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Estudo bíblico R. K. Campbell

Satanás e Seus Ardis

Introdução

Não se enganem, Satanás é um ser real. Ele também é um inimigo explícito de Deus, de Seus propósitos, de Suas atividades e de Seu povo. O nome Satanás significa “adversário”, e diabo significa “acusador”. Em Mateus 12:24 ele é chamado de “maioral dos demônios”.

Em Apocalipse 12:9-10 nosso adversário é rotulado de “o grande dragão”, “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo”. Também é designado ali como “o acusador de nossos irmãos”, incriminando-os diante de Deus dia e noite. O nome “grande dragão” fala de seu poder político como o soberano do mundo e “príncipe da potestade do ar” (Efésios 2:2). “Antiga serpente” fala de sua poder espiritual como o sedutor de todo o mundo e o “deus deste século”, que “cegou o entendimento dos incrédulos” (2 Coríntios 4:4).

Satanás é a mesma antiga serpente que veio ao jardim do Éden e enganou a mulher, levando Eva e Adão à desobediência e conseqüentemente ao pecado contra Deus. Eva teve de dizer mais tarde: “A serpente me enganou” (Gênesis 3:13).

Sua origem e queda

Em Isaías 14:12-15 e Ezequiel 28:12-19 temos um marcante relato do lugar original que Satanás ocupou como “estrela da manhã, filho da alva”. Sua queda desta exaltada posição original — sendo ele talvez o maior ser angelical criado por Deus — é narrada nestas Escrituras.

Orgulho, obstinação, iniqüidade, rebelião e violência são os motivos dados de sua queda.

Sob a figura do “rei de Tiro”, Ezequiel declara que este grande ser criado era “o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura”. Ele permanecia no monte santo de Deus e se cobria de todas as pedras preciosas. Deus o havia colocado ali como o “querubim da guarda ungido”, e andava no meio das pedras afogueadas. Talvez fosse o guardião da santidade de Deus, provavelmente sobre o planeta Terra no seu estado original.

O relato inspirado diz: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti” (Ezequiel 28:12-15).

O profeta Isaías diz no capítulo 14: “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva!”. O título “estrela da manhã” pode ser traduzido como Lúcifer, e deriva de uma palavra hebraica que significa “brilhante ou aquele que resplandece”. O título “filho da alva” é uma expressão poética para “estrela da manhã”. Lúcifer, a brilhante estrela da manhã, é o primeiro nome dado a este grande ser angelical ao sair das mãos criadoras de Deus. Grande como era, ele não passava de uma criatura de Deus, responsável por obedecer a seu Criador.

Em Isaías 14:13-14 vemos cinco expressões imperativas que caracterizam a expressa rebeldia e obstinação de Satanás: “Subirei”, “exaltarei”, “assentarei”, “subirei” e “serei”. Nesta última ele diz: “serei semelhante ao Altíssimo”. Lúcifer não estava satisfeito com a posição de exaltação que recebera na criação de Deus. Ezequiel diz: “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor” (Ezequiel 28:17). Ele intentou exaltar a si mesmo e a seu trono e buscou ser semelhante ao próprio Deus. Particularmente, ele talvez invejasse o lugar do Filho de Deus e desejasse ser tão exaltado como Ele. Sua ambição e propósitos eram ser adorado como Deus, e disso ele nunca desistiu. Essas cinco questões imperativas que Satanás proferiu em Isaías 14:13-14, manifestam a pungente essência do pecado: é a vontade da criatura oposta à vontade e determinação do Criador. Foi assim, por causa da obstinação de Lúcifer, que o pecado entrou no universo, antes mesmo da criação do homem.

Ademais, vemos em Ezequiel 28:16-18 que Lúcifer estava envolvido numa multidão de comércio. Ele encheu o céu de violência e pecou. Ali se lê: céu de violência e pecou. A Bíblia diz: “Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários”. Acreditamos que isto indica algum comércio profano de Lúcifer, algum tráfico, pelo qual outras criaturas angelicais foram seduzidas de sua fidelidade ao Criador, dedicando lealdade e devoção a Lúcifer.

Assim Lúcifer instigou violência e rebelião entre as hostes celestes antes da criação do homem, e aqueles que o acompanharam se tornaram seus anjos ou demônios. A sentença divina de expulsão de sua exaltada posição como o “querubim da guarda ungido” foi pronunciada, embora ainda não completamente executada. Isso acontecerá no futuro, segundo Apocalipse 12:7-17. Como deposto de seu lugar celestial no governo de Deus, ele passou a chamar-se Satanás, o adversário, e no Novo Testamento ele é chamado de diabo (Jó 1:6-12; Mateus 4:1-11).

Satanás e Jó

O livro de Jó (1:8-19; 2:1-8) nos dá uma antiga ilustração do ódio e malignidade de Satanás contra o povo de Deus. Deus disse acerca de Jó que ele era Seu servo e não havia ninguém na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal (1:8). Então lemos que Satanás respondeu ao Senhor e insinuou que Jó verdadeiramente não temia a Deus, e caso Ele (Deus) estendesse Sua mão e tocasse em tudo o que possuía, Jó blasfemaria contra Deus. Aqui Satanás revelou seu caráter acusador e maligno.

Quando Deus autoriza Satanás a tocar em tudo o que Jó possuía — menos em sua vida –, Satanás sai da presença de Deus e terríveis coisas começaram a acontecer aos filhos e às posses de Jó.

Foi Satanás quem incitou os sabeus e os caldeus a roubar os animais de carga de Jó e a matar os seus servos. Foi ele quem fez cair fogo do céu e queimar as suas ovelhas e os seus servos, como também levantar um grande vento e derrubar a casa sobre os sete filhos e as três filhas de Jó, matando a todos. Tudo isso deixa claro o grande poder de Satanás e sua terrível hostilidade contra os servos de Deus. Mas também revela que Satanás só pode ir até onde Deus permite.

Jó conservou sua integridade e não amaldiçoou nem acusou a Deus, mas, em vez disso, lançou-se em terra e O adorou após todas estas calamidades. Então Deus novamente aponta Jó a Satanás como aquele que permaneceu inabalável e fiel a Ele.

Satanás respondeu com nova acusação e investida contra Jó, afirmando que, se os ossos e a carne de Jó fossem tocados, ele blasfemaria contra Deus. Deus disse a Satanás que Jó estava em seu poder para fazer o que quisesse, com a restrição de poupar-lhe a vida. Está escrito que Satanás saiu “da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça” (Jó 2:7).

O Senhor permitiu que Satanás tentasse severamente e causasse intenso sofrimento e angústia em Jó, e isto, no final das contas, serviu para o seu bem. O patriarca nunca amaldiçoou a Deus, e Satanás foi derrotado. No final Jó teve um maior conhecimento de Deus e de sua própria pecaminosidade, “e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra” (Jó 42:10). “Assim, abençoou o Senhor o último estado de Jó mais do que o primeiro.” Também lhe foram dados outros sete filhos e três filhas, e “em toda aquela terra não se acharam mulheres tão formosas” (Jó 42:12 e 15).

As Parábolas de Mateus 13

No Novo Testamento temos a atividade de Satanás salientadas em algumas das parábolas que o Senhor dá no tocante ao reino dos céus em Mateus 13.

Na primeira parábola, a do semeador, o Senhor disse que parte das sementes “caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram” (v. 4). Explicando a parábola, o Salvador disse que “a semente é a palavra de Deus. A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos” (Lucas 8:11-12, também Mateus 13:19).

Vemos aqui a atividade de Satanás impedindo a Palavra de Deus de ser semeada no terreno apropriado, no coração dos homens, evitando que eles creiam no evangelho e sejam salvos. É fácil entender que a beira do caminho é um solo endurecido pelo tráfego do mundo, e que ali a semente da Palavra de Deus só fica na superfície. O diabo então pode facilmente arrebatar a semente ao ocupar-nos com outras coisas, fazendo com que a Palavra de Deus seja esquecida.

Na segunda parábola, a boa semente é lançada no campo e, “enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se” (v. 25). O joio é uma nociva erva daninha que parece com o trigo. Na explicação desta parábola, o Senhor disse: “O que semeia a boa semente é o Filho do homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que semeou é o diabo” (vv. 37-39). O Senhor apresenta nesta parábola a atividade de Satanás como um inimigo em malévola oposição à semeadura da boa semente da pura Palavra de Deus.

Satanás tem estado ocupado na semeadura de seus falsos e enganosos ensinos, que são representados pelo joio. A figura do joio está para a imitação, o engano e a corrupção. O diabo lança sementes de engano e imitação que envenenam e corrompem a mente e o coração da humanidade. Ele tem um evangelho imitado, moderno; um Cristo imitado, falso; uma igreja imitada, falsa. Dessa forma busca destruir o verdadeiro cristianismo, que é uma obra de Deus, introduzindo no lugar uma brilhante imitação da coisa real. Aqueles que aceitam os malignos ensinamentos de Satanás tornam-se espiritualmente ligados a ele, vindo a ser “filhos do maligno”, como disse o Senhor. O caráter destes é moldado segundo suas inspirações e influenciado segundo os sutis ensinamentos dele.

Um anjo de luz

Nos dias do apóstolo Paulo, ele encontrou aqueles que praticavam as obras de engano de Satanás. Eles semearam seu venenoso joio e demonstraram que eram filhos do maligno. Observem como Paulo os descreve aos coríntios: “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras” (2 Coríntios 11:13-15).

Quando condiz com seus propósitos, ele vem como anjo de luz e ministro de justiça. Ele tem ministros que citam as Escrituras como ele próprio fez quando tentou ao Senhor Jesus no deserto. Só que eles torcem e distorcem as Escrituras, como afirmou o apóstolo Pedro em sua segunda epístola (2 Pedro 3:17). O apóstolo Paulo também escreveu aos crentes da Galácia acerca daqueles que perturbaram e perverteram (distorceram) o evangelho de Cristo (Gálatas 1:7). O diabo é o grande enganador que age por intermédio de seus servos, os quais têm sido enganados por ele e buscam enganar e seduzir outros.

Paulo escreveu a Timóteo que “nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1 Timóteo 4:1-2).

Mediante espíritos de engano e mentira há ensinos demoníacos sendo atrevidamente proclamados em muitos lugares na atualidade sob a bandeira do cristianismo. O apóstolo João nos exorta a provar “os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (1 João 4:1). Temos de provar tudo à luz da íntegra da Palavra de Deus e não apenas tomar textos isolados e dar a eles a nossa própria interpretação. O profeta Isaías há muito declarou: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20).

Um leão que ruge

Satanás é também mencionado na Bíblia num caráter completamente diferente. O apóstolo Pedro escreveu aos cristãos de seus dias que eles deveriam ser “sóbrios e vigilantes”. Porque o “diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1 Pedro 5:8-9).

A figura de um leão que ruge apresenta Satanás como o perseguidor do povo de Deus. Os cristãos primitivos sofreram muito com o ódio e os intentos de Satanás de pôr fim ao testemunho cristão mediante tratamentos desumanos e morte. A palavra à assembléia em Esmirna foi: “Não temas as cousas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova… Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10).

O nosso grande adversário continuou a sua implacável oposição à igreja de Deus através dos séculos até os dias atuais. Os homens cruéis que infligem perseguição e sofrimento aos servos de Deus nada mais são que ferramentas nas mãos do diabo.

Um inimigo derrotado

Para o cristão, Satanás é um inimigo derrotado! Jesus Cristo tomou parte na carne e no sangue “para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hebreus 2:14-15).

Como Senhor ressuscitado, Jesus declarou: “Não temas; eu sou… aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1:17-18). Como Aquele que conquistou a vitória sobre Satanás, a morte e a sepultura, irá um dia prender e selar o diabo no abismo, onde ele ficará até se completarem mil anos.

Finalmente, o Senhor lançará Satanás para dentro do lago de fogo e enxofre, onde este será atormentado pelos séculos dos séculos (Apocalipse 20:1-3, 10). Por isso o apóstolo Tiago nos diz: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4:7).

O pai da mentira

Embora Satanás tenha sido derrotado por Jesus Cristo, ele continua um inimigo implacável em sua guerra contra Deus e Seu povo. Assim, é importante que tomemos ciência das táticas e caminhos de nosso grande adversário. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios: “Que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios” (2 Coríntios 2:11).

Ele também exorta os crentes de Éfeso a não ser “mais… agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4:14). Tais coisas, sem dúvida alguma, são inspiradas por Satanás, o pai da mentira.

O Senhor Jesus disse aos fariseus que O odiavam: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes” (João 8:44-45).

A peneira de Satanás

Um exemplo da obra de Satanás contra os crentes em Jesus é dado pelo próprio Senhor em Suas palavras a Pedro em Lucas 22:31-32: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”.

Satanás requereu a pessoa de Pedro, o líder dentre os apóstolos, para peneirá-la como trigo. Talvez ele tenha observado alguma autoconfiança em Pedro e então o pleiteou para testá-lo e sacudi-lo fortemente em seu peneirar, da mesma forma que fez com Jó séculos antes. É provável que ele tenha pensado poder levar Pedro à desgraça e ruína como apóstolo e testemunha de Cristo. Mas, de qualquer modo, essa reivindicação que Satanás faz no tocante a Pedro manifesta sua inimizade e propósitos de fazer o mal ao seguidor de Cristo.

Contudo, é muito bom observar que o Senhor, a quem Pedro amava e seguia, conhecia todos os intentos de Satanás e permitiu que Pedro caísse na peneira do inimigo. Mas primeiro Ele avisou a Pedro acerca disso e assegurou que já havia orado por ele, a fim de que a sua fé não desfalecesse.

O Senhor em Seu amor viu que era necessário Pedro ser peneirado a fim de trazer à luz todo o joio da autoconfiança que havia nele, pois o que fica na peneira é somente o joio imprestável. O verdadeiro trigo passa pela peneira, e Satanás somente fica com o joio.

Tanto Pedro como o Senhor Jesus ganharam através da experiência que o diabo infligiu. Pedro falhou terrivelmente ao negar o Senhor três vezes, mas chorou amargamente de arrependimento depois de o galo cantar e o Senhor fixar os olhos nele. Ele foi levado a perceber o quanto ele mesmo era fraco.

A oração do Senhor por ele sustentou a sua fé. Por meio dela ele foi restabelecido e restaurado para o Senhor. Agora ele estava mais capacitado para uma tarefa que viria depois: confirmar e fortalecer seus irmãos — o que ele fez na força do Senhor. Satanás só pode tocar num filho de Deus se o Senhor lhe permitir, e nunca sem a intercessão do Senhor por nós.

Judas e Satanás

Uma ilustração bem diferente de como Satanás logra vitória em sua obra como adversário de Cristo é visto em Judas Iscariotes. Ele foi escolhido como um dos doze apóstolos por Cristo, que conhecia tudo acerca de seu verdadeiro caráter. Certa vez o Senhor disse aos doze: “Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo. Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze” (João 6:70-71).

Veremos mais tarde que Satanás entra em Judas e o usa como instrumento seu na ocasião em que Cristo foi traído para a multidão que O prendeu e O conduziu ao sumo sacerdote e aos anciãos. Mas antes que isso acontecesse, Judas era um ladrão e roubava da bolsa de dinheiro do grupo apostólico, como João 12:6 nos diz. Ele era avarento e amava o dinheiro. É por isso que o vemos indo ter com os principais sacerdotes e dizendo a eles: “Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar” (Mateus 26:14-16).

A próxima coisa que lemos acerca de Judas é logo após o final da ceia da páscoa, que diz: “tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus” (João 13:2). Embora Judas tenha acompanhado o Senhor em Seu tremendo ministério de três anos e meio, ouvido todas as Suas maravilhosas palavras e testemunhado Seus graciosos atos de misericórdia e milagres, seu coração permaneceu endurecido diante de tudo isso. Ele continuou com sua gatunagem e avareza, que abriram seu coração para levar a cabo os malignos desígnios de Satanás.

Na última ceia, o Senhor molhou um pedaço de pão e o deu a Judas. Era costume do anfitrião honrar um convidado, e isto indicava uma manifestação de amor. Lemos que “após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás… Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite” (João 13:15-30). Judas deu as costas a este último apelo de amor do Senhor, e então Satanás o possuiu para fazer sua obra de traição, entregando Jesus a Seus inimigos com um beijo de falsidade.

Quando Judas viu que Jesus fora condenado, “tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se” (Mateus 27:3-5).

Esse foi o trágico fim de alguém que estava tão próximo do Salvador, sem, contudo, jamais entregar seu coração e alma a Cristo. Em vez disso, ele deu ouvidos a Satanás e foi possuído por ele para trair e entregar o amado Mestre aos que eram servos do diabo e queriam a morte de Jesus.

Embora Judas tivesse sentido remorso pelo que fez – um profundo e torturante senso de culpa –, ele não se arrependeu verdadeiramente ou mesmo se voltou ao Senhor contra quem ele tinha pecado. Em vez de se arrepender diante de Deus, ele saiu e cometeu suicídio. Pedro mais tarde disse: “Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar” (Atos 1:25). Ele não foi para o paraíso como aconteceu ao arrependido e moribundo ladrão na cruz. Quão triste é a história de Judas, que vendeu sua alma a Satanás por dinheiro. Verdadeiramente “melhor lhe fora não haver nascido!” (Mateus 26:24), como disse o Senhor Jesus.

Que lição admoestadora é Judas para qualquer pessoa religiosa! Ele recebeu o grande privilégio de ter convivido tão proximamente ao Senhor, mas nunca teve uma relação vital de fé em Cristo, o seu coração nunca se rendeu a Ele. Que contraste entre Judas e o apóstolo Pedro, que falhou mas amava o Senhor, e arrependido de fato foi restaurado e grandemente usado em Seu serviço.

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A. B. Simpson Charles Spurgeon Citações Disciplina Gotas de orvalho Humildade J. C. Ryle John Bunyan Octavius Winslow Repreensão Richard Sibbes Soberania Thomas Brooks

Gotas de orvalho (90)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

A humildade irá salvá-lo da consciência própria. Vai removê-lo da sombra de seu ego e da constante percepção de sua importância própria. Vai salvá-lo da afirmação própria e de confiar em sua própria personalidade em vez de no pensamento e na atenção dos outros. Vai salvá-lo do desejo de se exibir. De ser proeminente, de ocupar o centro das atenções, de ser o objeto das observações e ter os olhos do mundo voltados para você.

(A. B. Simpson)

Cada enfermidade e tristeza manifesta a voz de Deus falando conosco. Cada uma delas tem sua mensagem peculiar. Felizes são os que têm ouvidos e olhos abertos, para ver a mão de Deus e ouvir Sua voz em tudo o que lhes sucede. Neste mundo, nada acontece por acaso.

(J. C. Ryle)

Cristão, que o amor discriminativo de Deus por você seja um motivo para você temê-Lo grandemente. Ele pôs o temor Dele em seu coração, e talvez não tenha concedido essa bênção a seu vizinho, talvez nem a seu marido, a sua esposa, a seu filho ou a seus pais. Oh, que senso de dever esse pensamento deveria trazer a seu coração, para temer grandemente ao Senhor! Lembre-se também de que esse temor do Senhor é o tesouro Dele, uma jóia escolhida, concedida apenas aos favoritos e àqueles que são grandemente amados.

(John Bunyan)

Não faz diferença se Deus envia a fome a sua casa ou se enche seus celeiros de fartura. Ele é bondoso tanto numa situação quanto na outra. A questão é: você é filho Dele? Se é, Ele o repreende afetuosamente e Seu castigo é permeado de amor.

(C. H. Spurgeon)

Jesus estava tão totalmente decidido a salvar os pecadores pelo sacrifício de Si mesmo que criou o madeiro sobre o qual haveria de morrer e nutriu desde a infância os homens que O pregariam no maldito lenho.

(Otávio Winslow)

A vida de fé é aquela da qual Deus provará a verdade de nossa fé, de modo que o mundo veja que Deus possui servos que dependem somente de Sua Palavra.

(Richard Sibbes)

Não existem almas no mundo que sejam tão temerosas em julgar os outros como aquelas que de fato julgam a si mesmas, nem tão cuidadosas em fazer um julgamento justo dos homens ou das coisas como aquelas que são cuidadosas no julgamento de si mesmas.

(Thomas Brooks)

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A. W. Tozer Oração Santidade Serviço cristão Vida cristã

Oração de um profeta menor

Esta oração é pronunciada por um homem chamado a ser testemunha ante as nações, e foram estas as palavras que disse ao seu Senhor no dia em que foi ordenado. Depois de os anciãos e ministros terem orado e pousado sobre ele as suas mãos, retirou-se para estar a sós com o seu Salvador, no silêncio, mais além do que os seus irmãos bem intencionados o podiam levar. E disse:

Senhor, escutei a tua voz e tive medo. Chamaste-me a uma tarefa solene numa hora grave e perigosa. Em breve abalarás todas as nações, a terra e também o céu, para que fique só aquilo que é inabalável. Senhor, nosso Senhor, aprouve-Te honrar-me chamando-me a ser teu servo. Só aceita esta honra aquele que é chamado a ser teu servo, visto ter de ministrar junto àqueles que são obstinados de coração e duros de ouvido. Eles Te rejeitaram, a Ti, que és o Amo, e não posso esperar que me recebam a mim, que sou o servo.

Meu Deus, não vou perder tempo a deplorar a minha fraqueza ou a minha incapacidade para o trabalho. A responsabilidade é tua, não minha, pois disseste: “Conheci-te, ordenei- te, santifiquei-te”, e também: “Irás a todos aqueles a quem Eu te enviar, e falarás tudo aquilo que Eu te ordenar”. Quem sou eu para argumentar contigo ou para pôr em dúvida a tua escolha soberana? A decisão não é minha, mas sim tua. Assim seja, Senhor; cumpra-se a tua vontade e não a minha.

Bem sei, Deus dos profetas e dos apóstolos, que, enquanto eu Te honrar, Tu me honrarás a mim. Ajuda-me, portanto, a fazer este voto solene de Te honrar em toda a minha vida e trabalho futuros, quer ganhando quer perdendo, na vida ou na morte, e a manter intacto esse voto enquanto eu viver.

É tempo, ó Deus, de agires, pois o inimigo entrou nos teus pastos e as ovelhas são dilaceradas e dispersas. Abundam também falsos pastores que negam o perigo e se riem das ameaças que rodeiam o teu rebanho. As ovelhas são enganadas por estes mercenários e seguem-nos com fidelidade, enquanto o lobo se acerca para matar e destruir. Imploro-Te que me dês olhos bem abertos para descobrir a presença do inimigo; que me dês compreensão para distinguir entre o falso e o verdadeiro amigo. Dá-me visão para ver e coragem para declarar fielmente o que vejo. Torna a minha voz tão parecida com a tua que até as ovelhas doentes a reconheçam e Te sigam.

Senhor Jesus, aproximo-me de Ti em busca de preparação espiritual. Pousa a tua mão sobre mim. Unge-me com o óleo do profeta do Novo Testamento. Impede que eu me transforme num religioso e perca assim a minha vocação profética. Salva-me da maldição que paira sombriamente sobre o sacerdócio moderno; a maldição da transigência, da imitação, do profissionalismo. Salva-me do erro de julgar uma igreja pelo número de seus membros, pela sua popularidade ou pelo total de suas ofertas anuais. Ajuda-me a lembrar-me de que eu sou profeta, não um animador, não um gerente religioso, mas um profeta. Que eu nunca me transforme num escravo das multidões. Cura a minha alma das ambições carnais e livra-me do prurido da publicidade. Salva-me da servidão das coisas materiais. Impede-me de gastar o tempo entretendo-me com as coisas da minha casa. Faze o teu terror pousar sobre mim, ó Deus, e impele-me para o lugar de oração onde eu possa lutar com os principados, e potestades, e príncipes das trevas deste mundo. Livra-me de comer demais e de dormir demais. Ensina-me a auto-disciplina para que eu possa ser um bom soldado de Jesus Cristo.

Aceito trabalho duro e pequenas compensações nesta vida. Não peço um cargo fácil. Procurarei ser cego aos pequenos processos de facilitar a vida. Se outros procuram o caminho mais plano, eu procurarei o caminho mais árduo, sem os julgar com demasiada severidade. Esperarei oposição e procurarei aceitá-la serenamente quando ela vier. Ou se, como por vezes sucede aos teus servos, o teu povo bondoso me obrigar a aceitar ofertas expressivas de gratidão, conserva-Te ao meu lado e salva-me da praga que a isso freqüentemente se segue; ensina-me a usar o que porventura receber de tal modo que não prejudique a minha alma nem diminua o meu poder espiritual. E se a tua providência permitir que me advenham honras da tua Igreja, que eu não esqueça naquela hora que sou indigno da mais ínfima das tuas misericórdias, e que, se os homens me conhecessem tão intimamente como eu me conheço a mim próprio, me retirariam tais honrarias para as darem a outros mais dignos delas.

E agora, Senhor do céu e da terra, consagro-Te o resto dos meus dias, sejam eles muitos ou poucos, consoante a tua vontade. Quer eu me erga perante os grandes quer ministre aos pobres e humildes, essa escolha não é minha, e eu não a influenciaria, mesmo que pudesse. Sou teu servo para cumprir a tua vontade. Ela é mais doce para mim do que a posição, ou as riquezas, ou a fama, e escolho-a acima de tudo o mais na terra ou no céu.

Embora eu tenha sido escolhido por Ti e honrado por uma alta e santa vocação, que eu nunca esqueça que não passo de um homem de pó e cinza com todos os defeitos e paixões naturais que atormentam a humanidade. Rogo-Te, portanto, meu Senhor e Redentor, que me salves de mim próprio e de todo o mal que eu puder fazer a mim mesmo enquanto procuro ser uma bênção para os outros. Enche-me do teu poder pelo Espírito Santo, e eu caminharei na tua força e proclamarei a tua justiça – a Tua tão somente. Anunciarei a mensagem do teu amor redentor enquanto tiver forças.

E, Senhor amado, quando eu for velho e estiver fatigado, demasiado cansado para prosseguir, prepara-me um lugar lá em cima e conta-me entre o número dos teus santos na glória eterna. Amém.

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Gotas de orvalho (89)

Cedo de manhã, o orvalho do céu!

É extremamente importante a maneira que uma pessoa se porta em casa. Não se deve ser um santo lá fora e um demônio em casa! Existem alguns desse tipo. Eles são extremamente meigos na reunião de oração, mas são terrivelmente amargos com a esposa e com os filhos. Isso não pode ser assim! Todo crente genuíno deveria dizer de coração: “Eu vou andar em minha casa com um coração perfeito”. É em casa que encontramos as mais verdadeiras provas de santidade. Alguém perguntou a George Whitefield: “Que espécie de homem é ele?” E Whitefield respondeu: “Não sei dizer, pois nunca morei com ele”. Esta é a maneira de testar uma pessoa: conviver com ela.

(C. H. Spurgeon)

O orgulho é a roupagem que a alma veste primeiro, e da qual se despe por último.

(George Swinnock)

Se Deus colocou nossos pecados sobre o Filho de Seu amor, você pode descansar seguro de que Ele jamais os colocará novamente sobre você; pois, se Cristo os suportou e fez expiação por eles pela justiça divina, eles não poderão mais ser encontrados.

(Otávio Winslow)

Toda a vida do cristão deve ser nada mais além de louvores e ações de graças a Deus. Não devemos simplesmente comer e beber, mas comer para Deus, e dormir para Deus, e trabalhar para Deus e falar para Deus – fazer tudo para Sua glória e Seu louvor.

(Richard Sibbes)

Aqueles anos, meses, dias e horas que não são preenchidos com Deus, com Cristo, com graça e com obediência, certamente serão preenchidos com vaidade e tolice. A negligência de um dia, de uma sujeição, de uma hora, nos destruiria, se não tivéssemos um Advogado junto ao Pai.

(Thomas Brooks)

Eu posso fazer mais que orar depois de ter orado, mas não posso fazer mais que orar até que tenha orado!

(John Bunyan)

Dos tempos bíblicos até hoje, pessoas piedosas sempre foram pessoas espiritualmente disciplinadas.

(Donald Whitney)

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (88)

Quando você se encontrou desocupado, logo o Diabo bateu em sua porta e entrou. E, na realidade, isso não é de se estranhar: tudo no mundo ao nosso redor parece nos ensinar a mesma lição. É a água parada que se torna estagnada e impura: os riachos de água corrente estão sempre limpos. Se você possui uma máquina a vapor, precisa fazê-la movimentar-se, ou então ela logo deixará de funcionar. Se você tem um cavalo, precisa exercitá-lo. Ele nunca estará tão bem como quando exerce um trabalho regular. Se você mesmo deseja ter boa saúde física, você precisa se exercitar. Se você ficar sempre sentado e parado, mais cedo ou mais tarde é certo que o seu corpo reclamará. E assim também é com a alma. A mente ativa e movimentada é um alvo difícil para o Diabo acertar com seus dardos. Tente se encher sempre de serviços úteis; assim seu inimigo achará difícil encontrar lugar para semear ervas daninhas.

(J. C. Ryle)

O que é a igreja? No livro de Apocalipse, as sete igrejas são apresentadas como sete candeeiros de ouro (1.20). Um candeeiro, por sua vez, não é um objeto com fim em si mesmo. O propósito de um candeeiro é sustentar a luz de modo que todos possam vê-la. Da mesma forma, a igreja não existe para si própria, ela não é um fim em si mesma, mas é um meio para que o objetivo seja alcançado. O objetivo da igreja é sustentar o testemunho de Jesus de modo que todos possam vê-Lo, de modo que todos possam ver a luz. E, se a igreja falhar em expressar, manifestar a luz do testemunho de Jesus, então, ela terá falhado em sua missão. A igreja não tem como objetivo final atrair as pessoas para si mesma; a igreja tem como objetivo conduzir as pessoas a Cristo.

(Stephen Kaung)

O plano de Deus sempre triunfa, apesar dos contratempos que o povo sofre, da oposição dos seus inimigos e da fraqueza humana.

(Paul Hoff)

Aprendi a amar o escuro da tristeza, porque ali vejo o brilho de Sua face.

(Madame Guyon)

O segredo jaz exatamente aqui: que nossa vontade, que é a fonte de todas as nossas ações, esteve no passado sob o controle do pecado e do eu, os quais operaram em nós todo bom prazer deles. Mas agora Deus apela para que submetamos nossa vontade a Ele, a fim de que Ele possa controlá-la e operar em nós o querer e o efetuar de Seu bom prazer. Se obedecermos a esse apelo, e nos apresentarmos a Ele como um sacrifício vivo, Ele tomará posse de nossa vontade submissa e começará logo a operar em nós “o que é agradável a Sua vista, por Jesus Cristo”, dando-nos a mente de Cristo e nos transformando conforme a Sua imagem (Rm 12.1,2).

(Hanna W. Smith)

Viver mediante regras e ritos não é ser cristão; é ser religioso. O cristianismo não é uma religião que dependa de fórmulas para obter o favor divino, mas é, antes, um relacionamento dinâmico com Deus mediante Jesus Cristo.

(Malcolm Smith)

O crente em união com Deus descansa dos argumentos. É difícil para a alma reprimir a argumentação enquanto está alienada de Deus. Ela argumenta porque perdeu o Deus da razão. O crente verdadeiramente restaurado cessa da argumentação viciosa e complicada da natureza. A verdadeira sabedoria é desejar conhecer tudo aquilo que Deus deseja que conheçamos; é empregar nossa faculdade de percepção e raciocínio sob a direção divina e não buscar nada além desse limite. Você que busca a verdade, tendo exercitado sua razão até descobrir que não existe paz nela, descanse no Deus da razão. O que você não sabe, Deus sabe. Ande com os olhos vendados e Deus, com Sua mão, guiará você.

(T. C. Upham)

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Escatologia Estudo bíblico S. R. Davison

Daniel 12

O último capítulo de Daniel relata o fim da última visão que ele recebeu no terceiro ano de Ciro, rei dos persas. É a continuação dos capítulos 10 e 11, e fala especificamente sobre o tema da vinda gloriosa de Cristo, depois do arrebatamento da Igreja e da grande tribulação de Israel.

 

As divisões do capítulo 12

a) As últimas palavras de Gabriel sobre a grande tribulação……………………………….. vv. 1-4

b) A pergunta que foi feita ao Homem vestido de linho…………………………….………… vv. 5,6

c) Mais informações sobre o fim, pelo Homem vestido de linho……………………………vv. 7-13

 

 As últimas palavras de Gabriel sobre a grande tribulação (vv. 1-4)

“Nesse tempo” (v. 1) é o mesmo tempo mencionado no fim do cap. 11, quando a besta, usada por Satanás, estará perseguindo os judeus em Jerusalém. Os judeus serão defendidos por Miguel, seu “grande príncipe”, mas haverá grande sofrimento e morte dos judeus que se recusam a adorar o anticristo. Já encontramos Miguel em Daniel 10.13,21, onde é chamado “vosso príncipe”, indicando que ele trabalha especificamente para proteger os judeus das atividades satânicas. Ele é o “arcanjo” que lutou com o Diabo a respeito do corpo de Moisés (Jd 9). Em Apocalipse 12.7-9, lemos mais sobre essa guerra que haverá no céu entre “Miguel e seus anjos” e “o dragão [Satanás] e os seus anjos”. Isso revela o grande poder desse anjo, talvez o mais elevado e poderoso de todos os anjos.

O livro mencionado aqui é o livro da vida, que contém o nome dos judeus salvos. Provavelmente é o mesmo livro que também contém o nome dos gentios salvos (Ap 13.8; 20.15; 21.27). Todos os que não estão escritos neste livro adorarão a besta no tempo da grande tribulação (Ap 13.8).

 

“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2).

Há uma dificuldade nesse versículo, pois lemos da ressurreição dos salvos e dos perdidos como se fossem uma só ressurreição geral. Contudo sabemos, a partir de Apocalipse 20.5, que a ressurreição dos mortos perdidos acontecerá somente mil anos depois da vinda de Cristo. Para resolver esse problema, muitos ensinam que a ressurreição aqui referida é figurativa, e fala da restauração espiritual de Israel, como ocorre em Ezequiel 37, na visão dos ossos secos que ressuscitaram.

É verdade que haverá uma grande restauração espiritual na Grande Tribulação, mas parece que a ressurreição nesse versículo é literal. Temos sempre de lembrar que o livro de Daniel fala do futuro de Israel, e aqui podemos ter somente a ressurreição do povo de Israel.

O fato de estar escrito que essa é a ressurreição de “muitos”, e não de todos, sugere que é uma ressurreição parcial, como se fosse só do povo de Israel. Com certeza, naquela época haverá uma ressurreição literal dos judeus salvos que foram mortos na Tribulação (e possivelmente também dos judeus fiéis do Antigo Testamento: Ap 6.9-11; 20.4). Pode ser que os que ressuscitarão “para vergonha e horror eterno” são os mortos infiéis da nação de Israel, que ressuscitarão nesse mesmo tempo para serem julgados pelo Senhor.

Notemos que seu sofrimento será “eterno”, o que também é dito a respeito de gentios em Mateus 25.46. Não é aniquilação, como também não existe um lugar de sofrimento temporário (“purgatório”).

 

“Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente” (Dn 12.3).

Note que há três grupos de judeus indicados aqui: os sábios: os que obedeceram ao Senhor. Isso sugere outro grupo: os que não são sábios, ou seja, os judeus infiéis e desobedientes. Há também “os que a muitos ensinam a justiça”, que são judeus salvos e sábios, e que se esforçaram muito em pregar a Palavra de Deus para os outros (como, por exemplo, os 144 mil de Ap 7 e as duas testemunhas de Ap 11). Os dois grupos fiéis receberão suas diferentes recompensas na vinda gloriosa de Cristo e entrarão com Ele no reino da Terra. Os que foram ativos na pregação da verdade e conduziram muitos à justiça terão uma recompensa maior: “resplandecerão […] como as estrelas sempre e eternamente’’. Isso mostra que alcançarão uma posição de grande autoridade e glória permanente no reino de Cristo. Para a Igreja, a recompensa também será proporcional ao esforço do salvo (1Co 3.14,15). A parábola das dez minas em Lucas 19.11-27 também ensina essa diferença nas recompensas.

 

“E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará” (Dn 12.4).

Daniel tinha de encerrar e selar’ o livro com cuidado, para ele ser estudado e conhecido por muitos nos últimos dias. Essas verdades seriam guardadas por muito tempo, mas, no fim dos tempos, o livro será esquadrinhado e bem conhecido pelos judeus fiéis e sábios na Tribulação.

 

A pergunta que foi feita ao Homem vestido de linho (vv. 5-6)

 

“Então eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em pé outros dois, um deste lado, à beira do rio, e o outro do outro lado, à beira do rio” (Dn 12.5).

Neste ponto, Daniel percebeu que havia “outros dois” presentes, um em cada margem do rio Tigre. Parecem ser outros anjos acompanhando Gabriel. Os grandes anjos têm outros anjos que os auxiliam na obre de Deus (veja Ap 12.7).

 

“E ele disse ao homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio: Quando será o fim destas maravilhas?” (Dn 12.6).

Um desses outros anjos fez uma pergunta para o Homem vestido de linho (Cristo), sobre quando se cumprirão todas essas visões. Sem dúvida, essa pergunta estava também na mente de Daniel e foi feita para ajudar a ele e a nós.

 

Mais informações sobre o fim, pelo Homem vestido de linho (vv. 7-13)

 

“E ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, o qual levantou ao céu a sua mão direita e a sua mão esquerda, e jurou por aquele que vive eternamente que isso seria para um tempo, tempos e metade do tempo, e quando tiverem acabado de espalhar o poder do povo santo, todas estas coisas serão cumpridas” (Dn 12.7).

A última palavra do livro foi dada pelo Homem vestido de linho: o próprio Senhor Jesus Cristo. Antes de falar, Ele levantou as mãos para o alto – uma expressão solene de juramento usada para invocar a Deus como testemunha.

Então Ele disse que o fim seria depois de “um tempo, tempos e metade de um tempo”. Isso equivale a três anos e meio, ou 1.260 dias, que corresponde ao tempo desde a profanação do Templo pelo anticristo, quando ele também anulará sua aliança com Israel, até a vinda de Cristo para salvar os judeus fiéis que serão perseguidos. Isso prova que o assunto nesses versículos é a Grande Tribulação, quando Israel e o judaísmo serão quase destruídos por seus inimigos naquele tempo de três anos e meio antes da vinda de Cristo.

 

“Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas?” (Dn 12.8).

Daniel ficou perturbado ouvindo sobre essa grande perseguição a seu povo, Israel, e pediu mais ajuda ao Homem vestido de linho, sobre qual seria o fim dessas coisas. Ele queria saber como será o fim para Israel.

 

“E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão” (Dn 12.9,10).

Daniel foi consolado pelo Homem vestido de linho, que explicou que tudo iria terminar bem para ele e para seu povo. Esse sofrimento dos judeus seria usado por Deus para purificá-los e trazer grande restauração em Israel. Os “ímpios” são aqueles que aceitam a besta para escapar do sofrimento; os “sábios” são os judeus que rejeitam a besta e aceitam o evangelho, mesmo sofrendo terrivelmente até a morte.

 

“E desde o tempo em que o sacrifício contínuo for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá mil duzentos e noventa dias” (Dn 12.11).

Então, o Senhor mostrou, de maneira especial, o calendário divino. As frases “o sacrifício […] tirado” e “a abominação desoladora” colocada no Templo se referem ao tempo quando a imagem da besta será colocada no templo em Jerusalém, marcando o começo da Grande Tribulação (Mt 24.15). A partir desse dia, haverá ainda 1.290 dias. Esse período é trinta dias maior do que os três anos e meio citados no versículo 7, e deve incluir o tempo para limpar a cidade dos cadáveres, etc., depois da batalha que haverá na vinda de Cristo (veja também Zc 14.2,12,13).

 

“Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias” (Dn 12.12).

Os 1.335 dias mencionados aqui incluem ainda mais 45 dias depois dos 1.290 dias do vers

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Citações Gotas de orvalho Vários

Gotas de orvalho (87)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Os cristãos primitivos não tinham muitos privilégios e muitas vantagens dos quais nós desfrutamos. Eles não tinham livros impressos. Eles adoravam a Deus em covas, cavernas e câmaras superiores, tinham poucas e simples vestes eclesiásticas, e muitas vezes recebiam a Ceia do Senhor em vasos de madeira, e não de prata ou ouro. Eles tinham pouco dinheiro, não tinham doações às igrejas, nem universidades. Suas crenças eram pequenas. Suas definições teológicas eram escassas. Mas o que eles sabiam, sabiam bem. Eles foram homens de um Livro só. Eles sabiam em quem criam. Se eles tinham vasos comunitários de madeira, eles tinham ministros e professores de ouro. Eles “olhavam para Jesus” e notavam intensamente a personalidade de Jesus. Eles viviam para Jesus, e trabalhavam e morriam por Ele. Mas o que nós estamos fazendo?

(J. C. Ryle)

A cruz é o maior nivelador do universo. Ela leva cada um de nós à estaca zero e oferece um novo começo a toda humanidade.

(Watchman Nee)

Onde a razão não alcança pé, a fé pode nadar.

(Thomas Watson)

Eu gostaria, irmãos e irmãs, que todos imitássemos a ostra. Uma partícula irritante penetra-lhe a concha, e isso a irrita e a faz sofrer. Ela não consegue desfazer-se do mal, mas o que ela faz é “cobrir” aquilo que a irrita com uma substância de alto valor, extraída de sua própria vida, por meio da qual transforma aquele intruso numa pérola! Oh, que façamos o mesmo com as provocações que recebemos de nossos companheiros cristãos, de forma que as pérolas de paciência, docilidade e perdão sejam criadas dentro de nós por meio daquilo que, doutra forma, nos seria prejudicial.

(C. H. Spurgeon)

Os dois fundamentos que constituíam a vida e a alma dos fariseus era sua própria reputação e a reputação do partido a que pertenciam.

(John Owen)

Aprendam a não se agarrar a nenhum bem terreno e estejam prontos a abrir mão de qualquer coisa quando Deus a exigir de suas mãos. Alguns de vocês talvez tenham amigos que lhes são tão caros como a própria alma; e outros podem ter filhos a cuja vida sua própria vida está ligada. Todos têm seus Isaques, aquilo que lhes dá especial prazer. Eu lhes rogo, pelo amor a Deus, filhos e filhas de Abraão: esforcem-se para renunciar a eles a cada instante, por amor a Deus, de forma que, quando chegar o momento de Ele requerer que vocês realmente os sacrifiquem, vocês não consultem carne e sangue, assim como também não fez o bem-aventurado patriarca.

(George Whitefield)

Não posso garantir a todo aquele que lavra a terra que, infalivelmente, terá uma boa colheita; mas uma coisa posso dizer: Deus costuma abençoar o diligente e o prudente. Não posso dizer a todo aquele que deseja filhos: “Case e você terá filhos”. Não posso dizer com certeza absoluta ao que vai à guerra pelo bem de seu país que será bem-sucedido e obterá a vitória. Mas posso dizer, como Joabe: “Esforça-te, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades do nosso Deus, e faça o Senhor o que parecer bem aos Seus olhos” (1Cr 19.13). Não posso garantir que você obterá graça da parte de Deus; mas posso dizer a cada um e a todos: use os meios indicados por Deus, e confie o sucesso de seu esforço e sua própria salvação à boa vontade de Deus. Eu não posso garantir isso a você, pois não há como obrigar Deus a fazer alguma coisa. E, ao mesmo tempo, essa obra é fruto da vontade de Deus, de Seu soberano desígnio: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18). A nós compete fazer aquilo que Deus ordenou, e deixar que Ele faça a vontade Dele. Eu nem precisaria dizer isso, pois o mundo todo, em tudo o que acontece, é guiado por esse princípio. Cumpramos nossas obrigações, entregando a Deus os resultados. A maneira normal de Deus agir é encontrar-se com a criatura que O busca. Sim, Ele já está conosco agora. O sincero uso dos meios de graça já é um autêntico indício da operação de Sua graça. Dessa forma, uma vez que Ele já está conosco, e não demonstrou nenhum empecilho ao nosso bem-estar, não temos razão para desesperar de Sua bondade e misericórdia. Em vez disso, temos toda razão para esperar o melhor em nosso favor.

(Thomas Manton)

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Gotas de orvalho (86)

Gotas de orvalho que alimentam a fé!

Acolher a Bíblia de forma meramente teórica, especulativa, gera um travesseiro desconfortável para a hora da morte. E é impressionante e solene refletir como cada assunto, cada tema, cada questão que surge da história, na filologia ou do objetivo da Palavra de Deus, naquele terrível momento dá lugar ao único assunto de fato importante: a sublime salvação nela revelada, por meio da qual a alma pode escapar do inferno e subir ao céu. Quem, nessa hora, deseja ouvir tratados, por mais cultos que sejam, a respeito da literatura, da eloqüência, da poesia ou da sublimidade da Bíblia? Quem, quando a natureza estiver se dissolvendo, a terra sumindo, a eternidade se abrindo, quem estará em condições de ponderar, examinar e verificar as evidências da inspiração das Escrituras? A linguagem ardente, a súplica de alguém nessa situação, cônscio do pecado e do perigo, é esta: “Haverá perdão, haverá salvação, haverá esperança para um pecador como eu? Será que a Palavra de Deus me diz como posso ser salvo? Leia para mim a respeito de Cristo. Fale-me do Salvador. Aponte-me o Cordeiro de Deus. Direcione meus olhos para a cruz, e ajude-me a ver Aquele cujo sangue purifica de todo pecado. Leia, fale, conte-me unicamente sobre Jesus!”.

(Otávio Winslow)

Não há nada mais inadequado do que pronunciar verdades solenes com um espírito brincalhão!

(Samuel Davies)

Existem, portanto, muitos homens e mulheres batizados que praticamente nada sabem sobre Cristo. A fé deles consiste em algumas noções vagas e expressões vazias. “Mas eles crêem, não são piores que outros; eles se mantêm na igreja, tentam fazer suas obrigações; não prejudicam a ninguém; esperam que Deus seja misericordioso para com eles! Eles confiam que o Poderoso perdoará seus pecados e os levará para o céu quando morrerem”. Isso é quase a totalidade de sua fé. Mas o que essas pessoas sabem de fato sobre Cristo? Nada! Nada mesmo! Que relação experiencial eles têm com os ofícios e a obra de Cristo, com Seu sangue, Sua justiça, Sua mediação, Seu sacerdócio, Sua intercessão? Nenhuma! Nenhuma mesmo! Pergunte-lhes sobre a fé salvífica; pergunte-lhes sobre nascer de novo do Espírito; pergunte-lhes sobre ser santificado em Cristo Jesus. Que resposta você terá? Você é um bárbaro para eles. Você lhes perguntou questões bíblicas simples, mas eles não sabem mais sobre elas, experimentalmente, do que um budista ou um muçulmano. E, mesmo assim, essa é a fé de centenas de milhares de pessoas por todo o mundo que são chamadas de cristãs.

(J. C. Ryle)

É terrível pensar que multidões de pessoas que se professam cristãs haverão de acordar no inferno para então descobrir que o conhecimento da verdade divina que possuíam não era mais sólido que um mero sonho!

(A. W. Pink)

Foi a certeza de que o homem terá de prestar contas a seu Criador que fez da América uma grande nação. Entre os antigos líderes encontrava-se Daniel Webster, cujos olhos flamejantes e cuja oratória ardente muitas vezes fascinou o Senado. Naqueles dias, o Congresso era composto de estadistas fortes, nobres, que carregavam no próprio coração e mente o peso da nação. Perguntaram, certa vez: “Sr. Webster, qual foi o pensamento mais sério que já lhe passou pela mente?” “O pensamento mais sério que já entrou em minha mente é minha responsabilidade de prestar contas a meu Criador”, replicou ele. Homens desse calibre não há como corromper nem comprar. Eles não precisam preocupar-se com escutas telefônicas. Aquilo que eram, em caráter e conduta, era resultado da convicção que tinham que no final teriam de prestar contas a Deus.

(A. W. Tozer)

Para alcançarmos o conhecimento proveitoso, a coisa mais necessária é temer a Deus. Não somos capazes de aproveitar as instruções que nos são dadas a não ser que nossa mente esteja possuída de santa reverência por Deus e que cada pensamento nosso seja trazido à obediência Dele. […] Da mesma forma que todo o nosso conhecimento precisa originar-se do temor de Deus, assim também ele precisa conduzir-nos ao temor de Deus como seu aperfeiçoamento e centro. Somente aqueles que sabem como temer a Deus, aqueles que são cuidadosos para em tudo agradá-Lo e que temem ofendê-Lo de qualquer forma, têm conhecimento adequado.

(Matthew Henry)

A idéia corrente sobre a oração parece ser que eu me achego a Deus e Lhe peço alguma coisa que quero, e minha expectativa é que Ele me dê aquilo que pedi. Mas essa é uma concepção que muito desonra e deprecia a oração. Essa crença popular reduz Deus a um servo, nosso servo: fazendo o que ordenamos, executando nossos desejos, concedendo-nos o que desejamos. Não, não! A oração consiste em aproximar-me de Deus, apresentar-lhe minhas necessidades, entregando-Lhe meu caminho e deixando que Ele lide com a situação como Lhe parecer melhor.

(A. W. Pink)

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Consolo Encorajamento John MacDuff Sofrimento Vida cristã

O terno cuidado

“E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (Mt 10.30).

Que promessa preciosa temos aqui! Tudo o que diz respeito a você, até mesmo o número dos cabelos de sua cabeça, tudo Deus conhece! Nada acontece por acaso ou por acidente. Nada escapa a Sua inspeção. A folha que cai na floresta, o inseto que esvoaça, o agitar das asas dos anjos, a destruição de um povo: tudo Ele conhece por igual! O homem fala de coisas grandes e de coisas pequenas, mas Deus desconhece essa diferença.

Como é confortante pensar nesse terno cuidado com referência a Seu próprio povo, o povo da aliança: Ele é quem distribui todas as alegrias e todas as tristezas de Seu povo! Todo doce, e todo amargo, é Ele quem ordena. Até mesmo “noites longas e enfadonhas” são “ordenadas” por Ele. Nenhum sofrimento meu, nenhuma lágrima que derramo, nada acontece que Lhe seja desconhecido. Aquilo que comumente chamamos de “negras nuvens” são as ordens da invariável fidelidade Dele. O homem pode errar, seus caminhos são constantemente tortuosos; mas “o caminho de Deus é perfeito” (2Sm 22.31; Sl 18.30)!

Ele recolhe em Seu odre as minhas lágrimas. Em todo momento, Seus braços eternos me sustentam e me rodeiam. Ele cuida de mim “como à menina do olho” (Sl 17.8). Ele me trata como um homem trata o próprio filho (103.13)!

Você está preocupado com o futuro? Há muita coisa incerta e misteriosa aguardando você? Talvez haja até muitos presságios ruins. Confie Nele! Tudo o que lhe diz respeito já está designado. Os perigos serão afastados; labirintos confusos se mostrarão entrelaçados e entremeados de misericórdia. “Os pés dos Seus santos [Deus] guardará” (1Sm 2.9). Nem um cabelo da sua cabeça será tocado.

Às vezes, Ele nos guia por caminhos escuros; às vezes, por caminhos de sofrimento; com freqüência, por caminhos tortuosos e aflitivos, que nós mesmos não teríamos escolhido. Mas Ele sempre nos conduz sabiamente, sempre com ternura. Com todos esses intrincados e sinuosos desvios, com todas as suas asperezas e severidades, o crente não só está em um caminho certo, mas está no caminho certo, o melhor caminho que o amor e a sabedoria do pacto poderiam escolher para ele.

Jeremias Taylor diz: “Não há nada que aquiete a mente no meio da agitação e da turbulência das coisas presentes do que olhar acima delas e olhar além delas. Acima delas, para a firme e amorosa mão que as está regendo; e além delas, para o doce e belo final a que, por essa mão, as circunstâncias serão conduzidas”. Thomas Brooks diz: “O Grande Consolador põe nuvens e escuridão em torno de Si, pedindo que atendamos a Seu chamamento do meio da nuvem, prometendo um eterno e ininterrupto raiar do sol no outro lado”. Nesse “outro lado” haveremos de ver como todo golpe de vento, aparentemente rude, cooperou para conduzir nosso barco para mais perto do céu desejado.

Eu posso muito bem confiar a guarda de minha alma a Jesus, com absoluta certeza de que Ele a guardará segura – Ele é o fiel Criador. Ele deu a Si mesmo por mim. Essa tão grande prova de amor é a garantia da concessão de toda e qualquer outra bênção que seja necessária (Rm 8.32). Oh, que pensamento abençoado: minhas tristezas estão todas contadas pelo Homem de Dores; minhas lágrimas estão todas contadas por Ele, que primeiro derramou Suas lágrimas e, então, Seu sangue por mim! Ele não vai me impor nenhum fardo inútil, e não exigirá nenhum sacrifício desnecessário. Não havia nenhuma gota desnecessária no cálice de Seus próprios sofrimentos, nem haverá no cálice de Seu povo.

“Ainda que Ele me mate, Nele esperarei” (Jó 13.15)!

“Portanto, consolai-vos uns aos outros com essas palavras” (1Ts 4.18).

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Gotas de orvalho (85)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom. A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento.

(Jonathan Edwards)

“Deus falar” é o mesmo que “Deus agir”; para Ele, dizer e fazer são a mesma coisa.

(Matthew Henry)

Que esta seja a nossa regra sacra: não procurar saber nada mais, senão o que a Escritura nos ensina. Naquilo em que o Senhor fecha Seus próprios lábios que igualmente impeçamos nossa mente de avançar um passo a mais.

(João Calvino)

Abandonar o pecado é a própria essência do verdadeiro arrependimento. O arrependimento que consiste apenas em sentimentos, confissão verbal, desejos, esperança e decisão é indigno aos olhos de Deus. Os atos é que constituem a essência do “arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar”. Até que um homem cesse de fazer o mal e abandone seus pecados, ele não se arrependeu. Se queremos saber se realmente somos convertidos a Deus e se experimentamos tristeza pelo pecado e o arrependimento que causa “jubilo nos céus”, examinemo-nos e vejamos se, na verdade, abandonamos o pecado. Não descansemos até que sejamos capazes de dizer, como se estivéssemos na presença de Deus: “Odeio o pecado, e não quero mais pecar”.

(J. C. Ryle)

Guarde-se de estudar a Bíblia como mero amante de história, ou de ciência ou de poesia. Estude-a como um pecador, ansioso por saber como pode ser salvo. Leia a Bíblia para saber como Deus pode perdoá-lo, justificá-lo e conduzi-lo ao céu quando você morrer. Deixe de lado suas críticas, discussões e especulações, e aproxime-se da Bíblia como uma criancinha, como um sincero investigador, como um aluno humilde, desejoso de conhecer as Escrituras, que podem torná-lo sábio para a vida eterna. Nessa busca tão séria, deixe de lado todos os outros livros, e torne-se estudante desse único Livro de Deus. A salvação é o grande e principal tema da Bíblia, e isso é tudo que você, como pecador que vai enfrentar o trono do juízo de Deus, precisa conhecer.

(Otávio Winslow)

A hipocrisia é uma erva daninha que naturalmente brota em todo terreno. O melhor coração não está perfeitamente limpo nem livre dela.

(John Flavel)

A oração não é tanto um ato, mas é uma atitude; uma atitude de dependência, dependência de Deus.

(A. W. Pink)

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Sacerdotes


O estabelecimento de um sacerdócio humano como uma classe distinta dos outros cristãos é uma negação da verdade da fé cristã. De acordo com o Novo Testamento, todos os cristãos são sacerdotes: eles oferecem oração e louvor a Deus.

No Novo Testamento temos:

  1. Sacerdotes judeus
  2. O sacerdote pagão de Júpiter
  3. Melquisedeque (contemporâneo de Abraão)
  4. O próprio Cristo como o Sumo Sacerdote

Não existe absolutamente nenhuma referência a alguns cristãos tendo a distinção de serem sacerdotes. Em lugar disso, todos os cristãos são sacerdotes. Uma classe diferenciada de sacerdotes dentre os cristãos na terra é totalmente estranha ao Novo Testamento. Todos os cristãos pertencem a um sacerdócio real e santo – tudo o mais é falso e contrário às Escrituras.

Veja os seguintes versículos:

“Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Cristo Jesus” (1Pd 2.5).

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas Daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pd 2.9).

“Àquele que nos ama, e pelo Seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1.5,6).

“Por Ele [Jesus], pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13.15). (A palavra sacerdote não é usada aqui, mas apenas sacerdotes oferecem sacrifícios.)

Cristo é o grande Sumo Sacerdote; todos os cristãos são sacerdotes. No antigo sistema, os sacerdotes ofereciam dons e sacrifícios pelos pecados em benefício do povo que não podia se aproximar do altar para o fazer. Era, sem dúvida, antes do próprio sacrifício de Cristo na cruz. A fé cristã é fundamentada no perfeito sacrifício de Cristo, no valor e na eficácia do que é eterno. A Epístola aos Hebreus enfatiza que, como a obra de Cristo fora de uma vez por todas, não pode haver qualquer outro sacrifício pelos pecados (ver 10.26).

No tabernáculo judeu havia dois véus. As pessoas comuns não podiam passar por nenhum deles. Os sacerdotes podiam passar pelo primeiro a fim de oferecer incenso, porém, pelo véu que dava para o Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote podia passar sozinho, uma vez por ano, com o sangue da propiciação aspergido sobre o propiciatório. Assim, Deus se escondia dentro do véu. O adorador comum não podia se aproximar de Deus diretamente para oferecer dons e sacrifícios. O sacerdote os recebia e os oferecia. Deus habitava em densa escuridão.

A fé cristã é o completo oposto de tudo isso. O véu foi rasgado de alto a baixo (ver Mc 15.38); Deus revelou a Si mesmo. Em lugar de não podermos nos aproximar de Deus, Deus se aproximou de nós. Isso se aplica até ao maior dos pecadores (Paulo). Agora:

“A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11).

“As trevas vão passando, e já brilha a verdadeira luz” (1Jo 2.8).

“Pois que Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19).

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1.14).

“Nele [em Cristo] estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4).

“Deus nos deu vida eterna, e essa vida está em Seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida” (1Jo 5.12).

Por meio disso deduzimos que, quando um cristão assume a autoridade exclusiva de conduzir uma reunião ou um grupo, ele está agindo segundo a antiga ordem judaica. Está, de fato, dizendo que a pessoa comum não pode se aproximar pessoalmente, mas que deve ter um ministro ordenado da igreja para se aproximar por ele. Isso é uma negação de toda a eficácia da fé cristã e do lugar no qual todos os cristãos foram colocados.

Mas a luz de Deus brilhou mais, “e devemos andar na luz assim como Ele [Deus] na luz está” (1Jo 1.7). Aproximo-me pelo sangue de Cristo, a luz me mostra que estou perfeitamente limpo. Se requeiro que outro entre na presença de Deus em meu benefício, não devo considerar a mim mesmo como puro. Mas estou limpo, por causa da obra de Cristo. Sou, portanto, um sacerdote, e devo oferecer louvor, gratidão e adoração ao próprio Deus. E posso fazer isso a qualquer hora.

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Simplicidade e sinceridade de Deus – Uma carta escrita por John Newton

Prezado senhor:

Seria algo maravilhoso se todos os que professam o Evangelho pudessem, juntamente com o apóstolo, regozijar-se no testemunho da consciência, de que vivem em simplicidade e em sinceridade. Quantos males e escândalos seriam evitados! Mas, ah!, são tantos os que usam o nome de Cristo que parecem não ter a menor idéia dessa parte essencial do caráter cristão. Acredito que algumas poucas considerações sobre esse assunto tão pouco tratado nos serão de bom proveito. Aquele que está mais avançado na vida cristã ainda tem algo para aprender sobre isso; e, quanto mais avançarmos no assunto, maior será nossa paz interior e mais haverá de brilhar nossa luz diante dos homens, para glória de nosso Pai celestial.

A simplicidade e a sinceridade, embora sejam inseparáveis, não são a mesma coisa. A primeira é o fundamento que dá origem à segunda. A simplicidade, antes de tudo, diz respeito à disposição de nosso espírito à vista de Deus, enquanto a sinceridade diz respeito à nossa conduta observável por nossos semelhantes. É verdade, os termos são freqüentemente usados de modo intercambiável, e isso pode ocorrer sem provocar grandes erros; mas, como não são exatamente a mesma coisa, julgo adequado, se queremos falar corretamente, deixar bem clara essa distinção.

Algumas pessoas, mais encantadas com o nome simplicidade do que com a essência do que essa palavra significa, têm atribuído a ela o sentido de infantilidade no falar e no agir, como se entendessem a palavra simples apenas no sentido vulgar, como equivalente de tolo. Mas essa infantilidade produz autêntico desgosto naqueles que têm verdadeiro gosto pelas coisas de Deus e adequado juízo sobre elas. Uma simplicidade artificial ou aparente é uma contradição de termos, e difere tanto da simplicidade do Evangelho quanto a maquiagem difere da beleza.

A simplicidade verdadeira, que é a honra e a força de um crente, é o efeito de uma percepção espiritual das verdades do Evangelho. Ela surge da percepção que temos (e cresce à medida que essa consciência se intensifica) de nossa própria indignidade, do poder e da graça de Cristo e da grandeza de nosso comprometimento com Ele. À medida que o conhecimento dessas coisas passa a fazer parte de nossas vida e experiência, isso nos tornará simples de coração. Essa simplicidade pode ser considerada de duas formas: uma simplicidade de intenção e uma simplicidade de confiança. A primeira se opõe a nossas obras corruptas; a segunda, ao falso raciocínio incrédulo.

A simplicidade de intenção significa que temos somente um alvo, para o qual dirigimos e ao qual subordinamos todos os nossos desejos e tudo o que nos interessa, deliberadamente e sem reservas. Em resumo: que estamos devotados ao Senhor, e pela graça fomos capacitados a escolhê-Lo e a nos consagrar a Ele, de forma que nossa felicidade está em Seu favor, e fazemos da glória e da vontade Dele o supremo alvo de todas as ações. Ele é digno disso. Ele é o supremo bem. Só Ele é capaz de satisfazer a imensa capacidade que nos concedeu, pois Ele nos formou para Si mesmo. E, aqueles que já provaram que Ele é gracioso, sabem que Sua graça “é melhor do que a vida” (cf. Sl 63.3a), e que Sua presença e plenitude podem suprir a falta ou a perda de toda e qualquer necessidade pessoal.

Da mesma forma, Ele, com justiça, requer que sejamos totalmente Dele; pois, além de, como Suas criaturas, estarmos em Suas mãos como barro nas mãos do oleiro, Ele tem um documento de redenção para nós: Ele nos amou e nos comprou com Seu próprio sangue. Ele não hesitou nem vacilou entre dois pensamentos, quando se empenhou em redimir nossa alma da maldição da lei e do poder de Satanás. Ele, no momento de Sua agonia, poderia ter convocado legiões de anjos (se fosse necessário) para Lhe darem assistência ou poderia ter destruído Seus inimigos com uma palavra ou um simples olhar. Ele poderia facilmente ter-se salvado; mas como então teria sido salvo Seu povo ou como teriam se cumprido as promessas das Escrituras? Por essa razão, Ele voluntariamente suportou a cruz, Ele ofereceu as costas a Seus torturadores, Ele derramou Seu sangue, Ele renunciou à própria vida. Nele nós vemos uma admirável simplicidade de intenção!

“E nós, ó Amigo das almas,
não deveríamos ser simples de coração
e totalmente entregues a Ti?
Deveríamos recusar o cálice da aflição de Tua mão ou por Tua causa?
Ou deveríamos desejar beber o cálice do prazer pecaminoso,
quando lembramos o que nossos pecados custaram para Ti?
Devemos desejar ser amados pelo mundo que Te odiou
ou ser admirados pelo mundo que Te desprezou?
Devemos nos envergonhar de professar nossa ligação com um Salvador assim?
Não, Senhor, não permitas que isso aconteça!
Faze com que Teu amor nos constranja;
que Teu nome seja glorificado e Tua vontade seja feita, por nós e em nós.
Que consideremos todas as coisas como escória e esterco
pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Que não desejemos nada que Tu julgues por bem nos negar,
nem nos lamentemos por aquilo de que queres que abramos mão.
E que nem mesmo nos regozijemos naquilo que nos concederes,
a não ser que possamos aproveitá-lo para Ti;
e que sempre desejemos mais Teu amor do que nossa mais cara alegria!”

Essa é a linguagem do coração que foi abençoado com a simplicidade do Evangelho. Ele já foi a fortaleza do pecado, o trono do interesse próprio; mas agora o egoísmo foi destronado, e Jesus reina pelo cetro dourado do amor. Esse princípio preserva a alma das buscas inferiores, sórdidas e idólatras. Ele não admitirá nenhum rival perto do Amado, nem se renderá aos subornos e às ameaças do mundo.

Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo.

Há, igualmente uma simplicidade de confiança. A incredulidade está constantemente levantando objeções, ressaltando e multiplicando dificuldades. Mas a fé no poder e nas promessas de Deus inspira uma nobre simplicidade e lança sobre Ele cada preocupação, Ele que é capaz e se comprometeu a sustentar e a cuidar.

Dessa forma, quando Abraão, em obediência ao chamado de Deus, deixou sua terra e sua parentela, o apóstolo observa: ele “partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8). Para Abraão, era suficiente saber a quem estava seguindo: o Deus todo-suficiente era seu guia, seu escudo e seu grandíssimo galardão (Gn 15.1). Assim, quando forçado a esperar longamente pelo cumprimento de uma promessa, ele não se abalou, não discutiu nem duvidou, mas simplesmente dependeu de Deus, que tinha falado e que também era poderoso para cumprir o que prometera. De forma semelhante, quando recebeu a dura ordem de oferecer o próprio filho, a respeito do qual tinha sido dito: “Em Isaque será chamada a tua descendência”, ele simplesmente obedeceu e dependeu do Senhor para que cumprisse a própria palavra (Hb 11.18,19).

Foi nesse espírito que Davi saiu para enfrentar Golias, e o venceu. E dessa forma os três notáveis não temeram as ameaças de Nabucodonosor, escolhendo antes ser lançados numa fornalha acesa do que pecar contra o Senhor. E dessa forma Elias, num tempo de fome, foi preservado de preocupação e necessidade, e foi sustentado por meios extraordinários (1Rs 17.1-7).

Em nossos tempos, não ficamos na expectativa de milagres, no sentido estrito da palavra, mas aqueles que dependem de Deus de forma simples haverão de deparar-se com tais indicações de Sua intervenção em tempos de necessidade, o que, para eles pelo menos, será uma prova satisfatória de que Ele tem cuidado deles. Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo. Isso nos encorajará a usar todos os meios legítimos, porque o Senhor nos ordenou esperar Nele baseados em Sua Palavra; mas também haverá de inspirar confiança e esperança quando tudo parece falhar (Hc 3.17,18).

Quando não exercem essa dependência, muitos desonram sua profissão de fé, e chegam até a naufragar na fé. O coração deles não é simples; eles não confiam no Senhor; pelo contrário, apoiam-se no próprio entendimento, e suas esperanças e medos recebem influência de vermes como eles mesmos. Isso provoca uma duplicidade de conduta. Eles temem o Senhor, mas servem a outros deuses. Reparando na linguagem deles, às vezes se pensa que o desejo deles é servir apenas ao Senhor; mas, se ficam com medo de que Ele não vai protegê-los ou suprir-lhes as necessidades, fazem aliança com o mundo e procuram tanto segurança quanto vantagens em aquiescências pecaminosas. Eles não podem regozijar-se no testemunho de uma consciência boa. Vivem de forma miserável. Tentam reconciliar aquilo que o Senhor declarou ser totalmente incompatível: servir a Deus e ao dinheiro.

Eles conhecem o suficiente da religião ao ponto de seus interesses mundanos se tornarem desagradáveis, e têm tanta estima pelo mundo que isso os impede de receber qualquer bem-estar verdadeiro da religião. Esses são os mornos na fé, nem quentes nem frios: nem aprovados pelos homens nem aceitos por Deus. É possível que participem das ordenanças [batismo e Ceia do Senhor] e falem como cristãos, mas o gênio deles não é santificado e sua conduta é irregular e reprovável. Eles não são simples e, por essa razão, não podem ser sinceros.

Não preciso me dar ao trabalho de provar que o efeito da simplicidade será a sinceridade. Visto que aqueles que amam o Senhor acima de tudo, que preferem a luz do Seu rosto a milhares de ouro e prata, que foram capacitados a confiar Nele quanto a todas as preocupações e que preferem que Ele lhes controle a vida em vez de eles mesmos fazerem isso – esses serão pouco tentados à insinceridade. Os princípios e os motivos que regem a conduta deles são os mesmos tanto em público como em particular. O comportamento deles será íntegro, pois eles têm um só propósito. Eles falarão a verdade em amor, serão rigidamente pontuais nos negócios e tratarão os outros como gostariam de ser tratados. Porque essas coisas são essenciais para o grande alvo deles: glorificar seu Senhor e manter comunhão com Ele.

Um temor de desonrar Seu nome e de entristecer Seu Espírito os ensinará não só a evitar pecados grosseiros e conhecidos, mas a absterem-se de toda aparência de mal. A conduta deles, por isso, será consistente, e serão capacitados a dizer a todos os que os conhecem que “com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus” eles têm se conduzido no mundo (2Co 1.12).

Para um cristão sincero, o engano e a esperteza, que são considerados sabedoria no mundo, são considerados não apenas ilegítimos, mas também desnecessários. Ele não precisa de pequenos subterfúgios, evasivas e disfarces, pelos quais homens astuciosos se esforçam (embora muitas vezes em vão) para esconder seu verdadeiro caráter e fugir de merecido desprezo. Ele é o que parece ser, e por isso não teme ser descoberto. Ele anda na luz da sabedoria que é lá do alto e se apoia no braço do Todo-Poderoso; por isso, anda com liberdade, confiando no Senhor, a quem serve em espírito no evangelho de Seu Filho.

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