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Vida cristã Watchman Nee

Um caminho, não métodos (Watchman Nee)

“Disse-lhes Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (Jo 14.6).

Freqüentemente escutamos a experiência de outros e sentimos sua preciosidade, mas vemos apenas um método que outra pessoa tocou em vez de vermos o Senhor. Como resultado, sofremos derrota após derrota. A principal razão é não conhecermos o Senhor como o caminho.

Procuremos entender que crer na pessoa do Senhor e crer em uma fórmula são duas propostas totalmente diferentes. Pela graça de Deus, o cristão tem os olhos abertos para ver que tipo de pessoa é; por essa razão põe a si mesmo de lado e crê no Senhor, confiando Nele para fazer em seu interior o que ele mesmo não pode fazer. Como conseqüência, ele obtêm liberdade e está plenamente satisfeito diante de Deus.

Mais tarde, entretanto, outra pessoa se interessa por Cristo por intermédio dele. Depois de ouvir o testemunho da primeira pessoa, esta também pede a Deus para iluminá-la a fim de que possa conhecer que é um homem inútil. Ela também aprende a crer em Deus e a humildemente abandonar a si mesma. Ainda assim estranhamente percebe que não recebeu a libertação como na experiência da outra pessoa. Qual é a explicação para isso?

É porque o primeiro irmão tem fé viva que o habilita a tocar o Senhor tanto quanto a crer em Deus, enquanto o segundo irmão não tem fé, mas somente uma “fórmula de fé copiada”; portanto não encontrou Deus. Resumindo, o que este segundo irmão tem é um método, não o Senhor. Um método não tem poder nem eficácia; por não ser Cristo, é simplesmente uma coisa morta.

Por essa razão, então, devemos, após ouvir uma mensagem ou um testemunho, examinar-nos a fim de saber se encontramos o Senhor ou meramente entendemos um método. Não há libertação no conhecimento de um método como há no conhecimento do Senhor. Ouvir como Ele ajuda outros não irá nos salvar. Somente nossa confiança no Senhor é eficaz. As palavras em ambos casos podem nos parecer as mesmas, mas as realidades são completamente diferentes. O Senhor é o Senhor da vida. Qualquer um que O toque toca a vida. Somente tocar o Senhor pode dar vida.


(Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Disciplina Escatologia Salvação Santidade Segunda vinda

O direito de primogenitura pode ser perdido (A. L. Chitwood)

Existem dois exemplos clássicos na Palavra de Deus concernentes à perda dos direitos pertencentes ao primogênito: um se encontra na história de Esaú e outro, na de Rúben.

Rúben e o direito de primogenitura

Rúben, o primogênito de Jacó estava para herdar o direito da primogenitura. Mas, por causa de um grave pecado cometido, Rúben perdeu esse direito. O pecado de Rúben que resultou na perda de seus direitos foi uma impropriedade sexual de tal natureza que desonrou e envergonhou o pai: “Foi Rúben e se deitou com Bila, concubina de seu pai” (Gn 35.22).

O que Rúben perdeu, perdeu para sempre.

Por causa desse pecado, anos mais tarde, quando Jacó chamou a sua presença os doze filhos, pouco tempo antes de sua morte, para relatar o que deveria acontecer a eles “nos últimos dias”, Rúben ouviu as seguintes palavras: “Rúben, tu és o meu primogênito, minha força, e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso como a águia, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito de teu pai e o profanaste; subiste à minha cama” (49.3,4). A tribo de Rúben, como Jacó profetizou, não se sobressaiu. De sua tribo não veio juiz, rei ou profeta. O que Rúben perdeu, perdeu para sempre. Mas ele mesmo permaneceu como filho de Jacó e foi abençoado em certa medida, mas não como primogênito.

O direito da primogenitura de Rúben foi dividido entre três de seus irmãos. O reino foi outorgado a Judá; o serviço sacerdotal, a Levi; e a porção dobrada foi concedida a José. A tribo de Judá tornou-se a linhagem real; a tribo de Levi, a linhagem sacerdotal; e a tribo de José recebeu a porção dobrada por intermédio de seus dois filhos, Efraim e Manassés, os quais receberam a herança (1Cr 5,1,2).

Durante o milênio, a condição criada pelo pecado de Rúben irá permanecer. O rei será da casa de Judá (Ap 5.5), o sacerdote, da família de Zadoque, o levita (Ez 44.15,16; 48.11), e a porção dobrada será possuída pela casa de José graças a Efraim e Manassés (Ez 47.13; 48.4,5).

Esaú e o direito de primogenitura

O direito da primogenitura havia sido perdido e estava fora do alcance de Esaú para sempre.

Esaú, assim como Rúben, perdeu seu direito de primogenitura. Na história de Esaú, toda a herança foi para seu irmão mais novo, Jacó. Esaú perdeu o direito de primogenitura para satisfazer a um prazer da carne. Ele vendeu seus privilégios a Jacó por um simples prato de lentilhas (Gn 25.27-34).

Visto que o direito da primogenitura havia sido prometido a Jacó (v. 23), alguns duvidam que Esaú realmente o possuíra. Entretanto, Esaú não foi apenas um pretendente a ele. No original grego, a palavra “vendeu” encontrada em Hebreus 12.16 implica que o objeto vendido pertencia somente a Esaú, e que ele estava perfeitamente cônscio de suas ações quando vendeu o direito de primogenitura a Jacó.

Em Gênesis 25.34 lemos que Esaú “desprezou” seu direito de primogenitura. No grego, na versão Septuaginta do Antigo Testamento, a palavra “desprezou” significa que Esaú considerou como insignificante e uma ninharia o direito de primogenitura. Ele o julgou de pouco valor e o vendeu convicto de que estava vendendo algo sem valor real. Só mais tarde, muito mais tarde, foi que Esaú verificou o valor do que havia vendido. Como na história de Rúben, a perda de seu direito a primogenitura não afetou sua filiação, mas alterou para sempre sua posição como primogênito de Isaque.

Após Jacó ter sido abençoado como primogênito da família, Esaú, aparentemente pela primeira vez, considerou o valor do que havia perdido. Tentou reaver esse direito, mas a Escritura relata que ele “não achou lugar de arrependimento”. Após conscientizar-se do valor do direito de primogenitura e do que havia ocorrido, implorou a Isaque, seu pai, para que mudasse sua decisão e o abençoasse também. Esaú clamou a Isaque: “Acaso tens uma única bênção, meu pai?” E nos é relatado que “Esaú levantou a voz e chorou” (27.38).

A palavra “arrependimento” significa mudar a mente de alguém. Esaú esforçou-se para mudar a decisão do pai, mas ele “não achou lugar para arrependimento”, isto é, não encontrou lugar para uma mudança de mente. A American Standard Version of the Bible (1901 ed.) tem provavelmente a tradução mais acurada de Hebreus 12.17 do que as encontradas em outras versões. Esse versículo na American Standard Version diz: “Sabeis que mais tarde, quando desejou herdar a bênção, foi rejeitado; não encontrou lugar para a mudança de mente de seu pai, embora se esforçasse com lágrimas”. Isaque não podia mudar a decisão que havia tomado. O direito da primogenitura havia sido perdido e estava fora do alcance de Esaú para sempre.

Os cristãos e o direito de primogenitura

Os cristãos naquele dia, levantarão a voz e chorarão ao se conscientizar do que foi perdido, conforme aconteceu com Esaú na tipologia.

Existe na mente de muitos cristãos a idéia de que, após alguém crer no Senhor Jesus como Salvador, não importa a maneira como conduz a vida, porque todos os cristãos irão ser herdeiros com o Filho quando Ele receber o reino. Nada poderia estar tão distante da verdade. Reinar com Cristo depende de nossa identificação com Ele, compartilhando Sua rejeição e vergonha nos dias atuais. Se todos os cristãos devem governar e reinar com Cristo em Seu reino, o que quer dizer a Escritura ao declarar: “Se perseverarmos, também com Ele reinaremos; se O negarmos, Ele por Sua vez nos negará” (2Tm 2.12)? Se o cristão vive uma vida indisciplinada, segundo a natureza carnal (tipificada pela atitude de Esaú com relação ao direito de primogenitura), e não segundo a natureza espiritual (tipificada pela atitude de Jacó com relação ao direito de primogenitura), e falha em se ocupar até a vinda do Senhor (Lc 19.12,13), ou falha em usar o talento ou a mina confiada a ele pelo Senhor (Mt 25.14-30; Lc 19.15-24), esse cristão será desqualificado para ocupar um lugar no reino do Senhor.

Todo cristão é um primogênito de Deus aguardando a plena filiação e a herança pertencentes ao primogênito (Rm 8.16-23,29; Hb 2.10; 12.23). A plena filiação e a herança são futuras e podem ser perdidas, sendo uma intimamente relacionada com a outra. O parentesco do cristão com o Pai, como filho primogênito aguardando a plena filiação, não pode ser perdido, mas o parentesco como filho primogênito maduro e a participação dos direitos pertencentes ao primogênito podem ser perdidos. Conforme o registro de Esaú e Rúben, uma vez que ocorra, os direitos pertencentes ao primogênito não podem ser recuperados.

Naquele dia, quando estivermos de pé perante o Tribunal de Cristo, serão encontradas duas classes de cristãos: os que conservaram seus direitos como primogênitos e os que perderam esses direitos

Os cristãos que conservarem os direitos da primogenitura os exercitarão como “co-herdeiros” com o Filho no reino. Porém, os cristãos que os perderem se encontrarão na mesma posição de Esaú e Rúben se encontraram, buscando a perda dos direitos da primogenitura pertencentes ao primogênito. Esses cristãos buscarão lugar de arrependimento, isto é, tentarão mudar a mente do Juiz no sentido de abençoá-los juntamente com os outros que não perderam os direitos pertencentes ao primogênito. Todavia, não encontrarão lugar para mudança de mente. Será tarde demais. O direito da primogenitura terá sido perdido. A bênção com respeito à herança que aguarda os filhos primogênitos maduros de Deus será perdida, e os que a perdem não ocuparão nenhuma posição entre os “reis e sacerdotes” que reinam sobre a terra com o Filho. Os cristãos naquele dia levantarão a voz e chorarão ao se conscientizar do que foi perdido, conforme aconteceu com Esaú na tipologia.

“Venho sem demora; conserva o que tens para que ninguém tome a sua coroa” (Ap 3.11).

Clique aqui para ver o primeiro artigo desta série.


(Fonte: extinta revista A Palavra Profética (set-out/1987) – Nº 3. Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)

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Amy Carmichael Encorajamento

Andar com Deus (Amy Carmichael)

 

“Enoque andou com Deus” (Gn 5.22,24). “Noé andou com Deus” (6.9).

Lemos sobre uma palavra proferida a Noé, a qual revelou o que iria acontecer com ele e direcionou seus passos. Não lemos sobre uma revelação semelhante que tenha sido dada a Enoque, mas ele andava o dia todo com seu Deus. A palavra significa “andar habitualmente”, “andar de um lado para o outro, para cima e para baixo”, exatamente o andar comum do dia comum. Seus olhos perceberam os pequenos sinais de direção que olhos descuidados não teriam percebido. Ele permanecia tanto com seu Deus que aprendeu a conhecer Seus desejos e, amando-O, satisfez Seu coração (cf. Hb 11.5).

Quão alegre, quão belo seria se neste dia, nesta semana, e até o caminhar chegar a seu fim, nós andássemos dessa maneira. Algumas vezes, se for necessário para o cumprimento de Seu propósito, nosso Deus falará como falou a Noé (pelo menos assim eu o creio), e então João 10.4,5 manterá a alma em quietude, e assim também o fará Êxodo 23.21: “Seja cuidadoso em Sua presença” (Tradução de Darby). Mas me parece que a forma usual é aquele que penso ter sido o caminho de Enoque. É o caminho do salmo 32.8 – “Guiar-te-ei com os Meus olhos” – e de muitas outras passagens. E nossa resposta é o salmo 123.2: “Nossos olhos atentam para o Senhor, nosso Deus”. Nós encontramos ambas as formas na Bíblia, e ambas em vida, e penso que precisamos mais e mais pedir para sermos observadores sensíveis aos “pequenos sinais” que, reunidos e colocados onde a luz das Escrituras podem brilhar sobre eles, nos apontam a direção corretamente. Assim nos voltamos para a antiga oração: “Faze-me ouvir […]; faze-me conhecer […]; ensina-me a fazer a Tua vontade” e, a menos que os ouvidos ou os olhos ou o coração se tornem embotados, diremos continuamente:

“Vivifica-me, ó Senhor, por amor do Teu nome” (Sl 143.8,10,11).


(Fonte: extinta Revista À Maturidade – primavera de 1993. Revisado por Francisco Nunes)

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A. W. Tozer Citações Corrie Ten Boom Gotas de orvalho John Piper John Wesley Leonard Ravenhill Martin Lloyd-Jones Oração Serviço cristão Sofrimento Vida cristã

Gotas de Orvalho (39)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

Incendeie-se por Deus, e os homens virão ver você pegar fogo.

(John Wesley)

Em nossas orações ainda não resistimos até o sangue; não mesmo. Como diz Lutero, “nem ao menos fizemos suar nossa alma”. Oramos com uma atitude do tipo “o que vier está bom”. Deixamos tudo ao acaso. Nossas orações não nos custam nada. Nem mesmo demonstramos forte desejo de orar. Fica tudo na dependência de nossa disposição, e por isso oramos de forma intermitente e espasmódica. A única força diante da qual Deus se rende é a oração. Escrevemos muito sobre o poder da oração, mas ao orar não temos aquele espírito de luta. Nós fazemos tudo: exibimos nossos dons espirituais ou naturais; expomos nossas opiniões, políticas ou religiosas; pregamos sermões ou escrevemos livros para corrigir desvios doutrinários. Mas quem quer orar e atacar as fortalezas do inferno? Quem irá resistir ao diabo? Quem quer privar-se de alimento, descanso e lazer, para que os infernos o vejam lutando, envergonhando os demônios, libertando os cativos, esvaziando o inferno e sofrendo as dores de parto para deixar atrás de si uma fileira de pessoas lavadas pelo sangue de Cristo?

(Leonard Ravenhill)

Deus nos convida a vir como estamos, não para permanecer como estamos.

(Tim Keller)

Aprendi que não é em nosso perdão, nem em nossa justiça própria, que repousa a sorte do mundo, mas nos do Senhor. Quando Ele nos ordena que amemos nossos inimigos, Ele nos dá, juntamente com a ordem, Seu amor.

(Corrie Ten Boom)

O homem só deve entrar no ministério cristão se não conseguir ficar fora dele.

(Martyn Lloyd-Jones)

Nunca ouvi alguém dizer: “As lições mais profundas da minha vida vieram por meio de tempos de conforto e tranqüilidade”. Mas já ouvi santos fortes dizerem: “Todo avanço significativo que fiz em assimilar as profundezas do amor de Deus e em crescer na comunhão com Ele veio por meio do sofrimento.”

(John Piper)

É muito improvável que Deus use uma pessoa que nunca sofreu profundamente uma dor.

(A. W. Tozer)

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Autores Disciplina Eric Sauer Pecado Santidade Vida cristã

Privilégios desperdiçados

É realmente elevada a posição conferida na salvação do Novo Testamento; todavia, embora sendo profunda, pode vir a ser ruína. Portanto, em toda vida cristã sadia, deve-se acrescentar seriedade à alegria, à gratidão a responsabilidade, à confiança o zêlo. Por esta razão existem tantas advertências em Hebreus. Uma das mais impressionantes é aquela que se refere a Esaú (Hb 12.16,17).

Esaú era o primogênito de Isaque. O escritor desta carta está chamando a atenção dos leitores para os seus privilégios, responsabilidades e perigos, referindo-se à conduta de Esaú e seus resultados.

Os primeiros leitores de Hebreus conheciam bem, sendo judeus por nascimento, quais eram os privilégios do filho primogênito. O termo é usado no Novo Testamento como figura da alta posição de honra dos membros da igreja de Cristo, na verdade de Cristo mesmo. No contexto de Hebreus 12 a plena posse e o desfrutar do privilégio celestial do primogênito é equivalente ao prêmio do vencedor na corrida, quando o corredor na arena da fé alcançará o alvo glorioso.

Preeminentemente e de modo singular, Cristo é Quem é o Primogênito. Esta Sua glória irradia na revelação do Novo Testamento de forma tríplice:

  1. Ele é o “Primogênito de toda a criação” (Cl 1.15). Esta é a Sua posição de honra vista do passado, Cristo, sendo o “Primogênito” desde o início, como “Filho” antes e acima de todas as criaturas.
  2. Ele é o “Primogênito dentre os mortos” (Cl 1.18; Ap 1.5). Esta é a Sua posição de honra no presente, a qual Ele mantém como o Ressurreto, Aquele que possui a “preeminência” como “Cabeça” do Seu corpo, a igreja.
  3. Ele é o “Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Esta será Sua posição de honra no futuro eterno quando Ele será revelado como glorificado o Redentor dos Seus redimidos glorificados (Hb 1.6)

Desse modo o testemunho do Novo Testamento no tocante a Cristo como o Primogênito refere-se a todos os três períodos de tempo durante todo o curso da história da salvação. Ele é mostrado ao mesmo tempo na mais alta posição em todas as esferas da revelação Divina: no reino da criação, no reino da redenção e no reino da perfeição. De qualquer lado que O contemplarmos, Cristo é o Primogênito.

Além disso, o termo “primogênito” é usado para expressar a posição especial da Igreja na graça. Por isso a carta aos Hebreus depois de falar do “direito da primogenitura” de Esaú, e tendo tirado dela certas conclusões para os leitores do Novo Testamento, acrescenta apenas algumas sentenças: “Mas tendes chegado … à Igreja dos Primogênitos inscritos nos céus” (Hb 12.22,23). E Tiago diz: “Segundo a Sua própria vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das Suas criaturas” (Tg 1.18).

A ênfase principal jaz não tanto na ordem do nascimento com respeito ao tempo, mas antes, à posição e dignidade. De outra forma seria impossível falar de um homem “se tornando o primogênito” (algo que acontece no Antigo Testamento) muito tempo depois do seu nascimento: “Ele me invocará dizendo: Tu és meu pai, meu Deus e a rocha da minha salvação. Fá-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da terra” (Sl 89.26-27). E o reverso não seria possível para alguém que, do ponto de vista do tempo, nasceu como primogênito, mas perdeu este direito de primogenitura numa ocasião posterior sob determinadas circunstâncias: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito, mas, por ter profanado o leito de seu pai, deu-se a primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que, na genealogia, não foi contado como primogênito. Judá, na verdade, foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o príncipe; porém, o direito da primogenitura foi de José)” (Rúben – 1Cron 5.1,2); “Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por uma refeição (prato de lentilhas), vendeu o seu direito de primogenitura” (Esaú – Hb 12.16,17).

O fato de que a idéia essencial de ser o “primogênito” está na prioridade da posição e não no acidente do nascimento, pode ser visto também nessa passagem: “De Hosa, dos filhos de Merari, foram filhos: Sinrim, a quem o pai constituiu chefe, ainda que não era o primogênito” (1Cron 26.10). Aqui nos é dito que numa certa família de Levitas um dos filhos, de nome Sinri, era o chefe, pois, “embora não fosse o primogênito, contudo seu pai o constituiu chefe”. A mesma verdade é a força de Colossenses 1.15. Ali Paulo diz que Cristo é “o Primogênito de toda a criação”; não que Ele tenha sido o primeiro a nascer no tempo declarando que Ele teve um princípio, mas sim que Ele tem a preeminência como Governador de todo o universo.

O grande perigo

Sem dúvida, o direito de primogenitura não é idêntico à filiação. Esaú permaneceu sendo filho de Isaque mesmo depois de ter sido rejeitado com respeito a herdar a benção da primogenitura. Na verdade, ele recebeu, a despeito da sua grande falha, uma espécie de segunda benção (Gn 27.38,40b; Hb 11.20). O relacionamento de vida para os primogenitura do Novo Testamento com o Pai celestial permanece e nunca será dissolvido, pois já passaram da morte para a vida (I Jo 3.14). Porém, num sentido espiritual, poderão passar por experiência semelhante à de Esaú.

A despeito de todas as riquezas podemos viver em pobreza espiritual. Nenhum fluir das abundâncias celestiais será evidente. Riqueza alguma interior resplandecerá para o exterior. Nenhuma alegria feliz da redenção se manifestará. Embora filhos de eterna alegria, podem viver tristes e deprimidos e, ao invés de desfrutar prazer e deleite em nosso bendito Senhor podemos olhar para trás cheios de anseio para as alegrias vãs e os bens deste mundo.

A despeito da posição sacerdotal podemos deixar de viver uma vida sacerdotal de oração! Pode não haver coração e mente de sacerdote. Nenhuma súplica amorosa! Nenhuma adoração sacerdotal de Deus em espírito e em verdade! E finalmente:

A despeito da nossa elevada e nobre chamada podemos viver praticamente como escravos. Toda mentalidade terrena é escravidão. Todo esforço pecaminoso para ganhar dinheiro ou bens terrenos faz do “rei” um “mendigo”. Qualquer preocupação é indigna de um rei. Todo o temor do homem é indigno de um filho do grande Pai e Soberano Celestial. Toda sensibilidade demasiada e o sentimento fácil de ser ferido e ofendido é mesquinho. É lamentável e primitivo. Na verdade, todo o serviço do pecado faz praticamente daquele que é designado para ser um governador, um servo rebaixado, e o pecado que na realidade está vencido, atua como se fosse o vencedor e como tal age como regente e tirano, quando na verdade o cristão é que deveria ser o vencedor.

Assim o crente embora pertencendo à igreja dos primogênitos, pode praticamente rejeitar seu direito de primogenitura. Ao invés de riquezas, pobreza interior; ao invés de separação, prática sacerdotal, separação de Deus; ao invés de reinado, real escravidão!

O grave erro

Esaú vivia por coisas visíveis e trocou por elas coisas espirituais; Esaú vivia por prazeres humanos e negociou as bençãos dadas por Deus; Esaú vivia sem disciplina e auto-controle e trocou sua posição de autoridade e honra; Esaú desprezou a promessa e oferta de dignidade que Deus lhe ofereceu e trouxe vergonha sobre si (Gn 27.37); Ele viveu para o seu próprio Ego e assim negociou a suprema vocação da sua família; ele viveu para o presente e trocou sua nobre comissão para o futuro; ele viveu para o momento transitório e deu em troca dele tesouros eternos.

Meu leitor, leia as sentenças acima outra vez e pergunte a si mesmo se não pode haver um reflexo da sua própria atitude e prática espiritual. Portanto, preste atenção à advertência desta passagem em Hebreus! Muita coisa está colocada na balança: ganho eterno glorioso ou perda irrecuperável. Naquele momento desastroso Esaú, às custas do futuro, escolheu o prazer do presente. Assim ele experimentou em sua própria vida o princípio da palavra do Senhor: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á” (Jo 12.25). “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26).

Por isso Paulo diz: “E também se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar legitimamente” (2Tim 2.5). O que significa “lutar legitimamente”, isto é, segundo as normas dos jogos? Significa transgredir as regras do jogo por algum truque para ganhar uma vitória fácil. Ele pode tentar encurtar a extensão da corrida fazendo atalhos. Do mesmo modo muitos hoje desejam ser cristãos reais, mas evitam o calor da batalha fazendo compromisso aqui e ali. Eles desejam atingir o alvo, mas pensam poder alcançá-lo pagando um preço mais baixo. Não nos enganemos neste assunto! Cristo Senhor espera nossa total devoção. Fora com todos os compromissos! Fora com todas as tentativas de tornar o caminho estreito um pouco mais largo e transitável! O Senhor busca o nosso coração por inteiroDe outro modo Ele não pode usar nosso serviço e não coroará os nossos esforços. A fim de conquistar a coroa eterna precisamos oferecer toda a nossa vida.

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Consolo Encorajamento Jonathan Edwards Vida cristã

Consolo a uma mulher de luto (Jonathan Edwards)

O que você diz para uma mulher cujo único filho acaba de morrer? Nada, em primeiro lugar. Nós choramos com os que choram. Mas, se eles pedem conselhos, há uma coisa acima de tudo o que podemos fazer.

Isto é o que Jonathan Edwards fez por seis páginas em uma carta de 1751 para Mary Pepperrell, cujo filho acabara de morrer. Aqueles que conhecem alguma coisa sobre a vida de Jonathan Edwards sabem que recentemente ele tinha sido jogado em grande tristeza – sendo retirado de maneira traumática do pastorado de sua igreja. Era um tempo de grande aflição pessoal. Mas ele fala para Mary Pepperrell:

“É terrível perder um filho. Mas nós vemos claramente, querida senhora, o quão rico e quão adequado é a disposição que Deus fez e providenciou para nosso consolo, em todas as nossas aflições, dando-nos um Redentor de tanta glória e tanto amor, especialmente, quando se considera, quais foram os fins dessa grande manifestação de beleza e amor na Sua morte.

“Ele sofreu para que pudéssemos ser assistidos. Sua alma estava profundamente triste até a morte para tirar o aguilhão da dor e para dar uma eterna consolação.

“Ele foi oprimido e afligido para que sejamos apoiados. Ele foi oprimido nas trevas da morte para que tenhamos a luz da vida. Ele foi lançado na fornalha da ira de Deus para que bebamos dos rios de Seus prazeres. Sua alma estava sobrecarregada com uma enxurrada de tristeza para que nossos corações sejam sobrecarregados com uma inundação de alegria eterna.

“A morte pode nos privar de nossos amigos e amados aqui, mas não pode nos privar de nosso melhor Amigo e do Amado de nossa alma […] Portanto, nisto podemos estar confiantes: embora a terra se mude, Nele vamos triunfar com alegria eterna.

“Agora, quando tempestades e tempestades surgem sucessivamente, podemos recorrer a Ele, que é um esconderijo contra a tempestade e um refúgio contra a tormenta devastadora. Quando a sede chega ao coração, nós podemos ir a Ele, que é como ribeiros de águas em um lugar seco. Quando estamos cansados, podemos ir até Ele, que é como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta […]”.

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A. W. Pink Disciplina Sofrimento

No deserto (Arthur W. Pink)

Todo cristão precisa passar pelo deserto

“Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur” (Êx 15.22). Quando Deus separa um povo para Si, não só é necessário que essas pessoas sejam resgatadas com “sangue precioso” e, então, aproximadas como adoradores purificados, mas também é parte do sábio propósito de Deus que elas devam passar pelo deserto antes de entrarem na herança prometida. Dois desígnios principais são assim cumpridos.

Em primeiro lugar, as provas e os testes do deserto tornam manifesto o mal do coração e a incurável corrupção da carne, e isso [aplicando a nós] a fim de que sejamos humilhados, para esconder a soberba de nós (Jó 33.17), e para que provemos por experiência que a entrada na herança está também e unicamente ligada à graça soberana, visto que não existe merecimento, sim, “bem algum” em nós (cf. Rm 7.18).

Em segundo lugar, conforme Jeová leva Seu povo para o deserto, vai com ele e faz com que Sua presença e Seu amor lhe sejam manifestos. Isso ocorre, pois é Seu propósito exibir Seu poder de salvar Seus remidos das conseqüências de suas falhas, e assim fazer da necessidade deles a oportunidade de derramar abundantemente sobre eles as riquezas de Sua graça. Somos, então, levados a ver não só Israel, mas Deus com eles e para eles no devastado e solitário deserto.

Julgamento e humilhação não são o fim que o Senhor dá (cf. Tg 5.11), mas são a ocasião para uma renovada exibição da longanimidade e da bondade do Pai. O deserto pode e irá manifestar a fraqueza de Seus santos e, infelizmente!, as falhas deles, mas isso é apenas para magnificar o poder e a misericórdia Daquele que os trouxe para o local de teste. Além disso, Deus tem em vista nosso bem-estar final, para que bem nos suceda (Dt 6.18), e, quando as provas crescem, quando nosso Deus fiel supre cada necessidade nossa, tudo, tudo será para Sua honra, Seu louvor e Sua glória.

Assim, o propósito de Deus em conduzir seu povo [redimido] pelo deserto era (e é) não só para que pudesse prová-lo (Dt 8.2-5), mas para que, no julgamento, Ele pudesse manifestar que era por eles ao suportar seus fracassos e suprir suas necessidades. O deserto, então, nos dá não só uma revelação de nós mesmos, mas também manifesta os caminhos de Deus.

“Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur” (Êx 15.22). Essa é a primeira vez que lemos sobre eles estarem no deserto. Que eles não tinham ainda realmente entrado deduz-se de 13.20: “Assim partiram de Sucote e acamparam-se em Etã, à entrada do deserto”. Mas agora eles “saíram ao deserto”. A conexão é muito impressionante e instrutiva. Foi sua passagem pelo mar1 que introduziu os redimidos de Deus no deserto. Sua viagem através do Mar Vermelho fala da união do crente com Cristo em Sua morte e ressurreição (Rm 6.3,4). Tipologicamente, estão agora sobre o terreno da ressurreição. Para que não perdêssemos a força disso, o Espírito Santo teve o cuidado de nos dizer que “Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur; e andaram três dias no deserto”. Aqui, como em muitas outras passagens2, os “três dias” falam da ressurreição (1Co 15.4).

No que diz respeito à vida espiritual, o mundo é simplesmente um deserto seco e desolado.

É somente quando a fé do cristão se apodera da união com Cristo em Sua morte e ressurreição, reconhecendo que é uma nova criatura Nele, que ele se torna consciente do deserto. Na mesma proporção em que apreendemos nossa nova posição diante de Deus e nossa porção em Seu filho, assim irá este mundo [esta era] torna-se para nós um deserto triste e desolado. Para o homem natural, o mundo oferece muito que seja atraente e sedutor, mas, para o homem espiritual, tudo nele é apenas “vaidade e aflição de espírito”. Para o olho do sentido há muito no mundo que seja agradável e prazeroso, mas os olhos da fé não vêem nada a não ser morte escrito por todo lado – “mudança e decadência em tudo a meu redor eu vejo3”. Há muita coisa que serve para “a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1Jo 2.16), mas absolutamente nada para a nova natureza. No que diz respeito à vida espiritual, o mundo é simplesmente um deserto seco e desolado.

O deserto é o lugar de viajantes jornadeando de um país para outro; ninguém, a não ser um louco, pensaria em fazer sua casa [eterna] lá. É exatamente assim que esse mundo é [enquanto estiver sob a maldição de Deus]. É o lugar pelo qual o homem viaja do tempo à eternidade. E a fé é o que faz a diferença entre os modos pelos quais os homens consideram este mundo. Os incrédulos, em sua maioria, estão contentes em permanecer aqui. Eles se estabelecem como se fossem ficar aqui para sempre – “O seu pensamento interior é que as suas casas serão perpétuas e as suas habitações, de geração em geração; dão às suas terras os seus próprios nomes” (Sl 49.11). Todo esforço é feito para prolongar sua vida terrena, e, quando finalmente a morte faz sua vindicação sobre eles, relutam em partir. Muito diferente é com o crente, o crente genuíno. Sua casa não está aqui. Ele olha para “a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb 11.10). Por isso, ele é um estranho e peregrino aqui (v. 13). É disso que o deserto fala. Canaã era o país que Deus havia prometido dar a Abraão e a sua descendência, e o deserto era simplesmente uma terra estranha através da qual eles passaram a caminho de sua herança.

“E andaram três dias no deserto e não acharam água” (Êx 15.22). Esta é a primeira lição que nosso deserto de vida é projetado para nos ensinar: não há nada aqui em baixo [durante esta era] que possa, de maneira alguma, suprir a vida que recebemos de Cristo. Os prazeres do pecado, as atrações do mundo, não mais satisfazem. As coisas que anteriormente nos encantavam, agora nós as repelimos. As companhias que costumávamos considerar tão agradáveis tornaram-se desagradáveis. As coisas que encantam os ímpios só nos fazem gemer. O cristão que está em comunhão com seu Senhor não encontra absolutamente nada em torno dele que refresque ou possa refrescar sua alma sedenta. Para ele, as cisternas rasas deste mundo [amaldiçoado] secaram. Seu grito será a do salmista: “Ó Deus, Tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei. A minha alma tem sede de Ti, a minha carne Te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água4” (Sl 63.1). Ah, eis o recurso do crente: somente Deus pode satisfazer os desejos de seu coração. Assim como ele inicialmente deu ouvidos às palavras de graça do Salvador – “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (Jo 7.37) –, assim deve continuar a ir a Ele, o único que possui a água da vida.

“Então chegaram a Mara. Mas não puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas; por isso chamou-se o lugar Mara” (Êx 15.23). Isso foi uma provação dolorosa, um verdadeiro teste. Uma jornada de três dias no deserto quente e arenoso sem encontrar qualquer água; e agora que ela é encontrada, é amarga!

Quantas vezes esse é o caso com o jovem crente, sim, e com o antigo também. Nós nos agarramos àquilo que pensamos que irá satisfazer, e só encontramos amarga decepção. Será que isso já não ocorreu? Você já experimentou os prazeres, ou as riquezas ou as honras do mundo, apenas para descobrir que eles são amargos. Você está convidado para uma festa alegre. Uma vez isso pode ter sido muito agradável, mas agora, como é amargo para o paladar da nova natureza! Quão totalmente decepcionado você volta para casa. Você colocou o coração em algum objeto dessa terra? Você tem permissão para obtê-lo, mas quão vazio ele é! Sim, o que você esperava que produzisse alguma satisfação só traz tristeza e vazio.”

(Charles Stanley)

Israel iria, a partir de agora, sentir a esterilidade e a amargura do deserto. Com que luz no coração os israelitas começaram a jornada através dele? Eles eram pouco preparados para o que estava a sua frente. Caminhar três dias e não encontrar água, e, quando a encontram, ela é amarga! Algo completamente diferente eles esperavam de Deus! Quão natural para eles, depois de experimentar a grande obra de libertação que Deus havia feito para eles, contar com Ele lhes provendo um caminho suave e fácil. Assim, também, é com os jovens cristãos. Eles têm paz com Deus e regozijam-se no conhecimento do perdão de pecados. Eles (ou nós) pouco antecipam as tribulações que estão diante de si. Não esperamos que as coisas sejam agradáveis aqui? Já não procuramos ser felizes neste mundo? E não fomos desapontados e desanimados, quando não encontramos água e aquela que há é amarga? Ah, entramos no deserto sem compreender o que ele é! Nós pensamos, se pensamos em tudo, que nosso gracioso Deus gracioso nos guardaria da tristeza. Ah, caro leitor, é na mão direita de Deus, não neste mundo, que há “delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

Seca e amargura são tudo o que podemos esperar do lugar que não possui Cristo

Como já dissemos, o deserto simboliza e retrata de forma precisa este mundo, e a primeira etapa da viagem faz antever o todo! Seca e amargura são tudo o que podemos esperar do lugar que não possui Cristo. Como poderia ser diferente? Será que Deus deseja que nos estabeleçamos e nos contentemos em um mundo que O odeia e que expulsou Seu Filho amado? Nunca! Aqui, então, está algo de vital importância para o jovem cristão. Deveríamos começar a jornada no deserto esperando nada além de carência. Se esperamos paz em vez de perseguição, que ele nos fará alegres em vez de causar-nos dor, decepção e desânimo por não satisfazer nossas expectativas, a frustração será nossa porção. Muitos cristãos experientes testemunharão que a maioria de suas falhas no deserto devem ser atribuído a seu começo com uma visão errada do que o deserto é. Facilidade e descanso não podem ser encontrados nele, e, quanto mais buscamos por eles, mais aguda será nossa decepção. A primeira etapa de nossa viagem deve proclamar a nós o que a verdadeira natureza da viagem é. É Mara.

As águas amargas podem se tornar doces!

“E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?” (Êx 15.24). Isso é muito solene. Três dias atrás, esse povo estava cantando; agora está murmurando. O louvor de antes dá lugar à queixa em Mara! Essa experiência era uma provação real, mas quão tristemente os israelitas falharam nela. Tal como antes, quando viram os egípcios caindo sobre eles em Pi-Hairote, agora, mais uma vez, menosprezam a Moisés por tê-los deixado em apuros. Eles pareciam ter esquecido completamente o fato de que tinham sido levados a Mara pela coluna de nuvem (13.22)! Sua murmuração contra Moisés era, na realidade, murmuração contra o Senhor. E assim é conosco. Cada queixa contra nossas circunstâncias, cada resmungar sobre o tempo, sobre a forma como as pessoas nos tratam, sobre os desafios diários da vida, é dirigido contra Aquele que “faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1.11). Lembre-se, caro leitor, que o que está aqui registrado da história de Israel é escrito “para aviso nosso” (1Co 10.11). Não é o mesmo perverso coração de incredulidade e a mesma vontade rebelde dentro de nós como os que estavam nos israelitas? Portanto, precisamos buscar sinceramente a graça para que sejamos subjugados e quebrantados.

E qual foi a causa de sua murmuração? Só pode haver uma resposta: seus olhos não estavam postos em Deus. Após as maravilhas do poder de Jeová que haviam testemunhado e a gloriosa libertação que haviam experimentado, era, para os israelitas era inequivocamente evidente que Deus era por eles e com eles. Mas, longe de reconhecerem isso, eles não parecem ter dado a Deus um único pensamento. Eles falam como se tivessem relacionamento apenas com Moisés. E não é, freqüentemente, assim conosco? Quando chegamos a Mara, não acusamos algum companheiro de ser o responsável por nossa porção tão difícil? Algum amigo em quem confiávamos, algum conselheiro cuja orientação nós respeitamos, algum braço de carne sobre o qual nos apoiamos falhou conosco, e nós o culpamos por causa das “águas amargas”!

“E ele clamou ao Senhor” (Êx 15.25). Moisés fez o que deveria ter feito: ele levou o assunto a Deus em oração. É para isto que nosso “Mara” serve: para nos conduzir ao Senhor. Eu digo “conduzir”, pois o trágico é que, na maioria das vezes, estamos tão sob a influência da carne que nos tornamos absorvidos pelas bênçãos de Deus em lugar de estarmos envolvidos com o próprio Abençoador. Talvez não deixemos totalmente de orar, mas sim que há muito pouco coração em nossas orações. É triste e solene, ainda que nem um pouco menos verdade, que é preciso um “Mara” para nos fazer clamar a Deus com seriedade.

“Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade para habitarem. Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia. […] Portanto, lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve quem os ajudasse. Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades. […] A sua alma aborreceu toda a comida, e chegaram até às portas da morte.   Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas dificuldades. […] Andam e cambaleiam como ébrios, e perderam todo o tino. Então clamam ao Senhor na sua angústia, e Ele os livra das suas dificuldades” (Sl 107.4,5,12,13,18,19,27,28). Infelizmente, isso é o que tantas vezes acontece com o escritor e com o leitor.

“E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces” (Êx 15.25). Moisés não clamou a Deus em vão. Aquele que proveu a redenção para Seu povo é o Deus de toda graça, e com infinita longanimidade Ele suportar Seu povo. A fé de Israel pode falhar e, em vez de confiar no Senhor para o atendimento de suas necessidades, deu lugar à murmuração; no entanto, Ele veio em seu socorro. Acontece o mesmo conosco. Como é verdade que Deus “não nos tratou segundo os nossos pecados nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades” (Sl 103.10). Mas em que base o Trino Santo trata tão ternamente Seu povo errante? Ah, não é bonito ver que, neste ponto também, nossa tipificação é perfeita: foi em resposta aos clamores de um mediador intercessor que Deus agiu. Em seu caráter oficial, Moisés é visto, durante toda a jornada, como aquele que se coloca entre Deus e Israel. Foi em resposta ao clamor dele que o Senhor veio socorrer Israel! E bendito seja Deus porque há também Aquele que vive “sempre para interceder” por nós (Hb 7.25), e, nesta base, Deus trata com ternura conosco quando passamos pelo deserto: “Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1Jo 2.1).

Quão dependentes somos do Senhor e quão cegos somos em nós mesmos!

A forma como a resposta de Deus veio nessa ocasião também é profundamente significativa e instrutiva. Ele mostrou a Moisés “uma árvore”. A árvore estivera lá, evidentemente, o tempo todo, mas Moisés não a viu, ou pelo menos não sabia de suas propriedades edulcorantes. Não foi até o Senhor lhe mostrasse a árvore que ele aprendeu da provisão da graça de Deus. Isso mostra quão dependentes somos do Senhor, e quão cegos somos em nós mesmos. De Hagar lemos: “E abriu-lhe Deus os olhos, e viu um poço de água” (Gn 21.19). Semelhantemente, em 2Reis 6.17 nos é dito: “O Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu”. Claramente, “o ouvido que ouve e o olho que vê, o Senhor os fez a ambos” (Pv 20.12)

E o que foi que o Senhor mostrou a Moisés? Foi uma árvore. E o que essa árvore, que adoçou as águas amargas, tipifica? Certamente é a pessoa e a obra de nosso bendito Salvador – os dois estão inseparavelmente ligados. Existem várias escrituras que O apresentam sob a figura de uma árvore. No primeiro salmo é dito que Ele “será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão e tudo quanto fizer prosperará” (v. 3). Novamente, em Cantares de Salomão 2.3, lemos: “Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar”. Aqui esta a segunda grande lição de nosso deserto-vida: nada pode adoçar o amargo cálice de nossas experiências terrenas, exceto repousar sob a sombra de Cristo! Sente-se a Seus pés, caro leitor, e você encontrará Seu fruto doce ao paladar, e Suas palavras mais doces do que o mel ou o favo de mel.

Mas a árvore também fala da cruz de Cristo: “Levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro5” (1Pe 2.24).

“A cruz de Cristo é o que faz doce para nós aquilo que é naturalmente amargo. É a comunhão de Seus sofrimentos (Fp 3.10), e o conhecimento disso desde o início [da vida cristã], que sofrimento não pode adoçar! [] Lembremo-nos de que os sofrimentos de que falamos são, portanto, os sofrimentos que são peculiares a nós como cristãos. Essa amargura de morte no deserto não é simplesmente a experiência do que cabe em sorte ao homem comum experimentar. Não é a amargura simplesmente de estar no corpo, de suportar os males de que, dizem, a carne é herdeira. É a amargura que resulta de estar ligado com Cristo em Seu próprio caminho de sofrimento aqui. “Se sofrermos com Ele também reinaremos com Ele” Mara, então, é adoçada por esta “árvore”: a cruz, a cruz de vergonha, a cruz que foi a marca do veredito do mundo a Ele: a cruz é a doçura das lutas. Se nós suportarmos vergonha e rejeição por Ele, como Dele, poderemos suportar, e a doce realidade de estar unidos a Ele faz Mara potável.”

(Mr. Grant)

Uma bela ilustração disso é dada em Atos 16. Ali vemos Paulo e Silas na prisão de Filipos; eles haviam sido cruelmente açoitados e depois jogados no calabouço mais profundo. Ei-los na escuridão, com os pés no tronco e as costas sangrando. Isso foi “Mara” para eles, sem dúvida. Mas o que eles estavam fazendo? Eles “cantavam louvores”, e cantaram tão vigorosamente que os outros presos os escutavam (v. 25). Aqui vemos a “árvore” adoçando as águas amargas. Como lhes era possível cantar nessas circunstâncias? Porque eles se alegraram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por “Seu nome” (5.41)! Assim, então, é como devemos usar a cruz em nossa vida diária: considerar nossas provações e aflições cristãs como oportunidade para ter comunhão com os sofrimentos do Salvador.

A obrigação de obediência nunca poderá ser extinta desde que Deus é Deus. A graça apenas estabelece, em uma base mais elevada, o que mais enfática e plenamente devemos a Ele como Suas criaturas redimidas.

“Ali lhes deu estatutos e uma ordenança e ali os provou. E disse: Se ouvires atento a voz do Senhor, teu Deus, e fizeres o que é reto diante de Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito” (Êx 15.25,26). É muito importante marcar o contexto aqui. Nada havia sido dito sobre os estatutos e mandamentos de Jeová enquanto eles estavam no Egito. Mas, agora que eles haviam sido redimidos, agora que tinham sido comprados para Deus, as reivindicações governamentais divinas são feitas sobre eles. O Senhor estava lidando com eles na maravilhosa graça. Mas a graça não é anarquia. A graça somente nos torna mais devedores a Deus. Nossas obrigações são aumentadas, não canceladas assim. A graça reina pela justiça, não às custas dela (Rm 5.21). A obrigação de obediência nunca poderá ser extinta desde que Deus é Deus. A graça apenas estabelece, em uma base mais elevada, o que mais enfática e plenamente devemos a Ele como Suas criaturas redimidas.

Este princípio percorre toda a Escritura e se aplica a todas as dispensações: a bênção é dependente da obediência. Israel seria imune às doenças do Egito somente enquanto desse ouvidos diligentemente à voz do Senhor, seu Deus, e fizesse o que era certo a Seus olhos! Mas vamos deixar esse ponto claro. A guarda de Seus mandamentos não tem nada a ver com nossa salvação [eterna]. Israel aqui já estava sob o sangue e tinha sido, tipologicamente, trouxe através da morte para o terreno da ressurreição. No entanto, agora o Senhor lembra os israelitas de Seus mandamentos e estatutos. Até que ponto, então, estão errados os que argumentam que a lei não tem nada a ver com os cristãos? É verdade, ela não tem relação com sua salvação [eterna]. Mas é necessária para a regulamentação de sua caminhada. Crentes, assim como os incrédulos, estão sujeitos ao governo de Deus. A falha em reconhecer isso, a falha em obedecer a Seus mandamentos, não nos fará perder nossa salvação [eterna], mas vai trazer sobre nós o castigo das pragas de nosso Pai justo (cf. Jo 17.25).

Uma expressão separada é usada para a sentença final de Êxodo 15.26: “Porque Eu sou o Senhor que te sara”. Isso tem sido usado por algumas pessoas bem-intencionadas, cujo zelo é “sem entendimento”. Elas têm destacado essa sentença da Escritura e reivindicado o Senhor como seu Curador. Com isso, elas querem dizer que, em resposta a sua fé que se apropria dessa palavra, Deus as cura de doenças sem o uso de ervas ou drogas. A partir disso, elas deduzem o princípio de que é errado para um crente recorrer a qualquer médico ou assistência médica. O Senhor é o médico delas, e é não confiar Nele consultar um médico humano. Mas, se essa escritura for examinada em seu contexto, vamos ver que ela, em vez de ensinar que Deus despreza o uso de meios na cura do Seu povo, Ele os emprega. As águas amargas de Mara não foram curadas por um “faça-se” peremptório de Jeová, mas por uma árvore jogada nelas! Assim, na primeira referência à cura na Bíblia, encontramos Deus escolhendo deliberadamente empregar meios para a cura e a saúde de Seu povo. Da mesma forma, ele abençoou Eliseu na utilização de meios (sal) na cura das águas em 2Reis 2.19-22. Do mesmo modo, Deus instruiu seu servo Isaías a usar um meio (um cataplasma de figo) na cura de Ezequias. Assim também em Salmos 104.14, lemos: “Faz crescer a erva para o gado e a verdura para o serviço do homem, para fazer sair da terra o pão”. Então, lemos o apóstolo Paulo exortando Timóteo a tomar um pouco de vinho por causa do estômago (1Tm 5.23). Mesmo na nova terra, Deus usará meios para curar o corpo das nações que viveram o milênio sem morrer e serão ressuscitadas em corpos glorificados: “As folhas da árvore são para a saúde [cura] das nações” (Ap 22.2).

“Então vieram a Elim, e havia ali doze fontes de água e setenta palmeiras; e ali se acamparam junto das águas” (Êx 15.27). Isso não entra em conflito com nossas observações sobre os versos anteriores. Elim é o complemento a Mara, e isso será mais evidente se observarmos sua ordem. Em primeiro lugar, as águas amargas de Mara adoçadas pela árvore; em seguida, os poços de água pura e as palmeiras para sombra e refresco. Certamente a interpretação é óbvia: quando estamos caminhando em comunhão com Cristo e o princípio de Sua cruz é fielmente aplicado a nossa vida diária, não só a amargura do sofrimento por amor a Ele é adoçada, como entramos nas puras alegrias puras que Deus provê para os Seus, mesmo aqui em baixo. Elim, portanto, fala da satisfação que Deus dá aos que estão caminhando com Ele em obediência. Essa alegria de coração, essa satisfação de alma, chega a nós por meio do ministério da Palavra – daí a importância dos doze poços e das setenta palmeiras, os próprios números selecionados por Cristo ao enviar Seus apóstolos (ver Lc 9.1–10.1). O Senhor quis garantir que, assim que atendamos à lição de Mara, Elim será nossa alegre porção.

Notas

1 Que prefigura o batismo cristão (1Co 10.2). (N. do E.)

2 Compare Os 6.2 – “Ao terceiro dia [ou seja, depois de três milênios, 2Pe 3.8] nos [Israel] ressuscitará”; “Ao terceiro dia [o terceiro dia milenar] nos ressuscitará, e viveremos diante Dele [na presença de Cristo] – com At 7.5: “E [Deus] não lhe [a Abraão] deu nela [na terra de Canaã] herança, nem ainda o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela, e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele ainda filho”. Essa promessa só pode cumprida por Deus no momento da ressurreição de Abraão. Tenha em mente que Abraão esta naquela seção bendita do Hades/Sheol chamada Paraíso (Lc 23.43. Cf. 16. 23,26,30,31; Mt 16.18), aguardando o retorno de Cristo e o tempo de sua ressurreição (1Ts 4.15,16. Cf. Jo 14.3; Hb 11.39,40; Ap 6.9-11). (N. do E.)

Obs.: A nota acima é do editor original do presente artigo. Porém, o tradutor desta versão em português não concorda em que todos os “dias” da Bíblia devam ser interpretados doutrinariamente à luz de 2Pe 3.8. É meu entendimento que Pedro não está fazendo uma afirmação acerca da cronologia da Bíblia, mas apenas destacando a diferença entre a avaliação de tempo feita pelo homem e a feita por Deus, que está fora do tempo. Concordo que a referência a “três dias” sempre aponte, de uma forma ou outra, à ressurreição; no entanto, tenho restrições ao uso de 2Pe 3.8 nesse contexto. Essa observação, porém, não compromete, de modo algum, a aplicação geral feita pelo autor.

3 Verso do hino “Abide With Me” (Comigo habita), letra de Henry F. Lyte (1847), música, Eventide, de William H. Monk (1861).

4 O título inspirado (que faz parte do texto da Bíblia) deste salmo é: Salmo de Davi quando estava no deserto de Judá. (N. do T.)

5 A palavra grega ξυλου, traduzida aqui por madeiro, é traduzida também por varapaus (Mt 26.47 e outros), tronco (At 16.24), madeira (1Co 3.12) e árvore (Ap 2.7; 18.12; 22.2,14). Em inglês, nessa frase, cruz e madeiro são a mesma palavra. (N. do T.)

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Consolo Sofrimento Thomas Watson Vida cristã

A aflição coopera para o bem do homem piedoso (Thomas Watson)

Algo que nos aquieta o coração é considerar que, em todas as aflições, Deus está operando de forma especial: “O Todo-Poderoso me tem feito mal” (Rt 1.21). Instrumentos não podem mais se mexer até que Deus ordene, da mesma forma que um machado não pode cortar sem uma mão. Jó viu Deus em sua aflição, mas, como Agostinho observa, ele não diz: “O Senhor deu e o diabo tirou”, mas: “O Senhor tirou”. Seja quem for que nos traz aflição, é Deus quem a envia.

Outra consideração que nos aquieta o coração é que as aflições cooperam para o bem. “Eu os enviei para o cativeiro para o seu próprio bem” (Jr 24.6). O cativeiro de Judá na Babilônia foi para seu bem. “Foi-me bom ter sido afligido” (Sl 119.71). Que esse texto, como a vara de Moisés lançada nas águas amargas da aflição, as faça doces e salutares para que você as beba.

Aflições são medicinais para o homem piedoso. Da droga mais venenosa, Deus extrai nossa salvação. Aflições são tão necessárias quanto as ordenanças (1Pe 1.6). Nenhum vaso pode ser feito de ouro sem fogo; assim é impossível que sejamos vasos de honra, a não ser que sejamos derretidos e refinados na fornalha da aflição. “Todas as veredas do Senhos são misericórdia e verdade” (Sl 25.10). Assim como o pintor mistura cores claras com sombras escuras, o sábio Deus mistura misericórdia com julgamento. Aquelas providências aflitivas que parecem ser prejudiciais são benéficas.

Vamos ver alguns exemplos das Escrituras:

Os irmãos de José o jogaram em um poço; posteriormente eles o venderam; depois foi jogado numa prisão. No entanto, tudo isso cooperou para seu bem. Sua humilhação causou seu progresso: ele se tornou o segundo homem no reino. “Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem” (Gn 50.20).

Jacó lutou com o anjo, e a junta de sua coxa foi deslocada. Isso foi triste, mas Deus o tornou em bem, pois lá ele viu a face de Deus e lá o Senhor o abençoou. “Aquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: “Tenho visto a Deus face a face” (Gn 32.30). Quem não estaria disposto a ter um osso deslocado para poder ter uma visão de Deus?

O rei Manassés foi amarrado em cadeias. Foi algo triste de se ver: uma coroa de ouro se transformou em grilhões. Mas isso cooperou para seu bem. “Assim o Senhos trouxe sobre eles os capitães do exército do rei da Assíria, os quais prenderam a Manassés com ganchos e, amarrando-o com cadeias, o levaram para babilônia. E ele, angustiado, orou deveras ao Senhor, seu Deus, e humilhou-se muito perante o Deus de seus pais; e fez-lhe oração, e Deus se aplacou para com ele, e ouviu a sua súplica e tornou a trazê-lo a Jerusalém, ao seu reino. Então conheceu Manassés que o Senhor era Deus” (2Cr 33.11-13). Ele era mais devedor a sua cadeia de ferro do que a sua coroa de ouro. Uma o fez orgulhoso, a outra o fez humilde.

Jó foi um espetáculo de miséria; ele perdeu tudo que sempre teve; ele abundou somente em feridas e úlceras. Foi algo triste, mas isso cooperou para seu bem: sua virtude foi provada e melhorada. Do céu Deus deu testemunho de sua integridade, e compensou sua perda dando-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra (Jó 42.10).

Paulo foi atingido por uma cegueira. Foi algo desconfortável; mas isso se tornou em bem para ele. Deus, pela cegueira de Paulo, fez com que a luz da graça brilhasse em sua alma. Isso foi o começo de uma feliz conversão (At 9).

Assim como as duras geadas no inverno trazem as flores na primavera, assim como a noite precede a estrela da manhã, assim os males da aflição produzem muito bem para aqueles que amam a Deus. Mas estamos prontos a questionar a veracidade disso e dizer, como Maria disse ao anjo: “Como pode ser isso?”

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Humildade Jonathan Edwards Vida cristã

Humildade (Jonathan Edwards)

Humildade deve ser definida como um hábito da mente e do coração correspondente a nossa comparativa indignidade e vileza diante de Deus, ou um senso de nossa própria miséria a Sua vista, com a disposição de um comportamento que corresponda a isso.

E um homem verdadeiramente humilde é consciente da diminuta extensão de seu próprio conhecimento, da grande extensão de sua ignorância e da insignificante extensão de seu entendimento comparado com o entendimento de Deus. Ele é consciente de sua fraqueza, de quão pequena sua força é e de quão pouco ele é capaz de fazer. Ele é consciente de sua distância natural de Deus, de sua dependência Dele, da insuficiência de seu próprio poder e sabedoria; e de que é pelo poder de Deus que ele é sustentado e guardado; e de que ele necessita da sabedoria de Deus para lhe conduzir e guiar, e de Seu poder para capacitá-lo a fazer o que deve fazer para Deus.

A humildade tende a nos prevenir de um comportamento ambicioso e pretensioso diante dos homens. O homem que está sob a influência de um espírito humilde está satisfeito com a posição que Deus lhe deu entre os homens, e não está ávido por honra nem é atingido com o desejo de ser o mais brilhante e de se exaltar acima de seus vizinhos. A humildade também tende a nos prevenir de um comportamento arrogante e insolente. Pelo contrário, a humildade dispõe uma pessoa a um comportamento condescendente de mansidão e insignificância e a uma submissão cortês e afável, como sendo consciente de sua própria fraqueza e depreciabilidade diante de Deus.

Se nós, então, nos consideramos seguidores do manso e humilde e crucificado Jesus, andaremos humildemente diante de Deus e dos homens todos os dias de nossa vida na terra.

Busquemos todos, ardentemente, um espírito humilde e nos esforcemos [na graça] para sermos humildes em todo nosso comportamento diante de Deus e dos homens. Busque por um profundo e permanente senso de sua miséria diante de Deus e dos homens. Conheça a Deus. Confesse sua nulidade e desgraça diante Dele. Desconfie de si mesmo. Conte somente com Deus. Renuncie a toda glória, exceto a Dele. Renda-se à vontade e ao serviço Dele. Evite um comportamento pretensioso, ambicioso, ostentoso, insolente, arrogante, desdenhoso, teimoso, impetuoso e auto-justificador; e aspire mais e mais do espírito humilde que Cristo manifestou quando esteve na terra. Humildade é o traço mais essencial e distinguidor em toda verdadeira piedade.

Ardentemente procure, então, e diligentemente e em oração cultive um espírito humilde, e Deus andará com você aqui embaixo. E quando uns poucos dias tiverem passado, Ele o receberá às honras concedidas a Seu povo à destra de Cristo.

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Amor a Deus George Mattheson

A nova luz e a antiga paz (George Mattheson)

A chegada de nova luz é sempre a quebra da antiga paz. Sempre falamos em ficar cansados das coisas. Quando isso acontece, você pode estar certo de que é porque uma coisa nova chegou. Não é a inconstância que torna uma criança cansada de seu brinquedo, mas é a visão de algo mais elevado. Toda a inquietação nasce de uma visão mais nítida.

Eu não tenho dúvida de que, para João, Patmos era absolutamente suportável até que ele divisou a Nova Jerusalém. Quando ele contemplou um mar de vidro, começou a desejar que não houvesse mais um mar de água; mas antes daquela ocasião ele provavelmente estava bem satisfeito com a água.

Quão pequenas e apertadas podem lhe parecer as ruas de sua cidade quando você volta da grande metrópole. Antes de sua ida elas pareciam esplêndidas, amplas e espaçosas; mas um minuto de Londres é o suficiente para colocá-las na sombra. Assim acontece com a cidade de Cristo: ela me inutiliza para tudo o mais. No momento em que descanso meus olhos nela, não posso pousá-los em nada mais. Ela transforma meus palácios em choupanas; ela abate minhas montanhas. As coisas que para mim eram ganho considero como perda na presença de tão excelente glória. Eu posso até mesmo ser mais facilmente entristecido que antes; mas, por amor a Deus devo aceitar isso.

A inquietação de um homem é proporcional a seu padrão. Aquele que nada conhece das profundezas tranqüilas de Deus pode estar contente com o balançar das ondas; mas o homem que contemplou o mar de vidro não deseja outro mar, e almejará ardentemente pelo tempo em que não mais haverá tempestade.

Esta, ó Filho do Homem é a cruz que Tu me trazes.
Não posso fugir dessa cruz.
Não posso contemplar a Ti, sem ficar desencantado com o mundo.
Antes de Tua vinda eu estava em paz.
Tudo era perfeito para mim.
Eu dizia: “É bom estar aqui; deixe-me construir meu tabernáculo neste lugar”.
Mas, com Tua vinda, a nuvem baixou.
Tudo o que era meu ficou coberto pela sombra irremediável.
Meus cômodos amplos pareceram pequenos;
meu ouro escureceu;
minhas canções deixaram de me inspirar;
faltou algo em meus livros;
meus divertimentos me deixaram sedento;
minhas ambições foram mais frustrantes onde mais plenamente se realizaram.

Deveria eu estar sem minha cruz? Absolutamente.
Considero os dias passados melhores do que estes? Sim; como um bruto avalia o que é melhor.
Eles não tinham sombra porque não tinham luz.
Tu trouxeste as sombras porque trouxeste a luz.
Tu revelaste a mortalidade por meio da imortalidade.
Tu me mostraste a noite fazendo-me ver o dia.
Tu me ensinaste o silêncio pela música.
Tu me instruíste quanto ao espinho pelo desabrochar da rosa.
Tu me fizeste conhecer o defeito pela visão de Tua formosura.
Tu, por Tua vida, me tens ensinado o que é estar morto.
Tu me deste uma visão da terra mediante os portões do céu.
É o esplendor da Tua vinda que tem consumido meus insignificantes raios luminosos;
minha espada foi vencida por Tua paz.

(Fonte: livro Thoughts for life´s Journey [Pensamentos para a jornada da vida])

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Autores Oração Sofrimento Watchman Nee

Não há lugar para pressa na fé (Watchman Nee)

Lembremo-nos de que não há lugar para pressa na fé nem na oração. A fé resiste ao tempo. Se Deus não responder, podemos esperar até que tenhamos cem anos de idade. Esperamos contra a esperança. Abraão creu em Deus (Rm 4.18).

Eliseu disse ao rei Jeoás que atirasse a flecha contra a terra, mas o rei fez assim apenas três vezes, ao passo que teria podido ferir os siros até os consumir (veja 2Rs 13.14-19). Assim também é nossa oração: não devemos orar duas ou três vezes e parar.

Um servo do Senhor disse certa vez: “Orar é como colocar cartões de visita em uma balança. Você coloca um peso de 100 gramas em um dos pratos da balança, e vai colocando cartões no outro. Quando se lança aqui o primeiro cartão, este não consegue levantar o peso de 100 gramas. Cartão após cartão é colocado, mas sem afetar o peso. Daí, talvez, no exato momento em que lançar o último cartão, o peso do outro lado é finalmente erguido. Assim também acontece com a oração. Oramos uma, duas, três vezes, e uma vez mais. Talvez seja esta nossa última oração, mas então vem a resposta.”

Pregar é proclamar aquilo que Deus tratou em sua vida. De outra forma, pregue o que pregar, você não conseguirá levar outras pessoas até aquele ponto. Há tantas pregações hoje com tão pouco resultado porque os próprios pregadores não aprenderam mediante o tratamento de Deus. É melhor não abrirmos a boca se tudo o que pregarmos for mero ensinamento – o resultado de duas ou três horas de preparo de um sermão. Precisamos experimentar de três a cinco anos de atuação de Deus em nossa vida antes de estarmos aptos a pregar.

Se tratarmos de algumas coisas que acontecem todos os dias, estaremos qualificados a tratar com pessoas que tenham os mesmos problemas. Você sabe a diferença entre fazer sermão e testemunhar? Fazer sermão não ajuda, mas testemunhar, sim. Podemos preparar um sermão que receba a aprovação dos homens, e no entanto não conseguir fazer que as pessoas prossigam vitoriosamente em seus caminhos, por não terem em que se apoiar. É como uma criança na escola primária que tenta escrever um relato sobre uma viagem que nunca realizou. Não é isso que acontece com o testemunho. Ao testemunhar, a pessoa estará descrevendo uma situação verdadeira – como se estivesse mostrando aquilo de que está falando. Talvez não fale bem, mas não falará errado, pois está descrevendo uma cena real, visível e palpável.

Portanto, no trabalho entre crentes como entre não-crentes, uma questão de grande importância para nós é a de lidarmos com Deus. Somente é real aquilo a respeito do que tenhamos tido tratamento; e é isso que vai tocar as pessoas quando falarmos.

Irmãos, há dezenas de milhares de coisas que exigem o toque de Deus hoje. Quão lastimável que tenhamos, até agora, ignorado tantas coisas sem termos jamais recebido os tratamentos de Deus! Se aprendermos a aceitar os caminhos de Deus para nós, todos os dias, aprenderemos a conhecê-Lo após algum tempo. Muitos crentes correm para lá e para cá a fim de ouvir pessoas e perguntar a elas, mas não buscam o Senhor por si mesmos. Não admira que ainda não conheçam o Senhor mesmo após terem sido salvos há tantos anos. Que lamentável é esse estado de coisas!

Deveríamos perguntar a Deus o que fazer quanto a todas questões. Deveríamos buscar até conhecer a vontade divina. Não devemos somente orar uma vez e parar. Repito: se for orar somente uma vez, seria melhor desistir de orar de vez.

Para concluir, então, deixem-me dizer que crentes preguiçosos jamais podem esperar conhecer a Deus. Que aprendamos diariamente a tratar com Deus bem como a ser tratados por Ele. Essas experiências são extremamente preciosas. Há mais valor em conhecermos a Deus do que em termos conhecimento intelectual da Bíblia.

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Amor a Deus Andrew Murray Citações Gotas de orvalho J. C. Ryle Jonathan Edwards Pecado Robert Murray MacCheyne Soberania Thomas Brooks

Gotas de Orvalho (38)

Orvalho do céu para os que buscam o Senhor!

É melhor ser podado para crescer do que ser cortado para queimar.

(John Trapp)

O pecado começa como teia de aranha, mas torna-se uma camisa de força.

(J.C.Ryle)

Deleitar-se [em Deus] é a única alegria capaz de satisfazer a alma. Ir para o céu e desfrutar o Senhor de modo pleno é infinitamente melhor do que as coisas mais agradáveis aqui da terra. Pais e mães, marido, esposa ou filhos, ou, ainda, a companhia de amigos terrenos não passam de sombras, mas Deus é a substância. Essas coisas são apenas raios dispersos; Deus é o Sol. Elas são apenas córregos; Deus é o oceano.

(Jonathan Edwards)

É, portanto, morrendo para todas as coisas, e estando verdadeiramente desatentos a elas, seguindo adiante em direção a Deus, e existindo somente Nele, que chegamos a algum conhecimento da verdadeira sabedoria. Oh, quão pouco se sabe de Seus caminhos e de Sua conduta para com Seus servos eleitos!

(Madame Guyon)

Deus deu Cristo, Seu Filho para nos trazer para Si mesmo. Mas isso somente é possível quando vivemos em estreita comunhão com Jesus Cristo. Nosso relacionamento com Cristo repousa em Seu amor terno, profundo, por nós. Não somos capazes, por nós mesmos, de render-Lhe esse amor. Mas o Espírito Santo fará a obra em nós. Para isso, precisamos nos separar do mundo cada dia e nos voltarmos em fé para o Senhor Jesus, para que Ele possa derramar abundantemente Seu amor em nosso coração, de tal modo que sejamos cheios de um grande amor por Ele.

(Andrew Murray)

Se o amor de Cristo por nós foi o meio usado pelo Espírito Santo no princípio para nos atrair ao serviço de Cristo, é também pelo mesmo meio que Ele nos leva a perseverar até o fim. Assim, se você de vez em quando passa por tempos de frieza e indiferença e começa a ficar cansado, ou retarda-se no serviço de Deus, aqui está o remédio: olhe novamente para o Salvador ensangüentado! Esse Sol da justiça é o grande pólo magnético ao redor do qual todos os Seus santos se movem rapidamente e em suave e harmoniosa união. Enquanto o olhar do crente está fixado no amor de Cristo, seu caminho é livre e desimpedido, pois aquele amor sempre constrange. Mas, se desviar o olhar de fé, o caminho se torna impraticável e a vida de santidade, um cansaço. Portanto, quem quiser viver uma vida de santidade perseverante, deve manter os olhos fixos no Salvador.

(Robert Murray M’Cheyne)

Nada que este mundo pode oferecer tem algum poder para livrar os crentes do mal ou para fazer-lhes o bem. A maior soma de dinheiro deste mundo não pode, por si só, curar uma pessoa doente. Ser poderoso ou famoso não pode dar a certeza de que a pessoa é feliz. Poder, fama ou dinheiro não ajudará em tempos de necessidade espiritual.Então, por que os crentes deixariam que essas coisas os afastassem da benção do céu? A verdadeira felicidade não é encontrada em desfrutar as coisas desta vida. A verdadeira felicidade é tão grande e gloriosa que só pode ser encontrada em Deus. Ter conhecimento de Deus é a melhor experiência que qualquer cristão pode adquirir.

(Thomas Brooks)