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A cruz e o Deus de esperança (T. Austin-Sparks)

Deus opera por meio da cruz

“Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.13)

“O Deus de esperança vos encha […] para que abundeis em esperança!”

Como você sabe, o apóstolo desenvolveu seu caminho até esse ponto ao longo de um argumento longo e detalhado. Ele seguiu o curso completo das coisas desde o primeiro pecado de Adão, traçando todas as suas consequências e seus desdobramentos, ao longo de todas as gerações, até Cristo; então, colocou no fim de tudo isso a cruz do Senhor Jesus. A partir desse ponto, abriu um panorama e um futuro totalmente novos. A cruz é o ponto terminal até o qual todas as coisas conduziram e a partir do qual tudo recebe uma nova ascensão. Seguindo toda essa história, explicação e ensino, o apóstolo chega à plenitude deste título abrangente: o Deus de esperança.

Conforme vemos a grande situação que é apresentada neste livro e no Novo Testamento, encontramo-nos diante de algo estranho, que parece um paradoxo. Trata-se disto: Deus escreveu por todo o curso da história o significado da cruz de tal forma que a única resposta que Ele pode dar ao pecado, ao mal, à desobediência, e a todos seus frutos e consequências, é tribulação, desespero e morte. E mesmo assim, não obstante, Ele é o Deus da Esperança. Ele está dizendo que tribulação, paixão, desespero e morte são o único meio de esperança. Isso está escrito em toda a história dos tratos de Deus com o homem. Desde o pecado de Adão, e da queda da raça (nele), Deus tem tido de trabalhar sobre a base da cruz de Cristo. A cruz está implícita em todos os tratos de Deus com o homem, e não apenas com o homem em geral, mas em particular com Seu próprio povo.

A cruz está implícita em todos os tratos de Deus com o homem.

A cruz significa sofrimento; é o próprio símbolo do sofrimento – nós sabemos disso. A cruz significa tribulação e angústia – nós sabemos disso. A cruz significa desespero. O grande clamor no final daquela provação foi o clamor de desespero: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” E a cruz é morte. Mas, com tudo isso, na intenção e no desejo de Deus, ela é para alegria, para pura gratidão; ela é para esperança, uma nova esperança; ela é para vida – todas as coisas que são exatamente o oposto do que a cruz parece dizer.

Deus é o Deus de esperança, mesmo quando você olha para o Calvário, e para tudo o que está acontecendo naquele lugar, e vê o Eleito ali, e ouve Seu amargo clamor. Se você entende isto, e se você olha para a história – o pecado de Adão, a queda, e tudo aquilo no que a raça foi envolvida a partir de então, toda a tragédia e a angústia e a paixão e o mal das gerações – e vê porque Deus, não apenas permitiu isso, mas teve de estabelecer esse regime, resultando em desespero – a resposta, estranho dizer, é: Ele é o Deus de esperança. Esse é Seu meio de esperança, e Seu único meio de esperança.

A cruz sempre foi o meio de salvação de Deus, a solução de Deus. É uma solução muito drástica, muito terrível, mas é a solução de Deus. E, se for uma solução efetiva, então, ela produz esperança; é algo com esperança – nova esperança – como seu resultado. A cruz não é um símbolo; a cruz não é um objeto. A cruz é um grande poder, um poder perpétuo; um decreto único na história, mas um poder operando por todas as eras – nós dissemos que ele está implícito na velha dispensação e explícito nesta dispensação. Do primeiro ao último pecado, a cruz é um poder operante.

Agora, existe uma coisa contra a qual a cruz se mantém: a saber, um estado que é diferente daquele que Deus planejou. Isso tem, claro, muitos aspectos. Vamos olhar apenas para um ou dois deles. Eles são perfeitamente claros na Bíblia.

A cruz contra um estado alterado

Primeiramente, a cruz se levanta contra a natureza das coisas quando essa natureza se torna diferente. Sempre que a natureza das coisas foi alterada daquilo como Deus fez no início, ou planejou que o fosse, Deus introduziu a cruz de alguma forma; imediatamente Ele apresentou a cruz. A natureza do homem foi alterada no princípio; ele se tornou algo diferente em natureza daquilo que Deus planejou. Todos nós sabemos disso por nossa herança. E imediatamente o Senhor introduziu a cruz na lei da tribulação, da paixão, da adversidade; Ele escreveu imediatamente acima desse estado: Desespero e Morte. A cruz se levantou contra esse estado alterado. A única esperança de recuperar o estado, a condição e a natureza das coisas divinamente planejados repousa na cruz.

A cruz é o grande agente purificador – e purificar significa simplesmente tornar-se livre de mistura. Quando há coisas que não se correspondem ou não se adéquam exatamente, que são de duas naturezas, de duas esferas – dois elementos conflitantes –; quando há impureza, adulteração, a cruz se levanta firmemente contra isso, a fim de purificar. A primeira coisa com respeito a Deus – seja no indivíduo, ou em alguma associação de Seu povo localmente ou na Igreja universal – é a pureza, a incorruptibilidade, a separação de toda iniquidade e de toda mistura. A vida cristã é baseada na cruz, individualmente, localmente e universalmente. A cruz vê a poderosa, terrível e eterna declaração de Deus contra a impureza – a contaminação e corrupção que veio para criar um estado, no homem e no mundo, que Ele nunca planejou.

A única forma de purificação é por tornar perfeitamente claro, em crua realidade, a desesperança, do ponto de vista de Deus, daquilo que não é puro. Quão verdadeiro isto é, de maneira geral, quando olhamos para o mundo: a desesperança de um estado de coisas impuro, maculado e misturado. O Deus de esperança exige, portanto, completa limpeza nessa esfera e a constituição de algo puro, algo limpo, algo não-misturado, imaculado. Se você olhar na Bíblia, com todo seu maravilhoso simbolismo do que é o pensamento de Deus, descobrirá que Seu pensamento é a transparência, a clareza do cristal. O fim da operação de Deus nessa criação, como vemos por fim no livro de Apocalipse, é uma pedra de jaspe – uma coisa pura, clara como cristal. E são a cruz e o sangue do Cordeiro que conduzem a isso.

Se, portanto, o Senhor enxergar algum estado que Ele nunca planejou que fosse, que contradiz Sua mente sobre o assunto, Ele introduzirá a cruz como um poder operante; e, onde aquilo for encontrado, começará a se manifestar uma situação. Nós descobrimos que chegamos a uma paralisação, que Deus não está avançando; estamos estressados; estamos atribulados; estamos angustiados; estamos em desespero; estamos morrendo. A cruz está operando dessa forma a fim de produzir uma situação cheia de esperança, cheia de expectativa. A lei é bastante clara.

A primeira coisa que vemos, então, é que qualquer estado que não esteja de acordo com a intenção de Deus deve ser limpo mediante a aplicação do excelente princípio da cruz. Não há esperança para nada que não seja puro ao olhos de Deus.

A cruz contra a diminuição das coisas divinas

A seguir, suponha que as coisas tenham se tornado menos do que aquilo que Deus planejou que fossem. Deus planejou algo pleno, grande, e as coisas se tornaram menores do que Ele planejou. E a história do cristianismo é a história dessa tendência – é mais do que uma tendência, é um trabalho real – de o homem reduzir Deus e as coisas de Deus a sua própria medida humana, trazer tudo de Deus e a próprio Deus para dentro do compasso do homem; é o homem reduzindo Deus a sua própria medida, tornando Deus menor do que Ele é e as coisas de Deus menores do que realmente são. Nós podemos ver como isso prosseguiu e está em todo o tempo prosseguindo, como uma tendência, como uma orientação, como alguma operação. E nós estamos sempre próximos do risco de as coisas se tornarem menores do que Deus planejou que fossem. Deus planejou algo muito excelente; e aqui há perda, ou o risco da perda, redução; as coisas se tornando menores, perdendo algo.

Sempre que o Senhor vê essa operação, ou esse risco, tornando-se muito real, Ele introduz a cruz, e a tribulação, o estresse e o sofrimento começam; tudo chega a uma esfera de incerteza e fraqueza e questionamento. Uma sensação de fracasso e desespero está desenhada – “Nós não vamos prosseguir, não vamos conseguir passar por isso!”. Deus planejou algo grande, e algo dessa grandeza se perdeu, ou falhou em seguir para essa grandeza; tornou-se algo menor do que Ele planejou. Ele não permitirá isso; Ele reage. E, oh!, que tremendas reações a história nos mostra relacionadas a isso.

Tome apenas o caso ilustrativo de Israel. Embora Israel fosse o povo escolhido, tomado de dentre as nações para Deus, Deus nunca, nunca planejou que Israel se tornasse algo em si mesmo. Ele nunca quis que Israel fosse o princípio e o fim de todo Seu trabalho. Ele planejou que Israel fosse uma “luz para os gentios”; que fosse um testemunho de Deus para todas as nações; que fosse um ministério, um instrumento missionário, para todos os povos, para todas as nações andarem na luz de Israel ou se achegarem à luz de Deus juntamente com os israelitas. Eles foram levantados, não para si mesmos como um fim, mas para o mundo todo, como nação apostólica de Deus, para evangelizar as nações com o conhecimento de Deus.

O que Israel veio a fazer? Desprezar as nações; chamá-las de “cães”, excluí-las e manter-se fechado para elas, em si mesmo, nada tendo a ver com elas; olhar para elas como coisas a serem desprezadas, serem rejeitadas, serem cortadas. “Nós somos o povo; tudo começa e termina conosco!” A nação se tornou algo menor do que Deus planejou que fosse, e não há esperança nessa direção. O fim da história é que Israel, enquanto mantiver essa mente, deve ser deixado de lado, ser quebrado, esmagado, levado ao desespero, à falta de esperança.

Existe uma ampla lição para nós aprendermos e sempre trazer à mente: tudo o que Deus deu para Israel, e tudo que Deus está desejando derramar sobre nós, não é para nós mesmos, não é para terminar em nós mesmos. Nem é para permitir que nos faça algo em nós mesmos, que “Nós somos o povo”. É uma confiança – uma confiança para todos os homens. O apóstolo Paulo reconheceu isso; e que tremenda coisa significou seu reconhecimento em seu próprio caso, quando se pensa nele como um típico israelita. Sua visão e seu ministério abrangeram “todos os homens” – “para que apresentemos todo homem – não todo judeu!, mas –, “todo homem perfeito em Jesus Cristo” (Cl 1.28). Ele é o homem que traz à tona a imensidão das coisas, não é? A imensidão de Cristo, a imensidão da Igreja. Se há alguma coisa sobre a Igreja que é tão evidente no Novo Testamento é sua grandeza. Quão grande é isso! Ela toma seu caráter e suas dimensões do Senhor Jesus. Qualquer um que tenha visto a grandeza de Cristo nunca poderá tolerar uma Igreja “pequena”, uma comunhão “pequena” – uma coisa pequena e exclusiva que é um fim em si mesma. Deve haver uma visão universal e um coração universal. Para alcançar isso, qualquer tendência a se tornar algo menor será encontrada pela cruz e, então, virá a falta de esperança, o desespero, a apreensão, uma sensação de falta de caminho, uma grande dose de sofrimento interior, dificuldade e perplexidade.

A cruz é o meio de salvação. Porém, é um meio doloroso.

A cruz é o meio de salvação: é o meio de salvação de algo ser menor do que Deus planejou. Porém, é um meio doloroso, é o caminho de tribulação. A cruz liberta de toda pequenez. O Senhor Jesus tornou isso claro em Suas próprias palavras: “Vim lançar fogo na terra […] Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como Me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12.49,50). “Como Me angustio!” Pelo batismo da cruz, da paixão, sendo cumprido, Ele é liberto de toda a Sua angústia. Isso não é um movimento nacional agora; isso não é limitado à Palestina ou a qualquer outro lugar. Ele é libertado, pela cruz, de toda pequenez do judaísmo, do israelitismo, do palestinianismo! Ele é libertado para o universal. Mas essa libertação é por um meio doloroso; é um quebrantar-se e um rasgar-se. Então, o Senhor sempre nos fará lembrar que Ele reage, e reage muito dolorosamente por nós, se algo que planejou para representar Sua grandeza e Sua plenitude se torna menos do que isso.

A cruz contra a sabedoria humana

Mais uma vez, quando algo se torna governado pela sabedoria humana, pela mente dos homens, quando é trazido para o cativeiro dos “escribas”, o Senhor sempre introduz a cruz contra isso. Você vê isso novamente em Israel. A cruz foi introduzida contra aquela situação em que os escribas e os governantes de Israel deram às coisas divinas sua própria interpretação humana, impondo sobre as coisas de Deus sua própria mente, criando esse grande e intolerável fardo ao qual Cristo se referiu: simplesmente a mente do homem imposta sobre as coisas divinas. E isso sempre significa cativeiro. O Senhor não permitirá isso. E, então, Ele reage novamente, e chega-se a um impasse. E qual é a natureza dessa nova crise? Absoluta desorientação; uma situação em que você não sabe o que fazer, para onde olhar, em que direção se mover, como resolver a situação. É completamente além da sabedoria humana. É um impasse de contradição, confusão e desespero. “O que podemos fazer? O que devemos fazer? Como resolver essa situação?” Você será derrotado a despeito de qualquer esforço que aplique.

O Senhor deve nos resgatar para fora de qualquer exploração meramente humana ou mental das coisas divinas e levar-nos para dentro da esfera da revelação divina. É uma coisa tremenda que Deus deve – essa esfera onde Ele é perfeitamente livre, se Ele quiser, para dar nova luz que pode parecer derrubar todas as nossas interpretações – todo o poder mental dos escribas e dos fariseus – derrubar a coisa toda.

Isso é o que você encontra no Novo Testamento, no livro de Atos. Aqui está Pedro, um representante de Israel; aqui está Paulo, um daqueles intérpretes da lei, que mantiveram todas as coisas dentro dos limites de seus próprios intelectos, e disseram, Nossa palavra é final! Nossa interpretação é a autoridade! Você deve se curvar diante dela! O que o Senhor está fazendo com homens como Pedro e Paulo, e outros neste livro? Ele os está levantando contra situações em que, se Deus não entrar agora com alguma nova luz e alguma nova revelação, eles ficam estagnados. Ele os levou juntamente para além de suas melhores tradições, suas mais fortes convicções, e a suas interpretações enraizadas, e os fez ver que a Bíblia significava mais do que eles, com todo seu aprendizado e conhecimento, perceberam que ela significava.

Sim, Levítico 11 mantém-se verdadeiro acerca de não se comer criaturas imundas e répteis. O Espírito Santo se contradiz quando ordena a Pedro: “Levanta-te, mata e come” (At 10.11-16)? De forma alguma. Levítico 11 tinha um significado que Pedro nunca havia visto. Ele se levanta contra algo que parece contradizer seu conhecimento da Escritura, mas em princípio não contradiz – simplesmente não contradiz. Alguém pode apenas dar um palpite em relação a isso. Nós amarramos a Palavra de Deus, e não deixamos Deus livre para alargar a revelação, para Ele que está querendo dar nova luz. E, se isso é um risco ou se chegamos ao ponto em que nossas interpretações estão amarrando e limitando, Ele introduzirá a cruz e nos levará a um ponto de total confusão, no qual, se Deus não fornecer alguma nova luz, estaremos acabados – nós não possuímos a sabedoria para a situação. O que Ele está fazendo? O Deus de esperança está se livrando de uma situação sem esperança. E é sempre sem esperança quando o homem é a última palavra em alguma coisa!

A cruz contra o legalismo

Por fim, quando as coisas se tornam um sistema legal, levando cativa qualquer coisa de Deus, Ele tem reagido com a cruz, e tem sido uma reação terrível, devastadora. A quebra do legalismo, da servidão à Lei, foi um negócio terrível, e sempre é. O Senhor não tolerará nada como tornar em uma tirania da lei Suas coisas do Espírito. Ele reagirá pela completa liberdade do Espírito em todas as coisas.

Então, nós vemos que a cruz se mantém entre um estado puro, não-adulterado, e uma condição misturada e, portanto, impura. A cruz se mantém entre a plena intenção de Deus e algo menor do que aquilo que Ele planejou. Sim, a cruz exige plenitude, não imperfeição, não algo menor, mesmo em grau. Se a cruz realmente é um poder operante em qualquer lugar, ela não permitirá paralisação. Ela sempre exigirá um prosseguir, e se manter sempre prosseguindo, porque ela abre o caminho para isso.

A cruz se mantém entre um conhecimento ou uma sabedoria sem vida e o conhecimento espiritual que é vida. Adão fez sua escolha, seu apelo pelo conhecimento, e ele o obteve sem vida. A árvore da vida foi guardada – ele teve conhecimento sem vida. Deus não tolera isso. Sabemos como mesmo o conhecimento religioso pode ser sem vida e morto! Isso pode ser verdade em relação a nós, que possuímos um monte conhecimento, mas onde está a vida mensurável? O Senhor é contrário a isso, e Ele diz: “Eu não posso continuar”. Nós temos algum problema em relação a isso; nós devemos ter alguma dor, alguma angústia em relação a isso: todo conhecimento deve possuir uma vida correspondente. O conhecimento deve ser vivo, deve ser associado com a vida. Você pode comer da “árvore do conhecimento” (eu me refiro àquela outra árvore do conhecimento, o conhecimento do Senhor, das coisas celestiais), mas, mesmo assim, você deve comer da “árvore da vida” para manter o equilíbrio. Conhecimento e vida se correspondem, andam juntos. O Senhor é contrário a qualquer estado diferente deste.

A cruz se mantém entre um conhecimento ou uma sabedoria sem vida e o conhecimento espiritual que é vida.

Novamente, formato, formato exato, formato perfeito, no ensino e na prática, sem poder, é algo que Deus não permitirá. Ensino e prática devem ser perfeitamente corretos: sim, mas e quanto ao poder? Israel possuía os oráculos, tinha a Lei, tinha a verdade, mas onde estava o poder espiritual? Não havia nenhum. A cruz agirá para corrigir isso. Não há nada a ser dito contra o procedimento “correto” e a acurada e sã doutrina; eles devem existir. Mas o Senhor garantirá que, ao manter as coisas avançando, em prática, em dores de parto, em dificuldade, toda a questão de poder se tornará bastante real. Temos tanto ensino, mas temos muito pouco poder – isso deve se tornar em angústia, uma verdadeira angústia. Tudo o que temos, e todo o nosso jeito de fazer as coisas que pensamos estar tão certo, de acordo com o Novo Testamento, deve possuir um poder e um impacto correspondentes. E, então, o Senhor não permitirá pausa nisso.

De todas as formas, Ele é o Deus de esperança: pela tribulação há esperança, pelo desespero há esperança. Esse é o Seu caminho, Seu modo de agir. Que Ele nos dê entendimento.

 

(Primeira publicação na revista A Witness and A Testimony, julho-agosto 1959, vol. 37-4)

 


 

(Traduzido por Erik Cabral de The Cross and the God of Hope, de T. Austin-Sparks. Revisado por Francisco Nunes. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)

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Gotas de orvalho (8)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Não é de todo estranho que, às vezes, Deus dê a Seus santos tamanho antegozo dos céus que lhes diminua a força física.

(Jonathan Edwards)

A maior parte das pessoas vive sem grande consciência de seu destino espiritual […] Daí toda essa falsa despreocupação, essa falsa satisfação em viver.

(Soren Kierkegaard)

Nada há que nos faça amar mais a uma pessoa que orar por ela. Quando você ora sinceramente por alguém, põe a alma em condições de realizar qualquer coisa que seja boa e amável para aquela pessoa. Coloque-se de joelhos diariamente em solene e premeditada execução dessa devoção. Ore por outros de tal forma, com tanta extensão, a todo tempo e com fervor como você faz por si mesmo, e verá como morrem as paixões más e o coração se torna grande e generoso.

(William Law)

A Bíblia é um grande livro, uma obra monumental. No transcurso de nossa vida, conseguimos tocar apenas uma pequena parte de suas riquezas. É impossível que uma pessoa a entenda se não dedica um tempo adequado a estudá-la. Os cristãos jovens devem laborar na Palavra de Deus para que, quando crescerem, possam receber a nutrição que ela proporciona e suprir outros com as riquezas que ela contém. Todo aquele que quer conhecer a Deus deve estudar Sua Palavra com seriedade; todos os crentes devem compreender a importância de ler a Bíblia desde o começo de sua vida cristã.

(Watchman Nee)

Quando alguém está passando por experiências muito perigosas e muito duras, nem a teologia, nem as teorias nem a filosofía o ajudam. Somente a realidade ajuda. E me sinto muito feliz de ter experimentado a realidade de saber que, quando se pertence a Jesus, pode acontecer o pior, mas o melhor permanece.

(Corrie Ten Boom)

Qualquer evangelho que não fale do pecado, do arrependimento, da cruz e da resurreição não é evangelho.

(John R. Mott)

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Gotas de orvalho (7)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Se eu acho que “Deus conhece meu coração” é um pensamento confortador e não um pensamento assustador é porque eu não conheço meu coração. Ele conhece Seu próprio coração.

(R. C. Sproul Jr.)

É, pois, uma verdade cristã ser o pecado ignorância, ignorância de sua própria natureza.

(Soren Kierkegaard)

Quando Deus começa a tratar com a velha natureza, Ele se dirige diretamente ao centro de todo aquilo que você retém com mais carinho. Deixe que Ele traga a cruz à própria medula do que você é. Não murmure nem se inquiete quando começar o processo: silêncio e paz serão mais valiosos do que estar desgostoso.

(Fénelon)

Quem não permite o trabalho de Deus em si mesmo não pode trabalhar para Deus.

(Watchman Nee)

A oração é o modo pelo qual a vida de Deus dentro de nós é nutrida.

(Oswald Chambers)

O conhecimento de Deus é evidenciado pela obediência a Sua Palavra.

(Matthew Henry)

Piedade se expressa em amor e temor reverente. Uma pessoa piedosa teme a Deus mais do que a própria morte.

(João Calvino)

O pecador está a tal ponto em poder do pecado que, não suspeitando seu alcance, nem sequer sabe que sua vida inteira está no caminho da perdição.

(Soren Kierkegaard)

Não há uma única alma que seja de fato Dele em cujo coração não haja esperança, pois ter Cristo em nós é ter em nós “a esperança da glória” (Cl 1.27).

(Watchman Nee)

Para a necessidade diária, há graça diária. Para a necessidade repentina, há graça repentina. Para a necessidade perturbadora, há a graça perturbadora.

(John Blanchard)

O coração do cristão caminha sobre rosas se está completamente sob a cruz.

(Martinho Lutero)

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Eu odeio pornografia (Eric Simmons)

Pornografia é um problema.

A pornografia é como uma droga, que seqüestra o cérebro, redefine a sexualidade humana e, enquanto faz isso, arruína vidas, destrói famílias e desestabiliza ministérios [cristãos]. E, sinceramente, é um problema que me cansa – canso-me da devastação que Satanás está causando a crianças, mulheres, famílias, pastores, igrejas, e ao mundo com esse mal trágico.

Pornografia se tornou um problema para mim quando eu tinha apenas seis anos e, pela graça de Deus, esse problema acabou quando Jesus me salvou, aos dezessete anos. Mas eu sei que isso raramente acontece de modo tão completo. Ela ainda é uma tentação, sim; a tentação abunda na cidade em que vivo e com o coração que eu tenho, mas a graça abunda ainda mais em Jesus Cristo.

Amigos, eu odeio pornografia. E aqui estão as razões.

Eu odeio pornografia porque é uma perversão do que Deus criou no homem e na mulher.

Odeio pornografia porque explora mulheres criadas à imagem de Deus e as faz uma imagem feita para a luxúria do homem.

Odeio pornografia porque faz das mulheres objetos, um produto de consumo em vez de uma gloriosa criatura que traz a imagem de Deus.

Odeio pornografia, porque eu amo as mulheres – em especial minha esposa e minhas três filhas.

Odeio pornografia porque ela rouba a experiência de satisfazer a alma do sexo com o cônjuge comprometido por meio de uma aliança e a transforma em uma experiência mirrada de sexo solitário de uma alma confusa.

Odeio pornografia porque transforma filhos e filhas de Deus em escravos do sexo.

Odeio pornografia porque ela transforma potenciais missionários em cristãos sem poder.

Odeio pornografia porque ela destrói casamentos, muitos antes mesmo de começar.

Odeio pornografia porque ela estende a adolescência e mantém homens como meninos.

Odeio pornografia porque ela mente aos homens sobre a beleza e os leva a buscar por uma estrela pornô em vez de por uma mulher que teme ao Senhor.

Odeio pornografia porque ela rouba homens e mulheres da plena alegria da obediência.

Odeio pornografia porque ela rompe a confiança entre marido e mulher.

Eu odeio pornografia porque é uma atividade diabólica e satânica que está sutilmente levando milhares e milhares para o inferno.

Odeio pornografia, pois ela leva a pastores desqualificados e a igrejas impotentes. (Pastor, se você é viciado em pornografia, você está desclassificado [para a função] e está matando sua igreja!)

Odeio pornografia porque suspeito que ela é a razão mais importante para não estarmos plantando mais igrejas nem enviando mais missionários.

Odeio pornografia porque desqualifica pregadores do evangelho que poderiam encher as igrejas vazias na minha cidade e de tantas outras.

Odeio pornografia por causa da decepção que os filhos têm de passar quando o pai lhes diz porque perderam o emprego ou a oportunidade de liderar na igreja.

Odeio pornografia porque ensina uma visão distorcida do sexo para as crianças antes que ele possa ser explicado por pais amorosos.

Odeio pornografia porque estou cansado de estar sentado em minha sala de estar com esposas soluçantes, confusas e devastadas e com maridos envergonhados, quebrados e condenados, que foram pegos [vendo pornografia].

Odeio pornografia, pois leva ao estupro, ao abuso sexual e à perversão que podem devastar as pessoas para o resto da vida.

Odeio pornografia porque transforma homens interiormente e sufoca sua ambição de santificar o nome de Deus.

Odeio pornografia porque ele diz que o pecado, Satanás e o mundo são mais satisfatórios do que nosso Deus triúno e Sua graça.

Odeio pornografia porque odeio culpa ímpia e condenação.

Eu odeio pornografia pelo medo que ela induz no coração dos pais em todos os lugares de que seu filho possa tropeçar por causa de uma olhadinha e ficar viciado.

 

Mas eu amo Jesus.

Eu amo Jesus porque Ele ama as pessoas com problemas com pornografia.

Eu amo Jesus porque Ele é poderoso para libertar corações escravizados à pornografia.

Aquele que não conheceu o vício da pornografia tornou-se o vício da pornografia para que o viciado em pornografia possa se tornar a justiça de Deus Nele.

Aquele que não tinha pecado se fez pecado por você para que você possa se tornar a justiça de Deus (2Coríntios 5.21).

Nessa frase brilhante, Paulo põe fim ao problema da pornografia.

 

Amigo [cristão], você não está mais em Adão, mas em Jesus. Jesus se tornou um substituto. Foi como se ele houvesse se tornado o viciado em pornografia, recebendo a justa condenação devido a nossa perversão, e você se tornou o filho justo ou a filha justa de Deus com todos os benefícios disso.

Amigo, em um ato de amor e justiça, na obra realizada por Jesus na cruz, mediante a fé Nele, agora você está limpo, santo e aceito, perdoado e livre. Deixe-me dizer isso novamente: livre!

Eu amo Jesus.

 

Artigos relacionados (em inglês)

 

Pornografia: a nova droga (John Piper)

Trazendo seu cérebro de volta da pornografia (John Piper)

Pornografia, orgulho e louvor (Heath Lambert)

 

 

(Traduzido por Francisco Nunes de I hate porn)

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Cristo Cruz Evangelho Martin Lloyd-Jones

Teologia do sangue (Martin Lloyd-Jones)

Há pessoas que odeiam aquilo que chamam de “teologia do sangue”. Mas não há teologia digna desse nome à parte do sangue derramado de Cristo. Nosso evangelho é um evangelho de sangue. Sangue é o fundamento. Sem ele, não há nada.

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O altar (a cruz) governa tudo (T. Austin-Sparks)

Em Ezequiel 43.13-27, temos o grande altar e seu serviço. Não vamos ler toda a seção, mas apenas seus primeiros versos: “E estas são as medidas do altar, em côvados (o côvado é um côvado e um palmo): e o fundo será de um côvado de altura, e um côvado de largura, e a sua borda em todo o seu contorno, de um palmo; e esta é a base do altar.” Então, são dadas mais informações sobre as medidas e o ministério. Todos entendemos que o altar no Antigo Testamento é sempre um tipo da Cruz. Esse altar é o lugar do holocausto, o que corresponde a Hebreus 10, onde o Senhor Jesus é comparado ao holocausto. Então, nesta manhã, vamos pensar sobre a centralidade e a universalidade da Cruz.

Vimos que toda a área do templo era quadrada. Se desenharmos linhas diagonais a partir de cada canto, elas se encontrarão no local onde o grande altar estava. O lugar central de toda a área era o altar. Você vai reconhecer que isso é diferente do tabernáculo no deserto. O átrio do tabernáculo não era quadrado, e o altar do holocausto ficava à direita da entrada, mas, nesse templo, o altar está no centro de um quadrado. É importante perceber isso. Todas as linhas se encontram no altar, e todas as linhas saem do altar. O lugar central de tudo é o altar.

O altar governava tudo. Governou tudo na casa, isto é, tudo o que estava de fato no templo era governado pelo altar. Governou tudo o que estava imediatamente ao redor da casa. Se você tivesse uma planta de toda a casa, com os diferentes caminhos e toda a área, você veria que todas as câmaras dos sacerdotes e os lugares onde as ofertas eram elaboradas estavam todos ao redor. Tudo estava reunido em volta da casa, mas tudo na casa e em toda a área era governado pelo altar.

E também todo o ministério da casa era governado pelo altar. Poderíamos dizer que não havia nenhum ministério que não fosse relacionado ao altar. Além disso, para além da casa, e para além da área imediata, mesmo fora de toda a terra, tudo era governado pelo altar. Podemos ver isso ao notar que o rio, que desceu por toda a terra, veio por meio do altar. Mas voltemo-nos para dentro da casa primeiro.

 

A cruz em seu lugar

Aqui temos uma verdade muito importante e vital. Quando a Cruz está em seu lugar, com sua medida plena, tudo vai estar em ordem, e a tudo o mais será dado seu significado e seu valor. Sinto não conseguir dizer com a força que deveria. Estamos muitas vezes preocupados com as coisas exteriores, com a ordem da Casa do Senhor, com o ministério da casa do Senhor, com as pessoas que estão relacionadas com a Casa do Senhor. Estamos sempre começando com o exterior. Estamos tentando estabelecer uma ordem para a Casa de Deus. Estamos tentando colocar as pessoas no lugar correto na Casa. Estamos muito preocupados com os ministros e os ministérios. Mas, se a Cruz está realmente em seu lugar, com suas dimensões totais, todas essas coisas podem cuidar de si mesmas. O povo estará certo se a Cruz estiver no lugar. Os ministérios serão vivos, se a Cruz estiver no lugar. A ordem da Casa estará certa se a Cruz estiver no lugar. Funciona desta maneira: se a cruz está bem no centro, na medida plena – e note que é um altar grande –, então, tudo o mais irá para seu lugar certo, numa relação viva.

Embora não seja dito aqui, penso ser correto concluir que esse altar era de bronze. O altar no tabernáculo era de bronze, o altar do templo de Salomão era de bronze, e acho que podemos assumir que este altar era também de bronze. Nós já encontramos o bronze. Vimos bronze no Homem à porta, e dissemos que com sua cana de medir Ele mediu tudo de acordo com o que Ele era (40.3). O bronze é tipo dos julgamentos justos de Deus. Esse grande altar representa a plenitude dos justos juízos de Deus. Esse altar de bronze é medido pelo Homem de bronze, de modo que o altar representa os pensamentos de Deus acerca do julgamento.

Nesse altar do holocausto, o homem injusto é completamente removido. Esse altar de bronze vê um homem produzir cinzas. As cinzas foram tiradas desse altar e despejadas no chão, ao lado do altar. Isso é um retrato da mente de Deus sobre o homem injusto, ou o homem natural. Ele é consumido no fogo do juízo de Deus, ele é reduzido a cinzas e é derramado no chão. Isso é a mente de Deus sobre o homem natural. Por outro lado, somente o homem justo pode ficar aqui, na presença deste altar. Claro, esses são os dois lados da pessoa e da obra do Senhor Jesus. Por um lado, Ele foi feito pecado por nós e, nessa qualidade, foi totalmente consumido e convertido em cinzas. Quando ele gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”, esse era o grito das cinzas! Ele tinha sido tornado em cinzas e derramado no chão.

Mas então há o outro lado da Cruz: “Ele não conheceu pecado” (2Co 5.21). Nele não havia injustiça e, portanto, ele pôde passar pelo altar, Ele pôde viver além do fogo! “Nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (Sl 16.10). Porque Nele não havia pecado, não poderia ser retido pela morte. Sua própria natureza poderia superar todos os juízos de Deus! Este é o significado do grande altar: um homem é levado a um fim, e outro Homem está em seu lugar. Tudo foi julgado no altar. Tudo é julgado na Cruz.

Fomos julgados na Cruz do Senhor Jesus, e em nós mesmos fomos levados a um fim. Tudo do natural foi julgado e levado a um fim na Cruz do Senhor Jesus. É uma coisa muito importante reconhecer isso. Perceba que isso faz qualquer coisa possível. É por isso que disse que, se a cruz está em seu lugar, tudo estará certo. A Casa estará certa, isto é, a Igreja estará certa. O ministério estará certo. A ordem estará certa. Você não terá de se esforçar para tentar produzir uma ordem certa. Ela espontaneamente virá da obra da Cruz.

Eu espero que você esteja escrevendo isso em sua mente. Você pode encontrar desordens na Casa de Deus. Você pode encontrar o homem natural na Casa de Deus. Você pode encontrar condições que sejam totalmente erradas na Casa de Deus. Como você vai lidar com isso? Você só pode tratar com essas coisas pelo princípio da Cruz. Você não pode lidar com as próprias pessoas, não pode lidar com as próprias coisas, mas, se você tão somente trouxer a Cruz àquela situação, terá resolvido todo o problema. Se tão-somente a Cruz tomar o lugar dela, todos os outros problemas serão resolvidos. É assim. Não começamos a partir do exterior. Não começamos com as pessoas, não começamos com a ordem da casa do Senhor, não começamos com o ministério: começamos com a cruz. E se tão-somente as pessoas virem a cruz, tudo o mais será endireitado. Tudo é julgado pela Cruz.

A Epístola aos Romanos é a mensagem da Cruz em sua plenitude. Nessa carta, você vê a grande medida da Cruz. Ali, a Cruz alcança todas as coisas. Ela traz toda a raça em Adão ao fim, e começa uma raça totalmente nova em Cristo ressuscitado! É muito impressionante que a primeira carta do Novo Testamento apresenta a Cruz em sua plena medida. Vocês todos sabem que a Epístola aos Romanos não foi a primeira carta escrita por Paulo, mas o Espírito Santo a colocou em primeiro lugar na disposição [dos livros]. Eu penso que o Espírito Santo tinha algo a fazer com o arranjo dos livros do Novo Testamento e, em Seu arranjo soberano deste livro, colocou o altar em sua plenitude logo no início. Bem, é claro, você tem de lembrar de tudo o que sabe sobre Romanos para ver isso.

Em 1Coríntios, a Cruz é aplicada ao homem natural e ao homem carnal dentro da Igreja. O homem natural e o carnal vieram para o lugar em que não tinham o direito de estar. Esse homem maligno se enfiou pela porta, e, por isso, o apóstolo traz Cristo crucificado sobre e contra o homem natural e o carnal. A Cruz em 1Coríntios tem relação com aquele homem, não fora da igreja, como em Romanos, mas dentro da Igreja.

A Segunda Epístola aos Coríntios estabelece a Cruz em relação ao ministério. Essa carta nos mostra que o ministério flui de um vaso quebrado e humilhado. Posso dizer apenas isso e deixar [para outro momento] a explicação completa.

Em Gálatas a Cruz é diminuída ao fazer do cristianismo outro sistema legalista e levar os cristãos à escravidão. Quão forte é o apóstolo nessa carta e ver como ele usa a Cruz. Ele usa a Cruz com vigor contra esse esforço de tornar o cristianismo um sistema legalista e levar os crentes de volta à escravidão.

Em Efésios, o trabalho da Cruz é colocar a Igreja em solo celestial. A Cruz em Efésios corta completamente a Igreja de toda a base terrena. Ela coloca a Igreja fora do tempo. Ela coloca a Igreja fora do mundo.

Em Filipenses, a Cruz é aplicada àquilo que corrompe a harmonia do povo do Senhor. Há uma dolorosa desarticulação dentro da Igreja. Há um ponto em que as coisas estão infelizes, e isso é causado por interesse pessoal e orgulho. Algumas pessoas não vão abandonar seu interesse pessoal. Algumas pessoas não vão deixar o orgulho. Elas foram ofendidas, e não vão perdoar. Assim, o apóstolo traz a Cruz contra essa discórdia e desarticulação, e ressalta que, se tão-somente a Cruz estiver naquelas vidas, tudo será corrigido.

A Epístola aos Colossenses mostra que a Cruz liberta de toda falsa espiritualidade. A Cruz coloca de lado tudo o que é mero misticismo e tudo o que faria Cristo menos do que Ele é.

Em seguida, há as cartas aos Tessalonicenses. Ali, a cruz é a força para o sofrimento, uma inspiração até a vinda do Senhor. Pode não haver muito, de fato, sendo dito sobre a Cruz nessas cartas, mas o princípio delas é o princípio da Cruz. As pessoas estavam sofrendo por amor a Cristo. Elas estavam sofrendo a perda de todas as coisas, e pensavam que o Senhor viria para libertá-las, e que Ele estava retardando Sua vinda. Assim, o apóstolo diz que os sofrimentos delas culminarão na vinda do Senhor e da glória. Os sofrimentos de sofrer com Cristo. Aqueles irmãos estavam sofrendo por amor a Cristo: é a comunhão na Cruz, mas os sofrimentos levam à glória. O Senhor está vindo, e então tudo vai estar certo. A Cruz tem uma mensagem muito real para os crentes em sofrimento.

E vamos apenas concluir isso com Hebreus.

Em Hebreus, a Cruz mostra como tudo é levado à plenitude e à finalidade. E tudo isso se relaciona com a Casa em seu interior. Ela toca a conduta. Ela toca o caráter. Ela toca a ordem. Ela toca o ministério. Se a cruz está em seu lugar, tudo vai ser eficaz.

Eu não lhes dei apenas alguns ensinamentos da Bíblia. A Cruz é a chave para tudo. Então, o que é verdadeiro para o interior é também verdadeiro para o exterior. É a cruz que afeta todos os aspectos de influência da Igreja. O rio vem pelo caminho da cruz, isto é, a influência que sai do santuário para toda a terra. É a cruz que dá eficácia ao ministério para o mundo todo. Então, os apóstolos pregaram por toda parte Cristo crucificado.

 

A Cruz é a defesa contra o mundo

E notemos outra coisa: o altar foi a grande defesa contra o inimigo. Em Esdras 3.3 lemos: “E firmaram o altar sobre as suas bases, porque o terror estava sobre eles, por causa dos povos das terras”. Porque o medo dos povos das terras estava sobre si, os israelitas colocaram o altar em seu lugar. A Cruz é uma grande defesa: a Cruz nos defende do mundo. O mundo é o grande inimigo da Igreja. O espírito do mundo sempre foi o grande inimigo da Igreja. Satanás sempre tentou trazer o mundo para dentro da Igreja e, assim, afundar a Igreja e seu ministério, destruir a influência da Igreja no mundo. É um movimento muito inteligente e sutil do inimigo para destruir a influência da Igreja no mundo: trazer o mundo para dentro da Igreja. Paulo disse: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14).

Um povo verdadeiramente crucificados nunca está em perigo no mundo. É somente quando a Cruz não fez sua obra que o mundo tem um lugar. O mundo não tem lugar em um homem ou em uma mulher crucificado, ou em um grupo de crentes crucificados. A Cruz é uma grande defesa contra o mundo. Se você quer manter o mundo fora, coloque a Cruz no lugar dela. Se a cruz está verdadeira e plenamente em seu lugar, então, tudo o mais estará em ordem. A Cruz é a grande defesa contra o mundo. A Cruz é a grande defesa contra os poderes do mal. A Cruz torna tudo seguro; torna tudo seguro para o Senhor.

O Senhor quer se comprometer. Ele quer se confiar a Seu povo, mas, se a cruz não está operando, o Senhor não pode fazê-lo. O Senhor diz: “Não é seguro para Mim dar-me, ou eu estarei envolvido em sua condição não-crucificada.” A Cruz torna tudo seguro para o Senhor, e a Cruz faz tudo seguro para a Igreja. Se a Cruz está operando em todos nós, podemos confiar uns nos outros. É bastante seguro confiar-se a um homem ou a uma mulher crucificado.

Concluo essa manhã enfatizando que a Cruz não é uma doutrina a ser ensinada. Não é um assunto a ser pregado. É claro que deve ser ensinada pregada. Mas, em primeiro lugar, não é um assunto a ser ensinado. Não é apenas uma doutrina. A Cruz é poder. A Cruz é uma experiência. A Cruz é um evento em nossa vida. A Cruz é uma crise. A Cruz é uma revolução. A Cruz é um terremoto. Houve um terremoto quando Jesus foi crucificado. Se a Cruz entra em nossa vida, haverá um terremoto. Tudo vai ser abalado, tudo vai ser derrubado. A Cruz é um terremoto. É algo tremendo. A Cruz não é apenas uma teoria, não apenas uma doutrina: a Cruz governa tudo. Bem, essa é nossa mensagem sobre a centralidade e a universalidade da cruz.

O Senhor conceda que sejamos homens e mulheres crucificados. Que a assembléia à qual pertencemos seja uma assembléia crucificada. Que o Senhor conceda a toda a Sua Igreja ver o significado da Cruz.

___

(Traduzido por Francisco Nunes do livreto The Altar (the Cross) Governs Everything, capítulo de The Persistent Purpose of God (O persistente propósito de Deus), por Emmanuel Church, Tulsa, OK, EUA, 1996. Editado de uma mensagem dada em Taiwan, em janeiro de 1957.)

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Biografia T. Austin-Sparks Testemunho

Uma consideração sobre T. Austin-Sparks (Harry Foster)

Publicado pela primeira vez na revista A Witness and A Testimony, jul/ago de 1971, vol. 49-4.

 

Depois de quarenta anos de associação ativa com o irmão Austin-Sparks nas coisas de Deus, coube a mim liderar o laudatório culto funeral em 19 de abril de 1971, quando um grande número de irmãos se reuniu em Honor Oak1 para magnificar ao Senhor pela vida longa e serviço frutífero de nosso irmão. Durante a maior parte desses anos, fui um colaborador de A Witness and A Testimony; assim, aceitei com gratidão a oportunidade de escrever uma pequena consideração sobre nosso irmão e seu trabalho para Deus.

Aqueles que estão familiarizados com seus livros vão lembrar que um deles é intitulado The School of Christ (A Escola de Cristo, disponível gratuitamente aqui). O próprio título sugere sua concepção do que a vida cristã é, pois ele ensinou que o principal propósito de Deus para todos nós é direcionado para a eternidade e direcionado para nos conformar à imagem de Seu Filho. O irmão Sparks foi capaz de ajudar muitos discípulos na escola de Cristo, pois, ao longo de seus muitos anos de serviço, ele estava pronto para assumir o lugar do aluno bem como do professor.

Seu discipulado começou quando, com dezessete anos, ele andava desanimado por uma rua de Glasgow, em uma tarde de domingo, e parou para ouvir alguns jovens testemunhando ao ar livre. Naquela mesma noite, ele entregou a vida ao Salvador, e no domingo seguinte encontrou-se com os mesmos ávidos jovens cristãos em sua reunião ao ar livre. Ele continuou com eles e, em pouco tempo, abriu a boca para falar algumas palavras simples de testemunho, entrando, assim, em uma vida de pregação do Evangelho que durou 65 anos.

Aqueles anos foram preenchidos com muitas atividades para Deus, mas a pregação era seu maior dom e sua maior alegria. Ele lia avidamente em seu desejo de compreensão espiritual e, acima de tudo, estudava a Bíblia, sempre em uma busca ansiosa pelos tesouros novos e antigos que podem ser encontrados lá por aqueles que são instruídos no reino dos céus. Uma de suas primeiras escolhas para o hinário suplementar que ele preparou para o uso no Honor Oak Christian Fellowship Centre foi o hino que tem como refrão o famoso lembrete do pastor John Robinson aos peregrinos do Mayflower: que “o Senhor ainda tem mais luz e verdade para irromper de Sua Palavra”2. Quantas vezes cantamos essas palavras inspiradoras no início de uma conferência em Honor Oak! E quantas vezes elas provaram ser verdadeiras aos ouvintes que as apreciavam!

O irmão Sparks sempre atribuiu grande importância à “revelação”, não se referindo ao desvendamento original de verdade pelos escritores inspirados das Escrituras, mas à iluminação e percepção dada pelo Espírito sobre o que a Palavra realmente ensina. Por essa razão, a maioria de seus livros, e quase todos os artigos publicados nesta revista, eram transcrições de mensagens faladas que haviam sido dadas com algum sentimento real de capacitação divina: pareciam-lhe ser mais aptas a ter um impacto espiritual se viessem não só do estudo, mas também do envolvimento em alguma situação prática. Provavelmente, sua maior utilidade foi quando ele estava falando de suas próprias experiências, tirando lições do que havia aprendido, não só do estudo, mas do que tinha acontecido com ele na escola de Cristo, onde o Pai trata Seus filhos com aquela correção, ou treinamento de filhos, pela qual somente pode prepará-los para a verdadeira filiação de acordo com o padrão do Filho perfeito. Ele foi muitas vezes capaz de interpretar para as pessoas o significado do que elas vinham atravessando, mostrando-lhes a importância e o propósito dos tratamentos, do lidar de Deus com eles.

Especialmente em seus primeiros anos, o irmão Sparks costumava dar grande ênfase sobre a necessidade da aplicação interior da Cruz na vida do crente. Ele pregou um evangelho da plena salvação pela fé simples no sacrifício de Cristo, mas ele ressaltou adicionalmente que o homem que conhece a purificação pelo sangue de Jesus deve também permitir que a mesma cruz trabalhe nas profundezas de sua alma, a fim de libertá-lo de si mesmo e levá-lo para um caminhar menos carnal e mais espiritual com Deus. Ele próprio havia passado por uma crise de auto-ruína por sua aceitação do veredito da Cruz sobre sua velha natureza, e viu nessa crise a introdução a um desfrute completamente novo da vida de Cristo, tão grande que ele só conseguia descrevê-lo como “um céu aberto”. Na igreja, a vida de pessoas entre as quais ministrava, ele também viu uma transformação impressionante produzida por essa mensagem da Cruz para o crente. Não é de admirar, portanto, que ele tenha aproveitado cada oportunidade de afirmar que não há outro caminho para a experiência plena da vontade de Deus a não ser pela união com Cristo em Sua morte. Repetidamente ele voltava ao ensino de Romanos 6, não apenas como um tópico favorito, mas com a convicção de que tal união era o meio seguro de conhecer o poder da ressurreição de Cristo.

A Cruz é sempre dolorosa; assim, podemos compreender que o irmão Sparks freqüentemente considerou os tratos de Deus com ele difíceis de suportar. Até 1950, ele era seguidamente prostrado com dor e incapaz de continuar seu trabalho; no entanto, vez após vez ele foi erguido [ressuscitado]3, às vezes literalmente do leito de doença, e ninguém podia deixar de reconhecer o impacto espiritual adicional que veio de tal situação. Nós oramos muito por ele durante esses anos, mas sem alívio duradouro, até que ele pôde ter o tratamento cirúrgico, que provou ser um meio da graça de Deus para responder a nossas orações, a fim de que, a partir de então, ele tivesse mais vinte anos de atividade em muitos países, e até sua última doença foi um exemplo notável de como a vida divina pode energizar o corpo mortal.

Por várias razões, padeceu de muitos outros sofrimentos, mas isso era coerente com seu próprio ensino de que, na Escola de Cristo, a pessoa aprende mais pelo sofrimento do que pelo estudo ou por ouvir mensagens. Se, no entanto, a Cruz envolve sofrimento, é também o segredo da graça abundante, como ele certamente provou. Seu último lema anual, elaborado para 1971, foi dedicado ao tema da suficiência da graça de Deus. Em novembro, ele escreveu um editorial nesta revista, registrando o fato de que, para ele, 1970 tinha sido um ano de pressão e dificuldade incomuns. Talvez como um espectador, pode-me ser permitido comentar que, aos olhos daqueles mais próximo a ele, também foi um ano de nova e mais plena evidência da graça de Deus, e que, de minha parte, me foram deixadas abençoadas lembranças de comunhão em conversa e oração que nunca teria sido possível entre nós sem o triunfo da graça divina. A Deus seja a glória!

A Cruz não é apenas dolorosa, é unificadora. O irmão Sparks cria e pregava que, por meio dela, o crente não é apenas levado a um mais amplo gozo pessoal da vida de ressurreição, mas também a uma verdadeira integração na comunhão da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Ele nunca poderia pensar em si mesmo como um cristão isolado, nem nas assembléias como grupos isolados, mas tentou manter diante de si o propósito divino da redenção, que é a incorporação de todos os crentes numa membresia vital de um só corpo. Tem acontecido algumas vezes que cristãos muito ansiosos para expressar essa unidade têm, no entanto, contradito o espírito dela por traírem-na em uma atitude de superioridade em relação aos outros cristãos, assim se permitindo estar erradamente divididos de seus companheiros em Cristo. Nós aqui tivemos de confessar nossas próprias falhas a esse respeito, percebendo que nossa própria ânsia de ser fiel à revelação bíblica do que a Igreja deveria ser pode ter produzido intencionalmente uma espécie de separação entre o povo de Deus. Se o irmão Sparks, por vezes, tendeu nessa direção, ele certamente se moveu cada vez mais para longe disso conforme se aproximava da eternidade, aumentando progressivamente seu cuidado de mostrar uma apreciação adequada por todos os verdadeiros crentes, independentemente da conexão deles.

Ele deve ter sido tentado, por vezes, a afastar-se da comunhão prática com a igreja aqui em Honor Oak, pois talvez nós o limitássemos e, ocasionalmente, o irritávamos, mas Deus lhe deu a graça de nunca sucumbir a essa compreensível tentação. Ele ficou conosco até o final, mantendo o vínculo de comunhão intacto, mostrando um interesse amoroso pela próxima geração e participando conosco em adoração e oração, enquanto tinha condições físicas. Devemos muito a suas orações para nós, e ele apreciava profundamente o apoio em oração que pudemos lhe dar, especialmente nas conferências que ministrou em muitos lugares. Suas últimas mensagens à igreja, que me foram confiadas em seu leito, foram de grande gratidão por nossas orações. Nos últimos dias de grande fraqueza, quando muitas vezes ele parecia incapaz de lidar com qualquer tipo de comunicação, ele nunca deixou de dar um sussurrado “Amém” quando orações eram feitas, mostrando que, enquanto tudo o mais estava se tornando cada vez mais irreal, ele ainda poderia responder à grande realidade da oração “no Nome”.

Na verdade, a oração tinha sido sua vida, mais do que a pregação. Nesse assunto, ele estabeleceu um fundamento para o trabalho e estabeleceu um padrão que, pela graça de Deus, vamos procurar manter. Enquanto ainda era pastor da igreja batista local, ele costumava viajar toda terça-feira a fim de passar a hora do almoço orando com seus dois colegas, George Paterson e George Taylor, que trabalhavam secularmente na cidade naquela época. Após a igreja haver se mudado para as atuais instalações em 1926, primeiro Paterson e, em seguida, o Taylor renunciaram a seus cargos, a fim de serem totalmente livres para o trabalho espiritual, o que deixou ainda mais oportunidades para a oração unida, que se tornou uma característica proeminente tanto na vida da igreja como também na vizinha Guest House4.

Para o irmão Sparks, a oração tinha muitos aspectos, como é demonstrado por seu livro In Touch with the Throne (Em contato com o trono; disponível gratuitamente aqui). Ele nos deu o exemplo da oração que é adoração, não pedindo ou intercedendo, mas apenas oferecendo a Deus a adoração e o amor que Lhe são devidos. Frisou constantemente a importância do que chamou de “oração executiva”, que significava não apenas um pensamento anelante com o carimbo de “Amém” no final, mas a reivindicação ousada das promessas de Deus em nome do Senhor. Ele introduziu muitos de nós na realidade da “batalha de oração”, pois sabia que, só por chegar ao confronto com os inimigos invisíveis da vontade de Deus, é que a Igreja pode aplicar a vitória de Cristo a situações reais. Porque a oração é uma batalha, às vezes ele ficava muito triste quando nossas reuniões de oração tendiam a enfraquecer, mas ele nos reunia de novo para a luta e estava sempre pronto para se alegrar quando parecíamos romper na vitória da fé e estar “em contato com o trono”.

Talvez um de seus primeiros livros possa melhor nos dar uma indicação real para toda a sua vida e ministério. Ele é chamadoThe Centrality and Supremacy of the Lord Jesus Christ (A centralidade e a supremacia do Senhor Jesus Cristo). Foi aí onde ele começou, e foi aí onde ele terminou, pois se tornou perceptível em seus anos finais que perdeu o interesse em assuntos e concentrou sua atenção na pessoa de Cristo. Cristo é central! Nenhum de nós vai alegar ter estado sempre “no centro”, e ele certamente não faz tal afirmação, mas era o objetivo de sua vida e o alvo de toda a sua pregação e ensino reconhecer aquela centralidade e reverenciar [e submeter-se à]5 aquela supremacia. Em seu funeral, havia centenas que responderam plenamente à sugestão de que o irmão Sparks os tinha ajudado a conhecer Cristo de forma mais plena e mais satisfatória. Se alguém pode fazer homens perceberem algo mais do valor e da maravilha de Cristo, de modo que O amem mais e O sirvam melhor, então, tal pessoa não viveu em vão. Muitos no mundo inteiro podem dizer sinceramente que, por meio das palavras escritas ou faladas de “T. A-S.” [ou TAS], foi isso que lhes aconteceu e, especialmente com aqueles que vieram à fé em Cristo como Salvador graças a seu ministério, serão sua alegria no dia de Jesus Cristo. Além disso, algumas das verdades, que não eram de forma alguma aceitas quando proclamou-as anos atrás, já se tornaram amplamente aceitas entre os cristãos evangélicos. Por isso, é possível que, no longo prazo, seu ministério possa provar ter sido mais frutífero do que pareceu para ele ou para outros. É função do mordomo ser fiel, e isso ele buscou ser: apenas o Mestre é competente para julgar seu sucesso.

A primeira mensagem que eu o ouvi dar, em 1924, foi um apelo aos presentes para se apressarem em direção ao alvo para o prêmio, e concluiu com uma referência à entrada abundante no reino eterno que é prometida em 2Pedro 1:11. Agora, depois de mais de 47 anos de alegrias e provações por viver para Cristo, ele terminou sua carreira, e nós confiamos que sua entrada tenha sido de fato rica e abundante. Embora ele tenha ido embora, sua mensagem ainda traz o desafio para nós, que fomos deixados para trás, e, embora seus lábios estejam agora em silêncio, suas orações por nós ainda serão respondidas.

Parece algo significativo o fato de que ele foi para estar com Cristo imediatamente após o feriado da Páscoa, pois o culto de encerramento de nossas Conferências de Segunda-feira da Páscoa sempre foram um destaque, como muitos dos que estavam presentes concordarão. O irmão Sparks poderia dar mensagens longas, e muitas vezes o fez, mas sua mensagem de encerramento na ocasião era invariavelmente breve e direta ao ponto. O ponto era freqüentemente a Segunda Vinda de Cristo, e, à medida que nos reuníamos em grande número ao redor da mesa do Senhor e concluíamos com uma música triunfante sobre “A esperança da vinda do Senhor”, realmente o céu desceu e a glória encheu nossa alma. Naquela segunda-feira de Páscoa não houve essa reunião, mas na manhã seguinte cedo, nosso irmão passou tranquilamente para a presença de Cristo, a fim de aguardar ali o momento em que a esperança se tornará uma realidade gloriosa e vamos todos juntos encontrar o Senhor “nos ares”.

A voz do irmão Sparks não é mais ouvida entre nós, mas no culto de sepultamento a voz de seu Senhor e a nossa pareciam soar pelas salas, gritando: “Certamente, venho sem demora!” Como um só homem, toda a multidão respondeu: “Vem, Senhor Jesus.” Nesse ambiente, nós saímos para a luz do sol a fim de colocar o corpo de nosso irmão para descansar e cantar triunfantemente em torno de seu túmulo aberto: “Um dia Ele virá. Oh, glorioso dia!”

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(Traduzido por Francisco Nunes de An Appreciation of T Austin-Sparks by Harry Foster, original aqui. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário.)

1The Honor Oak Christian Fellowship & Conference Centre, geralmente chamado de Christian Fellowship Centre ou Honor Oak, era uma construção para conferências cristãs e treinamento localizada na rodovia Honor Oak, na região sudeste de Londres. O centro foi a base para o ministério de seu fundador, o evangelista e escritor britânico T. Austin-Sparks, que havia sido anteriormente o ministro da igreja batista Honor Oak, de 1921 a 1926. Mais informações aqui. (N.T.)

2Este é o refrão do hino We limit not the truth of God (Não limitemos a verdade de Deus), letra de George Rawson. A letra completa e a melodia estão aqui.

3Raised up, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

4Local de hospedagem junto ao Honor Oak. (N.T.)

5Bow, no original, permite ambas traduções. (N.T.)

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Carta de amor a uma lésbica (Jackie Hill)

Jackie Hill

Querida ______,

Apenas quero que você saiba que eu entendo.

Entendo como é estar apaixonada por uma mulher. Querer nada mais do que estar com ela para sempre. Sentindo como se o universo tivesse pregado uma peça sem graça em seu coração ao permitir que você caísse nas mãos de uma criatura que se parece exatamente como você.

Eu também era lésbica. Tinha atração pelo mesmo sexo desde os cinco anos de idade. À medida que eu crescia, esses sentimentos nunca diminuiram. Apenas cresceram. Eu me via tendo quedas pelas minhas melhores amigas, mas tinha muita vergonha para admitir para elas – e muito menos para mim.

Aos 17 anos finalmente tomei a decisão de ir atrás desses desejos. Envolvi-me em um relacionamento com uma jovem que se tornou a minha “primeira”. Na primeira vez que nos beijamos pareceu extremamente natural, como se esse sentimento fosse tudo que eu sempre quis. Depois dela veio outra mulher, e depois outra. Ambos os relacionamentos foram bastante sérios, cada um levou mais de um ano. Curti esses relacionamentos e amei muito essas mulheres. E cheguei ao ponto de desejar renunciar a tudo, inclusive a minha alma, para desfrutar do amor delas na terra.

Em Outubro de 2008, aos 19 anos, minha superficial realidade foi sacudida por um amor mais profundo – um vindo de fora, um sobre o qual eu já tinha escutado antes, mas nunca tinha experimentado. Pela primeira vez, estava convencida do meu pecado de uma maneira que me fez considerar tudo aquilo que eu amava (idolatrava), e suas consequências. Olhei para a minha vida e vi que eu havia estado apaixonada por tudo, exceto por Deus, e que essas decisões iriam, em última instância, ser a minha morte, eternamente. Meus olhos foram abertos, e comecei a acreditar em tudo o que Deus diz em sua palavra. Comecei a crer que aquilo que ele fala sobre pecado, morte e inferno era completamente verdadeiro.

E surpreendentemente, ao mesmo tempo em que a penalidade pelo meu pecado se tornava verdadeira para mim, assim foi com a preciosidade da cruz. Uma visão do Filho de Deus crucificado, suportando a ira que eu merecia, e uma tumba vazia mostrando o poder dele sobre a morte – todas as coisas que antes eu tinha ouvido sem nenhum interesse se tornaram a mais gloriosa revelação de um amor tangível.

Depois de perceber tudo o que eu teria que abrir mão, eu disse a Deus: “Não posso deixar essas coisas e pessoas pelas minhas próprias forças. Eu as amo demais. Mas eu sei que você é bom e forte o suficiente para me ajudar”.

Agora, com 23 anos, posso dizer com toda a honestidade que Deus fez exatamente isso. Ele me ajudou a amá-lo mais do que qualquer outra coisa.

Mas por que estou te contando isso? Eu te dei um vislumbre da minha história porque quero que você entenda que eu entendo. Mas também quero que você saiba que eu também entendo como é estar apaixonada pelo Criador do universo. Querer nada mais do que estar com ele para sempre. Sentir sua graça, a melhor notícia já anunciada para a humanidade. Ver seu perdão, ao ponto dele pegar um coração tão perverso em suas mãos de misericórdia.

Mas com isso em mente, estamos em uma cultura em que histórias como a minha parecem impossíveis ou hilárias, dependendo de quem está ouvindo. A homosexualidade está em todo lugar – da música à TV, até mesmos nos esportes. Se você acreditar em tudo o que a sociedade tem a dizer sobre homosexualidade, você chegaria à conclusão de que é completamente normal, de certa forma até mesmo admirável. Mas isso está longe da verdade. Deus nos diz que a homosexualidade é pecaminosa, abominável e antinatural (Levítico 18.22, 20.13; Romanos 1.18-32, 1 Coríntios 6.9-11; 1 Timóteo 1.8-10). Mas se tivermos que ser honestos, às vezes a atração homosexual pode parecer natural para mim.

Não acho que estou exagerando ao dizer que esse talvez seja seu dilema também. Você vê o que Deus diz sobre homosexualidade, mas o seu coração não pronuncia os mesmos sentimentos. A palavra de Deus diz que é pecaminoso; seu coração diz que se sente bem. A palavra de Deus diz que é abominável; seu coração diz que é agradável. A palavra de Deus diz que é antinatural; seu coração diz que é totalmente normal. Você percebe que há uma clara divisória entre aquilo que a palavra de Deus diz e o que o seu coração sente?

Então em qual voz você deve acreditar?

Houve um tempo em minha caminhada com Cristo onde experimentei muitas tentações para voltar ao lesbianismo. Essas tentações me fizeram duvidar da palavra de Deus. Minhas tentações e desejos começaram a se tornar mais reais do que a verdade da Bíblia. Enquanto eu orava e meditava nessas coisas, Deus colocou essa impressão no meu coração: “Jackie, você precisa crer que minha palavra é verdade mesmo quando ela contradiz a maneira como você se sente”. Uau! É isso! Ou eu creio na palavra dele ou creio em meus próprios sentimentos. Ou olho para ele para encontrar o prazer que minha alma anseia ou busco o prazer em coisas menores. Ou ando em obediência àquilo que ele falou ou rejeito a verdade dele como se fosse uma mentira.

A luta com a homosexualidade é uma batalha de fé. Deus é minha alegria? Ele é bom o suficiente? Ou ainda estou olhando para cisternas rachadas para matar a sede que somente ele pode satisfazer? Essa é a batalha. Essa é a batalha para mim, e para você.

A escolha é sua, minha amiga. Oro para que você coloque sua fé em Cristo e fuja das mentiras da nossa sociedade que coincidem com as vozes do seu coração – um coração que a Escritura diz que é corrupto e enganoso (Jeremias 17.9). Ao invés disso, corra para Jesus.

Você foi feita para ele (Romanos 11.36). Ele é, em última análise, tudo o que você precisa! Ele é bom e sábio (Salmos 145.9). Ele é a fonte de todo conforto (2 Coríntios 1.3). Ele é gentil e paciente (2 Pedro 3.9). Ele é reto e fiel (Salmos 33.4). Ele é santo e justo (1 João 1.9). Ele é o nosso verdadeiro Rei (Salmos 47.7). Ele é o nosso Salvador (Judas 1.25). E ele está te convidando para ser não apenas serva dele, mas também sua amiga. Se amor eterno é o que você está procurando em algum outro lugar, você está perseguindo o vento, procurando o que você nunca irá encontrar, lentamente sendo destruida pela sua busca.

Mas em Jesus, há plenitude de alegria. Em Jesus, há um relacionamento que vale tudo, porque ele é tudo. Corra para ele.

Traduzido por Alex Daher | iPródigo.com | Original aqui

 

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O fundamento da Igreja e a fé (Mauro Meister)

Em Mateus 16 temos a narrativa de um diálogo entre Jesus e seus discípulos durante um “retiro espiritual” que fizeram pelas “bandas de Cesaréia de Filipe” (v. 13). Afastado das multidões, das controvérsias com os fariseus e outros adversários, das tremendas demandas diárias que recebia de todos à volta, o Senhor chama aqueles que estavam mais próximos à reflexão, para lhes mostrar alguns dos fundamentos sobre os quais a “sua igreja” seria continuada e firmada na face da terra.
Com a excelência da pedagogia que sempre é evidente nos Evangelhos, nosso Senhor começa a sua lição sobre os fundamentos da Igreja com uma pergunta que vai levar a uma outra: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”.  Certamente, o simples invocar do nome “Filho do Homem” já faria com que os discípulos refletissem a respeito das mais diversas conversas e discussões acaloradas, tidas depois das leituras dos textos da Torá aos sábados na Sinagoga. Quem é o “Filho do Homem” segundo os Salmos ou o Daniel, ou mesmo na forma como a expressão é empregada para chamar o profeta Ezequiel?  Quem é esse a quem tanto esperamos, era a pergunta no ar?
A resposta estava pronta, mostrando que havia algumas principais correntes de interpretação entre os doutos, correntes essas que se espalhavam na opinião do povo: João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas… (v. 14). Mal sabia o povo que o Filho do Homem já andava entre eles a cerca de 30 anos, e pouquíssimos o reconheceram, dentre eles, alguns cegos, exatamente para mostrar que o real problema da humanidade não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual.
Continuando com a sua sutil e certeira pedagogia, Jesus faz, então, a pergunta que realmente interessa: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Observe que a associação é imediata: “o Filho do Homem” e quem “eu sou”.  Aqui está a primeira lição direta: Jesus é o Filho do Homem anunciado no Antigo Testamento.
Como é usual, Pedro sai na frente ao dar a resposta. É peculiar de Pedro adiantar-se em falar e agir. E a resposta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta é carregada de conceitos teológicos fundamentais que são trazidos pelos textos da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em resumo, Pedro faz uma associação teológica dizendo que o Filho do Homem é o mesmo Messias, que é o Cristo e que este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, afinal, era este homem que estava diante dos seus próprios olhos na região de Cesaréia de Filipe. A partir desta realidade, aprendemos alguns importantes princípios no diálogo que se desenvolve.
Princípio da Revelação
Na resposta do diálogo, Jesus mostra, então, o primeiro grande fundamento sobre o qual a sua igreja está firmada: a iluminação do Espírito Santo sobre a Revelação, ou como chamarei aqui, o Princípio da Revelação.  O Senhor Jesus diz que não foi carne ou sangue que fizeram Pedro reconhecer esta verdade revelada nas Escrituras e agora exposta diante de seus próprios olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma das fundamentais diferenças entre o cristianismo e outras religiões. A revelação que vem da parte de Deus e que corresponde à realidade dos fatos. Jesus é aquele que a Escritura diz que ele é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser. Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos aqui três ideias básicas. Primeiro, que a revelação passada se cumpre em Cristo, afinal, ele é o Messias prometido. Segundo, que a revelação presente, na encarnação do Filho do Deus vivo, é superior. Não no sentido de que a revelação anteriormente dada fosse imperfeita, mas agora, ela é completa e plena. Tudo o que Deus quis revelar, mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3; Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a iluminação individual é fundamental. O verso 17 nos ensina que Deus revelou a Pedro esta verdade. Os escribas, fariseus e todos os estudiosos da época tinham as mesmas fontes que Pedro tinha, mas foi Pedro quem conectou os pontos da revelação passada com a revelação presente diante dos seus olhos. Esta mesma verdade é viva hoje quando, pela iluminação do Espírito Santo, percebemos na Escritura a verdade de Deus. Crer na revelação da Palavra de Deus é uma bem-aventurança: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Sobre esta revelação é que a fé da Igreja deve ser fundamentada.
Princípio da Edificação
A resposta de Jesus a Pedro começou com uma troca de palavras: você disse que eu sou o Cristo, e eu digo, Simão Barjonas (Simão filho de Jonas), que você é pedra (o significado do apelido de Simão, Pedro). Jesus usa deste trocadilho para trazer à luz uma das mais importantes verdades a respeito da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (v. 18).
O catolicismo romano imediatamente interpretou o jogo de palavras, Pedro e pedra, como sendo a mesma palavra e nisto construiu a doutrina do papado, sendo Pedro o primeiro desta suposta sucessão. Mas há aí uma falácia. Quando Jesus diz “esta pedra”, não refere-se a Pedro, mas à verdade pronunciada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É sobre esta verdade que a Igreja irá subsistir, a obra do Filho de Deus. O próprio Pedro, refletindo sobre esta verdade, fala-nos em sua primeira epístola: “Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1Pe 2.6).
A grande lição aprendida aqui é que a Igreja de Jesus nunca poderá ser edificada sobre fundamentos humanos. Sempre que interferimos e nos colocamos no lugar do fundamento verdadeiro encontramos diante de nós uma igreja falsificada, trasvestida e irreconhecível como igreja de Cristo.
Princípio da Propriedade
Da mesma forma como a igreja não pode ter fundamentos lançados por homens, ela não pode ter homens como seus proprietários! No final do verso 18, o Senhor Jesus usa a expressão “minha igreja”. A igreja é dele, sua noiva, pela qual ele tem verdadeiro zelo e compromisso. Com base nesta verdade é que são feitas muitas promessas à Igreja e a respeito da Igreja, dentre elas, a de que vai ele apresentá-la sem mancha, ruga ou mácula.
O Senhor sabe que é necessário cumprir toda a sua obra pela Igreja, para que possa resgatá-la de forma completa. Por isto mostra aos seus discípulos:  “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Ele diz “minha igreja”  porque ele é o único dono dela, trabalhou até a morte para que pudesse comprá-la com seu sangue e ninguém mais pudesse clamar posse sobre ela e seus membros. A Igreja de Jesus não existiria como tal sem a sua morte e ressurreição, o que lhe dá completa posse dela.
Princípio da Autoridade
Por último, podemos perceber o princípio da autoridade de Cristo sobre a sua Igreja. Para demonstrar este princípio temos, em primeiro lugar, a afirmação desta autoridade: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18b). O conceito é, de certa forma, muito simples: o fato da Igreja ter a autoridade da revelação de Deus, ser a propriedade e a edificação de Cristo, não há nada neste mundo, nem o próprio inferno, que possa se colocar contra ela e vencer. Assim, a verdadeira Igreja de Cristo não tem o que temer; não há poderes que possam terminá-la, porque ela pertence a Cristo. Aliás, opor-se à obra de Cristo na Igreja é obra de Satanás e é por isto que Pedro é repreendido severamente ao opor-se, quando foi dito que era necessária a morte e ressureição do Senhor.
Por outro lado, a verdadeira Igreja trabalha como uma agência do céu aqui na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (v.19). Veja que o texto é muito claro em dizer que a ordem da ação de ligar e desligar começa no céu e é implementada na terra pela Igreja. Acredito que aqui temos o ensino claro, somado ao contexto de Mateus 18.15-18, onde aparece a mesma expressão, que a Igreja tem a obrigação de admitir e demitir aqueles que não cogitam das coisas de Deus. A Igreja tem a responsabilidade de abrir e fechar a porta para que as “portas do inferno” não operem dentro dela mesma. Logo, a Igreja na terra deve viver na busca de realizar a vontade soberana do Pai do céu.
E como, afinal, esta fé deve ser vivida aqui na terra?
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.  Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?  Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.  Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (16.24-28).
O que o texto nos mostra é que a vida de fé na igreja deve ser vivida em torno da cruz! É, com certeza, uma vida de negação dos padrões da individualidade egoísta para viver os padrões da vida do bem-aventurado. Da mesma forma como era necessário que o Senhor fosse a Jerusalém para passar pela cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a Jesus nos passos da ressurreição.
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Sobre o autor: Mauro Meister é graduado pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary e doutorado em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. É pastor da Igreja Presbiteriana Barra Funda, em São Paulo, presidente do Conselho de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana do Brasil e membro do Conselho Editorial da Cultura Cristã (Casa Editora Presbiteriana). Atua no campo da educação básica como Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI). É autor do livro “Lei e Graça” (2003) e de artigos na revista Fides Reformata, da qual é co-editor.
(Fonte)
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A cruz: a base do ministério de vida

A segunda Carta aos Coríntios é, acima de tudo, um livro de sofrimento. Ali vemos o servo de Deus, Seu vaso escolhido, passando por terríveis provas de fogo e sofrendo como, talvez, nenhum outro apóstolo ou servo do Senhor jamais tenha experimentado. O sofrimento está gravado no livro todo: sofrimento físico, mental e espiritual; alguns foram passageiros e outros, permanentes. Mas ele mostra o motivo para esses sofrimentos ao dizer: “Levando sempre no corpo o morre de Jesus, para que também Sua vida se manifeste em nosso corpo” (4.10). Essa é a base de todo ministério em vida. É preciso haver sofrimento e dor; é preciso haver a cruz, se a vida de Cristo tiver de ser manifestada. “De modo que, em nós, opera a morte, mas, em vós, a vida”.

Sempre que houver um afastamento da cruz, uma fuga do Calvário, uma recusa do caminho da dor e do sofrimento, uma indisposição para pagar o preço e sofrer dor e perda, então, haverá pobreza, morte, superficialidade e vazio que nada nos dará para ministrarmos aos filhos de Deus. “Que a morte nunca cesse de operar em mim, para que a vida também nunca cesse de fluir para os outros.”[1]

Qual é a explicação para a superficialidade e pobreza tão marcantes no ministério nestes dias? É porque os ministros mesmos experimentaram muito pouco. Eles deram um jeito de escapar da cruz sempre que Deus a ofereceu ou designou a eles. Sempre existe um meio de escape, outro caminho cujo preço não seja tão alto, um caminho inferior e não o caminho da cruz. Quão raros e poucos são os realmente ricos espiritualmente. E por quê? Porque seus sofrimentos não foram abundantes.

Os arranjos de Deus são perfeitos. Ele sabe que tipo de sofrimento cada um precisa: se é físico, material, mental ou espiritual. Quando Deus em Sua sabedoria os faz chegar a nós, porque vê que precisamos deles, regozijemo-nos e procuremos ver o Senhor neles. Vamos aceitá-los com alegria, reconhecendo que somos totalmente fracos e incapacitados para eles, mas que Ele é graciosamente capaz. Ele realmente é, e, na circunstância, nós O encontramos em Sua plenitude e suficiência. Conhecemos a Deus de forma real porque O encontramos fazendo em nós e por nós o que não podemos fazer. Assim somos capacitados a ministrá-Lo em vida aos outros, a edificar o Corpo, a espalhar vida – Sua vida – onde quer que formos. Sempre que a morte estiver realmente operando em nós, então, e só então, é que a vida pode verdadeiramente fluir para os outros.

O Quebrantamento Produz o Ministério

Isaque representa aquele que tinha tudo por meio dos dons. Observe que tudo o que recebeu veio do seu pai. Era algo objetivo para ele, algo fora dele. Até mesmo quando Isaque abençoou os filhos, ele ficou bastante confuso, pois estava quase cego e confundiu os rapazes. Não foi assim com Jacó, pois este havia sido quebrado e realmente foi espatifado pelo Senhor; e o Espírito de Deus trabalhou interiormente a própria vida de Deus nele, até que ele disse: “A Tua salvação espero, ó Senhor!” (Gn 49.18). Quando abençoou seus filhos, ou melhor, os filhos de José, Jacó sabia exatamente o que estava fazendo. Ele o fez com inteligência. Ele disse: “Eu sei meu filho, eu o sei” (Gn 48.19). Jacó tinha luz, Jacó tinha revelação, porque havia sido quebrado.

Muitos perguntam: “Por que muitos servos bastante usados por Deus falham ou terminam sendo colocados de lado, isto é, não são mais usados por Ele? Quem pode dizer que Deus já os havia usado? e se Ele usou, foi apenas concedendo dons. Deus, em Seu direito soberano, escolheu alguém para lhe conceder um dom temporário, para ser usado por Ele durante algum tempo, porque o homem não era interiormente digno de qualquer outro ministério.

“Temos porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co 4.7). O Senhor nos conduz através de provas de fogo, as quais não poderíamos suportar nem por elas passar, situações em que não seríamos vitoriosos e nas quais seríamos terminados; todavia, é exatamente aí que descobrimos que aquilo que é precioso em nosso interior funciona. Por causa daquilo que é precioso dentro do vaso, por causa da vida de Cristo no interior de nós seguimos até o fim. Somos vitoriosos onde não poderíamos ser. Levamos no corpo o morrer de Jesus e, consequentemente, a vida de Jesus se torna manifesta.

Você só pode ajudar as pessoas na proporção em que você mesmo tenha sofrido. Quando maior o preço pago, mais você pode ajudar os outros; quanto menor o preço, menos você pode ajudar os outros. À medida em que você passa por provas de fogo, teste, aflições, perseguições e conflitos, e à medida em que você permite ao Espírito Santo operar o morrer de Jesus em você, a vida, a vida de Cristo, fluirá para os outros.


[1] Palavras de despedida do irmão Nee, quando seu navio partiu de Xangai para a Inglaterra em 1938 (N.E. em inglês)

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Cruz Jessie Penn-Lewis Vida cristã

O lado vida da cruz


O Dr. Mabie escreveu em um de seus livros: “Na Escritura, a morte e ressurreição reconciliadoras são sempre tomadas juntas. Elas são partes inseparáveis de uma unidade real, partes gêmeas de um fato”. Isso é a própria verdade, mas na experiência e no ensinamento, o perigo encontra-se em não dar às “partes gêmeas” equilíbrio. Isso afeta os resultados da vida, pois você não pode ter o “positivo” vida-poder sem a “negativa” morte-aplicação. Se você super-enfatiza o “positivo”, a vida da ressurreição, então você não tem “negativo” suficiente, da morte-aplicação, para tratar com a vida do velho Adão, que está no caminho da nova criação, e tem de ser tratado pela morte dando lugar ao Cristo-Vida. Por isso, os dois devem receber igual ênfase e correr juntos na vida cristã. Morte e vida, Calvário e ressurreição: “artes gêmeas de um fato”. É pela falta de ver-se isso que há tantos cristãos unilaterais. Ou eles são tão “negativos”, por habitar muito no lado “morte” que não têm atividade de vida, ou eles estão tão ansiosos por evitar o “negativo” que habitam muito sobre o lado “positivo” da vida, e na experiência estão sob o perigo de chamar o lado velho da natureza1 de vida de ressurreição. Temos a necessidade do equilíbrio para obter uma real participação da vida de Deus. Mas é tão humano ir aos extremos! É somente quando conhecemos o perigo e confiamos em Deus para nos guardar, é que podemos ser mantido espiritualmente sóbrios e equilibrados na verdade.

Agora vamos para Romanos 6 ver nos versículos 10 e 11 como eles dão, não somente o que podemos chamar de “lado-morte” da Cruz, mas a chave para o “lado-vida” de nossa união com Cristo em Sua ressurreição. “Quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” Nessas três palavras, em Cristo Jesus, temos a chave para a vida de união com o Senhor ressurreto. Morremos com Cristo na cruz para que possamos “viver para Deus”, completamente em outra esfera, “em Cristo Jesus”. Lemos no verso 13: “Oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.”

Agora, o que significa estar em “Cristo Jesus” no lado de ressurreição da cruz? Vamos para Romanos 7.4: “Vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos.” Numa nota de rodapé da bíblia de Scofield, a palavra “unidos” é indicada em lugar de “por meio”. A morte é o lado “negativo” da verdade; ser unido ao Senhor ressurreto é o lado “positivo”. Partes gêmeas de um fato. Por isso, não há dispensar de Sua vida ressurreta à parte Dele mesmo. Além do mais, a “união” é uma união de espírito. “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com Ele” (1Co 6.17), não uma alma. Por isso, o lado “negativo” da morte com Cristo significa de modo prático, uma fuga, ou rompimento ou corte, daquilo que impede a união de seu espírito ao Cristo ressurreto. O resultado experimental da cruz é realmente um liberar do espírito. Ele estava aprisionado, por assim dizer, sob o poder da alma e da carne. O espírito estava tão envolvido na vida de natureza que não poderia estar plenamente unido a Cristo, que é Espírito despertador.

Mas como é feito o “cortar fora”? Como o Espírito de Deus aplica a cruz e efetua a morte-separação por meio da qual o espírito é libertado para estar unido a Cristo? Encontramos a resposta em Hebreus 4.12: “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito.” Aqui temos a divisão de algo que é imaterial e intangível. A Palavra, por essa razão, é uma arma espiritual, agindo com uma espada na esfera espiritual, na verdade, “dividindo” coisas imateriais. a parte da Palavra que faz isso é a Palavra da cruz, dividindo a alma do espírito, primeiro por dar ao crente as distinções entre os dois, e segundo, separando os dois quando o crente rende-se às operações da Palavra da cruz, falando da morte com Cristo. O versículo também diz que a Palavra discerne e revela os pensamentos, pois “todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos Daquele a Quem temos de prestar contas.” note que é o próprio Senhor usando a espada para cortar fora a velha vida. Somente Ele sabe como manejar a “espada do Espírito”, que cortará como uma faca, e, assim, o espírito é separado ou desemaranhado do enlace da alma.

Isso é psicológica e experimentalmente verdadeiro. No livro do Dr. Andrew Murray, “Espírito de Cristo”, ele dá no apêndice uma explanação muito clara da divisão da alma e do espírito que precisa ser feita no crente. Ele explica como o homem caiu do domínio do espírito sobre todo o seu ser, para a alma, e depois como a alma mergulhou na carne, até que finalmente Deus disse do homem: “Ele se tornou carne” (Gn 6.3). O espírito do homem, diz o Dr. Murray, pé que, dento de nós, é capas de conhecer a Deus. a alma é o assento da auto-consciência, e o corpo o assento da consciência sensorial. Um entendimento da psicologia da Bíblia é necessária para qualquer apreensão da vida plena de vitória por meio do trabalho ungido de nosso Senhor Jesus Cristo. Há mais a ser tratado dentro de nós do que o que chamados de pecado, e é mais do que pecado o que impede nosso pleno conhecimento de Deus.

Para conhecer na experiência real o lado vida da cruz, temos de conhecer não apenas a morte para o pecado, mas a Palavra da cruz separando a alma do espírito, e, deste modo o espírito é liberado para estar unido ao Senhor ressurreto. a alma não é destruída nem o é a individualidade do crente. Não nos tornamos autômatos, mas a alma, a personalidade, deve ser avivada a partir do espírito, em vez de estar sob o domínio baixo da vida da natureza. Quando o espírito é, desse modo, um espírito com o Senhor ressurreto, é via espírito, dentro da mente, que experimentamos o guiar do Espírito e o íntimo conhecimento do Cristo pessoal. É por meio de nosso espírito unido a Ele pelo Espírito Santo que O conhecemos pessoalmente, pois o propósito toda da verdade é que O conheçamos tão bem como o poder de Sua ressurreição.

Agora, voltemos a Colossenses 2.6,7 para mais luz sobre o significado das palavras “em cristo Jesus. “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”. Quando nós recebemos Cristo, por um simples ato de fé, fomos colocados dentro Dele pela operação do Espírito de Deus. Cristo está em nós, e nosso espírito está unido a Ele como O Ressurreto, mas também devemos habita “Nele” como uma esfera na qual andamos dia a dia. Assim como começamos, devemos continuar simplesmente confiando Nele e contando com Ele, e habitando Nele. O lado vida da cruz significa estar vivo para Deus “em Cristo Jesus”.

Nele radicados”, continua o apóstolo. Você não pode estar enraizado em um lugar hoje, e em outro amanhã. Isso mostra claramente a necessidade de nosso entendimento da cruz como a posição básica da qual não devemos nunca sair. É na Sua morte que devemos estar enraizados. Não podemos continuar numa vida na qual tomamos no passado a cruz ou avançamos para qualquer alvo deixando a cruz para trás. Fazer isso é como uma árvore rejeitando a própria raiz na terra. Temos de nos considerar “mortos de fato para o pecado” e viver para Deus, mas isso é “em Cristo Jesus”. “Nele temos de estar enraizados, e “Nele” ter nosso fundamento, onde estamos continuamente edificados. Temos de estar continuamente firmando nossas raízes profundamente em Sua morte.

Vamos ler João 3.16 e ver como o estar “em Cristo Jesus” começou no estágio inicial de nossa nova vida. Lemos: “Deus amou ao mundo de tal maneira, para que todo aquele que Nele crer” tenha vida. Por que os tradutores da Bíblia usaram a palavra “Nele” em vez de “para dentro”, eu não sei. Não cremos meramente “em” Cristo, mas cremos “para dentro” Dele. Newsberry diz que a palavra “para dentro” no original tem em si a idéia de movimento, e isso é muito sugestivo. Quando você crê “para dentro” de Cristo, você é tomado pela co-ação do Espírito Santo, e o Calvário é o lugar onde isso é feito. Somos colocados “dentro” Dele em Sua morte, e depois “dentro” Dele em Sua vida, no lado da ressurreição da cruz, “radicados Nele”. Por isso, “persevere firmemente em sua fé”. Quando você recebeu Cristo Jesus, o Senhor, você creu para dentro Dele, agora permaneça Nele, enraíze-se Nele, tenha sua fundação Nele, tenha sua vida espiritual edificada Nele.

Agora, vamos para Colossenses 2.9-11: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Quando habitamos Nele, temos a “plenitude” do Espírito. Você morreu com Ele; agora, unido em espírito a Ele, habite Nele e você estará num oceano de vida. Nele habita toda a plenitude da divindade na forma humana, e Nele você tem sua plenitude, pois Ele é a Cabeça de todo principado e potestade. “Se alguém está em Cristo, é nova criação: as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Pois, em Cristo Jesus, “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura” (Gl 6.15). “Em Cristo Jesus” nada é feito para depender de qualquer coisa externa. “Em Cristo Jesus” nada tem proveito, nada serve para qualquer uso, nada é de valor algum, a não ser ser uma nova criação.

Agora vamos para Efésios 2.4-6: “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nosso delitos, nos deu vida juntamente com Cristo (…) e juntamente com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” Em Cristo está nossa raiz e nosso fundamento, dos quais não devemos nos mover, e aqui vemos o resultado daquela posição de morte. Unidos a Ele em espírito, estamos assentados com Ele em espírito “nos céus”. “Crucificados com Ele”, somos chamados para partilhar de Sua vida, “porque morrestes e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Poder de ressurreição é poder de exaltação. Unir-se ao Ressurreto pode exaltar seu espírito e mantê-lo “acima de tudo” em Cristo; por mais profundamente que o espírito possa ter estado sob a escravidão da carne, ou mesclado com a vida de natureza da alma; estamos “assentados com Ele nos Céus” pela união com Ele que, em Sua ascensão, “assentou”. Unidos a Ele, Ele nos sustenta quando habitamos e descansamos Nele


1 Natureza humana, caída, pecaminosa, de Adão; também no restante do texto.

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Cristo T. Austin-Sparks

Cristo – tudo e em todos (Theodore Austin-Sparks)

“Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia” (Cl 1.18).
“No qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Cl 3.11).

Muito tem sido feito nos últimos dias para trazer as grandes magnitudes do universo à compreensão do homem e da mulher comuns. Isso significa que muitas pessoas estão interessadas na explicação do universo e, sem dúvida alguma, do curso desta Terra e da criação e história do homem; mas cremos ter a resposta final e positiva para esta investigação. Para nós há somente uma definida e conclusiva explicação do universo, e esta explicação é uma Pessoa – o Senhor Jesus Cristo, com tudo que é eternamente relacionado a Ele. Não importa quanto leiamos e estudemos, nunca teremos a explicação do universo, no todo ou em parte, até que venhamos a enxergar o lugar do Senhor Jesus no eterno propósito de Deus. As simples, contudo abrangentes, palavras “Cristo é tudo em todos” resumem toda a matéria desde a eternidade, ao longo de todos os estágios de tempo, até a eternidade.

Primeiramente, então, vemos que “Cristo é tudo em todos” significa:

1. A explicação da própria criação

Esta carta aos colossenses faz esta mesma declaração em outras palavras. Ela nos diz que “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste” (1.16,17). Esta é uma declaração abrangente, e claramente mostra que Cristo como tudo em todos é a explicação de toda a criação. Por que foram todas as coisas criadas? Por que Deus por meio Dele trouxe o universo à existência? Por que este grande sistema universal existe e se mantém? Qual é a explicação do mundo? A resposta é: para que Cristo possa ser tudo e em todos.

A intenção no coração de Deus ao ter trazido este universo à existência era que, ao final, toda a criação apresentasse a glória e a supremacia de Seu Filho, Jesus Cristo. E este específico pequeno fragmento “e nele tudo subsiste” diz muito claramente que, se não fosse o Senhor Jesus Cristo, o universo inteiro se desintegraria, desmembrar-se-ia; ele estaria sem seu fator unificador; ele cessaria de ter uma razão para ser mantido como uma completa e concreta unidade. Seu subsistir, sua falha em se desintegrar e acabar é por causa disto: Deus tem determinado que o Senhor Jesus será o centro – o centro governante – deste universo inteiro, e Ele, o Filho de Deus, é a explicação da criação. Se não fosse por Ele, nunca teria havido uma criação. Tire-O fora, e a criação perde seu propósito e seu objeto, e não precisa mais ir adiante. “Cristo é tudo, e em todos” era o pensamento – o pensamento dominante – na mente de Deus durante a criação do universo.

Isto pode deixá-los indiferentes em certa medida e não levá-los muito longe, mas eu arrisco pensar que o que irei dizer irá levá-los um pouco mais adiante e lhes aquecerá o coração. Pois a perspectiva é esta: que quando Deus tiver as coisas como na eternidade passada determinou tê-las – e Ele irá tê-las assim –, cada átomo deste universo inteiro irá mostrar a glória de Jesus Cristo. Vocês não serão capazes de olhar para algo ou alguém sem ver Cristo glorificado. Uma abençoada perspectiva!

É algo feliz quando, como um grupo de filhos do Senhor, nós podemos estar juntos por horas a fio ou mesmo dias a fio; quando nós estamos ocupados com o Senhor como nosso único interesse comum e todos estão enlevados Nele. Quando temos um tempo como este e voltamos ao mundo, que atmosfera diferente encontramos! Como nos sentimos frios! É algo agradável encontrar o Senhor em Seus filhos e estar enclausurado com Ele desta forma; contudo mesmo isto é apenas em parte. Todavia o eterno dia está chegando, quando não haverá o voltar para o mundo em uma manhã de segunda-feira depois de um dia nos átrios do Senhor; quando estaremos tocando ninguém mais além do Senhor, e o universo inteiro estará cheio Dele – “Cristo, tudo em todos”! Este é o alvo de Deus. Isto é o que Ele tem determinado; tudo mostrando o Senhor Jesus; tudo para Ele.

Agora vemos uns nos outros muitas outras coisas que não o Senhor Jesus; o dia está chegando quando vocês nada verão exceto o Senhor Jesus em mim, e eu nada verei exceto o Senhor Jesus em vocês; nós seremos “conformados à imagem do Seu Filho”: Sua glória moral brilhará e será mostrada; Cristo será “tudo em todos”. Deus o determinou, e, o que Deus determinou, Ele terá. Esta, então, é a explicação da criação: que Cristo seja tudo, e em todos, e sobre tudo tenha a preeminência.

Em Romanos, o apóstolo Paulo tem uma declaração muito notável dentro deste contexto: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (8.19-22).

Notem o que isto realmente diz e implica. A criação está imbuída por uma expectativa ardente. Esta expectativa é com gemidos tais como em árduo trabalho, uma expectativa de esperança – não da dissolução do universo, sobre o quê certos cientistas tanto falam. Contudo, a esperança e os gemidos até o momento estão deliberadamente colocados sob um reinado de vaidade – feitos para ser tudo em vão – até um tempo e alvo fixados. Este clímax é em duas partes: uma, a revelação dos filhos de Deus; a outra – ligada com aquela – o livramento da criação de estar sujeita à corrupção.

Tudo isto é levado de volta à eternidade passada e unido com o Senhor Jesus como Filho: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (8.29).

Na passagem anterior há uma declaração definida e uma clara implicação. A declaração é que a criação estava sujeita à vaidade, e seu estado é o cativeiro da corrupção. Claramente, a implicação é que houve um tempo definido quando, por causa de sua corrupção, a criação inteira foi levada a uma condição na qual é forçada a gemer e se esforçar em direção a um alvo que não pode ser alcançado. É em conexão com isto que surge espaço para toda a gama e natureza da interferência satânica na criação, a qual objetiva a desafiar o propósito divino final na criação e a frustrá-lo ao trazer corrupção. Tão universal foi esta corrupção que uma sentença de vaidade foi pronunciada sobre “toda a criação”. O efeito disto foi, e é, que a criação nunca pode atingir o objetivo de sua existência, salvo no campo da santidade e semelhança divina.

Aqui também se encaixa toda a gama da “redenção que está em Cristo Jesus”; a obra universal que Ele consumou por meio de Sua cruz destruindo a obra do diabo e, potencialmente, o próprio diabo; com todo o poder destruidor do pecado e destruidor da corrupção advindos de Sua natureza e vida sem pecado, a eficácia de Seu incorruptível sangue, e a provisão de justificação e santificação para todos os que crêem, estes por regeneração se tornando uma nova criatura em Cristo Jesus (2Co 5.17).

Apenas por este meio a criação pode ser liberta. Quando estes filhos de Deus forem manifestos – seu número completo – e todos que têm recusado esta salvação forem rejeitados do domínio de Deus, então, a criação será libertada e sua intenção original será atingida, Cristo sendo tudo e em todos.

2. A explicação do homem

Depois, em seguida, como uma parte central da criação, temos o homem. Qual é a explicação do homem? Qual é a explicação de Adão como o primeiro homem? Há uma pequena passagem da Escritura que responde a isto: “Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5.14), que é Cristo. Uma figura Daquele que havia de vir – esta é a explicação do homem. Deus planejou que cada homem ingresso neste mundo seja conformado à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo. Multidões perderão isto, mas haverá multidões tais que nenhum homem poderá enumerar, de cada tribo, raça, nação e língua, que alcançarão isto. Que alto chamamento! Que concepção diferente do homem esta é daquela que é popularmente aceita, e que tremenda coisa a ser perdida! E ainda assim, há muitos que dizem reclamando que, se tivessem podido escolher, nunca teriam vindo a este mundo. Tem havido aqueles que, numa hora de eclipse, maldizem o dia em que viram a luz. Ah! Mas algo deu errado aí; isto não é como o Senhor planejou que fosse. E não importa quantos dias depressivos tenhamos: quando nos perguntarmos depois de tudo se realmente vale a pena, retornemos em nosso íntimo ao pensamento de Deus. É nosso tremendo privilégio, a mais alta honra que podia ser conferida a nós do ponto de vista divino: que tenhamos nascido.

Nem sempre nos sentimos ou falamos deste jeito, mas constantemente somos compelidos a nos voltar ao ponto de vista de Deus sobre isto e a nos lembrar que Seu propósito é o de ter um universo povoado com tais que sejam conformados à imagem de Seu Filho, Jesus Cristo, um povo que é uma manifestação universal do Cristo glorificado com a glória do Pai. Este é um privilégio, uma honra, algo para o qual vale a pena ter nascido! Esta é a explicação do homem.

Podemos apenas tocar levemente muitos destes assuntos, e caminhar adiante.

3. A explicação da redenção

Além disso, esta palavra “Cristo é tudo em todos” é a explicação da redenção. As coisas, é claro, deram errado: o propósito de Deus sofreu interferência. Ele não poderia nunca ser frustrado completamente, mas houve outro que determinou, tanto quanto estivesse em seu poder, que aquela apresentação universal de Jesus Cristo – o “ser-tudo-em-todos” do Senhor Jesus – nunca acontecesse. Houve alguém que desejou ter aquilo para si mesmo – que ele pudesse ser o senhor universal da terra e céu. Esta interferência tem feito uma grande diferença por certo tempo. Ela tem interferido com o homem e o transformado em outro, aquém do que Deus pretendia que ele fosse. Ela tem arruinado a imagem.

No entanto, há redenção pela cruz do Senhor Jesus. Qual é a explicação da cruz? Por um lado, qual é a explicação de toda aquela expiação, aquela obra redentiva do Senhor Jesus ao tratar com o pecado, em tomar o pecado universal sobre Si, e ser feito uma maldição por nós, em nosso lugar?

E ainda, por outro lado, como complemento disto, qual é a explicação daquela cruz sendo operada no crente de forma que o crente se torne unido com Ele na semelhança de Sua morte e sepultamento como uma experiência espiritual? – toda aquela aplicação do Calvário que é tão dolorosa, tão terrível de passar por ela: sim, a desintegração do “velho homem”, o cortar fora do “corpo da carne”, aquele conhecimento interior do poder da cruz, tão terrível à carne. Qual é a explicação? Amados, é que Cristo seja tudo e em todos.

Por que somos quebrados? Para dar lugar ao Senhor Jesus. Por que somos trazidos ao pó pelo Espírito Santo quando Ele opera a morte do Calvário sobre nós? De forma que o Senhor Jesus possa tomar o lugar que nós na carne temos ocupado. Algumas vezes entendemos errado esta aplicação da cruz. O inimigo está sempre em nosso ombro, insinuando e sugerindo a inclemência de Deus em nos esmagar, nos humilhar, nos reduzir a nada, e dizendo que não há fim nisto, tentando assim nos derrubar.

Amados, a cruz foi pretendida somente para fazer o Senhor Jesus tudo em todos, para nós. Devido ao modo como o Senhor tem tratado conosco, o modo pelo qual Ele tem aplicado a cruz, nos plantando naquela morte e sepultamento, não é verdade que nós O conhecemos de um modo que nunca O conhecêramos antes? Não é por este modo que Ele se tem tornado o que é para nós, cada vez mais e mais amado do nosso coração? O aumento do Senhor Jesus em nós e para nós é pelo caminho da cruz. Sabemos muito bem que nosso principal inimigo é nosso eu, nossa carne. Esta carne não nos dá descanso, nem paz nem satisfação; não temos alegria nela. Ela é obsessiva, nos absorve, constantemente se pavoneia atravessando nosso caminho para nos roubar a verdadeira alegria de viver. O que deve ser feito com ela? Bem, na cruz e pela cruz somos libertados de nós mesmos; não apenas de nossos pecados, mas de nós mesmos; e, sendo libertados de nós mesmos, somos libertados para Cristo, e Cristo se torna muito mais que nós.

É um processo doloroso, mas gera um fim abençoado; e aqueles dentre nós que tenham tido a maior agonia ao longo deste caminho testificariam, eu creio, que o que isto nos trouxe do conhecimento e das riquezas do Senhor Jesus faz todo o sofrimento valer a pena. Assim é a obra do Senhor por nós! E a obra do Senhor em nós, pela cruz, somente é pretendida no pensamento divino para abrir espaço para o Senhor Jesus.

O altar de bronze do tabernáculo, assim como o do templo, era um altar bem grande. Era possível pôr toda a mobília restante do tabernáculo inteiro dentro dele. Sim, o altar tem que ser bem grande; deve haver um grande espaço para Cristo crucificado. Ele irá preencher todas as coisas e Ele será a plenitude de tudo, e não haverá lugar para nós no final de tudo. Isto o deixa atônito? Certamente não. Assim a cruz, a obra de redenção por meio daquela cruz, tem como sua explicação simplesmente isto: que Cristo seja tudo e em todos; que em todas as coisas Ele tenha a preeminência.

Isto, pois, é a explicação de nossas experiências – o porquê do Senhor tratar conosco como Ele trata; o porquê dos crentes passarem pelas experiências que atravessam; o porquê eles passam por coisas que ninguém mais parece chamado a atravessar; o porquê de algumas vezes eles quase invejarem os incrédulos pela vida fácil que tantos deles têm. Isto explica os tratamentos do Senhor com Israel no deserto. Mesmo após sua libertação do cativeiro e tirania do Egito, houve quebrantamento de corações e agonia. Por que esta disciplina? No deserto, eles ainda pensavam no Egito. A obra que o Senhor estava fazendo neles era de forma que Ele pudesse ser tudo neles e para eles. Se Ele cortava seus recursos naturais, era apenas para mostrar quais eram seus recursos celestiais. Se Ele cortava seu poder natural, era para que eles pudessem vir a conhecer o poder dos céus. O que quer que seja que Ele pudesse tirar deles ou os conduzir a, era com vistas a tirá-los de si mesmos e com vista a que Ele mesmo pudesse ser tudo em todos.

Esta é a explicação de nossas dificuldades. O Senhor conhece como melhor tratar com cada um de nós, e Ele não usa métodos padronizados. Ele trata com você de um modo e comigo de outro. Ele sabe como nos conduzir a experiências que são bem calculadas para nos trazer à posição onde o Senhor é tudo e em todos.

4. A explicação do crescimento cristão

O que é crescimento espiritual? O que é maturidade espiritual? O que é caminhar no Senhor? Temo que tenhamos idéias embaralhadas sobre isto. Muitos pensam que maturidade espiritual é um conhecimento mais abrangente da doutrina cristã, uma compreensão mais larga da verdade das Escrituras, uma ampla expansão do conhecimento das coisas de Deus; e muitas destas características são registradas como marcas de crescimento, desenvolvimento, maturidade espiritual. Amados, não é nada disso. A marca distintiva do verdadeiro desenvolvimento e maturidade espiritual é esta: que nós tenhamos crescido bem pouco e que o Senhor Jesus tenha crescido muito mais. A alma madura é aquela que é pequena a seus próprios olhos, mas em cujos olhos o Senhor Jesus é grande. Isto é crescimento. Nós podemos saber muitas coisas, podemos ter uma maravilhosa compreensão da doutrina, do ensino, da verdade, até mesmo das Escrituras, e ainda ser espiritualmente muito pequenos, muito imaturos, muito infantis. (Há muita diferença entre ser infantil e ser semelhante a uma criança.) O crescimento espiritual real é somente isto: eu diminuo, Ele cresce. É o Senhor Jesus se tornando mais. Vocês podem testar o crescimento espiritual por meio disso.

Então, de novo, esta palavra é

5. A explicação de todo o serviço

O que é o serviço cristão de acordo com a mente de Deus? Não é necessariamente termos uma programação cheia de atividades cristãs. Também não é que estejamos sempre ocupados naquilo que denominamos “coisas do Senhor”. Não é a medida e a quantidade de nossa atividade e trabalho nem o grau de nossa energia e entusiasmo nas coisas do reino de Deus. Não são nossos esquemas, nossos projetos para o Senhor. Amados, o teste de todo serviço é seu motivo. Será que o motivo é, do começo ao fim, que em todas as coisas Ele tenha a preeminência, que Cristo seja tudo em todos?

Vocês conhecem as tentações e a fascinação do serviço cristão; a fascinação de estar engajado, de estar ocupado com muitas coisas; ter sua programação, esquemas, projetos; estar envolvido nestas coisas e sempre presente a elas. Há um perigo aí que tem apanhado multidões dentre os servos do Senhor. O perigo é que isto os leva à projeção, torna-se a obra deles; é a obra deles, interesses deles e, quanto mais governam e caminham nisto, mais satisfeitos ficam.

Não, há uma diferença entre passar o dia no serviço cristão como mero desfrutar da atividade, com a fascinação disto e todas as vantagens e facilidades que isto provê para nós mesmos, e a gratificação disto à nossa carne – há uma grande diferença entre isto e “Cristo, tudo em todos”. Algumas vezes este último é alcançado ao sermos postos fora de ação. Pois então, este é o teste: se estamos ou não completamente satisfeitos de ser colocados totalmente fora de ação para que tão somente o Senhor venha a ser mais glorificado deste modo. Se tão somente Ele puder vir ao que é Seu, não importa nada se somos vistos ou ouvidos. Estamos alcançando um lugar, na graça de Deus, onde ficamos bem contentes em ser largados num canto, sem ser vistos ou notados, se deste modo o Senhor Jesus puder vir para o que é Seu mais rápida e completamente.

De algum modo temos sido pegos nisto e pensamos que o Senhor somente pode vir ao que é Seu se nós formos o instrumento. A rivalidade na plataforma e no púlpito; a sensibilidade porque um é posto antes do outro, porque o sermão de um recebe mais atenção que o do outro; os comentários favoráveis feitos todos em uma só direção, etc! Conheço bem tudo isto. Afinal de contas, o que nós estamos buscando? Estamos buscando impressionar nossa audiência pela nossa habilidade ou fazer conhecido nosso Senhor? É uma grande diferença! Algumas vezes o Senhor ganha mais de nossos maus momentos do que pensamos, e pode ser que quando temos bons momentos Ele não tenha obtido o máximo. É por causa disto que há a necessidade de sermos postos de lado, mantidos fracos e humildes, para que Ele tenha a preeminência.

O desafio do serviço conforme o pensamento de Deus é somente este – por que o estamos fazendo? Queremos estar na obra porque gostamos de estar ocupados? Ou é absolutamente e somente para que, por qualquer meio, Ele possa vir ao que é Seu, para que o alvo de Deus possa ser concretizado? Se Ele puder ser tudo, e em todos, pela nossa morte assim como pela nossa vida, será que chegamos ao ponto onde realmente desejamos que “Cristo seja glorificado em meu corpo, quer pela vida ou pela morte” (Fp 1.20)? Esta é a explicação do serviço do ponto de vista de Deus.

É claro, isto é a explicação de muitas outras coisas. É também…

6. A explicação de todo o Antigo Testamento

Nós não nos demoraremos examinando em detalhes como é isto, mas apenas o indicaremos e passaremos adiante. O que é o Antigo Testamento? Ele está todo resumido em grandes representações de Jesus Cristo. Veja as duas principais, o tabernáculo e o templo. Estas são representações abrangentes do Senhor Jesus tanto em Sua pessoa como em Sua obra e elas ocupam, desta forma, o lugar central na vida do povo escolhido, cuja vida é unida a elas. As duas são uma. Enquanto o povo eleito se mantém num relacionamento correto com aquele objeto central (o tabernáculo ou o templo), enquanto lhe dá seu lugar de honra e reverência e o mantém em seu lugar da mais alta santidade, enquanto eles são verdadeiros ao seu espírito, suas leis e seu testemunho, e embora sejam entre todos os povos da terra os menos capazes naturalmente de cuidar de seus próprios interesses, ainda assim são o povo supremo da terra: não há uma nação ou povo na terra capaz de permanecer diante deles. Eles nunca foram treinados na arte da guerra, não têm uma longa história de armas e estratégia militar, e são em si mesmos um povo indefeso, ainda assim eles tomam ascendência não apenas sobre nações individuais maiores e mais fortes que eles, mas sobre uma combinação de nações. E embora todos se unam contra eles, enquanto verdadeiros àquele objeto central, eles são supremos. Aquele objeto central é uma representação do Senhor Jesus em Sua pessoa e obra.

A interpretação espiritual disto é que quando o Senhor Jesus tem Seu lugar há supremacia; há absoluta supremacia quando Ele em todas as coisas tem a preeminência em, através e por meio de Seu povo. “Cristo é tudo em todos”. Quando isto é verdade em Seu povo não existem forças capazes de lhes resistir. O segredo da absoluta supremacia e soberania é o Senhor Jesus ter Seu lugar nas vidas e nos corações, em todos os afazeres e relacionamentos do Seu próprio povo; então os portões do inferno não poderão prevalecer.

Além disto, é também…

7. A explicação do Novo Testamento

O Novo Testamento traz diminutos grupos, pequenos entre os povos da terra, desprezados, expulsos, dificilmente permitidos a falar sem serem amargamente molestados, e sobre os quais eventualmente vinha a ira e o ódio organizado das nações deste mundo, culminando em que todos os recursos do grande império de ferro foram explorados e postos em operação para destruir a memória deste humilde e desprezado povo.

A história é exatamente esta: que os impérios quebraram, e os poderes mundiais cessaram de existir. Nós rodamos o mundo agora para olhar as relíquias e ruínas destes grandes impérios; mas onde está aquele povo do caminho do desprezado Nazareno? Uma grande multidão que nenhum homem pode numerar! O céu está cheio deles, e aqui na terra há dezenas de milhares que conhecem e amam o Senhor Jesus, que são deste Caminho. A explicação é que Deus determinou que Seu Filho seja tudo, e em todas as coisas tenha a preeminência.

Tenha um relacionamento vivo com o Filho de Deus, e homens e inferno podem fazer o que quiserem – Deus irá atingir Seu alvo e tal povo será triunfante.

Uma palavra mais. Isto também é…

8. A explicação da Igreja

O que é a igreja? O pensamento de Deus não é o Cristianismo; não é o de ter igrejas como centros organizados do Cristianismo; não é a propagação do ensino e empreendimento cristãos. O pensamento de Deus é o de ter um povo na terra no qual, e no meio do qual, Cristo é tudo em todos. Esta é a igreja. Temos que revisar nossas idéias. No pensamento de Deus a igreja começa e termina com isto – a absoluta supremacia do Senhor Jesus Cristo. E o que Deus está sempre buscando é juntar aqueles de Seu povo que mais completamente concretizarão este pensamento Dele, e serão para Ele a satisfação de Seu próprio desejo eterno: o Senhor Jesus em todas as coisas tendo a preeminência e sendo tudo em todos. Ele ignora a grande instituição, a assim chamada “Igreja”, e está com aqueles que em si mesmos são de um humilde e contrito espírito e que tremem diante de Sua palavra, e nos quais o Senhor Jesus é o único objeto de reverência e adoração. Estes satisfazem o coração de Deus. Estes, para Ele, são a resposta à Sua eterna busca.

Vocês percebem que a Palavra de Deus diz isto. Vejam novamente Cl 3:11: “No qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Eles têm se revestido “do novo homem, que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. Observem atentamente estas palavras e vocês entenderão que este é o homem corporativo, a Igreja, o Corpo de Cristo, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:23). E ali, naquele homem corporativo, não pode haver grego ou judeu. Note as palavras. Não diz que gregos e judeus se unem em uma abençoada comunhão. Não, não há nacionalidades na igreja; livramo-nos de todas as nacionalidades, e agora temos um novo homem espiritual, uma nova criação, onde não pode haver grego, judeu, escravo, livre. Todas as distinções terrenas se foram para sempre – é um novo homem. O braço direito não é um judeu e o braço esquerdo um grego!

Não, isto passou. Nesta Igreja há apenas um novo homem – não uma combinação onde anglicanos, metodistas, batistas, congregacionais e todo o resto se juntam e esquecem suas diferenças por um tempo; isto não é a Igreja. Na Igreja estas diferenças não são meramente cobertas por um tempo – elas não existem. Há um Corpo, um Espírito. A Igreja é isto: “Cristo é tudo em todos”. Tenha isto e tem-se a Igreja. Chamar qualquer outra coisa de Igreja e deixar isto de fora é uma contradição. Testem-na por meio disso.

Se é verdade que a vida cristã conforme o pensamento e a mente de Deus é somente isto, “Cristo, tudo em todos”, então somos eu e você verdadeiros cristãos? Pois temos visto que mediante a cruz nós desaparecemos para dar lugar para o Senhor Jesus. Agora, se professamos ter vindo pelo caminho do Calvário até o Senhor, a implicação é que desaparecemos por intermédio desta cruz, para que Cristo seja tudo em todos.

O que pensar? Queremos nós um pedacinho do mundo? Nós ainda voluntariamente nos apegamos a esta ou aquela coisa fora do Senhor, porque o Senhor Jesus não tem nos satisfeito plenamente e precisamos ter um contrapeso? Um cristão mundano é uma contradição de termos. Ter um pouquinho de algo fora de Cristo é negar o Calvário e permanecer diretamente em oposição ao eterno propósito de Deus referente a Cristo. Você assume esta responsabilidade? Deus determinou isto desde toda a eternidade no referente a Seu Filho. Podemos nós professar pertencer ao Senhor Jesus e ao mesmo tempo ainda não ser verdade que Ele é tudo em todos para nós? Se podemos, há algo errado, há uma negação, uma contradição. Estamos nos opondo ao pensamento e propósito de Deus. É verdade que Ele é tudo em todos? Ele será isto se tomarmos todo o caminho.

Oh! Estas sugestões sutis que estão sempre sendo sussurradas em nossos ouvidos, que se desistirmos disto ou daquilo iremos nos arruinar, e a vida será mais pobre, e seremos reduzidos até que nada tenha restado. É uma mentira! É isto que contrapõe o grande pensamento de Deus sobre nós. O pensamento de Deus sobre nós é que Alguém, nada menos que Seu Filho, Jesus Cristo, em Quem toda a plenitude da divindade habita em forma corpórea, seja a nossa plenitude. Toda a plenitude de Deus em Cristo para nós! Você nunca obterá isto ao rejeitá-Lo. A vida será muito menos do que precisa ser se você não for até o fim com o Senhor. E o que se obtém em matéria de nossa consagração ao Senhor, nosso inteiro e completo abandono a Ele em nossa vida, nosso deixar completamente tudo que não é do Senhor, isto se obtém no domínio do serviço. Esta carne ama se jactar na obra cristã, e nos diz que se passarmos a ser dependentes do Senhor nós passaremos a ter um tempo de ansiedade. Mas uma vida de dependência de Deus pode ser uma vida de contínuo romance. É ali que fazemos descobertas que são constantes maravilhas.

Você pode estar quase morto num minuto e no seguinte o Senhor lhe dá algo para fazer e você fica muito vivo, dependendo Dele para cada respiração sua. Assim você vem a conhecer o Senhor. Mas, depois daquela experiência, você se torna de novo inútil e morto por um tempo, contudo você se lembra de que o Senhor fez algo. Então Ele faz de novo; e a vida se torna um romance. Ninguém pensaria que você estava dependendo do Senhor para sua própria respiração. É algo muito abençoado saber que o Senhor está fazendo isto, quando você não pode fazê-lo de jeito nenhum – é humana e naturalmente impossível, mas o Senhor o está fazendo!

Prossigamos, amados, no assunto da Igreja. Apliquem o teste. Não estou falando com julgamento ou censura, nem tenciono discriminar num sentido errado, mas deixe-me ser fiel – para nós, nossa comunhão deve estar onde o Senhor Jesus é mais honrado. Nossa comunhão deve estar onde Deus tem o que é seu mais plenamente, onde Cristo é tudo em todos. Nós não podemos estar presos por tradições, por coisas que levantam um clamor e assumem uma denominação. Onde o Senhor é mais honrado, aí é onde nossos corações devem estar; onde tudo o mais é feito subserviente a apenas isto: “Cristo, tudo em todos”. Este é o pensamento de Deus sobre a Igreja, e este deve ser o lugar onde nosso coração gravita. O lugar onde Deus vai registrar Seu testemunho e trazer o impacto deste testemunho sobre outros será encontrado onde o Senhor Jesus é mais honrado. E vocês perceberão que onde houver pessoas famintas vocês terão oportunidade de ministério se vocês estiverem completamente em acordo com o propósito de Deus referente a Seu Filho.

9. Vivenciando tudo

Lembre-se que tudo relacionado ao cristão é experimental. Tudo em relação ao Senhor Jesus é essencialmente experimental. Não é apenas doutrina. Não é questão de credo. Não é que aceitemos certas declarações de doutrina ou credo, e que somente por isto sejamos trazidos a um relacionamento com o Senhor Jesus. Nós não nos tornamos cristãos por aceitar declarações doutrinárias ou credos ortodoxos, ou fatos sobre o Senhor Jesus. A Igreja não se constitui sobre estes parâmetros, embora a Igreja defenda certos princípios. A experiência tem que ser operada na vida, você deve ser tornar parte dela e ela parte de você. Não é suficiente crer que Cristo morreu na cruz. Isto deve se aplicar aqui em nossas vidas tornando-se uma experiência, uma poderosa e operante força e fator em nosso ser. A igreja não é constituída sobre uma base de declarações doutrinárias. Você não pode juntar pessoas e dizer: “isto parece perfeitamente confiável, constituiremos nossa igreja sobre esta base”. Você não pode fazer isto.

A Igreja é aquela na qual a verdade tem operado, na qual ela se tornou experimental. Credos não podem nos manter juntos quando o inferno se levanta para nos dividir. Não, o credo mais ultrafundamentalista não tem conseguido manter as pessoas juntas. A unidade do Espírito é algo trabalhado lá dentro. A menos que seja assim, nada pode resistir contra os espíritos de divisão e cismas que estão por aí. Tudo precisa ser experimental, não apenas doutrinário ou confessional.

Agora, é aqui onde você chega à realidade de Deus. Uma coisa é cantar hinos sobre Cristo ser tudo em todos, olhar para isto como algo objetivo e concordar com isto; mas é outra coisa ser trazido experimentalmente ao lugar onde a verdade realmente opera. Há muitos que dirão hoje: “Sim, isto está certo. Cristo é tudo em todos”, e amanhã de manhã, quando você os toca sobre algum assunto melindroso em que suas preferências estão envolvidas, você percebe que Cristo não é tudo em todos. Temos de chegar a isto pela experiência. Que o Senhor nos dê graça para isso.

O apelo final que faço é que nós todos busquemos novamente a entronização do Senhor Jesus como supremo Senhor em nosso coração, em cada parte de nossa vida, em todos os nossos relacionamentos; que se houver algo que temos segurado, que deixemos ir; se temos tido qualquer reserva, que a quebremos agora; se temos sido menos que completamente comprometidos com Ele, de agora em diante isto não seja mais assim, mas que Ele seja tudo em todos, a partir de agora. Este deve ser nosso entendimento, nosso compromisso com o Senhor. Fará você isto? Peça ao Senhor para quebrar cada amarra que está no caminho de Ele ser tudo em todos. Estamos preparados para isto?

Que o Senhor nos dê graça.

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