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Adolescentes e acesso irrestrito: hora de arrepender-se (John Perrit)

As estatísticas foram publicadas, a literatura circulou amplamente, as conversas continuam, mas o assunto ainda parece não ser tratado com a devida vigilância. Estou falando sobre adolescentes com acesso irrestrito em seus smartphones e tablets. Dou um caloroso “Amém!” para o recente tweet de Russell Moore: “Estou chocado com pais que dão aos seus filhos pré-adolescentes iPhones e iPads com acesso irrestrito à Internet”.

Afirmamos corretamente que a pornografia é um vício, mas não parece que estamos desafiando os vendedores dessa droga. Quem são os vendedores? Pais. Pais que tolamente dão aos seus adolescentes (e pré-adolescentes) reinado livre sobre seus smartphones e, ao fazer isso, convidam o mundo para a cama de seus filhos todas as noites.

Alguns de vocês podem pensar que eu estou sendo um pouco exagerado, mas, após considerar outro verão de retiros de jovens, meus olhos foram abertos novamente para essa tolice absoluta (não há uma forma mais branda de colocar isso). As coisas que nossa juventude posta nas mídias sociais provam muitas coisas; uma delas é a ausência parental nessa esfera.

Eu tive muitas conversas com estudantes viciados em pornografia e, igualmente, muitas conversas com pais que não fazem ideia do que os seus filhos estão fazendo na Internet. Não fosse por um Deus todo-poderoso, reinante e soberano, eu estaria ainda mais preocupado com os efeitos dessa negligência sobre o futuro da nossa cultura, incluindo a igreja. Portanto, aqui vão seis conselhos de um pastor de jovens que não reivindica ter todas as respostas para a criação de filhos.

 1. Arrependa-se

Deus graciosamente te deu filhos como dádivas maravilhosas. Antes da fundação do mundo, ele te escolheu para ser seus pais. Embora a salvação venha de Deus, ele espera que você cuide dessas crianças para a Sua glória. Por isso, arrependa-se da sua preguiça nessa área. Se você não restringe o uso dos smartphones e não faz ideia do que os seus filhos estão fazendo neles, estou falando com você. Peça perdão ao Deus que te deu filhos e peça perdão às crianças cujo vício você ajudou.

2. Eduque-se

A internet está sempre mudando e é impossível ficar no topo da mais alta tecnologia. Ainda assim, esse não é um motivo para desistir. Você ainda pode aprender sobre a tecnologia que mais consume tempo dos seus filhos. Pegue deles o telefone que você comprou e comece a olhar os aplicativos que eles baixaram. Como pai, você também deve começar a baixar esses mesmos aplicativos e se familiarizar com eles. Se você não puder fazer isso, arranje um amigo que o faça.

3. Peça ajuda ao corpo da igreja

Nas infinitas graça e misericórdia de Deus, ele deu ao corpo de Cristo uma grande variedade de dons e pessoas. Louve a Deus por ele encher a igreja com “nerds”, aqueles que não somente amam aprender sobre as mais variadas tecnologias como também têm paciência para educar outros acerca delas. Encontre aquelas pessoas da sua igreja que têm um dom para informática e pergunte se eles poderiam se reunir para um almoço – talvez eles até desejem dar aulas sobre o assunto. De forma ainda mais simples, comece um grupo de emails com alguns gurus da tecnologia que te alertarão de vários perigos. Conclusão: use os dons da igreja de Deus para o ajudar nessa batalha.

4. Estabeleça limites

Quer você compre ou não os celulares de seus adolescentes ou quer você pague ou não as suas contas mensais, você ainda tem autoridade sobre eles e você precisa exercer essa autoridade para a glória de Deus. Pegue os celulares de seus adolescentes toda noite em um horário específico. Nenhuma mensagem de texto é suficientemente importante para fazer adolescentes ficarem acordados até tarde da noite. As fotos que eles estão tirando nesse horário não são do tipo que você gostaria de emoldurar. Restrinja os aplicativos que eles podem usar.

5. Diga-lhes o porquê

Praticamente todo pai consegue entrar em modo combate e empunhar a pesada mão da autoridade. Mas é preciso graça divina para ser um pai que senta e conversa com sua filha ou filho. Diga aos seus filhos por que você está colocando algumas restrições em seus telefones, converse com eles sobre a variedade de ídolos em seus corações e use esse tempo como uma oportunidade de comunicar o evangelho. Tantas vezes nós queremos falar de forma mais relevante aos nossos adolescentes – essa é sua chance. Ilustre a relevância do evangelho ao aplicá-lo  à tecnologia. Finalmente, comunique que qualquer restrição que você impõe a eles é motivada por amor e cuidado. Lembre-os de que você os está protegendo dos males desse mundo.

6. Ore

Enquanto há pais tolos que deixaram seus filhos soltos na Internet, outros pais têm sido responsáveis quanto o uso de smartphones por seus filhos e ainda temem a tecnologia. A esses pais, desejo lembrá-los do seu amável Pai celestial. Muitos de vocês são ótimos pais e mães que estão, pela graça de Deus, tentando cuidar das vidas das preciosas crianças que Deus os deu. Lembre-se de que você tem um Pai que amavelmente cuida de você e de suas crianças. Ele é o melhor Pai que já existiu e deseja ouvir qualquer preocupação que você tenha acerca dos seus filhos. Além disso, ele é o gênio criativo por trás de toda nova criação; portanto, torne a ele em oração e confiança.

Traduzido por Kimberly Anastacio | iPródigo.com | Original aqui

(Fonte)

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Cristianismo de entretenimento (John MacArthur)

A igreja pode enfrentar a apatia e o materialismo satisfazendo o apetite das pessoas por entretenimento? Evidentemente, muitas pessoas das igrejas pensam assim, enquanto uma igreja após outra salta para o vagão dos cultos de entretenimento.

Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.

 O que eles querem

Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.

Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.

O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.

Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.

A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.

 A idéia fundamental

O que fundamenta esta tendência é a idéia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.

Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.

Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.

Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.

Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.

 O verdadeiro padrão

Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.

Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo.

Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.

Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).

 Estilo de vida

A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.

Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.

Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.

Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?

É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.

 Tornando vulgar

Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.

Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.

Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).

Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.

(Fonte)

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Simulação, exagero e predomínio (T. Austin-Sparks)

Da revista A Witness and A Testimony de jan/fev de 1970, pp. 15-18

 

Intérpretes da Bíblia estão convencidos de que as palavras ostensivamente dirigidas ao “rei de Babilônia” em Isaías 14 têm um contexto mais amplo que só pode ser exaurido se visto como referência a um antigo ser angélico. Essa convicção é fortemente apoiada por outras declarações e alusões em diferentes partes da Bíblia, como Judas 6, 2Pedro 2.4 e Lucas 10.18.

Se isso é verdade, então, o que é dito torna claro os três passos que levaram à queda de Satanás. Eles também indicam a queda de muitas coisas que tiveram um bom começo. Há um ensinamento muito solene e valioso aqui, apesar do assunto não ser agradável.

1. Simulação

“Serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14.14)

Há muitas passagens nas Escrituras que mostram que um dos principais métodos de Satanás é a imitação de Deus e da verdade de Deus. Tanto é assim que ênfase e importância tremendas são colocadas no discernimento espiritual como dom e marca do ungido. De fato, isso é uma característica daquele que é espiritual, do homem espiritual. Podemos dizer que uma obra e função primária do Espírito Santo é o discernimento. É dito que o Espírito Santo tem, ou Ele é representado tendo, “sete olhos”, que significa a perfeição da visão espiritual. Podemos aqui introduzir outro parágrafo de muito peso de Tozer:

 

Poderia ser essa nossa mais crítica necessidade?

“Quando vemos o cenário religioso hoje, somos tentados a nos fixar em uma ou outra fraqueza e dizer: ‘É isso que está errado com a Igreja. Se isso for corrigido, poderemos recapturar a glória da Igreja primitiva e ter tempos pentecostais de volta conosco outra vez.’

“Essa tendência de supersimplificar é, em si mesma, uma fraqueza, e devemos nos guardar sempre dela… Por essa razão, estou hesitante em apontar para qualquer defeito na cristandade de hoje e fazer todos os nossos problemas saírem dele apenas. Que a assim chamada “religião da Bíblia” está sofrendo rápido declínio em nosso tempo é tão evidente que não é preciso prová-lo; mas exatamente o que está trazendo esse declínio não é fácil de descobrir. Somente posso dizer que tenho observado significativa falha entre cristãos evangélicos que podem se mostrar como a causa real da maioria de nossos problemas espirituais; e, sem dúvida, se isso for verdade, então, o atendimento daquela falha deve ser nossa mais crítica necessidade.

“A maior deficiência a que me refiro é a falta de discernimento espiritual, especialmente entre nossos líderes. Como pode haver tanto conhecimento bíblico e tão pouca percepção, assim como influência moral, é um dos enigmas do mundo religioso hoje. Eu penso que seja completamente acurado dizer que nunca houve um tempo na história da Igreja em que pessoas estivessem engajadas no estudo da Bíblia como estão hoje. Se o conhecimento da doutrina bíblica fosse alguma garantia de piedade, essa seria, sem dúvida, conhecida na história como a era da santidade. Em lugar disso, poderá bem ser conhecida como a era do cativeiro babilônico da Igreja ou a era do mundanismo, em que a Noiva de Cristo professa permitiu-se ser, de modo bem-sucedido, cortejada por incontáveis caídos filhos dos homens. O corpo dos crentes evangélicos, sob influências malignas, tem, durante os últimos 25 anos1, ido mais para o mundo em completa e abjeta sujeição, evitando apenas um pouco dos pecados mais grosseiros, como bebedice e promiscuidade sexual.

“Essa desgraçada traição que tomou lugar em plena luz do dia com o pleno consentimento de nossos mestres da Bíblia e evangelistas é um dos mais terríveis adultérios na história espiritual do mundo. No entanto, eu não posso crer que a grande sujeição tenha sido negociada por homens de coração mau que estabeleceram deliberadamente destruir a fé que herdamos de nossos pais. Muitas pessoas boas e de viver correto colaboraram com os colaboracionistas que nos traíram. Por quê? A resposta só pode ser: por falta de visão espiritual. Algo como uma névoa se estabeleceu sobre a Igreja como “a face da cobertura com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se cobrem” (Isaías 25.7). Tal véu uma vez desceu sobre Israel… Aquela foi a hora trágica de Israel. Deus levantou a Igreja e temporariamente deixou de lado Seu antigo povo. Ele não podia confiar Sua obra a homens cegos. Certamente precisamos de um batismo de visão clara se quisermos escapar do destino de Israel… certamente uma das maiores necessidades é do surgimento de líderes cristãos com visão profética2. Nós desesperadamente precisamos daqueles que sejam capazes de ver pela névoa. A menos que eles venham logo, será muito tarde para essa geração. E, se eles vierem, iremos, sem dúvida, crucificar alguns deles em nome de nossa ortodoxia mundana. Mas a cruz é sempre o prenúncio da ressurreição. Mero evangelismo não é nossa necessidade presente. Evangelismo não faz mais do que estender a religião, seja ela do tipo que for. Ele produz aceitação para a religião entre grande número de pessoas sem dar muita reflexão à qualidade daquela religião. A tragédia é que o evangelismo atual aceita a corrente forma de cristandade como a verdadeira religião dos apóstolos e se ocupa em fazer convertidos a ela sem questionar nada. E, a todo tempo, estamos nos afastando mais e mais do padrão do Novo Testamento. Precisamos ter uma nova reforma. É preciso vir um violento rompimento com a pseudo-religião irresponsável, de louca diversão paganizada que se passa hoje pela fé de Cristo e que está sendo espalhada por todo o mundo por homens não-espirituais usando métodos não-escriturísticos para alcançar seus objetivos.” (A. W. Tozer)

 

Há várias coisas no Novo Testamento que foram estabelecidas para uma testemunha de Cristo, para a edificação do Corpo de Cristo, para a glória de Cristo, as quais, pelas mesmas razões, têm sido tomadas por Satanás e simuladas, imitadas e sendo dadas como substituto para as verdadeiras, mas isso tem sido feito, no final, para desacreditar Cristo e fazer o oposto a Sua divina intenção. Parece ser muito real que muitos queridos do povo de Deus estão enganados, perplexos e sendo levados para o erro. Mistura de erro com verdade tem sido sempre um método muito bem-sucedido de sedução, desde o início. Deus é imitado na idolatria, na adoração falsa. Cristo é imitado no anticristo. O Espírito Santo é imitado na liderança e nos dons. O homem é enganado por simulação física daquilo que é espiritual. Pessoas, sob a pressão de colapso nervoso, neurose, esgotamento, acusações e condenações espirituais correm para o psiquiatra. O método é levá-las a se libertarem de suas tensões por meio da auto-expressão, divulgando coisas ocultas e, em casos extremos, pela hipnose. Isso tem um efeito psicológico e o paciente se sente “maravilhosamente livre”. Expressão; expressão! Auto-expressão! Um homem disse ao autor [deste texto] que viera do psiquiatra sentindo que ele havia “nascido de novo”, alguma coisa melhor ainda que sua conversão! Mas – sim, mas! – tudo o que ele sentia regrediu, e ficou pior do que antes.

Psicologia, a ciência da psiquê, pode ser3 a obra-prima de Satanás na simulação do espiritual e, então, mergulha a alma nas mais profundas profundezas do desespero.

Ao lado de que uma liberação do espírito em oração e louvor, e algumas vezes ela pode ser experimentada por esses meios, e a comunhão é um grande instrumento para essa bênção, há a falsificação do canto coral barulhento e almático4 e da repetição desequilibrada. A música é, frequentemente, a maior bênção e o maior perigo. “No Espírito” é a máxima divina.

2. Exagero

Subirei sobre as alturas das nuvens” (Isaías 14.14).

Este parágrafo todo – Isaías 14.9-15 – é um exagero, se o termo significa “acumular, ir além do normal, levar ao excesso”, etc.

Subirei sobre…” tem este significado: “Eu vou exceder”. É a ambição correndo em delírio. É o orgulho em abundância. É algo não restringido por modéstia, humildade e dependência. É a extravagância. É algo adicionado ao que é correto e verdadeiro. É ultrapassar o limite. É a inflar-se. Isso é o perigo da alma apaixonada. Se Satanás não pode deter uma pessoa, ele vai derrubá-la. Se ele encontra devoção honesta, ele vai fazer com que ela se exceda. Se ele encontrar uma mente ativa, vai fazer com que um extra seja adicionado à verdade, para que a verdade se torne não-verdadeira.

No “rei da Babilônia” nós temos o exagero da personalidade. “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei […]?” (Dn 4.30). O eu, o ego, é assertivo, pronunciado, sobrepujante. A liderança e a habilidade natural e o dom se tornam autocracia, ditadura, mesmo tirânica. Há muitas vezes uma linha fina entre autocracia e liderança espiritual, e é aqui que o discernimento é necessário. A primeira força, compele e se faz legal. A última vem de uma profunda história de sofrimento com Deus, estabelece um alto padrão e mantém-se nele. Isso pode ser difícil para a carne nos outros de aceitar, e eles podem interpretar isso erroneamente. Liderança é um dom divino e de grande importância. Ninguém irá muito longe sem isso. Por esse motivo, Satanás tem sempre marcado essa função e quem a possui com especial atenção para exagerá-la, e a derrota é seu verdadeiro objetivo. Dependência é o refúgio do líder espiritual, e o Senhor atenta muito plenamente para isso!

Há muitos movimentos exagerados em nosso tempo. O ensino é puxado até muito além de seu verdadeiro significado. Alguma coisa correta e boa e, então, a pitada de exagero. O propósito é ser muito espiritual, ter ensino avançado, mas a linha do real significado disso tem sido cruzada, e a confusão se segue por causa de uma ênfase desequilibrada. Isso tem sido muito freqüentemente a causa de seitas e grupos exóticos e excêntricos, e seu número é uma legião. A propensão ateniense era por “alguma novidade”, a qual normalmente significa alguma nova sensação. Quão poderosamente Satanás apoia tais exageros e faz o erro crescer sem proporções! Ele sabe muitíssimo bem que segue esse caminho para encher o mundo com pessoas desiludidas que em breve não creram em nada, principalmente na verdade. Foi exatamente isso que fez o apóstolo João apontar, de modo tão forte, quase veemente, a verdade com as expressões, repetidas de maneira constante: “Este é… Esta é… Isto é…”. Veja suas cartas e note a ênfase sobre a unção que ensina todas as coisas. O contexto é o anticristo e seus enganos.

3. Predomínio

Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono […]” (Isaías 14.13).

Exaltar”. “Acima”. O objetivo, o alvo, o clímax da aspiração de Satanás. Isso soa fantástico e remoto. Mas não é tão remoto e impensável como parece à primeira vista. Não é esse o motivo e o estímulo de todos os poderes políticos? Se tão-somente percebermos isto: o colocar abaixo esta pretensão foi a razão para a Encarnação, pois todo pecado tem florescido dessa raiz. O nascimento, a infância, a vida adulta, o ensino e a cruz de Jesus Cristo foram um positivo contrabalanço para o poder e a glória mundanos. Ele nunca procurou “causar uma boa impressão”, atrair pessoas para Si ou para Sua causa por meio de prestígio, artifícios, glamor ou por mostra de glória natural.

Mesmo de sua glória e posição corretamente celestial Ele se esvaziou. Seu reino e Seu reinado não eram deste mundo.

Tudo isso foi para refazer algo que havia sido distorcido. Esse algo está em todos nós. Nós adoramos o ídolo do sucesso. Nós temos uma concepção totalmente falsa de força, poder e importância. Jesus veio para corrigir isso em Sua própria pessoa. “Fazes com [a fim de] que ele tenha domínio” (Sl 8.6).Sim, mas não auto-centrado. “Trazendo muitos filhos à glória” (Hb 2.10). Sim, mas à glória de Sua infinita graça, favor sem qualquer mérito! Nós reinaremos com Ele, sim, mas como adoradores do Cordeiro (cf. Ap 20.6)!

O teste para qualquer coisa é se ela realmente exalta Cristo. Não só em palavras, que podem ser uma forma de simulação e de exagero. A garota do templo possuída por demônios em Filipos podia patrocinar e pregar o evangelho, mas aquilo era uma coisa profunda de Satanás, e o apóstolo não estava barateando o evangelho para o diabo a fim de ganhar popularidade. A santidade de Cristo é o critério!

Assim, nós – muito brevemente, claro – notamos o caminho da maldição de Satanás, o caminho de sua queda. O julgamento sobre sua simulação, seu exagero e seu predomínio é: “E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo” (Is 14.15).

Que contra o que é falso, o Senhor produza a verdadeira similitude de Cristo, o verdadeiro magnificar de Cristo, a verdadeira exaltação e supremacia de Cristo!

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(Traduzido por Francisco Nunes de Simulation – Exaggeration – Predomination, publicado por Emmanuel Church, Tulsa, Oklahoma, EUA, 1995.)

1Como Tozer faleceu em 1963, e considerando-se que ele tenha escrito isso no último ano de vida, a afirmação se refere ao estado dos cristãos por volta do final da década de 1930! Infelizmente, a situação apenas piorou nos últimos 80 anos, incluindo os pecados que Tozer dizia serem ainda evitados. (N.T.)

2Com certeza, Tozer não estava se referindo àquilo que hoje é chamado de “profético”: dança, pintura, atos, declarações e outros tantos absurdos “proféticos”. A visão profética é de acordo com a Escritura: a denúncia de tudo aquilo que não é de acordo com a completa verdade Escriturística, que rouba o lugar de Deus como Senhor absoluto, que rouba o lugar de Sua Palavra como verdade absoluta, que entroniza o homem em lugar de Cristo, que desvia os filhos de Deus para homens em lugar de levá-los à submissão a Cristo. As “coisas proféticas” modernas são muito mais ocultismo e mundanismo do que a mínima prática profética bíblica. Tozer e Austin-Sparks podem ser considerados como profetas neste sentido bíblico. (N.T.)

3É importante notar que o autor não afirma que ela é, mas que pode ser. A psicologia desvinculada da verdade bíblica ignora a realidade do pecado, a natureza pecaminosa do homem, de sua inclinação espontânea para o mal, sua incapacidade de curar sua incapacidade de fazer somente o bem, etc. Ela propõe, grosso modo, que o homem faz o que faz mais por influência externa e que, por isso, tem condições de se curar, “reprogramando-se”, tomando novas atitudes e disposições. Isso, sem dúvida, é uma falsificação da obra profunda e única do Espírito Santo. (N.T.)

4Neologismo para traduzir o termo soulical, indicando o que tem origem na alma, procede da alma, diz respeito apenas à alma. (N.T.)

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Um Engano Chamado “Teologia Inclusiva” ou “Teologia Gay” (Augustus Nicodemus Lopes)

O padrão de Deus para o exercício da sexualidade humana é o relacionamento entre um homem e uma mulher no ambiente do casamento. Nesta área, a Bíblia só deixa duas opções para os cristãos: casamento heterossexual e monogâmico ou uma vida celibatária. À luz das Escrituras, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são vistas não como opção ou alternativa, mas sim como abominação, pecado e erro, sendo tratada como prática contrária à natureza. Contudo, neste tempo em que vivemos, cresce na sociedade em geral, e em setores religiosos, uma valorização da homossexualidade como comportamento não apenas aceitável, mas supostamente compatível com a vida cristã. Diferentes abordagens teológicas têm sido propostas no sentido de se admitir que homossexuais masculinos e femininos possam ser aceitos como parte da Igreja e expressar livremente sua homoafetividade no ambiente cristão.
Existem muitas passagens na Bíblia que se referem ao relacionamento sexual padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus, que é o casamento monogâmico heterossexual. Desde o Gênesis, passando pela lei e pela trajetória do povo hebreu, até os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, a tradição bíblica aponta no sentido de que Deus criou homem e mulher com papéis sexuais definidos e complementares do ponto de vista moral, psicológico e físico. Assim, é evidente que não é possível justificar o relacionamento homossexual a partir das Escrituras, e muito menos dar à Bíblia qualquer significado que minimize ou neutralize sua caracterização como ato pecaminoso. Em nenhum momento, a Palavra de Deus justifica ou legitima um estilo homossexual de vida, como os defensores da chamada “teologia inclusiva” têm tentado fazer. Seus argumentos têm pouca ou nenhuma sustentação exegética, teológica ou hermenêutica.
A “teologia inclusiva” é uma abordagem segundo a qual, se Deus é amor, aprovaria todas as relações humanas, sejam quais forem, desde que haja este sentimento. Essa linha de pensamento tem propiciado o surgimento de igrejas onde homossexuais, nesta condição, são admitidos como membros e a eles é ensinado que o comportamento gay não é fator impeditivo à vida cristã e à salvação. Assim, desde que haja amor genuíno entre dois homens ou duas mulheres, isso validaria seu comportamento, à luz das Escrituras. A falácia desse pensamento é que a mesma Bíblia que nos ensina que Deus é amor igualmente diz que ele é santo e que sua vontade quanto à sexualidade humana é que ela seja expressa dentro do casamento heterossexual, sendo proibidas as relações homossexuais.
Em segundo lugar, a “teologia inclusiva” defende que as condenações encontradas no Antigo Testamento, especialmente no livro de Levítico, se referem somente às relações sexuais praticadas em conexão com os cultos idolátricos e pagãos, como era o caso dos praticados pelas nações ao redor de Israel. Além disso, tais proibições se encontram ao lado de outras regras contra comer sangue ou carne de porco, que já seriam ultrapassadas e, portanto, sem validade para os cristãos. Defendem ainda que a prova de que as proibições das práticas homossexuais eram culturais e cerimoniais é que elas eram punidas com a morte – coisa que não se admite a partir da época do Novo Testamento.
É fato que as relações homossexuais aconteciam inclusive – mas não exclusivamente – nos cultos pagãos dos cananeus. Contudo, fica evidente que a condenação da prática homossexual transcende os limites culturais e cerimoniais, pois é repetida claramente no Novo Testamento. Ela faz parte da lei moral de Deus, válida em todas as épocas e para todas as culturas. A morte de Cristo aboliu as leis cerimoniais, como a proibição de se comer determinados alimentos, mas não a lei moral, onde encontramos a vontade eterna do Criador para a sexualidade humana. Quando ao apedrejamento, basta dizer que outros pecados punidos com a morte no Antigo Testamento continuam sendo tratados como pecado no Novo, mesmo que a condenação capital para eles tenha sido abolida – como, por exemplo, o adultério e a desobediência contumaz aos pais.
PECADO E DESTRUIÇÃO
Os teólogos inclusivos gostam de dizer que Jesus Cristo nunca falou contra o homossexualismo. Em compensação, falou bastante contra a hipocrisia, o adultério, a incredulidade, a avareza e outros pecados tolerados pelos cristãos. Este é o terceiro ponto: sabe-se, todavia, que a razão pela qual Jesus não falou sobre homossexualidade é que ela não representava um problema na sociedade judaica de sua época, que já tinha como padrão o comportamento heterossexual. Não podemos dizer que não havia judeus que eram homossexuais na época de Jesus, mas é seguro afirmar que não assumiam publicamente esta conduta. Portanto, o homossexualismo não era uma realidade social na Palestina na época de Jesus. Todavia, quando a Igreja entrou em contato com o mundo gentílico – sobretudo as culturas grega e romana, onde as práticas homossexuais eram toleradas, embora não totalmente aceitas –, os autores bíblicos, como Paulo, incluíram as mesmas nas listas de pecados contra Deus. Para os cristãos, Paulo e demais autores bíblicos escreveram debaixo da inspiração do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo. Portanto, suas palavras são igualmente determinantes para a conduta da Igreja nos dias de hoje.
O quarto ponto equivocado da abordagem que tenta fazer do comportamento gay algo normal e aceitável no âmbito do Cristianismo é a suposição de que o pecado de Sodoma e Gomorra não foi o homossexualismo, mas a falta de hospitalidade para com os hóspedes de Ló. A base dos teólogos inclusivos para esta afirmação é que no original hebraico se diz que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (Gênesis 19.5) e não abusar sexualmente deles, como é traduzido em várias versões, como na Almeida atualizada. Outras versões como a Nova versão internacional e a Nova tradução na linguagem de hoje entendem que conhecer ali é conhecer sexualmente e dizem que os concidadãos de Ló queriam “ter relações” com os visitantes, enquanto a SBP é ainda mais clara: “Queremos dormir com eles”. Usando-se a regra de interpretação simples de analisar palavras em seus contextos, percebe-se que o termo hebraico usado para dizer que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (yadah) é o mesmo termo que Ló usa para dizer que suas filhas, que ele oferecia como alternativa à tara daqueles homens, eram virgens: “Elas nunca conheceram (yadah) homem”, diz o versículo 8. Assim, fica evidente que “conhecer”, no contexto da passagem de Gênesis, significa ter relações sexuais. Foi esta a interpretação de Filo, autor judeu do século 1º, em sua obra sobre a vida de Abraão: segundo ele, “os homens de Sodoma se acostumaram gradativamente a ser tratados como mulheres.”
Ainda sobre o pecado cometido naquelas cidades bíblicas, que acabaria acarretando sua destruição, a “teologia inclusiva” defende que o profeta Ezequiel claramente diz que o erro daquela gente foi a soberba e a falta de amparo ao pobre e ao necessitado (Ez 16.49). Contudo, muito antes de Ezequiel, o “sodomita” era colocado ao lado da prostituta na lei de Moisés: o rendimento de ambos, fruto de sua imoralidade sexual, não deveria ser recebido como oferta a Deus, conforme Deuteronômio 23.18. Além do mais, quando lemos a declaração do profeta em contexto, percebemos que a soberba e a falta de caridade era apenas um entre os muitos pecados dos sodomitas. Ezequiel menciona as “abominações” dos sodomitas, as quais foram a causa final da sua destruição: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49-50). Da mesma forma, Pedro, em sua segunda epístolas, refere-se às práticas pecaminosas dos moradores de Sodoma e Gomorra tratando-as como “procedimento libertino”.
Um quinto argumento é que haveria alguns casos de amor homossexual na Bíblia, a começar pelo rei Davi, para quem o amor de seu amigo Jônatas era excepcional, “ultrapassando o das mulheres” (II Samuel 1.26). Contudo, qualquer leitor da Bíblia sabe que o maior problema pessoal de Davi era a falta de domínio próprio quanto à sua atração por mulheres. Foi isso que o levou a casar com várias delas e, finalmente, a adulterar com Bate-Seba, a mulher de Urias. Seu amor por Jônatas era aquela amizade intensa que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo e sem qualquer conotação erótica. Alguns defensores da “teologia inclusiva” chegam a categorizar o relacionamento entre Jesus e João como homoafetivo, pois este, sendo o discípulo amado do Filho de Deus, numa ocasião reclinou a sua cabeça no peito do Mestre (João 13.25). Acontece que tal atitude, na cultura oriental, era uma demonstração de amizade varonil – contudo, acaba sendo interpretada como suposta evidência de um relacionamento homoafetivo. Quem pensa assim não consegue enxergar amizade pura e simples entre pessoas do mesmo sexo sem lhe atribuir uma conotação sexual.
“TORPEZA”
Há uma sexta tentativa de reinterpretar passagens bíblicas com objetivo de legitimar a homossexualidade. Os propagadores da “teologia gay” dizem que, no texto de Romanos 1.24-27, o apóstolo Paulo estaria apenas repetindo a proibição de Levítico à prática homossexual na forma da prostituição cultual, tanto de homens como de mulheres – proibição esta que não se aplicaria fora do contexto do culto idolátrico e pagão. Todavia, basta que se leia a passagem para ficar claro o que Paulo estava condenando. O apóstolo quis dizer exatamente o que o texto diz: que homens e mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza, e que se inflamaram mutuamente em sua sensualidade – homens com homens e mulheres com mulheres –, “cometendo torpeza” e “recebendo a merecida punição por seus erros”. E ao se referir ao lesbianismo como pecado, Paulo deixa claro que não está tratando apenas da pederastia, como alguns alegam, visto que a mesma só pode acontecer entre homens, mas a todas as relações homossexuais, quer entre homens ou mulheres.
É alegado também que, em I Coríntios 6.9, os citados efeminados e sodomitas não seriam homossexuais, mas pessoas de caráter moral fraco (malakoi, pessoa “macia” ou “suave”) e que praticam a imoralidade em geral (arsenokoites, palavra que teria sido inventada por Paulo). Todavia, se este é o sentido, o que significa as referências a impuros e adúlteros, que aparecem na mesma lista? Por que o apóstolo repetiria estes conceitos? Na verdade, efeminado se refere ao que toma a posição passiva no ato homossexual – este é o sentido que a palavra tem na literatura grega da época, em autores como Homero, Filo e Josefo – e sodomita é a referência ao homem que deseja ter coito com outro homem.
Há ainda uma sétima justificativa apresentada por aqueles que acham que a homossexualidade é compatível com a fé cristã. Segundo eles, muitas igrejas cristãs históricas, hoje, já aceitam a prática homossexual como normal – tanto que homossexuais praticantes, homens e mulheres, têm sido aceitos não somente como membros mas também como pastores e pastoras. Essas igrejas, igualmente, defendem e aceitam a união civil e o casamento entre pessoa do mesmo sexo. É o caso, por exemplo, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos – que nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil –, da Igreja Episcopal no Canadá e de igrejas em nações européias como Suécia, Noruega e Dinamarca, entre outras confissões. Na maioria dos casos, a aceitação da homossexualidade provocou divisões nestas igrejas, e é preciso observar, também, que só aconteceu depois de um longo processo de rejeição da inspiração, infalibilidade e autoridade da Bíblia. Via de regra, essas denominações adotaram o método histórico-crítico – que, por definição, admite que as Sagradas Escrituras são condicionadas culturalmente e que refletem os erros e os preconceitos da época de seus autores. Desta forma, a aceitação da prática homossexual foi apenas um passo lógico. Outros ainda virão. Todavia, cristãos que recebem a Bíblia como a infalível e inerrante Palavra de Deus não podem aceitar a prática homossexual, a não ser como uma daquelas relações sexuais consideradas como pecaminosas pelo Senhor, como o adultério, a prostituição e a fornicação.
Contudo, é um erro pensar que a Bíblia encara a prática homossexual como sendo o pecado mais grave de todos. Na verdade, existe um pecado para o qual não há perdão, mas com certeza não se trata da prática homossexual: é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir a Satanás o poder pelo qual Jesus Cristo realizou os seus milagres e prodígios aqui neste mundo, mencionado em Marcos 3.22-30. Consequentemente, não está correto usar a Bíblia como base para tratar homossexuais como sendo os piores pecadores dentre todos, que estariam além da possibilidade de salvação e que, portanto, seriam merecedores de ódio e desprezo. É lamentável e triste que isso tenha acontecido no passado e esteja se repetindo no presente. A mensagem da Bíblia é esta: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”, conforme Romanos 3.23. Todos nós precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos submetermos a Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, para recebermos o perdão e a vida eterna.
Lembremos ainda que os autores bíblicos sempre tratam da prática homossexual juntamente com outros pecados. O 20º capítulo de Levítico proíbe não somente as relações entre pessoas do mesmo sexo, como também o adultério, o incesto e a bestialidade. Os sodomitas e efeminados aparecem ao lado dos adúlteros, impuros, ladrões, avarentos e maldizentes, quando o apóstolo Paulo lista aqueles que não herdarão o Reino de Deus (I Coríntios 6.9-10). Porém, da mesma forma que havia nas igrejas cristãs adúlteros e prostitutas que haviam se arrependido e mudado de vida, mediante a fé em Jesus Cristo, havia também efeminados e sodomitas na lista daqueles que foram perdoados e transformados.
COMPAIXÃO
É fundamental, aqui, fazer uma importante distinção. O que a Bíblia condena é a prática homossexual, e não a tentação a esta prática. Não é pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista. As pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo devem lembrar que tal desejo é resultado da desordem moral que entrou na humanidade com a queda de Adão e que, em Cristo Jesus, o segundo Adão, podem receber graça e poder para resistir e vencer, sendo justificados diante de Deus.
Existem várias causas identificadas comumente para a atração por pessoas do mesmo sexo, como o abuso sexual sofrido na infância. Muitos gays provêm de famílias disfuncionais ou tiveram experiências negativas com pessoas do sexo oposto.  Há aqueles, também, que agem deliberadamente por promiscuidade e têm desejo de chocar os outros. Um outro fator a se levar em conta são as tendências genéticas à homossexualidade, cuja existência não está comprovada até agora e tem sido objeto de intensa polêmica. Todavia, do ponto de vista bíblico, o homossexualismo é o resultado do abandono da glória de Deus, da idolatria e da incredulidade por parte da raça humana, conforme Romanos 1.18-32. Portanto, não é possível para quem crê na Bíblia justificar as práticas homossexuais sob a alegação de compulsão incontrolável e inevitável, muito embora os que sofrem com esse tipo de impulso devam ser objeto de compaixão e ajuda da Igreja cristã.
É preciso também repudiar toda manifestação de ódio contra homossexuais, da mesma forma com que o fazemos em relação a qualquer pessoa. Isso jamais nos deveria impedir, todavia, de declarar com sinceridade e respeito nossa convicção bíblica de que a prática homossexual é pecaminosa e que não podemos concordar com ela, nem com leis que a legitimam. Diante da existência de dispositivos legais que permitem que uma pessoa deixe ou transfira seus bens a quem ele queira, ainda em vida, não há necessidade de leis legitimando a união civil de pessoas de mesmo sexo – basta a simples manifestação de vontade, registrada em cartório civil, na forma de testamento ou acordo entre as partes envolvidas. O reconhecimento dos direitos da união homoafetiva valida a prática homossexual e abre a porta para o reconhecimento de um novo conceito de família. No Brasil, o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo para fins de herança e outros benefícios aconteceu ao arrepio do que diz a Constituição: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Art. 226, § 3º).

Cristãos que recebem a Bíblia como a palavra de Deus não podem ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que seria a validação daquilo que as Escrituras, claramente, tratam como pecado. O casamento está no âmbito da autoridade do Estado e os cristãos são orientados pela Palavra de Deus a se submeter às autoridades constituídas; contudo, a mesma Bíblia nos ensina que nossa consciência está submissa, em última instância, à lei de Deus e não às leis humanas – “Importa antes obedecer a Deus que os homens” (Atos 5.29). Se o Estado legitimar aquilo que Deus considera ilegítimo, e vier a obrigar os cristãos a irem contra a sua consciência, eles devem estar prontos a viver, de maneira respeitosa e pacífica em oposição sincera e honesta, qualquer que seja o preço a ser pago.

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Sete marcas de um falso mestre (Tim Challies)

Nada enriquece mais o inferno do que falsos mestres.  Ninguém tem maior alegria em atrair as pessoas para longe da verdade, levando-as ao erro. Falsos mestres tem estado presentes em todas as eras da história humana; eles tem sempre sido uma praga e sempre estiveram no ramo da falsificação da verdade. Enquanto suas circunstâncias podem mudar, seus métodos permanecem constantes. Aqui estão sete marcas dos falsos mestres.

1. Falsos mestres são bajuladores dos homens. O que eles ensinam é para agradar mais aos ouvidos do que beneficiar o coração. Eles fazem cócegas nos ouvidos de seus seguidores com lisonjas e, enquanto isso, tratam coisas santas com esperteza e negligência ao invés de reverência e temor. Isso contrasta bruscamente com um verdadeiro mestre da Palavra que sabe que é responsável perante Deus e que, por isso, anseia mais agradar a Deus do que aos homens. Como Paulo diria, “pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração” (1 Tessalonicenses 2.4).

2. Falsos mestres guardam suas críticas mais severas aos servos mais fiéis de Deus. Falsos mestres criticam aqueles que ensinam a verdade e guardam suas críticas mais acentuadas para aqueles que se apóiam com firmeza no que é verdadeiro. Nós vemos isso em muitos lugares na Bíblia, como quando Corá e seus amigos se levantaram contra Moisés e Arão (Números 16.3) e quando o ministério de Paulo estava ameaçado e minado pelos críticos que diziam que, enquanto suas palavras eram fortes, ele mesmo era fraco e sem importância (2 Coríntios 10.10). Vemos isso mais notavelmente nos ataques viciosos das autoridades religiosas contra Jesus. Falsos mestres continuam a repreender e menosprezar servos fiéis de Deus hoje. Entretanto, como Agostinho declarou, “Aquele que prontamente calunia meu bom nome, prontamente aumenta a meu galardão”

3. Falsos mestres ensinam sua própria sabedoria e visão. Isso certamente era verdade nos dias de Jeremias quando Deus disse “Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu íntimo são o que eles vos profetizam” (Jeremias 14.14). E, hoje também, falsos mestres ensinam a loucura dos meros homens ao invés de ensinarem a mais profunda e rica sabedoria de Deus. Paulo sabia: “pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Timóteo 4.3).

4. Falsos mestres deixam passar o que é de suma importância e, ao contrário, se focam nos pequenos detalhes. Jesus diagnosticou essa tendência nos falsos mestres de seu tempo, advertindo-os, “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23.23). Falsos mestres colocam uma grande ênfase na sua aderência aos pequenos comandos mesmo quando ignoram os grandes. Paulo advertiu Timóteo daquele que “é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas,  altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6.4-5).

5. Falsos mestres obscurecem sua falsa doutrina por trás de um discurso eloquente e do que parece ser uma lógica impressionante. Assim como uma prostituta se pinta e se perfuma para parecer mais atraente e sedutora, o falso mestre esconde sua blasfêmia e doutrina perigosa atrás de argumentos poderosos e de um uso eloquente da linguagem. Ele oferece aos seus ouvintes o equivalente espiritual a uma pílula venenosa revestida de ouro; embora possa parecer bonita e valiosa, permanece sendo mortal.

6. Falsos mestres estão mais preocupados em ganhar os outros para a sua opinião do que em ajudá-los e melhorá-los. Esse é outro diagnóstico de Jesus quando ele refletiu sobre as normas religiosas dos seus dias. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus 23.15). Falsos mestres não estão em última instância no ramo de melhorar vidas e salvar almas, mas no ramo de convencer mentes e ganhar seguidores.

7. Falsos mestres exploram seus seguidores. Pedro avisa acerca desse perigo, dizendo: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (1 Pedro 2.1-3). O falso mestre explora aqueles que o seguem porque eles são gananciosos e desejam as riquezas desse mundo. Sendo essa uma verdade, eles sempre ensinarão princípios que satisfazem a carne. Falsos mestres estão preocupados com os bens deles, não com o seu bem; querem servir a si mesmos mais do que aos perdidos; estão satisfeitos em Satanás ter a sua alma contanto que eles possam ter as suas coisas.

Traduzido por Kimberly Anastacio | iPródigo.com | Original aqui

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A importância teológica da historicidade de Adão (Bruce Ware)

A Importância Teológica

da Historicidade de Adão

Bruce A. Ware

Bruce Ware obteve seu mestrado em teologia (Th.M) pelo Western Conservative Baptist Seminary e (M.A.) pela University of Washington;  obteve seu doutorado (Ph.D.) pelo Fuller Theological Seminary. Ele é professor de Teologia Cristã no Southern Baptist Theological Seminary. Serviu como professor na Trinity Evangelical Divinity School, onde foi presidente do departamento de Teologia Bíblica e Sistemática. Anteriormente, lecionou no Western Conservative Baptist Seminary e no Bethel Theological Seminary. Dr. Ware tem escrito inúmeros artigos e livros.
A historicidade literal de Adão como o primeiro ser humano, criado por Deus, do pó da terra, é teologicamente importante? Ou seja, alguém poderia negar a historicidade de Adão como o primeiro ser humano criado e, ainda assim, sustentar todos os ensinos essenciais da teologia evangélica?As respostas para estas perguntas centralizam-se em (1) se a Bíblia apresenta Adão como o primeiro ser humano histórico e literal, (2) se há uma conexão bíblica entre o Adão histórico, em sua criação e queda, e certas doutrinas associadas normalmente com o Adão histórico, e, (3) se isso é verdade, quais seriam estas doutrinas e qual seria a natureza da conexão. Quero sugerir duas linhas de resposta que tencionam abordar estas três perguntas.

Primeiramente, a historicidade de Adão como o primeiro ser humano literal é ensinada e admitida em toda a Bíblia. A linguagem e as descrições de Adão em Gênesis 5.3-5 – número de anos que ele viveu depois do nascimento de Sete, o fato de que ele teve outros filhos e o número total de anos que ele viveu – são idênticos à linguagem e as descrições usadas a respeito de outros personagens históricos em Gênesis e em outras partes da Bíblia (cf. o resto de Gn 5; Gn 11.10-26; Gn 25.7-11; 1 Cr 1-9). O cronista inicia a sua extensa genealogia de Israel com “Adão”, que dá início a toda a raça humana. Jó contrasta a sua fraqueza diante de Deus com Adão, que encobriu a suas transgressões (Jo 31.33). Oseias compara a desobediência de Israel com Adão, que transgrediu a aliança com Deus (Os 6.7). Lucas alicerça a genealogia de Jesus no primeiro homem, Adão, o filho de Deus (Lc 3.38). Jesus entendeu Adão e Eva como pessoas humanas literais, criadas por Deus e, depois, unidas no primeiro casamento de um homem com uma mulher (Mt 19.4-6; Mc 19.6-9). As referências de Paulo a Adão como o primeiro ser humano em Romanos 5.12-18, 1 Coríntios 11.7-9. 1 Coríntios 15.21-22 e 2 Timóteo 2.13-14 são, inconfundivelmente, a respeito desta pessoa histórica que foi criada à imagem de Deus (1 Co 11.7), antes da mulher, que procedeu dele (1 Co 11.8; 1 Tm 2.13), e que pecou, trazendo o pecado e a morte para todos os seus descendentes (Rm 5.12-18; 1 Co 15.21-22). Por último, Judas 14 se refere à pessoa histórica de Enoque, o sétimo depois de Adão, que também seria entendido como histórico. Uma leitura atenta destes textos apoia a conclusão de que a própria Bíblia trata, repetidas vezes e sem exceção, Adão como uma pessoa histórica literal, o primeiro humano criado por Deus.

Em segundo lugar, a historicidade de Adão é teologicamente importante? Sim, ela é importante pela simples razão de que a teologia conectada com Adão é teologia arraigada na história e impossível de ser explicada sem essa história. Ou seja, há claramente uma conexão bíblica entre o Adão histórico e a teologia associada com ele, e a conexão é tal que a teologia depende dessa história e não existiria sem ela. Ou, dizendo-o em outras palavras, essa história gera a teologia. Como você não pode ter um filho sem uma mãe, também não pode ter esta teologia sem a história que a traz à existência.

Considere, por exemplo, algumas áreas cruciais da teologia associadas com a historicidade verdadeira e literal de Adão. Primeira, a criação do homem à imagem de Deus envolve a criação literal do primeiro ser humano à imagem de Deus, o ser humano que se torna, por assim dizer, a fonte de todos os outros seres humanos que são, igualmente, à imagem de Deus. Gênesis 5.3 faz a notável observação de que Adão, aos 130 anos de idade, “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete” (Gn 5.3). A linguagem neste versículo é, inconfundivelmente, a mesma de Gênesis 1.26. Embora a ordem das palavras “imagem” e “semelhança” esteja invertida, parece que tudo que se diz antes a respeito de o homem ser criado à imagem e semelhança de Deus é dito aqui, quando Sete é gerado à imagem e à semelhança de Adão (Gn 5.3). O paralelismo desta linguagem nos leva a concluir que Sete nasceu à imagem de Deus (o que ele realmente era, cf. Gn 9.6) somente porque nasceu à imagem e à semelhança de Adão. Sem a conexão histórica e literal, de fato, biológica, entre Adão e Sete, o status de imagem de Deus em relação a Sete não existiria. E, se isso era verdade quanto a Sete, é verdade também quanto a nós. Não somente a nossa identidade biológica remonta ao Adão histórico, mas também o nosso estado como seres criados à imagem de Deus remonta ao primeiro homem, o primeiro ser humano histórico, Adão.

Segunda, a queda do homem no pecado é um ensino teológico central fundamentado precisamente no que aconteceu na história. Paulo resumiu o argumento nestes termos: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15.21-22). Considere quatro observações: (1) Adão trouxe a morte ao mundo (15.21a). (2) Todos os humanos que procedem de Adão estão sujeitos à morte (15.22a). (3) A reversão do pecado e da morte de Adão acontece na realidade histórica do triunfo de Cristo por meio de sua ressurreição dos mortos (15.21a). (4) Todos os humanos unidos a Cristo serão vivificados (15.22b). A realidade histórica da ressurreição de Cristo, pela qual os que estão em Cristo são ressuscitados para viverem para sempre, é correspondente, nesta passagem, à realidade histórica do pecado de Adão, que trouxe pecado e morte para todos em Adão. A linha histórica não pode ser cortada sem eliminar a teologia correspondente. O pecado original em Adão e a vida eterna em Cristo estão ligados intrínseca e necessariamente à história.

Terceira, nossa teologia de gênero e sexualidade está intrinsecamente ligada à criação do primeiro casal humano e à natureza da união conjugal designada por Deus para eles. Quando Jesus se referiu a Gênesis 2, e quando Paulo aludiu a aspectos de Gênesis 2 e 3, ambos entenderam Adão e Eva como pessoas históricas reais que exemplificavam a união vitalícia, em uma só carne, de macho e fêmea que Deus planejou e trouxe à existência. Por sua queda histórica, Adão e Eva apartaram-se do desígnio de Deus e produziram distorções pecaminosas tanto das relações de gênero como da sexualidade humana. Nossa teologia de gênero e sexualidade não é dissociada da história. Pelo contrário, o desígnio criado por Deus foi exemplificado, inicialmente, no primeiro homem e na primeira mulher originais. E tanto Jesus como Paulo se referiram a este desígnio trazido à existência por Deus e vivenciado realmente no Éden. De modo semelhante, as perversões do bom desígnio de Deus estão arraigadas na rebelião histórica contra Deus e contra seus caminhos que aconteceu na história, registrada para nós em Gênesis 3. Tanto neste como em outros assuntos, a teologia e a história estão entretecidas de tal modo que a historicidade de Adão é essencial à esta teologia. Esta teologia depende dessa história e não existiria sem ela.

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O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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Conexões recomendadas (2)

Esta semana, entre muitos bons artigos e sítios da internet que encontrei, destaco estes dois.

O primeiro, com o excelente nome de “Uma palavrinha sobre o palavrão”, trata do uso de palavras chulas e obscenas por parte de cristãos. O assunto é sério, pois os defensores de tal linguagem ignoram as claras orientações bíblicas sobre o assunto e justificam-se convicta e iradamente. Ao final do artigo, há a indicação de vários outros, que também devem ser lidos.

O segundo é para quem gosta de livros, e estes de graça. Baixe todos! 😀

Que o Senhor o abençoe com paz!

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O verdadeiro amor (John MacArthur)

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.
“Tudo o que você precisa é de amor”, assim cantavam os Beatles. Se eles tivessem cantado sobre o amor de Deus, a frase revelaria uma certa verdade. Mas aquilo que a cultura popular diz ser amor, não se trata, na verdade, de um amor autêntico, é antes uma verdadeira fraude. Longe de ser “tudo o que precisa”, é algo que deve evitar a todo o custo.

O apóstolo Paulo fala-nos sobre esse tema em Efésios 5:1-3. Ele escreveu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos”.

A simples ordem do verso 2 (“E andai em amor, como também Cristo vos amou”) resume toda a obrigação moral do cristão. No fundo, o amor de Deus é o único princípio que define completamente o dever do cristão, e este tipo de amor é exatamente “tudo o que você precisa”. Romanos 13:8 diz, “porque quem ama aos outros cumpriu a lei”. Os mandamentos resumem-se a estas palavras: “Amarás o próximo como a ti mesmo, já que o amor é o cumprimento da lei.” Gálatas 5:14 ecoa a mesma verdade: “Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Da mesma maneira Jesus ensinou que toda a lei e profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor – o primeiro e o segundo mandamentos (Mt. 22:38-40). Em outras palavras: “e, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3:14).

Quando o apóstolo Paulo nos diz para caminhar no amor, o contexto revela-se em aspectos positivos, pois ele fala-nos sobre sermos bons uns para os outros, misericordiosos e que nos perdoemos uns aos outros (Ef. 4:32). O modelo de tal amor, mais centrado nos outros que em si próprio, é Cristo, que se entregou para nos salvar dos nossos pecados. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (João 15:13). E “amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.” (1 João 4:11).

Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega de nós mesmos, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benignas (ver 1 Co. 13:4-8) são as que as Sagradas Escrituras associam ao amor divino.

Mas reparemos no lado negativo, também visto no contexto de Efésios 5. Aquele que ama os outros verdadeiramente, como Cristo nos ama, deve recusar todo o tipo de amor falso. O apóstolo Paulo nomeia algumas destas falsidades satânicas. Elas incluem a imoralidade, a impureza e a ganância. A passagem continua: “Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros.” (Ef 5:4–7).

A imoralidade é, talvez, o substituto favorito do amor na nossa atual geração. O apóstolo Paulo usa o termo grego porneia, o qual significa todo o tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente desvanecer a linha que separa o amor verdadeiro da paixão imoral. Mas tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, porque procura a autogratificação em vez do bem aos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. O apóstolo Paulo emprega aqui o termo akatharsia, o qual se refere a todo o tipo de imoralidade sexual e impureza. Especificamente, ele refere-se à sujidade, à impureza e à ganância, que são as características particulares do companheirismo com mal. Este tipo de companheirismo não tem nada a ver com o amor verdadeiro, e o apóstolo afirma claramente que não tem lugar para ele no caminho do cristão.

A ganância é outra corrupção do amor que tem origem no desejo narcisista de autogratificação. É exatamente o oposto do exemplo que Cristo deu quando “se entregou por nós” (v. 2). No verso 5, o apóstolo Paulo compara a ganância à idolatria. Também isto não tem lugar no caminho do cristão e, de acordo com o verso 5, a pessoa culpada de tal pecado “não tem herança no Reino de Cristo e de Deus.”

E tais pecados, diz o apóstolo Paulo, “nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (v. 3). “Portanto, não sejais seus companheiros”, ou seja, daqueles que praticam tais coisas, diz-nos o verso 7.

Em outras palavras, não demonstraremos amor verdadeiro a não ser que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor.

Hoje em dia, a maioria das conversas sobre o amor ignora este princípio. “O amor” foi redefinido como uma ampla tolerância que ignora o pecado e que abraça o bem e o mal de igual forma. Mas isso não é amor, é apatia.

O amor de Deus não tem nada a ver com isso. Lembra-te que a mais suprema manifestação do amor de Deus é a Cruz, sinal que Cristo “vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” (V. 2). A Sagrada Escritura explica o amor de Deus em termos de sacrifício, de arrependimento pelos pecados cometidos e de reconciliação: “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1 João 4:10). Em outras palavras, Cristo converteu-se em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar os nossos pecados com uma tolerância benigna, Deus deu o seu Filho como uma oferta pelo pecado para satisfazer a sua própria ira e justiça na salvação dos pecadores. Este é o coração do Evangelho. Deus manifesta o seu amor de uma forma que confirma a sua santidade, justiça e misericórdia sem compromisso. O amor verdadeiro “não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.” (1 Co. 13:6). Este é o tipo de amor, no qual fomos chamados para caminhar. É um amor que primeiro é puro e depois, harmonioso.

Fonte: The Gospel Coalition

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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Manjares perigosos (Arthur Pink)

“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti” (Pv 23:1).

Supõe-se que este verso tem pouca ou nenhuma aplicação para muitos de nossos leitores, visto como não há quase ninguém que possa vir, algum dia, a ser convidado para jantar com o presidente dos Estados Unidos ou com o rei da Grã-Bretanha. Infelizmente esse é o tipo de pensamento que pode encontrar lugar na mente de qualquer cristão. Infelizmente essa é a tendência de carnalizar a Palavra de Deus que é agora tão generalizada. Infelizmente esse é o [verso] que nossos intérpretes espirituais dos Oráculos Divinos têm quase banido da terra. Mas ainda que não haja um professor ungido para abrir as Escrituras, não deveria ser auto-evidente que o Espírito Santo nunca teria colocado um verso como este na Palavra se não possuísse aplicação para todos os do povo de Deus? E não deve esta mesma consideração nos levar a buscar em oração seu significado oculto?

“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. Há outros “governantes” mencionados nas Escrituras, além dos civis. Não lemos sobre o “principais da congregação” (Êx 16:22), o “chefe da sinagoga” (Lc 8:41), bem como dos “dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6:12)? Perceba que nem todos os “chefes” da cristandade hoje foram escolhidos por Deus. De fato, longe disso. Pessoalmente o escritor duvida muito que dois a cada mil dentre os pregadores, ministros, e missionários, por todo mundo, foram chamados por Deus! Muitos deles se auto-indicaram, alguns foram enviados por homens, a maioria cresceu sobre a tutela de Satanás. O leitor atento dos Velho e Novo Testamentos perceberá que o número dos falsos profetas, em todas as eras, superavam em muito o número dos verdadeiros. É por essa razão que Deus nos ordena a “não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I Jo 4:1). Por isso a admoestação dada em Provérbios 23:1 tem sempre sido atual para o povo de Deus prestar muita atenção, e talvez nunca tenha sido tão necessário dar um alerta sobre isso do que neste tempo apóstata e degenerado em que todos nós fomos lançados.

A pregação que ouvimos, e que em certa medida é absorvida, tem precisamente o mesmo efeito sobre nossas almas, assim como a comida que comemos tem efeito sobre nossos corpos: se for saudável, é nutritivo; se danosa, nos fará mal. “Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. É uns fatos trágicos que muitos dos próprios filhos de Deus são tão pouco espirituais, e tão ignorantes espiritualmente, que eles mal sabem como “atentar bem” o que está “diante deles”. Eles não sabem quais testes usar, nem como examinar o que ouvem. Se o pregador for “ortodoxo” e aprovado por aqueles que ele mesmo considera “sadios na fé”, eles pensam que sua mensagem deve estar correta. Se o pregador apenas crê nos “fundamentos” da fé, eles creem que deve ser um verdadeiro servo de Deus. Se o pregador se achega à letra das Escrituras, eles imaginam que suas almas estão sendo alimentadas com o verdadeiro leite da Palavra. Que tristeza a credulidade de tais almas desavisadas.

O leitor está prestes a perguntar, “Mas que outros testes devemos aplicar?” Vamos ajudá-lo a responder sua própria pergunta ao perguntar outra. Que critérios você aplica à comida material que você come? Você se satisfaz se ela foi preparada e cozida conforme os melhores livros de culinária? Claro que não. O principal é, o que sua comida produz? Ela satisfaz ou incomoda seu sistema digestivo? Ela promove ou ataca sua saúde? Nós concordamos, não? Muito bem, agora aplique a mesma regra ou teste à comida espiritual – ou, deveríamos dizer, mais acuradamente, a comida “religiosa” – que você está saboreando; que efeito ela está tendo sobre seu caráter e conduta, o que está produzindo no seu coação e na sua vida? Mas não devemos parar aí com uma mera generalização. Se as almas precisam de ajuda hoje, o servo de Deus deve ser preciso, e entrar em detalhes. Pondere cuidadosamente estas questões, querido leitor.

A pregação que você ouve entra no seu coração pelo poder do Espírito? Se não, qual o uso de ouvi-la? A pregação que você ouve lhe faz em pedaços, sonda sua consciência, lhe condena, e lhe faz clamar, “Desventurado homem que sou”? Ou ela traz mais informação para seu conhecimento, ministra ao seu prazer, e lhe faz sentir-se satisfeito consigo mesmo? Não trate estas questões levemente, nós lhe imploramos, ou você estará se mostrando como seu próprio pior inimigo. Defronte-se com elas de forma equilibrada e justa, como se na presença de Deus. “atente bem” o que está diante de você saindo do púlpito, pois só pode fazer duas coisas: ajudar ou atrapalhar você. Ou promove humildade, ou alimenta o orgulho. Ou lhe estimula a desenvolver com esforço a sua salvação “com temor e tremor”, ou apóia a segurança carnal e confiança em si mesmo. Ou lhe faz clamar a Deus dia e noite para que Ele produza em seu coração um ódio cada vez maior ao mal, ou (provavelmente de forma inconsciente) te leva a pensar do pecado como algo não tão sério – dando desculpas de “pequenos” erros, e lhe consolando com o pensamento de que nenhum de nós consegue ser perfeito nesta vida; mesmo que Deus diga, “tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (I Pe 1:15).

“Mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão” (Pv 23:2). Essas são palavras fortes, não é mesmo? Sim, e o assunto as exige. Muito poucos percebem as temíveis conseqüências que advém de violar esse mandamento de Cristo, “atentai no que ouvis” (Mc 4:24). Falsa doutrina tem o mesmo efeito sobre a alma que veneno tem sobre o corpo. Mas Satanás apela ao orgulho de tantos, e tem sucesso em fazê-los acreditar que estão imunes, que eles estão “tão bem estabelecidos na verdade” que ouvir o erro não lhes fará mal. Entretanto o Espírito Santo diz, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (I Co 15:33): elas não podem, mas IRÃO! Sim, anda que você esteja bastante desavisado disso. “Mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão”. Isso é claramente uma palavra de aviso para aqueles que são consumidos de curiosidade para ouvir cada novo “evangelista” ou “professor da Bíblia” que vem à cidade; àqueles que tem um apetite insaciável para experimentar cada “festa” religiosa que é divulgada em sua comunidade. É isso que significa “homem glutão”: o que anseia ouvir o último sensacionalista do púlpito ou do palco.

Para todos estes Deus diz, Segure-se, e não poupe medidas para checar essa tendência perigosa. É perigoso para você mesmo violar essa admoestação divina. Se você desobedecer, Satanás irá ou matá-lo, ou envenená-lo e colocá-lo para dormir profundamente. “não cobices os seus delicados manjares, porque são comidas enganadoras” (Pv 23:3). Sim, ele tem “manjares” para lhe oferecer: é por isso que tantos são atraídos à sua mesa. Esses “manjares” são habilidosamente variados para chamar a atenção de diferentes gostos. Para “estudantes proféticos”[1]  eles são itens picantes dos jornais, servidos com o nome de “sinais dos tempos”. Mas estas são “comidas enganosas”, pois deixam a alma com fome e improdutiva: não há nenhum nutriente espiritual nas mesmas! Para os jovens enérgicos, há uma agradável apresentação do “serviço cristão”, chamando-os a se engajarem na “obra do Senhor”: essas são também “comidas enganosas”, pois elas nem edificam (constroem) nem levam a um andar mais próximo com Cristo; ao invés disso, eles tiram os olhos de Cristo, para as “multidões que perecem”[2] : como se Deus tivesse sido incapaz de salvar os Seus eleitos sem nossa ajuda[3] ! “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23) é a palavra de Deus para você.

Para outros é a exposição regular das “nossas doutrinas” que são de fato “manjares” para aqueles com uma mente teológica. “Sim, mas ‘nossas doutrinas’ são doutrinas das Escrituras, e certamente elas não podem ser ‘comidas enganosas’!” Oh querido amigo, Satanás freqüentemente se transforma em “anjo de luz”; ele sabe muito bem que nenhum mal se fará à sua causa enquanto dissertações doutrinárias são endereçadas ao intelecto, e a consciência não é sondada. A não ser que haja uma aplicação prática das doutrinas das Escrituras, o coração não é tocado nem a alma humilhada; ao contrário, o orgulho é alimentado e a cabeça meramente entulhada com um conhecimento teorizado da verdade. Guarde isso bem: doutrina distanciada da pregação prática e experimental é altamente perigosa!

O que o escritor e leitor precisam não são “manjares”, mas “ervas amargas” (Êx 12:8) para nos limpar do orgulho, independência, amor-próprio! Temos de nos alimentar do “pão de lágrimas” (Sl 80:5) e a “água de aflição” (Is 30:20). Somente esta ministração ajudará verdadeiramente e nos levará a lamentar diante de Deus, que nos leva até o pó, que nos faz aborrecer-nos a nós mesmos. Talvez alguns repliquem, “Eu quero uma ministração e que Cristo é exaltado”. Bom; mas você tem prazer em uma ministração que lhe faz ver quão diferente de Cristo você é em seus caminhos, e o quão longe você está do exemplo que Ele deixou para ser seguido? Uma ministração de “Cristo”, fiel e equilibrada, inclui Seu ensino sobre discipulado, Seus clamores e exigências sobre nós, Seus preceitos e avisos de perigo. Tome cuidado com “manjares” agradáveis à carne, querido leitor.

Nós pulamos os [versos] intermediários e chegamos ao 8 de Provérbios 23, “Vomitarás o bocado que comeste e perderás as tuas suaves palavras”. Sim, se você é realmente um filho de Deus, isso é o que o Espírito irá fazer com você, cedo ou tarde. Ele irá fazer o seu coração ter náuseas com aqueles “manjares” que agradam a carne com os quais você tanto se deleita agora; Ele lhe fará se voltar com desgosto daquilo que os professores vazios lhe alimentam com tanta avidez. Falamos com base em uma dura experiência. A ovelha não pode crescer com o alimento dos bodes! Se seu pregador é admirado e elogiado por palavras macias e agradáveis, você pode estar certo de que seu ministério não ode lhe ajudar. Se grandes multidões o ouvem entusiasticamente, é um sinal seguro de que ele não ministra a Palavra no poder do Espírito!

Para fecharmos, vamos apenas dizer que tudo o que foi apontado como “atentar bem” à pregação que você ouve, se aplica com a mesma força ao ouvir o rádio! “Atentais no que ouvis”: se não deixar sua consciência mais macia, a deixará mais cauterizada. O mesmo se aplica à leitura. A maioria das revistas “ortodoxas” e “fiéis” que são impressas hoje, só podem lhe fazer mal, pois não possuem nada que lhe faça chorar diante de Deus, nada para aumentar o “temor do Senhor” em sua alma, nada que lhe levará à mortificação crescente dos seus membros sobre a terra. Se tem sido este o caso, evite-os como uma praga. “Afastai-vos, pois, do homem” (Is 2:22) e se alimente da Palavra.

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (3)

Para começar este artigo, por gentileza, leia o texto abaixo:

POR QUE A KING JAMES É MELHOR?

A QUÁDRUPLA SUPERIORIDADE DA TRADUÇÃO KING JAMES .

(Este artigo foi traduzido e adaptado do livro :”The Four-fold Superiority of KJV”, Dr. Donald A. Waite, Bible for Today, 1992, 900 Park Ave., Collingswood, New Jersey 08108. ISBN # 1-56848-000-8. Used by permission. A imagem ao lado é de Esrasmo de Rotterdam, autor de Textus Receptus). Uma gentil colaboração de Camila Guerra, gerente de marketing da Abba Press Editora.

1.Introdução

“Nada acrescentes às Suas Palavras, para que não te repreendas e sejas achado mentiroso” (Prov. 30:5-6)

O ataque satânico contra a palavra de Deus remonta o Jardim do Éden. A primeira intervenção de Satanás na História foi adulterando e pondo dúvida na Palavra de Deus: nascia a primeira Bíblia na Linguagem de Hoje! O primeiro pecado de Eva foi o de aceitar a suposta palavra de Deus “modernizada” da boca do Diabo. Séculos mais tarde, Satanás recorreu novamente às Escrituras para tentar o Mestre Jesus em Mateus 4:1-11. Com o passar dos séculos, após a consumação da revelação de Deus no Apocalipse, o ataque satânico ficou mais bem elaborado, usando supostos crentes e sociedades Bíblicas. Nasciam as “versões”, com textos manipulados e com técnicas de tradução traidoras do texto original como é o caso da equivalência dinâmica. Vejamos porque a tradução King James (e sua equivalente no português) é muitíssimo superior às versões modernas as quais devem ser rejeitadas pelos crentes sérios.

2. O TEXTO da língua original da Bíblia King James é superior.

O TEXTUS RECEPTUS (T.R.), texto grego base do Novo Testamento da Bíblia King James, não tinha nenhum contestador desde 1611 até 1881, quando dois heréticos liberais chamados Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort entraram em cena com esforço concentrado. Eles eram teólogos da igreja Anglicana e passando por “conservadores” editaram o texto Westcott-Hort (WH), que difere em 9.970 palavras (7%) do T.R. que tem sido usado pela cristandade fiel de 19 séculos! Para se ter uma idéia da incomparável superioridade do T.R, dos 5.255 manuscritos gregos do Novo Testamento, que foram preservados e disponíveis para nós hoje, 5.210 (99%)concordam com o T.R. e apenas 45 (MENOS DE 1%) com o WH ! As bases do texto falso, foram desenterradas das profundezas do obscurantismo, esquecimento e desprezo, justamente por não terem credibilidade sendo o WH publicado apenas em 1881. Além do mais, o texto WH se baseou dentre outros, no Codex “B” e Sinaiticus que diferem entre si em 3.000 vezes só nos Evangelhos! Com toda honestidade, qual o texto grego que Deus preservou? A Bíblia diz: em Sal. 12:6-7: “As palavras do Senhor são palavras puras… ” O Textus Receptus (T.R.) e Massorético, que são usados também na Bíblia publicada atualmente pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (Corrigida e Fiel), é muito superior ao texto Westcott e Hort (WH), que dentre outras omissões, é ecumênico e por isso mesmo, enfraquece várias doutrinas da fé cristã.

3.Os TRADUTORES da Bíblia King James são superiores!

Bastaria o motivo do texto duvidoso e os homens envolvidos com ele, para qualquer crente sério rejeitar esta “versão”, porém, vamos adiante e analisemos os homens envolvidos com o preparo da Bíblia King James. Foram eles 54 eruditos do mais alto grau de brilhantismo, que, em mais de 7 anos de trabalho reverente, árduo e profícuo, prepararam esta versão:

John Bois: Relator dos trabalhos da comissão de forma mais completa. Lia o Velho Testamento no Hebraico com apenas 5 anos de idade escrevendo nesta língua já aos 6 com elegância e estilo. Era especialista em todas as formas de grego. Sir Lancelot Andrews: Líder dos tradutores do Velho Testamento. Falava fluentemente apenas 15 idiomas orientais…Devido à limitação de espaço não se pode detalhar os demais componentes, porém, fica a certeza de que desprezar este trabalho usado grandemente por Deus na salvação de milhões de pessoas nas missões modernas, e se voltar para pseudo-intelectuais e falsos mestres produzidos por esta geração apóstata, é uma decisão pessoal que terá suas consequências diante de Deus.

4. A TÉCNICA de tradução da Bíblia King James é superior!

A técnica usada para a tradução da Bíblia King James foi a equivalência verbal e formal, significando isso fidelidade ao texto original. A palavra tradução (translatus no latim – carregar através) tem o significado de translação ou transporte. Significa transportar um objeto de um lugar (uma língua) para o outro sem mudar suas características quer mudando adicionando ou subtraindo. As versões modernas e pervertidas, todavia, usam num grau maior ou menor, a técnica da equivalência dinâmica. Tal técnica, incompatível com o verdadeiro e honesto tradutor, manipula a palavra ou texto segundo seu bel-prazer. Aliás a expressão equivalência dinâmica já é uma contradição de termos porque equivalência significa igual, imutável. Dinâmica significa em movimento e mutante, progressiva. É uma expressão ilógica e incompatível, própria para enganar os incautos e ingênuos. Ou a tradução é equivalente, ou é dinâmica. O que está por trás dessa técnica mesmo é a velha artimanha maligna de dar ao ser humano o direito de adicionar, subtrair ou mudar a sacro-santa e imutável Palavra de Deus.

5. A TEOLOGIA da Bíblia King James é superior!

A verdade é uma consequência da fidelidade. É lógico que como resultado do texto, tradutores e técnica corretos, a Bíblia King James desponta na superioridade teológica, que é o fruto da verdadeira palavra de Deus. A igreja católica jamais a reconheceu, as seitas a abominam e os liberais apóstatas a odeiam. Os textos da divindade de Cristo, Trindade, inspiração e inerrância das escrituras são contundentes. As doutrinas criacionistas são claras e irrefutáveis. Por outro lado, como seria de se esperar, o texto das versões modernas é infiel, pois os homens são infiéis, a técnica é infiel, o texto base é infiel e como conseqüência não se poderia esperar a verdade como resultado. O Dr. Jack Moorman’s fez uma compilação registrando 356 passagens doutrinárias mudadas pelos textos heréticos Egípcios “B” (Vaticanus) e ALEPH (Sinaiticus). Olhe só dois exemplos: João 3:15 ” Para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” (foi retirado “não pereça” !). Mar.9:44-46: Foi retirado o fogo do inferno, etc… O limitado espaço não permite comentar, as centenas de adulterações…

6.Conclusão

A palavra de Deus dura para sempre (Sal 119:160). O Diabo, inimigo número um do Senhor, desde o jardim do Éden tenta acabar com ela. Seja queimando, seja ridicularizando, seja usando um texto parecido (porém falso), ele a persegue. Os verdadeiros crentes, contudo, devem procurar saber e reconhecer as mãos santas e trêmulas que, com temor e reverência, traduziram a pura palavra do Senhor, rejeitando ao mesmo tempo os imprudentes, irreverentes e arrogantes deturpadores dessa geração apóstata.

“E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. ” (Apoc. 22:19)

BIBLIOGRAFIA

A BÍBLIA SAGRADA – Edição Almeida Corrigida e Fiel Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1995.

THE HOLY BIBLE, AUTHORIZED KING JAMES VERSION

THE FOUR-FOLD SUPERIORITY OF KJV – Dr. D.A. Waite

A BÍBLIA TRAÍDA, Pr. Aníbal Pereira Reis,1976.

MODERN BIBLE VERSIONS, David W. Cloud, 1994.

THE LIVING BIBLE, BLESSING OR CURSE, David Cloud, 1991.

COUNTERFEIT OR GENUINE?, David Otis Fuller, 1975.

EXPONDO OS ERROS DA NVI, folheto, 1999.

UNHOLY HANDS ON God’s HOLY BOOK, David W.Cloud, 1999.

MODERN BIBLES-THE DARK SECRETS, Jack Moorman.

FOR LOVE OF THE BIBLE, David Cloud, 1995

Agora, compare-o com o texto abaixo:

Desde o final do século 19, o desenvolvimento dos estudos textuais da Bíblia, juntamente com os descobrimentos promovidos pela arquelogia bíblica, resultaram num extraordinário benefício para a restauração do Texto Bíblico. Hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), maravilhosamente próximos dos Autógrafos das Sagradas Escrituras.
Ao mesmo tempo, estas descobertas e avanços científicos têm colocado em evidência numerosas diferenças entre os vários manuscritos, denominadas “variantes textuais”, de maneira que quando se compara as mais reconhecidas traduções do mundo moderno: “King James de 1611″ (em inglês); a ¨Reina-Valera de 1862” (em espanhol), e a João Ferreira de Almeida (em português), publicada pela primeira vez no Brasil, em 1943; com manuscritos originais mais antigos e fidedignos que aqueles que serviram de base para essas excelentes traduções, se manifestam algumas discrepâncias e erros textuais importantes, os quais a tradução da Bíblia King James Atualizada procura corrigir.
Essa edição atualizada e comemorativa aos 400 anos da primeira publicação da Bíblia King James nos chega numa de suas traduções mais acuradas e notáveis, que prima por um texto tão claro quanto elegante; ao mesmo requintado e acessível, rigoroso na precisão exegética e hermenêutica, mas transposto para o nosso idioma com extrema erudição e sensibilidade.

Independentemente da concordância ou não com o primeiro, é evidente a qualquer leitor atento que o segundo contradiz o primeiro. O primeiro dá testemunho da superioridade da Bíblia King James (BKJ); o segundo diz que ela tem “algumas discrepâncias e erros textuais importantes” e, implicitamente, diz que os manuscritos usados para a tradução da BKJ não eram tão “maravilhosamente próximos dos Autógrafos (sic) das Sagradas Escrituras” como os usados para a Bíblia King James Atualizada (KJA) utiliza.

Pois bem: o primeiro texto foi retirado do sítio da Sociedade Bíblica Ibero-Americana (SBIA), que coordenou o “comitê internacional e permanente de tradução e revisão da Bíblia King James Atualizada para a língua portugues (KJA)”, segundo a página de créditos da referida Bíblia. O segundo texto, com seus vários erros de português, se encontra na luva (uma tira de papel que envolve a Bíblia e traz informações/propaganda adicionais a ela) da KJA!

Isso gera algumas perguntas:

1. Afinal, em que crê a SBIA: na superioridade ou nos erros da BKJ?

2. A divulgação desse texto, bem como toda a apresentação do sítio, não é para fazer o leitor supor que ele tem em mãos a BKJ?

3. Se a SBIA crê no que é afirmado no primeiro texto, por que, então, faz as sérias ressalvas que faz à BKJ?

4. Se, segundo o primeiro texto, o Textus Receptus é superior ao Texto Crítico e se a forma como a BKJ foi traduzida é superior a outras, modernas, por que a SBIA não seguiu nem um nem outra?

Até o próximo artigo!

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (2)

Neste artigo, ainda me detenho nos aspectos a que chamei de editoriais. Para isso, abri a KJA (agora vou chamá-la pelo nome real) ao acaso, a fim de avaliar diagramação, forma das notas de rodapé e sua redação. Se o que vi se estende pela Bíblia toda, o problema é bem sério.

Abri a KJA na página 1258 e analisei até a 1261. Sim, é uma pequeníssima amostragem, mas pela passada de olhos que dei no restante, o que se encontra aqui é igual ao restante.

A KJA adotou o formato de notas de rodapé em uma única coluna, com a largura da página. A impressão que isso dá é ruim, desconfortável. Mas até aí pode ser apenas questão de gosto pessoal. Ok. Em minha opinião de editor, foi uma escolha ruim. Outro problema nas notas é que o número a que elas se referem está no mesmo corpo e formato que o texto que segue. Isso dificulta bastante a identificação. E no texto bíblico, o número da nota está em itálico, quase invisível, e separado do texto. Facilmente o leitor não vai encontrá-lo. O editorialmente recomendado é a identificação com número em negrito e sobrescrito, tanto no texto quanto no rodapé.

A KJA adotou uma nota de rodapé por capítulo (vi rapidamente que em alguns capítulos há mais de uma nota). Mas nem sempre a nota está na mesma página em que está o número a que ela se refere. É o que acontece na pág. 1258; o número 1 que identifica a primeira nota do capítulo 9 não está nesta página, mas na anterior. Com um pouco de habilidade de diagramação, seria possível colocar essa nota onde deveria estar. Mas, de novo, pode ser apenas uma questão de preferência pessoal. Eu não gostei; visualmente, o texto é feio e confuso.

Na pág. 1260 há a nota 1, no texto da página anterior, de Eclesiastes 11. Só para relembrar, nos Agradecimentos foi dito que essa obra não é uma tradução da New King James Version, mas uma obra produzida aqui no Brasil (ou na América Latina; nada é explicado muito claramente). Portanto, é uma obra que nasceu em português. No entanto, nesta nota 1 há a seguinte expressão: “… projetos missionários além-mar (overseas)…”. Qual a razão dessa palavra em inglês? Seria a sobra de uma tradução? Nada justifica a palavra overseas aí. Além disso, por ser palavra estrangeira, deveria estar em itálico. Logo após, há um uso errado de ponto-e-vírgula.

Na página seguinte, a 1261, a nota 1 traz: “as Profecia” (sic). Adicionalmente ao erro de concordância de número, há o uso equivocado de maiúscula, o que pode ser observado em muitas notas (eu diria que em todas, mas não as li todas ainda para afirmar isso). Nessa mesma nota, há ainda Céu, Cruz, Ressurreição, Dia e Julgamento, nessa forma, no meio da frase, sem nada que justifique a caixa-alta (maiúscula). Mais uma feia cochilada editorial.

No final da parágrafo aparece mais uma palavra em inglês desnecessária e sem itálico: nonsense.

Outra curiosidade: é citado Fl 3.12. Achou esse versículo em sua Bíblia? Nem eu. Nem ninguém. Fl é abreviatura de Filemom, não de Filipenses. Descuido editorial.

A falta de itálico nas palavras estrangeiras é característica da KJA. Na nota 1 do capítulo 1 de Eclesiastes há termos em hebraico e em grego sem itálico, o que torna a leitura difícil e confusa. Há também dois erros feios de separação entre sujeito e verbo por vírgula: “…sugere que Cohéllet, possa ser…” e “…expressão hebraica heh’bel, pode ser…”. Depois, lê-se: “…. no sentido na transitoriedade da vida”; deveria ser “sentido da”.

Fico por aqui. Estou folheando apenas o livro de Eclesiastes, e já encontrei outras coisas feias. Falo sobre elas em outro artigo.

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (1)

Pretendo escrever alguns pequenos artigos sobre o assunto. Neste primeiro, vou enfocar apenas o que chamo de aspectos editoriais, falando do produto em si e da apresentação que faz de si mesmo. Em outro(s), comentarei sobre a tradução propriamente dita e, por fim, tratarei das notas e comentários.

Comprei a versão simples da BK (vou chamá-la apenas assim inicialmente; logo explico a razão); há outra bonitona, com capa de couro. Ela traz uma “luva”, uma tira de papel couchê impressa em sua volta. Na frente da luva, lê-se: BKJ, em letras bem grandes; abaixo, em letras bem menores: Bíblia King James Atualizada. E aí começam os problemas.

As siglas adotadas em português para as versões da Bíblia costumam informar de modo claro a tradução que trazem. Assim, a Almeida Revista e Atualizada é identificada por RA ou ARA; a Almeida Revista Corrigida é ARC; a Almeida Corrigida e Fiel é ACF; a tradução publicada pela Juerp é a IBB-Rev (Imprensa Bíblica Brasileira, Revisada). Até as Bíblias modernas seguem este preceito: NVI é a Nova Versão Internacional; a NTLH é a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. A BK em questão, não: ela usa a sigla da Bíblia King James internacionalmente conhecida pelos leitores da Bíblia, dando a impressão de que se trata da King James original, de 1611; no entanto, logo abaixo revela ser, na verdade, uma versão atualizada. Seria isso intencional para enganar os leitores? É difícil crer diferente, já que, ao tirar a luva, na capa da Bíblia está apenas BKJ e apenas na lombada aparece a indicação de ser atualizada. A meu ver isso é, para dizer o mínimo, um descuido.

Mas vamos supor que tenha sido uma escolha editorial; que o grupo que produziu esta versão optou por identificá-la como BKJ, mesmo não sendo ela a BKJ. Será que isso se sustenta? Vamos prosseguir.

Na parte de trás da luva há o título: O livro que mudou o mundo. A quem isso se refere? Pela parte da frente, à BKJ. No entanto, esta não é a BKJ, mas sua versão atualizada, criada agora (lançada em setembro do ano passado). Portanto, ela não poderia ter mudado o mundo. Deduz-se, então, que essa apresentação se refere à KJ (também conhecida como AV, Authorized Version). No entanto, ao prosseguir na leitura, vê-se que não é isso.

O texto curto inicia defendendo que as descobertas arqueológicas proporcionam hoje “a restauração do Texto Bíblico” (sic). Deixando de lado o uso errado de maiúsculas, analisemos a frase. Ela indica que, agora, sim, temos o texto bíblico, implicitando a idéia de ele ser o original, o legítimo, o verdadeiro. No entanto, a próxima frase diz que “hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos […] maravilhosamente próximos dos Autógrafos” (sic). Mais uma vez, sem considerar o uso errado da maiúscula, vamos considerar a frase. Ela diz textualmente que hoje, como nunca antes, a Igreja tem um texto quase como os originais. O que isso significa e/ou implica?

Em primeiro lugar, como mostrei, uma contradição com a frase anterior. Ou o texto bíblico foi restaurado ou se tem algo próximo a ele.

Em segundo lugar, implicita que, até agora, a Igreja tinha algo distante dos autógrafos (manuscritos originais). Implicita que só agora os cristãos têm um texto digno de confiança. Isso ignora todas as traduções anteriores, baseadas no TR (Texto Recebido ou Textus Receptus), pelas quais Deus fez todos os grandes avivamentos da história, mudou a história de países, cidades, pessoas; levantou, capacitou, encorajou e sustentou os maiores pregadores e evangelistas da história? Então, o que os cristãos tiveram em mãos por quase cinco séculos? Não era a Palavra de Deus?

Prossigamos.

O próximo parágrafo, com erros de redação (como uso desnecessário e inconstante de aspas e de ponto-e-vírgula), traz, mais uma vez, críticas – agora mais claras e diretas – à própria King James e a traduções baseadas no TR (Reina-Valera e João Ferreira de Almeida). O texto cita “discrepâncias” e “erros (sic) textuais importantes” nessas traduções, os quais a “Bíblia King James procura corrigir”. Isso é assustador, não? Durante séculos, os mais piedosos cristãos, os mais fervorosos filhos de Deus, os mais úteis escravos de Cristo usaram Bíblias com discrepâncias em relação ao texto original, com erros sérios. É possível acreditar nisso?

Percebam que isso traz implícita a idéia de que Deus foi incapaz de preservar Sua Palavra ao longo dos séculos, que Ele não zelou nem velou por Sua Palavra como afirma que o faria (Jr 1.12). E, talvez pior que isso, é que Ele permitiu que Seu povo, durante séculos, mesmo durante os períodos de avivamento, de devoção, de piedade, dos puritanos, das grandes missões, da salvação de multidões, estivesse enganado, usando uma Bíblia com erros sérios e discrepâncias em relação aos originais. Pode-se aceitar tal insinuação a respeito de Deus?

Ainda há mais.

O próximo parágrafo diz que esta edição atualizada comemora os 400 anos da primeira edição da KJ. Estranha comemoração… Quando são comemorados, por exemplo, os 50 anos do lançamento de uma obra (filme, livro, por exemplo), ela é relançada com nova capa, nova diagramação, com comentários, com cartas do autor, com cenas deletadas, com som remasterizado, com trecho inédito posteriormente descoberto… mas a obra é a mesma! Isso é homenagem. Agora, dizer que a obra original não era tão boa, que tinha discrepâncias e erros sérios e chamar isso de homenagem…? Parece-me, sim, antes um desrespeito.

Mas a coisa não termina aí.

Mais abaixo há um comercial. Claro, afinal trata-se, em primeiro lugar, de um produto, uma mercadoria que precisa ser vendida. O título do “reclame” é Conheça mais sobre a BKJ. E, nesse momento, a confusão já está armada: a que Bíblia exatamente isso se refere? Como vimos, até agora BKJ tem sido usada para identificar esta versão em português. Então, é de se supor que o anúncio se refira a ela também. Certo? Errado.

O primeiro produto indicado é um livro chamado A Bíblia King James. A dúvida continua: a qual Bíblia isso se refere? A chamada abaixo é ainda mais confusa: Uma breve história da Tyndale até hoje. Quem é “a Tyndale”? Por que o título fala da King James e a chamada, da Tyndale?

Ao lado, há um DVD chamado BKJ, com a chamada O livro que mudou o mundo – Bíblia King James. De novo, a confusão. BKJ é a sigla usada para essa versão em português, mas o filme se refere à King James de 1611. O leitor desavisado ou sem conhecimento desses fatos pode ser levado a supor que vai encontrar aí material referente ao livro que tem em mãos, quando, na verdade, diz respeito à tradução que tem erros sérios e discrepâncias (segundo os autores do anúncio).

A parte que me parece cômica (na falta de outro adjetivo), é o final da luva, que indica que a distribuição desta Bíblia é feita pela BVFilms. Uma distribuidora de filmes responsável por distribuir a pretensa melhor tradução da Bíblia até agora? Faz algum sentido? (Ah, sim, é apenas comércio, produto, mercadoria…)

E não é só cômico. É preocupante. Eu tenho livros traduzidos e publicados e DVDs legendados pela BV, e o trabalho de tradução/preparação/revisão é péssimo. Só dois pequenos exemplos: num DVD, uma música diz que Jesus tomou a xícara na última ceia. Em outra, Rock of ages (Rocha eterna ou Rocha das eras, um hino tradicional) é traduzido por… idade da pedra! Acredite se quiser! E como estes há centenas de erros similares nos livros e DVDs. Eu escrevi à BVFilmes reclamando de ter comprado o DVD com esses erros inadmissíveis. A resposta: isso não é um produto com defeito. (!) Se o produto é uma tradução/versão, e esta é mal feita, como não caracterizar como produto com defeito?

É de causar apreensão que um trabalho de tamanha envergadura (e pretensão) esteja, de algum modo, nas mãos de um grupo tão descuidado com o uso do vernáculo – e uma tradução é, antes de tudo, trato com a língua. Pelos erros de redação observados até aqui, e por minha experiência com a BV, já antevia o que haveria de encontrar. E foi pior do que eu imaginava.

Agora, abrindo a Bíblia.

Na folha de rosto, lê-se: Tradução King James Atualizada (KJA). Opa! De onde saiu essa sigla? Não era, até agora, BKJ? Por que mudaram? Ou será que sempre tiveram consciência de que não era a BKJ, mas, sim, a KJA? Será que foi um descuido do capista ter colocado BKJ em letras garrafais e douradas na capa? Será que o editor/produtor editorial não viu isso? Ou será uma tática intencional de induzir o leitor a comprar gato por lebre?

Virando mais uma página, outro título: Antigo e Novo Testamentos Bíblia Sagrada King James Edição de estudo – 400 anos. Puxa, sumiu de novo a informação de que é uma versão atualizada, não a King James legítima.

Virando outra página, há um erro editorial feio e grave. A página de créditos (aquela em que se diz quem faz o quê na obra) está à direita, e deveria estar à esquerda. E no verso da página de créditos está um fac-símile da página de apresentação da King James de 1611. Isso deveria estar no lugar agora ocupado pela página de créditos. E, observe, mais uma vez há uma sutil insinuação de que as duas são a mesma obra.

A seguir, há uma apresentação escrita por Carlos Alberto de Quadro Bezerra. A meu ver, o fato dele ser o autor desse texto é mera jogada comercial. Afinal, no que diz respeito à erudição bíblica, à pesquisa exegética, ao manuseio das línguas originais, qual é a contribuição desse irmão? Nenhuma. Não o estou avaliando quanto a qualquer outro aspecto, apenas no tocante à erudição bíblica. E o conteúdo de seu texto em nada condiz com a pretensa seriedade da publicação.

No primeiro parágrafo ele diz que, agora, o “povo de língua portuguesa passa a contar com o texto integral da Bíblia King James”, o que é mentira, pois a KJA não é a KJ e tem menos versículos que ela; portanto, não é o texto integral.

No parágrafo seguinte há um erro doutrinário grave. Referindo-se a este lançamento, escreve o autor (citação textual): “Trata-se de um momento singular. Afinal, não estamos falando apenas do mais importante Livro de todos, mas da própria Palavra de Deus, o testemunho…”. Ele faz uma distinção entre o Livro e a própria Palavra de Deus! O mas, conjunção adversativa, indica que, apesar do primeiro, acontece o segundo. Por exemplo: “João jogou mal, mas ainda assim fez um gol. Eu estudei muito, mas não consegui chegar a tempo na prova.” A frase citada, caso quisesse revelar a fé em que a Bíblia é a Palavra de Deus, deveria ter sido redigida assim: “…o mais importante Livro de todos, a própria Palavra de Deus…”. Parece preciosismo, mas uma conjunção adversativa faz uma enorme diferença e induz ao erro!

Isso, mais uma vez, sinaliza problemas de edição, de esmero editorial. Sem citar que a tal apresentação é superficial, pois não cita os critérios utilizados na tradução, a relação real com a KJ, explicação sobre uso de versal-versalete, do nome Yahweh.

Depois, há um prefácio, escrito por Lisãnias Moura. Há problemas de redação e um parágrafo esquisito: “Quando lemos as Escrituras, podemos inicialmente nos prender ao texto e daquele texto ouvir a voz de Deus. Ao mesmo tempo, podemos estudar todo o contexto daquilo que estamos lendo e, neste caso, é de extrema valia consultarmos outras traduções, versões, comentário e demais recursos.” Segundo este autor, só podemos ouvir a voz de Deus lendo um texto (o que seria isso? Um versículo? Um capítulo? Poucos versículos?). Se lermos o contexto, então, não a ouvimos mais. O contexto só pode ser estudado, não serve para ouvir a voz de Deus. É possível crer nisso?

O pior ainda está por vir. O próximo texto, chamado Reconhecimentos, de autoria de Oswaldo Paião, é muito mais uma biografia do autor do que reconhecimento do trabalho de outrem. Além de problemas sérios de redação (erro de concordância de número e de gênero, erro de pontuação, frases ambíguas…, o que aumenta meu temor em relação ao que se pode encontrar na Bíblia propriamente dita), há menções a pessoas que me causam espécie. O autor cita seu trabalho com a NVI (o que indica sua concordância com o tipo de tradução nela usado), menciona Ricardo Gondim (pastor que já há algum tempo tem ensinos que afrontam a soberania e a onisciência de Deus), Ed René Kivitz (defensor da pós-modernidade da igreja e que se identifica com os ensinamentos de Gondim); menciona a “enorme contribuição […] à obra da KJA” de Caio Fábio (que ensina que a Bíblia não é o único nem o melhor livro de Deus). Será que esse autor não sabe das heresias ensinadas pelos homens que ele cita? Se sabe, concorda com elas? Se não sabe, não há um autor, um dos renomados teólogos que fizeram a KJA que o alertasse sobre isso? Ou um editor temente a Deus que glosasse o texto para evitar esses pontos controversos?

Pouco adiante no texto, finalmente é explicado (em lugar errado, pois isso não deveria estar nos agradecimentos, mas na apresentação) superficialmente como foi feita a tradução. Em suma: o Textus Receptus (não sei porque razão colocado entre aspas) foi uma das fontes usadas, ao lado dos chamados textos críticos. De modo resumido, os textos críticos surgiram a partir do final do séc. 18, quando a Bíblia começou a ser estudada como outro texto de literatura qualquer, sendo questionadas sua inspiração literal, sua inerrância, sua preservação. Segundo alguns autores, o texto crítico cortou da Bíblia a quantidade de versículos correspondente a uma das epístolas de Pedro.

E o texto explica ainda que não é uma tradução da New King James Bible e, finalmente!, sua ligação com a KJ: “A KJA é uma tradução dos mais antigos e fiéis manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), preservando o estilo clássico, reverente e majestoso da Bíblia King James de 1611.” Impressionante! Então, a KJ, nem a NKJ, não é tradução de manuscritos fiéis? E como mantém o estilo de outro livro se não é tradução dele? Portanto, a ligação com a KJ é apenas subjetiva, de estilo (sabe-se lá o que isso significa)…

Há outros detalhes nesse texto que ainda poderiam ser comentados, mas são de menor importância.

“Nossos comerciais, por favor!”

Sim, há mais comerciais na Bíblia. Sim, não fora dela, não na luva, não na embalagem, mas na Bíblia mesmo. E comerciais ecumênicos, procurando agradar a bárbaros e citas, judeus e gentios, gregos e troianos, hereges e ortodoxos. São frases de elogio/recomendação à KJA de, por exemplo, Marco Feliciano (pastor que estará com o mega-herege Benny Hinn num evento em São Paulo, que xinga quem não concorda com seus ensinamentos), Éber Cocarelli, da assim chamada igreja internacional da graça, de R.R. Soares, pregador da teologia da prosperidade, da bênção em troca de dinheiro; do já citado Carlos Bezerra e de Ana Paula Valadão (que faz um comentário vazio, superficial, 100% comercial; não é preciso lembrar os ensinamentos dela sobre guerra espiritual, sobre unção do leão, sobre bota de couro de píton…).

Fico aqui em minha primeira e rápida consideração sobre a KJA. O que concluo até aqui? Do ponto de vista editorial, é um produto descuidado, mal produzido, com clara intenção meramente comercial e ecumênica e propositadamente concebido para ser tomado por uma legítima tradução da KJV.

Portanto, aos que a adquiriram e pretendem usar, cuidado!

Que o Senhor guarde nossos pés de tropeçar até Sua volta!

Em breve, voltarei ao assunto.

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