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Gotas de orvalho (76)

Se já morremos com Ele, não pode haver nenhuma dificuldade. Nossa face deve estar a todo momento voltada para Jerusalém. Durante toda a vida do Senhor, Ele aprendeu a lição de obediência. Por meio do sofrimento, Ele aprendeu obediência. Assim, também nós deveríamos nos armar com a disposição para sofrer.

(C. H. Yu, irmão chinês, quando em uma prisão comunista)

Esteja mais desejoso de ajuda interior e livramento do que da remoção da mão de Deus, quando Ele lançar aflição sobre você.

(Robert Chapman)

A incredulidade coloca as circunstâncias entre nós e Cristo, de modo a não vê-Lo, como os discípulos que não O conheceram através da cerração e gritaram de medo. A fé põe Cristo entre nós e as circunstâncias, de modo a não vê-las, por causa da glória daquela luz.

(F. B. Meyer)

O Sermão do Monte indica que o único direito em que o santo insiste é o direito de entregar os seus direitos.

(Oswald Chambers)

A vontade de Deus e a minha felicidade são sinônimos.

(Evan Hopkins)

Até a morte, terei empregado tudo o que existe em mim para amá-Lo.

(Irmão Lawrence)

Não há ganho algum, senão por uma perda;
Não há salvação, senão por uma cruz.
O grão de trigo, para multiplicar-se,
Precisa cair na terra e morrer.
Onde quer que você contemple campos maduros
Acenando a Deus suas copas douradas,
Esteja certo de que algum grão de trigo morreu,
Alguma alma foi ali crucificada;
Alguém lutou, chorou e orou,
E, impávido, legiões do inferno combateu.

(Desconhecido)

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Gotas de orvalho (74)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Aquele que não se prepara para a morte é mais do que um tolo qualquer. É um louco.

(Charlos H. Spurgeon)

Os mandamentos que recebemos de nosso Senhor ou dos apóstolos não podem ser negligenciados nem ignorados por cristãos sérios e comprometidos. Deus nunca ensinou que devíamos ponderar Seus desejos e Seus mandamentos para nós, tomando por base nosso próprio julgamento e, então, decidir o que queremos fazer a respeito deles.

(A. W. Tozer)

Você que se encontra em grande prova e tentação não precisa desejar uma trilha mais fácil, pois pode ser que você, que está de guarda no meio dessa tentação, esteja mais seguro agora do que os que não são ferozmente provados e estão correndo o perigo da preguiça e da indiferença espiritual. As frias montanhas da prova podem ser mais seguras do que as tentadoras planícies do prazer.

(Charles H. Spurgeon)

Cuidado se você tem muito desejo de aprender com homens e não muito desejo de ficar calado diante de Deus. Concentrado apenas em bons livros, você aprende seus ensinos, mas não cria em você o que Deus criou no autor deles. Podemos papagaiar a Glória de Deus, repetindo o que lemos e ouvimos, mas sem autoridade para falar dela.

(Paul Washer)

Invoco a Deus como testemunha, para o dia em que deva comparecer ante nosso Senhor Jesus, que nunca alterei nem sequer uma sílaba da Palavra de Deus contra minha consciência, nem o faria hoje, ainda que me entregassem tudo quanto nesta terra há, seja honra, prazeres ou riquezas.

(William Tyndale)

Um bom cristão bendirá a Deus não apenas no amanhecer, mas também no pôr do sol. Que tenhamos seguramente, na pior circunstância que nos sobrevier, um salmo de gratidão, porque todas as coisas cooperam para o bem. Oh, que sejamos frequentes em bendizer a Deus! Nós daremos graças a Ele que nos trata sempre com favor.

(Thomas Watson)

A aflição nos ensina a conhecermos a nós mesmos. Na prosperidade, somos, na maioria das vezes, estranhos a nós mesmos. Deus nos aflige para que possamos nos conhecer melhor. É em tempo de aflições que vemos aquela corrupção em nosso coração que não acreditaríamos que estava lá. A água parece limpa num copo, mas, ponha-a no fogo, e sua impureza vai fervilhar. Na prosperidade, um homem parece ser humilde e grato, a água parece limpa; mas, ponha esse homem um pouco no fogo da aflição, e suas impurezas começam a fervilhar; muita impaciência e incredulidade começam a aparecer. “Oh”, diz um cristão, “eu nunca pensei que tinha um coração tão mau! Agora eu vejo que tenho! Eu nunca pensei que minhas corrupções fossem tão fortes e minhas virtudes, tão fracas!”

(Thomas Watson)

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Gotas de orvalho (65)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Por que alguns cristãos, apesar de ouvirem mil bons sermões, não têm avanço na vida espiritual? Porque eles negligenciam sua obrigação, seu quarto fechado, a solidão com Deus […] eles não meditam no que ouviram. Eles “amam” o trigo, mas não moê-lo. Eles querem o milho, mas não irão ao campo colhê-lo. O fruto está pendurado, mas eles não vão estender a mão. A água está fluindo em seus pés, mas eles não vão se inclinar para beber […] irão reclamar porque outros não fazem isso para eles. De tal loucura livrai-nos, ó Deus!

(Charles H. Spurgeon)

[Oro] algumas horas todos os dias. E ainda vivo no espírito de oração; oro enquanto ando, enquanto deitado e quando me levanto. Estou constantemente recebendo respostas. Uma vez persuadido de que certa coisa é justa, continuo a orar até a receber. Nunca deixo de orar!

(George Müller)

Ainda que eu seja o principal dos pecadores
Jesus derramou Seu sangue por mim;
Morreu para que eu vivesse a vida sublime,
E vive para que eu jamais morra.

(William McComb)

O Calvário é a prova objetiva, absoluta e irrefutável do amor de Deus por nós.

(Jerry Bridges)

Oração é a mais elevada atividade da alma humana e, portanto, é, ao mesmo tempo, o teste definitivo da verdadeira condição espiritual do homem – não há nada como a vida de oração para falar a verdade sobre nós, como cristãos. Tudo o que fazemos na vida cristã é mais fácil que a oração.

(Martin Lloyd-Jones)

Cada homem obedece a Cristo na medida em que O considera Cristo, e de nenhuma outra maneira.

(Thomas Brooks)

O que o Senhor disse quanto a carregar a cruz e obedecer não está no rodapé. Está em negrito, bem na capa do contrato.

(Vance Havner)

Crer e obedecer sempre andam lado a lado.

(Charles H. Spurgeon)

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Gotas de orvalho (64)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Deus nos vê como somos, nos ama como somos e nos aceita como somos. Mas, por Sua graça, Ele não nos deixa como somos.

(Tim Keller)

A Lei de Deus não nos restringe, mas nos direciona. Obediência é sempre um convite à alegria.

(R. C. Sproul Jr)

Em nossas instabilidades de sentimentos, é bom lembrar que Jesus não tem mudanças em Suas afeições; nosso coração não é a bússola pela qual Jesus navega.

(Samuel Rutherford)

Nunca estamos mais perto de Cristo do que quando nos encontramos perdidos, maravilhados com Seu amor indizível.

(John Owen)

Se eu pudesse ouvir Cristo intercedendo por mim no quarto ao lado, não temeria um milhão de inimigos. No entanto, a distância não faz diferença: Ele está intercedendo por mim!

(Robert Murray M’Cheyne)

Quando atiramos uma flecha, ficamos olhando onde ela cairá; quando enviamos um navio ao mar, esperamos seu retorno; e quando lançamos uma semente, esperamos a colheita. Assim também, quando semeamos nossas orações no coração de Deus, não devemos esperar uma resposta?

(Richard Sibbes)

Cristo não irá guardar-nos se nos colocarmos descuidada e temerariamente no caminho da tentação.

(F. B. Meyer)

Satanás nunca coloca diante dos homens um prato que eles não apreciem.

(Thomas Watson)

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Serviço cristão

Você está disposto a submeter-se a Jesus?

“Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra aguilhões” (At 26.14).

Essas palavras foram ditas pelo Senhor a Paulo na estrada de Damasco. A expressão “recalcitrar contra os aguilhões” era um provérbio rústico extraído da vida agrícola e usado pelos gregos para indicar resistência manifesta a um poder superior. O aguilhão é um instrumento empregado para dirigir os bois. Consiste de uma vara de cerca de dois metros de comprimento, pontiaguda, algumas vezes revestida de ferro na ponta. Quando era colocado na canga pela primeira vez, o boi ainda jovem geralmente se ressentia dela e tentava fugir. Se estivesse jungido a um arado dirigido com uma só mão, o lavrador levava na outra um aguilhão que mantinha próximo aos cascos do boi, e, sempre que este escoiceava, a ponta o feria cada vez mais profundamente. O boi tinha de aprender a submeter-se ao jugo da maneira mais difícil, como aconteceu com Paulo.

Com essa ideia como pano de fundo, podemos extrair uma preciosa lição do que o Senhor aparentemente disse a Paulo naquele dia. Foi algo como isto: “Submeta-se a Meu jugo e faça Minha obra em Meu campo! Saulo, você sempre se ressentiu desse chamado porque sempre desejou seguir seu próprio caminho! Saiba perfeitamente que Meu caminho é contrário ao seu, e Minha obra, contrária a sua. Essa é a razão porque uso hoje o aguilhão em você. Apesar de Me ter rejeitado muitas vezes, deve ter agora compreendido que é na verdade difícil protestar contra o aguilhão. Saulo, você se rende agora? Está muito ferido? Já teve o suficiente, não é? Você está disposto a submeter-se a Mim incondicionalmente doravante, para que Eu possa guiá-lo e dominá-lo, e a fim de que Minha vontade seja feita por seu intermédio?”

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Gotas de orvalho (59)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A oração é um instrumento poderoso, não para fazer com que a vontade do homem seja feita no céu, mas para fazer com que a vontade de Deus seja feita na terra.

(Robert Law)

A vida do cristão não deve ser nada mais do que uma representação visível de Cristo.

(Thomas Brooks)

Se Satanás ousou utilizar as Escrituras para tentar nosso Senhor, não terá escrúpulos em usá-las para enganar os homens.

(Donald MacLeod)

Oração e vida santa são uma só coisa. Elas agem e reagem mutuamente. Nenhuma delas pode sobreviver sozinha. A ausência de uma implica a ausência da outra.

(E. M. Bounds)

A esperança nunca vai mal quando a fé vai bem.

(John Bunyan)

Quem contemplou de fato a cruz de Cristo não pode jamais falar de casos sem esperança.

(G. Campbell Morgan)

Para escapar ao erro da salvação pelas obras, temos caído no erro oposto da salvação sem obediência.

(A. W. Tozer)

Os auto-suficientes não oram; os auto-satisfeitos não querem orar; os auto-justificados não conseguem orar.

(Leonard Ravenhill)

Um coração orgulhoso e um monte elevado são sempre estéreis.

(William Gurnall)

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Comunhão Jessie Penn-Lewis Pecado Santidade Vida cristã

Comunhão com Deus

Como manter uma comunhão ininterrupta com Deus é a grande pergunta em muitos corações. Pois a nova vida espiritual, dada a nós quando recebemos o Senhor Jesus (Jo 1.12), só pode ser sustentada por comunhão constante com Deus, que é a sua fonte – assim como ocorre na esfera física: precisamos respirar uma vez e outra vez e ainda mais uma vez a fim de continuarmos vivendo.

Há muito que o bebê tem de aprender enquanto cresce, mas uma coisa antes de todas as demais ele deve fazer: deve respirar! Assim é com os filhos do Senhor: eles têm muito para aprender, e Ele tem muito para fazer no treinamento deles, mas, acima de todas as coisas, eles também devem respirar: respirar na nova vida, dia após dia, em comunhão com Ele. Eles devem, portanto, aprender como viver nessa viva união e comunicação com Ele, e Ele os conduzirá em outras questões de modo gentil, conforme forem capazes de suportar.

A palavra comunhão

O dicionário dá o significado da palavra comunhão como “conversa, intercâmbio de pensamento”, e descreve a comunhão como o ato de “consultar, conversar ou falar com outro”. Isto é o que a comunhão com Deus realmente significa: uma “consulta” incessante a Ele, uma abençoada conversa sobre todos os problemas e dificuldades que nos vêm em nossa peregrinação por este mundo mau de hoje.

O profeta Amós escreveu: “Podem dois caminhar juntos a menos que combinem [ou, marquem um encontro]?” (Am 3.3).

Deus marca um encontro para se reunir com o pecador na cruz do Calvário, e a conversa deve começar lá. Por natureza estamos em inimizade com Deus, mas Deus estava em Cristo reconciliando o mundo com Ele mesmo, e a paz foi feita pelo sangue na Cruz de Jesus (Cl 1.20). Assim, tudo está claro do lado de Deus, e Ele lança um apelo a Seus inimigos e marca um encontro para reunir-se com eles no Calvário, o lugar da reconciliação.

Como o Senhor Jesus pode viver em nós e manifestar Sua própria vida em nós, se não damos o trono inteiramente a Ele?

O lugar chamado Calvário

É aqui, à plena vista deste sacrifício maravilhoso do Filho de Deus (Hb 9.26), que Ele nos traz para o acordo Consigo mesmo. No início, são-nos mostrados nossos pecados pregados no madeiro com Seu Filho (1Pe 2.24), mas a salvação inclui muito mais do que isso. Devemos ser poupados de anos de lutas e fracassos se aprendemos de imediato, como aconteceu com os convertidos nos dias de Paulo, o apóstolo, que nós mesmos fomos mortos na morte de Cristo. O passado foi apagado, o pecador perdoado foi considerado crucificado com o Senhor crucificado, a partir dali unido a Ele e participando de Sua vida. Isso é de fato salvação! “Salvo por compartilhar de Sua vida” (Rm 5.10, Conybeare).

A vontade rendida

Para que essa salvação gloriosa seja percebida  em toda a profundidade de seu significado, é necessário que nos rendamos inteiramente a Deus (6.13). Como podemos ser libertados da escravidão do ego e do pecado, se retivermos alguma coisa para o ego? Como pode o Senhor Jesus habitar em nós e manifestar Sua própria vida em nós, se não damos o trono inteiramente a Ele?

Nossa vontade é tudo o que realmente temos de dar para nosso querido Senhor. Ele faz toda a obra se nós apenas O deixamos ter o direito absoluto da direção. Não podemos nem nos salvar nem nos livrar de nossos pecados, nem do ego de forma alguma. Ele nos remiu na cruz do Calvário e fará a obra em nós, se dermos a Ele o controle total. Ele apenas nos pede decisivamente que nos coloquemos do lado Dele contra tudo em nós e em nossa vida do que Ele deve nos colocar em liberdade (2Co 6.14-18).

Em resumo, devemos entregar-nos irrevogavelmente a Suas mãos, para que Ele faça de nós o que Lhe agrada; por Sua graça deve resolutamente dizer: “Sim, Senhor”, para cada indicação de Sua vontade.

O Espírito de Cristo que em nós habita

Quando rendemos a Ele todo o nosso ser, o Espírito Santo toma posse do coração e o limpa de seus velhos desejos (At 15.9) e revela o Cristo vivo como o habitante do que se rende, vivendo no espírito do redimido filho de Deus por Seu Espírito, para que possamos contar daqui por diante com “a provisão do Espírito de Jesus” (Fp 1.19) para todas as nossas necessidades.

O caminhar em feliz conversação começou. O próprio Pai nos ama, porque amamos Seu Filho (Jo 16.27), e Ele conversa com Seus filhos, sussurrando: “Viverei neles e neles andarei” (2Co 6.16).

O ponto mais importante nesse abençoado caminhar com Jesus é que não deve haver nenhuma falha na comunhão.

Depois do primeiro “acordo” com Deus, há muito o que aprender, e não devemos ser desencorajados ou acovardados se não entendermos de imediato como andar com Ele fielmente.

Condições para a comunhão

Vamos ver algumas condições para a manutenção da comunhão.

1. Devemos cuidar para dar ao Senhor de fato os primeiros momentos do dia para consultá-Lo sobre nossa vida

O Senhor precisa de tempo para soprar a Sua vida em nós e falar conosco sobre Seus propósitos para nós como revelado em Sua Palavra.

O Senhor precisa de tempo para soprar Sua vida em nós e falar conosco sobre Seus propósitos para nós como revelados em Sua Palavra. Deixe que a primeira meia hora, ou uma hora, do dia, se isso for possível, seja uma real comunhão de coração.

Vamos entrar em Sua presença e sentar aos pés de nosso Pai, aproximando-nos Dele com coração verdadeiro na plena certeza de fé, pois podemos contar com o acesso imediato mediante o sangue precioso de Jesus (Hb 10.19,20), tendo “ousadia para entrar no santo dos santos” por meio Dele.

Tendo entrado na presença do Pai pela fé, abra a Palavra escrita e peça a seu Pai para falar-lhe por meio dela. Volte a sua porção para aquele dia e a leia, não tanto para estudá-la quanto para escutar o que Deus, o Senhor, lhe dirá por ela.

Fale com seu Pai sobre ela, peça-Lhe para revelar seu significado, que alerta ela tem para você. Que repreensão? Que ordem? Que consolação? Enquanto você lê Sua carta, responda a Ele dizendo-Lhe que obedecerá assim que souber como; que confiará Nele para cuidar de você, para guardá-lo durante o dia que está começando. Então, derrame o desejo de seu coração diante Dele, seu desejo profundo de conhecê-Lo melhor e de ser Seu filho obediente.

2. Devemos nos alimentar da comida celestial provida a nós na Palavra do Deus (Mt 4.4)

Há uma vasta diferença entre alimentar-nos espiritualmente da Palavra do Deus (Jr 15.16) e estudá-la com o intelecto. Muitos gastam todo o tempo buscando entender todas as “coisas difíceis de serem entendidas” (2Pe 3.16), ou alimentando a mente curiosa com todos os problemas que podem encontrar, para que sua alma fique de fato faminta em meio da abundância. No horário da manhã, devemos aprender a tomar nosso desjejum espiritual (Jó 23.12).

Lembre-se de que o Espírito Santo é o autor do Livro; portanto, antes de lê-lo, reconheça a presença do Autor, fale com Ele e peça-Lhe para abrir seus olhos a fim de ver coisas maravilhosas na lei Dele.

Podemos pensar na Bíblia como um depósito de comida armazenada para os filhos de Deus durante sua peregrinação na terra, e podemos conhecer a porção que Deus proveu para nossa refeição matinal pelas passagens que são claras e simples para nós, já que o Espírito Santo distribui a cada um segundo sua necessidade e capacidade. Vamos ser como criancinhas e tomar o alimento que é conveniente para nós. Ao chegarmos às “palavras difíceis”, deixemo-las de lado, pois elas fazem parte do alimento sólido (Hb .14), provido para nossas necessidades nos anos futuros, quando formos filhos de Deus plenamente amadurecidos.

Vamos procurar por Deus em Sua Palavra, mais do que por conhecimento sobre Ele, e Ele vai nos revelar a Si mesmo cada vez mais. Ele nos ensinará como estudar Sua Palavra a fim de ganharmos o conhecimento exato dela, mas, principalmente, o que é realmente nosso é somente aquilo que somos capazes de assimilar e viver na vida diária.

3. Devemos aprender a viver momento a momento

Como temos visto, a comunhão com Deus se parece muito com a respiração: só pode ser mantida apenas um momento de cada vez. Devemos recusar a olhar para trás ou para frente, por mais que o inimigo possa nos tentar a assim fazê-lo. Vãs remorsos do passado e temores vagos pelo futuro nos atormentarão a  mente o bastante para quebrar nossa comunhão com Deus.

A mente não pode estar ocupada com dois assuntos ao mesmo tempo; por isso, temos de confiar em nosso Senhor para nos guardar permanentemente, até mesmo inconscientemente, enquanto damos nossa atenção completamente a nosso dever em fazer todas as coisas a Seu modo (Cl 3.23).

Mas suponhamos que saibamos ter errado: não deveríamos consertá-lo?

“Comungar” significa consultar-se com o Senhor. Faça isto imediatamente! Dê todos os “erros” reais e até os aparentes imediatamente a Ele. Quando você expuser sua causa diante Dele, peça a Ele para lhe mostrar tudo que deseja que você faça, algum passo que você tenha de refazer.

Se Ele lhe mostrar algo acerca de outra pessoa com quem você tenha errado, Sua Palavra é clara: “Confessai as vossas culpas uns aos outros” (Tg 5.16; ver também Mt 5.23; 18.15).

Isto é sempre necessário para não quebrar a comunhão: uma consciência livre de ofensa para com o homem bem como para com Deus (At 24.16)! Se nenhuma luz especial for dada, deixe todo o assunto com seu Senhor; Ele promete que “Sua glória [presença] será a tua recompensa” (Is 58.8). Ele pode organizar e endireitar tudo que está atrás de você bem como as coisas tortas diante de você. O passado e o futuro estão sob o Seu controle.

4. Devemos estar atentos em não ter nenhuma quebra na comunhão

Se estivermos de fato na caminhada com Deus, veremos que o abençoado Espírito nos faz cada vez mais sensíveis a qualquer brecha nessa santa amizade. Quando estamos conscientes de um fracasso real, devemos voar imediatamente para o trono da graça e nos lançar pela fé na presença de nosso Deus Pai (ver Hb 10.19,20), tendo assegurado o acesso por causa do sangue precioso de Jesus. Oh, precisamos entender mais e mais que viemos a Jesus, o Mediador, e ao sangue da aspersão que fala eternamente por nós no céu (12.22-24)! Somente Seu sangue nos dá a entrada à presença do Pai, não nossa experiência, não nossa obediência, nada, nada a não ser o sangue precioso.

5. Devemos tratar rapidamente com a falha

Não é fácil ir imediatamente a Deus quando conscientes de termos falhado. De fato, a batalha se volta mais sobre este ponto, pois, assim que vamos, somos salvos no próprio ir. O diabo, nossa consciência, nossa vergonha e nosso remorso combinam-se para nos manter longe. Temos um sentimento de que deveríamos primeiro ser “miseráveis” durante algumas horas! Parece tão presunçoso levar o pecado à luz, ousar correr para Deus imediatamente; e, contudo, se nós retardarmos, sabemos que uma queda é apenas a precursora de muitas. O pecado será a mesma coisa horrível e pior três horas mais tarde.

O caminho da vitória na hora da derrota é levantar imediatamente e ir ao Pai, dizendo: “Pai, pequei”, sabendo que está escrito: “E Eu disse: Depois que fizer tudo isto, voltará para Mim […] Somente reconhece a tua iniqüidade […]” (Jr 3.7,13).

É da confissão franca e imediata a Deus que o diabo procura nos afastar e, como não conhecemos bem nosso Pai nos primeiros dias, muitas vezes ele tem sucesso e ficamos afastados de Deus; até em amarga tristeza somos conduzidos para trás.

Veja aquele pobre jovem! Ele havia caído na lama e suas roupas estavam imundas. Talvez tenha sentado na lama e dito: “Eu jamais conseguirei me erguer e manter minhas vestes brancas!”

Não, filhinho do Pai, o desânimo e o lamento só aumentam seu pecado. Levante-se e volte para seu Pai, clamando pelo  sangue precioso, pois “quando ainda estava longe, o seu pai o viu, e, movido de íntima compaixão, correndo, lançou-se ao pescoço e o beijou” (Lc 15.20).

Devemos, contudo, nesse ponto, enfatizar que a transgressão e a restauração constantes não são o objetivo de Deus para os Seus remidos.

O Senhor é capaz de nos guardar de tropeçar.

6. Devemos esperar não cair

Não devemos esperar cair muitas vezes no mesmo pecado, pois o Senhor vivo (Hb 7.25) é capaz de nos guardar de tropeçar (Jd 24). Uma quebra na comunhão mostra que a alma está fora do poder guardador de Deus, e, quando ela vai ao Senhor para restauração, deve esperar diante Dele para saber a causa de sua transgressão: provavelmente algum passo fora da vontade de Deus, pois somente no caminho de Sua vontade Deus se compromete a guardar-nos.

Está escrito: “Se andarmos na luz, como Ele está na luz […] o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos limpa de todo o pecado” (1Jo 1.7). À parte da confissão definida, quando estamos conscientes do fracasso definido, precisamos da aplicação contínua do sangue precioso para manter a comunhão límpida com Deus (1Pe 1.2), e podemos contar com isso se andarmos na luz. Isso está explicado em João 3.21: “Quem pratica a verdade vem para a luz, para que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (ver tb. Ef 5.3).

O sangue de Jesus limpa (gr., continua a limpar) se incessantemente vivermos sob o holofote de Deus, desejando sinceramente que Ele teste (1Ts 2.4) nossa vida, já que toda a obra é feita por Ele e Nele para Sua glória.

Mas e se estivermos conscientes de que há algo bloqueando a comunhão e não soubermos a causa?

Mais uma vez, o remédio é consultar o Senhor. Vá uma vez mais ao trono da graça e peça à Fiel Testemunha (Ap 3.14) para dizer-lhe a verdade e mostrar-lhe o que está errado. Confie que o bendito Espírito irá aplicar o sangue da aspersão, e, enquanto você aguarda, se nada específico é trazido a sua mente, deixe tudo com Deus e siga em calma confiança e descanse sob o sangue purificador. Cuide para não ficar morbidamente ocupado consigo mesmo, pois isso é introspecção, e, se você voltar-se para si mesmo, perderá a comunhão com o Senhor.

Alguém pode dizer: “Sim, eu volto imediatamente a Deus quando estou consciente de ter falhado, e confesso, mas não há a imediata restauração da paz e a consciência da comunhão”. Pode haver uma ou duas razões para isso.

  1. Não conhecemos suficientemente a eficácia do sangue precioso para trazer-nos a certeza da paz. É mesmo possível que possamos, inconscientemente, estar confiando mais em nossa confissão do que na operação de Deus pelo Espírito Santo. Não é a confissão, mas a aplicação do sangue purificador pelo Espírito Santo que restaura imediatamente a comunhão quebrada com Deus. A confissão do pecado é o lado humano, a condição necessária para Deus cumprir Sua parte de perdão e purificação.
  2. Quando pecamos contra o Senhor, e O buscamos para o perdão, devemos nos deixar humildemente em Sua mão para que Ele nos trate como achar apropriado. Ele conhece nosso caráter, e para alguns de nós poderia parecer que o pecado não é tão excessivamente pecaminoso se Ele rapidamente restaurasse o gozo de nossa salvação (Sl 51.12). Pode até ser possível que confessemos nosso fracasso com a tristeza pela perda da alegria, e não com a tristeza por causar dor a Ele. Ele precisa ensinar a Seus filhos quão pecaminoso é o pecado, e fazê-los entender quanto Ele é ofendido (Ef 4.30), muito embora o sangue precioso nos limpe e estejamos novamente em comunhão com Ele (ver Mq 7.7-9).

7. Devemos andar em obediência direta à luz

Se devemos andar em comunhão com o Senhor, é razoável que Ele espere que obedeçamos à toda luz que Ele nos dá, e podemos tomar Dele o espírito de obediência para nos capacitar a obedecer (Ez 36.27). “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo 1.14), Ele disse a Seus discípulos, e a amizade com Jesus deve significar que nos alegramos em cumprir cada desejo Dele.

Se andarmos em obediência no que é de nosso conhecimento, podemos certamente confiar que o fiel Senhor nos parará no momento em que nos vê perto de dar um passo incorreto (Is 30.21). Deve ser dito, como regra, que a marca de andar no caminho da vontade de Deus é um profundo descanso de coração.

É melhor nunca agir quando estivermos em qualquer condição agitada ou apressada da mente; por isso, temos de cultivar a tranqüilidade de espírito e a consciência da presença do Espírito de nosso invisível Amigo.

8. Devemos nos lembrar que a tentação não é pecado

O adversário faz disso sua ocupação para cortar a comunicação entre a alma e o Senhor. Ele ajusta suas táticas àquele que está atacando e atormenta as almas sensíveis procurando mantê-las em constante condenação (veja suas razões em 1Jo 3.21,22) a uma suposta desobediência ou falta de rendição. Se algum passo de obediência é sugerido, e a alma recuar, o maligno de imediato dirá: “Não está rendida!”

O remédio para isso é, mais uma vez, o mesmo: consultar-se com o Senhor.

Enfrente todas as acusações de falta de rendição pela entrega definitiva ao Senhor do ponto específico em questão. Diga-Lhe que Ele sabe que você vai obedecer se puder ter certeza de Sua vontade, e, então, descanse na fidelidade de seu Deus Pai para tornar claro o caminho para você. Ele não espera que Seu filho obedeça sem conhecimento claro da mente do Pai. Sempre que há uma dúvida, é sempre bom submeter o assunto a Deus e esperar, certo de que Ele se encarrega disso.

A tentação não é pecado. Alguém utilmente definiu a verdadeira transgressão como o sim da vontade à tentação. Se a vontade imediatamente rejeita qualquer sugestão maligna, o tentador foi frustrado em seu ataque, embora mesmo nessa situação seja mais seguro buscar de imediato que o Espírito Santo aplique o sangue de Cristo – tão delicada é a comunhão com Deus.

É da maior importância que aprendamos a viver na vontade, e não no campo de nossos sentimentos. A vontade é o ego, a verdadeira pessoa, e é mediante o poder central da vontade que Deus nos controla.

Em todos os ataques da tentação, seja ela súbita ou aguçada, mantenha a calma. Mesmo que multidões de pensamentos terríveis sejam derramadas por  sua mente, volte-se de pronto para seu Senhor, e silenciosamente estabeleça diante Dele sua atitude com respeito a todas essas coisas. “Vou escolhê-las ou recusá-las?” “Eu as rejeito!”; então, graças a Deus!, é vitória; o inimigo é posto em fuga.

Por fim, não vamos desonrar nosso Senhor pensando que toda coisa desagradável deve ser Sua vontade. Se estivermos realmente rendidos a Ele, procurando fazer Sua vontade e andando com Ele em comunhão e obediência, tanto quanto pudermos, experimentaremos o que Ele disse: “É Deus que opera em vós tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13). “Porei as Minhas leis em seus corações, e lhes escreverei em suas mentes” (Hb 10.16).

Contanto que em nossa vontade estejamos firmemente decididos a obedecer a Ele, e confiamos a Ele cada momento para nos impedir da busca própria e da auto-indulgência em todas as formas, podemos confiar Nele para inclinar o nosso coração para guardar Sua lei.

Assim, comprovaremos realmente que Seus mandamentos não são penosos e veremos que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve.

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (2Co 13.14).

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Gotas de orvalho (50)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

Um pequeno feixe da vontade de Deus está sempre atado a cada hora.

(F. W. Faber)

Aquele que crê no Senhor não se preocupa com o amanhã, mas labuta alegremente com o coração sereno.

(Martinho Lutero)

Antes que nosso conhecimento possa ser de muito proveito para outros, deve tornar-se um canal de comunhão secreta entre nossa própria alma e Deus.

(Robert C. Chapman)

A fé são os pés que nos levam a Jesus. Pés aleijados ainda são pés. Aquele que vem vagarosamente, de alguma forma vem.

(George Müller)

Aqueles que apreciam a graça com mais profundidade não continuam no pecado. Além disso, o medo produz a obediência dos escravos; o amor gera a obediência dos filhos.

(J. W. Sanderson Jr.)

Devemos nos aproximar da Palavra de Deus não apenas com fé e com amor, mas com o desejo de obedecer.

(Ruth Paxon)

O evangelho tem de ser antagonista a tudo o que é contrário a Deus.

(C. A. Fox)

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Gotas de Orvalho (42)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

O caminho para uma nova unção de poder, tanto individual como coletiva, poderia ser como segue: em primeiro lugar, renunciar a todo pecado conhecido; em segundo lugar, confessar com pesar por termos fracassado, lamentavelmente, satisfeitos por longos anos com o status quo; em terceiro lugar, buscar a face do Senhor em fervorosa oração; e, finalmente, estudar diligentemente a Bíblia, a fim de descobrir as promessas de Deus para esta geração perdida e para as necessidades das igrejas.

(Leonard Ravenhill)

Se você parar de buscar satisfação em Deus, você vai parar de amar as pessoas.

(John Piper)

Se realmente conhecemos a Cristo como nosso Salvador, nosso coração é quebrantado, não pode ser duro, e não podemos negar o perdão.

(Martyn Lloyd-Jones)

Em todos os nossos pensamentos acerca de Cristo, nunca esqueçamos de Sua segunda vinda.

(J. C. Ryle)

A felicidade não consiste em possuir aquelas coisas que não podem consolar a um homem em seu leito de morte.

(Thomas Brooks)

Os que se afastam de Deus nunca podem achar repouso em nenhuma outra parte.

(Mathew Henry)

Ouvir mandamentos e deixar de lhes obedecer é infinitamente pior do que nunca os ter ouvido, especialmente à luz do iminente retorno de Cristo e Seu juízo vindouro.

(A. W. Tozer)

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Vida cristã

Compra a verdade e não a vendas

“Que é a verdade?” (Jo 18.38). Pilatos, com a consciência intranqüila, tendo feito essa pergunta a Jesus e sem esperar pela resposta, saiu para tentar desviar o povo de suas intenções homicidas. Todos estavam sob o poder de Satanás, pai da mentira e homicida desde o princípio (8.44). Pouco depois, o povo gritou: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

A pergunta permanece. Em todos os tempos, os sábios da terra têm tentado em vão respondê-la apenas com os recursos de sua mente. Essa pergunta deveria atormentar cada vez mais o mundo, se seu chefe não o seduzisse a fim de arrastá-lo para o juízo eterno.

Mas há uma resposta para toda alma que se inclina, pela fé, diante da tríplice declaração de Jesus:

“Eu sou […] a verdade” (14.6).
“Tua Palavra é a verdade” (17.17).
“O Espírito é a verdade” (1Jo 5.6).

Aquele que crê em Jesus Cristo, por quem veio a verdade:

  • é libertado do domínio de Satanás e dos enganos dos homens: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4.14).
  • conhece a verdade, e esta o liberta: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).
  • está no Verdadeiro: “Sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).
  • a verdade está nele e ele está na verdade: “Por amor da verdade que está em nós, e para sempre estará conosco” (2Jo 2). “Disse-lhe, pois, Pilatos: ‘Logo, tu és rei?’ Jesus respondeu: ‘Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz’.” (Jo 18.37).
  • anda na verdade: “Muito me alegrei quando os irmãos vieram e testificaram da tua verdade, como tu andas na verdade” (3Jo 3).
  • escuta a voz de Jesus, a voz da verdade: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (Jo 10.27).

Que graça, portanto, crer na verdade! Todos os que não crêem na verdade, mas se comprazem com a mentira, serão condenados (2Ts 2.12).

Como comprar a verdade?

Essa compra exclui, é importante dizer, a idéia de um preço que há de ser pago, de uma soma que se há de desembolsar. A prata não é pesada para comprar a verdade (Jó 28.15); nenhum recurso humano permite sua aquisição. Só a fé permite possuí-la, com a salvação que Deus dá em Jesus, seu dom inefável (2Co 9.15).

Então, nenhum sacrifício é necessário para essa bem-aventurada aquisição? Por certo que é! Primeiramente, uma renúncia de todo o ser, que se submete, segundo a obediência da fé (Rm 16.26), à ação do Espírito da verdade. Então, por Sua própria vontade, Deus opera na alma esse nascimento pela palavra da verdade (Tg 1.18). É a conversão.

Pensemos no apóstolo Paulo, interpelado por Cristo no caminho para Damasco. Se conhecemos nosso coração um pouco, compreenderemos o sentido da frase do Senhor: “Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Paulo deveria abandonar toda a justiça própria, que exalta o homem, na qual se deleitava (Fp 3.4-9).

Esse é o preço que todos devemos aceitar para que nos seja possível comprar a verdade. Quantas pessoas tropeçam diante da necessidade de considerar como escória (v. 8) o que produz orgulho de sua vida, reta aos próprios olhos! Não é nada mais que escória! Que menosprezo por seu esforço por fazer o bem, por sua conduta digna, pela consideração dos demais, em que até agora estavam satisfeitas!

Mas, ao considerarmos como escória, concordamos com o Deus justo e santo, o qual nos mostra nosso estado de morte em nossos delitos e pecados. Essa convicção de pecado é ainda o trabalho de Sua graça em nosso coração. Essa é a primeira condição para a aquisição da verdade. Vamos, sem recursos próprios, despojados de toda pretensão, desprovidos de todo bem segundo Deus, e aceitamos o que Deus declara: “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.10,11).

Quantas pessoas tropeçam diante da necessidade de considerar como escória o que produz orgulho de sua vida, reta aos próprios olhos!

Então, também se faz ouvir a voz de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Nesse momento, Deus pode nos dizer: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Pv 23.26). É como uma segunda condição que Ele estabelece. Essa única coisa que Ele nos pede deixa de lado todo o atrativo que o mundo apresenta a nosso coração, pois acrescenta: “E os teus olhos observem os meus caminhos”.

Dar o coração… Freqüentemente essa expressão de Provérbios é usada para falar da conversão. Mas uma verdadeira conversão não é somente a adesão a um ensinamento bíblico; não pode acontecer de uma simples aproximação do coração produzida pelo evangelho. Não, pois dar o coração a Deus, ao Salvador, implica o que o Senhor disse ao jovem rico: “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz e segue-me” (Mc 10.21). É a renúncia àquilo que até agora dominou o coração; é a obediência à verdade. Assim se compra a verdade. Todo o ser é agarrado por Cristo e, desde então, deseja apegar-se a Ele, aceitando também o peso de Seu opróbrio e do desprezo do mundo.

Dar o coração é mais do que a intenção de nutrir a imaginação ou de progredir no conhecimento religioso. Se não damos verdadeiramente todo o nosso coração a Jesus, para conhecer a verdade Nele e andar na verdade, podemos estar certos de que ficaremos entre os que sempre aprendem sem, contudo, chegar ao conhecimento da verdade (2Tm 3.7). É um estado de alma enganoso e cheio de perigos.

Não vender a verdade!

Mas Provérbios 23.23 também apresenta um dever com respeito à verdade: “Não a vendas”. Essa ordem se refere unicamente ao fato do Senhor ter dito: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8) e: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35)? O apóstolo apresentava “de graça o evangelho de Cristo” (1Co 9.18). Por acaso, era para fechar a boca dos incrédulos, inclinados a dizer: “O cristianismo é uma religião de dinheiro; sempre nos é pedido para dar, até mesmo para ter um lugar no céu”? Não, pois seria anular o que Deus disse e repetiu: “Vinde […] os que não tendes dinheiro […] vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço” (Is 55.1). A salvação é o dom [presente] de Deus em Jesus, o qual é, Ele mesmo, o dom de Deus.

Portanto, qual é o sentido desta ordem relacionada com a verdade: “Não a vendas”? No campo das coisas terrenas, alguém não se desprende, nem mesmo por um grande preço, daquilo que quer muito; freqüentemente, o coração se apega mesmo aos objetos materiais como se eles tivessem alma. Evocam-se tantas recordações, o querido passado tem tanto valor para o coração… Vender a verdade? Instintivamente, o fiel se nega a fazê-lo. No entanto, tenhamos cuidado, porque há tantas maneiras de manifestar que a verdade, ao final das contas, não nos é tão preciosa como o afirmamos com palavras.

A esse respeito, lembremos dos mais humilhantes exemplos da Palavra.

  1. Esaú vendeu sua primogenitura por um prato de lentilhas. Naquele momento de cansaço produzido pela tarefa de caçar, que lhe importavam as promessas feitas a Abraão e a espera “da cidade que tem fundamentos”? Perdeu todo direito à bênção, pelo que foi rejeitado, ainda que a tenha buscado com lágrimas (Hb 11.10; 12.16,17).
  2. Judas, em quem Satanás ia entrar, já havia concluído com os homens religiosos e os chefes do povo o trato abjeto: por trinta peças de prata vendeu o Justo (Am 2.6) e entregou o sangue inocente. Por trezentos denários teria vendido o perfume de Maria, que era de um valor incalculável para o coração do Salvador.

Esses são os solenes descarrilhamentos do incrédulo ou do coração manchado com a horrível lepra do amor ao dinheiro. Nós, cristãos, estamos igualmente expostos a falhar, ainda que em menor grau; e isso seria um real menosprezo à verdade e às riquezas que ela contém em Jesus.

Podemos estar inclinados a vendê-la muito barato quando, por exemplo, desconhecendo o valor de congregar-nos em torno do Senhor, menosprezamos Seu dia santo ao andar em nossos próprios caminhos (Is 58.13,14), buscando distrações e prazeres mundanos em lugar dos benefícios de Sua presença no meio dos Seus. “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”, é a exortação apostólica (Hb 10.25).

Temamos que nosso coração se aparte da verdade que está em Cristo Jesus. Manifestar indiferença a Seu respeito ou abandonar a verdade ainda que em pequena medida seria vendê-la. Mantenhamos nossa alma purificada “pelo Espírito na obediência à verdade” (1Pe 1.22).

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (Pv 4.23). Querido irmão, não esqueça dessa exortação. Se você entregou verdadeiramente seu coração ao Senhor, você permitiria que ele se unisse, quer aos incrédulos – o que seria a pior maneira de vender a verdade em lugar de estar a ela submisso –, quer mesmo a cristãos, os quais lhe levariam para fora da senda da fé traçada por Deus, no meio da confusão que reina na cristandade professante, ou seja, sem a vida?

Quantas vidas malogradas existem por falta da comunhão em Deus e com Deus e quantos problemas no lar, dia após dia! Que o Senhor guarde você. Não venda a verdade, à qual você deve estar submisso, quando a Palavra lhe ordena a não se unir em “jugo desigual” (2Co 6.14,15).

Temamos que nosso coração se aparte da verdade que está em Cristo Jesus.

Além disso, para nós, hoje, é grande o perigo de conceder à verdade menos valor do que teve para os que nos precederam no caminho da fé. Aqueles, por sua fidelidade, trabalharam para edificar “um muro” (Ez 13.5) para salvar sua alma e a nossa. Em seu tempo, eles compraram a verdade, pondo o conhecimento da verdade segundo Deus acima dos laços, ainda que muito estreitos, que os uniam a outros. Com verdadeira dor no coração, esses crentes fiéis se afastaram da cristandade professante, por obediência ao Senhor, para encontrar-se com Ele fora do arraial (Hb 13.13).

Agora nos compete fechar as brechas nesse muro que deixamos que fossem abertas no tocante a nossa segurança, com respeito a esse testemunho que devemos dar ao Senhor. Todos temos de velar sobre nossa alma. Não vendamos a verdade que era tão preciosa para aqueles cristãos fiéis no princípio do século 19.
Podemos compreender um pouco que o coração daqueles crentes foi agarrado pela verdade, ao constatar quão pouco havia, em sua época, do verdadeiro ensinamento evangélico. Que pobreza espiritual no que era pregado! Um evangelho privado de toda a sua substância divina, carente da pregação da cruz! Essas almas despertadas tinham fome da Palavra de Deus e sede da verdade!

Então, Deus levantou irmãos piedosos, mentes esclarecidas pelas quais Ele operava, afastando-os de toda organização humana, consagrando-os ao bem do rebanho, apresentando aos irmãos Cristo como alimento. Então, todas as verdades que emanam de Sua obra e dizem respeito a Sua pessoa, na expectativa de Seu regresso, foram recebidas com alegria e diligência por esses corações cujo caminhar na senda da verdade é-nos proposto como exemplo (Hb 13.7). E ainda hoje nos beneficiamos de sua fidelidade.

Não cedamos a um pessimismo que faz esquecer a graça do Deus fiel. Talvez nos oprima o sentimento dos esforços redobrados do adversário para prejudicar-nos. Ele sempre tentará fazer-nos desprezar a Palavra, nosso verdadeiro tesouro. Portanto, ponhamos cada vez mais atenção ao mandamento divino: “Compra a verdade e não a vendas”.

(L. G.)

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Uma grande missão (E. A. Bremicker)

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).

Essa missão data de quase dois mil anos, mas não perdeu nada de sua atualidade. Por meio dessas palavras, o Senhor ressurreto põe no coração de Seus discípulos levar a mensagem do Evangelho por todo o mundo. Poderia haver uma missão mais importante?

Os discípulos haviam vivido três anos com o Senhor Jesus. Haviam ouvido como o Perfeito profeta de Deus falou às multidões. Viram como curou e salvou a muitos. Foram testemunhas de Sua crucificação; a seguir O viram ressuscitado no meio deles. Seu Senhor era o Vencedor sobre a morte. Inicialmente, não quiseram crer em Sua ressurreição, e o Senhor teve até mesmo de reprovar-lhes a incredulidade e a dureza de coração (Mc 16.14). Apesar de tudo, agora recebem esta grande missão: ir por todo omundo a fim de anunciar a mensagem da cruz.

Nenhum de nós viu o Senhor Jesus com os próprios olhos. E, no entanto, todos aqueles que O aceitaram pela fé tiveram um encontro pessoal com Ele. Nós O conhecemos como aquele que morreu, foi sepultado e ressuscitou vitorioso. Nós nos apropriamos de tudo isso pela fé e com o coração. E, com os olhos de nosso coração, podemos vê-Lo agora no céu, à destra de Deus.

Aquele cujo coração está cheio da pessoa de seu Senhor também fala disso. Se nosso privilégio é abrir a boca diante Dele para expressar-Lhe nosso agradecimento pelo que fez de nós, não esqueçamos que nos deu a missão de ir ao mundo a fim de levar aos homens as boas-novas. Vamos tratar desse tema agora.

Quem dá esta missão?
O próprio Senhor Jesus. Aquele que, na Terra, falou aos homens da parte de Deus. Aquele que, como prova de Seu amor por cada um de nós, deu a vida na cruz, entrou na morte, foi sepultado, ressuscitou vitorioso e ascendeu ao céu. Ele não teria o direito de dar essa missão? E aqueles a quem redimiu não devem cumpri-la? Poderíamos rejeitá-la?

A quem foi dada?
Quando o Senhor pronunciou essas palavras, dirigiu-se primeiramente aos onze discípulos. Que tipo de homens eram? Todos haviam abandonado a seu Senhor diante do perigo. Pedro até O negou. Quando chegou o momento de sepultar o Senhor, nenhum deles teve coragem de pedir Seu corpo. E quando lhes foi anunciada Sua ressurreição, não creram (Mc 16.11-13). O Senhor teve de repreendê-los por sua incredulidade. Era possível que uma missão tão importante fosse dada a mensageiros tão imperfeitos? Apesar de tudo, o Senhor o fez. Nós não somos melhores que os discípulos! E, apesar disso, Jesus quer empregar hoje pessoas fracas e insignificantes como nós. Não temos em nós mesmos nenhuma qualificação para o serviço e para o testemunho, mas o Senhor quer fazer-nos capazes.

Ide
O Senhor disse expressamente: “Ide”. Isso significa que devemos levantar-nos e mover-nos. Não devemos esperar que as pessoas venham a nós nem contentar-nos com fazer com que venham. Somos nós os que devemos tomar a iniciativa e ir. O cristão tem um campo de atividade no exterior, sobre o terreno. Esse serviço começa ali onde o Senhor nos colocou. Ir significa ser ativo. A esse respeito, tenhamos cuidado de não confundir atividade com ativismo. Quando a atividade se converte em um fim em si mesma, não fazemos mais do que dar voltas em vão ou golpear o ar. Se desejamos ser ativos, deve ser por amor ao Senhor e em obediência a Ele, que fez tudo por nós, e não para satisfazer o desejo carnal de aparecer.

Por todo o mundo
O Senhor disse: “Ide por todo o mundo”. Para os discípulos isso era uma nova dimensão. Estavam acostumados a pensar nos limites de Israel, e o serviço do próprio Jesus não havia passado desses limites até aquele momento. Mas a grande missão que lhes era dada agora acabava com esses limites. No entanto, notemos que “todo o mundo” começa em nossa casa. O primeiro lugar onde devemos dar testemunho do Senhor Jesus é o lugar em que vivemos. Ali começa nosso “campo misionário”. O Senhor usa somente aqueles que são fiéis nas pequenas coisas e dirigirá a cada um como melhor Lhe parecer, segundo Sua sabedoria.

Pregai
O “meio” pelo qual se difunde o evangelho é a pregação. O Senhor disse “Ide […] pregai”. Paulo, mais tarde, disse que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Disso procede a exortação a Timóteo: “Prega a palavra” (2Tm 4.2). Não devemos levar aos homens um evangelho adaptado ao século em que vivemos, mas a Palavra de Deus. E, para isso, não é necessário ser um pregado profissional. Às vezes temos ocasião de levar o evangelho a alguém com quem temos um encontro pessoal. Esse é sempre um meio muito bom. Também há “pregadores silenciosos”, que são um folheto ou uma revista evangélica. Enfim, não esqueçamos de que todas as nossas atitudes, nossos atos e gestos devem ser uma pregação visível (veja Fp 2.15).

O evangelho
As boas-novas são “o evangelho da […] salvação” (Ef 1.13), pois elas trazem libertação ao homem perdido. É o “evangelho da graça de Deus” (At 20.24) porque revela que Deus está cheio de graça para o pecador. Por ele, o homem sabe que, se o Deus justo e santo pode lhe oferecer a salvação e a vida, é porque deu Seu próprio Filho em propiciação pelos pecados. A expressão “evangelho de Deus” (1Ts 2.9) nos mostra que Deus é a origem; e é o “evangelho de Jesus Cristo” porque Ele é o centro. E, uma vez que o Senhor Jesus está glorificado no céu, o evangelho inclui não somente a mensagem dirigida aos perdidos, mas também proclama todas as riquezas que Deus deu a quem crê em Cristo (veja Rm 1.15). Quão ricas são estas boas-novas de Deus que nos são anunciadas! E é precisamente esta a mensagem que devemos transmitir.

A toda criatura
A mensagem de Deus se dirige ao mundo inteiro, a todos os seres humanos. Não há nenhum homem na Terra ao qual não se dirija essa mensagem. Todos podem e devem vir. Todos estão convidados. “A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Não importa sua raça, nacionalidade ou posição social, as boas-novas de Deus são para todos. Ele quer salvar a todos. A única condição é que reconheçam que estão perdidos. O Senhor Jesus disse: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” (Mc 2.17).

Levamos a sério, pessoalmente, a missão que o Senhor confiou a Seus discípulos? Não se trata do que meu irmão ou minha irmã faz, mas do que eu mesmo devo fazer. Depois de ter confiado essa missão a Seus discípulos, “o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus” (16.19). O Evangelho de Marcos termina mostrando-nos os discípulos obedecendo à ordem recebida: “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém” (v. 20).

Para terminar, vamos recordar as palavras dos quatro homens leprosos de Israel que, depois de chegar ao acampamento dos sírios e ver a grande libertação que Deus havia operado a favor de todo o povo, primeiro guardaram para eles o espólio e “então disseram uns para os outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, algum mal nos sobrevirá” (2Rs 7.9). Alguns dias depois da ascensão do Senhor, dois dos discípulos disseram: “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4.20). Que estas palavras nos animem a cumprir fielmente a missão que o Senhor entregou a Seus discípulos há muito tempo!

(Traduzido por Francisco Nunes do artigo “Una grand misión”, revista Creced, n. 2/2014, marzo-abril, publicada por Ediciones Bíblicas, Perroy, Suíça.)

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, exclusivamente de forma gratuita, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria como de tradução.)

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Submissão e desobediência (Ralph Mahoney)

Introdução

É possível ser submisso e, ao mesmo tempo, desobedecer. Paulo nos diz em Romanos 13.1-2: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.”

Poderíamos pensar que essa passagem ensina obediência incondicional a qualquer classe de autoridade. Na realidade, ela deve ser aplicada aos governadores descritos no verso 3, que diz: “Porque não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal”. Mas alguns governantes são o oposto disso. Eles aterrorizam os que fazem o bem e recompensam os que fazem o mal.

Estive em Uganda depois que Idi Amim assumiu o poder. Ele era um bom exemplo daquele tipo de governante iníquo. E eu afirmo que obedecer a pessoas como ele não é a vontade de Deus para as nossas vidas.

Realizamos um seminário em Burundi, em 1969, e havia uma atmosfera de tumulto no país. Várias centenas de irmãos africanos assistiram ao seminário. Eram homens de Deus muito amados. Logo depois do nosso seminário, aquele país teve uma mudança de governo.

Dois grupos de tribos rivais compunham a base da população de Burundi. Um dos grupos era amigável aos europeus, mas o outro lhes era hostil. Foi este grupo hostil que tomou o poder. O resultado foi uma guerra civil. Houve uma carnificina. Entre outras coisas, o novo governo ordenou que todos os pastores se apresentassem para serem presos (a tribo que mantinha amizade com os europeus era bem evangelizada). Para nossa consternação, alguns dos pastores que assistiram ao nosso seminário se apresentaram e foram mortos. Eles tinham um conceito errado acerca de submissão. Eram homens a quem eu havia ministrado. Muitos deles eu considerava como amigos.

Isso me fez revisar alguns ensinamentos sobre submissão muito em voga nos nossos dias. Não havíamos ensinado nada acerca de submissão àqueles pastores. Mas gostaria que tivéssemos prestado mais atenção ao que o Espírito dizia naquele seminário, porque ele estava nos avisando sobre o tumulto que se avizinhava. Se tivéssemos instruído bem aqueles pastores a que não obedecessem a esse governo hostil e a que, pelo contrário, resistissem a ele e fugissem, muitos talvez estivessem vivos agora.

O governo e a liderança aos quais Deus quer que obedeçamos são aqueles que se fazem terror para as más obras e que condecoram as boas. Mas quando um líder ou governo fica enlouquecido, devemos resistir-lhe.

O Que é Submissão

Submissão não tem nada a ver com a obediência em si. Submissão não é uma obediência inquestionável à autoridade; não é a resposta cega a todo tipo de ordem. Submissão é uma atitude do coração. É uma vontade firme de seguir as instruções que não violem:

(1) o que Deus nos diz (At 4.17-30); ou

(2) o que a Bíblia nos ensina (Js 1.8; Is 8.20; At 17.11); ou

(3) o que nossa consciência nos diz (At 24.16; Rm 14.23; 1 Pe 2.19; 2 Co 4.2; 2 Co 1.12; 1 Co 8.7-12;10.29).

Dentro desses limites, é bom que nos submetamos àqueles que nos dirigem no Senhor, no governo, na sociedade e no lar. Fora desses limites, devemos aprender a desobedecer, mantendo sempre no coração uma atitude de submissão.

Três Jovens Hebreus

O rei Nabucodonosor fez um grande ídolo de ouro (Dn 3) e o erigiu na planície de Dura. Para a dedicação do ídolo, ele estabeleceu as regras pelas quais todo o povo se prostraria e adoraria a imagem. Qualquer um que deixasse de cumprir esta ordem seria lançado na fornalha ardente.

Isso se transformou numa situação difícil para os três jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles eram submissos e queriam servir ao rei, mas disseram-lhe: “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18).

Esses homens tinham coragem. Eles eram submissos. Mas o que o rei pedia contrariava as Escrituras. Por isso foram lançados na fornalha ardente, mas Deus estava com eles e os manteve vivos e salvos.

Os Apóstolos

No Novo Testamento, os apóstolos foram presos por pregar o evangelho (At 4). No dia seguinte, os membros do Sinédrio chamaram a sua atenção para que não pregassem mais sobre Jesus. Mas Pedro insistiu em afirmar que para eles era mais importante obedecer a Deus que aos homens. Completamente frustradas, as autoridades deixaram-nos ir embora. Mais tarde, porém, as autoridades ficaram ainda mais alarmadas pelas atividades dos apóstolos.

“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública. Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5.17-20).

Onde houver líderes hostis ao evangelho ou aos mandamentos de Deus, devemos resistir-lhes. Deus é a mais alta autoridade e devemos ser submissos a ele em todo o tempo. Esses homens não eram rebeldes. Eles queriam apenas seguir ordens razoáveis. Mas quando as autoridades se tornam um terror para as boas obras, ou quando suas ordens violam os mandamentos de Deus, então devemos obedecer a Deus antes que aos homens. E da mesma forma como o Senhor ficou ao lado dos três na fornalha ardente, ele enviou o seu anjo à prisão para libertar os apóstolos.

Jônatas, um Filho de Rei

Jônatas era filho de Saul e este lhe disse que matasse Davi (1 Sm 19.1). Eu creio que os filhos devem obedecer a seus pais. A Bíblia ensina assim. Mas quando Jônatas recebeu ordem de matar, qual era sua obrigação diante da Palavra, diante de Deus e dos propósitos divinos? Era obedecer a Deus e desobedecer a seu pai. Nem sempre submissão significa obediência.

Jônatas não era um rebelde; era submisso. Mas foi desobediente neste caso. Desobedeceu a Saul porque Saul era um líder a quem Deus já havia rejeitado.

Há muitos líderes no mundo de hoje os quais o Senhor rejeitou. Deus requer de nós que nos alinhemos com sua Palavra e seus propósitos e não obedeçamos a tais líderes. Submissos, sim; obedientes, não.

Talvez haja no seu emprego pessoas que querem que você minta e defraude em favor da empresa, ou que acompanhe líderes sindicais trapaceiros. Você não deve violar as Escrituras à guisa de estar em submissão. A sua responsabilidade é tomar uma posição aberta em favor daquilo que é certo.

As Parteiras Hebréias

As parteiras hebréias de Êxodo 1 também nos instruem neste assunto. “O rei do Egito ordenou às parteiras hebréias, das quais uma se chamava Sifrá, e a outra Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o, mas se for filha, que viva. As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os meninos” (vv. 15-17). Viva! para mulheres como estas que se levantam contra o mandado do rei, porque temem mais a Deus do que ao rei. “E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família” (v. 21). Elas foram premiadas por sua fiel desobediência.

Não estou aqui encorajando a rebelião contra o que é certo, justo e bom.

Necessitamos de autoridade se queremos ordem. Todos nós devemos aprender a submissão. Mas uma obediência inquestionável ou cega a uma liderança errada não é a vontade de Deus para nossas vidas.

A Esposa Que Morreu

“Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (At 5.1). Estavam fazendo aquilo para demonstração exterior, tentando fazer o povo crer que eram espirituais quando, na verdade, em seus corações, estavam agarrados ao dinheiro.

Deus julgou-os por hipocrisia. Primeiro, Ananias entrou e contou sua história enganosa e, logo em seguida, morreu. Depois, sua esposa Safira entrou e ratificou a mesma versão. Ela morreu porque estava em cumplicidade com o erro. Mesmo sendo uma esposa submissa, ela deveria ter desobedecido. Safira teria permanecido viva se tivesse deixado de cooperar com o plano do seu marido. Necessita-se de muito mais coragem para desobedecer do que para seguir a multidão.

Quem sabe você é uma mulher cristã, casada com um marido descrente; não é fácil quando ele lhe pede para fazer algo errado. Talvez ele queira que você o acompanhe em filmes censurados ou que faça outra coisa que você sabe ser errada. Não viole sua consciência nem as Escrituras quando aplicadas à sua vida, pois você dará contas a Deus pela maneira como recebeu essas autoridades superiores.

Isso nos coloca numa posição bem apertada no lar, no emprego, no governo ou onde quer que sejamos chamados a estar comprometidos com aquilo que é reto. Temos que desobedecer às ordens pecaminosas, senão sofreremos as conseqüências. Eu mesmo tive que abandonar certas organizações quando descobri desonestidade, infidelidade e manipulação do povo de Deus por trás de tudo! Deus deixa de contar conosco quando fazemos parte de algo errado.

Conclusão

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.13). Se é verdade que em algumas ocasiões devemos desobedecer, isso não deve servir para facilitar a manifestação de nossos desejos oportunistas ou fortalecer nossa obstinação natural e desejo de conseguir nossa própria vontade. Também não é uma forma de fugir de nossa responsabilidade quanto ao bom relacionamento com o cônjuge, o patrão ou o governo. Tendo dito isso, nunca comprometamos nossa integridade quando estivermos em situações que requeiram uma posição inequívoca de submissão às mais altas autoridades que são Deus, sua Palavra e as exigências de nossa consciência.

Devemos estar prontos a sermos impopulares, mal-entendidos, a passarmos por tolos, se necessário, pela causa de Cristo, a fim de manter sempre nossa integridade e comunhão com o Senhor. Porque quando estivermos na presença do Senhor no dia do juízo, seremos galardoados por nossa fiel obediência a ele somente. Se temos sido fiéis, mesmo que isso nos custe amizades cortadas e relacionamentos desfeitos nesta vida, Deus nos honrará naquele dia.

Não devemos endossar passivamente a maldade. Devemos usar nossa influência para combater o mal. Isto vai requerer de nós que estejamos sempre submissos e que desobedeçamos quando necessário.

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