Para começar, aquele homem não tinha nada em si mesmo, nada que levasse alguém a imaginar que um dia ele poderia ser salvo! Mas simplesmente porque Deus quis assim, o homem foi alcançado com o sopro eficaz da Graça e levado a Jesus Cristo! No entanto, nós mesmos somos os melhores exemplos desta situação! Até hoje me assombro pois Deus nunca deveria ter me escolhido. Não consigo entender. E a minha única resposta para a pergunta é: “Sim, ó Pai, porque assim pareceu bem aos teus olhos.”

Creio que agora anunciei a Doutrina de maneira bem clara. Deixe-me apenas dizer algumas palavras sobre ela. Algumas pessoas têm bastante medo desta verdade de Deus. Dizem: “É verdade, ouso dizer, mas mesmo assim você não deveria pregá-la para uma assembleia heterogênea. É muito confortável para o povo de Deus, mas deve ser manejada com cuidado e não deve ser pregada publicamente.” Muito bem, senhor, permito que resolva este assunto com meu Mestre. Ele me deu este grande livro para pregar, e não posso fazer uso de nenhuma outra fonte! Se Ele colocou algo na Bíblia que você considera inadequado, vá e reclame com Ele e não comigo. Sou um simples servo e se o que prego é ofensivo, não posso fazer nada. Se eu envio meu servo com uma mensagem e ele a entrega fielmente, não merece ser repreendido. Coloque a culpa em mim, e não em meu servo. Então eu digo: culpe meu Mestre porque eu somente proclamo Sua mensagem. “Não”, diz alguém, “não é para ser pregada.” Sim, é para ser pregada. Toda a Palavra de Deus é inspirada e útil para algum bom propósito. A Bíblia não ensina assim? Deixe-me dizer-lhes a razão pela qual muitas das nossas igrejas estão em declínio: é simplesmente porque esta Doutrina não tem sido pregada. Onde quer que ela tenha sido defendida, sempre foi “Abaixo o Papismo.” Os primeiros reformadores sustentaram esta doutrina e a pregaram. Bem disse um doutor da Igreja da Inglaterra a alguns críticos: “Olhem para o Lutero de vocês. Não o consideram o mestre da Igreja da Inglaterra? O que Calvino e outros reformadores ensinaram pode ser encontrado em seu Livro sobre a liberdade da vontade.”[1] Além disso, podemos indicar-lhes uma série de ministros desde o início até agora. Falemos da sucessão apostólica! O homem que prega as Doutrinas da Graça é de fato um sucessor dos apóstolos! Não podemos traçar nossa genealogia através de toda uma linhagem de homens como Newton, Whitefield, Owen e Bunyan diretamente até chegarmos a Calvino, Lutero e Zwinglio? Deles então podemos voltar a Savonarola, Jerônimo de Praga, a Huss e então de volta a Agostinho, o pregador mais poderoso do cristianismo. E de Santo Agostinho até Paulo é somente um passo! Não precisamos sentir vergonha da nossa linhagem. Embora os Calvinistas agora sejam considerados heterodoxos, somos e sempre deveremos ser ortodoxos. É a antiga doutrina! Vão e comprem qualquer livro puritano e veja se conseguem encontrar nele o Arminianismo! Pesquisem todas as bancas de livros e veja se podem encontrar algum manuscrito antigo que possua algo diferente da Doutrina da Livre Graça de Deus. Permitam que esta seja trazida para nutrir a mente dos homens e desaparecerão as falsas doutrinas da penitência, confissão e do pagamento pelos seus pecados!

Se a graça é livre e soberana nas mãos de Deus, a doutrina do clericalismo não se sustenta! A compra e venda de indulgências e coisas afins também não! São levados pelos quatro ventos dos céus e a eficácia das boas obras é reduzida em pedacinhos como Dagom diante da arca do Senhor! “Bem”, alguém comenta, “Gosto da Doutrina. Todavia, existem muito poucos que pregam-na e os que o fazem são muito elevados.” É bem provável, mas me importo pouco com o que dizem de mim. Tem muito pouca importância o que os homens falam a seu respeito. Suponha que o considerem “excitado, nervoso”- isto não o torna perverso, certo? Imagine que o julguem um antinomiano – isto não o torna um deles! No entanto, devo confessar que há alguns homens que pregam esta doutrina causando dez vezes mais mal do que bem porque não pregam sobre a próxima sobre a qual vou falar, e que é igualmente verdadeira! Possuem a primeira para ser a vela, mas não esta última para ser o lastro. Podem pregar sobre um lado da moeda, mas não sobre o outro. Podem concordar com a alta Doutrina, porém não falarão sobre a Palavra em sua totalidade. Tais homens caricaturam a Bíblia! Deixem-me comentar aqui o costume de certo grupo de hiper-calvinistas de chamar de “Calvinistas Híbridos” aqueles entre nós que ensinam que é dever do homem se arrepender e crer. Se vocês escutarem alguém dentre eles falar desta maneira, deem-nos meus mais respeitosos elogios e perguntem-nos se já leram os trabalhos de Calvino em suas vidas. Não que eu me importe com o que Calvino disse ou não disse, mas perguntem-nos se algum dia leram suas publicações. E se disserem “Não”, como provavelmente o farão porque existem 48 extensos volumes, digam-nos que o homem a quem chamam um “Calvinista Híbrido”, embora não tenha lido a totalidade dos volumes, já leu uma boa parte deles e conhece sua essência. E sabe que prega substancialmente o mesmo que Calvino, que toda doutrina sobre a qual ensina pode ser encontrada nos Comentários de João Calvino a respeito de uma ou outra parte das escrituras. Somos calvinistas verdadeiros! No entanto, este reformador não é ninguém para nós. Jesus Cristo e ele crucificado e a Bíblia tradicional são nossos pilares. Amados, aceitemos a escritura em sua totalidade! Se encontrarmos alta doutrina, que assim permaneça! Se for baixa doutrina, que permaneça também![2] Lancemos mão somente de padrões proporcionados pela Bíblia!

II. Passemos agora ao segundo ponto. “Agora veja,” comenta meu hiper amigo, “ele vai se contradizer.” Não, meu Amigo, não vou! Vou contradizer você! O segundo ponto é a RESPONSABILIDADE DO HOMEM. “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” Então, esse povo que Deus abandonou havia sido cortejado, buscado, suplicado que fosse salvo. Mas se recusaram e uma vez que não foram salvos, o abandono foi o resultado de sua desobediência e oposição. Este fato é claramente encontrado no texto. Quando Deus envia os profetas a Israel e estende Suas mãos, qual Seu propósito? Por que desejava que o povo se voltasse para Ele? Ora, para serem salvos! “Não”, alguém diz, ”era para que recebessem misericórdias temporárias.” Não é assim, meu Amigo! O verso anterior diz respeito às misericórdias espirituais e este também, pois se referem à mesma coisa. Então, foi Deus sincero em sua oferta? Ele perdoa o homem ousado o suficiente para dizer que não! Sem dúvida o Senhor é sincero em todas as suas ações – enviou Seus profetas e rogou ao povo de Israel que se apegassem às coisas espirituais, mas se recusaram. E embora estendesse Suas mãos durante todo o dia, ainda assim permaneceram “um povo rebelde e contradizente”, e não receberam Seu amor. E sujaram as mãos com o próprio sangue!

Deixe-me agora observar o cortejo de Deus e suas características. Em primeiro lugar, era o cortejo mais amoroso do mundo! Pecadores perdidos que se encontram ao som do evangelho não estão perdidos por falta do mais carinhoso dos convites. Deus diz que estendeu Suas mãos. Vocês sabem o que isto significa. Têm visto filhos desobedientes que não se voltam para seus pais. O pai estende suas mãos e diz: “Venham para mim, meus filhos, venhas, estou pronto a perdoar-lhes.” A lágrima está em seus olhos e seu coração se move de compaixão enquanto exclama: “Venham, venham.” Deus diz que Ele mesmo fez isto – “Ele estendeu as Suas mãos.” E assim tem agido com alguns de vocês, os quais se não são salvos hoje, são indesculpáveis, pois Deus lhes estendeu Suas mãos e disse: “Venham, venham.” Vocês têm estado ao som do evangelho por um longo tempo e têm sido fiel, eu creio, e têm chorado! Seu pastor não se esqueceu de orar por suas almas em secreto ou de chorar por vocês quando nenhum olho estava posto sobre ele, o qual tem lutado para convencê-lo como um embaixador de Deus! O Senhor é testemunha das vezes que estive neste púlpito e não poderia ter rogado com mais força por minha própria vida do que roguei pelas suas! Em nome de Jesus tenho clamado: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Tenho chorado por vocês como fez o Salvador e usado Suas palavras em Seu nome: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” E vocês sabem que suas consciências têm sido tocadas com frequência, que vocês têm sido movidos, não puderam resistir. Deus foi tão gentil com vocês, convidou-os com tanto amor através da Palavra, ajudou-os com tanta mansidão através da Sua providência e Suas mãos estavam estendidas e vocês puderam ouvir Sua voz falando em seus ouvidos: “Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.”

Vocês O têm ouvido clamar: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas.” Vocês O têm ouvido falar com todo o amor do coração de um pai: ”Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Oh, Deus implora para que o homem seja salvo e hoje Ele diz a cada um de vocês: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados. Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos, considerai os vossos caminhos.” E com amor Divino Ele o corteja como um pai corteja seu filho, estendendo Suas mãos e clamando: “Tornai-vos para mim, tornai-vos para mim.” “Não,” diz um doutrinário, “Deus nunca convida todos os homens a tornarem-se para Ele, mas somente alguns indivíduos.” Pare, senhor! Isto é tudo o que você sabe. Nunca leu sobre a parábola aonde é dito: “Meus bois e cevados já estão mortos, e tudo já está pronto; vinde às bodas.” E os que foram convidados não quiseram ir. E nunca leu que todos começaram a dar desculpas e foram punidos porque não aceitaram o convite? Então se os convites não são feitos para todos, mas somente para quem iria aceitá-lo, como esta parábola pode ser real? A verdade é que os bois e cevados estão mortos, o jantar preparado e o trompete ressoa: “Todos os que têm sede, vinde e comei, vinde e bebei.”Aqui está a distribuição das provisões, a total suficiência – o convite é de graça – é grande e sem limitação! “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” E este convite é expresso com palavras mansas: “Vinde a mim, filho meu, vinde a mim.” “Todo o dia estendi as minhas mãos.”

E note de novo, este convite era muito frequente. As palavras “todo o dia” podem ser traduzidas por “diariamente.” “Diariamente estendi as minhas mãos.” Pecador, Deus não o chamou uma vez para ir e então deixá-lo só, mas todos os dias tem estado com você! Todos os dias a consciência fala com você. Todos os dias a providência o adverte e todo dia do Senhor a palavra de Deus o corteja! Oh, quantas contas alguns de vocês terão de prestar no tribunal de Deus! Não posso agora entender o seu caráter, mas sei que alguns julgamentos serão terríveis no final. Deus tem cortejado você durante todo o dia. Desde o seu primeiro amanhecer, ele o corteja através de sua mãe e ela costumava a juntar suas mãozinhas e ensiná-lo a dizer:

 “Gentil Jesus, manso e humilde
Olhe para esta criancinha,
Compadeça-se da minha singeleza
Permita-me correr para o Senhor.”

E durante sua infância Deus ainda estava estendendo as mãos em sua direção! Como sua professora da escola dominical empenhou-se em trazê-lo ao Salvador! Quão frequentemente seu jovem coração foi influenciado. No entanto, você deixou tudo isto de lado a ainda permanece intocado! Quantas vezes sua mãe lhe falou e seu pai o advertiu? E você se esqueceu das orações em seu quarto quando estava doente, quando sua mãe beijava sua testa queimando de febre, ajoelhava-se e pedia a Deus que poupasse sua vida e então orava mais: “Senhor, salve a alma do meu menino!” Lembre-se da Bíblia que ela te deu quando você começou seu aprendizado e a oração que escreveu naquela capa amarela. Quando ela o presenteou, talvez você não o soubesse, mas deve saber agora o quanto ela desejou seu novo nascimento em Cristo Jesus! Como ela o acompanhou com suas orações e como ela suplicou ao Deus dela por você! E com certeza você ainda não se esqueceu de quantos domingos e sermões desperdiçou e quantas vezes foi avisado! Todo ano escutava pelo menos 104 sermões e alguns de vocês mais, e ainda permanecem como sempre foram!

Porém pecadores, escutar pregações é algo terrível a não ser que abençoe suas almas. Se Deus continua estendendo Sua mão todos os dias, durante todo o dia, será difícil quando você for justamente condenado não somente por suas brechas na Lei, mas por sua rejeição voluntária ao Evangelho! É provável que o Senhor continue estendendo Suas mãos até que seus cabelos fiquem grisalhos, ainda convidando-o continuamente – e talvez quando estiver beirando a morte Ele ainda dirá: “Vinde a mim, vinde a mim.” Se porém você ainda insistir em endurecer seu coração, se ainda rejeitar Jesus, eu imploro-lhe que não permita que nada o faça imaginar que continuará sem punição! Oh, eu tremo algumas vezes quando penso naquela classe de ministros os quais dizem aos pecadores que não são culpados por não buscarem o Salvador! Como serão considerados inocentes no Grande Dia do Senhor, eu não sei. Parece-me algo terrível o fato destes pastores estarem embalando pobres almas no sono enganoso por dizer-lhes que não é sua obrigação buscar a Cristo e arrepender-se – mas que podem comportar-se como desejarem a este respeito e quando perecerem não terão culpa a mais por terem ouvido a Palavra. Meu Mestre não disse isto! Lembre-se como Ele disse: “E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti.” Jesus não falou assim quando se dirigiu à Corazim e Betsaida – Ele afirmou: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras.” Não era como Paulo pregava. Ele não afirmava que não havia culpa em desprezar a cruz. Escute uma vez mais as palavras do apóstolo: “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.”

Pecador, no Grande Dia do Senhor você deverá prestar contas por cada advertência que recebeu, por cada vez que leu a Bíblia, sim, e por cada vez que negligenciou sua leitura; por cada domingo quando a casa de Deus estava aberta e você negligenciou tirar proveito da oportunidade de ouvir a palavra de Deus e por cada vez que a ouviu e não a escutou! Vocês que são ouvintes desatentos estão jogando lenha na sua própria fogueira eterna! Vocês que ouvem e se esquecem imediatamente, ou ouvem de maneira frívola, estão cavando sua própria cova! Lembrem-se, só você será culpado por sua própria condenação no Último Grande Dia, ninguém mais. Deus não será responsável. “Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus – e este é um grande juramento – não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva.” Deus tem feito muito por você! Ele enviou-lhe Seu Evangelho! Você não nasceu numa terra pagã. Ele lhe deu o Livro dos Livros e uma consciência iluminada. Se você perecer ao som do ministério, perecerá de maneira mais temerosa e terrível do que se estivesse em qualquer outro lugar!

Esta doutrina é tão bíblica quanto a outra. Você me pede para conciliar as duas. Respondo que elas não precisam de conciliação! Nunca tentei fazê-lo para mim mesmo por que nunca pude ver alguma discrepância. A discussão envolve ninharias, picuinhas, não posso responder nada. Ambas são genuínas! Não existem duas verdades inconsistentes entre si e o que podemos fazer é crer nas duas. Na primeira, o santo faz a maior parte. Deixe-o louvar a livre e soberana graça de Deus e abençoar Seu nome! Na segunda, o pecador faz a maior parte. Oh pecador, humilhe-se sob a poderosa mão do Senhor! Pense o quanto Ele tem demonstrado Seu amor por você convidando-o a voltar-se para Ele. Pense o quanto você tem desprezado Sua palavra e rejeitado Sua misericórdia! Pense como tem ignorado cada convite e seguido seu caminho de rebelião contra o Deus de amor e quantas vezes tem transgredido os mandamentos Daquele que o amou.

Como concluirei então? Minha primeira exortação será para os cristãos. Queridos amigos, rogo-lhes que não se rendam a nenhum sistema de fé à parte da Palavra de Deus. A Bíblia, e somente a Bíblia, é a religião dos protestantes. Sou o sucessor do grande e venerado Dr. Gill, cuja teologia é quase universalmente recebida entre as igrejas calvinistas mais maduras. Mas embora eu venere sua memória e creia nos seus ensinamentos, ele ainda não é meu Mestre. O que você encontra nas escrituras é para acreditar e receber! Nunca tema uma doutrina e, acima de tudo, nunca tema um nome. Alguém comentou comigo outro dia que achava que a verdade de Deus encontra-se em algum lugar entre estes dois extremos. Foi correta sua intenção, mas creio que ele estava errado. Não acredito que a verdade de Deus esteja entre dois extremos, mas nos dois! Quando se trata de pregar a salvação, creio que quanto mais profundo o homem possa ir, melhor. A razão pela qual alguém é salvo é Graça, Graça, Graça! E neste ponto, quanto mais minúcias, melhor. Mas quando a questão é porque o homem está condenado, então o Arminianismo está muito mais certo que o Antinomianismo. Não me importo com denominações ou partidos – e sou tão profundo quanto Willian Huntingdon[3] quando se trata da salvação – mas me pergunte sobre condenação e lhe darei uma resposta bem diferente. Não peço aplauso pela graça de Deus. Prego a Bíblia como ela é. Erramos quando o Calvinista começa a interferir na questão da condenação e interfere na justiça de Deus – ou quando o Arminiano nega a Doutrina da Graça.

Minha segunda exortação é: Pecadores, peço a cada pessoa não convertida e ímpia nesta manhã que repudie qualquer forma e estilo de desculpa que o diabo possa incutir em vocês a respeito de sua inconversibilidade. Lembrem-se que nenhum ensino no mundo pode desculpá-los de serem inimigos de Deus por praticarem o que é mau. Quando clamamos por sua reconciliação com o Senhor é porque sabemos que nunca estarão em seu próprio lugar até que isto aconteça. O Senhor Deus os fez. É certo que vocês o desobedeçam? Ele os alimenta todos os dias. Como pode sua insistente insubordinação estar correta? Lembrem-se: quando os céus estiverem em chamas, quando Cristo voltar para julgar o mundo com justiça e seu povo com equidade, não poderão lançar mão de nenhuma justificativa válida neste Último Grande Dia. Se você tentar argumentar: “Senhor, nunca ouvi a Palavra”, a resposta Dele seria: “Sim, a escutou claramente.” “Mas Senhor, minha vontade era má.” “Por sua boca o condenarei. Você conhecia sua vontade detestável e o condeno por ela. “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as suas obras eram más.” “Mas Senhor”, alguns dirão, “eu não era predestinado.” “O que você tinha com isto? Agiu de acordo com sua vontade quando se rebelou. Não se voltou para Mim e agora o destruirei para sempre. Descumpriu a Minha Lei – sua culpa está sobre sua cabeça.” Se um pecador pudesse dizer no Último Grande Dia; “Senhor, não poderia ter sido salvo de qualquer modo”, seu tormento no inferno seria atenuado por este pensamento. Isto se encaixaria, porém, no mais extremo limite – “Sabia do seu dever e não o cumpriu, pisou em tudo o que era santo, se descuidou do Salvador e como escapará se negligenciar tão grande salvação?”

Então, quanto a mim – alguns de vocês podem ir embora e afirmar que fui antinomiano na primeira parte do sermão e Arminiano no final. Não me importo! Imploro que pesquisem a Bíblia por si mesmos, quanto à Lei e ao Testemunho. Se não falo de acordo com Sua Palavra, é porque não há luz em mim. Prontifico-me a passar pelo teste. Não tenham nada a ver comigo onde não tenho nada a ver com Cristo! Onde me desassocio da palavra de Deus, lancem fora minhas palavras – mas se o que digo é ensinamento de Deus, incumbo-lhes, por Aquele que me enviou, de considerar estas coisas e de voltar-se para o Senhor com todo seu coração.


[1] seu Livro sobre a liberdade da vontade: provável referência ao artigo X dos 39 Artigos da Religião da Igreja da Inglaterra, sobre o livre arbítrio (Confira https://www.dropbox.com/s/nwakukcizywv6ac/artigos.pdf)

[2] Doutrina Alta, Doutrina Baixa: referência a consideração dos mistérios de Deus “altos” e daquilo que é comum “baixo” (nota do revisor)

[3] William Huntington (2 de fevereiro de 1745 – 1 de Julho de 1813) foi um pregador inglês conhecido por pregar que a ”lei moral” era desnecessária. Huntington foi um calvinista crente na dupla predestinação. (Wikipédia)

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ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA TRAZER UM CONHECIMENTO SALFÍVICO DE JESUS CRISTO E PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA

FONTE: Traduzido de http://www.spurgeongems.org/vols4-6/chs207.pdf
Todo direito de tradução protegido por lei internacional

Sermão nº 207 — Volume 2 do The New Park Street Pulpit,

Tradução: Adriana Braga Misiara Silva Rodrigues
Revisão: Armando Marcos
Capa: Victor Silva

Projeto Spurgeon – Proclamando a Cristo crucificado.

Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos de seus pecados.

Você tem permissão de livre uso desse material, e é incentivado a distribuí-lo, desde que sem alteração do conteúdo, em parte ou em todo, em qualquer formato: em blogs e sites, ou distribuidores, pede-se somente que cite o site “Projeto Spurgeon” como fonte, bem como o link do site www.projetospurgeon.com.br. Caso você tenha encontrado esse arquivo em sites de downloads de livros, não se preocupe se é legal ou ilegal, nosso material é para livre uso para divulgação de Cristo e do Evangelho, por qualquer meio adquirido, exceto por venda. É vedada a venda desse material

(Fonte)

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Cristo Vida cristã

Em Cristo (Burk Parsons)

Repetitio mater studiorum est. “A repetição é a mãe de todo aprendizado.” O apóstolo Paulo entendeu isso. Sob a inspiração e a superintendência do Espírito Santo, Paulo constantemente repetia as verdades fundamentais da doutrina bíblica, e ele fazia isso não apenas dentro de cada uma de suas epístolas, mas às vezes dentro da mesma frase. O mais claro exemplo disso é encontrado na epístola de Paulo aos efésios. Conforme ele desenrola o glorioso mistério de nossa salvação, Paulo reitera a frase “em Cristo” ou “nele” continuamente ao longo do primeiro capítulo, e quase dez vezes nos versos 3 a 14, que é uma longa frase na língua original. Há muitos anos, enquanto eu pregava em Efésios 1, expliquei à nossa congregação que se eles fossem lembrar de apenas uma verdade de nosso estudo de Efésios, que fosse a frase “em Cristo”, que é uma maneira curta de se lembrar de um dos mais fundamentais aspectos da salvação — nossa união com Cristo.

A união do crente com Cristo há tempos vem sido uma doutrina negligenciada em muitas igrejas, embora seja uma doutrina central da Escritura. A Palavra de Deus nos ensina que somos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo e que somos unidos com Cristo pela graça justificadora de Deus através da nossa fé somente por causa da morte expiatória de Cristo somente (João 15:4-7; 1 Coríntios 15:22; 2 Coríntios 12:2; Gálatas 3:28; Efésios 1:4, 2:10; Filipenses 3:9; 1 Tessalonicenses 4:16; 1 João 4:13). A natureza dessa união não é apenas que estamos em Cristo, mas que ele está em nós (João 6:56; Romanos 8:10; 2 Coríntios 13:5; Gálatas 2:20; Efésios 3:17; Colossenses 1:27). As implicações teológicas de nossa união com Cristo são espantosas, e é o próprio Cristo quem nos ensinou que elas são. Em João 15, Jesus disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (v. 5). Na raiz de nossa santificação está nossa união com Cristo. Como ramos, nós damos frutos precisamente porque estamos unidos a Cristo, a videira, e estamos conectados à videira por causa da obra de Deus Pai, que é “o agricultor” (15:1). Além disso, em sua oração sumo-sacerdotal, Jesus expressou a profunda união que ele tem com os crentes, dizendo: “… eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (17:23). Nesta gloriosa oração, jesus revela a absoluta majestade desta doutrina quando expressa que nossa união com ele — o eterno Logos, o Filho de Deus, a segunda pessoa da Divindade, Deus conosco — tem a direta implicação que, em Cristo, o pai nos ama como ele ama seu Filho unigênito. E visto que estamos unidos com Cristo, estamos unidos com ele em sua morte e, portanto, também seremos unidos com ele em sua ressurreição (Romanos 6:5).

(Fonte)

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Defesa da fé

O cristianismo tem sido, com sucesso, atacado e marginalizado… porque aqueles que professam a fé são incapazes de defendê-la do ataque, mesmo que os argumentos dos adversários sejam profundamente falhos.

(William Wilberforce)

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Conexões recomendadas (2)

Esta semana, entre muitos bons artigos e sítios da internet que encontrei, destaco estes dois.

O primeiro, com o excelente nome de “Uma palavrinha sobre o palavrão”, trata do uso de palavras chulas e obscenas por parte de cristãos. O assunto é sério, pois os defensores de tal linguagem ignoram as claras orientações bíblicas sobre o assunto e justificam-se convicta e iradamente. Ao final do artigo, há a indicação de vários outros, que também devem ser lidos.

O segundo é para quem gosta de livros, e estes de graça. Baixe todos! 😀

Que o Senhor o abençoe com paz!

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Conexões recomendadas (1)

Introdução à Cosmovisão Reformada: Anotações quase aleatórias (1)

D.A. Carson – O Deus que Não Destrói Rebeldes [O Deus Presente 2/14]

Investigacão sobre a mente humana segundo os princípios do senso comum: lançamento de livro

O reino milenar (em inglês): série de artigos sobre este importante tópico da escatologia, ora desconhecido, ora mal interpretado pelos cristãos contemporâneos

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Cosmovisão cristã

Sem dúvida, uma das grandes dificuldades do cristão é: “Como devo viver no mundo?” Em outras palavras, como praticar o “estar no mundo, mas não ser do mundo” (Jo 17)? A resposta para isso é ter uma clara e bíblica cosmovisão cristã. As palestras de Héber Campos Jr. esclarecem o assunto. Ouça e pratique.

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Mortificando o pecado pelo Espírito Santo (D. M. Lloyd Jones)

“Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.12-13).

 

A santificação é um processo em que o próprio homem desempenha uma parte. Nessa parte, o homem é chamado a fazer algo “pelo Espírito”, que está nele. Consideraremos agora o que exatamente o homem tem de fazer. A exortação é esta: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo”. O crente é chamado a mortificar os feitos do corpo.

Temos, primeiramente, de abordar a palavra corpo, que se refere ao nosso corpo físico, nossa estrutura física, conforme vemos também no versículo 10. A palavra não significa “carne”. Até o grande Dr. John Owen se enganou neste ponto e trata a palavra como uma alusão à “carne” e não ao “corpo”. Mas o apóstolo, que antes falara tanto a respeito de “carne”, agora fala sobre o “corpo”. Ele fez isso no versículos 10 e 11, assim como o fizera no versículo 12 do capítulo 6. Paulo se referia a este corpo físico em que o pecado ainda permanece e que um dia será ressuscitado em “incorruptibilidade” e glorificado, para tornar-se semelhante ao corpo glorificado de nosso bendito Senhor e Salvador.

Enfatizo novamente que temos de ser claros neste assunto, porque está sujeito a ser mal entendido. O ensino não é que o corpo humano ou a matéria são inerentemente pecaminosos. Já houve heréticos que ensinaram esse erro conhecido como dualismo. Ao contrário disso, o Novo Testamento ensina que o homem foi criado bom tanto em corpo, alma e espírito. Não ensina que a matéria é sempre má e que, por essa razão, o corpo é sempre mau. Houve um tempo em que o corpo era… totalmente livre do pecado. Mas, quando o homem caiu e pecou, todo o seu ser caiu, e ele se tornou pecaminoso no corpo, mente e espírito.

Temos visto que pelo novo nascimento o espírito do homem é liberto. Ele recebe vida nova — “O espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10). Mas o corpo ainda “está morto por causa do pecado”. Esse é o ensino do Novo Testamento! Em outras palavras, embora o crente seja regenerado, ainda permanece em um corpo mortal. Por isso enfrentamos problemas para viver a vida cristã, visto que temos de lutar contra o pecado enquanto estivermos neste mundo, pois o corpo é fonte e instrumento de pecado e corrupção. Nossos corpos ainda não foram redimidos. Eles o serão, mas agora o pecado ainda permanece neles.

Conforme vimos, o apóstolo deixa isso bem claro. Em 1 Coríntios 9.27, ele disse: “Esmurro o meu corpo” (1 Coríntios 9.27), porque o corpo nos impele a obras más. Isso não significa que os instintos do corpo são em si mesmos pecaminosos. Os instintos são naturais e normais, não sendo, inerentemente, pecaminosos. Mas o pecado que permanece em nós está sempre tentando levar os instintos naturais a direções erradas. O pecado tenta levá-los a “afeições imoderadas”, a exagerá-los; tenta fazer-nos comer demais, satisfazer em excesso todos os nossos instintos, de modo que se tornem “imoderados”. Vendo esse assunto de outro ângulo, esse princípio pecaminoso tenta impedir-nos de dar atenção ao processo de disciplina e autocontrole ao qual somos constantemente chamados nas páginas das Escrituras. O pecado remanescente no corpo tende a agir dessa maneira. Por isso, o apóstolo fala sobre os “feitos do corpo”. O pecado tenta tornar o natural e normal em algo pecaminoso e mau.

O termo “mortificar” explica-se a si mesmo. “Mortificar” significa matar, trazer à morte… logo, a exortação diz que temos de matar, por um fim nos “feitos do corpo”. De uma perspectiva prática, esta é a grande exortação do Novo Testamento em conexão com a santificação e se dirige a todos os crentes.

Como devemos fazer isso?… O apóstolo esclarece: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo” — pelo Espírito! É claro que o Espírito é mencionado particularmente porque a sua presença e sua obra são características peculiares do verdadeiro cristianismo. Isto é o que diferencia o cristianismo da moralidade, do “legalismo” e do falso puritanismo — “pelo Espírito”. O Espírito Santo, conforme já vimos, está em nós crentes. Você não pode ser um crente sem o Espírito Santo. Se você é um crente, o Espírito Santo de Deus está em você, agindo em você. Ele nos capacita, nos dá forças e poder. Ele nos traz a grande salvação que o Senhor Jesus Cristo realizou, capacitando-nos a desenvolvê-la. Portanto, o crente nunca deve se queixar de falta de capacidade e poder. Se o crente diz: “Eu não posso fazer isso”, está negando as Escrituras. Aquele que é habitado pelo Espírito Santo nunca deve proferir tais palavras; fazê-lo significa negar a verdade a respeito dele mesmo.

Conforme disse o apóstolo João, o crente é alguém que pode dizer: “Temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16). No capítulo 15 de seu evangelho, João descreve os cristãos como ramos da Videira Verdadeira. Por isso, nunca devemos afirmar que não temos poder. Certamente, o Diabo está ativo no mundo e tem grande poder; contudo, “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Ou considere novamente aquela importante declaração feita em 1 João 5.18-19: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado”. A expressão “não vive em pecado” expressa uma ação contínua no presente, e o sentido é este: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando”. Por que não? Porque “Aquele que nasceu de Deus” — ou seja, o Senhor Jesus Cristo — “o guarda, e o Maligno não lhe toca”.

João afirmou que isso é verdade em relação a todos os crentes. O crente não vive no pecado porque Cristo está vivendo nele, e o Maligno não pode tocar-lhe. Isso significa não somente que o Maligno não exerce controle sobre o crente, mas também que o Maligno não pode nem mesmo tocar-lhe. O crente não está sobre o poder do Maligno. E, para incutir isso no crente, João afirmou em seguida: “Sabemos que somos de Deus”; e quanto ao mundo: “O mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19). O mundo está nos braços e domínio do Maligno, que o controla… O Diabo tem completamente em suas mãos e controle o mundo e os homens que pertencem ao mundo, os quais são suas vítimas indefesas. Não há sentido em dizer a tais pessoas que mortifiquem “os feitos do corpo”; elas não podem fazer isso, porque estão sob o poder do Diabo. Mas a situação do crente é outra; ele pertence a Deus e o Maligno não lhe pode tocar. O Diabo pode rugir para o crente e amedrontá-lo ocasionalmente, mas não pode tocar-lhe e, muito menos, controlá-lo.

Essas são afirmações típicas que o Novo Testamento faz a respeito do crente. E, quando compreendemos que o Espírito está em nós, experimentamos o seu poder. Somos chamados a usar e exercitar o poder que está em nós pela habitação do Espírito Santo. “Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito” — que habita em vós —, “mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” A exortação diz que devemos exercitaro poder que está em nós “pelo Espírito”. O Espírito é poder e está habitando em nós. Por isso, somos instados a exercer o poder que está em nós.

Mas, como isso se realiza na prática?… Para começar, temos de entender nossa posição espiritual, pois muitos de nossos problemas se devem ao fato de que não compreendemos e não recordamos quem e o que somos como crentes. Muitos se queixam de que não têm poder e de que não sabem fazer isto ou aquilo. O que precisamos dizer-lhes não é que eles são absolutamente incapazes e que devem desistir. Pelo contrário, todos os crentes precisam ouvir estas palavras de 2 Pedro 1.2-4: “Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Tudo que “conduz à vida e piedade” nos foi dado por meio do “conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. E, outra vez: “Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas [por meio dessas mui grandes e preciosas promessas] vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.

Apesar disso, há crentes que lamentam e se queixam de não terem forças. A respostas para esses crentes é esta: “Todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade lhes foram dadas. Parem de lamentar, murmurar e queixar-se. Levantem-se e usem o que está em vocês. Se vocês são crentes, o poder está em vocês pelo Espírito Santo. Você não estão desamparados”. Todavia, o apóstolo Pedro não parou ali. Ele disse também: “Aquele a quem estas coisas não estão presentes” — em outras palavras, o homem que não faz as coisas sobre as quais foi exortado — “é cego, vendo só o que está perto” (2 Pe 1.9). Ele tem uma visão curta, havendo “esquecido da purificação dos seus pecados de outrora”. Não possui uma visão verdadeira da vida cristã. Está falando e vivendo como se fosse uma pessoa não-regenerada. Ele diz: “Não posso continuar sendo cristão; é demais para mim”. Pedro exorta esse homem a compreender a verdade a respeito de si mesmo. Precisa ser despertado, ter seus olhos abertos e sua memória refrescada. Ele precisa se animar e fazer, em vez de lamentar as suas imperfeições.

Além disso, temos de compreender que, se somos culpado de pecado, entristecemos o Espírito Santo de Deus, que está em nós. Pecamos a todo momento. O fato deveras grave não é o de que pecamos e nos tornamos infelizes, e sim o de que entristecemos o Espírito de Deus que habita em nosso corpo. Quão frequentemente pensamos nisso? Acho que, ao falarem comigo a respeito desse assunto, as pessoas sempre falam sobre si mesmas — “meu erro”. “Estou sempre caindo nesse pecado.” “Este pecado está me desanimando.” Falam completamente a respeito de si mesmas. Não falam sobre o seu relacionamento com o Espírito Santo. E, por essa razão: o homem que compreende que o maior problema de sua vida pecaminosa é o fato de que está entristecendo o Espírito Santo, esse homem para de fazer isso imediatamente. No momento que o crente percebe que esse é o seu verdadeiro problema, ele lida com esse problema. Não se preocupa mais com seus próprios sentimos. Quando o crente compreende que está entristecendo o Espírito Santo de Deus, ele age imediatamente.

Outra consideração importante sobre este tema geral é o fato de que temos sempre de fixar-nos no alvo crucial. Pedro enfatizou isso no mesmo capítulo da sua epístola: “Procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.10-11). Se vocês fizerem o que exorto-os a fazer, ele disse, a morte, quando lhes chegar, será algo maravilhoso. Você não somente entrarão no reino de Deus; antes, terão uma entrada ampla. Haverá um desfile triunfante; os portões do céu serão abertos, e haverá grande regozijo. Pedro não estava se referindo à nossa salvação presente, e sim à nossa glorificação final, à nossa entrada nos “tabernáculos eternos” (Lc 16.9).

Portanto, temos de manter os olhos fixos nesse alvo. Nosso maior problema é que sempre estamos olhando para nós mesmos e para o mundo. Se pensarmos mais e mais sobre nós mesmos como peregrinos da eternidade (o que, de fato, somos), todo o nosso viver será transformado. Paulo afirmou isso no versículo 11 deste capítulo. Mantenham seus olhos nisso, eles disse em outras palavras; mantenham seus olhos no alvo. João disse a mesma coisa: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 Jo 3.2-3). A causa de muitos de nossos problemas, como crentes, é que vivemos demais para este mundo. Persistimos em esquecer que somos apenas “peregrinos e forasteiros” neste mundo. Pertencemos ao céu; nossa pátria está no céu (Fp 3.20), e estamos indo para lá. Se apenas mantivéssemos isso diante de nossa mente, o problema de nossa luta contra o pecado assumiria um aspecto diferente…

Devemos nos mover agora do geral para o específico, relembrando-nos de que tudo é feito “pelo Espírito”, com uma mente iluminada por Ele. O que temos de fazer especificamente? O ensino do apóstolo pode ser considerado sob dois aspectos: direto e negativo, indireto e positivo.

No aspecto direto ou negativo, a primeira coisa que o crente tem de fazer é abster-se do pecado. É bem simples e direto! Pedro disse: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Esse é um ensino bastante claro. Aqui não há qualquer sugestão de que somos incapazes, temos de desistir da luta e entregar tudo ao Senhor ressuscitado. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes…” — parem de fazer isso, parem imediatamente, não o façam mais! Vocês precisam se abster totalmente desses pecados, essas “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. Vocês não têm o direito de dizer: “Sou fraco, não posso; as tentações são poderosas”.

A resposta do Novo Testamento é: “Parem de fazer isso”. Vocês não precisam de hospital e de um tratamento médico; precisam recompor-se e compreender que são “peregrinos e forasteiros”. “Exorto-vos… a vos absterdes.” Vocês não têm qualquer negócio com essas coisas. Lembrem outra vez o ensino de Efésios 4: “Aquele que furtava não furte mais… Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”. Não haja em vocês nenhuma dessas conversas ou gracejos tolos! Não façam isso! Abstenham-se! É tão simples e claro como estas palavras: parem de fazer isso!

Em segundo lugar, de modo específico, citando outra vez as palavras do apóstolo em Efésios: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Ef 5.11-12). Observe o que ele disse: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas”. Vocês não devem apenas abster-se dessas coisas, mas também não ter comunhão com pessoas que fazem essas coisas ou têm esse modo de vida. “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” O princípio governante de sua deve ser o não associar-se com pessoas desse tipo. Fazer isso é ruim para você e lhe será prejudicial… Não devemos ter qualquer comunhão com o mal; antes, precisamos fugir dele e manter-nos tão distantes quanto pudermos.

Outro termo é “esmurrar” (1 Co 9.27). “Esmurro o meu corpo”, disse o apóstolo. “Todo atleta” — ou seja, aquele que compete nas corridas — em tudo se domina”. As pessoas que passam por treinos visando as grandes competições atléticas são bastante cuidadosas quanto à sua dieta; param de fumar e ingerem bebidas alcoólicas. Quão cuidadosos eles são! E fazem tudo isso porque desejam ganhar o prêmio! Se eles faziam isso, disse Paulo, por causa de coisas corruptíveis, quanto mais devemos disciplinar-nos a nós mesmos… O corpo tem de ser “esmurrado”. Nas palavras de nosso Senhor registradas em Lucas 21.34, há uma sugestão a respeito de como isso deve ser feito. Ele disse: “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente”. Não coma bem beba demais; não se preocupe excessivamente com as coisas deste mundo. Coma o suficiente e o alimento correto; mas não se torne culpado de “excesso”. Se uma pessoas satisfaz em demasia seu corpo, com alimento, bebida ou outra coisa, ele achará mais difícil viver uma vida cristã santificada e mortificar os feitos do corpo. Portanto, evite todos esses obstáculos, pois, do contrário, seu corpo se tornará indolente, pesado, moroso e lânguido. Há uma intimidade tão grande entre o corpo, a mente e o espírito, que achará grande problema em seu conflito espiritual. “Esmurre o corpo.”

Outra máxima usada pelo apóstolo, na Epístola aos Romanos, se acha no capítulo 13: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (v. 14). Se querem mortificar os feitos do corpo, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. O que isso significa? Em Salmos 1, achamos um discernimento claro quanto ao significado dessas palavras do apóstolo. Eis a prescrição: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores” (Sl 1.1). Se vocês querem viver esta vida piedosa e mortificar os feitos do corpo, não gastem tempo permanecendo nas esquinas das ruas, porque, se fizerem isso, provavelmente cairão em pecado. Se permanecerem no lugar por onde o pecado talvez passará, não se surpreendam se voltarem para casa em tristeza e infelicidade, porque caíram no pecado. Não se detenham no “caminho dos pecadores”. E, menos ainda, devem vocês assentar-se “na roda dos escarnecedores”. Se permanecerem em tais lugares, não haverá surpresa em caírem no pecado. Se vocês sabem que certas pessoas lhes são má influencia, evitem-nas, fujam delas. Talvez vocês digam: “Eu me ajunto com elas para ajudá-las, mas percebo que, todas as vezes, elas me levam ao pecado”. Se isso é verdade, não estão em condições de ajudá-las…

No livro de Jó, o homem sábio disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Era como se dissesse: “Olhem diretamente, não olhem para a direita ou para a direita. Cuidem de seus olhos propensos a vaguear, esses olhos que se movem quase automaticamente e veem coisas que iludem e induzem ao pecado”. “Faça uma aliança com os seus olhos”, declara esse homem. Concorde em não olhar para coisas que tendem a levá-lo ao pecado. Se isso era importante naqueles dias, é muito mais importante em nossos dias, quando temos jornais, cinemas, outdoors, televisão e assim por diante! Se há uma época em que os homens precisam fazer aliança com seus olhos, esta época é agora. Tenham cuidado com o que leem. Certos jornais, livros e diários, se os lerem, eles lhes serão prejudiciais. Vocês devem evitar tudo que lhes prejudica e diminui sua resistência. Não olhem na direção dessas coisas; não queira nada com elas… Na Palavra de Deus, vocês são instruídos a mortificar “os feitos do corpo” e não satisfazer “a carne no tocante às suas concupiscências”. Agradeça a Deus pelo evangelho poderoso. Agradeça a Deus pelo evangelho que nos diz que agora somos seres responsáveis em Cristo e que nos exorta a agir de um modo que glorifica o Salvador. Portanto, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Meu próximo assunto é sobremodo importante: enfrentem as primeiras movimentações e impulsos do pecado em vocês; combatam-nos logo que aparecerem. Se não fizerem isso, estão arruinados. Vocês cairão, conforme somos ensinados na epístola de Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. O primeira moção do pecado é um encantamento, um leve incitação de cobiça e sedução. Esse é o momento em que temos de lidar com o pecado. Se deixarem de enfrentar o pecado nesse estágio, ele os vencerá. Cortem o mal pela raiz. Ataquem-no de imediato. Nunca lhes permitam qualquer avanço. Não o aceitem de maneia alguma. Talvez sintam-se inclinados a dizer: “Bem, não farei tal coisa”; mas, se aceitam a ideia em sua mente e começam a afagá-la e entretê-la em sua imaginação, vocês já estão derrotados. De acordo com o Senhor, vocês já pecaram. Não precisam realmente cometer o ato; nutri-lo no coração já é o suficiente. Permitir isso no coração significa pecar aos olhos de Deus, que conhece tudo a respeito de nós e vê até o que acontece na imaginação e no coração. Portanto, destruam o mal pela raiz, não tenham qualquer relação com ele, parem-no imediatamente, ao primeiro movimento, antes que comece a acontecer esse processo ímpio descrito por Tiago.

No entanto, lembrem-se de que isto — que será nosso próximo assunto — não significa repressão. Se vocês apenas reprimirem uma tentação ou esse primeiro movimento do pecado, ele provavelmente surgirá novamente com mais vigor. Nesse sentido, concordo com a psicologia moderna. A repressão é sempre má. “Então, o que devo fazer?”, alguém pergunta. Eu respondo: quando sentir aquele primeiro movimento do pecado, erga-se e diga: “Isto é mau; isto é vileza; é aquilo que expulsou do Paraíso os nossos primeiros pais”. Rejeite-o, enfrente-o, denuncie-o, odeie-o pelo que é. Assim, terá lidado realmente com o pecado. Você não deve apenas fazê-lo recuar, com um espírito de temor e de maneira tímida. Traga-o à luz, exponha-o, analise-o e, denuncie-o pelo que ele é, até que o odeie.

Meu último assunto neste tema é que, se você cair no pecado (e quem não cai?), não restaurem a si mesmos de modo superficial e apressado. Leiam 2 Coríntios 7 e considerem o que Paulo disse sobre a “a tristeza segundo Deus” que produz arrependimento. Outra vez, tragam à luz aquilo que fizeram, contemplem-no, analisem-no, exponham-no, denunciem-no, odeiem-no e denunciem a si mesmos. Mas não façam isso de um modo que os atire nas profundezas da depressão e desânimo! Sempre tendemos a ir aos extremos; ou somos muito superficiais ou muito profundos. Não devemos curar superficialmente a ferida (cf. Jr 6.14), mas tampouco devemos lançar-nos no desespero e melancolia, dizendo que tudo está perdido, que não podemos ser crentes, e retornar ao estado de condenação. Isso é igualmente errado. Temos de evitar ambos os extremos. Façam uma avaliação honesta de si mesmos e do que fizeram, condenando totalmente a si mesmos e seu ato; porém compreendam que, confessando-o a Deus, sem qualquer desculpa, “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Se vocês fizerem essa obra de maneira superficial, cairão novamente no pecado. E, se vocês se lançarem em um abismo de depressão, hão de sentir-se tão desesperados que cairão em mais e mais pecado. Uma atmosfera de melancolia e fracasso leva a mais fracasso. Não caiam em nenhum desses erros, mas respondam à obra da maneira como o Espírito sempre nos instrui a fazê-la.

 

Extraído de Romans: Na Exposition of Chapter 8:15-17, The Sons of God, p. 132-144, publicado pela Banner of Truth Trust.

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Tradução: Pr. Wellington Ferreira

© Editora FIEL 2009.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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Cristo Cruz Salvação

Justificação pela fé: fora de moda? (B. B. Warfield)

Às vezes nos é dito que a Justificação pela Fé está “fora de moda”, obsoleta. Seria uma pena se fosse verdade. Isso significaria que o caminho da salvação estaria fechado e “nenhuma passagem” estaria “pregada sobre as barreiras”. Não há nenhuma justificação para pecadores a não ser pela fé. As obras de um pecador serão sempre, é claro, tão pecaminosas quanto ele mesmo, e nada exceto a condenação pode ser construído sobre elas. Então onde poderia ele conseguir obras nas quais pudesse fundamentar a sua esperança de justificação, exceto em algum Outro?
A sua esperança de Justificação, lembre-se, é de ser declarado íntegro diante de Deus. Será que Deus poderia declará-lo íntegro sem ser com base em obras que são, elas mesmas, íntegras? Onde um pecador poderá arrumar obras que são íntegras? Seguramente, não em si mesmo; afinal, não se trata ele de um pecador, e todas as suas obras tão pecaminosas quanto ele? Ele precisa, então, sair de si mesmo e encontrar obras que ele possa oferecer a Deus como justas. E onde ele poderá encontrar tais obras se não em Cristo? Ou como fará ele com que elas passem a ser suas a não ser pela fé em Cristo?
Justificação pela Fé, portanto, não é oposta à justificação através de obras. Só há contradição com a justificação por nossas Próprias obras. É uma justificação pelas obras de Cristo. A questão inteira, consequentemente, é se nós podemos esperar ser recebidos no favor de Deus com base no que nós fazemos, ou apenas com base no que Cristo fez por nós. Se nós esperamos ser recebidos com base no nós mesmos fazemos – isso é chamado Justificação por Obras.
Se o nosso fundamento é o que Cristo fez por nós – isso é o que significa Justificação por Fé. Justificação por Fé significa, portanto, que nós olhamos para Cristo e para ele somente em busca de salvação, e vamos a Deus alegando que a morte e a retidão de Cristo são a base da nossa esperança de sermos recebidos no favor dEle. Se a Justificação por Fé tornou-se obsoleta, isso significa, então, que a salvação em Cristo está obsoleta. Não há nada a se fazer, se for assim, a não ser que cada homem faça o melhor que puder para se salvar.
“A dificuldade em apresentar nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis a Deus. A dificuldade é que nós não temos nenhum mérito nosso para lhe apresentar.”
Portanto, Justificação por Fé não significa “salvação por acreditar em certas coisas” em vez de “salvação por fazer o que é certo”. Significa pleitear os méritos de Cristo perante o trono da graça em vez de nossos próprios méritos. Pode ser correto acreditar em certas coisas, e fazer coisas certas certamente é certo. A dificuldade em apresentar nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis a Deus.
A dificuldade é que nós não temos nenhum mérito nosso para lhe apresentar. Adão, antes da queda, tinha seus próprios méritos, e porque ele os tinha ele era, em si mesmo, aceitável a Deus. Ele não precisava de Outro para se interpor entre ele e Deus, cujos méritos ele pudesse pleitear. E, por isso, não havia nenhuma conversa sobre ele ser Justificado por Fé. Mas nós não somos como Adão antes da queda; nós somos pecadores e não temos nenhum mérito em nós mesmos. Se nós tivermos que ser justificados, terá que ser com base nos méritos de Outro, cujos méritos possam ser feitos nossos pela fé.
E foi por isso que Deus enviou seu Único Filho para que todo que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Se nós não crermos nele, obviamente teremos que perecer. Mas se nós acreditarmos nele, nós não morreremos, mas teremos a vida eterna. Isso é tão somente a Justificação pela Fé. Justificação pela Fé não é nada mais, nada menos, do que obter a vida eterna crendo em Cristo. Se a Justificação por Fé está obsoleta, então a salvação em Cristo está obsoleta. E como não há nenhum outro nome debaixo do céu, dado entre homens, pelo qual devamos ser salvos, se a salvação em Cristo está obsoleta então obsoleta está à própria salvação. Seguramente, em um mundo cheio de pecadores precisando de salvação, isso seria uma grande pena.
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Encorajamento Martin Lloyd-Jones Vida cristã

Não dissipe energia (M. Lloyd-Jones)

Isso é particularmente verdadeiro na esfera espiritual. Há muitos que, com muitas boas intenções, e achando que têm que estar fazendo algo para justificar o seu cristianismo, muitas vezes entram nesse estado porque temem as críticas dos adeptos do tal ensino atualmente popular. Muitos cristãos, por seu medo dos verbosos clichês que estão sendo tão usados, acham que devem estar sempre fazendo alguma coisa.
Este é um problema deveras real. Alguns profissionais, cristãos, saem quase todas as noites da semana para reuniões. Isso é errado até do ponto de vista da vida familiar; mas não é o que me preocupa neste momento. Estou preocupado com o perigo que eles próprios estão correndo. Eles se vêem exauridos, enfim, sem mais nada que possam dar; ficam apenas fazendo algo mecanicamente, algo de bem pouco valor. Digo que a culpa deles é a “dissipação de energia”, o “desperdício de energia”-atividade destituída de inteligência.
Todo homem tem que sentar-se e planejar sua vida; tem que decidir o que ele pode e o que não pode fazer. Deve ser resoluto, e não se deixar governar pelo “que o povo diz”. É ele que está na melhor posição para saber o quanto ele pode fazer, quando fazê-lo e onde fazê-lo. Nunca permitam que outros lhes ditem o que fazer. Não permitam que “o que há para fazer”, em toda e qualquer esfera, determine o que vocês irão fazer. Devemos encarregar-nos de nós próprios, ou, doutro modo, ficaremos cansados, aborrecidos e exaustos simplesmente por dissiparmos, por jogarmos fora, a nossa energia.
Há outras maneiras pelas quais o mesmo erro vem à superfície. Acaso não constitui um perigo o fato de que alguns de nós desperdiçam bastante energia simplesmente falando demais? Falamos tanto que nunca paramos para pensar ou meditar. A maioria de nós fala demais, e assim desperdiça muita energia. Uma conversa muito longa pode levar à exaustão. O falatório pode levar muitos a terem problemas espirituais. Temos que aprender a seguir a exortação das Escrituras: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tiago 1:19). Certifiquemo-nos de que não vamos passar a vida toda falando, sem realmente nunca pensar na verdade e sem entendê-la, com isso deixando de crescer na graça e no conhecimento. Temos que disciplinar-nos a nós mesmos nesta questão.
Também se pode dissipar energia meramente argumentando, disputando e brigando. Muitas advertências nos são feitas nas Escrituras concernentes a isso. Vejam 1 Timóteo 1:4: “Nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé”. E no versículo 6:”… desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas”, isto é, passavam a vida discutindo e brigando. Vamos ainda à Segunda Epístola a Timóteo, capítulo 2, onde há bom número de referências a essas questões. Vejam o versículo 14: “Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes”. Eles davam a impressão de que eram muito inteligentes; argumentavam, debatiam. Mas não havia proveito em sua conversa. Por mais que você se incline a argumentar sobre a verdade, se não estiver crescendo espiritualmente como resultado disso, diminua isso; talvez, por algum tempo, seria melhor você cortar isso totalmente e começar a examinar a sua alma. “Nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes.” Também no versículo 16: “Evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade”. Observe bem o resultado desse tipo de coisa. Versículo 23: “Rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas”. Ainda em Tito 3:9: “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs”. A prova de tudo sempre deve ser se é proveitoso – proveitoso para as nossas almas, proveitoso para as almas doutras pessoas. Há muita dissipação de energia, puro desperdício de energia, em disputas e contendas que não têm utilidade. Se você não estiver crescendo em conseqüência da sua atividade nesse aspecto, será melhor começar a examinar-se de novo. Se você tem tanto conhecimento, deveria estar mostrando isso em sua vida. “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus.” Sim, “E qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2 Timóteo 2:19). Conhecimento, batalhar pela fé e crescimento na graça, sempre devem andar juntos.
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A. W. Pink Encorajamento

Consolo nas aflições, sofrimentos compensados (A. W. Pink)

Ah, alguém diz, que essa passagem deve ter sido escrita por um homem que não conhecia o sofrimento, ou por alguém familiarizado com nada mais do que as leves irritações da vida. Não é isso. Estas palavras foram escritas sob a direção do Espírito Santo, e por alguém que bebeu profundamente do cálice do sofrimento, sim, por alguém que sofreu aflições em suas formas mais intensas. Veja o seu próprio testemunho: “Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo;  Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez” (2 Coríntios 11:24-27).
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. Esta, então foi a firme convicção, não de alguém “favorito da sorte”, não de alguém que encontrou na jornada da vida um caminho atapetado, rodeado com rosas, mas, ao contrário, de alguém que foi odiado por seus parentes, que foi muitas vezes espancado, que sabia o que era ser privado não só do conforto, mas também das necessidades básicas da vida. Como, então explicar o seu alegre otimismo? Qual foi o segredo da sua dignidade sobre seus problemas e provações?
A primeira coisa com a qual o apóstolo penosamente provado consolou-se era que os sofrimentos do cristão são de curta duração – que estão limitados ao “tempo presente”. Isto está em nítido e em solene contraste com sofrimentos dos que rejeitam a Cristo. Seus sofrimentos serão eternos: para sempre atormentados no Lago de Fogo. Mas muito diferente é para o crente. Seus sofrimentos são restritos a esta vida na Terra, que é comparado a uma flor que sai e é cortada, a uma sombra que foge e não permanece. Uns poucos anos no máximo, e vamos passar deste vale de lágrimas para aquele país abençoado, onde lamentos e choros nunca mais serão ouvidos.
Em segundo lugar, o apóstolo olhou além, com os olhos da fé para “a glória”. Para Paulo “a glória” era algo mais do que um sonho lindo. Era uma realidade prática, exercendo uma poderosa influência sobre ele, consolando-o nas horas mais críticas e difíceis da adversidade. Este é um dos verdadeiros testes da fé. O cristão tem um sólido suporte na hora da aflição, quando o incrédulo não tem. O filho de Deus sabe que na presença do Pai “há fartura de alegria”, e que à sua mão direita “há delícias perpetuamente”. E a fé se apodera deles, apropria-se deles, e vive na alegria reconfortante deles até agora. Assim como Israel no deserto foi encorajado por uma visão do que os esperava na terra prometida (Nm 13:23,26), assim, aquele que hoje caminha pela fé, e não por vista, contempla o que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, mas o que Deus pelo Seu Espírito Santo tem revelado a nós (1 Cor. 2:9,10).
Em terceiro lugar, o apóstolo se regozijou “com a glória que em nós há de ser revelada”. Tudo isso significa que ainda não somos capazes de ter uma compreensão plena dessas coisas. Mas mais do que uma dica foi concedida a nós. Haverá:
(a) A “glória” de um corpo perfeito. Naquele dia esta corrupção se revestirá da incorruptibilidade, e isto que é mortal, da imortalidade. O que foi semeado em ignomínia será ressuscitado em glória, e o que foi semeado em fraqueza será ressuscitado em vigor. Assim como trouxemos a imagem do terreno, devemos trazer também a imagem do celestial (1 Coríntios. 15:49). O conteúdo dessas expressões é resumido e amplificado em Filipenses 3:20,21: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”.
(b) Haverá a glória de uma mente transformada. “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Cor 13:12). Oh, que envolvimento de luz intelectual com que cada mente será glorificada! Que faixa de luz vai envolvê-la! Que capacidade de entendimento vai deleitá-la! Então todos os mistérios serão desvendados, todos os problemas resolvidos, todas as discrepâncias reconciliadas. Então cada verdade da revelação de Deus, cada evento de Sua providência, cada decisão de seu governo, ficará ainda mais transparentemente clara e resplandecente como o próprio sol. Você, em sua busca presente pelo conhecimento espiritual, lamenta a escuridão da sua mente, a fraqueza de sua memória, as limitações de suas faculdades intelectuais? Então nos regozijemos na esperança da glória que está para ser revelada em você – quando todos os seus poderes intelectuais serão renovados, desenvolvidos, aperfeiçoados, de modo que você conhecerá como você é conhecido.
(c) Melhor de tudo, haverá a glória da santidade perfeita. A obra da graça de Deus em nós, então, será completada. Ele prometeu que aperfeiçoará “o que me toca” (Salmo 138:8). Então será a consumação de pureza. Fomos predestinados para sermos “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29), e quando O veremos “seremos semelhantes a ele” (1 João 3:2). Então, nossas mentes não serão mais contaminadas por imaginações do mal, nossas consciências não serão mais manchadas por um sentimento de culpa, nossas afeições não serão mais enganadas por objetos indignos. Que perspectiva maravilhosa é esta! A “glória” que será revelada em mim agora dificilmente pode refletir um raio solitário de luz! Em mim – tão desobediente, tão indigno, tão pecador, vivendo tão pouco em comunhão com Aquele que é o Pai das luzes! Pode ser que em mim esta glória seja revelada? Assim afirma a infalível Palavra de Deus. Se eu sou um filho da luz por estar “nele”, que é o resplendor da glória do Pai, mesmo que agora habite em meio a tons escuros do mundo, um dia irei ofuscar o brilho do firmamento. E quando o Senhor Jesus retornar a esta terra ele deve ser “admirável naquele dia em todos os que creem” (II Tes. 1:10).
Finalmente, o apóstolo aqui pesa o “sofrimento” do tempo presente em oposição a “glória”, que deverá ser revelada em nós, e como ele declarou que uma “não é digna de ser comparada” com a outra. Uma é transitória, outra é eterna. Como, então, não há proporção entre o finito e o infinito, não há comparação entre os sofrimentos da terra e a glória do céu. Um segundo de glória superarão uma vida de sofrimento. O que são os anos de labuta, de doença, de lutar com a pobreza, de tristeza em qualquer forma, quando comparados com a glória da terra de Emanuel! Beber do rio da vida na mão direita de Deus, uma respiração no paraíso, um instante em meio ao sangue lavado ao redor do trono, será mais do que compensador do que todas as lágrimas e gemidos da terra.  “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”.
Que o Espírito Santo permita que tanto o escritor quanto o leitor se agarrem a isso e apropriem-se com fé e vida na posse presente e gozo disso para o louvor da glória da graça divina.
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O fundamento da Igreja e a fé (Mauro Meister)

Em Mateus 16 temos a narrativa de um diálogo entre Jesus e seus discípulos durante um “retiro espiritual” que fizeram pelas “bandas de Cesaréia de Filipe” (v. 13). Afastado das multidões, das controvérsias com os fariseus e outros adversários, das tremendas demandas diárias que recebia de todos à volta, o Senhor chama aqueles que estavam mais próximos à reflexão, para lhes mostrar alguns dos fundamentos sobre os quais a “sua igreja” seria continuada e firmada na face da terra.
Com a excelência da pedagogia que sempre é evidente nos Evangelhos, nosso Senhor começa a sua lição sobre os fundamentos da Igreja com uma pergunta que vai levar a uma outra: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”.  Certamente, o simples invocar do nome “Filho do Homem” já faria com que os discípulos refletissem a respeito das mais diversas conversas e discussões acaloradas, tidas depois das leituras dos textos da Torá aos sábados na Sinagoga. Quem é o “Filho do Homem” segundo os Salmos ou o Daniel, ou mesmo na forma como a expressão é empregada para chamar o profeta Ezequiel?  Quem é esse a quem tanto esperamos, era a pergunta no ar?
A resposta estava pronta, mostrando que havia algumas principais correntes de interpretação entre os doutos, correntes essas que se espalhavam na opinião do povo: João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas… (v. 14). Mal sabia o povo que o Filho do Homem já andava entre eles a cerca de 30 anos, e pouquíssimos o reconheceram, dentre eles, alguns cegos, exatamente para mostrar que o real problema da humanidade não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual.
Continuando com a sua sutil e certeira pedagogia, Jesus faz, então, a pergunta que realmente interessa: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Observe que a associação é imediata: “o Filho do Homem” e quem “eu sou”.  Aqui está a primeira lição direta: Jesus é o Filho do Homem anunciado no Antigo Testamento.
Como é usual, Pedro sai na frente ao dar a resposta. É peculiar de Pedro adiantar-se em falar e agir. E a resposta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta é carregada de conceitos teológicos fundamentais que são trazidos pelos textos da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em resumo, Pedro faz uma associação teológica dizendo que o Filho do Homem é o mesmo Messias, que é o Cristo e que este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, afinal, era este homem que estava diante dos seus próprios olhos na região de Cesaréia de Filipe. A partir desta realidade, aprendemos alguns importantes princípios no diálogo que se desenvolve.
Princípio da Revelação
Na resposta do diálogo, Jesus mostra, então, o primeiro grande fundamento sobre o qual a sua igreja está firmada: a iluminação do Espírito Santo sobre a Revelação, ou como chamarei aqui, o Princípio da Revelação.  O Senhor Jesus diz que não foi carne ou sangue que fizeram Pedro reconhecer esta verdade revelada nas Escrituras e agora exposta diante de seus próprios olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma das fundamentais diferenças entre o cristianismo e outras religiões. A revelação que vem da parte de Deus e que corresponde à realidade dos fatos. Jesus é aquele que a Escritura diz que ele é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser. Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos aqui três ideias básicas. Primeiro, que a revelação passada se cumpre em Cristo, afinal, ele é o Messias prometido. Segundo, que a revelação presente, na encarnação do Filho do Deus vivo, é superior. Não no sentido de que a revelação anteriormente dada fosse imperfeita, mas agora, ela é completa e plena. Tudo o que Deus quis revelar, mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3; Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a iluminação individual é fundamental. O verso 17 nos ensina que Deus revelou a Pedro esta verdade. Os escribas, fariseus e todos os estudiosos da época tinham as mesmas fontes que Pedro tinha, mas foi Pedro quem conectou os pontos da revelação passada com a revelação presente diante dos seus olhos. Esta mesma verdade é viva hoje quando, pela iluminação do Espírito Santo, percebemos na Escritura a verdade de Deus. Crer na revelação da Palavra de Deus é uma bem-aventurança: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Sobre esta revelação é que a fé da Igreja deve ser fundamentada.
Princípio da Edificação
A resposta de Jesus a Pedro começou com uma troca de palavras: você disse que eu sou o Cristo, e eu digo, Simão Barjonas (Simão filho de Jonas), que você é pedra (o significado do apelido de Simão, Pedro). Jesus usa deste trocadilho para trazer à luz uma das mais importantes verdades a respeito da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (v. 18).
O catolicismo romano imediatamente interpretou o jogo de palavras, Pedro e pedra, como sendo a mesma palavra e nisto construiu a doutrina do papado, sendo Pedro o primeiro desta suposta sucessão. Mas há aí uma falácia. Quando Jesus diz “esta pedra”, não refere-se a Pedro, mas à verdade pronunciada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É sobre esta verdade que a Igreja irá subsistir, a obra do Filho de Deus. O próprio Pedro, refletindo sobre esta verdade, fala-nos em sua primeira epístola: “Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1Pe 2.6).
A grande lição aprendida aqui é que a Igreja de Jesus nunca poderá ser edificada sobre fundamentos humanos. Sempre que interferimos e nos colocamos no lugar do fundamento verdadeiro encontramos diante de nós uma igreja falsificada, trasvestida e irreconhecível como igreja de Cristo.
Princípio da Propriedade
Da mesma forma como a igreja não pode ter fundamentos lançados por homens, ela não pode ter homens como seus proprietários! No final do verso 18, o Senhor Jesus usa a expressão “minha igreja”. A igreja é dele, sua noiva, pela qual ele tem verdadeiro zelo e compromisso. Com base nesta verdade é que são feitas muitas promessas à Igreja e a respeito da Igreja, dentre elas, a de que vai ele apresentá-la sem mancha, ruga ou mácula.
O Senhor sabe que é necessário cumprir toda a sua obra pela Igreja, para que possa resgatá-la de forma completa. Por isto mostra aos seus discípulos:  “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Ele diz “minha igreja”  porque ele é o único dono dela, trabalhou até a morte para que pudesse comprá-la com seu sangue e ninguém mais pudesse clamar posse sobre ela e seus membros. A Igreja de Jesus não existiria como tal sem a sua morte e ressurreição, o que lhe dá completa posse dela.
Princípio da Autoridade
Por último, podemos perceber o princípio da autoridade de Cristo sobre a sua Igreja. Para demonstrar este princípio temos, em primeiro lugar, a afirmação desta autoridade: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18b). O conceito é, de certa forma, muito simples: o fato da Igreja ter a autoridade da revelação de Deus, ser a propriedade e a edificação de Cristo, não há nada neste mundo, nem o próprio inferno, que possa se colocar contra ela e vencer. Assim, a verdadeira Igreja de Cristo não tem o que temer; não há poderes que possam terminá-la, porque ela pertence a Cristo. Aliás, opor-se à obra de Cristo na Igreja é obra de Satanás e é por isto que Pedro é repreendido severamente ao opor-se, quando foi dito que era necessária a morte e ressureição do Senhor.
Por outro lado, a verdadeira Igreja trabalha como uma agência do céu aqui na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (v.19). Veja que o texto é muito claro em dizer que a ordem da ação de ligar e desligar começa no céu e é implementada na terra pela Igreja. Acredito que aqui temos o ensino claro, somado ao contexto de Mateus 18.15-18, onde aparece a mesma expressão, que a Igreja tem a obrigação de admitir e demitir aqueles que não cogitam das coisas de Deus. A Igreja tem a responsabilidade de abrir e fechar a porta para que as “portas do inferno” não operem dentro dela mesma. Logo, a Igreja na terra deve viver na busca de realizar a vontade soberana do Pai do céu.
E como, afinal, esta fé deve ser vivida aqui na terra?
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.  Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?  Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.  Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (16.24-28).
O que o texto nos mostra é que a vida de fé na igreja deve ser vivida em torno da cruz! É, com certeza, uma vida de negação dos padrões da individualidade egoísta para viver os padrões da vida do bem-aventurado. Da mesma forma como era necessário que o Senhor fosse a Jerusalém para passar pela cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a Jesus nos passos da ressurreição.
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Sobre o autor: Mauro Meister é graduado pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary e doutorado em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. É pastor da Igreja Presbiteriana Barra Funda, em São Paulo, presidente do Conselho de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana do Brasil e membro do Conselho Editorial da Cultura Cristã (Casa Editora Presbiteriana). Atua no campo da educação básica como Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI). É autor do livro “Lei e Graça” (2003) e de artigos na revista Fides Reformata, da qual é co-editor.
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“Também, nele, estais aperfeiçoados” (John Gill)

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2.10)

Também nEle estais aperfeiçoados, ou “completos”, ou “preenchidos” nEle; que é, estão perfeitos nEle: os Santos estão em Cristo, e toda completude nEle está, assim estão eles cheios também, de tanto quanto eles necessitam, e são capazes de conter: Estas palavras não são uma exortação à perfeição, como as contidas em Ge 17:1 Mt 5:48 2Co 13:11; mas são uma afirmação, ratificando, não o que os cristãos serão daí em diante, ou o que serão no céu, mas o que são agora; não neles mesmos, porque em si mesmo ninguém é perfeito, nem mesmo aqueles que estão verdadeiramente santificados; entretanto toda a graça está seminalmente implantada neles, e eles tem uma perfeição de partes, de todas as partes do novo homem, ou nova criatura, e são perfeitos em comparação com o que antes foram, assim como ante os profanos e os hipócritas, e e também ante os que fraquejam na fé, ainda que ninguém seja absolutamente perfeito; a boa obra da graça não está finalizada neles, o pecado habita neles, estão cheios de desejos e concupiscências; o melhor deles nega a perfeição como buscam alcançar, e expressa seu desejo de alcançá-la; mas eles são perfeitos em Cristo, seu cabeça, que tem toda completude nEle, em quem eles são eleitos e aperfeiçoados: eles são perfeitos e completos nEle quanto a santificação; Ele tem toda completude de graça e santidade para eles, eles a tem em Cristo; e Ele foi feito perfeito em santidade para eles: também quanto a justificação, Ele cumpriu perfeitamente a Lei para eles, Ele fez completa expiação pelo pecado, obteve redenção eterna, adquiriu uma completa e perfeita retidão, pela qual os santos são justificados de todas as coisas; são libertos do pecado, e feitos perfeitos, sem mancha ou mácula, ou coisa semelhante: e quanto ao conhecimento, embora imperfeito neles em seu presente estado, já em Cristo estão todos os tesouros de sabedoria, e não há necessidade de ir a lugar algum outro para encontrá-los; eles estão preenchidos com o conhecimento de Deus e de sua vontade, e são completos em Cristo; e o conhecimento que os santos tem, é a vida eterna, as primícias, o penhor, e a fiança dela; assim eles não tem razão de contemplar anjos ou homens, cabe-lhes olhar somente a Cristo.

John Gill (1697-1771)

(Fonte)

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