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Privilégios desperdiçados

Esau chorando

É realmente elevada a posição conferida na salvação do Novo Testamento; todavia, embora sendo profunda, pode vir a ser ruína. Portanto, em toda vida cristã sadia, deve-se acrescentar seriedade à alegria, à gratidão a responsabilidade, à confiança o zêlo. Por esta razão existem tantas advertências em Hebreus. Uma das mais impressionantes é aquela que se refere a Esaú (Hb 12.16,17).

Esaú era o primogênito de Isaque. O escritor desta carta está chamando a atenção dos leitores para os seus privilégios, responsabilidades e perigos, referindo-se à conduta de Esaú e seus resultados.

Os primeiros leitores de Hebreus conheciam bem, sendo judeus por nascimento, quais eram os privilégios do filho primogênito. O termo é usado no Novo Testamento como figura da alta posição de honra dos membros da igreja de Cristo, na verdade de Cristo mesmo. No contexto de Hebreus 12 a plena posse e o desfrutar do privilégio celestial do primogênito é equivalente ao prêmio do vencedor na corrida, quando o corredor na arena da fé alcançará o alvo glorioso.

Preeminentemente e de modo singular, Cristo é Quem é o Primogênito. Esta Sua glória irradia na revelação do Novo Testamento de forma tríplice:

  1. Ele é o “Primogênito de toda a criação” (Cl 1.15). Esta é a Sua posição de honra vista do passado, Cristo, sendo o “Primogênito” desde o início, como “Filho” antes e acima de todas as criaturas.
  2. Ele é o “Primogênito dentre os mortos” (Cl 1.18; Ap 1.5). Esta é a Sua posição de honra no presente, a qual Ele mantém como o Ressurreto, Aquele que possui a “preeminência” como “Cabeça” do Seu corpo, a igreja.
  3. Ele é o “Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Esta será Sua posição de honra no futuro eterno quando Ele será revelado como glorificado o Redentor dos Seus redimidos glorificados (Hb 1.6)

Desse modo o testemunho do Novo Testamento no tocante a Cristo como o Primogênito refere-se a todos os três períodos de tempo durante todo o curso da história da salvação. Ele é mostrado ao mesmo tempo na mais alta posição em todas as esferas da revelação Divina: no reino da criação, no reino da redenção e no reino da perfeição. De qualquer lado que O contemplarmos, Cristo é o Primogênito.

Além disso, o termo “primogênito” é usado para expressar a posição especial da Igreja na graça. Por isso a carta aos Hebreus depois de falar do “direito da primogenitura” de Esaú, e tendo tirado dela certas conclusões para os leitores do Novo Testamento, acrescenta apenas algumas sentenças: “Mas tendes chegado … à Igreja dos Primogênitos inscritos nos céus” (Hb 12.22,23). E Tiago diz: “Segundo a Sua própria vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das Suas criaturas” (Tg 1.18).

A ênfase principal jaz não tanto na ordem do nascimento com respeito ao tempo, mas antes, à posição e dignidade. De outra forma seria impossível falar de um homem “se tornando o primogênito” (algo que acontece no Antigo Testamento) muito tempo depois do seu nascimento: “Ele me invocará dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação. Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Sl 89.26-27). E o reverso não seria possível para alguém que, do ponto de vista do tempo, nasceu como primogênito, mas perdeu este direito de primogenitura numa ocasião posterior sob determinadas circunstâncias: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito, mas, por ter profanado o leito de seu pai, deu-se a primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que, na genealogia, não foi contado como primogênito. Judá, na verdade, foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o príncipe; porém, o direito da primogenitura foi de José)” (Rúben – 1Cron 5.1,2); “Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por uma refeição (prato de lentilhas), vendeu o seu direito de primogenitura” (Esaú – Hb 12.16,17).

O fato de que a idéia essencial de ser o “primogênito” está na prioridade da posição e não no acidente do nascimento, pode ser visto também nessa passagem: “De Hosa, dos filhos de Merari, foram filhos: Sinrim, a quem o pai constituiu chefe, ainda que não era o primogênito” (1Cron 26.10). Aqui nos é dito que numa certa família de Levitas um dos filhos, de nome Sinri, era o chefe, pois, “embora não fosse o primogênito, contudo seu pai o constituiu chefe”. A mesma verdade é a força de Colossenses 1.15. Ali Paulo diz que Cristo é “o Primogênito de toda a criação”; não que Ele tenha sido o primeiro a nascer no tempo declarando que Ele teve um princípio, mas sim que Ele tem a preeminência como Governador de todo o universo.

O grande perigo

Sem dúvida, o direito de primogenitura não é idêntico à filiação. Esaú permaneceu sendo filho de Isaque mesmo depois de ter sido rejeitado com respeito a herdar a benção da primogenitura. Na verdade, ele recebeu, a despeito da sua grande falha, uma espécie de segunda benção (Gn 27.38,40b; Hb 11.20). O relacionamento de vida para os primogenitura do Novo Testamento com o Pai celestial permanece e nunca será dissolvido, pois já passaram da morte para a vida (I Jo 3.14). Porém, num sentido espiritual, poderão passar por experiência semelhante à de Esaú.

A despeito de todas as riquezas podemos viver em pobreza espiritual. Nenhum fluir das abundâncias celestiais será evidente. Riqueza alguma interior resplandecerá para o exterior. Nenhuma alegria feliz da redenção se manifestará. Embora filhos de eterna alegria, podem viver tristes e deprimidos e, ao invés de desfrutar prazer e deleite em nosso bendito Senhor podemos olhar para trás cheios de anseio para as alegrias vãs e os bens deste mundo.

A despeito da posição sacerdotal podemos deixar de viver uma vida sacerdotal de oração! Pode não haver coração e mente de sacerdote. Nenhuma súplica amorosa! Nenhuma adoração sacerdotal de Deus em espírito e em verdade! E finalmente:

A despeito da nossa elevada e nobre chamada podemos viver praticamente como escravos. Toda mentalidade terrena é escravidão. Todo esforço pecaminoso para ganhar dinheiro ou bens terrenos faz do “rei” um “mendigo”. Qualquer preocupação é indigna de um rei. Todo o temor do homem é indigno de um filho do grande Pai e Soberano Celestial. Toda sensibilidade demasiada e o sentimento fácil de ser ferido e ofendido é mesquinho. É lamentável e primitivo. Na verdade, todo o serviço do pecado faz praticamente daquele que é designado para ser um governador, um servo rebaixado, e o pecado que na realidade está vencido, atua como se fosse o vencedor e como tal age como regente e tirano, quando na verdade o cristão é que deveria ser o vencedor.

Assim o crente embora pertencendo à igreja dos primogênitos, pode praticamente rejeitar seu direito de primogenitura. Ao invés de riquezas, pobreza interior; ao invés de separação, prática sacerdotal, separação de Deus; ao invés de reinado, real escravidão!

O grave erro

Esaú vivia por coisas visíveis e trocou por elas coisas espirituais; Esaú vivia por prazeres humanos e negociou as bençãos dadas por Deus; Esaú vivia sem disciplina e auto-controle e trocou sua posição de autoridade e honra; Esaú desprezou a promessa e oferta de dignidade que Deus lhe ofereceu e trouxe vergonha sobre si (Gn 27.37); Ele viveu para o seu próprio Ego e assim negociou a suprema vocação da sua família; ele viveu para o presente e trocou sua nobre comissão para o futuro; ele viveu para o momento transitório e deu em troca dele tesouros eternos.

Meu leitor, leia as sentenças acima outra vez e pergunte a si mesmo se não pode haver um reflexo da sua própria atitude e prática espiritual. Portanto, preste atenção à advertência desta passagem em Hebreus! Muita coisa está colocada na balança: ganho eterno glorioso ou perda irrecuperável. Naquele momento desastroso Esaú, às custas do futuro, escolheu o prazer do presente. Assim ele experimentou em sua própria vida o princípio da palavra do Senhor: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á” (Jo 12.25). “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26).

Por isso Paulo diz: “E também se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar legitimamente” (2Tim 2.5). O que significa “lutar legitimamente”, isto é, segundo as normas dos jogos? Significa transgredir as regras do jogo por algum truque para ganhar uma vitória fácil. Ele pode tentar encurtar a extensão da corrida fazendo atalhos. Do mesmo modo muitos hoje desejam ser cristãos reais, mas evitam o calor da batalha fazendo compromisso aqui e ali. Eles desejam atingir o alvo, mas pensam poder alcançá-lo pagando um preço mais baixo. Não nos enganemos neste assunto! Cristo Senhor espera nossa total devoção. Fora com todos os compromissos! Fora com todas as tentativas de tornar o caminho estreito um pouco mais largo e transitável! O Senhor busca o nosso coração por inteiroDe outro modo Ele não pode usar nosso serviço e não coroará os nossos esforços. A fim de conquistar a coroa eterna precisamos oferecer toda a nossa vida.

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A. W. Pink Disciplina Sofrimento

No deserto (Arthur W. Pink)

Todo cristão precisa passar pelo deserto

“Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur” (Êx 15.22). Quando Deus separa um povo para Si, não só é necessário que essas pessoas sejam resgatadas com “sangue precioso” e, então, aproximadas como adoradores purificados, mas também é parte do sábio propósito de Deus que elas devam passar pelo deserto antes de entrarem na herança prometida. Dois desígnios principais são assim cumpridos.

Em primeiro lugar, as provas e os testes do deserto tornam manifesto o mal do coração e a incurável corrupção da carne, e isso [aplicando a nós] a fim de que sejamos humilhados, para esconder a soberba de nós (Jó 33.17), e para que provemos por experiência que a entrada na herança está também e unicamente ligada à graça soberana, visto que não existe merecimento, sim, “bem algum” em nós (cf. Rm 7.18).

Em segundo lugar, conforme Jeová leva Seu povo para o deserto, vai com ele e faz com que Sua presença e Seu amor lhe sejam manifestos. Isso ocorre, pois é Seu propósito exibir Seu poder de salvar Seus remidos das conseqüências de suas falhas, e assim fazer da necessidade deles a oportunidade de derramar abundantemente sobre eles as riquezas de Sua graça. Somos, então, levados a ver não só Israel, mas Deus com eles e para eles no devastado e solitário deserto.

Julgamento e humilhação não são o fim que o Senhor dá (cf. Tg 5.11), mas são a ocasião para uma renovada exibição da longanimidade e da bondade do Pai. O deserto pode e irá manifestar a fraqueza de Seus santos e, infelizmente!, as falhas deles, mas isso é apenas para magnificar o poder e a misericórdia Daquele que os trouxe para o local de teste. Além disso, Deus tem em vista nosso bem-estar final, para que bem nos suceda (Dt 6.18), e, quando as provas crescem, quando nosso Deus fiel supre cada necessidade nossa, tudo, tudo será para Sua honra, Seu louvor e Sua glória.

Assim, o propósito de Deus em conduzir seu povo [redimido] pelo deserto era (e é) não só para que pudesse prová-lo (Dt 8.2-5), mas para que, no julgamento, Ele pudesse manifestar que era por eles ao suportar seus fracassos e suprir suas necessidades. O deserto, então, nos dá não só uma revelação de nós mesmos, mas também manifesta os caminhos de Deus.

“Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur” (Êx 15.22). Essa é a primeira vez que lemos sobre eles estarem no deserto. Que eles não tinham ainda realmente entrado deduz-se de 13.20: “Assim partiram de Sucote e acamparam-se em Etã, à entrada do deserto”. Mas agora eles “saíram ao deserto”. A conexão é muito impressionante e instrutiva. Foi sua passagem pelo mar1 que introduziu os redimidos de Deus no deserto. Sua viagem através do Mar Vermelho fala da união do crente com Cristo em Sua morte e ressurreição (Rm 6.3,4). Tipologicamente, estão agora sobre o terreno da ressurreição. Para que não perdêssemos a força disso, o Espírito Santo teve o cuidado de nos dizer que “Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur; e andaram três dias no deserto”. Aqui, como em muitas outras passagens2, os “três dias” falam da ressurreição (1Co 15.4).

No que diz respeito à vida espiritual, o mundo é simplesmente um deserto seco e desolado.

É somente quando a fé do cristão se apodera da união com Cristo em Sua morte e ressurreição, reconhecendo que é uma nova criatura Nele, que ele se torna consciente do deserto. Na mesma proporção em que apreendemos nossa nova posição diante de Deus e nossa porção em Seu filho, assim irá este mundo [esta era] torna-se para nós um deserto triste e desolado. Para o homem natural, o mundo oferece muito que seja atraente e sedutor, mas, para o homem espiritual, tudo nele é apenas “vaidade e aflição de espírito”. Para o olho do sentido há muito no mundo que seja agradável e prazeroso, mas os olhos da fé não vêem nada a não ser morte escrito por todo lado – “mudança e decadência em tudo a meu redor eu vejo3”. Há muita coisa que serve para “a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1Jo 2.16), mas absolutamente nada para a nova natureza. No que diz respeito à vida espiritual, o mundo é simplesmente um deserto seco e desolado.

O deserto é o lugar de viajantes jornadeando de um país para outro; ninguém, a não ser um louco, pensaria em fazer sua casa [eterna] lá. É exatamente assim que esse mundo é [enquanto estiver sob a maldição de Deus]. É o lugar pelo qual o homem viaja do tempo à eternidade. E a fé é o que faz a diferença entre os modos pelos quais os homens consideram este mundo. Os incrédulos, em sua maioria, estão contentes em permanecer aqui. Eles se estabelecem como se fossem ficar aqui para sempre – “O seu pensamento interior é que as suas casas serão perpétuas e as suas habitações, de geração em geração; dão às suas terras os seus próprios nomes” (Sl 49.11). Todo esforço é feito para prolongar sua vida terrena, e, quando finalmente a morte faz sua vindicação sobre eles, relutam em partir. Muito diferente é com o crente, o crente genuíno. Sua casa não está aqui. Ele olha para “a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb 11.10). Por isso, ele é um estranho e peregrino aqui (v. 13). É disso que o deserto fala. Canaã era o país que Deus havia prometido dar a Abraão e a sua descendência, e o deserto era simplesmente uma terra estranha através da qual eles passaram a caminho de sua herança.

“E andaram três dias no deserto e não acharam água” (Êx 15.22). Esta é a primeira lição que nosso deserto de vida é projetado para nos ensinar: não há nada aqui em baixo [durante esta era] que possa, de maneira alguma, suprir a vida que recebemos de Cristo. Os prazeres do pecado, as atrações do mundo, não mais satisfazem. As coisas que anteriormente nos encantavam, agora nós as repelimos. As companhias que costumávamos considerar tão agradáveis tornaram-se desagradáveis. As coisas que encantam os ímpios só nos fazem gemer. O cristão que está em comunhão com seu Senhor não encontra absolutamente nada em torno dele que refresque ou possa refrescar sua alma sedenta. Para ele, as cisternas rasas deste mundo [amaldiçoado] secaram. Seu grito será a do salmista: “Ó Deus, Tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei. A minha alma tem sede de Ti, a minha carne Te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água4” (Sl 63.1). Ah, eis o recurso do crente: somente Deus pode satisfazer os desejos de seu coração. Assim como ele inicialmente deu ouvidos às palavras de graça do Salvador – “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (Jo 7.37) –, assim deve continuar a ir a Ele, o único que possui a água da vida.

“Então chegaram a Mara. Mas não puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas; por isso chamou-se o lugar Mara” (Êx 15.23). Isso foi uma provação dolorosa, um verdadeiro teste. Uma jornada de três dias no deserto quente e arenoso sem encontrar qualquer água; e agora que ela é encontrada, é amarga!

Quantas vezes esse é o caso com o jovem crente, sim, e com o antigo também. Nós nos agarramos àquilo que pensamos que irá satisfazer, e só encontramos amarga decepção. Será que isso já não ocorreu? Você já experimentou os prazeres, ou as riquezas ou as honras do mundo, apenas para descobrir que eles são amargos. Você está convidado para uma festa alegre. Uma vez isso pode ter sido muito agradável, mas agora, como é amargo para o paladar da nova natureza! Quão totalmente decepcionado você volta para casa. Você colocou o coração em algum objeto dessa terra? Você tem permissão para obtê-lo, mas quão vazio ele é! Sim, o que você esperava que produzisse alguma satisfação só traz tristeza e vazio.”

(Charles Stanley)

Israel iria, a partir de agora, sentir a esterilidade e a amargura do deserto. Com que luz no coração os israelitas começaram a jornada através dele? Eles eram pouco preparados para o que estava a sua frente. Caminhar três dias e não encontrar água, e, quando a encontram, ela é amarga! Algo completamente diferente eles esperavam de Deus! Quão natural para eles, depois de experimentar a grande obra de libertação que Deus havia feito para eles, contar com Ele lhes provendo um caminho suave e fácil. Assim, também, é com os jovens cristãos. Eles têm paz com Deus e regozijam-se no conhecimento do perdão de pecados. Eles (ou nós) pouco antecipam as tribulações que estão diante de si. Não esperamos que as coisas sejam agradáveis aqui? Já não procuramos ser felizes neste mundo? E não fomos desapontados e desanimados, quando não encontramos água e aquela que há é amarga? Ah, entramos no deserto sem compreender o que ele é! Nós pensamos, se pensamos em tudo, que nosso gracioso Deus gracioso nos guardaria da tristeza. Ah, caro leitor, é na mão direita de Deus, não neste mundo, que há “delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

Seca e amargura são tudo o que podemos esperar do lugar que não possui Cristo

Como já dissemos, o deserto simboliza e retrata de forma precisa este mundo, e a primeira etapa da viagem faz antever o todo! Seca e amargura são tudo o que podemos esperar do lugar que não possui Cristo. Como poderia ser diferente? Será que Deus deseja que nos estabeleçamos e nos contentemos em um mundo que O odeia e que expulsou Seu Filho amado? Nunca! Aqui, então, está algo de vital importância para o jovem cristão. Deveríamos começar a jornada no deserto esperando nada além de carência. Se esperamos paz em vez de perseguição, que ele nos fará alegres em vez de causar-nos dor, decepção e desânimo por não satisfazer nossas expectativas, a frustração será nossa porção. Muitos cristãos experientes testemunharão que a maioria de suas falhas no deserto devem ser atribuído a seu começo com uma visão errada do que o deserto é. Facilidade e descanso não podem ser encontrados nele, e, quanto mais buscamos por eles, mais aguda será nossa decepção. A primeira etapa de nossa viagem deve proclamar a nós o que a verdadeira natureza da viagem é. É Mara.

As águas amargas podem se tornar doces!

“E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?” (Êx 15.24). Isso é muito solene. Três dias atrás, esse povo estava cantando; agora está murmurando. O louvor de antes dá lugar à queixa em Mara! Essa experiência era uma provação real, mas quão tristemente os israelitas falharam nela. Tal como antes, quando viram os egípcios caindo sobre eles em Pi-Hairote, agora, mais uma vez, menosprezam a Moisés por tê-los deixado em apuros. Eles pareciam ter esquecido completamente o fato de que tinham sido levados a Mara pela coluna de nuvem (13.22)! Sua murmuração contra Moisés era, na realidade, murmuração contra o Senhor. E assim é conosco. Cada queixa contra nossas circunstâncias, cada resmungar sobre o tempo, sobre a forma como as pessoas nos tratam, sobre os desafios diários da vida, é dirigido contra Aquele que “faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1.11). Lembre-se, caro leitor, que o que está aqui registrado da história de Israel é escrito “para aviso nosso” (1Co 10.11). Não é o mesmo perverso coração de incredulidade e a mesma vontade rebelde dentro de nós como os que estavam nos israelitas? Portanto, precisamos buscar sinceramente a graça para que sejamos subjugados e quebrantados.

E qual foi a causa de sua murmuração? Só pode haver uma resposta: seus olhos não estavam postos em Deus. Após as maravilhas do poder de Jeová que haviam testemunhado e a gloriosa libertação que haviam experimentado, era, para os israelitas era inequivocamente evidente que Deus era por eles e com eles. Mas, longe de reconhecerem isso, eles não parecem ter dado a Deus um único pensamento. Eles falam como se tivessem relacionamento apenas com Moisés. E não é, freqüentemente, assim conosco? Quando chegamos a Mara, não acusamos algum companheiro de ser o responsável por nossa porção tão difícil? Algum amigo em quem confiávamos, algum conselheiro cuja orientação nós respeitamos, algum braço de carne sobre o qual nos apoiamos falhou conosco, e nós o culpamos por causa das “águas amargas”!

“E ele clamou ao Senhor” (Êx 15.25). Moisés fez o que deveria ter feito: ele levou o assunto a Deus em oração. É para isto que nosso “Mara” serve: para nos conduzir ao Senhor. Eu digo “conduzir”, pois o trágico é que, na maioria das vezes, estamos tão sob a influência da carne que nos tornamos absorvidos pelas bênçãos de Deus em lugar de estarmos envolvidos com o próprio Abençoador. Talvez não deixemos totalmente de orar, mas sim que há muito pouco coração em nossas orações. É triste e solene, ainda que nem um pouco menos verdade, que é preciso um “Mara” para nos fazer clamar a Deus com seriedade.

“Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade para habitarem. Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia. […] Portanto, lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve quem os ajudasse. Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades. […] A sua alma aborreceu toda a comida, e chegaram até às portas da morte.   Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas dificuldades. […] Andam e cambaleiam como ébrios, e perderam todo o tino. Então clamam ao Senhor na sua angústia, e Ele os livra das suas dificuldades” (Sl 107.4,5,12,13,18,19,27,28). Infelizmente, isso é o que tantas vezes acontece com o escritor e com o leitor.

“E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces” (Êx 15.25). Moisés não clamou a Deus em vão. Aquele que proveu a redenção para Seu povo é o Deus de toda graça, e com infinita longanimidade Ele suportar Seu povo. A fé de Israel pode falhar e, em vez de confiar no Senhor para o atendimento de suas necessidades, deu lugar à murmuração; no entanto, Ele veio em seu socorro. Acontece o mesmo conosco. Como é verdade que Deus “não nos tratou segundo os nossos pecados nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades” (Sl 103.10). Mas em que base o Trino Santo trata tão ternamente Seu povo errante? Ah, não é bonito ver que, neste ponto também, nossa tipificação é perfeita: foi em resposta aos clamores de um mediador intercessor que Deus agiu. Em seu caráter oficial, Moisés é visto, durante toda a jornada, como aquele que se coloca entre Deus e Israel. Foi em resposta ao clamor dele que o Senhor veio socorrer Israel! E bendito seja Deus porque há também Aquele que vive “sempre para interceder” por nós (Hb 7.25), e, nesta base, Deus trata com ternura conosco quando passamos pelo deserto: “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2.1).

Quão dependentes somos do Senhor e quão cegos somos em nós mesmos!

A forma como a resposta de Deus veio nessa ocasião também é profundamente significativa e instrutiva. Ele mostrou a Moisés “uma árvore”. A árvore estivera lá, evidentemente, o tempo todo, mas Moisés não a viu, ou pelo menos não sabia de suas propriedades edulcorantes. Não foi até o Senhor lhe mostrasse a árvore que ele aprendeu da provisão da graça de Deus. Isso mostra quão dependentes somos do Senhor, e quão cegos somos em nós mesmos. De Hagar lemos: “E abriu-lhe Deus os olhos, e viu um poço de água” (Gn 21.19). Semelhantemente, em 2Reis 6.17 nos é dito: “O Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”. Claramente, “o ouvido que ouve e o olho que vê, o Senhor os fez a ambos” (Pv 20.12)

E o que foi que o Senhor mostrou a Moisés? Foi uma árvore. E o que essa árvore, que adoçou as águas amargas, tipifica? Certamente é a pessoa e a obra de nosso bendito Salvador – os dois estão inseparavelmente ligados. Existem várias escrituras que O apresentam sob a figura de uma árvore. No primeiro salmo é dito que Ele “será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão e tudo quanto fizer prosperará” (v. 3). Novamente, em Cantares de Salomão 2.3, lemos: “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar”. Aqui esta a segunda grande lição de nosso deserto-vida: nada pode adoçar o amargo cálice de nossas experiências terrenas, exceto repousar sob a sombra de Cristo! Sente-se a Seus pés, caro leitor, e você encontrará Seu fruto doce ao paladar, e Suas palavras mais doces do que o mel ou o favo de mel.

Mas a árvore também fala da cruz de Cristo: “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro5” (1Pe 2.24).

“A cruz de Cristo é o que faz doce para nós aquilo que é naturalmente amargo. É a comunhão de Seus sofrimentos (Fp 3.10), e o conhecimento disso desde o início [da vida cristã], que sofrimento não pode adoçar! [] Lembremo-nos de que os sofrimentos de que falamos são, portanto, os sofrimentos que são peculiares a nós como cristãos. Essa amargura de morte no deserto não é simplesmente a experiência do que cabe em sorte ao homem comum experimentar. Não é a amargura simplesmente de estar no corpo, de suportar os males de que, dizem, a carne é herdeira. É a amargura que resulta de estar ligado com Cristo em Seu próprio caminho de sofrimento aqui. “Se sofrermos com Ele também reinaremos com Ele” Mara, então, é adoçada por esta “árvore”: a cruz, a cruz de vergonha, a cruz que foi a marca do veredito do mundo a Ele: a cruz é a doçura das lutas. Se nós suportarmos vergonha e rejeição por Ele, como Dele, poderemos suportar, e a doce realidade de estar unidos a Ele faz Mara potável.”

(Mr. Grant)

Uma bela ilustração disso é dada em Atos 16. Ali vemos Paulo e Silas na prisão de Filipos; eles haviam sido cruelmente açoitados e depois jogados no calabouço mais profundo. Ei-los na escuridão, com os pés no tronco e as costas sangrando. Isso foi “Mara” para eles, sem dúvida. Mas o que eles estavam fazendo? Eles “cantavam louvores”, e cantaram tão vigorosamente que os outros presos os escutavam (v. 25). Aqui vemos a “árvore” adoçando as águas amargas. Como lhes era possível cantar nessas circunstâncias? Porque eles se alegraram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por “Seu nome” (5.41)! Assim, então, é como devemos usar a cruz em nossa vida diária: considerar nossas provações e aflições cristãs como oportunidade para ter comunhão com os sofrimentos do Salvador.

A obrigação de obediência nunca poderá ser extinta desde que Deus é Deus. A graça apenas estabelece, em uma base mais elevada, o que mais enfática e plenamente devemos a Ele como Suas criaturas redimidas.

“Ali lhes deu estatutos e uma ordenança e ali os provou. E disse: Se ouvires atento a voz do Senhor, teu Deus, e fizeres o que é reto diante de Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito” (Êx 15.25,26). É muito importante marcar o contexto aqui. Nada havia sido dito sobre os estatutos e mandamentos de Jeová enquanto eles estavam no Egito. Mas, agora que eles haviam sido redimidos, agora que tinham sido comprados para Deus, as reivindicações governamentais divinas são feitas sobre eles. O Senhor estava lidando com eles na maravilhosa graça. Mas a graça não é anarquia. A graça somente nos torna mais devedores a Deus. Nossas obrigações são aumentadas, não canceladas assim. A graça reina pela justiça, não às custas dela (Rm 5.21). A obrigação de obediência nunca poderá ser extinta desde que Deus é Deus. A graça apenas estabelece, em uma base mais elevada, o que mais enfática e plenamente devemos a Ele como Suas criaturas redimidas.

Este princípio percorre toda a Escritura e se aplica a todas as dispensações: a bênção é dependente da obediência. Israel seria imune às doenças do Egito somente enquanto desse ouvidos diligentemente à voz do Senhor, seu Deus, e fizesse o que era certo a Seus olhos! Mas vamos deixar esse ponto claro. A guarda de Seus mandamentos não tem nada a ver com nossa salvação [eterna]. Israel aqui já estava sob o sangue e tinha sido, tipologicamente, trouxe através da morte para o terreno da ressurreição. No entanto, agora o Senhor lembra os israelitas de Seus mandamentos e estatutos. Até que ponto, então, estão errados os que argumentam que a lei não tem nada a ver com os cristãos? É verdade, ela não tem relação com sua salvação [eterna]. Mas é necessária para a regulamentação de sua caminhada. Crentes, assim como os incrédulos, estão sujeitos ao governo de Deus. A falha em reconhecer isso, a falha em obedecer a Seus mandamentos, não nos fará perder nossa salvação [eterna], mas vai trazer sobre nós o castigo das pragas de nosso Pai justo (cf. Jo 17.25).

Uma expressão separada é usada para a sentença final de Êxodo 15.26: “Porque Eu sou o Senhor que te sara”. Isso tem sido usado por algumas pessoas bem-intencionadas, cujo zelo é “sem entendimento”. Elas têm destacado essa sentença da Escritura e reivindicado o Senhor como seu Curador. Com isso, elas querem dizer que, em resposta a sua fé que se apropria dessa palavra, Deus as cura de doenças sem o uso de ervas ou drogas. A partir disso, elas deduzem o princípio de que é errado para um crente recorrer a qualquer médico ou assistência médica. O Senhor é o médico delas, e é não confiar Nele consultar um médico humano. Mas, se essa escritura for examinada em seu contexto, vamos ver que ela, em vez de ensinar que Deus despreza o uso de meios na cura do Seu povo, Ele os emprega. As águas amargas de Mara não foram curadas por um “faça-se” peremptório de Jeová, mas por uma árvore jogada nelas! Assim, na primeira referência à cura na Bíblia, encontramos Deus escolhendo deliberadamente empregar meios para a cura e a saúde de Seu povo. Da mesma forma, ele abençoou Eliseu na utilização de meios (sal) na cura das águas em 2Reis 2.19-22. Do mesmo modo, Deus instruiu seu servo Isaías a usar um meio (um cataplasma de figo) na cura de Ezequias. Assim também em Salmos 104.14, lemos: “Faz crescer a erva para o gado e a verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão”. Então, lemos o apóstolo Paulo exortando Timóteo a tomar um pouco de vinho por causa do estômago (1Tm 5.23). Mesmo na nova terra, Deus usará meios para curar o corpo das nações que viveram o milênio sem morrer e serão ressuscitadas em corpos glorificados: “As folhas da árvore são para a saúde [cura] das nações” (Ap 22.2).

“Então vieram a Elim, e havia ali doze fontes de água e setenta palmeiras; e ali se acamparam junto das águas” (Êx 15.27). Isso não entra em conflito com nossas observações sobre os versos anteriores. Elim é o complemento a Mara, e isso será mais evidente se observarmos sua ordem. Em primeiro lugar, as águas amargas de Mara adoçadas pela árvore; em seguida, os poços de água pura e as palmeiras para sombra e refresco. Certamente a interpretação é óbvia: quando estamos caminhando em comunhão com Cristo e o princípio de Sua cruz é fielmente aplicado a nossa vida diária, não só a amargura do sofrimento por amor a Ele é adoçada, como entramos nas puras alegrias puras que Deus provê para os Seus, mesmo aqui em baixo. Elim, portanto, fala da satisfação que Deus dá aos que estão caminhando com Ele em obediência. Essa alegria de coração, essa satisfação de alma, chega a nós por meio do ministério da Palavra – daí a importância dos doze poços e das setenta palmeiras, os próprios números selecionados por Cristo ao enviar Seus apóstolos (ver Lc 9.1–10.1). O Senhor quis garantir que, assim que atendamos à lição de Mara, Elim será nossa alegre porção.

Notas

1 Que prefigura o batismo cristão (1Co 10.2). (N. do E.)

2 Compare Os 6.2 – “Ao terceiro dia [ou seja, depois de três milênios, 2Pe 3.8] nos [Israel] ressuscitará”; “Ao terceiro dia [o terceiro dia milenar] nos ressuscitará, e viveremos diante Dele [na presença de Cristo] – com At 7.5: “E [Deus] não lhe [a Abraão] deu nela [na terra de Canaã] herança, nem ainda o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela, e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele ainda filho”. Essa promessa só pode cumprida por Deus no momento da ressurreição de Abraão. Tenha em mente que Abraão esta naquela seção bendita do Hades/Sheol chamada Paraíso (Lc 23.43. Cf. 16. 23,26,30,31; Mt 16.18), aguardando o retorno de Cristo e o tempo de sua ressurreição (1Ts 4.15,16. Cf. Jo 14.3; Hb 11.39,40; Ap 6.9-11). (N. do E.)

Obs.: A nota acima é do editor original do presente artigo. Porém, o tradutor desta versão em português não concorda em que todos os “dias” da Bíblia devam ser interpretados doutrinariamente à luz de 2Pe 3.8. É meu entendimento que Pedro não está fazendo uma afirmação acerca da cronologia da Bíblia, mas apenas destacando a diferença entre a avaliação de tempo feita pelo homem e a feita por Deus, que está fora do tempo. Concordo que a referência a “três dias” sempre aponte, de uma forma ou outra, à ressurreição; no entanto, tenho restrições ao uso de 2Pe 3.8 nesse contexto. Essa observação, porém, não compromete, de modo algum, a aplicação geral feita pelo autor.

3 Verso do hino “Abide With Me” (Comigo habita), letra de Henry F. Lyte (1847), música, Eventide, de William H. Monk (1861).

4 O título inspirado (que faz parte do texto da Bíblia) deste salmo é: Salmo de Davi quando estava no deserto de Judá. (N. do T.)

5 A palavra grega ξυλου, traduzida aqui por madeiro, é traduzida também por varapaus (Mt 26.47 e outros), tronco (At 16.24), madeira (1Co 3.12) e árvore (Ap 2.7; 18.12; 22.2,14). Em inglês, nessa frase, cruz e madeiro são a mesma palavra. (N. do T.)

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Indicações de sexta (16)

A Bíblia é nossa regra de fé e de prática!

 

Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.

Artigos que você precisa ler

  1. Por que Deus, por vezes, permanece silencioso? Essa pergunta angustia muitos cristãos, quando esperam resposta do Pai Celestial. O artigo O silêncio de Deus tenta responder.
  2. Todo filho de Deus precisa saber qual é A principal ocupação de um discípulo. Excelente artigo de T. Austin-Sparks.
  3. Stephen Kaung ajuda você a Ver Cristo nos problemas. Não se deixe abater por eles, mas olhe para além deles!
  4. Há cristãos que brincam com a tentação, expondo-se descuidadamente ao perigo. John Owen diz que a tentação tem de ser levada muito a sério.

Mensagem que você precisa ouvir

Pureza bendita, por Steve Lawson.

Hino que honra a Deus

Abide with me

Letra de Hen­ry F. Lyte (1847), música, Eventide, de Wil­liam H. Monk (1861).

Letra original

Abide with me; fast falls the eventide;
The darkness deepens; Lord with me abide.
When other helpers fail and comforts flee,
Help of the helpless, O abide with me.

Swift to its close ebbs out life’s little day;
Earth’s joys grow dim; its glories pass away;
Change and decay in all around I see;
O Thou who changest not, abide with me.

Not a brief glance I beg, a passing word;
But as Thou dwell’st with Thy disciples, Lord,
Familiar, condescending, patient, free.
Come not to sojourn, but abide with me.

Come not in terrors, as the King of kings,
But kind and good, with healing in Thy wings,
Tears for all woes, a heart for every plea—
Come, Friend of sinners, and thus bide with me.

Thou on my head in early youth didst smile;
And, though rebellious and perverse meanwhile,
Thou hast not left me, oft as I left Thee,
On to the close, O Lord, abide with me.

I need Thy presence every passing hour.
What but Thy grace can foil the tempter’s power?
Who, like Thyself, my guide and stay can be?
Through cloud and sunshine, Lord, abide with me.

I fear no foe, with Thee at hand to bless;
Ills have no weight, and tears no bitterness.
Where is death’s sting? Where, grave, thy victory?
I triumph still, if Thou abide with me.

Hold Thou Thy cross before my closing eyes;
Shine through the gloom and point me to the skies.
Heaven’s morning breaks, and earth’s vain shadows flee;
In life, in death, O Lord, abide with me.

Tradução

Habita comigo. A tarde cai rapidamente,
A escuridão se aprofunda. Senhor, comigo habita.
Quando outros ajudadores falharem e confortos fugirem,
Ó Ajuda do impotente, fica comigo.

Rapidamente para seu fim flui o dia de vida;
As alegrias da Terra se tornam mais indistintas; suas glórias passam;
Mudança e decadência em tudo eu vejo;
Ó Tu que não mudas, habita comigo.

Não é por um breve olhar que eu imploro, uma palavra passageira;
Mas, como Tu habitaste com Teus discípulos, Senhor,
De modo familiar, condescendente, paciente, livre.
Vem, não para peregrinar, mas habita comigo.

Não venha em terrores, como o Rei dos reis,
Mas gentil e bom, com cura em Tuas asas,
Lágrimas para todos os males, um coração por cada clamor:
Venha, Amigo dos pecadores, e, assim, habita comigo.

A minha face, na juventude, trouxeste sorriso;
E, embora rebelde e perverso naquele tempo,
Tu não me deixaste, mesmo quando Te deixei.
Até o fim, ó Senhor, habita comigo.

Eu preciso de Tua presença cada hora que passa.
O que, a não ser Tua graça, pode frustrar o poder do tentador?
Quem, além de Ti mesmo, meu guia e esteio pode ser?
Quer haja nuvens e a luz do sol, Senhor, habita comigo.

Não temo nenhum inimigo, com Tuas mãos para abençoar;
Males não têm peso e lágrimas, sem amargura.
Onde está o aguilhão da morte? Onde, sepultura, a tua vitória?
Eu ainda triunfo, se Tu habitas comigo.

Segura Tu Tua cruz diante de meus olhos que se fecham;
Brilha através da escuridão e me aponta os céus.
Rompe a manhã do céu e, da terra, as vãs sombras fogem;
Na vida, na morte, ó Senhor, habita comigo.

Versão em português (1)

Comigo habita, ó Deus, a noite vem!
As trevas descem, eis, Senhor, convém
Que me socorra a Tua proteção!
Oh, vem fazer comigo habitação!

Vem revelar-Te a mim, Jesus, Senhor,
Divino Mestre, Rei, Consolador!
Meu Guia forte, amparo em tentação!
Oh, vem fazer comigo habitação!

Breve, Senhor, terei meu fim mortal;
É tão fugaz a vida terreal!
Tem tudo aqui mudança e corrupção!
Oh, vem fazer comigo habitação!

Se eu estiver nas trevas ou na luz,
Não há perigo, andando com Jesus;
A morte e a tumba não aterrarão!
Oh, vem fazer comigo habitação!

A versão acima é a mais conhecida e cantada em português. Mas encontrei outra, mais longa, que recria toda a letra original. Não sei se onde é usada. Se alguém souber, ou souber sua origem, escreva no comentário.

Versão em português (2)

Habita em mim na dura tentação;
Senhor, habita em mim na escuridão.
Quando os amigos de mim fugir,
Sozinho estou; Senhor, vem me acudir.

Nós somos pó, mas estamos aqui;
Com alegria pra louvar a Ti;
Tudo não passa de ostentação;
Jesus não muda Sua criação.

Ó Senhor Jesus, vem por mim olhar;
Certo estou que vou Contigo andar,
Fiel Senhor, liberdade sem fim.
Não quero perecer, habita em mim!

Com o Rei dos reis, na luz viverei,
Pois em Suas asas seguro estarei,
De toda dor e toda aflição,
Jesus nos salva e muda o coração.

Eu era jovem; Tu por mim sorria;
Mas cruel e mau eu permanecia,
Jesus não me deixou até o fim,
E até chegar ao céu, habita em mim!

Todos os dias, lado a lado andar.
Com Sua graça o mal afastar.
Quem senão Jesus pode nos guiar?
Só Ele pode a chuva e o sol criar!

Eu não receio nem o malfeitor;
Não tenho medo do perigo ou dor.
Jesus: a morte Ele venceu, sim!
Jesus triunfou e habita em mim!

Senhor, me ajude a carregar a cruz;
Brilha na sombra e mostre-me Sua Luz.
O amanhã em breve terá fim;
Vida ou morte? Ele habita em mim!

História

Henry Francis Lyte (1.7.1793 – 20.11.1847) graduou-se no Trinity College, Dublin, em 1814. Durante o curso universitário, ganho um prêmio inglês de poesias em três ocasiões. Havia decidido estudar medicina, talvez por conta da frágil saúde que teve na maior parte da vida, mas optou por teologia, tornando-se clérigo anglicano em 1815.

Em 1818, ele passou por uma grande mudança espiritual, que moldou e influenciou toda a sua vida dali em diante, sendo a causa imediata disso a doença e morte de um irmão clérigo. Lyte disse dele:

Ele morreu feliz na crença de que, se estivesse profundamente errado, havia Um cuja morte e sofrimentos iriam expiar seus delitos e seriam aceito por tudo o que ele tinha cometido.

A respeito de si mesmo, acrescenta:

Eu estava muito afetado por todo o assunto, que me fez olhar a vida e seus problemas com um olho diferente, e eu comecei a estudar a Bíblia e a pregar de maneira diferente do que eu tinha feito anteriormente.

Lyte foi inspirado a escrever esse poema em 1847, enquanto estava morrendo de tuberculose. Ele o concluiu no domingo em que fez seu sermão de despedida na paróquia a que serviu por muitos anos. No dia seguinte, ele partiu para a Itália, a fim de recuperar a saúde. Mas não chegou lá, pois morreu em Nice, França, três semanas depois de escrever essas palavras. Aqui está um trecho de seu sermão de despedida:

Ó irmãos, estou aqui entre vocês hoje, como vivo dentre os mortos, se posso esperar impressionar vocês e induzi-los a se prepararem para aquela hora solene, que deve chegar a todos, por um conhecimento, enquanto há tempo, da morte de Cristo.

Anna Maria Maxwell Hogg, filha de Lyte, conta a história do hino:

O verão estava terminando, e o mês de setembro (o mês em que ele, mais uma vez, deixaria sua terra natal) chegou, e cada dia parecia ter um valor especial como sendo um dia mais perto de sua partida.

Sua família ficou surpresa e quase alarmada quando ele anunciou sua intenção de pregar mais uma vez para seu povo. Sua fraqueza e o perigo possível por causa do esforço foram lembrados para impedi-lo, mas em vão. “É melhor”, como ele costumava dizer muitas vezes de brincadeira, quando ntinha alguma saúde, “se desgastar do que enferrujar por fora”. Ele sentiu que deveria ser capaz a cumprir seu desejo, e não temia pelo resultado. Sua expectativa tinha bom fundamento. Ele pregou, e em meio a atenção sem respirar de seus ouvintes, deu-lhes um sermão sobre a Sagrada Comunhão.

Na noite do mesmo dia, ele colocou nas mãos de um parente próximo e querido o hino “Abide with Me”, com uma melodia de sua própria composição, adaptada às palavras.

Por mais de um século, os sinos da igreja em All Saints, em Lower Brixham, Devonshire, da qual foi pároco, tocaram “Abide with Me” diariamente. O hino foi cantado no casamento do rei George VI e no casamento de sua filha, a futura rainha Elizabeth II.

 

Esta é a versão escrita pelo próprio autor.

(A versão original do hino pode ser vista aqui.)

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A cruz e o Deus de esperança (T. Austin-Sparks)

Deus opera por meio da cruz

“Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.13)

“O Deus de esperança vos encha […] para que abundeis em esperança!”

Como você sabe, o apóstolo desenvolveu seu caminho até esse ponto ao longo de um argumento longo e detalhado. Ele seguiu o curso completo das coisas desde o primeiro pecado de Adão, traçando todas as suas consequências e seus desdobramentos, ao longo de todas as gerações, até Cristo; então, colocou no fim de tudo isso a cruz do Senhor Jesus. A partir desse ponto, abriu um panorama e um futuro totalmente novos. A cruz é o ponto terminal até o qual todas as coisas conduziram e a partir do qual tudo recebe uma nova ascensão. Seguindo toda essa história, explicação e ensino, o apóstolo chega à plenitude deste título abrangente: o Deus de esperança.

Conforme vemos a grande situação que é apresentada neste livro e no Novo Testamento, encontramo-nos diante de algo estranho, que parece um paradoxo. Trata-se disto: Deus escreveu por todo o curso da história o significado da cruz de tal forma que a única resposta que Ele pode dar ao pecado, ao mal, à desobediência, e a todos seus frutos e consequências, é tribulação, desespero e morte. E mesmo assim, não obstante, Ele é o Deus da Esperança. Ele está dizendo que tribulação, paixão, desespero e morte são o único meio de esperança. Isso está escrito em toda a história dos tratos de Deus com o homem. Desde o pecado de Adão, e da queda da raça (nele), Deus tem tido de trabalhar sobre a base da cruz de Cristo. A cruz está implícita em todos os tratos de Deus com o homem, e não apenas com o homem em geral, mas em particular com Seu próprio povo.

A cruz está implícita em todos os tratos de Deus com o homem.

A cruz significa sofrimento; é o próprio símbolo do sofrimento – nós sabemos disso. A cruz significa tribulação e angústia – nós sabemos disso. A cruz significa desespero. O grande clamor no final daquela provação foi o clamor de desespero: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” E a cruz é morte. Mas, com tudo isso, na intenção e no desejo de Deus, ela é para alegria, para pura gratidão; ela é para esperança, uma nova esperança; ela é para vida – todas as coisas que são exatamente o oposto do que a cruz parece dizer.

Deus é o Deus de esperança, mesmo quando você olha para o Calvário, e para tudo o que está acontecendo naquele lugar, e vê o Eleito ali, e ouve Seu amargo clamor. Se você entende isto, e se você olha para a história – o pecado de Adão, a queda, e tudo aquilo no que a raça foi envolvida a partir de então, toda a tragédia e a angústia e a paixão e o mal das gerações – e vê porque Deus, não apenas permitiu isso, mas teve de estabelecer esse regime, resultando em desespero – a resposta, estranho dizer, é: Ele é o Deus de esperança. Esse é Seu meio de esperança, e Seu único meio de esperança.

A cruz sempre foi o meio de salvação de Deus, a solução de Deus. É uma solução muito drástica, muito terrível, mas é a solução de Deus. E, se for uma solução efetiva, então, ela produz esperança; é algo com esperança – nova esperança – como seu resultado. A cruz não é um símbolo; a cruz não é um objeto. A cruz é um grande poder, um poder perpétuo; um decreto único na história, mas um poder operando por todas as eras – nós dissemos que ele está implícito na velha dispensação e explícito nesta dispensação. Do primeiro ao último pecado, a cruz é um poder operante.

Agora, existe uma coisa contra a qual a cruz se mantém: a saber, um estado que é diferente daquele que Deus planejou. Isso tem, claro, muitos aspectos. Vamos olhar apenas para um ou dois deles. Eles são perfeitamente claros na Bíblia.

A cruz contra um estado alterado

Primeiramente, a cruz se levanta contra a natureza das coisas quando essa natureza se torna diferente. Sempre que a natureza das coisas foi alterada daquilo como Deus fez no início, ou planejou que o fosse, Deus introduziu a cruz de alguma forma; imediatamente Ele apresentou a cruz. A natureza do homem foi alterada no princípio; ele se tornou algo diferente em natureza daquilo que Deus planejou. Todos nós sabemos disso por nossa herança. E imediatamente o Senhor introduziu a cruz na lei da tribulação, da paixão, da adversidade; Ele escreveu imediatamente acima desse estado: Desespero e Morte. A cruz se levantou contra esse estado alterado. A única esperança de recuperar o estado, a condição e a natureza das coisas divinamente planejados repousa na cruz.

A cruz é o grande agente purificador – e purificar significa simplesmente tornar-se livre de mistura. Quando há coisas que não se correspondem ou não se adéquam exatamente, que são de duas naturezas, de duas esferas – dois elementos conflitantes –; quando há impureza, adulteração, a cruz se levanta firmemente contra isso, a fim de purificar. A primeira coisa com respeito a Deus – seja no indivíduo, ou em alguma associação de Seu povo localmente ou na Igreja universal – é a pureza, a incorruptibilidade, a separação de toda iniquidade e de toda mistura. A vida cristã é baseada na cruz, individualmente, localmente e universalmente. A cruz vê a poderosa, terrível e eterna declaração de Deus contra a impureza – a contaminação e corrupção que veio para criar um estado, no homem e no mundo, que Ele nunca planejou.

A única forma de purificação é por tornar perfeitamente claro, em crua realidade, a desesperança, do ponto de vista de Deus, daquilo que não é puro. Quão verdadeiro isto é, de maneira geral, quando olhamos para o mundo: a desesperança de um estado de coisas impuro, maculado e misturado. O Deus de esperança exige, portanto, completa limpeza nessa esfera e a constituição de algo puro, algo limpo, algo não-misturado, imaculado. Se você olhar na Bíblia, com todo seu maravilhoso simbolismo do que é o pensamento de Deus, descobrirá que Seu pensamento é a transparência, a clareza do cristal. O fim da operação de Deus nessa criação, como vemos por fim no livro de Apocalipse, é uma pedra de jaspe – uma coisa pura, clara como cristal. E são a cruz e o sangue do Cordeiro que conduzem a isso.

Se, portanto, o Senhor enxergar algum estado que Ele nunca planejou que fosse, que contradiz Sua mente sobre o assunto, Ele introduzirá a cruz como um poder operante; e, onde aquilo for encontrado, começará a se manifestar uma situação. Nós descobrimos que chegamos a uma paralisação, que Deus não está avançando; estamos estressados; estamos atribulados; estamos angustiados; estamos em desespero; estamos morrendo. A cruz está operando dessa forma a fim de produzir uma situação cheia de esperança, cheia de expectativa. A lei é bastante clara.

A primeira coisa que vemos, então, é que qualquer estado que não esteja de acordo com a intenção de Deus deve ser limpo mediante a aplicação do excelente princípio da cruz. Não há esperança para nada que não seja puro ao olhos de Deus.

A cruz contra a diminuição das coisas divinas

A seguir, suponha que as coisas tenham se tornado menos do que aquilo que Deus planejou que fossem. Deus planejou algo pleno, grande, e as coisas se tornaram menores do que Ele planejou. E a história do cristianismo é a história dessa tendência – é mais do que uma tendência, é um trabalho real – de o homem reduzir Deus e as coisas de Deus a sua própria medida humana, trazer tudo de Deus e a próprio Deus para dentro do compasso do homem; é o homem reduzindo Deus a sua própria medida, tornando Deus menor do que Ele é e as coisas de Deus menores do que realmente são. Nós podemos ver como isso prosseguiu e está em todo o tempo prosseguindo, como uma tendência, como uma orientação, como alguma operação. E nós estamos sempre próximos do risco de as coisas se tornarem menores do que Deus planejou que fossem. Deus planejou algo muito excelente; e aqui há perda, ou o risco da perda, redução; as coisas se tornando menores, perdendo algo.

Sempre que o Senhor vê essa operação, ou esse risco, tornando-se muito real, Ele introduz a cruz, e a tribulação, o estresse e o sofrimento começam; tudo chega a uma esfera de incerteza e fraqueza e questionamento. Uma sensação de fracasso e desespero está desenhada – “Nós não vamos prosseguir, não vamos conseguir passar por isso!”. Deus planejou algo grande, e algo dessa grandeza se perdeu, ou falhou em seguir para essa grandeza; tornou-se algo menor do que Ele planejou. Ele não permitirá isso; Ele reage. E, oh!, que tremendas reações a história nos mostra relacionadas a isso.

Tome apenas o caso ilustrativo de Israel. Embora Israel fosse o povo escolhido, tomado de dentre as nações para Deus, Deus nunca, nunca planejou que Israel se tornasse algo em si mesmo. Ele nunca quis que Israel fosse o princípio e o fim de todo Seu trabalho. Ele planejou que Israel fosse uma “luz para os gentios”; que fosse um testemunho de Deus para todas as nações; que fosse um ministério, um instrumento missionário, para todos os povos, para todas as nações andarem na luz de Israel ou se achegarem à luz de Deus juntamente com os israelitas. Eles foram levantados, não para si mesmos como um fim, mas para o mundo todo, como nação apostólica de Deus, para evangelizar as nações com o conhecimento de Deus.

O que Israel veio a fazer? Desprezar as nações; chamá-las de “cães”, excluí-las e manter-se fechado para elas, em si mesmo, nada tendo a ver com elas; olhar para elas como coisas a serem desprezadas, serem rejeitadas, serem cortadas. “Nós somos o povo; tudo começa e termina conosco!” A nação se tornou algo menor do que Deus planejou que fosse, e não há esperança nessa direção. O fim da história é que Israel, enquanto mantiver essa mente, deve ser deixado de lado, ser quebrado, esmagado, levado ao desespero, à falta de esperança.

Existe uma ampla lição para nós aprendermos e sempre trazer à mente: tudo o que Deus deu para Israel, e tudo que Deus está desejando derramar sobre nós, não é para nós mesmos, não é para terminar em nós mesmos. Nem é para permitir que nos faça algo em nós mesmos, que “Nós somos o povo”. É uma confiança – uma confiança para todos os homens. O apóstolo Paulo reconheceu isso; e que tremenda coisa significou seu reconhecimento em seu próprio caso, quando se pensa nele como um típico israelita. Sua visão e seu ministério abrangeram “todos os homens” – “para que apresentemos todo homem – não todo judeu!, mas –, “todo homem perfeito em Jesus Cristo” (Cl 1.28). Ele é o homem que traz à tona a imensidão das coisas, não é? A imensidão de Cristo, a imensidão da Igreja. Se há alguma coisa sobre a Igreja que é tão evidente no Novo Testamento é sua grandeza. Quão grande é isso! Ela toma seu caráter e suas dimensões do Senhor Jesus. Qualquer um que tenha visto a grandeza de Cristo nunca poderá tolerar uma Igreja “pequena”, uma comunhão “pequena” – uma coisa pequena e exclusiva que é um fim em si mesma. Deve haver uma visão universal e um coração universal. Para alcançar isso, qualquer tendência a se tornar algo menor será encontrada pela cruz e, então, virá a falta de esperança, o desespero, a apreensão, uma sensação de falta de caminho, uma grande dose de sofrimento interior, dificuldade e perplexidade.

A cruz é o meio de salvação. Porém, é um meio doloroso.

A cruz é o meio de salvação: é o meio de salvação de algo ser menor do que Deus planejou. Porém, é um meio doloroso, é o caminho de tribulação. A cruz liberta de toda pequenez. O Senhor Jesus tornou isso claro em Suas próprias palavras: “Vim lançar fogo na terra […] Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como Me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc 12.49,50). “Como Me angustio!” Pelo batismo da cruz, da paixão, sendo cumprido, Ele é liberto de toda a Sua angústia. Isso não é um movimento nacional agora; isso não é limitado à Palestina ou a qualquer outro lugar. Ele é libertado, pela cruz, de toda pequenez do judaísmo, do israelitismo, do palestinianismo! Ele é libertado para o universal. Mas essa libertação é por um meio doloroso; é um quebrantar-se e um rasgar-se. Então, o Senhor sempre nos fará lembrar que Ele reage, e reage muito dolorosamente por nós, se algo que planejou para representar Sua grandeza e Sua plenitude se torna menos do que isso.

A cruz contra a sabedoria humana

Mais uma vez, quando algo se torna governado pela sabedoria humana, pela mente dos homens, quando é trazido para o cativeiro dos “escribas”, o Senhor sempre introduz a cruz contra isso. Você vê isso novamente em Israel. A cruz foi introduzida contra aquela situação em que os escribas e os governantes de Israel deram às coisas divinas sua própria interpretação humana, impondo sobre as coisas de Deus sua própria mente, criando esse grande e intolerável fardo ao qual Cristo se referiu: simplesmente a mente do homem imposta sobre as coisas divinas. E isso sempre significa cativeiro. O Senhor não permitirá isso. E, então, Ele reage novamente, e chega-se a um impasse. E qual é a natureza dessa nova crise? Absoluta desorientação; uma situação em que você não sabe o que fazer, para onde olhar, em que direção se mover, como resolver a situação. É completamente além da sabedoria humana. É um impasse de contradição, confusão e desespero. “O que podemos fazer? O que devemos fazer? Como resolver essa situação?” Você será derrotado a despeito de qualquer esforço que aplique.

O Senhor deve nos resgatar para fora de qualquer exploração meramente humana ou mental das coisas divinas e levar-nos para dentro da esfera da revelação divina. É uma coisa tremenda que Deus deve – essa esfera onde Ele é perfeitamente livre, se Ele quiser, para dar nova luz que pode parecer derrubar todas as nossas interpretações – todo o poder mental dos escribas e dos fariseus – derrubar a coisa toda.

Isso é o que você encontra no Novo Testamento, no livro de Atos. Aqui está Pedro, um representante de Israel; aqui está Paulo, um daqueles intérpretes da lei, que mantiveram todas as coisas dentro dos limites de seus próprios intelectos, e disseram, Nossa palavra é final! Nossa interpretação é a autoridade! Você deve se curvar diante dela! O que o Senhor está fazendo com homens como Pedro e Paulo, e outros neste livro? Ele os está levantando contra situações em que, se Deus não entrar agora com alguma nova luz e alguma nova revelação, eles ficam estagnados. Ele os levou juntamente para além de suas melhores tradições, suas mais fortes convicções, e a suas interpretações enraizadas, e os fez ver que a Bíblia significava mais do que eles, com todo seu aprendizado e conhecimento, perceberam que ela significava.

Sim, Levítico 11 mantém-se verdadeiro acerca de não se comer criaturas imundas e répteis. O Espírito Santo se contradiz quando ordena a Pedro: “Levanta-te, mata e come” (At 10.11-16)? De forma alguma. Levítico 11 tinha um significado que Pedro nunca havia visto. Ele se levanta contra algo que parece contradizer seu conhecimento da Escritura, mas em princípio não contradiz – simplesmente não contradiz. Alguém pode apenas dar um palpite em relação a isso. Nós amarramos a Palavra de Deus, e não deixamos Deus livre para alargar a revelação, para Ele que está querendo dar nova luz. E, se isso é um risco ou se chegamos ao ponto em que nossas interpretações estão amarrando e limitando, Ele introduzirá a cruz e nos levará a um ponto de total confusão, no qual, se Deus não fornecer alguma nova luz, estaremos acabados – nós não possuímos a sabedoria para a situação. O que Ele está fazendo? O Deus de esperança está se livrando de uma situação sem esperança. E é sempre sem esperança quando o homem é a última palavra em alguma coisa!

A cruz contra o legalismo

Por fim, quando as coisas se tornam um sistema legal, levando cativa qualquer coisa de Deus, Ele tem reagido com a cruz, e tem sido uma reação terrível, devastadora. A quebra do legalismo, da servidão à Lei, foi um negócio terrível, e sempre é. O Senhor não tolerará nada como tornar em uma tirania da lei Suas coisas do Espírito. Ele reagirá pela completa liberdade do Espírito em todas as coisas.

Então, nós vemos que a cruz se mantém entre um estado puro, não-adulterado, e uma condição misturada e, portanto, impura. A cruz se mantém entre a plena intenção de Deus e algo menor do que aquilo que Ele planejou. Sim, a cruz exige plenitude, não imperfeição, não algo menor, mesmo em grau. Se a cruz realmente é um poder operante em qualquer lugar, ela não permitirá paralisação. Ela sempre exigirá um prosseguir, e se manter sempre prosseguindo, porque ela abre o caminho para isso.

A cruz se mantém entre um conhecimento ou uma sabedoria sem vida e o conhecimento espiritual que é vida. Adão fez sua escolha, seu apelo pelo conhecimento, e ele o obteve sem vida. A árvore da vida foi guardada – ele teve conhecimento sem vida. Deus não tolera isso. Sabemos como mesmo o conhecimento religioso pode ser sem vida e morto! Isso pode ser verdade em relação a nós, que possuímos um monte conhecimento, mas onde está a vida mensurável? O Senhor é contrário a isso, e Ele diz: “Eu não posso continuar”. Nós temos algum problema em relação a isso; nós devemos ter alguma dor, alguma angústia em relação a isso: todo conhecimento deve possuir uma vida correspondente. O conhecimento deve ser vivo, deve ser associado com a vida. Você pode comer da “árvore do conhecimento” (eu me refiro àquela outra árvore do conhecimento, o conhecimento do Senhor, das coisas celestiais), mas, mesmo assim, você deve comer da “árvore da vida” para manter o equilíbrio. Conhecimento e vida se correspondem, andam juntos. O Senhor é contrário a qualquer estado diferente deste.

A cruz se mantém entre um conhecimento ou uma sabedoria sem vida e o conhecimento espiritual que é vida.

Novamente, formato, formato exato, formato perfeito, no ensino e na prática, sem poder, é algo que Deus não permitirá. Ensino e prática devem ser perfeitamente corretos: sim, mas e quanto ao poder? Israel possuía os oráculos, tinha a Lei, tinha a verdade, mas onde estava o poder espiritual? Não havia nenhum. A cruz agirá para corrigir isso. Não há nada a ser dito contra o procedimento “correto” e a acurada e sã doutrina; eles devem existir. Mas o Senhor garantirá que, ao manter as coisas avançando, em prática, em dores de parto, em dificuldade, toda a questão de poder se tornará bastante real. Temos tanto ensino, mas temos muito pouco poder – isso deve se tornar em angústia, uma verdadeira angústia. Tudo o que temos, e todo o nosso jeito de fazer as coisas que pensamos estar tão certo, de acordo com o Novo Testamento, deve possuir um poder e um impacto correspondentes. E, então, o Senhor não permitirá pausa nisso.

De todas as formas, Ele é o Deus de esperança: pela tribulação há esperança, pelo desespero há esperança. Esse é o Seu caminho, Seu modo de agir. Que Ele nos dê entendimento.

 

(Primeira publicação na revista A Witness and A Testimony, julho-agosto 1959, vol. 37-4)

 


 

(Traduzido por Erik Cabral de The Cross and the God of Hope, de T. Austin-Sparks. Revisado por Francisco Nunes. A maior parte dos textos de Austin-Sparks é transcrição de suas mensagens orais. Os irmãos que as transcrevem não fazem nenhuma edição ou aprimoramento. Por isso, o texto conserva bastante de sua oralidade, o que, em muitas circunstâncias, não permite uma tradução mais apurada. Se houver qualquer sugestão para aprimoramento deste trabalho, por favor, deixe um comentário. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito.)

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indicações de sexta (5)

Confronte todas as coisas com a verdade da Bíblia

 

Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo e para despertar em você mais amor por Ele.
É importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: a menção a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.

Artigos que merecem ser lidos

  1. Comentário de João Calvino sobre Romanos 3.23-26
  2. O culto familiar, de A. W. Pink
  3. Biografia de Andrew Murray
  4. A atitude do cristão em relação à volta do Senhor, de Ruth Paxon
  5. Falsas doutrinas sobre a Bíblia (2), de Wilson Porte. Denúncia clara e bíblica de modismos “espirituais” que são contrários à Bíblia. Leia também a parte 1.

Mensagem que merece ser ouvida

Duas formas de morrer, por Martin Lloyd-Jones

Hino que merece ser ouvido

Jesus paid it all

(letra de Elvina M. Hall [1865], música de John T. Grape [1868]. Baseado em Is 1.18; 1Pd 1.18,19; Ap 1.5,6)

Letra original

I hear the Savior say,
“Thy strength indeed is small;
Child of weakness, watch and pray,
Find in Me thine all in all.”

Refrain:
Jesus paid it all,
All to Him I owe;
Sin had left a crimson stain,
He washed it white as snow.

For nothing good have I
Whereby Thy grace to claim;
I’ll wash my garments white
In the blood of Calv’ry’s Lamb.

And now complete in Him,
My robe, His righteousness,
Close sheltered ’neath His side,
I am divinely blest.

Lord, now indeed I find
Thy pow’r, and Thine alone,
Can change the *leper’s spots [*leopard’s]
And melt the heart of stone.

When from my dying bed
My ransomed soul shall rise,
“Jesus died my soul to save,”
Shall rend the vaulted skies.

And when before the throne
I stand in Him complete,
I’ll lay my trophies down,
All down at Jesus’ feet.

Aqui está uma história real relacionada a essa canção:

Na noite de Ano Novo de 1886, alguns missionários estavam mantendo cultos ao ar livre, a fim de atrair os transeuntes a uma missão próxima, onde reuniões seriam realizadas mais tarde. “Tudo a Cristo eu devo” [outro nome pelo qual o hino é conhecido, por conta do verso All to Him I owe da estrofe. (N. do T.)] foi cantado, e, depois de ter dado uma breve palavra, um cavalheiro apressou-se para a missão. Ele logo ouviu passos atrás de si e uma jovem alcançou-o e lhe disse:

– Ouvi você pregar na reunião ao ar livre agora mesmo. Você acha, senhor, que Jesus poderia salvar uma pecadora como eu?

O cavalheiro respondeu que não havia nenhuma dúvida sobre isso, se ela estava ansiosa para ser salva. Ela lhe disse que era uma serviçal, e tinha deixado seu lugar de trabalho naquela manhã depois de um desentendimento com sua senhora. Enquanto ela vagava pelas ruas no escuro, imaginando onde poderia passar a noite, a doce melodia desse hino a havia atraído, e ela se aproximou e ouviu atentamente. Conforme os diferentes versos eram cantados, ela sentiu que as palavras certamente tinham relação com ela. Ao longo de todo o culto, ela parecia ouvir aquilo que sua alma oprimida tinha necessidade naquele momento. O Espírito de Deus lhe havia mostrado quão pobre criatura, pecadora e miserável ela era, e a levou a perguntar o que deveria fazer. Ao ouvir sua experiência, o cavalheiro a levou de volta para a missão e a deixou com as senhoras responsáveis. A jovem rebelde foi trazida a Cristo naquela noite. Um lugar para ela lhe foi dado na família de um ministro. Lá ela ficou doente e teve de ser levada para um hospital. Ela piorou rapidamente, e tornou-se evidente que ela não estaria por muito tempo mais na terra. Um dia, o cavalheiro que ela conhecera na noite de Ano Novo foi visitá-la na enfermaria. Depois de citar alguns versos adequados das Escrituras, ele repetiu o hino favorito dela: “Tudo a Cristo eu devo”, e ela parecia tomada com o pensamento de chegar à glória. Duas horas depois, ela dormiu no Senhor.

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Doença (Watchman Nee)

Você sabe qual é a causa de sua doença?

Qual o propósito da enfermidade?

Há algumas questões com respeito à doença que gostaríamos de considerar juntos diante de Deus.

1. A relação entre doença e pecado

Antes da queda da humanidade, não existia nenhuma espécie de enfermidade; a doença surgiu somente depois que o homem pecou. Alguém pode dizer que, de forma geral, tanto a doença como a morte resultaram do pecado, pois pela transgressão de um homem o pecado e a morte entraram no mundo (Rm 5.12). A doença se espalhou a todos os homens assim como a morte.

Embora nem todos tenham pecado da mesma maneira que Adão, todavia, por causa da transgressão dele todos morrem. Onde há pecado há morte também. Entre esses dois está aquilo que comumente chamamos de doença. Esse é, então, o fator comum a todas as doenças. Porém, há realmente mais de uma causa a ser explicada sobre os males que atacam as pessoas. Algumas doenças brotam de pecado, enquanto outras não. No tocante à humanidade, a doença não vem de pecado; mas, com relação ao indivíduo, isso pode ser ou não a causa. Precisamos distinguir entre essas duas aplicações da doença. É absolutamente verdadeiro que se não houvesse pecado não haveria nem morte nem doença; pois, se não houvesse morte no mundo, como poderia haver doença? A morte brota do pecado, e a enfermidade vem pelo princípio da morte. Mesmo assim, isso não pode ser aplicado especifica e indiscriminadamente a todo indivíduo, pois, embora muitos fiquem doentes por causa do pecado, há outros que adoecem por razões outras que não o pecado. Nessa questão do relacionamento entre pecado e doença, devemos fazer uma distinção cuidadosa entre sua aplicação à humanidade como um todo e sua aplicação aos homens individualmente.

Devemos lembrar que, em livros do Antigo Testamento como Levítico e Números, a promessa de Deus era que, se o povo de Israel Lhe obedecesse, andasse em Seus caminhos, não se rebelasse com Seus caminhos, não se rebelasse contra Suas leis e não pecasse contra Ele, então, o Ele os protegeria de muitas enfermidades. Essas palavras claramente nos ensinam que muitas doenças têm origem no pecado ou na rebelião contra Deus. Todavia, no Novo Testamento, vemos que algumas doenças não foram causadas por qualquer transgressão cometida pela pessoa.

Paulo escreveu certa vez que entregava a Satanás para a destruição de sua carne o homem que tinha pecado, vivendo com a mulher do pai (1Co 5.4,5). Isso indica definitivamente que algumas doenças procedem do pecado. A conseqüência do pecado é doença, se o pecado for leve, ou morte, se for grave. A julgar pelas palavras de 2Coríntios 7, esse homem não ficou doente ao ponto de morte porque seu pesar produziu arrependimento que o levou à salvação e não trouxe desgosto (vv. 9,10). Paulo pediu à igreja em Corinto para perdoar esse homem (2.6,7). Em 1Coríntios 5 é dito para entregar a carne desse homem (não sua vida) a Satanás; ele devia ficar doente, mas não ser morto.

Paulo, além disso, escreveu que os membros da igreja em Corinto, que comiam e bebiam do pão e do cálice do Senhor sem discernir o corpo do Senhor, haviam ficado fracos e doentes e alguns haviam até morrido (11.29,30). Isso revela que a desobediência ao Senhor foi a causa da doença deles.

As Escrituras fornecem informação suficiente no sentido de que muitos (mas não todos) ficam doentes por causa do pecado. Desse modo, a primeira atitude que devemos tomar quando ficarmos doentes é nos examinar a fim de determinar se pecamos ou não contra Deus. Pelo exame, muitos descobrirão que seus males são, na verdade, devidos ao pecado; em algum ponto de sua vida rebelaram-se contra Deus ou desobedeceram a Sua Palavra. Eles se desviaram. Tão logo esse pecado particular seja encontrado e confessado, a doença desaparecerá. Incontáveis irmãos e irmãs no Senhor têm passado por experiências assim. Logo depois da causa ser descoberta diante de Deus, a doença se vai. Esse é um fenômeno que ultrapassa o conhecimento da medicina.

A doença não surge necessariamente do pecado, porém, grande parte dela tem essa origem. Reconhecemos que muitas moléstias têm causas naturais, mas declaramos igualmente que não podemos atribuir toda doença a causas naturais.

Lembro-me de um irmão, professor numa escola de medicina, que ensinou a seus alunos: “Temos encontrado muitas explicações naturais para as doenças. Por exemplo: certo tipo de microrganismo causa um tipo particular de doença. Como médicos, podemos determinar que tipo de agente produz tal tipo de enfermidade, mas não temos como explicar porque, entre certas pessoas igualmente expostas, algumas são contaminadas enquanto outras permanecem imunes. Suponhamos, por exemplo, que dez pessoas entrem no mesmo cômodo simultaneamente e sejam expostas ao mesmo tipo de vírus. Deveríamos esperar que as mais fracas fossem contaminadas; todavia, pode perfeitamente acontecer de as fracas serem poupadas e as fortes, atacadas. Temos de reconhecer”, ele concluiu, “que além das causas naturais existe o controle da Providência”. Pessoalmente concordo com as palavras desse irmão. Quão frequentemente as pessoas adoecem a despeito de toda medida preventiva.

Também me lembro do que me foi relatado por um de meus colegas sobre sua experiência na Faculdade Médica de Pequim. Havia um professor na faculdade que tinha muito conhecimento, mas pouca paciência. Por isso, frequentemente fazia perguntas simples nos exames. Uma vez ele perguntou por que as pessoas contraíam a tuberculose. Era uma pergunta bastante simples; porém, muitos falharam em dar a resposta certa. Eles responderam que certo tipo de pessoa tinha o bacilo da tuberculose. Todas as provas que continham essa resposta foram consideradas erradas. O professor explicou que a terra estava cheia de bacilos da tuberculose, mas que nem todos eram abatidos pela tuberculose. É somente sob certas condições favoráveis, ele lembrou, que esses bacilos causam a doença chamada tuberculose. Os bacilos por si só não podem causar a doença. Muitos estudantes esqueceram a importância dessas condições favoráveis. Estejamos cientes, portanto, que, a despeito da presença de muitos fatores naturais, os cristãos só adoecem com a permissão de Deus, dada sob condições apropriadas.

A doença não surge necessariamente do pecado, porém, grande parte dela tem essa origem.

Cremos francamente que existem explicações naturais para a doença; isso tem sido provado cientificamente. Confessamos, todavia, que muitas moléstias entre os filhos de Deus são conseqüência do pecado contra Deus, como o caso citado em 1Coríntios 11. É, portanto, essencial pedir primeiro perdão e depois cura. Freqüentemente podemos detectar, logo depois de termos sido abatidos com doença, onde transgredimos contra o Senhor ou como temos sido desobedientes a Sua Palavra. Quando o pecado é confessado e o problema, resolvido, a doença se vai. Isso é realmente um acontecimento maravilhosíssimo. De forma que o ponto inicial que precisamos conhecer é a relação entre pecado e doença. De forma geral, a doença resulta do pecado, e, também individualmente, ela pode resultar do pecado.

2. A obra do Senhor e a doença

“Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e nossas dores levou sobre Si; e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades” (Is 53.4,5). De todos os escritos do Antigo Testamento, o capítulo 53 de Isaías é o mais citado no Novo Testamento. Ele faz referências ao Senhor Jesus Cristo principalmente como nosso Salvador. O verso 4 afirma que “Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e nossas dores levou sobre Si”, enquanto Mateus 8.17 declara que isso [o ministério de cura do Senhor] aconteceu “para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz: ‘Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças”. O Espírito Santo indica aqui que o Senhor Jesus veio ao mundo para tomar nossas enfermidades e carregar nossas doenças. Antes de Sua crucificação Ele já tinha tomado nossas enfermidades e carregado nossas doenças; isso quer dizer que durante Seu ministério terreno o Senhor Jesus fez da cura Seu encargo e tarefa. Ele não somente pregou, mas também curou.

Ele, por um lado, pregou as boas-novas, mas por outro fortaleceu o fraco, restaurou a mão mirrada, purificou o leproso e levantou o paralítico. Enquanto estava sobre a terra, o Senhor Jesus devotou-se à realização de milagres como também ao ministério da Palavra. Ele saiu fazendo o bem: curou os doentes e expulsou os demônios. O propósito de Sua obra foi destruir a doença, o resultado do pecado. Ele veio para tratar com a morte e a doença, como também com o pecado.

O salmo 103 é familiar a muitos filhos de Deus; eu mesmo gosto muito de lê-lo. Davi proclama: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor; e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome.” Por que bendizer ao Senhor? “Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios.” Quais são os Seus benefícios? “Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades” (vv. 1-3). Desejo que os irmãos vejam que a doença está associada com dois elementos: morte por um lado, e pecado do outro. Mencionamos anteriormente como a morte é o resultado do pecado, com a doença incluída nela. Tanto a doença como a morte brotam do pecado. Aqui no salmo 103 vemos que a doença está associada com o pecado. Por causa do pecado na alma existe doença no corpo. Junto com o perdão de nossa iniqüidade vem a cura de nossa doença. O problema no corpo é o pecado por dentro e a doença por fora. Mas o Senhor Jesus tira ambos.

Todavia, existe uma diferença básica entre o tratamento de Deus para com nossa iniqüidade e Seu tratamento de nossa doença. Por que essa diferença? Nosso Senhor carregou nossos pecados em Seu corpo sobre a cruz. Algum pecado permanece sem perdão? Nenhum absolutamente, pois a obra de Deus é tão completa que o pecado é totalmente destruído. Mas, quanto ao tomar nossas enfermidades e carregar nossas doenças enquanto vivia na terra, o Senhor Jesus não erradicou todas as doenças e todas as enfermidades. Pois observe que Paulo nunca diz: “Quando peco, então, estou santificado”, mas declara: “Quando estou fraco, então, sou forte” (2Co 12.10). Portanto, o pecado é tratado completa e ilimitadamente, enquanto a doença o é em parte.

Na redenção de Deus, o tratamento da doença é diferente do tratamento do pecado. Com o último, sua destruição é totalmente ilimitada; com o anterior não é assim. Timóteo, por exemplo, continuou tendo um estômago fraco. O Senhor permitiu que essa doença permanecesse em Seu servo. Assim, na salvação de Deus a doença não foi erradicada tão completamente como o pecado. Alguns afirmam que o Senhor Jesus trata somente com o pecado e não com a doença também; outros imaginam que a esfera do Seu tratamento da doença é tão ampla e inclusiva quanto Seu tratamento do pecado. Todavia, as Escrituras manifestamente indicam que o Senhor Jesus trata tanto com o pecado como com a doença; só que Seu tratamento com o pecado é ilimitado, enquanto com a doença é limitado. Devemos contemplar o Cordeiro de Deus tirando todo o pecado do mundo. Ele carregou o pecado de cada uma e de todas as pessoas1. O problema do pecado, portanto, já está resolvido. Entretanto, a doença ainda tem acesso aos filhos de Deus.

Porém, nós asseveramos que, visto o Senhor Jesus ter realmente levado nossas doenças, não deveria haver tanta enfermidade como há entre os filhos de Deus. Enquanto Jesus esteve na terra, Ele indubitavelmente dedicou-se à cura dos doentes. Ele incluiu a cura em Sua obra. Isaías 53.4 cumpriu-se em Mateus 8, não em Mateus 27. Ela foi realizada antes do Calvário. Tivesse sido realizada na cruz, a cura seria ilimitada. Mas não: o Senhor Jesus levou nossas enfermidades antes de Sua crucificação, com o resultado de que esse aspecto de Sua obra não é ilimitado como foi o carregar de nossos pecados por Ele.

Mesmo assim, inúmeros santos permanecem doentes porque perderam a oportunidade de serem curados. Deixem-me acrescentar mais algumas palavras sobre esse ponto. A menos que tenhamos a segurança que Paulo teve após orar três vezes, de que sua fraqueza permaneceria porque seria útil para ele, nós devemos pedir a cura. Paulo só aceitou sua fraqueza depois de orar pela terceira vez e de lhe ter sido mostrado distintamente pelo Senhor que Sua graça era suficiente para ele e que Sua força seria aperfeiçoada na fraqueza dele. A menos que tenhamos certeza de que Deus quer que levemos nossa fraqueza, nós devemos pedir ousadamente que Ele mesmo a leve e tire nossa doença. Os filhos de Deus vivem sobre a terra não para ficar doentes, mas para glorificar a Deus. Se ficarem doentes e trouxerem glória a Deus, isso é ótimo; mas muitas doenças não O glorificam necessariamente. Conseqüentemente, devemos aprender a confiar no Senhor enquanto estamos doentes e devemos reconhecer que Ele carrega nossa doença também. Ele curou um grande número de pessoas enquanto estava na terra. E Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Entreguemos nossa enfermidade a Ele e peçamos a Ele pela cura.

3. A atitude do crente com respeito à doença

Toda vez que o cristão ficar doente, a primeira coisa a fazer é investigar a causa do mal diante do Senhor, não devendo ficar ansioso demais pela cura. Paulo estabelece um bom exemplo nos mostrando como ele conhecia bem sua fraqueza. Devemos examinar se temos desobedecido ao Senhor, se pecamos em algum lugar, se devemos algo a alguém, se violamos alguma lei natural ou se negligenciamos alguma obrigação especial. Devemos saber que nossa quebra da lei natural freqüentemente pode constituir pecado contra Deus, pois foi Ele quem estabeleceu essas leis naturais pelas quais governa o universo. Muitos têm medo de morrer; quando adoecem buscam apressadamente os médicos, porque estão ansiosos para serem curados. Essa não deve ser a atitude do cristão. Ele deve primeiro procurar isolar a causa de sua doença. Infelizmente, quantos irmãos e irmãs não têm qualquer paciência. No momento em que adoecem, procuram pelo remédio. Você está tão temeroso de perder sua preciosa vida que, por meio da oração, você se apega a Deus para a cura, mas simultaneamente se apega ao médico para os remédios e injeção? Isso revela quão cheio do ego você está. Mas como poderia estar menos cheio do ego na doença se nos dias comuns você está cheio do ego? Aqueles que geralmente estão cheios do ego serão aqueles que buscarão ansiosamente pela cura tão logo fiquem doentes.

Aprenda a aceitar qualquer lição que a doença possa lhe trazer.

Posso lhes dizer que a ansiedade de nada vale? Visto que você pertence a Deus, sua cura não é tão simples. Mesmo que você seja curado dessa vez, ficará doente de novo. É preciso que se resolva o problema diante de Deus primeiro, e depois poderá ser resolvido o problema no corpo.

Aprenda a aceitar qualquer lição que a doença possa lhe trazer. Porque se você tiver tratos com Deus, muitos dos seus problemas serão resolvidos rapidamente. Você descobrirá que frequentemente sua doença é devida a algum pecado ou falta. Após confessar seu pecado e pedir perdão, você pode esperar a cura de Deus. Ou, se você tiver avançado um pouco mais com seu Senhor, talvez possa discernir que o ataque do inimigo está envolvido nisso. Ou a questão da disciplina de Deus pode estar associada com sua falta de saúde. Deus corrige você com doença para torná-lo mais santo, mais maleável ou submisso. Quando você trata destes problemas diante de Deus, poderá ver a razão exata de sua enfermidade. Algumas vezes Deus poderá permitir que você receba alguma ajuda médica, mas em outras Ele poderá curá-lo instantaneamente sem tal assistência.

Devemos ver que a cura está nas mãos de Deus. Aprenda a confiar Naquele que cura. No Antigo Testamento Deus tem um nome especial que é: “Eu sou o Senhor que te sara” (Êx 15.26). Busque-O, e Ele será gracioso para com os Seus nesta questão particular.

O passo inicial que o crente deve, portanto, dar quando fica doente é descobrir a causa; depois, ele pode recorrer a vários e diferentes modos de cura, um dos quais é chamar os presbíteros da igreja para orar e ungi-lo com óleo. Essa é a única ordem na Bíblia com respeito à doença. “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5.14,15).

Não se apresse em buscar a cura, mas antes tenha tratos com Deus, logo no início da doença. Uma das coisas a ser feita, então, é chamar os anciãos da igreja para ungir você com óleo. Isso fala do fluir do óleo do Cabeça a você, como um dos membros do Corpo. O óleo que o Cabeça recebe corre pelo Corpo inteiro. Como membro do Corpo de Cristo, alguém pode esperar que o óleo no Cabeça flua até ele. Onde a vida flui, a doença é levada. O propósito da unção é, portanto, trazer o óleo do Cabeça. Por causa da desobediência, do pecado ou talvez por alguma outra razão, o crente colocou-se fora da circulação do Corpo e separou-se da vida do Corpo. Por conseguinte, ele precisa chamar os anciãos da igreja para reinstalá-lo na circulação e no fluxo da vida do Corpo de Cristo2. Acontece exatamente como no corpo físico, pois, quando algum de seus membros está prejudicado, a vida do corpo não pode fluir livremente para ele. Portanto, a unção é para restaurar esse fluxo. Os anciãos representam a igreja local; eles ungem o crente em nome do Corpo de Cristo a fim de que o óleo do Cabeça possa fluir para ele novamente. Que venha o óleo do Cabeça sobre aquele membro para o qual a vida tem sido obstruída! Nossa experiência nos diz que essa unção pode levantar de modo instantâneo o que está seriamente doente.

Aprenda a confiar Naquele que cura.

Algumas vezes, alguém identifica a explicação para sua doença como sendo individualismo. Essa pode ser a causa principal da doença. Alguns cristãos são altamente individualistas. Eles fazem tudo conforme sua própria vontade. Fazem tudo por si mesmos. Se a mão de Deus vem sobre eles, eles adoecem, porque o suprimento do Corpo não atinge esses membros. Eu não ouso simplificar demais esse assunto. As causas para a doença podem ser muitas e variadas. Uma doença pode ser por desobediência ao mandamento do Senhor, recusa em realizar Sua vontade; outra pode ser por algum pecado particular cometido; mas outra ainda pode ser conseqüência de individualismo. No caso de certos indivíduos, Deus ignora o assunto e não disciplina; mas, especialmente no caso daqueles que conhecem a igreja, Ele os corrige com doenças caso comecem a agir independentemente. O Senhor não deixará que esses sigam sem alguma disciplina.

É possível também que a enfermidade seja a conseqüência de um corpo maculado. Se alguém profanar seu corpo, Deus destruirá esse templo. Muitos estão enfermos porque corrompem seu corpo.

Em resumo, portanto, dizemos que nenhuma doença acontece sem uma causa. Se um cristão contrai uma doença, ele deve tentar localizar a causa ou causas. Depois de confessá-las uma a uma diante de Deus, ele deve chamar os anciãos da igreja para que possam confessar uns aos outros e orar uns pelos outros. Os anciãos ungirão o doente com óleo para que a vida do Corpo de Cristo lhe possa ser restaurada. O influxo da vida fará desaparecer a doença. Cremos nas causas naturais, mas adicionalmente devemos afirmar que as causas espirituais têm prioridade sobre as naturais. Se as espirituais forem cuidadas, a doença será curada completamente.

4. A correção de Deus e a doença

Um fato maravilhoso é encontrado na Bíblia: é relativamente fácil que um “pagão” seja curado, mas a cura do cristão não é tão fácil. O Novo Testamento nos mostra claramente que, sempre que um incrédulo busca o Senhor, ele é curado imediatamente. O dom da cura é dado tanto aos irmãos quanto aos não-crentes. Todavia, a Bíblia fala de alguns crentes que não foram curados; entre eles estão Trófimo, Timóteo e Paulo. E esses são os melhores entre os irmãos. Paulo deixou Trófimo doente em Mileto (2Tm 4.20). Ele exortou Timóteo para que usasse um pouco de vinho por causa do seu estômago e de suas freqüentes enfermidades (1Tm 5.23). O próprio Paulo experimentou um espinho na carne, que o fez sofrer muito, sendo reduzido a grande fraqueza (2Co 12.7). Seja qual for a natureza do espinho – problema nos olhos ou alguma outra doença –, ele maltratava a carne de Paulo. Há pessoas que sentem grande incômodo quando o dedo é ferido por um espinho. O de Paulo, todavia, era um espinho enorme. Ele o incomodou tanto que Paulo só podia descrever sua condição física como fraqueza. Os três que foram citados são irmãos por excelência; porém, nenhum foi curado. Eles tiveram de suportar a doença.

É evidente que a doença difere bastante do pecado em suas conseqüências. O pecado não produz nenhum fruto de santidade, mas a doença, sim. Quanto mais uma pessoa peca, mais corrupta se torna; a doença, porém, produz o fruto da santidade, porque a mão disciplinar de Deus está sobre o doente. Sob tais circunstâncias, convém que o filho de Deus aprenda a como submeter-se à poderosa mão de Deus.

A doença por si só não torna um homem santo, mas o fato de aceitar sua lição produz santidade.

Se alguém está doente, deve tratar de toda causa de sua doença diante do Senhor. Se depois de tratar de tudo, a mão de Deus ainda permanecer sobre ele, ele deve então entender que essa enfermidade tem o propósito de refreá-lo para que não seja orgulhoso, libertino ou por alguma outra razão. Ele deve aceitá-la e aprender sua lição. Ficar doente não terá valor se a lição não for aprendida. A doença por si só não torna um homem santo, mas o fato de aceitar sua lição produz santidade. Alguns pioram espiritualmente durante a doença; tornam-se mais egocêntricos. É por isso que o indivíduo deve descobrir a lição nessas ocasiões. “Que proveito ou fruto pode ser extraído dela? A mão de Deus está sobre mim para me manter mais humilde como Ele fez com Paulo, para que eu não me exalte pela excelência das revelações (2Co 12:7)? Ou é porque Deus deseja enfraquecer meu individualismo obstinado?” Qual a utilidade da doença se ela não induz a aprender a lição da fraqueza? Muitos estão doentes em vão, porque jamais aceitam o tratamento do Senhor para seus problemas particulares.

Não olhe para a doença como sendo algo terrível. Na mão de quem está essa faca? Lembre-se de que ela está na mão de Deus. Por que devemos ficar ansiosos por nossa enfermidade como se ela estivesse na mão do inimigo? Saiba que Deus mediu todas as nossas doenças. Para ser correto, Satanás é o originador delas; é ele quem torna as pessoas doentes. Todavia, todos os que leram o livro de Jó reconhecem que isso ocorre apenas mediante a permissão de Deus e está completamente sob a restrição de Deus. Sem a permissão de Deus, Satanás não pode tornar ninguém doente. Deus permitiu que Jó fosse atacado por uma doença, mas observe que Ele não permitiu que o inimigo tocasse em sua vida. Por que, então, ficamos tão agitados, tão cheios de desespero, tão ansiosos para sermos curados, tão temerosos de morrer quando somos abatidos pela doença?

Sempre é bom ter em mente a lembrança de que a doença está na mão de Deus. Ela foi medida e limitada por Ele. Depois que Jó cumpriu o curso de sua prova, sua doença terminou, pois tinha realizado seu propósito nele: “Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5.11).

Que vergonha tantos doentes sem reconhecerem o propósito da doença e sem aprender sua lição! Todas as enfermidades estão na mão do Senhor e são medidas para nós, para que possamos aprender nossas lições. Quanto mais cedo aprendemos, mais rápido essas enfermidades passarão.

Falando francamente, muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos. A menos que o Senhor lhes remova esse amor próprio do coração, Ele não pode usá-los. Portanto, devemos aprender a ser aqueles que não amam a si mesmos. Algumas pessoas não pensam em mais nada senão em si mesmas. O universo inteiro parece girar ao redor delas. Elas são o centro da terra e do universo. Dia e noite estão ocupadas consigo mesmas. Toda criatura existe para elas e tudo roda a seu redor. Até mesmo Deus, nos céus, é para elas, Cristo é para elas, a igreja também. Como Deus pode destruir esse egocentrismo? Por que algumas doenças são difíceis de serem curadas? Quão propositalmente solicitam a condolência dos homens! Se rejeitassem a condolência humana, suas doenças logo seriam curadas.

Falando francamente, muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos.

Um fato notável é que muitos estão doentes porque gostam de ficar doentes. Na doença recebem a atenção e o amor que comumente não desfrutam na saúde. Eles se tornam doentes com freqüência para que possam habitualmente ser amados. Tais pessoas precisam ser repreendidas com severidade; se estivessem dispostas a receber o tratamento de Deus nessa questão particular logo ficariam boas.

Conheço um irmão que sempre esperava amor e bondade dos outros. Sempre que lhe perguntavam sobre seu bem-estar, ele habitualmente respondia com queixas sobre sua fraqueza física. Ele dava um relatório detalhado de quantos minutos sofreu com febre, quanto tempo durou a dor de cabeça, quantas vezes por minuto respirou e quão irregular era a batida do coração. Ele vivia em constante desconforto. Gostava de contar às pessoas sua angústia para que pudessem se compadecer dele. Nada tinha para relatar senão sua história de doença interminável. E às vezes queria saber por que não era nunca curado.

É difícil falar a verdade [a pessoas assim] e algumas vezes pode custar caro. Um dia, me senti fortalecido interiormente para lhe dizer de maneira cândida que sua longa doença era devida a seu amor pela enfermidade. Ele naturalmente negou-o. Todavia, eu continuei apontando a ele: “Você tem medo que sua doença o deixe. Você se apega à condolência, ao amor e ao cuidado. Como não pode conseguir essas coisas de outra forma, você as obtém ficando doente. Você deve se livrar desse desejo egoísta antes que Deus possa curá-lo. Quando as pessoas perguntarem como está, deve aprender a dizer que ‘tudo está bem’. Seria isso mentir quando não passou bem a noite? Lembre-se da história da mulher em Sunem. Ela deitou o filho morto na cama do homem de Deus e foi ver Eliseu. Quando lhe foi perguntado: ‘Vais bem? Vai bem teu marido? Vai bem teu filho? Ela respondeu: Vai bem’ (2Rs 4.26). Como podia ela dizer isso, sabendo que a criança já havia morrido e estava deitada sobre a cama de Eliseu? Porque ela tinha fé. Ela cria que Deus ia ressuscitar seu filho. Você deve crer assim hoje também.”

Seja qual for a causa, intrínseca ou extrínseca, a doença terminará quando Deus tiver alcançado Seu propósito. Pessoas como Paulo, Timóteo e Trófimo são exceções. Embora suas doenças fossem prolongadas, eles reconheciam que isso era útil para sua obra. Eles aprenderam como cuidar de si para a glória de Deus. Paulo persuadiu Timóteo a tomar um pouco de vinho e a tomar cuidado com o que comia e bebia. A despeito da fragilidade deles, a obra de Deus não foi negligenciada. O Senhor lhes deu graça suficiente para vencer suas dificuldades. Paulo trabalhou em fraqueza. Lendo seus escritos, podemos facilmente concluir que ele realizou tanto quando dez pessoas poderiam fazer. Deus usou esse homem fraco para exceder a dez pessoas fortes. Embora seu corpo fosse frágil, Deus lhe deu força e vida. Esses homens, porém, são exceções na Bíblia. Alguns dos vasos especiais de Deus podem receber o mesmo tratamento. Mas os soldados rasos, principalmente os iniciantes, devem examinar se pecaram e, após confessar seus pecados, verão as doenças imediatamente curadas.

Finalmente, desejo que vocês vejam diante do Senhor que algumas vezes Satanás pode desfechar ataques repentinos ou vocês quebram involuntariamente alguma lei natural. Ainda assim, podem levar isso diante do Senhor. Se for ataque do inimigo, repreenda em nome do Senhor. Certa vez, uma irmã ficou prostrada com febre. Depois de descobrir que era um ataque satânico, ela a repreendeu3 em nome do Senhor e a febre a deixou. Se você violar uma lei natural colocando a mão no fogo, certamente ficará queimado. Cuide bem de você. Não espere até ficar doente para confessar sua negligência. É importante cuidar do seu corpo4 durantes os dias comuns.

5. O modo de buscar a cura

Como devem os homens buscar a cura diante de Deus? Três sentenças no Evangelho de Marcos são dignas de serem aprendidas. Eu as considero muitíssimo úteis – pelo menos o são para mim. A primeira menciona o poder do Senhor; a segunda, a vontade do Senhor, e a terceira, a ação do Senhor.

a) O poder do Senhor: “Deus pode”.

“E [Jesus] perguntou ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse: Desde a infância. E muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para o destruir; mas, se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. E Jesus lhe disse: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê” (9.21-23). O Senhor simplesmente repetiu as três palavras que o pai da criança havia pronunciado. O pai clamou: “Se Tu podes […] ajuda-nos.” O Senhor respondeu: “Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê”. O problema aqui não é “se Tu podes”, mas “se tu podes crer”.

Não é verdade que o primeiro problema que surge com a doença é uma dúvida quanto ao poder de Deus? Sob um microscópio, o poder da bactéria parece ser maior do que o poder de Deus. Raramente o Senhor interrompe as pessoas quando elas ainda estão falando, mas aqui Ele parece como que irado. (Que o Senhor me perdoe por falar assim!) Quando Ele ouviu o pai da criança dizer: “Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão e ajuda-nos”, bruscamente reagiu dizendo: “Por que dizes: ‘Se Tu podes’? Todas as coisas são possíveis ao que crê. Na doença, a questão não é se Eu posso ou não, mas se tu crês ou não”.

O passo inicial que o filho de Deus deve dar na doença, portanto, é levantar a cabeça e dizer: “Senhor, Tu podes!”. Você, com certeza, se lembra do primeiro estágio da cura do paralítico pelo Senhor? Ele perguntou aos fariseus: “Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Estão perdoados os teus pecados ’ ou dizer-lhe: ‘Levanta-te, e toma o teu leito e anda’?” (Mc 2.9). Os fariseus naturalmente pensaram que era mais fácil dizer que os pecados estão perdoados, pois quem poderia provar se estavam ou não? Mas as palavras do Senhor e seus resultados mostraram a eles que Ele podia curar as doenças e perdoar pecados. Ele não perguntou qual era mais difícil, mas qual era mais fácil. Para Ele, ambos eram igualmente fáceis. Para o Senhor, era tão fácil ordenar ao paralítico que se levantasse e andasse, quanto perdoar seus pecados. Para os fariseus, ambos eram difíceis.

b) A vontade do Senhor: “Deus quer”

Sim, Ele realmente pode, mas como posso saber se Ele quer? Não conheço Sua vontade; talvez Ele não queira me curar. Esta é outra história que lemos em Marcos. “E aproximou-se Dele um leproso que, rogando-Lhe e pondo-se de joelhos diante Dele, Lhe dizia: ‘Se queres, bem podes limpar-me’. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o e disse-lhe: ‘Quero, sê limpo’” (1.40,41).

Não importa quão grande seja o poder de Deus. Se Ele não tiver o desejo de curar, Seu poder não me ajudará. O problema a ser resolvido inicialmente é: Deus pode? O segundo é: Deus quer? Não existe doença tão impura quanto a lepra. É tão impura que, segundo a lei, qualquer pessoa que tocasse num leproso tornava-se impura. Todavia, o Senhor tocou o leproso e lhe disse: “Eu quero”. Se Ele quis curar o leproso, quanto mais quer curar nossas doenças. Podemos proclamar com intrepidez: “Deus pode” e “Deus quer”!

c) A ação do Senhor: “Deus fez”

Deus deve fazer mais uma coisa. “Em verdade vos digo que qualquer que disser a esse monte: ‘Ergue-te e lança-te ao mar’ e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso vos digo que todas as coisas pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (11.23,24). O que é fé? A fé crê que Deus pode, Deus quer e Deus fez. Se você crer que recebeu, você o receberá. Se Deus lhe der Sua Palavra, você pode agradecer a Ele dizendo: “Deus me curou; Ele já o fez!”

Muitos crentes esperam ser curados. A esperança considera as coisas do futuro, mas a fé trata com o passado. Se crermos realmente, não esperaremos por vinte ou cem anos, mas nos levantaremos imediatamente e diremos: “Graças a Deus, Ele me curou. Graças a Deus, eu recebi. Graças a Deus, estou limpo! Graças a Deus, estou bem”. Uma fé perfeita pode proclamar que Deus pode, Deus quer e que Deus fez.

A fé trabalha com o que “é” e não com o “desejo”. Permita-me usar uma ilustração simples. Suponhamos que você pregue o evangelho e alguém professe que creu. Pergunte a ele se está salvo, e se ele responder que espera ser salvo, então, você sabe que a resposta é inadequada. Se ele disser: “Serei salvo”, a resposta ainda está incorreta. Mesmo que ele responda dizendo: “Acho que serei definitivamente salvo”, ainda está faltando algo. Mas quando ele responde: “Eu estou salvo”, você sabe que ele está certo. Se alguém crê, então, está salvo. Toda fé trata com o passado. Dizer: “Eu creio que serei curado” não é a verdadeira fé. Se a pessoa crê, agradecerá a Deus e dirá: “Eu recebi a cura”.

Retenha estes três passos: Deus pode, Deus quer, Deus fez. Quando a fé que o homem tem chega ao terceiro estágio, a doença se vai.

 

Notas

1 O autor não abraça o entendimento da expiação limitada. Para uma breve apresentação do tema, leia o artigo Por quem Cristo morreu?, de John Owen, (N. do E.)

2 Por exigir a presença dos presbíteros e o uso do azeite, essa unção para a cura não se aplica a qualquer caso, pois se trata de uma circunstância bastante específica. O doente nesse caso está sofrendo em conseqüência de algum pecado em relação ao Corpo, algo que tenha cometido e o tenha isolado da plena comunhão com o Corpo. Assim, a passagem de Tiago não serve de base para o uso da unção com óleo para a cura de qualquer doença em qualquer circunstância. (N. do E.)

3 Segundo os exemplos encontrados na Escritura, não se deve repreender as doenças, a menos que elas sejam efetivamente resultado de uma ação maligna exterior à pessoa ou interior nela. (N. do E.)

4 Isso implica todos os cuidados com alimentação adequada, períodos de descanso, qualidade de sono, etc. Não fornecer ao corpo os nutrientes e os cuidados necessários, e, ao mesmo tempo, intoxicá-lo com certeza resultará em doenças por ferir as leis naturais estabelecidas por Deus para o adequado funcionamento do organismo. (N. do E.)


(Extraído da revista À Maturidade, primavera de 1985. Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria e de tradução e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Tribulação não é julgamento (D. M. Panton)

Os amigos de Jó não entendiam que tribulação não é julgamento

Uma lição que é terrivelmente urgente que todos nós aprendamos hoje é uma lição para a qual não só existe um livro inteiro da Bíblia dedicado a ela, Jó, mas que esse livro foi, supostamente, o primeiro da Bíblia a ser escrito. Em um desafio de Deus a Satanás, e no desafio de Satanás em resposta a Deus, o Altíssimo seleciona um homem, um dos maiores patriarcas na aurora do mundo, a fim de resumir para sempre um único fato: que um filho de Deus, do mais elevado caráter, pode sofrer perda indescritível – propriedades, família, saúde, tudo dizimado exatamente como um ataque aéreo pode fazê-lo – e isso não ser nenhum julgamento sobre o pecado em caráter ou serviço, mas simplesmente ser o plano profundo do Altíssimo servindo a propósitos de que esse filho de Deus é totalmente ignorante.

Um homem perfeito

O livro se inicia com uma definição de Jó dada pelo próprio Deus. “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele” – o Senhor escolheu o caráter mais elevado que podia ser encontrado, então, sobre a terra –, “homem íntegro e reto”. Homem íntegro, perfeito no sentido bíblico: não sem pecado, mas totalmente maduro, não um botão, mas uma flor plenamente desabrochada – “temente a Deus e que se desvia do mal” (1.8). Deus, então, entrega Jó ao poder1 de Satanás, impedindo-o de matar o homem, e as aflições caem como relâmpagos. Rapidamente, sua riqueza desaparece, seus filhos e filhas são eliminados e, em seguida, uma doença desagradável destrói seu corpo. Jó instantaneamente se torna um dos homens que mais tristemente sofre na Bíblia, exceto os do martírio2.

Fé em agonia

Agora nós encaramos, como Satanás fez e foi planejado que fizesse, a reação de um fiel servo de Deus à infinita tristeza. Após o esmagamento de sua casa e de seus entes queridos, Jó exclama: “O Senhor deu e o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor” (v. 21). A fé repousa, não sobre o que Deus faz neste momento ou naquele, mas no que Ele é: Deus é amor; e a fé de ouro de Jó triunfa sobre todas as trevas, o mistério e a morte. Assim, Jeová desafia Satanás desafia: “Observaste o meu servo Jó? […] Ainda retém a sua sinceridade [integridade], havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa” (2.3). No final, Jó tinha perdido todas as coisas que Satanás dissera serem o único fundamento de sua lealdade a Deus; mas, mesmo com aquela perda, sua lealdade a Deus permaneceu um halo dourado em volta da testa do homem doente. E isso é mais maravilhoso porque, tanto quanto sabemos, Jó não tinha tais revelações claras como nós temos. “Nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (2Co 4.17,18). “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).

Permissão

No entanto, ao mesmo tempo, Jó é para sempre um alerta para nós. Fundamentalmente, ele nunca vacilou em sua confiança em Deus, como é belamente provado quando sua esposa disse: “Amaldiçoa a Deus e morre”, e ele respondeu: “Receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal?” (Jó 2.9,10). No entanto, ele afundou em um pessimismo por se ressentir amargamente de suas aflições. “Ele consome ao perfeito e ao ímpio” (9.22). Nunca brilhou para Jó que a enormidade de seus infortúnios revelava a estimativa que Deus havia colocado sobre a força de seu caráter. Era como Paulo disse: “Não veio sobre vós tentação, senão humana [ou seja, que um homem pode suportar]; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis” (1Co 10.13). Assim, todas as palavras de Jó de desgosto e desespero nunca precisariam ter cruzado seus lábios de acordo com a estimativa divina sobre seu caráter. “Jó nunca poderia ter apresentado uma paciência [perseverança] que soa ao longo dos séculos, até nós ouvirmos falar dela, se ele não tivesse conhecido aflição extraordinária” (C. H. Spurgeon).

Culpa

Chegamos agora ao coração do problema no erro gigantesco (embora muito natural) feito pelos amigos de Jó. [Para eles], toda a pressão daqueles sofrimentos pessoais tinham apenas uma explicação: culpa pessoal. “Sabe, pois, que Deus exige de ti”, disse Zofar, “menos do que merece a tua iniqüidade” (11.6). No entanto, ao final, Jeová diz: “Não falastes de mim o que era reto” (42.7). O princípio pelo qual eles contenderam, que o pecado traz julgamento sobre os servos de Deus, é absolutamente verdadeiro e se aplica a inúmeros crentes. Porém, o enorme erro que eles cometeram, que é igualmente perigo para nós nesses dias em que crescente tribulação se aproxima, é que o sofrimento é, necessariamente, julgamento3. Ao longo de sua fala, Jó nunca hesitou por um momento em afirmar sua integridade, pois sabia que ela era um fato; contudo, seus amigos nunca especificaram com exatidão um único pecado em sua vida passada, nem sequer tentaram fazê-lo, enquanto atribuíam todo o sofrimento dele a uma vida tão pecadora que merecia esse julgamento esmagador4.

Deus

O próprio Jeová agora intervém nesse tremendo drama; e responde a Jó com uma palavra apenas: Deus. Na mais maravilhosa descrição da criação já dada, Ele desafia Jó: “Onde estavas tu quando Eu fundava a terra? […] Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam e todos os filhos de Deus jubilavam?” (38.4,7). Você é competente para criticar Deus? Nossa profunda ignorância das maravilhas da criação e, portanto, dos planos e propósitos insondáveis ainda mais maravilhosas que repousam, invisíveis, por trás da criação, faz todo o julgamento das ações de Deus nada menos do que um absurdo. Deus reina em meio à confusão, ao terror e à morte tão completamente como quando tudo está em perfeita ordem. Mesmo quando Jeová estava falando a Jó, a causa de seu sofrimento ainda era totalmente desconhecida para o patriarca: Jó era totalmente ignorante do drama do qual ele era a figura central e o ator principal. Menos ainda poderia ele saber que, visto por céu e inferno, esse drama, registrada no livro de abertura da Bíblia5, era provar para sempre que um filho de Deus, despojado de tudo, pode ser como o ouro purificado pelo fogo.

Penitência

Então, agora conhecemos a reação de Jó. Embora fosse “perfeito”, na medida em que os seres humanos podem ser, ele exigiu uma experiência espiritual nova. Repetidamente, e de modo quase desafiador, Jó tinha pedido ao Altíssimo que lhe concedesse uma entrevista, na qual ele poderia pleitear sua causa. Agora que ele está cara a cara com Deus, exclama: “Relatei o que não entendia […] Com o ouvir de meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos” (42.3,5). Por fim, brilhou para Jó que suas aflições era apenas um dos pensamentos primorosamente planejados de Deus, assim como Ele tinha feito a maravilhosa beleza da criação. Agora ele viu Deus em tudo, e que essa visão resolve todos os problemas. E uma revelação muito mais profunda de si mesmo acompanha a visão celestial. “Por isso”, Jó exclama, “me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (v. 6). O desespero com que ele conheceu o mistério do Senhor ao lidar com ele e a maldição sobre o dia de seu nascimento revelaram a esse nobre servo de Deus o que Paulo tinha aprendido: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18.). E, assim, a própria tragédia de sua agonia completava a santidade do santo de Deus.

Recompensa

Por fim, chegamos ao que é sempre o objetivo de Deus: “E o Senhor virou o cativeiro de Jó […] e o Senhor acrescentou em dobro a tudo quanto Jó antes possuía” (42.10,12)6. Jó não tinha sido alguém que ensinava que só deve buscar a Deus quando tudo está bem, mas um fiel seguidor de seu Senhor, a despeito da catástrofe terrível, assim confundindo Satanás completamente; e, apesar de sua paixão e dos discursos precipitados de desespero, ele não tinha perdido o favor de Deus, e agora tinha confessado e abandonado seu pecado. Nas palavras do apóstolo Tiago: “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu, porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso [compassivo]” (5.11). O resumo que Deus dá a Jó, séculos depois, está em Ezequiel: “Quando uma terra pecar contra mim […] ainda que estivessem no meio dela estes três homens: Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça livrariam apenas a sua alma” (14.14). Então, aqui, no primeiro livro da Bíblia, toda a doutrina do galardão desponta. Como nosso Senhor a expressa, embora muito mais amplamente do que uma recompensa em dobro: “Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos ou campos, por amor de Mim” – Jó tinha perdido tudo por amor a Deus, na divina controvérsia com Satanás – “e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos e campos, com perseguições, e no século futuro a vida eterna7” (Mc 10.29,30) –, na glória do reino8.

 


(Traduzido por Francisco Nunes de “Tribulation that is not judgment”, de D. M. Panton, M. A. Você pode usar esse artigo desde que não o altere, não omita a autoria, a fonte e a tradução e o use exclusivamente de maneira gratuita. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

1Ele se encaixa apropriadamente a nosso próprio dia, em que nos lembramos de que, ao passo que o poder original de Satanás é descrito como dunamis, um poder inerente (Lc 10.19), desde o Calvário, quando seu poder foi paralisado (Hb 2.14), ele é exousia, uma autoridade puramente concedida (Ef 2.2; At 26.18). (N. do A.)

2O autor não quer significar que os mártires ou mesmo Jó estavam tristes por sofrer (talvez, em alguma medida, isso possa ser dito de Jó), mas que seu sofrimento inspirava tristeza em quem os via (veja o exemplo dos amigos de Jó). (N. do T.)

3Embora essa inculpabilidade possa ser aplicada aos convertidos durante a Grande Tribulação, ela não se aplica aos cristãos que entraram nela, uma vez que estes, se dignos, teriam escapado (Lc 21.36; Ap 3.10). (N. do A.)

4Eles justamente manchado críticas de coração partido de Jó da Providência, mas este pecado foi após o desastre, e, portanto, não poderia ser causa do mesmo.]

5Não no sentido de ser o primeiro que o leitor encontra na Bíblia, mas o primeiro escrito, como o autor já afirmou no primeiro parágrafo do texto. (N. do T.)

6É belo notar que seus filhos e filhas também foram exatamente em dobro, na medida em que os cinco anteriores ainda eram dele, embora no Paraíso (isto é, no Hades/Sheol) com seu Senhor. (N. do A.)

7A palavra grega aionios, traduzida por “eterna”, também pode ser traduzida como “duradoura pelas eras”, se o contexto assim o indica, como nesse versículo. A vida deve seguir a morte e a ressurreição. Portanto, Jó deve ser ressuscitado ao tempo da “primeira ressurreição” a fim de ser capacitado a desfrutar a vida na era por vir” (Ap 20.6). E assim está escrito: “Eu sei que o meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida minha pele [isto é, depois da minha morte], contudo ainda em minha carne [isto é, em meu corpo ressuscitado], verei Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e meus olhos, e não outros, O contemplarão [isto é, sobre a terra, na era vindoura, depois da ressurreição dos justos]” (Jó 19.25-27). (N. do E.)

8É intensamente proveitoso notar que na aurora da Bíblia, o drama se encerra sobre a terra de modo que todo pecado tem apenas um perdão: sacrifício de sangue. Jeová diz a Elifaz: “A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos […] oferecei holocaustos por vós” (Jó 42.7). Ira e sangue: o sangue do Cordeiro é o único refúgio para o qual, se não-salvos, podemos fugir da ira vindoura. (N. do A.)

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Por que todas as coisas cooperam para o bem do homem piedoso?

Todas as coisas, sem exceção…

O supremo motivo pelo qual todas as coisas cooperam para o bem é o íntimo e carinhoso interesse que Deus tem por Seu povo

O Senhor fez uma aliança com os membros de Seu povo. “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Jr 32.38). Em virtude desse pacto, todas as coisas cooperam, e devem mesmo cooperar, para o bem deles. “Eu sou Deus, o teu Deus” (Sl 50.7). Esta expressão, “o teu Deus”, é a mais doce expressão em toda a Bíblia; ela revela as melhores relações, e é impossível haver tais relações entre Deus e Seu povo e, ainda assim, todas as coisas não cooperarem para o bem deles. Esta expressão, “Eu sou o teu Deus”, implica:

1. A relação com um médico: “Eu sou o teu Médico”.
Deus é um Médico habilidoso. Ele sabe o que é melhor. Deus observa os diferentes temperamentos dos homens, e sabe o que irá funcionar com mais eficácia. Alguns são de uma disposição mais dócil e são conduzidos pela misericórdia. Outros são vasos mais ríspidos e complicados; com esses, Deus trata de uma maneira mais forçosa. Algumas coisas se conservam em açúcar; outras, em salmoura. Deus não trata com todos de maneira indistinta; Ele tem provações para o forte e consolos para o fraco. Deus é um Médico fiel, e portanto usará todas as coisas para o melhor. Se Deus não lhe dá aquilo de que você gostaria, Ele dará aquilo de que você precisa. Um médico não estuda tanto tempo para satisfazer os gostos do paciente, mas para curá-lo de sua enfermidade. Nós nos queixamos de que provações muito dolorosas vêm sobre nós; lembremo-nos de que Deus é nosso Médico; portanto, Seu trabalho é para nos curar, em vez de para nos entreter. A maneira de Deus tratar com Seus filhos, embora seja severa, é uma maneira segura e que visa nos curar; ” para te humilhar, e para te provar, e, afinal, te fazer bem” (Dt 8.16).

Deus é nosso Médico; portanto, Seu trabalho é para nos curar, em vez de para nos entreter

2. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Pai.
Um pai ama seu filho; portanto, seja um sorriso, seja uma palmada, tudo é para o bem da criança. “Eu sou o teu Deus, o teu Pai; portanto tudo o que Eu faço é para teu bem”. “Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (v. 5). A disciplina de Deus não é para destruir, mas para aperfeiçoar. Deus não pode causar dano a Seus filhos, pois Ele é um Pai de terno coração: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem” (Sl 103.13). Acaso um pai buscará a ruína de seu filho, do filho que veio dele mesmo e que carrega sua imagem? Todo o seu cuidado e disposição são para o filho. A favor de quem ele deixa sua herança, senão para o filho? Deus tem um terno coração e é o “Pai de misericórdias” (2Co 1.3). Ele derrama todas as misericórdias e toda a bondade nas criaturas.

Deus é um Pai eterno (Is 9.6). Ele era nosso Pai desde a eternidade; antes que nós fôssemos crianças, Deus era nosso Pai, e Ele será nosso Pai por toda a eternidade. Um pai provê para o filho enquanto vive; mas o pai morre, e então o filho pode ser exposto a danos. Mas Deus nunca cessa de ser Pai. Você, que é cristão, tem um Pai que nunca morre; e, se Deus é seu Pai, você nunca ficará desamparado. Todas as coisas devem cooperar para o seu bem.

3. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Marido.
Essa é uma relação íntima e doce. O marido busca o bem da esposa; seria antinatural que ele vagueasse para destruir sua mulher. “Porque ninguém jamais odiou a própria carne” (Ef 5.29). Há uma relação marital entre Deus e Seu povo. “Porque o teu Criador é o teu marido” (Is 54.5). Deus ama plenamente Seu povo. Ele o tem gravado na palma das mãos (49.16). Ele o põe como um selo sobre o coração (Ct 8.6). Ele dará reinos por seu resgate (Is 43.3). Isso mostra quão próximo ele está do coração de Deus. Se Ele é um Marido cujo coração é pleno de amor, então, Ele irá buscar o bem de Sua esposa. Ou Ele a protegerá de um dano ou Ele o converterá para um fim melhor.

4. Esta expressão, “o teu Deus”, implica a relação com um Amigo.
“Tal [é] o meu amigo” (Ct 5.16, ARC). Um amigo é, como diz Agostinho, metade do nosso eu. Ele é atento e desejoso acerca de como pode fazer bem a seu amigo; ele promove o bem-estar dele como se fosse o seu próprio. Jônatas enfrentou o aborrecimento do rei por seu amigo Davi (1Sm 19.4). Deus é nosso Amigo; portanto, Ele converterá todas as coisas para nosso bem. Existem falsos amigos; Cristo foi traído por um amigo; mas Deus é o melhor Amigo.

Ele é um Amigo fiel. “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel” (Dt 7.9). Ele é fiel em Seu amor. Ele deu Seu próprio coração a nós, quando entregou o Filho de Seu amor. Ali estava um padrão de amor sem paralelo. Ele é fiel em Suas promessas. “O Deus que não pode mentir prometeu” (Tt 1.2). Ele pode mudar Sua promessa, mas não pode quebrá-la. Ele é fiel em Seu proceder; mesmo quando está afligindo, Ele é fiel. “Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Ele está nos peneirando e nos refinando como a prata (66.10).

Deus é nosso Amigo; portanto, Ele converterá todas as coisas para nosso bem. Existem falsos amigos; Cristo foi traído por um amigo; mas Deus é o melhor Amigo.

Deus é um Amigo imutável. “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Amigos às vezes falham numa emergência. Muitos procedem com os amigos como as mulheres, com as flores: enquanto estas estão frescas, elas as põem junto ao peito, mas, quando começam a murchar, elas as jogam foram. Ou como um viajante faz com o relógio de sol: se o sol brilha sobre o relógio, o viajante sai da estrada para consultar o relógio; mas se o sol não brilha sobre ele, ele segue dirigindo, sem sequer se lembrar do relógio. Assim, se a prosperidade brilha sobre um homem, então, os amigos atentam para ele; mas, se uma nuvem de adversidade paira sobre ele, eles não se aproximarão. Mas Deus é um Amigo para sempre; Ele disse: “De maneira alguma te deixarei”. Embora Davi andasse pelo vale da sombra da morte, ele sabia que tinha um Amigo a seu lado. “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Sl 23.4). Deus nunca afasta completamente Seu amor de Seu povo. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13.1). Sendo Deus tal Amigo, Ele fará todas as coisas cooperarem para nosso bem. Não há amigo que não busque o bem do amigo.

5. Esta expressão, “o teu Deus”, implica uma relação ainda mais íntima, a relação entre a Cabeça e os membros.
Há uma união mística entre Cristo e os santos: Ele é chamado “o Cabeça da igreja” (Ef 5.23). Não é verdade que a cabeça delibera pelo bem do corpo? Todas as partes da cabeça estão dispostas para o bem do corpo. O olho é posto como se estivesse numa torre de guarda; ele fica a postos para vigiar qualquer perigo que possa advir ao corpo, e preveni-lo. A língua serve tanto para provar como para discursar. Se o corpo fosse um microcosmo, ou um pequeno universo, a cabeça seria o sol desse universo, da qual procederia a luz da razão. A cabeça está posta para o bem do corpo. Cristo e os santos compõem um único corpo místico. Nossa Cabeça está nos céus, e certamente Ele não irá permitir que Seu corpo sofra dano, mas irá deliberar para a segurança dele e fará com que todas as coisas cooperem para o bem do corpo místico.

(Thomas Watson)

(Fonte)

(Pequenos aperfeiçoamentos e correções foram feitos, por Francisco Nunes, no artigo original. Consulte a fonte para outros artigo desta série.)

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Disciplina Igreja

Disciplina na igreja: castigo ou amor? (Fred Greco)

Disciplina na igreja — a própria frase parece trazer à mente da maioria dos cristãos um desfile de horrores. Parece que a nossa imagem atual da disciplina eclesiástica é aquela de tiranos repressivos e alheios, nos dizendo o que podemos e o que não podemos fazer. Isso não nos surpreende quando consideramos os incidentes públicos de abuso de autoridade tanto dentro quanto fora da igreja. Também há a ideia de que a disciplina na igreja parece alheia ao nosso entendimento moderno de liberdade cristã, um entendimento no qual o indivíduo cristão é seu próprio juiz em todas as questões concernentes à fé e à vida cristãs. Mas para entender o motivo pelo qual a disciplina eclesiástica tem sido considerada uma “marca” na igreja historicamente, devemos nos lembrar do verdadeiro propósito da disciplina na igreja.

Uma marca da igreja

Desde o tempo dos reformadores, para distinguir entre uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, teólogos têm descrito três “marcas” da igreja: a pregação adequada da Palavra de Deus, a administração apropriada dos sacramentos e a administração apropriada da disciplina eclesiástica. Embora não seja controverso pensar que uma igreja verdadeira ensinaria a Palavra de Deus e obedeceria o mandamento de Cristo para observar os sacramentos, muitos cristãos duvidariam que a disciplina eclesiástica é necessária para se ter uma verdadeira igreja. Na realidade, contudo, a ideia da disciplina na igreja é um paralelo essencial às primeiras duas marcas. Afinal, a Bíblia não nos diz que não é suficiente que a Palavra seja ensinada e pregada apropriadamente, mas que ela também deve ser obedecida e praticada (Rm 2.13; Tg 1.22)? E como a igreja pode administrar os sacramentos apropriadamente sem determinar a quem eles se aplicam? A disciplina eclesiástica é o mecanismo que o Senhor decretou para designar e edificar a sua igreja, a família de Deus.

A igreja não é apenas uma organização — é a personificação do propósito e do plano de Deus para redimir pecadores e reconciliá-los consigo mesmo. O mesmo crente em Jesus Cristo que é justificado através da fé também é adotado através da fé. Nosso grande Deus triuno não se satisfaz apenas com o fato de seu povo ser declarado não culpado diante do seu trono de julgamento (Rm 5.1). Ele também torna cada pecador redimido seu filho, parte da família de Deus (João 1.12). Quando vemos a igreja como uma família, começamos então a ver o propósito e a bênção da disciplina eclesiástica. Assim como pais e mães que carinhosamente amam os seus filhos devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los, pastores e presbíteros que amam o Senhor e o povo do Senhor devem tomar tempo para corrigi-los e encorajá-los.

Disciplina e discipulado

Para melhor apreciar a posição da disciplina na vida da igreja, devemos vê-la através de uma lente bíblica em vez de tentarmos enxergá-la por meio de casos individuais que possamos ter ouvido (ou experimentado). A palavra disciplina traz à tona imagens de julgamento e punição que podem nos colocar imediatamente na defensiva. Mas esse não é o uso bíblico primário da disciplina. A disciplina bíblica está mais relacionada com outra palavra bíblica bem conhecida: discípulo. Um discípulo é alguém que é ensinado (Mt 10.24), e no Novo Testamento, discípulo tem uma especial referência a aprender a observar todos os mandamentos de Jesus (28.19-20). De maneira similar, disciplina é aprender os caminhos do Senhor. Paulo usa a palavra nesse sentido em Efésios 6.4: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. De fato, a palavra do Novo Testamento para disciplina é a mesma palavra grega que é usada para educação ou instrução (especialmente de crianças) em um sentido mais amplo. Disciplinar alguém é treiná-la no caminho em que ela deve seguir (Pv 22.6) e edificar alguém que é querido (Hb 12.5-11) por amor (Ap 3.19).

Esse modelo bíblico também nos ajuda a entender que a disciplina eclesiástica é necessária para o nosso crescimento na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Se disciplina é o trabalho de um pai amoroso que instrui os seus filhos, como podemos recusar a instrução do nosso Pai celestial? O Senhor concedeu pastores à sua igreja para o propósito de edificar e capacitar o rebanho, e ele usa esses pastores como meio para disciplinar o seu povo (Ef 4.11-16). Em primeiro lugar, disciplina começa com instrução a partir da Palavra de Deus. Disciplina na igreja nunca deveria começar no estágio de algum tipo de ação formal. Ela começa com os líderes da igreja dando direção, instrução e admoestação a partir da Bíblia. Para que sejamos edificados pelo Senhor, devemos conhecer os mandamentos do Senhor. Para sermos colocados no caminho correto, devemos conhecer os caminhos do Senhor. Em um sentido muito real, se não desejamos ser parte de uma igreja que pratica a disciplina eclesiástica, estamos desistindo do privilégio de sermos instruídos e constrangidos pela Palavra de Deus.

Como deve ser a disciplina na igreja?

Se a disciplina eclesiástica é uma marca de uma igreja legítima, e se isso é uma extensão da disciplina amorosa de Deus para com seus filhos, por que ela não é praticada em mais igrejas? Por que ela é tão subestimada? A resposta para tais perguntas é frequentemente encontrada na maneira como a disciplina eclesiástica é (mal) praticada. Assim como os pais devem cuidar de aplicar fielmente e biblicamente  disciplina a seus filhos, os líderes da igreja devem usar a sua autoridade com coerência e amor. O Antigo Testamento está cheio de advertências sobre os perigos do favoritismo (como Jacó com José e seus irmãos), e a falha em aplicar a disciplina (como Eli e seus filhos). O Senhor de fato disciplina aqueles a quem ele ama (Hb 12.6), e a igreja também deve fazê-lo. Mas nunca podemos nos esquecer que a disciplina eclesiástica é um exercício de amor. Isso significa que a disciplina na igreja não é algo que deve ser buscado apenas após uma situação não parecer mais ter jeito. Disciplina não é a “gota d’água”, onde o julgamento é pronunciado. Disciplina eclesiástica bíblica é uma cultura de responsabilidade, crescimento, perdão e graça que deve permear as nossas igrejas. Cada membro de igreja tem a responsabilidade de ajudar os outros em suas lutas contra o pecado — não através de julgamento e críticas, mas, ao invés disso, com gentileza e visando à restauração, sabendo que ele mesmo também está sujeito à tentação (Gl 6.1). Mateus 18 não descreve uma espécie de litígio alternativo; é uma cartilha sobre como abordamos amorosamente uns aos outros, pacientemente esgotando os passos menores (por exemplo, ir até a pessoa) antes de passar para os passos maiores (por exemplo, levar à igreja).

Os líderes da igreja devem sempre se lembrar que a autoridade que eles possuem quanto à disciplina não vem deles mesmos, mas é a autoridade de pastoreio de Cristo. Esta é a igreja de Cristo (Ef 1.22-23; Cl 1.18), e é ele quem a está edificando para torná-la sem mácula (Ef 5.27). Os líderes, portanto, devem fazer todo esforço para evitar agir de maneira dominadora e tirânica simplesmente para resolver rapidamente os problemas (1Pe 5.3), ou demonstrando parcialidade em disciplinar alguns enquanto ignora outros (Tg 2.1). Os membros devem saber que o processo de disciplina não é um método secreto de punição, mas é a maneira de Deus restaurar pecadores, curar relacionamentos e honrar a sua Palavra. Os líderes não devem temer que a disciplina na igreja seja vista à luz do dia, ao passo que, ao mesmo tempo, devem empregar todo esforço para proteger a reputação dos membros de desnecessária notoriedade e potenciais fofocas. O fim almejado não é simplesmente resolução, mas o fortalecimento de crentes individuais e de todo o corpo de Cristo.

Qual é o propósito da disciplina na igreja?

Por último, a disciplina eclesiástica é algo que requer oração, reflexão e coerência, porque possui propósitos importantes na vida da igreja. Há três propósitos principais para a disciplina na igreja. Primeiro, a disciplina na igreja existe para recuperar o pecador de volta à igreja, e em última análise, ao Senhor. A disciplina eclesiástica que é praticada em amor é uma poderosa maneira de confrontar um pecador com seu pecado e mostrar que a igreja o ama, não desistirá dele e deseja vê-lo restaurado à plena comunhão. Em um sentido muito real, a disciplina pode ser a atuação do evangelho diante dos nossos olhos. Devemos reconhecer o nosso pecado, nos arrepender e pedir perdão, o qual é livre e plenamente concedido.

Segundo, a disciplina é necessária para manter a pureza da igreja e seu testemunho diante de um mundo vigilante. Isso não significa que colocamos uma máscara hipócrita de perfeccionismo, mas admitimos diante do mundo que a Palavra de Deus é o padrão para as nossas vidas e que somos verdadeiros cristãos — não perfeitos, mas perdoados.

Por último e mais importante, a disciplina na igreja é feita para a glória de Deus. Cristãos são exposições vivas da glória de Deus, e nós mostramos muito mais a sua glória quando lutamos para refletir seu amor e seu santo caráter (Ef 3.10). Que maneira melhor de mostrar que um Deus santo é um Deus amoroso do que através da disciplina? Conforme buscamos a restauração daqueles que tropeçam, em espírito de amorosa humildade, colocamos em exposição uma honorável conduta que apontará para aquele que é a fonte de toda a restauração no universo (1Pe 2.12).

Tradução: Alan Cristie.

(O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.)

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Hebreus 6.4-6 (Watchman Nee)

Hebreus 6.4-6 diz:

“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento”.

Esses versículos descrevem uma pessoa que possui muitas qualificações. É impossível que seja uma pessoa não-salva. Ela viu a luz, e viu o Deus revelado, o Unigênito do Pai; conheceu o amor de Deus e provou o dom celestial, o único dom, Jesus Cristo. Na Bíblia, dons, como um substantivo plural, refere-se aos dons do Espírito Santo, e dom, como um substantivo singular refere-se ao único dom, o unigênito Filho de Deus, como está em João 3:16. Esse dom é diferente dos dons do Espírito Santo. Essa pessoa não apenas tem Deus e o Senhor Jesus, mas também tornou -se participante do Espírito Santo. Ela conhece a Deus, provou do Senhor Jesus e tem o Espírito Santo vivendo dentro de si. Além disso, ela provou a boa palavra de Deus e os poderes da era vindoura. Os poderes da era vindoura são os poderes do reino milenar. Os dons e os poderes do Espírito Santo são particularmente abundantes no reino milenar. O reino milenar será repleto de obras de poder, milagres, maravilhas e outras coisas semelhantes. Dizer que alguém provou os poderes da era vindoura significa dizer que ele provou as coisas do reino milenar. Portanto, esta pessoa é definitivamente uma pessoa salva.

Se tal pessoa deixa hoje a palavra de Cristo, que ela recebeu quando creu, e escorrega e cai, não há arrependimento para ela. Ela não pode começar tudo de novo para crer no Senhor Jesus, pois já tem uma longa história com o Senhor. Ela recebeu muita chuva, porém caiu, não produz mais coisas boas para Deus, mas tem produzido cardos e abrolhos. Tal pessoa é como “a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (vv. 7,8).

Perceba três coisas acerca desta pessoa e seu fim. Primeira coisa, ela é “rejeitada”. A palavra “rejeitada” aqui é a mesma usada em 1Coríntios 9:27, onde Paulo disse que temia que embora tivesse pregado o evangelho a outros, ele mesmo fosse desqualificado e não fosse mais usado por Deus nesta era e no reino. Ser rejeitado, ser desqualificado, significa que Deus rejeitará tal pessoa e não a usará mais no reino. Segunda coisa, esta pessoa “perto está da maldição”. O versículo não diz que ela receberá maldição, mas a punição que receberá é semelhante a uma maldição. Ela não perecerá eternamente, mas sofrerá o dano da segunda morte e padecerá a Geena de fogo no reino. Terceira coisa, “seu fim é ser queimada”. Que é isso? Por exemplo, há algumas semanas eu quis fazer uma queimada em algumas terras em Jen-ru. Poderia eu queimar a terra etername nte? Poderia queimar a terra pelo menos por cinco anos? O queimar aqui se refere a algo temporário.

Aqui se fala sobre queimar, enquanto Mateus 5 diz que alguns estarão sujeitos à Geena de fogo. Se você puser essas duas passagens juntas, elas se combinarão. Se um cristão recebe todas essas coisas maravilhosas, mas não produz bom fruto para Deus, e, sim, cardos e abrolhos, ele será queimado. Entretanto, esse queimar será apenas por breve tempo. Até mesmo um aluno do primário sabe que se você atear fogo em um terreno, o fogo irá parar após todo o mato ser queimado. A queimada no reino durará no máximo mil anos. Quanto tempo vai durar a queimada, na verdade, dependerá de você. Se você tiver produzido muitos cardos e abrolhos, então haverá mais queima. Se tiver produzido poucos cardos e abrolhos, então haverá menos queima.

Quantas coisas há em nós que ainda não foram tratadas? Quantas coisas não foram limpas pelo sangue do Senhor, e quantas coisas ainda não foram confessadas, tratadas e resolvidas com os irmãos e as irmãs? São esses os cardos e abrolhos a que o Senhor se refere. Mateus 5 diz que ninguém poderá sair dali enquanto não pagar o último centavo. Toda dívida terá de ser paga. Quando tudo houver sido queimado, toda dívida terá sido paga.

Um cristão é semelhante a um campo, e seu comportamento indevido é comparado a cardos e abrolhos. Suponha que eu possua um terreno de cinco alqueires. Seria possível, depois da queimada, que somente dois alqueires tenham sido deixados intactos e três tenham sido queimados? Isso é impossível. O que é queimado são os cardos e abrolhos. O terreno em si não pode ser queimado. Em outras palavras, somente aquelas coisas que foram amaldiçoadas em Adão e deveriam ser removidas, mas não foram, é que serão queimadas. Elas serão o material que será queimado na Geena de fogo. A vida que Deus nos concedeu não pode ser tocada pelo fogo. Portanto, depois que os cardos e abrolhos forem queimados, o terreno ainda permanecerá. Nenhuma parte dele será tirada. Não há absolutamente nenhum problema com a nossa salvação, mas sim com o que vier a crescer sobre ela, com o que for prov eniente da carne. Se tais coisas não forem tratadas com o sangue de Jesus, deveremos sofrer algum tratamento.

Agora vejamos Hebreus 10.26-29:

“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança”.

Esses versículos referem-se a alguém que rejeitou a Cristo e voltou ao judaísmo. Ele acha que gastando alguns dólares pode comprar um touro ou um bode como oferta pelo pecado. Se, porém, alguém conheceu a Cristo e voltou ao judaísmo, ele calcou aos pés o Filho de Deus e considerou Seu sangue como algo comum. Ele está tratando o Senhor como um touro ou um bode. Para ele não existe diferença entre o Senhor e um touro ou um bode. O versículo conclui: “E ultrajou o Espírito da graça”. Enquanto o Espírito Santo está lhe dando graça, ele O está insultando por voltar ao judaísmo. Esses versículos nos mostram o caminho de um apóstata. Eu não diria que tal pessoa seja salva; somente diria que pode ser que ela seja salva; talvez nem seja salva. O apóstolo não nos diz se tal pessoa é salva ou não. Ele diz apenas que, se uma pessoa veio a Cristo e depois voltou ao judaísmo, ela sofrerá pior punição. Seu fim é uma expectação de juízo e fogo vingador. Aqui vemos uma espécie de fogo.

Juntamente com todas essas passagens, temos também as próprias palavras do Senhor em João 15. O versículo 2 diz: “Todo ramo em Mim que não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto Ele o limpa”. Esses não são ramos que nada têm que ver com Ele; são ramos que estão Nele. O que é mostrado aqui, pode não referir-se à punição temporária, mas à disciplina nesta era. Mas atente para o versículo 6: “Se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como o ramo, e seca; e os apanham, lançam no fogo, e são queimados”. Alguns ramos serão lançados no fogo e queimados. Alguns ramos cresceram e produziram folhas verdes, mas não têm fruto. Embora tenham vida interiormente, eles não têm fruto exteriormente. O Senhor Jesus disse que eles serão lançados fora, secarão, e queimarão no fogo. Aqui vemos claramente que os cristãos podem ter de passar pelo fogo.

Tendo lido todas essas passagens, podemos concluir que, se um cristão não lidar adequadamente com seus pecados, haverá punição à sua espera. A Bíblia nos mostra nitidamente que tipo de punição será. Não será uma punição comum, mas a punição da “Geena de fogo”. Contudo será o fogo no reino, não o fogo na eternidade.

A questão agora é esta: que tipo de pecado levará a essa condição? Desde que uma pessoa seja salva, é importante que ela lide com seus pecados. Nenhum dos pecados que ela tenha confessado, do qual tenha se arrependido, tratado e feito remissão pelo sangue do Senhor Jesus, voltará a ela no trono de julgamento. Tais pecados terão passado. Até mesmo o maior dos pecados terá passado. Mas existem muitos pecados que não serão omitidos; são os pecados que alguém contempla em seu coração. Salmos 66.18 diz: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido”. Quais são os pecados que o coração contempla? O coração é o lugar onde residem nosso amor e nossos desejos. O coração representa nossa emoção. Ele representa o homem psicológico. Se o coração contemplar a vaidade, o Senhor não nos ouvirá. Muitas confissões são feitas só porque a pessoa sabe que pecou, não há aversão pelo pecado, tampouco condenação do pecado. Tal pessoa o Senhor não ouvirá. Além disso, se temos com alguém um problema que não foi resolvido, ou se há coisas que precisam ser perdoadas e não foram, ou se procedemos mal com as pessoas ou com o Senhor, temos de tratar com estas coisas de modo específico. Ao mesmo tempo, temos de colocá-las debaixo do sangue do Senhor. Só então tais coisas estarão tratadas, e estaremos livres do julgamento vindouro.

RESUMO

Vamos agora resumir o que vimos. O futuro dos cristãos é muito simples. Para uma pessoa salva o assunto do novo céu e nova terra, incluindo toda a eternidade, está resolvido. No entanto, a era do reino é duvidosa. Ninguém ousa dizer algo sobre o que ocorrerá. O que temos de resolver hoje é o problema do reino. No reino há muitas posições de cristãos. Muitos reinarão com Cristo por ter trabalhado fielmente e por ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento. Alguns podem não ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento, contudo eles também não têm pecados. Eles viveram uma vida limpa. Apesar de não terem feito nada que mereça um mérito especial, eles pelo menos deram um copo de água para um pequenino por causa do nome do Senhor (Mt 10.42). Eles também receberão uma recompensa; entretanto, sua recompensa será bem pequena.

Na era do reino, alguns cristãos receberão recompensa no reino. Alguns receberão uma grande recompensa; outros receberão uma recompensa pequena.

Os que não receberão recompensa também estão divididos em algumas categorias. Um grupo não entrará no reino de modo algum. A Bíblia não nos diz para onde eles irão; diz apenas que serão mantidos fora do reino, nas trevas exteriores (Mt 8.12; 22.13; 25.30; Lc 13.28). Eles serão deixados fora da glória de Deus. Haverá também muitos que, além de não terem trabalhado bem, têm pecados específicos que ainda não foram tratados. Eles são salvos, mas ao morrer, ainda têm pecados com os quais não trataram e dos quais não se arrependeram; eles ainda têm o problema do pecado. Esses tais serão temporariamente submetidos ao fogo, e sairão somente depois de terem pago todo seu débito. Eu não sei, na verdade, de quanto tempo esse período será, mas durará no máximo até o final do reino.

Ainda há muitas coisas das quais não estamos esclarecidos acerca do futuro, mas a Bíblia mostrou-nos o suficiente. Embora haja detalhes que ainda não vimos, nós de fato sabemos o que os filhos de Deus enfrentarão. Alguns receberão uma recompensa; alguns experimentarão corrupção. Alguns serão aprisionados, e outros serão lançados no fogo e serão queimados.

A questão da nossa salvação está muito clara. Quando um homem crê no Senhor Jesus, tanto a salvação como a vida eterna estão determinadas para ele. Mas, da salvação até sua morte, as obras de uma pessoa, isto é, seus fracassos ou suas vitórias, determinarão seu destino no reino. Nosso Deus é um Deus justo. Por um lado, nossa salvação é livre, e os que crêem terão vida eterna. Ninguém pode contrariar esse fato. Por outro lado, não podemos pecar à vontade, simplesmente porque recebemos a vida eterna. Se produzirmos cardos e abrolhos, seremos queimados. Se o Senhor Jesus não pode desligar-nos de nossos pecados e se não resolvermos todas as coisas em nossa vida, Deus não terá escolha a não ser castigar-nos no futuro; Ele não terá escolha, senão purificar-nos com punições específicas, de maneira que possamos estar juntos com Ele no novo céu e nova terra. Deus é um Deus justo. O que Ele preparou também é justo. Desde que tenhamos visto estas coisas, devemos aprender a lição e acatar as advertências de Deus.

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Adolescentes e acesso irrestrito: hora de arrepender-se (John Perrit)

As estatísticas foram publicadas, a literatura circulou amplamente, as conversas continuam, mas o assunto ainda parece não ser tratado com a devida vigilância. Estou falando sobre adolescentes com acesso irrestrito em seus smartphones e tablets. Dou um caloroso “Amém!” para o recente tweet de Russell Moore: “Estou chocado com pais que dão aos seus filhos pré-adolescentes iPhones e iPads com acesso irrestrito à Internet”.

Afirmamos corretamente que a pornografia é um vício, mas não parece que estamos desafiando os vendedores dessa droga. Quem são os vendedores? Pais. Pais que tolamente dão aos seus adolescentes (e pré-adolescentes) reinado livre sobre seus smartphones e, ao fazer isso, convidam o mundo para a cama de seus filhos todas as noites.

Alguns de vocês podem pensar que eu estou sendo um pouco exagerado, mas, após considerar outro verão de retiros de jovens, meus olhos foram abertos novamente para essa tolice absoluta (não há uma forma mais branda de colocar isso). As coisas que nossa juventude posta nas mídias sociais provam muitas coisas; uma delas é a ausência parental nessa esfera.

Eu tive muitas conversas com estudantes viciados em pornografia e, igualmente, muitas conversas com pais que não fazem ideia do que os seus filhos estão fazendo na Internet. Não fosse por um Deus todo-poderoso, reinante e soberano, eu estaria ainda mais preocupado com os efeitos dessa negligência sobre o futuro da nossa cultura, incluindo a igreja. Portanto, aqui vão seis conselhos de um pastor de jovens que não reivindica ter todas as respostas para a criação de filhos.

 1. Arrependa-se

Deus graciosamente te deu filhos como dádivas maravilhosas. Antes da fundação do mundo, ele te escolheu para ser seus pais. Embora a salvação venha de Deus, ele espera que você cuide dessas crianças para a Sua glória. Por isso, arrependa-se da sua preguiça nessa área. Se você não restringe o uso dos smartphones e não faz ideia do que os seus filhos estão fazendo neles, estou falando com você. Peça perdão ao Deus que te deu filhos e peça perdão às crianças cujo vício você ajudou.

2. Eduque-se

A internet está sempre mudando e é impossível ficar no topo da mais alta tecnologia. Ainda assim, esse não é um motivo para desistir. Você ainda pode aprender sobre a tecnologia que mais consume tempo dos seus filhos. Pegue deles o telefone que você comprou e comece a olhar os aplicativos que eles baixaram. Como pai, você também deve começar a baixar esses mesmos aplicativos e se familiarizar com eles. Se você não puder fazer isso, arranje um amigo que o faça.

3. Peça ajuda ao corpo da igreja

Nas infinitas graça e misericórdia de Deus, ele deu ao corpo de Cristo uma grande variedade de dons e pessoas. Louve a Deus por ele encher a igreja com “nerds”, aqueles que não somente amam aprender sobre as mais variadas tecnologias como também têm paciência para educar outros acerca delas. Encontre aquelas pessoas da sua igreja que têm um dom para informática e pergunte se eles poderiam se reunir para um almoço – talvez eles até desejem dar aulas sobre o assunto. De forma ainda mais simples, comece um grupo de emails com alguns gurus da tecnologia que te alertarão de vários perigos. Conclusão: use os dons da igreja de Deus para o ajudar nessa batalha.

4. Estabeleça limites

Quer você compre ou não os celulares de seus adolescentes ou quer você pague ou não as suas contas mensais, você ainda tem autoridade sobre eles e você precisa exercer essa autoridade para a glória de Deus. Pegue os celulares de seus adolescentes toda noite em um horário específico. Nenhuma mensagem de texto é suficientemente importante para fazer adolescentes ficarem acordados até tarde da noite. As fotos que eles estão tirando nesse horário não são do tipo que você gostaria de emoldurar. Restrinja os aplicativos que eles podem usar.

5. Diga-lhes o porquê

Praticamente todo pai consegue entrar em modo combate e empunhar a pesada mão da autoridade. Mas é preciso graça divina para ser um pai que senta e conversa com sua filha ou filho. Diga aos seus filhos por que você está colocando algumas restrições em seus telefones, converse com eles sobre a variedade de ídolos em seus corações e use esse tempo como uma oportunidade de comunicar o evangelho. Tantas vezes nós queremos falar de forma mais relevante aos nossos adolescentes – essa é sua chance. Ilustre a relevância do evangelho ao aplicá-lo  à tecnologia. Finalmente, comunique que qualquer restrição que você impõe a eles é motivada por amor e cuidado. Lembre-os de que você os está protegendo dos males desse mundo.

6. Ore

Enquanto há pais tolos que deixaram seus filhos soltos na Internet, outros pais têm sido responsáveis quanto o uso de smartphones por seus filhos e ainda temem a tecnologia. A esses pais, desejo lembrá-los do seu amável Pai celestial. Muitos de vocês são ótimos pais e mães que estão, pela graça de Deus, tentando cuidar das vidas das preciosas crianças que Deus os deu. Lembre-se de que você tem um Pai que amavelmente cuida de você e de suas crianças. Ele é o melhor Pai que já existiu e deseja ouvir qualquer preocupação que você tenha acerca dos seus filhos. Além disso, ele é o gênio criativo por trás de toda nova criação; portanto, torne a ele em oração e confiança.

Traduzido por Kimberly Anastacio | iPródigo.com | Original aqui

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Imitando os nossos anciãos (Guy Waters)

Dr. Guy Prentiss Waters é professor de Novo Testamento no Reformed Theological Seminary em Jackson, Mississippi. Ele é autor do livro How Jesus Runs the Church.
 

O antigo filósofo grego Sócrates é regularmente citado como tendo dito: “Os filhos hoje amam o luxo; não têm boas maneiras, menosprezam as autoridades; desrespeitam os mais velhos e dão preferência às conversas ao invés de exercitarem-se. Os filhos hoje são tiranos e não servos de seus lares. Eles já não levantam-se quando os mais velhos entram na sala. Eles contradizem seus pais, tagarelam diante das visitas, devoram as guloseimas à mesa, cruzam as pernas e tiranizam seus professores”. A citação acima é certamente apócrifa, mas ela ressoa com a experiência humana das gerações. Ao longo da história, as gerações mais velhas olharam por cima de seus óculos com reprovação em relação aos valores e o caráter da geração mais jovem.

A Escritura nos adverte aqui: “Jamais digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Pois não é sábio perguntar assim”. (Eclesiastes 7:10). Os cristãos não devem ceder à tentação de romantizar o passado ou demonizar o presente. Nós servimos a Deus em nossos dias, convencidos de que ele nos chamou para esta geração e não para outra (1 Coríntios 7:17). Estamos certos de que ele dá ordens soberanamente não apenas no que diz respeito aos assuntos dos reis e nações (Provérbios 21:1; Jeremias 1:10), mas até mesmo sobre o lançar de sortes (Provérbios 16:33) e sobre as vidas dos pardais (Mateus 10:29).

Para servir ao Senhor de forma eficaz em nossos dias, no entanto, é preciso “entender os tempos” em que vivemos (1 Crônicas 12:32). Quando fazemos isso, nós encontramos algumas diferenças surpreendentes no Ocidente entre as gerações passadas e a geração atual. Uma diferença em particular é muito difundida e preocupante. As gerações anteriores eram conhecidas por um comprometimento com o trabalho árduo em detrimento da satisfação imediata–basta pensar nos homens e mulheres que vieram da época da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. A geração atual, no entanto, é conhecida por seu apego quase religioso à satisfação instantânea.

Esse apego tornou-se especialmente evidente em uma área da vida– finanças pessoais. A dívida do consumidor inflou; os gráficos da dívida do consumidor entre a Segunda Guerra Mundial e o tempo presente mostram uma linha que se move de forma constante e, em seguida, cresce acentuadamente. Os americanos estão pedindo mais emprestado, gastando mais e poupando menos. Os relatórios indicam que a recente recessão amorteceu o aumento da dívida das famílias em algum grau. Mas alguns analistas dizem que essa tendência pode ser devido à maior relutância das instituições financeiras em emprestar do que de qualquer disciplina recém-descoberta por parte daqueles que fazem o empréstimo.

A que podemos atribuir essa explosão do endividamento pessoal? Podemos certamente destacar a proliferação de cartões de crédito, hipotecas e empréstimos para casa própria na metade do século passado. No entanto, esses são apenas os sintomas, a causa está enraizada no caráter. Sinclair Ferguson uma vez mencionou o slogan de um dos primeiros cartões de crédito (Access) introduzido no Reino Unido há mais de uma geração atrás: “Elimina a espera do querer”. Ao invés de poupar dinheiro durante um tempo para fazer uma compra, agora somos capazes de inverter essa ordem—compramos agora e pagamos depois. O problema é que a proliferação de crédito nos permite comprar sem pensar em como vamos pagar, e com cada vez menos restrições aos nossos impulsos. Esta geração tem mais coisas e aspira a um padrão de vida que seus bisavós ficariam corados. Porém, a trágica ironia é que esta geração nem ao menos consegue pagar as bugigangas que tem.

Acompanhando essa tendência, tem havido uma mudança de geração para geração nas atitudes com relação às ofertas.. Em um artigo recente, Tony Cartledge mostra que as estatísticas indicam que quanto mais jovem se é, menos se oferta na igreja, proporcionalmente à renda que se tem. Cartledge cita duas igrejas cujos membros mais velhos desproporcionalmente garantiram as despesas da congregação, e sugere que estes não são casos isolados. Ele levanta questões sobre como ficará a oferta da igreja depois que esses membros idosos falecerem.

O que devemos fazer a respeito dessas coisas? Em primeiro lugar, não devemos esquecer que muitos ainda trabalham arduamente, em silêncio, economizam para o seu futuro e o futuro de seus filhos, ofertam generosamente e vivem dentro de suas possibilidades. Em segundo lugar, as diferenças que observamos entre as gerações passada e atual não advêm do fato de que as gerações passadas foram todas cristãs. Obviamente, elas não foram. Essas gerações, no entanto, deixaram como legado valores que foram impressos com a sabedoria bíblica. Então, quais ensinamentos bíblicos informam esses valores específicos?

A Escritura está repleta de conselhos para nós sobre o trabalho árduo, a poupança de nossos ganhos, a restrição de nossos impulsos de assumir dívidas e gastos e a oferta generosa. Os Provérbios, por exemplo, nos convidam a ver estes princípios no mundo que nos rodeia. Assim como a formiga é um retrato do trabalho árduo (Provérbios 6:6), o preguiçoso é um alertasobre as consequências deste mundo resultantes da preguiça e da indolência (24:30-35). Na providência de Deus, o trabalho árduo—e não as “buscas inúteis” ou a “pressa para ficar rico”—é o caminho para a riqueza (28:19-20; ler 10:04). Da mesma forma, as Escrituras nos advertem contra o endividamento (22:7; Romanos 13:8), enquanto elas enfatizam que o homem sábio poupa o “tesouro desejável e o óleo” que o tolo “desperdiça” (Provérbios 21:20). Na verdade, os gastos sem controle, alimentados por um desejo de ter mais coisas, levam à pobreza (v. 17). Somos chamados não somente para poupar os nossos ganhos, mas também para dar generosamente aos necessitados (19:17, 22:09; Eclesiastes 11:1). Geralmente, o ofertar é o caminho para a benção neste mundo, mas a mesquinhez leva à maldição (Provérbio 28:27).

Esses princípios são bíblicos e, em muitos casos, podem ser percebidosna própria criação. Como, então, podemos explicar os tipos de mudanças culturais que observamos acima? Por que é que muitos deixaram de lado essas verdades? A respostaé finalmente encontrada no poder do pecado e na impotência da lei para renovar o coração. O coração do incrédulo não tem amor a Deus ou à sua lei (Romanos 8:7). É impulsionado em sua essência pelo interesse egoísta que passa por cima dos mandamentos de Deus, um fato lamentavelmente ilustrado no primeiro pecado de Eva (Gênesis 3:6). Os comportamentos sobre os quais estamos falando resultam, em muitos casos, precisamente do egoísmo não controlado nem por restrições internas nem externas.

A tragédia desta situação é ressaltada pelo fato de que as estatísticas, os exemplos e os princípios saudáveis de finanças não têm poder em si mesmos para transformar uma pessoa de dentro para fora. Como igreja de Cristo, desejamos uma renovação profunda e duradoura que resultará em um envolvimentosincero com esses princípios que Deus nos tem dado para o nosso bem. Simplesmente lembrar os mais jovens sobre a moderação financeira de seus avós ou as consequências a longo prazo dos gastos desenfreados, não é suficiente.

Este tipo de renovação só acontece por meio do evangelho de Jesus Cristo. Ele anuncia que Jesus veio a este mundo para redimir os pecadores, mesmo aqueles que cometeram graves pecados financeiros. Ao converter-se do pecado e crer em Cristo como ele é oferecido no evangelho, as pessoas começam a experimentar a nova vida que ele comprou através de sua vida e morte, e livremente a dá para aqueles que não merecem. Essa vida, a Escritura enfatiza, é centrada em Deus e voltada para o próximo, e é um pedaço do futuro glorioso que pertence a todos os crentes em Cristo.

Uma das coisas maravilhosas sobre o evangelho é que, enquanto chega até nós em palavras, ele também é visível na prática nas vidas dos nossos irmãos, especialmente os mais antigos na fé. É por isso que Paulo pode dizer: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios. 11:1). É por isso que os anciãos, cujas qualificações incluem a integridade financeira (ler 1 Timóteo 3:1-7), devem ser exemplos para o rebanho (1 Pedro 5:3). É por isso que Paulo cobra Tito de que as mulheres mais velhas devem treinar as mulheres mais jovens “no que é bom… a amarem o marido e seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, submissas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”. (Tito 2:3-5).

Como, então, as gerações mais velhas na igreja podem nutrir esses princípios que vão contra a cultura nas gerações mais jovens? Uma das coisas mais importantes que os crentes mais velhos e maduros podem fazer é lembrar os crentes mais jovens de nossas riquezas presentes em Cristo e a glória que nos espera. Eles devem ser modelos de como viver o presente à luz destas realidades futuras. Eles podem mostrar-lhes que a santidade tem valor para a vida presente (1 Timóteo 4:8), e que o evangelho traz significado e propósito aos nossos esforços neste mundo (1 Coríntios. 15:58). Em um mundo que assume o conflito de gerações, que testemunho convincente seria se os idosos e jovens pudessem ser testemunhas unidas, em palavras e em atos, do evangelho de Jesus Cristo que transforma vidas.

 

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