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A. W. Pink Encorajamento

Consolo nas aflições, sofrimentos compensados (A. W. Pink)

Ah, alguém diz, que essa passagem deve ter sido escrita por um homem que não conhecia o sofrimento, ou por alguém familiarizado com nada mais do que as leves irritações da vida. Não é isso. Estas palavras foram escritas sob a direção do Espírito Santo, e por alguém que bebeu profundamente do cálice do sofrimento, sim, por alguém que sofreu aflições em suas formas mais intensas. Veja o seu próprio testemunho: “Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo;  Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez” (2 Coríntios 11:24-27).
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. Esta, então foi a firme convicção, não de alguém “favorito da sorte”, não de alguém que encontrou na jornada da vida um caminho atapetado, rodeado com rosas, mas, ao contrário, de alguém que foi odiado por seus parentes, que foi muitas vezes espancado, que sabia o que era ser privado não só do conforto, mas também das necessidades básicas da vida. Como, então explicar o seu alegre otimismo? Qual foi o segredo da sua dignidade sobre seus problemas e provações?
A primeira coisa com a qual o apóstolo penosamente provado consolou-se era que os sofrimentos do cristão são de curta duração – que estão limitados ao “tempo presente”. Isto está em nítido e em solene contraste com sofrimentos dos que rejeitam a Cristo. Seus sofrimentos serão eternos: para sempre atormentados no Lago de Fogo. Mas muito diferente é para o crente. Seus sofrimentos são restritos a esta vida na Terra, que é comparado a uma flor que sai e é cortada, a uma sombra que foge e não permanece. Uns poucos anos no máximo, e vamos passar deste vale de lágrimas para aquele país abençoado, onde lamentos e choros nunca mais serão ouvidos.
Em segundo lugar, o apóstolo olhou além, com os olhos da fé para “a glória”. Para Paulo “a glória” era algo mais do que um sonho lindo. Era uma realidade prática, exercendo uma poderosa influência sobre ele, consolando-o nas horas mais críticas e difíceis da adversidade. Este é um dos verdadeiros testes da fé. O cristão tem um sólido suporte na hora da aflição, quando o incrédulo não tem. O filho de Deus sabe que na presença do Pai “há fartura de alegria”, e que à sua mão direita “há delícias perpetuamente”. E a fé se apodera deles, apropria-se deles, e vive na alegria reconfortante deles até agora. Assim como Israel no deserto foi encorajado por uma visão do que os esperava na terra prometida (Nm 13:23,26), assim, aquele que hoje caminha pela fé, e não por vista, contempla o que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, mas o que Deus pelo Seu Espírito Santo tem revelado a nós (1 Cor. 2:9,10).
Em terceiro lugar, o apóstolo se regozijou “com a glória que em nós há de ser revelada”. Tudo isso significa que ainda não somos capazes de ter uma compreensão plena dessas coisas. Mas mais do que uma dica foi concedida a nós. Haverá:
(a) A “glória” de um corpo perfeito. Naquele dia esta corrupção se revestirá da incorruptibilidade, e isto que é mortal, da imortalidade. O que foi semeado em ignomínia será ressuscitado em glória, e o que foi semeado em fraqueza será ressuscitado em vigor. Assim como trouxemos a imagem do terreno, devemos trazer também a imagem do celestial (1 Coríntios. 15:49). O conteúdo dessas expressões é resumido e amplificado em Filipenses 3:20,21: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”.
(b) Haverá a glória de uma mente transformada. “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Cor 13:12). Oh, que envolvimento de luz intelectual com que cada mente será glorificada! Que faixa de luz vai envolvê-la! Que capacidade de entendimento vai deleitá-la! Então todos os mistérios serão desvendados, todos os problemas resolvidos, todas as discrepâncias reconciliadas. Então cada verdade da revelação de Deus, cada evento de Sua providência, cada decisão de seu governo, ficará ainda mais transparentemente clara e resplandecente como o próprio sol. Você, em sua busca presente pelo conhecimento espiritual, lamenta a escuridão da sua mente, a fraqueza de sua memória, as limitações de suas faculdades intelectuais? Então nos regozijemos na esperança da glória que está para ser revelada em você – quando todos os seus poderes intelectuais serão renovados, desenvolvidos, aperfeiçoados, de modo que você conhecerá como você é conhecido.
(c) Melhor de tudo, haverá a glória da santidade perfeita. A obra da graça de Deus em nós, então, será completada. Ele prometeu que aperfeiçoará “o que me toca” (Salmo 138:8). Então será a consumação de pureza. Fomos predestinados para sermos “conformes à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29), e quando O veremos “seremos semelhantes a ele” (1 João 3:2). Então, nossas mentes não serão mais contaminadas por imaginações do mal, nossas consciências não serão mais manchadas por um sentimento de culpa, nossas afeições não serão mais enganadas por objetos indignos. Que perspectiva maravilhosa é esta! A “glória” que será revelada em mim agora dificilmente pode refletir um raio solitário de luz! Em mim – tão desobediente, tão indigno, tão pecador, vivendo tão pouco em comunhão com Aquele que é o Pai das luzes! Pode ser que em mim esta glória seja revelada? Assim afirma a infalível Palavra de Deus. Se eu sou um filho da luz por estar “nele”, que é o resplendor da glória do Pai, mesmo que agora habite em meio a tons escuros do mundo, um dia irei ofuscar o brilho do firmamento. E quando o Senhor Jesus retornar a esta terra ele deve ser “admirável naquele dia em todos os que creem” (II Tes. 1:10).
Finalmente, o apóstolo aqui pesa o “sofrimento” do tempo presente em oposição a “glória”, que deverá ser revelada em nós, e como ele declarou que uma “não é digna de ser comparada” com a outra. Uma é transitória, outra é eterna. Como, então, não há proporção entre o finito e o infinito, não há comparação entre os sofrimentos da terra e a glória do céu. Um segundo de glória superarão uma vida de sofrimento. O que são os anos de labuta, de doença, de lutar com a pobreza, de tristeza em qualquer forma, quando comparados com a glória da terra de Emanuel! Beber do rio da vida na mão direita de Deus, uma respiração no paraíso, um instante em meio ao sangue lavado ao redor do trono, será mais do que compensador do que todas as lágrimas e gemidos da terra.  “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”.
Que o Espírito Santo permita que tanto o escritor quanto o leitor se agarrem a isso e apropriem-se com fé e vida na posse presente e gozo disso para o louvor da glória da graça divina.
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O fundamento da Igreja e a fé (Mauro Meister)

Em Mateus 16 temos a narrativa de um diálogo entre Jesus e seus discípulos durante um “retiro espiritual” que fizeram pelas “bandas de Cesaréia de Filipe” (v. 13). Afastado das multidões, das controvérsias com os fariseus e outros adversários, das tremendas demandas diárias que recebia de todos à volta, o Senhor chama aqueles que estavam mais próximos à reflexão, para lhes mostrar alguns dos fundamentos sobre os quais a “sua igreja” seria continuada e firmada na face da terra.
Com a excelência da pedagogia que sempre é evidente nos Evangelhos, nosso Senhor começa a sua lição sobre os fundamentos da Igreja com uma pergunta que vai levar a uma outra: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”.  Certamente, o simples invocar do nome “Filho do Homem” já faria com que os discípulos refletissem a respeito das mais diversas conversas e discussões acaloradas, tidas depois das leituras dos textos da Torá aos sábados na Sinagoga. Quem é o “Filho do Homem” segundo os Salmos ou o Daniel, ou mesmo na forma como a expressão é empregada para chamar o profeta Ezequiel?  Quem é esse a quem tanto esperamos, era a pergunta no ar?
A resposta estava pronta, mostrando que havia algumas principais correntes de interpretação entre os doutos, correntes essas que se espalhavam na opinião do povo: João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas… (v. 14). Mal sabia o povo que o Filho do Homem já andava entre eles a cerca de 30 anos, e pouquíssimos o reconheceram, dentre eles, alguns cegos, exatamente para mostrar que o real problema da humanidade não é a cegueira física, mas a cegueira espiritual.
Continuando com a sua sutil e certeira pedagogia, Jesus faz, então, a pergunta que realmente interessa: “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?” (v. 15). Observe que a associação é imediata: “o Filho do Homem” e quem “eu sou”.  Aqui está a primeira lição direta: Jesus é o Filho do Homem anunciado no Antigo Testamento.
Como é usual, Pedro sai na frente ao dar a resposta. É peculiar de Pedro adiantar-se em falar e agir. E a resposta de Pedro é direta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). A resposta é carregada de conceitos teológicos fundamentais que são trazidos pelos textos da Lei, dos Salmos e dos Profetas. Em resumo, Pedro faz uma associação teológica dizendo que o Filho do Homem é o mesmo Messias, que é o Cristo e que este mesmo é o Filho do Deus vivo, e, afinal, era este homem que estava diante dos seus próprios olhos na região de Cesaréia de Filipe. A partir desta realidade, aprendemos alguns importantes princípios no diálogo que se desenvolve.
Princípio da Revelação
Na resposta do diálogo, Jesus mostra, então, o primeiro grande fundamento sobre o qual a sua igreja está firmada: a iluminação do Espírito Santo sobre a Revelação, ou como chamarei aqui, o Princípio da Revelação.  O Senhor Jesus diz que não foi carne ou sangue que fizeram Pedro reconhecer esta verdade revelada nas Escrituras e agora exposta diante de seus próprios olhos, mas o próprio Deus. Esta é uma das fundamentais diferenças entre o cristianismo e outras religiões. A revelação que vem da parte de Deus e que corresponde à realidade dos fatos. Jesus é aquele que a Escritura diz que ele é. Jesus é aquele que ele mesmo diz ser. Jesus é aquele que Deus diz ser! Temos aqui três ideias básicas. Primeiro, que a revelação passada se cumpre em Cristo, afinal, ele é o Messias prometido. Segundo, que a revelação presente, na encarnação do Filho do Deus vivo, é superior. Não no sentido de que a revelação anteriormente dada fosse imperfeita, mas agora, ela é completa e plena. Tudo o que Deus quis revelar, mostrou-nos no seu Filho (Hb 1.3; Jo 1.18). E terceiro, aprendemos que a iluminação individual é fundamental. O verso 17 nos ensina que Deus revelou a Pedro esta verdade. Os escribas, fariseus e todos os estudiosos da época tinham as mesmas fontes que Pedro tinha, mas foi Pedro quem conectou os pontos da revelação passada com a revelação presente diante dos seus olhos. Esta mesma verdade é viva hoje quando, pela iluminação do Espírito Santo, percebemos na Escritura a verdade de Deus. Crer na revelação da Palavra de Deus é uma bem-aventurança: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas”. Sobre esta revelação é que a fé da Igreja deve ser fundamentada.
Princípio da Edificação
A resposta de Jesus a Pedro começou com uma troca de palavras: você disse que eu sou o Cristo, e eu digo, Simão Barjonas (Simão filho de Jonas), que você é pedra (o significado do apelido de Simão, Pedro). Jesus usa deste trocadilho para trazer à luz uma das mais importantes verdades a respeito da fé da Igreja: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (v. 18).
O catolicismo romano imediatamente interpretou o jogo de palavras, Pedro e pedra, como sendo a mesma palavra e nisto construiu a doutrina do papado, sendo Pedro o primeiro desta suposta sucessão. Mas há aí uma falácia. Quando Jesus diz “esta pedra”, não refere-se a Pedro, mas à verdade pronunciada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É sobre esta verdade que a Igreja irá subsistir, a obra do Filho de Deus. O próprio Pedro, refletindo sobre esta verdade, fala-nos em sua primeira epístola: “Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido” (1Pe 2.6).
A grande lição aprendida aqui é que a Igreja de Jesus nunca poderá ser edificada sobre fundamentos humanos. Sempre que interferimos e nos colocamos no lugar do fundamento verdadeiro encontramos diante de nós uma igreja falsificada, trasvestida e irreconhecível como igreja de Cristo.
Princípio da Propriedade
Da mesma forma como a igreja não pode ter fundamentos lançados por homens, ela não pode ter homens como seus proprietários! No final do verso 18, o Senhor Jesus usa a expressão “minha igreja”. A igreja é dele, sua noiva, pela qual ele tem verdadeiro zelo e compromisso. Com base nesta verdade é que são feitas muitas promessas à Igreja e a respeito da Igreja, dentre elas, a de que vai ele apresentá-la sem mancha, ruga ou mácula.
O Senhor sabe que é necessário cumprir toda a sua obra pela Igreja, para que possa resgatá-la de forma completa. Por isto mostra aos seus discípulos:  “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Ele diz “minha igreja”  porque ele é o único dono dela, trabalhou até a morte para que pudesse comprá-la com seu sangue e ninguém mais pudesse clamar posse sobre ela e seus membros. A Igreja de Jesus não existiria como tal sem a sua morte e ressurreição, o que lhe dá completa posse dela.
Princípio da Autoridade
Por último, podemos perceber o princípio da autoridade de Cristo sobre a sua Igreja. Para demonstrar este princípio temos, em primeiro lugar, a afirmação desta autoridade: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18b). O conceito é, de certa forma, muito simples: o fato da Igreja ter a autoridade da revelação de Deus, ser a propriedade e a edificação de Cristo, não há nada neste mundo, nem o próprio inferno, que possa se colocar contra ela e vencer. Assim, a verdadeira Igreja de Cristo não tem o que temer; não há poderes que possam terminá-la, porque ela pertence a Cristo. Aliás, opor-se à obra de Cristo na Igreja é obra de Satanás e é por isto que Pedro é repreendido severamente ao opor-se, quando foi dito que era necessária a morte e ressureição do Senhor.
Por outro lado, a verdadeira Igreja trabalha como uma agência do céu aqui na terra. O Senhor afirma: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (v.19). Veja que o texto é muito claro em dizer que a ordem da ação de ligar e desligar começa no céu e é implementada na terra pela Igreja. Acredito que aqui temos o ensino claro, somado ao contexto de Mateus 18.15-18, onde aparece a mesma expressão, que a Igreja tem a obrigação de admitir e demitir aqueles que não cogitam das coisas de Deus. A Igreja tem a responsabilidade de abrir e fechar a porta para que as “portas do inferno” não operem dentro dela mesma. Logo, a Igreja na terra deve viver na busca de realizar a vontade soberana do Pai do céu.
E como, afinal, esta fé deve ser vivida aqui na terra?
“Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.  Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.  Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?  Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.  Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino” (16.24-28).
O que o texto nos mostra é que a vida de fé na igreja deve ser vivida em torno da cruz! É, com certeza, uma vida de negação dos padrões da individualidade egoísta para viver os padrões da vida do bem-aventurado. Da mesma forma como era necessário que o Senhor fosse a Jerusalém para passar pela cruz, o cristão toma a sua cruz e segue a Jesus nos passos da ressurreição.
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Sobre o autor: Mauro Meister é graduado pelo Seminário Presbiteriano do Sul. Fez mestrado em Teologia Exegética do Antigo Testamento no Covenant Theological Seminary e doutorado em Línguas Semíticas, com especialização em hebraico, na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. É pastor da Igreja Presbiteriana Barra Funda, em São Paulo, presidente do Conselho de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana do Brasil e membro do Conselho Editorial da Cultura Cristã (Casa Editora Presbiteriana). Atua no campo da educação básica como Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI). É autor do livro “Lei e Graça” (2003) e de artigos na revista Fides Reformata, da qual é co-editor.
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“Também, nele, estais aperfeiçoados” (John Gill)

“Também, nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2.10)

Também nEle estais aperfeiçoados, ou “completos”, ou “preenchidos” nEle; que é, estão perfeitos nEle: os Santos estão em Cristo, e toda completude nEle está, assim estão eles cheios também, de tanto quanto eles necessitam, e são capazes de conter: Estas palavras não são uma exortação à perfeição, como as contidas em Ge 17:1 Mt 5:48 2Co 13:11; mas são uma afirmação, ratificando, não o que os cristãos serão daí em diante, ou o que serão no céu, mas o que são agora; não neles mesmos, porque em si mesmo ninguém é perfeito, nem mesmo aqueles que estão verdadeiramente santificados; entretanto toda a graça está seminalmente implantada neles, e eles tem uma perfeição de partes, de todas as partes do novo homem, ou nova criatura, e são perfeitos em comparação com o que antes foram, assim como ante os profanos e os hipócritas, e e também ante os que fraquejam na fé, ainda que ninguém seja absolutamente perfeito; a boa obra da graça não está finalizada neles, o pecado habita neles, estão cheios de desejos e concupiscências; o melhor deles nega a perfeição como buscam alcançar, e expressa seu desejo de alcançá-la; mas eles são perfeitos em Cristo, seu cabeça, que tem toda completude nEle, em quem eles são eleitos e aperfeiçoados: eles são perfeitos e completos nEle quanto a santificação; Ele tem toda completude de graça e santidade para eles, eles a tem em Cristo; e Ele foi feito perfeito em santidade para eles: também quanto a justificação, Ele cumpriu perfeitamente a Lei para eles, Ele fez completa expiação pelo pecado, obteve redenção eterna, adquiriu uma completa e perfeita retidão, pela qual os santos são justificados de todas as coisas; são libertos do pecado, e feitos perfeitos, sem mancha ou mácula, ou coisa semelhante: e quanto ao conhecimento, embora imperfeito neles em seu presente estado, já em Cristo estão todos os tesouros de sabedoria, e não há necessidade de ir a lugar algum outro para encontrá-los; eles estão preenchidos com o conhecimento de Deus e de sua vontade, e são completos em Cristo; e o conhecimento que os santos tem, é a vida eterna, as primícias, o penhor, e a fiança dela; assim eles não tem razão de contemplar anjos ou homens, cabe-lhes olhar somente a Cristo.

John Gill (1697-1771)

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O verdadeiro amor (John MacArthur)

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.
“Tudo o que você precisa é de amor”, assim cantavam os Beatles. Se eles tivessem cantado sobre o amor de Deus, a frase revelaria uma certa verdade. Mas aquilo que a cultura popular diz ser amor, não se trata, na verdade, de um amor autêntico, é antes uma verdadeira fraude. Longe de ser “tudo o que precisa”, é algo que deve evitar a todo o custo.

O apóstolo Paulo fala-nos sobre esse tema em Efésios 5:1-3. Ele escreveu: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos”.

A simples ordem do verso 2 (“E andai em amor, como também Cristo vos amou”) resume toda a obrigação moral do cristão. No fundo, o amor de Deus é o único princípio que define completamente o dever do cristão, e este tipo de amor é exatamente “tudo o que você precisa”. Romanos 13:8 diz, “porque quem ama aos outros cumpriu a lei”. Os mandamentos resumem-se a estas palavras: “Amarás o próximo como a ti mesmo, já que o amor é o cumprimento da lei.” Gálatas 5:14 ecoa a mesma verdade: “Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Da mesma maneira Jesus ensinou que toda a lei e profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor – o primeiro e o segundo mandamentos (Mt. 22:38-40). Em outras palavras: “e, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3:14).

Quando o apóstolo Paulo nos diz para caminhar no amor, o contexto revela-se em aspectos positivos, pois ele fala-nos sobre sermos bons uns para os outros, misericordiosos e que nos perdoemos uns aos outros (Ef. 4:32). O modelo de tal amor, mais centrado nos outros que em si próprio, é Cristo, que se entregou para nos salvar dos nossos pecados. “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (João 15:13). E “amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.” (1 João 4:11).

Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega de nós mesmos, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benignas (ver 1 Co. 13:4-8) são as que as Sagradas Escrituras associam ao amor divino.

Mas reparemos no lado negativo, também visto no contexto de Efésios 5. Aquele que ama os outros verdadeiramente, como Cristo nos ama, deve recusar todo o tipo de amor falso. O apóstolo Paulo nomeia algumas destas falsidades satânicas. Elas incluem a imoralidade, a impureza e a ganância. A passagem continua: “Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros.” (Ef 5:4–7).

A imoralidade é, talvez, o substituto favorito do amor na nossa atual geração. O apóstolo Paulo usa o termo grego porneia, o qual significa todo o tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente desvanecer a linha que separa o amor verdadeiro da paixão imoral. Mas tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, porque procura a autogratificação em vez do bem aos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. O apóstolo Paulo emprega aqui o termo akatharsia, o qual se refere a todo o tipo de imoralidade sexual e impureza. Especificamente, ele refere-se à sujidade, à impureza e à ganância, que são as características particulares do companheirismo com mal. Este tipo de companheirismo não tem nada a ver com o amor verdadeiro, e o apóstolo afirma claramente que não tem lugar para ele no caminho do cristão.

A ganância é outra corrupção do amor que tem origem no desejo narcisista de autogratificação. É exatamente o oposto do exemplo que Cristo deu quando “se entregou por nós” (v. 2). No verso 5, o apóstolo Paulo compara a ganância à idolatria. Também isto não tem lugar no caminho do cristão e, de acordo com o verso 5, a pessoa culpada de tal pecado “não tem herança no Reino de Cristo e de Deus.”

E tais pecados, diz o apóstolo Paulo, “nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (v. 3). “Portanto, não sejais seus companheiros”, ou seja, daqueles que praticam tais coisas, diz-nos o verso 7.

Em outras palavras, não demonstraremos amor verdadeiro a não ser que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor.

Hoje em dia, a maioria das conversas sobre o amor ignora este princípio. “O amor” foi redefinido como uma ampla tolerância que ignora o pecado e que abraça o bem e o mal de igual forma. Mas isso não é amor, é apatia.

O amor de Deus não tem nada a ver com isso. Lembra-te que a mais suprema manifestação do amor de Deus é a Cruz, sinal que Cristo “vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” (V. 2). A Sagrada Escritura explica o amor de Deus em termos de sacrifício, de arrependimento pelos pecados cometidos e de reconciliação: “Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.” (1 João 4:10). Em outras palavras, Cristo converteu-se em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar os nossos pecados com uma tolerância benigna, Deus deu o seu Filho como uma oferta pelo pecado para satisfazer a sua própria ira e justiça na salvação dos pecadores. Este é o coração do Evangelho. Deus manifesta o seu amor de uma forma que confirma a sua santidade, justiça e misericórdia sem compromisso. O amor verdadeiro “não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.” (1 Co. 13:6). Este é o tipo de amor, no qual fomos chamados para caminhar. É um amor que primeiro é puro e depois, harmonioso.

Fonte: The Gospel Coalition

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

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Manjares perigosos (Arthur Pink)

“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti” (Pv 23:1).

Supõe-se que este verso tem pouca ou nenhuma aplicação para muitos de nossos leitores, visto como não há quase ninguém que possa vir, algum dia, a ser convidado para jantar com o presidente dos Estados Unidos ou com o rei da Grã-Bretanha. Infelizmente esse é o tipo de pensamento que pode encontrar lugar na mente de qualquer cristão. Infelizmente essa é a tendência de carnalizar a Palavra de Deus que é agora tão generalizada. Infelizmente esse é o [verso] que nossos intérpretes espirituais dos Oráculos Divinos têm quase banido da terra. Mas ainda que não haja um professor ungido para abrir as Escrituras, não deveria ser auto-evidente que o Espírito Santo nunca teria colocado um verso como este na Palavra se não possuísse aplicação para todos os do povo de Deus? E não deve esta mesma consideração nos levar a buscar em oração seu significado oculto?

“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. Há outros “governantes” mencionados nas Escrituras, além dos civis. Não lemos sobre o “principais da congregação” (Êx 16:22), o “chefe da sinagoga” (Lc 8:41), bem como dos “dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6:12)? Perceba que nem todos os “chefes” da cristandade hoje foram escolhidos por Deus. De fato, longe disso. Pessoalmente o escritor duvida muito que dois a cada mil dentre os pregadores, ministros, e missionários, por todo mundo, foram chamados por Deus! Muitos deles se auto-indicaram, alguns foram enviados por homens, a maioria cresceu sobre a tutela de Satanás. O leitor atento dos Velho e Novo Testamentos perceberá que o número dos falsos profetas, em todas as eras, superavam em muito o número dos verdadeiros. É por essa razão que Deus nos ordena a “não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I Jo 4:1). Por isso a admoestação dada em Provérbios 23:1 tem sempre sido atual para o povo de Deus prestar muita atenção, e talvez nunca tenha sido tão necessário dar um alerta sobre isso do que neste tempo apóstata e degenerado em que todos nós fomos lançados.

A pregação que ouvimos, e que em certa medida é absorvida, tem precisamente o mesmo efeito sobre nossas almas, assim como a comida que comemos tem efeito sobre nossos corpos: se for saudável, é nutritivo; se danosa, nos fará mal. “Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti”. É uns fatos trágicos que muitos dos próprios filhos de Deus são tão pouco espirituais, e tão ignorantes espiritualmente, que eles mal sabem como “atentar bem” o que está “diante deles”. Eles não sabem quais testes usar, nem como examinar o que ouvem. Se o pregador for “ortodoxo” e aprovado por aqueles que ele mesmo considera “sadios na fé”, eles pensam que sua mensagem deve estar correta. Se o pregador apenas crê nos “fundamentos” da fé, eles creem que deve ser um verdadeiro servo de Deus. Se o pregador se achega à letra das Escrituras, eles imaginam que suas almas estão sendo alimentadas com o verdadeiro leite da Palavra. Que tristeza a credulidade de tais almas desavisadas.

O leitor está prestes a perguntar, “Mas que outros testes devemos aplicar?” Vamos ajudá-lo a responder sua própria pergunta ao perguntar outra. Que critérios você aplica à comida material que você come? Você se satisfaz se ela foi preparada e cozida conforme os melhores livros de culinária? Claro que não. O principal é, o que sua comida produz? Ela satisfaz ou incomoda seu sistema digestivo? Ela promove ou ataca sua saúde? Nós concordamos, não? Muito bem, agora aplique a mesma regra ou teste à comida espiritual – ou, deveríamos dizer, mais acuradamente, a comida “religiosa” – que você está saboreando; que efeito ela está tendo sobre seu caráter e conduta, o que está produzindo no seu coação e na sua vida? Mas não devemos parar aí com uma mera generalização. Se as almas precisam de ajuda hoje, o servo de Deus deve ser preciso, e entrar em detalhes. Pondere cuidadosamente estas questões, querido leitor.

A pregação que você ouve entra no seu coração pelo poder do Espírito? Se não, qual o uso de ouvi-la? A pregação que você ouve lhe faz em pedaços, sonda sua consciência, lhe condena, e lhe faz clamar, “Desventurado homem que sou”? Ou ela traz mais informação para seu conhecimento, ministra ao seu prazer, e lhe faz sentir-se satisfeito consigo mesmo? Não trate estas questões levemente, nós lhe imploramos, ou você estará se mostrando como seu próprio pior inimigo. Defronte-se com elas de forma equilibrada e justa, como se na presença de Deus. “atente bem” o que está diante de você saindo do púlpito, pois só pode fazer duas coisas: ajudar ou atrapalhar você. Ou promove humildade, ou alimenta o orgulho. Ou lhe estimula a desenvolver com esforço a sua salvação “com temor e tremor”, ou apóia a segurança carnal e confiança em si mesmo. Ou lhe faz clamar a Deus dia e noite para que Ele produza em seu coração um ódio cada vez maior ao mal, ou (provavelmente de forma inconsciente) te leva a pensar do pecado como algo não tão sério – dando desculpas de “pequenos” erros, e lhe consolando com o pensamento de que nenhum de nós consegue ser perfeito nesta vida; mesmo que Deus diga, “tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (I Pe 1:15).

“Mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão” (Pv 23:2). Essas são palavras fortes, não é mesmo? Sim, e o assunto as exige. Muito poucos percebem as temíveis conseqüências que advém de violar esse mandamento de Cristo, “atentai no que ouvis” (Mc 4:24). Falsa doutrina tem o mesmo efeito sobre a alma que veneno tem sobre o corpo. Mas Satanás apela ao orgulho de tantos, e tem sucesso em fazê-los acreditar que estão imunes, que eles estão “tão bem estabelecidos na verdade” que ouvir o erro não lhes fará mal. Entretanto o Espírito Santo diz, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (I Co 15:33): elas não podem, mas IRÃO! Sim, anda que você esteja bastante desavisado disso. “Mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão”. Isso é claramente uma palavra de aviso para aqueles que são consumidos de curiosidade para ouvir cada novo “evangelista” ou “professor da Bíblia” que vem à cidade; àqueles que tem um apetite insaciável para experimentar cada “festa” religiosa que é divulgada em sua comunidade. É isso que significa “homem glutão”: o que anseia ouvir o último sensacionalista do púlpito ou do palco.

Para todos estes Deus diz, Segure-se, e não poupe medidas para checar essa tendência perigosa. É perigoso para você mesmo violar essa admoestação divina. Se você desobedecer, Satanás irá ou matá-lo, ou envenená-lo e colocá-lo para dormir profundamente. “não cobices os seus delicados manjares, porque são comidas enganadoras” (Pv 23:3). Sim, ele tem “manjares” para lhe oferecer: é por isso que tantos são atraídos à sua mesa. Esses “manjares” são habilidosamente variados para chamar a atenção de diferentes gostos. Para “estudantes proféticos”[1]  eles são itens picantes dos jornais, servidos com o nome de “sinais dos tempos”. Mas estas são “comidas enganosas”, pois deixam a alma com fome e improdutiva: não há nenhum nutriente espiritual nas mesmas! Para os jovens enérgicos, há uma agradável apresentação do “serviço cristão”, chamando-os a se engajarem na “obra do Senhor”: essas são também “comidas enganosas”, pois elas nem edificam (constroem) nem levam a um andar mais próximo com Cristo; ao invés disso, eles tiram os olhos de Cristo, para as “multidões que perecem”[2] : como se Deus tivesse sido incapaz de salvar os Seus eleitos sem nossa ajuda[3] ! “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4:23) é a palavra de Deus para você.

Para outros é a exposição regular das “nossas doutrinas” que são de fato “manjares” para aqueles com uma mente teológica. “Sim, mas ‘nossas doutrinas’ são doutrinas das Escrituras, e certamente elas não podem ser ‘comidas enganosas’!” Oh querido amigo, Satanás freqüentemente se transforma em “anjo de luz”; ele sabe muito bem que nenhum mal se fará à sua causa enquanto dissertações doutrinárias são endereçadas ao intelecto, e a consciência não é sondada. A não ser que haja uma aplicação prática das doutrinas das Escrituras, o coração não é tocado nem a alma humilhada; ao contrário, o orgulho é alimentado e a cabeça meramente entulhada com um conhecimento teorizado da verdade. Guarde isso bem: doutrina distanciada da pregação prática e experimental é altamente perigosa!

O que o escritor e leitor precisam não são “manjares”, mas “ervas amargas” (Êx 12:8) para nos limpar do orgulho, independência, amor-próprio! Temos de nos alimentar do “pão de lágrimas” (Sl 80:5) e a “água de aflição” (Is 30:20). Somente esta ministração ajudará verdadeiramente e nos levará a lamentar diante de Deus, que nos leva até o pó, que nos faz aborrecer-nos a nós mesmos. Talvez alguns repliquem, “Eu quero uma ministração e que Cristo é exaltado”. Bom; mas você tem prazer em uma ministração que lhe faz ver quão diferente de Cristo você é em seus caminhos, e o quão longe você está do exemplo que Ele deixou para ser seguido? Uma ministração de “Cristo”, fiel e equilibrada, inclui Seu ensino sobre discipulado, Seus clamores e exigências sobre nós, Seus preceitos e avisos de perigo. Tome cuidado com “manjares” agradáveis à carne, querido leitor.

Nós pulamos os [versos] intermediários e chegamos ao 8 de Provérbios 23, “Vomitarás o bocado que comeste e perderás as tuas suaves palavras”. Sim, se você é realmente um filho de Deus, isso é o que o Espírito irá fazer com você, cedo ou tarde. Ele irá fazer o seu coração ter náuseas com aqueles “manjares” que agradam a carne com os quais você tanto se deleita agora; Ele lhe fará se voltar com desgosto daquilo que os professores vazios lhe alimentam com tanta avidez. Falamos com base em uma dura experiência. A ovelha não pode crescer com o alimento dos bodes! Se seu pregador é admirado e elogiado por palavras macias e agradáveis, você pode estar certo de que seu ministério não ode lhe ajudar. Se grandes multidões o ouvem entusiasticamente, é um sinal seguro de que ele não ministra a Palavra no poder do Espírito!

Para fecharmos, vamos apenas dizer que tudo o que foi apontado como “atentar bem” à pregação que você ouve, se aplica com a mesma força ao ouvir o rádio! “Atentais no que ouvis”: se não deixar sua consciência mais macia, a deixará mais cauterizada. O mesmo se aplica à leitura. A maioria das revistas “ortodoxas” e “fiéis” que são impressas hoje, só podem lhe fazer mal, pois não possuem nada que lhe faça chorar diante de Deus, nada para aumentar o “temor do Senhor” em sua alma, nada que lhe levará à mortificação crescente dos seus membros sobre a terra. Se tem sido este o caso, evite-os como uma praga. “Afastai-vos, pois, do homem” (Is 2:22) e se alimente da Palavra.

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Entrevista sobre cessacionismo e continuismo (Augustus Nicodemus Lopes)

Fiquei imaginando o que eu diria se fosse entrevistado sobre a cessação e a continuação dos dons espirituais mencionados na Bíblia, e daí nasceu esta sessão fictícia de perguntas e respostas. As perguntas estão em negrito e itálico.
Pastor Augustus, os dons espirituais cessaram?
Primeiro é necessário definir a que dons nos referimos. Acredito que o Espírito continua até hoje a conceder à Igreja a maioria dos dons mencionados na Bíblia. Mas, tenho a impressão que outros dons foram concedidos somente por um tempo a determinadas pessoas, para atender aos propósitos de Deus para aquela época. Estes não estariam mais disponíveis hoje. Por isto, é necessário, antes de qualquer coisa, esclarecer a que dons estamos nos referindo quando dizemos que os dons cessaram ou que continuam.
Outra coisa a ser levada em consideração é que, de acordo com a história bíblica, Deus não agiu sempre da mesma maneira em todas as épocas. Há muitas ações miraculosas e sobrenaturais que ocorreram somente uma vez ou durante um tempo específico e não foram repetidas. Portanto, por princípio, devemos admitir que Deus é soberano para agir de diferentes maneiras através da história, e que dentro desta ação, ele concede diferentes dons a diferentes pessoas em diferentes épocas. Assim, não podemos nem restringir a ocorrência de determinados dons somente a um período da história e nem requerer que todos os dons terão necessariamente de ocorrer em todos estes períodos.
Então, você não se definiria como um cessacionista?
Se por cessacionista você quer dizer uma pessoa que não acredita que o Espírito Santo conceda dons espirituais à sua Igreja nos dias de hoje, é claro que não sou cessacionista. Se, por outro lado, um continuísta seria alguém que acredita que todos os dons espirituais mencionados na Bíblia estão disponíveis hoje à Igreja, bastando ter fé para recebê-los, é claro que também não sou um continuísta. Creio num caminho intermediário para o qual ainda não achei um nome. Não posso ser chamado de cessacionista e nem de continuísta, pois creio que alguns dons continuam como eram no Novo Testamento, outros cessaram e outros continuam apenas em parte.
Bem, a discussão moderna gira mais em torno dos dons chamados sobrenaturais, como curas, línguas, profecias… se Deus é o mesmo hoje, ontem e eternamente, estes dons não estariam disponíveis hoje, como estavam na época dos apóstolos?
Poderíamos perfeitamente aplicar a estes dons e outros o princípio acima, de que Deus age de maneiras diferentes em épocas diferentes. Não podemos confundir a imutabilidade de Deus – que significa que ele não muda em seu ser e seus atributos – com a “mesmice” de Deus, que significa que ele sempre age da mesma forma. Teoricamente, ele poderia ter concedido os dons relacionados com curas, línguas e profecias a algumas pessoas durante o período apostólico e uma vez cessado aquele período, suspendido a atuação dos mesmos. Não vejo em que admitir isto afeta a imutabilidade de Deus ou diminui o seu poder e sua glória. Querer que Deus sempre atue da mesma maneira, isto sim, engessa Deus num padrão rígido e não admite que Ele tenha maneiras diferentes de agir em épocas diferentes para atingir seus propósitos.
Mas o que havia de tão especial no período apostólico para Deus conceder estes dons sobrenaturais?
Foi o período de transição entre a antiga e a nova alianças. Teve a ver com a vinda de Jesus Cristo ao mundo e o cumprimento de todas as promessas que Deus havia feito a seu povo pelos profetas de Israel. Foi a inauguração dos últimos dias, do fim dos séculos, da última hora e do fim dos tempos. Foi a época em que o Espirito prometido foi derramado. Deus levantou os Doze e Paulo para através deles explicar e registrar estes fatos no Novo Testamento. Era necessário, portanto, que o período mais importante da história da redenção fosse marcado por sinais, prodígios e maravilhas feitos por pessoas extraordinárias como os apóstolos e seus associados. Era preciso deixar claro que era Deus quem estava por detrás daqueles acontecimentos e da mudança da aliança. Uma parte dos dons mencionados no Novo Testamento está relacionada diretamente com este período e com os apóstolos, como o dom de curar e fazer milagres e a profecia como veículo de novas revelações. O dom de línguas, aparentemente, estava também associado àquela época, como sinal externo da chegada do Espírito Santo aos diferentes grupos que compunham a Igreja em seu início (judeus, samaritanos, gentios e discípulos de João Batista). Mas, parece que ele servia a outros propósitos além deste mencionado.
A questão é que estes dons aparecem em algumas das listas de dons espirituais do Novo Testamento como ferramentas do Espírito dadas a todos os crentes para edificar a igreja de Cristo. E agora?
Não vejo dificuldades. Estas listas aparecem em Efésios 4, Romanos 12, 1Coríntios 12 (2 listas) e 1Pedro 4. O que precisamos é definir com mais precisão o que significam cada um destes dons. O que significa, por exemplo, o dom de profetizar, que aparece nestas listas? Os crentes que tinham o dom de profetizar nas igrejas cristãs eram profetas iguais a Isaías e Jeremias, que foram capazes de predizer o futuro de Israel e das nações com incrível precisão? Ou será que os profetas cristãos se limitavam a edificar, exortar, consolar e instruir as igrejas, como Paulo diz em 1Coríntios 11:3 e 31? E o que significa o dom de curar e de realizar milagres? Por que só encontramos este dom associado ao ministério dos apóstolos? E por falar nisto, o que significa “apóstolo” na lista de Efésios 4? O termo pode significar tão somente enviados, missionários, sem qualquer relação com os Doze e Paulo. Infelizmente as pessoas não levam em conta que existem determinados aspectos da função do profeta, do ofício do apóstolo e mesmo do dom de línguas, os quais parecem estar relacionados somente àquela época. Se levarmos em conta estas coisas, podemos até dizer que todos os dons continuam hoje, mas que alguns aspectos ou atributos deles cessaram após o período dos apóstolos.
E qual seria então o critério para dizermos quais os dons que permanecem para os dias de hoje e quais os que cessaram?
Acredito que a regra de ouro é esta: todos os dons que foram veículos de novas revelações ou que estavam ligados diretamente aos instrumentos das revelações, que foram os apóstolos, cessaram com a morte deles. Ilustrando, o dom de profecia continua hoje, conforme entendo, mas somente enquanto exortação, consolo, confrontação pela Palavra. Já o aspecto revelatório da profecia que vemos, por exemplo, em João ao escrever Apocalipse, ou em Paulo e Pedro ao prever como será o futuro, a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, etc., isso certamente não faz parte da profecia hoje. Já cessou.
Da mesma forma o dom do apostolado. Se entendermos apóstolo como missionário, enviado das igrejas para pregar o Evangelho aos povos (é este o sentido básico do termo em grego), não vejo problemas em dizer que ainda hoje temos apóstolos entre nós, que são os missionários que vão desbravar campos ainda não atingidos pelo Evangelho. Mas, certamente não existem mais apóstolos no sentido dos Doze e Paulo, que viram o Senhor Jesus ressurreto, foram chamados diretamente por Ele pessoalmente ou numa aparição após a ressurreição, e que receberam não somente poderes extraordinários de curar e realizar milagres, como foram também veículos da revelação divina, tendo profetizado acerca do futuro de Deus para seu povo e o mundo. E mais, seus escritos às igrejas foram inspirados pelo Espírito Santo, de forma que são infalíveis e inerrantes, sendo a própria Palavra de Deus. Obviamente, nenhum dos que se intitulam de apóstolo hoje tem estas credenciais. Portanto, não podem ser considerados apóstolos como Pedro, Tiago, João e Paulo. Este é um dos dons que permanece hoje somente em parte.
Por este critério o dom de línguas teria cessado também?
Não necessariamente, pois, até onde eu entendo, ele não era revelacional, isto é, não era veículo de novas revelações, como a profecia. Acredito que o relato de Atos e de 1Coríntios 14 nos dão informações suficientes de que o conteúdo das línguas era o louvor a Deus (Atos 2:11; 10:46). O dom consistia na capacidade de louvar e exaltar as grandezas de Deus num idioma que a pessoa desconhecia, e que tinha de se traduzido para a edificação da igreja. Portanto, teoricamente, este dom não precisaria ter cessado pois não era revelacional. Todavia, temos indícios significativos da história da igreja de que ele cessou após o período apostólico. Na eventualidade de uma ocorrência genuína deste dom hoje, esperaríamos que fosse de acordo com as regras bíblicas de 1Coríntios 14: dois ou três falando, em sequência, e com interpretação. Como normalmente não é este o caso nas igrejas que dizem ter este dom, continuo tendo dúvidas de que o que está acontecendo nelas é a manifestação do genuíno dom de línguas. Mas, em tese, estou aberto para a ocorrência do dom genuíno.
Mas, então, isto quer dizer que os crentes que falam em línguas são mentirosos ou estão sendo influenciados pelo diabo?
Claro que não. Seria uma temeridade afirmar este tipo de coisa. Prefiro pensar que em boa parte das ocorrências são irmãos em Cristo sinceros que pensam estar de fato falando em línguas por terem sido ensinados desta forma dentro de determinados ambientes. Eles foram ensinados que falar em línguas é balbuciar palavras sem sentido num êxtase emocional. Há alguns que inclusive foram ensinados por seus pastores a como fazer isto, tipo “relaxe a língua, forme uma palavra desconhecida em sua mente e repita até que saia espontaneamente da sua boca…”
Não consigo perceber qual é o mal em se falar em línguas hoje nas igrejas. Qual o problema?
Se as línguas faladas não forem de Deus, a imitação delas deve trazer algum prejuízo ou perigo de natureza espiritual. Não posso afirmar ao certo, mas imagino que pode produzir arrogância, falsa espiritualidade, e abrir a porta para a atuação de demônios ou da natureza pecaminosa do homem. Na verdade, estes perigos estão presentes em qualquer manifestação que seja meramente humana, e não somente línguas.
Alguns diriam que você nunca falou em línguas porque nunca foi realmente batizado com o Espírito Santo…
Hehe, eu sei, já me disseram isto na cara, num congresso de irmãos pentecostais onde estive como visitante. Bom, a minha resposta é que acordo com Paulo todos os crentes verdadeiros já foram batizados com o Espírito Santo (1Cor 12:13) mas nem todos falam em línguas (1Cor 12:30). Se não for assim, terei de dizer que os reformadores e os grandes missionários da história da igreja nunca foram batizados com o Espírito Santo, pois nunca falaram em línguas. Todavia, se formos fazer uma comparação, eles fizeram mais pelo Reino de Deus do que estes que hoje insistem em dizer que as línguas são o sinal inequívoco do batismo com o Espírito Santo…
Mudando de assunto… Deus cura hoje?
Sem dúvida alguma. Eu mesmo já fui curado por Deus. Todavia é preciso fazer a diferença entre o dom de curar e as curas que Deus faz em resposta à oração. Aqueles que tinham o dom de curar – e parece que estava restrito aos apóstolos e seus associados – nunca falhavam. Cada vez que determinavam a cura, ela acontecia. Não há caso registrado de alguém com dom de curar, como Paulo e Pedro, terem comandado a cura que ela não tenha acontecido. E estamos falando da cura de cegos, coxos, aleijados, surdos e mudos, muitos dos quais nem tinham fé. E mesmo da ressurreição de mortos. Obviamente não apareceu depois dos apóstolos ninguém na história da Igreja, até os dias de hoje, com este mesmo poder. E estou falando de homens como Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley, Whitefield, Hudson Taylor, Spurgeon, Moody e outros homens de Deus, que não podem ser acusados de não terem fé ou de serem carnais.
Isso não quer dizer que Deus deixou de curar depois dos apóstolos. Ele cura sim, ao responder as orações por cura quando quiser. E nem sempre ele responde positivamente. Se fosse feita uma pesquisa, aposto que ela revelaria que existe proporcionalmente o mesmo número de doentes entre aqueles que dizem acreditar que o dom de curar existe hoje e aqueles que acham que já cessou. Isto é, vamos encontrar nos leitos dos hospitais proporcionalmente o mesmo número de membros doentes de igrejas que dizem ter o dom de curar e daquelas que não pensam assim.
Jesus disse certa feita que quem cresse nele faria os mesmos sinais que ele fez. Esta promessa é verdadeira ou não?
O que Jesus disse foi que eles fariam as mesmas obras. Ele não disse que fariam os mesmos sinais (ver João 14:12). Embora o termo “obras” possa se referir aos milagres dele, é mais provável que Cristo se referia à obra de evangelização e conquista de almas, que foi efetivamente a única obra que os apóstolos fizeram que era maior do que as realizadas por ele. Sobre isto, escrevi um post aqui no blog O Tempora, O Mores, dando as razões exegéticas para esta interpretação. A verdade é que nunca ninguém conseguiu superar os milagres de Jesus ao longo de dois mil anos de história do Cristianismo.
E quanto a sonhos e visões?
De acordo com o autor da carta aos Hebreus, Deus de fato se revelou de maneira extraordinária antes de Cristo, falando através dos profetas por meio de visões e sonhos, conforme encontramos no Antigo Testamento. Com a vinda do Senhor Jesus, que é a Palavra encarnada e portanto a última e maior revelação de Deus, estes modos de revelação cessaram, à medida que os apóstolos e escritores no Novo Testamento registraram de maneira infalível e definitiva esta última revelação.
Não digo que Deus não possa hoje se manifestar de maneira extraordinária a um crente. Mas, então, seria o caso de uma experiência pessoal, que não pode ter validade e utilidade pública e nem ser usada como meio para se impor alguma prática ou doutrina aos demais. A maneira geral, normal e esperada de Deus se comunicar conosco hoje é pelo Espirito falando pelas Escrituras e pela sua Providência, que é a maneira sábia pela qual Deus controla e governa os acontecimentos.
Vamos voltar ao dom de profecia. Afinal, ele existe hoje ou não?
Depende do que estamos falando. Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías e Ezequiel por exemplo, receberam de Deus revelações quanto ao futuro de Israel, nas nações daquela época e da humanidade em geral. Estas revelações foram registradas em livros com o nome destes profetas e fazem parte da Bíblia. Além da profecia preditiva, os profetas exortavam o povo de Deus a que se arrependessem de seus pecados e voltassem à obediência da aliança. Na verdade, os livros deles trazem proporcionalmente muito mais exortações e advertências do que predições do futuro.
Os sucessores dos profetas do Antigo Testamento foram os apóstolos do Novo Testamento. Paulo, Pedro, João e os demais apóstolos também receberam revelações de Deus quanto ao futuro, a saber, a vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos, o novo céu e a nova terra.
Os profetas das igrejas locais no período apostólico não eram iguais aos profetas do Antigo Testamento como Isaías, Jeremias, Oséias, Joel, Amós, etc. Entendo que o dom de profecia que aparece nas listas de dons do Novo Testamento se refere à capacidade dada por Deus a determinadas pessoas para trazerem uma palavra de Deus à igreja, baseada nas Escrituras, em momentos de crise e necessidade. O profeta exortava, edificava e instruía os crentes reunidos. Não vejo qualquer base para dizermos que o dom de profetizar no Novo Testamento é o poder para revelar o que está acontecendo na vida íntima dos outros ou anunciar o futuro da vida das pessoas. Se fosse feito um registro da quantidade de profecias deste tipo que se mostraram falsas, não cumpridas ou que são tão gerais que cabe tudo nelas, já teríamos concluído de vez que o dom de profetizar não é isto.
Mas, e o caso do profeta Ágabo no livro de Atos que profetizou por duas vezes acontecimentos futuros?
Ágabo profetizou por duas vezes fatos que estavam relacionados com a vida e o ministério do apóstolo Paulo, durante o período em que as Escrituras estavam sendo feitas e no qual Paulo era o principal protagonista. Me parece claramente uma situação excepcional e bastante diferente do período atual da história da igreja.
Não acha que essa sua posição acaba por extinguir e apagar o Espírito e impedir a ação de Deus no meio de seu povo? Não é este o pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo?
Acho que o maior pecado contra o Espírito é desobedecer as orientações que Ele nos deu na Bíblia para examinarmos todas as coisas. Ele orientou os escritores bíblicos a escreverem aos crentes dizendo que eles deveriam estar atentos contra manifestações espirituais que não procediam de Deus, contra a ação de falsos profetas e falsos irmãos e mesmo contra a ação de espíritos enganadores que são capazes de realizar sinais e prodígios (Apocalipse 16:14). O Espírito nos chama a discernir os espíritos, a exercitar o bom senso e usar a razão. Pecamos contra o Espírito ao aceitarmos as manifestações espirituais de maneira crédula, sem exame ou análise, renunciando às orientações bíblicas e à nossa razão. É pela omissão dos crentes que os falsos profetas entram nas igrejas e disseminam heresias perniciosas.
Qual o seu comentário final aos nossos ouvintes?
Não considero a questão da contemporaneidade dos dons como sendo uma daquelas que se acham no coração do cristianismo. Não estou negando a importância da discussão se todos os dons que aparecem na Bíblia estão disponíveis hoje ou não. A verdade é que cristãos verdadeiros que são cessacionistas ou continuístas têm o mesmo desejo, que é servir a Deus de todo coração e serem instrumentos de bênção para os outros. Por outro lado, se não tivermos uma compreensão clara de um assunto como este, poderemos não somente nos privar da verdade como também promover a mentira – em ambos os casos, mesmo que o prejuízo não seja fatal, certamente afetará a nossa vida e das pessoas ao nosso redor.
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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (3)

Para começar este artigo, por gentileza, leia o texto abaixo:

POR QUE A KING JAMES É MELHOR?

A QUÁDRUPLA SUPERIORIDADE DA TRADUÇÃO KING JAMES .

(Este artigo foi traduzido e adaptado do livro :”The Four-fold Superiority of KJV”, Dr. Donald A. Waite, Bible for Today, 1992, 900 Park Ave., Collingswood, New Jersey 08108. ISBN # 1-56848-000-8. Used by permission. A imagem ao lado é de Esrasmo de Rotterdam, autor de Textus Receptus). Uma gentil colaboração de Camila Guerra, gerente de marketing da Abba Press Editora.

1.Introdução

“Nada acrescentes às Suas Palavras, para que não te repreendas e sejas achado mentiroso” (Prov. 30:5-6)

O ataque satânico contra a palavra de Deus remonta o Jardim do Éden. A primeira intervenção de Satanás na História foi adulterando e pondo dúvida na Palavra de Deus: nascia a primeira Bíblia na Linguagem de Hoje! O primeiro pecado de Eva foi o de aceitar a suposta palavra de Deus “modernizada” da boca do Diabo. Séculos mais tarde, Satanás recorreu novamente às Escrituras para tentar o Mestre Jesus em Mateus 4:1-11. Com o passar dos séculos, após a consumação da revelação de Deus no Apocalipse, o ataque satânico ficou mais bem elaborado, usando supostos crentes e sociedades Bíblicas. Nasciam as “versões”, com textos manipulados e com técnicas de tradução traidoras do texto original como é o caso da equivalência dinâmica. Vejamos porque a tradução King James (e sua equivalente no português) é muitíssimo superior às versões modernas as quais devem ser rejeitadas pelos crentes sérios.

2. O TEXTO da língua original da Bíblia King James é superior.

O TEXTUS RECEPTUS (T.R.), texto grego base do Novo Testamento da Bíblia King James, não tinha nenhum contestador desde 1611 até 1881, quando dois heréticos liberais chamados Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort entraram em cena com esforço concentrado. Eles eram teólogos da igreja Anglicana e passando por “conservadores” editaram o texto Westcott-Hort (WH), que difere em 9.970 palavras (7%) do T.R. que tem sido usado pela cristandade fiel de 19 séculos! Para se ter uma idéia da incomparável superioridade do T.R, dos 5.255 manuscritos gregos do Novo Testamento, que foram preservados e disponíveis para nós hoje, 5.210 (99%)concordam com o T.R. e apenas 45 (MENOS DE 1%) com o WH ! As bases do texto falso, foram desenterradas das profundezas do obscurantismo, esquecimento e desprezo, justamente por não terem credibilidade sendo o WH publicado apenas em 1881. Além do mais, o texto WH se baseou dentre outros, no Codex “B” e Sinaiticus que diferem entre si em 3.000 vezes só nos Evangelhos! Com toda honestidade, qual o texto grego que Deus preservou? A Bíblia diz: em Sal. 12:6-7: “As palavras do Senhor são palavras puras… ” O Textus Receptus (T.R.) e Massorético, que são usados também na Bíblia publicada atualmente pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (Corrigida e Fiel), é muito superior ao texto Westcott e Hort (WH), que dentre outras omissões, é ecumênico e por isso mesmo, enfraquece várias doutrinas da fé cristã.

3.Os TRADUTORES da Bíblia King James são superiores!

Bastaria o motivo do texto duvidoso e os homens envolvidos com ele, para qualquer crente sério rejeitar esta “versão”, porém, vamos adiante e analisemos os homens envolvidos com o preparo da Bíblia King James. Foram eles 54 eruditos do mais alto grau de brilhantismo, que, em mais de 7 anos de trabalho reverente, árduo e profícuo, prepararam esta versão:

John Bois: Relator dos trabalhos da comissão de forma mais completa. Lia o Velho Testamento no Hebraico com apenas 5 anos de idade escrevendo nesta língua já aos 6 com elegância e estilo. Era especialista em todas as formas de grego. Sir Lancelot Andrews: Líder dos tradutores do Velho Testamento. Falava fluentemente apenas 15 idiomas orientais…Devido à limitação de espaço não se pode detalhar os demais componentes, porém, fica a certeza de que desprezar este trabalho usado grandemente por Deus na salvação de milhões de pessoas nas missões modernas, e se voltar para pseudo-intelectuais e falsos mestres produzidos por esta geração apóstata, é uma decisão pessoal que terá suas consequências diante de Deus.

4. A TÉCNICA de tradução da Bíblia King James é superior!

A técnica usada para a tradução da Bíblia King James foi a equivalência verbal e formal, significando isso fidelidade ao texto original. A palavra tradução (translatus no latim – carregar através) tem o significado de translação ou transporte. Significa transportar um objeto de um lugar (uma língua) para o outro sem mudar suas características quer mudando adicionando ou subtraindo. As versões modernas e pervertidas, todavia, usam num grau maior ou menor, a técnica da equivalência dinâmica. Tal técnica, incompatível com o verdadeiro e honesto tradutor, manipula a palavra ou texto segundo seu bel-prazer. Aliás a expressão equivalência dinâmica já é uma contradição de termos porque equivalência significa igual, imutável. Dinâmica significa em movimento e mutante, progressiva. É uma expressão ilógica e incompatível, própria para enganar os incautos e ingênuos. Ou a tradução é equivalente, ou é dinâmica. O que está por trás dessa técnica mesmo é a velha artimanha maligna de dar ao ser humano o direito de adicionar, subtrair ou mudar a sacro-santa e imutável Palavra de Deus.

5. A TEOLOGIA da Bíblia King James é superior!

A verdade é uma consequência da fidelidade. É lógico que como resultado do texto, tradutores e técnica corretos, a Bíblia King James desponta na superioridade teológica, que é o fruto da verdadeira palavra de Deus. A igreja católica jamais a reconheceu, as seitas a abominam e os liberais apóstatas a odeiam. Os textos da divindade de Cristo, Trindade, inspiração e inerrância das escrituras são contundentes. As doutrinas criacionistas são claras e irrefutáveis. Por outro lado, como seria de se esperar, o texto das versões modernas é infiel, pois os homens são infiéis, a técnica é infiel, o texto base é infiel e como conseqüência não se poderia esperar a verdade como resultado. O Dr. Jack Moorman’s fez uma compilação registrando 356 passagens doutrinárias mudadas pelos textos heréticos Egípcios “B” (Vaticanus) e ALEPH (Sinaiticus). Olhe só dois exemplos: João 3:15 ” Para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” (foi retirado “não pereça” !). Mar.9:44-46: Foi retirado o fogo do inferno, etc… O limitado espaço não permite comentar, as centenas de adulterações…

6.Conclusão

A palavra de Deus dura para sempre (Sal 119:160). O Diabo, inimigo número um do Senhor, desde o jardim do Éden tenta acabar com ela. Seja queimando, seja ridicularizando, seja usando um texto parecido (porém falso), ele a persegue. Os verdadeiros crentes, contudo, devem procurar saber e reconhecer as mãos santas e trêmulas que, com temor e reverência, traduziram a pura palavra do Senhor, rejeitando ao mesmo tempo os imprudentes, irreverentes e arrogantes deturpadores dessa geração apóstata.

“E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. ” (Apoc. 22:19)

BIBLIOGRAFIA

A BÍBLIA SAGRADA – Edição Almeida Corrigida e Fiel Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1995.

THE HOLY BIBLE, AUTHORIZED KING JAMES VERSION

THE FOUR-FOLD SUPERIORITY OF KJV – Dr. D.A. Waite

A BÍBLIA TRAÍDA, Pr. Aníbal Pereira Reis,1976.

MODERN BIBLE VERSIONS, David W. Cloud, 1994.

THE LIVING BIBLE, BLESSING OR CURSE, David Cloud, 1991.

COUNTERFEIT OR GENUINE?, David Otis Fuller, 1975.

EXPONDO OS ERROS DA NVI, folheto, 1999.

UNHOLY HANDS ON God’s HOLY BOOK, David W.Cloud, 1999.

MODERN BIBLES-THE DARK SECRETS, Jack Moorman.

FOR LOVE OF THE BIBLE, David Cloud, 1995

Agora, compare-o com o texto abaixo:

Desde o final do século 19, o desenvolvimento dos estudos textuais da Bíblia, juntamente com os descobrimentos promovidos pela arquelogia bíblica, resultaram num extraordinário benefício para a restauração do Texto Bíblico. Hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), maravilhosamente próximos dos Autógrafos das Sagradas Escrituras.
Ao mesmo tempo, estas descobertas e avanços científicos têm colocado em evidência numerosas diferenças entre os vários manuscritos, denominadas “variantes textuais”, de maneira que quando se compara as mais reconhecidas traduções do mundo moderno: “King James de 1611″ (em inglês); a ¨Reina-Valera de 1862” (em espanhol), e a João Ferreira de Almeida (em português), publicada pela primeira vez no Brasil, em 1943; com manuscritos originais mais antigos e fidedignos que aqueles que serviram de base para essas excelentes traduções, se manifestam algumas discrepâncias e erros textuais importantes, os quais a tradução da Bíblia King James Atualizada procura corrigir.
Essa edição atualizada e comemorativa aos 400 anos da primeira publicação da Bíblia King James nos chega numa de suas traduções mais acuradas e notáveis, que prima por um texto tão claro quanto elegante; ao mesmo requintado e acessível, rigoroso na precisão exegética e hermenêutica, mas transposto para o nosso idioma com extrema erudição e sensibilidade.

Independentemente da concordância ou não com o primeiro, é evidente a qualquer leitor atento que o segundo contradiz o primeiro. O primeiro dá testemunho da superioridade da Bíblia King James (BKJ); o segundo diz que ela tem “algumas discrepâncias e erros textuais importantes” e, implicitamente, diz que os manuscritos usados para a tradução da BKJ não eram tão “maravilhosamente próximos dos Autógrafos (sic) das Sagradas Escrituras” como os usados para a Bíblia King James Atualizada (KJA) utiliza.

Pois bem: o primeiro texto foi retirado do sítio da Sociedade Bíblica Ibero-Americana (SBIA), que coordenou o “comitê internacional e permanente de tradução e revisão da Bíblia King James Atualizada para a língua portugues (KJA)”, segundo a página de créditos da referida Bíblia. O segundo texto, com seus vários erros de português, se encontra na luva (uma tira de papel que envolve a Bíblia e traz informações/propaganda adicionais a ela) da KJA!

Isso gera algumas perguntas:

1. Afinal, em que crê a SBIA: na superioridade ou nos erros da BKJ?

2. A divulgação desse texto, bem como toda a apresentação do sítio, não é para fazer o leitor supor que ele tem em mãos a BKJ?

3. Se a SBIA crê no que é afirmado no primeiro texto, por que, então, faz as sérias ressalvas que faz à BKJ?

4. Se, segundo o primeiro texto, o Textus Receptus é superior ao Texto Crítico e se a forma como a BKJ foi traduzida é superior a outras, modernas, por que a SBIA não seguiu nem um nem outra?

Até o próximo artigo!

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Como se conduzir na caminhada cristã (Jonathan Edwards)

Carta de Jonathan Edwards a uma jovem, escrita no ano de 1741

Minha querida jovem amiga,

Como era do seu desejo que eu a mandasse, por escrito, algumas diretrizes em como conduzir-se a si mesma em sua Caminhada Cristã, agora o faço. As doces lembranças das coisas maravilhosas que vi em sua igreja inspiram-me a fazer qualquer coisa que estiver a meu alcance, contribuindo para a alegria e prosperidade espirituais do povo de Deus que aí está.

1. Aconselho-te a manter o esforço e o fervor na religião, como se estivesse em seu estado natural, procurando converter-se. Aconselhamos pessoas com convicção a serem fervorosas e violentas para o Reino dos Céus; mas elas não devem ser menos vigilantes, trabalhadoras e fervorosas na seara quando já convertidas, porém, ainda mais, pois há infinitas coisas a mais a se fazer. Por ser esta uma característica que nos falta, muitas pessoas, em poucos meses de conversão, começam a perder seu doce e vivo senso das coisas espirituais, crescendo geladas e em trevas, “desviando-se da fé e a si mesmos se atormentando com muitas dores” (1 Tm 6; 10), enquanto se tivessem atentado às palavras do apóstolo em Filipenses 3; 12-14, seus caminhos seriam como “a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4; 18)

2. Não deixe de procurar a Deus, de jejuar e orar pelas mesmas coisas que exortamos a pessoas não-convertidas a orar e jejuar, tendo você já passado por este processo. Ore para que seus olhos estejam abertos, para que receba a visão correta, conhecendo-te a ti mesma, e para seus pés descansem em Deus. Que você veja a glória de Deus e Cristo, e tenha o amor de Cristo derramado em todo o teu coração. Aqueles quem tem a muitas destas coisas, ainda assim precisam orar por elas, pois ainda há tanta cegueira, dificuldade, orgulho e corrupção, que necessitam ter o trabalho de Deus sobre eles a fim de receber luz e vida, sendo trazidos da escuridão para a maravilhosa luz de Deus, recebendo como que uma nova conversão e ressurreição dos mortos. Há poucos deveres convenientes a um não-convertido que também não o são, de certa maneira, para o povo de Deus.

3. Quando ouvir a um sermão, ouça por si mesma. Mesmo que provavelmente o que está sendo pregado seja para não-convertidos ou para aqueles que, de outras maneiras, estão em diferentes circunstâncias que você. Assim, deixe com que a principal intenção de sua mente seja a ponderação: em quais aspectos isto é aplicável a mim? E em que posso melhorar para o próprio bem de minha alma?

4. Apesar de Deus ter perdoado e esquecido seus pecados, não os esqueça: lembre-se sempre deles, de como era uma escrava sem esperança na terra do Egito. Traga à memória suas ações de pecado antes de sua conversão, assim como o apóstolo Paulo está sempre mencionando sua antiga atitude de blasfêmia, em que perseguia o Espírito e maltratava o povo de Deus, humilhando seu coração, dizendo ser “o menor dos apóstolos”, indigno de “ser chamado apóstolo”, “menor dos santos” e “o maior dos pecadores”. Confesse sempre seus pecados a Deus e deixe com que este texto esteja sempre em sua mente: “para que te lembres e te envergonhes, e nunca mais fale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o SENHOR Deus.” (Ez 16; 63)

5. Lembre-se que você tem muito mais motivos para lembrar-se e humilhar-se dos seus pecados agora, desde que se converteu, do que antes. Tudo isso se deve a suas muitas obrigações para com a vida com Deus, olhando para os escolhidos de Cristo, amando sempre sua amabilidade, apesar de toda a sua falta de valor desde sua conversão.

6. Esteja sempre vigilante para com seu contínuo pecado e não pense que você se preocupa muito com ele. Ainda sim, não esteja desencorajada nem permita que ele anule seu coração, pois, apesar de sermos exageradamente pecadores, temos um Advogado com o Pai, a saber, Jesus Cristo, o Santo. O sangue cuja preciosidade, o mérito cuja retidão, a grandeza cujo amor e fé infinitamente sobrepujam as mais altas montanhas de nossos pecados!

7. Quando começar a orar, ou tomar parte na Ceia do Senhor, ou participar de qualquer outra atividade de adoração, venha a Cristo como Maria Madalena fez!  Venha, e coloque-se aos Seus pés, e os beije, derrame perante Ele o doce óleo perfumado de amor oriundo de um coração puro e quebrantado, como ela derramou o perfume precioso de sua jarra de alabastro! “E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.” (Lc 7; 37-38)

8. Lembre-se que orgulho é a pior víbora do coração, o grande distúrbio da paz da alma e da doce comunhão com Cristo: foi o primeiro pecado e se encontra bem baixo na fundação da obra de Satanás, sendo muito dificilmente arrancado fora, pois é o mais escondido, secreto e arruinador de todas as luxúrias, inserindo insensibilidade no meio da religião e até mesmo sob a desculpa de humildade. “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.” (Pr 8:13)

9. Que você faça um correto julgamento de si mesma, vendo sempre nos outros as melhores descobertas, o melhor conforto, pois têm esses dois lados: uns te fazem menor e insignificante, como uma criança. Outros, animam e consertam seu coração em uma disposição firme em negar-se a Deus, passar tempo com Ele e por Ele.

10. Se em algum momento você se encontrar em dúvidas sobre o estado de sua alma, em partes escuras e sem sentido, é necessário rever sua experiência passada. Mas não invista muito tempo e esforços neste caminho. Ao contrário, disponha-se com todo o seu ser a procurar ardentemente uma nova experiência, nova luz, novas ações de fé e amor. Uma nova descoberta da gloriosa face de Cristo fará mais sobre aterrorizadoras nuvens negras do que examinar experiências passadas durante um ano, sob as melhores nuances que podem dar.

11. Quando pouco se exercita a graça e a corrupção prevalece juntamente com o medo, não tente tirar isto de seu coração de qualquer outra maneira além de reviver o amor a Deus. Assim, o medo será efetivamente expulso, como a escuridão desaparece de um quarto quando os deliciosos raios de sol penetram-no.

12. Quando aconselhar e alertar as pessoas, o faça com vontade e afeição, com firme convicção. Lembre-se que estará falando ao seu próximo deixando que suas palavras contenham expressão de sua própria pequenez, mas também da graça soberana que te faz diferente.

13. Se você organizar encontros devocionais com jovens mulheres como você, uma vez a cada certo tempo, além de participar de outros encontros gerais, será muito proveitoso e útil.

14. Em quaisquer dificuldades, necessidades ou longos períodos de escassez, qualquer caso específico, para você ou outros, separe um dia para oração secreta e jejum. Gaste o dia, não tão somente pelas petições que faz, mas procurando seu coração olhando para sua vida, confessando seus pecados perante Deus. Não como se costuma fazer quando se ora publicamente, mas como um resumo a Deus de todos os pecados de sua vida, desde a infância, antes e depois da conversão, incluindo as circunstâncias e decaídas em relação a eles, apresentado diante d’Ele todas as particulares abominações de seu coração da maneira mais completa possível.

15. Não permita que os adversários da cruz reprovem a verdadeira religião. Quão retamente deveriam se comportar os filhos remidos e amados do Filho de Deus! Ainda, “caminhem como filhos da luz e do dia” e “adquira a doutrina de Deus seu Salvador”. E, especialmente, pondere sobre as virtudes cristãs que te fazem parecida com o Cordeiro de Deus. Seja humilde e submissa de coração, pura, celestial, amando a todos. Faça atos de amor aos outros e auto-negação pelos outros. Que haja em você uma disposição em pensar sobre os outros maior do que em você mesma.

16. Na sua vida, caminhe com Deus e siga a Cristo como uma pequena, pobre e desprotegida criança tomando a mão de Cristo. Mantenha seus olhos nas marcas das feridas em Suas mãos e lado, donde veio o sangue que te purifica do pecado, escondendo sua nudez nas vestes brancas celestiais.

17. Ore frequentemente pelos ministros da igreja de Deus, especialmente para que Ele continue seus glorioso trabalho que tem começado, até o dia da terra estar cheia de Sua glória.

FONTE: http://gracegems.org/26/Edwards_letter.htm

Tradução: Projeto Castelo Forte

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (2)

Neste artigo, ainda me detenho nos aspectos a que chamei de editoriais. Para isso, abri a KJA (agora vou chamá-la pelo nome real) ao acaso, a fim de avaliar diagramação, forma das notas de rodapé e sua redação. Se o que vi se estende pela Bíblia toda, o problema é bem sério.

Abri a KJA na página 1258 e analisei até a 1261. Sim, é uma pequeníssima amostragem, mas pela passada de olhos que dei no restante, o que se encontra aqui é igual ao restante.

A KJA adotou o formato de notas de rodapé em uma única coluna, com a largura da página. A impressão que isso dá é ruim, desconfortável. Mas até aí pode ser apenas questão de gosto pessoal. Ok. Em minha opinião de editor, foi uma escolha ruim. Outro problema nas notas é que o número a que elas se referem está no mesmo corpo e formato que o texto que segue. Isso dificulta bastante a identificação. E no texto bíblico, o número da nota está em itálico, quase invisível, e separado do texto. Facilmente o leitor não vai encontrá-lo. O editorialmente recomendado é a identificação com número em negrito e sobrescrito, tanto no texto quanto no rodapé.

A KJA adotou uma nota de rodapé por capítulo (vi rapidamente que em alguns capítulos há mais de uma nota). Mas nem sempre a nota está na mesma página em que está o número a que ela se refere. É o que acontece na pág. 1258; o número 1 que identifica a primeira nota do capítulo 9 não está nesta página, mas na anterior. Com um pouco de habilidade de diagramação, seria possível colocar essa nota onde deveria estar. Mas, de novo, pode ser apenas uma questão de preferência pessoal. Eu não gostei; visualmente, o texto é feio e confuso.

Na pág. 1260 há a nota 1, no texto da página anterior, de Eclesiastes 11. Só para relembrar, nos Agradecimentos foi dito que essa obra não é uma tradução da New King James Version, mas uma obra produzida aqui no Brasil (ou na América Latina; nada é explicado muito claramente). Portanto, é uma obra que nasceu em português. No entanto, nesta nota 1 há a seguinte expressão: “… projetos missionários além-mar (overseas)…”. Qual a razão dessa palavra em inglês? Seria a sobra de uma tradução? Nada justifica a palavra overseas aí. Além disso, por ser palavra estrangeira, deveria estar em itálico. Logo após, há um uso errado de ponto-e-vírgula.

Na página seguinte, a 1261, a nota 1 traz: “as Profecia” (sic). Adicionalmente ao erro de concordância de número, há o uso equivocado de maiúscula, o que pode ser observado em muitas notas (eu diria que em todas, mas não as li todas ainda para afirmar isso). Nessa mesma nota, há ainda Céu, Cruz, Ressurreição, Dia e Julgamento, nessa forma, no meio da frase, sem nada que justifique a caixa-alta (maiúscula). Mais uma feia cochilada editorial.

No final da parágrafo aparece mais uma palavra em inglês desnecessária e sem itálico: nonsense.

Outra curiosidade: é citado Fl 3.12. Achou esse versículo em sua Bíblia? Nem eu. Nem ninguém. Fl é abreviatura de Filemom, não de Filipenses. Descuido editorial.

A falta de itálico nas palavras estrangeiras é característica da KJA. Na nota 1 do capítulo 1 de Eclesiastes há termos em hebraico e em grego sem itálico, o que torna a leitura difícil e confusa. Há também dois erros feios de separação entre sujeito e verbo por vírgula: “…sugere que Cohéllet, possa ser…” e “…expressão hebraica heh’bel, pode ser…”. Depois, lê-se: “…. no sentido na transitoriedade da vida”; deveria ser “sentido da”.

Fico por aqui. Estou folheando apenas o livro de Eclesiastes, e já encontrei outras coisas feias. Falo sobre elas em outro artigo.

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Minhas considerações sobre a Bíblia King James em português (1)

Pretendo escrever alguns pequenos artigos sobre o assunto. Neste primeiro, vou enfocar apenas o que chamo de aspectos editoriais, falando do produto em si e da apresentação que faz de si mesmo. Em outro(s), comentarei sobre a tradução propriamente dita e, por fim, tratarei das notas e comentários.

Comprei a versão simples da BK (vou chamá-la apenas assim inicialmente; logo explico a razão); há outra bonitona, com capa de couro. Ela traz uma “luva”, uma tira de papel couchê impressa em sua volta. Na frente da luva, lê-se: BKJ, em letras bem grandes; abaixo, em letras bem menores: Bíblia King James Atualizada. E aí começam os problemas.

As siglas adotadas em português para as versões da Bíblia costumam informar de modo claro a tradução que trazem. Assim, a Almeida Revista e Atualizada é identificada por RA ou ARA; a Almeida Revista Corrigida é ARC; a Almeida Corrigida e Fiel é ACF; a tradução publicada pela Juerp é a IBB-Rev (Imprensa Bíblica Brasileira, Revisada). Até as Bíblias modernas seguem este preceito: NVI é a Nova Versão Internacional; a NTLH é a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. A BK em questão, não: ela usa a sigla da Bíblia King James internacionalmente conhecida pelos leitores da Bíblia, dando a impressão de que se trata da King James original, de 1611; no entanto, logo abaixo revela ser, na verdade, uma versão atualizada. Seria isso intencional para enganar os leitores? É difícil crer diferente, já que, ao tirar a luva, na capa da Bíblia está apenas BKJ e apenas na lombada aparece a indicação de ser atualizada. A meu ver isso é, para dizer o mínimo, um descuido.

Mas vamos supor que tenha sido uma escolha editorial; que o grupo que produziu esta versão optou por identificá-la como BKJ, mesmo não sendo ela a BKJ. Será que isso se sustenta? Vamos prosseguir.

Na parte de trás da luva há o título: O livro que mudou o mundo. A quem isso se refere? Pela parte da frente, à BKJ. No entanto, esta não é a BKJ, mas sua versão atualizada, criada agora (lançada em setembro do ano passado). Portanto, ela não poderia ter mudado o mundo. Deduz-se, então, que essa apresentação se refere à KJ (também conhecida como AV, Authorized Version). No entanto, ao prosseguir na leitura, vê-se que não é isso.

O texto curto inicia defendendo que as descobertas arqueológicas proporcionam hoje “a restauração do Texto Bíblico” (sic). Deixando de lado o uso errado de maiúsculas, analisemos a frase. Ela indica que, agora, sim, temos o texto bíblico, implicitando a idéia de ele ser o original, o legítimo, o verdadeiro. No entanto, a próxima frase diz que “hoje, como nunca antes, a Igreja de Jesus Cristo tem em sua mão manuscritos […] maravilhosamente próximos dos Autógrafos” (sic). Mais uma vez, sem considerar o uso errado da maiúscula, vamos considerar a frase. Ela diz textualmente que hoje, como nunca antes, a Igreja tem um texto quase como os originais. O que isso significa e/ou implica?

Em primeiro lugar, como mostrei, uma contradição com a frase anterior. Ou o texto bíblico foi restaurado ou se tem algo próximo a ele.

Em segundo lugar, implicita que, até agora, a Igreja tinha algo distante dos autógrafos (manuscritos originais). Implicita que só agora os cristãos têm um texto digno de confiança. Isso ignora todas as traduções anteriores, baseadas no TR (Texto Recebido ou Textus Receptus), pelas quais Deus fez todos os grandes avivamentos da história, mudou a história de países, cidades, pessoas; levantou, capacitou, encorajou e sustentou os maiores pregadores e evangelistas da história? Então, o que os cristãos tiveram em mãos por quase cinco séculos? Não era a Palavra de Deus?

Prossigamos.

O próximo parágrafo, com erros de redação (como uso desnecessário e inconstante de aspas e de ponto-e-vírgula), traz, mais uma vez, críticas – agora mais claras e diretas – à própria King James e a traduções baseadas no TR (Reina-Valera e João Ferreira de Almeida). O texto cita “discrepâncias” e “erros (sic) textuais importantes” nessas traduções, os quais a “Bíblia King James procura corrigir”. Isso é assustador, não? Durante séculos, os mais piedosos cristãos, os mais fervorosos filhos de Deus, os mais úteis escravos de Cristo usaram Bíblias com discrepâncias em relação ao texto original, com erros sérios. É possível acreditar nisso?

Percebam que isso traz implícita a idéia de que Deus foi incapaz de preservar Sua Palavra ao longo dos séculos, que Ele não zelou nem velou por Sua Palavra como afirma que o faria (Jr 1.12). E, talvez pior que isso, é que Ele permitiu que Seu povo, durante séculos, mesmo durante os períodos de avivamento, de devoção, de piedade, dos puritanos, das grandes missões, da salvação de multidões, estivesse enganado, usando uma Bíblia com erros sérios e discrepâncias em relação aos originais. Pode-se aceitar tal insinuação a respeito de Deus?

Ainda há mais.

O próximo parágrafo diz que esta edição atualizada comemora os 400 anos da primeira edição da KJ. Estranha comemoração… Quando são comemorados, por exemplo, os 50 anos do lançamento de uma obra (filme, livro, por exemplo), ela é relançada com nova capa, nova diagramação, com comentários, com cartas do autor, com cenas deletadas, com som remasterizado, com trecho inédito posteriormente descoberto… mas a obra é a mesma! Isso é homenagem. Agora, dizer que a obra original não era tão boa, que tinha discrepâncias e erros sérios e chamar isso de homenagem…? Parece-me, sim, antes um desrespeito.

Mas a coisa não termina aí.

Mais abaixo há um comercial. Claro, afinal trata-se, em primeiro lugar, de um produto, uma mercadoria que precisa ser vendida. O título do “reclame” é Conheça mais sobre a BKJ. E, nesse momento, a confusão já está armada: a que Bíblia exatamente isso se refere? Como vimos, até agora BKJ tem sido usada para identificar esta versão em português. Então, é de se supor que o anúncio se refira a ela também. Certo? Errado.

O primeiro produto indicado é um livro chamado A Bíblia King James. A dúvida continua: a qual Bíblia isso se refere? A chamada abaixo é ainda mais confusa: Uma breve história da Tyndale até hoje. Quem é “a Tyndale”? Por que o título fala da King James e a chamada, da Tyndale?

Ao lado, há um DVD chamado BKJ, com a chamada O livro que mudou o mundo – Bíblia King James. De novo, a confusão. BKJ é a sigla usada para essa versão em português, mas o filme se refere à King James de 1611. O leitor desavisado ou sem conhecimento desses fatos pode ser levado a supor que vai encontrar aí material referente ao livro que tem em mãos, quando, na verdade, diz respeito à tradução que tem erros sérios e discrepâncias (segundo os autores do anúncio).

A parte que me parece cômica (na falta de outro adjetivo), é o final da luva, que indica que a distribuição desta Bíblia é feita pela BVFilms. Uma distribuidora de filmes responsável por distribuir a pretensa melhor tradução da Bíblia até agora? Faz algum sentido? (Ah, sim, é apenas comércio, produto, mercadoria…)

E não é só cômico. É preocupante. Eu tenho livros traduzidos e publicados e DVDs legendados pela BV, e o trabalho de tradução/preparação/revisão é péssimo. Só dois pequenos exemplos: num DVD, uma música diz que Jesus tomou a xícara na última ceia. Em outra, Rock of ages (Rocha eterna ou Rocha das eras, um hino tradicional) é traduzido por… idade da pedra! Acredite se quiser! E como estes há centenas de erros similares nos livros e DVDs. Eu escrevi à BVFilmes reclamando de ter comprado o DVD com esses erros inadmissíveis. A resposta: isso não é um produto com defeito. (!) Se o produto é uma tradução/versão, e esta é mal feita, como não caracterizar como produto com defeito?

É de causar apreensão que um trabalho de tamanha envergadura (e pretensão) esteja, de algum modo, nas mãos de um grupo tão descuidado com o uso do vernáculo – e uma tradução é, antes de tudo, trato com a língua. Pelos erros de redação observados até aqui, e por minha experiência com a BV, já antevia o que haveria de encontrar. E foi pior do que eu imaginava.

Agora, abrindo a Bíblia.

Na folha de rosto, lê-se: Tradução King James Atualizada (KJA). Opa! De onde saiu essa sigla? Não era, até agora, BKJ? Por que mudaram? Ou será que sempre tiveram consciência de que não era a BKJ, mas, sim, a KJA? Será que foi um descuido do capista ter colocado BKJ em letras garrafais e douradas na capa? Será que o editor/produtor editorial não viu isso? Ou será uma tática intencional de induzir o leitor a comprar gato por lebre?

Virando mais uma página, outro título: Antigo e Novo Testamentos Bíblia Sagrada King James Edição de estudo – 400 anos. Puxa, sumiu de novo a informação de que é uma versão atualizada, não a King James legítima.

Virando outra página, há um erro editorial feio e grave. A página de créditos (aquela em que se diz quem faz o quê na obra) está à direita, e deveria estar à esquerda. E no verso da página de créditos está um fac-símile da página de apresentação da King James de 1611. Isso deveria estar no lugar agora ocupado pela página de créditos. E, observe, mais uma vez há uma sutil insinuação de que as duas são a mesma obra.

A seguir, há uma apresentação escrita por Carlos Alberto de Quadro Bezerra. A meu ver, o fato dele ser o autor desse texto é mera jogada comercial. Afinal, no que diz respeito à erudição bíblica, à pesquisa exegética, ao manuseio das línguas originais, qual é a contribuição desse irmão? Nenhuma. Não o estou avaliando quanto a qualquer outro aspecto, apenas no tocante à erudição bíblica. E o conteúdo de seu texto em nada condiz com a pretensa seriedade da publicação.

No primeiro parágrafo ele diz que, agora, o “povo de língua portuguesa passa a contar com o texto integral da Bíblia King James”, o que é mentira, pois a KJA não é a KJ e tem menos versículos que ela; portanto, não é o texto integral.

No parágrafo seguinte há um erro doutrinário grave. Referindo-se a este lançamento, escreve o autor (citação textual): “Trata-se de um momento singular. Afinal, não estamos falando apenas do mais importante Livro de todos, mas da própria Palavra de Deus, o testemunho…”. Ele faz uma distinção entre o Livro e a própria Palavra de Deus! O mas, conjunção adversativa, indica que, apesar do primeiro, acontece o segundo. Por exemplo: “João jogou mal, mas ainda assim fez um gol. Eu estudei muito, mas não consegui chegar a tempo na prova.” A frase citada, caso quisesse revelar a fé em que a Bíblia é a Palavra de Deus, deveria ter sido redigida assim: “…o mais importante Livro de todos, a própria Palavra de Deus…”. Parece preciosismo, mas uma conjunção adversativa faz uma enorme diferença e induz ao erro!

Isso, mais uma vez, sinaliza problemas de edição, de esmero editorial. Sem citar que a tal apresentação é superficial, pois não cita os critérios utilizados na tradução, a relação real com a KJ, explicação sobre uso de versal-versalete, do nome Yahweh.

Depois, há um prefácio, escrito por Lisãnias Moura. Há problemas de redação e um parágrafo esquisito: “Quando lemos as Escrituras, podemos inicialmente nos prender ao texto e daquele texto ouvir a voz de Deus. Ao mesmo tempo, podemos estudar todo o contexto daquilo que estamos lendo e, neste caso, é de extrema valia consultarmos outras traduções, versões, comentário e demais recursos.” Segundo este autor, só podemos ouvir a voz de Deus lendo um texto (o que seria isso? Um versículo? Um capítulo? Poucos versículos?). Se lermos o contexto, então, não a ouvimos mais. O contexto só pode ser estudado, não serve para ouvir a voz de Deus. É possível crer nisso?

O pior ainda está por vir. O próximo texto, chamado Reconhecimentos, de autoria de Oswaldo Paião, é muito mais uma biografia do autor do que reconhecimento do trabalho de outrem. Além de problemas sérios de redação (erro de concordância de número e de gênero, erro de pontuação, frases ambíguas…, o que aumenta meu temor em relação ao que se pode encontrar na Bíblia propriamente dita), há menções a pessoas que me causam espécie. O autor cita seu trabalho com a NVI (o que indica sua concordância com o tipo de tradução nela usado), menciona Ricardo Gondim (pastor que já há algum tempo tem ensinos que afrontam a soberania e a onisciência de Deus), Ed René Kivitz (defensor da pós-modernidade da igreja e que se identifica com os ensinamentos de Gondim); menciona a “enorme contribuição […] à obra da KJA” de Caio Fábio (que ensina que a Bíblia não é o único nem o melhor livro de Deus). Será que esse autor não sabe das heresias ensinadas pelos homens que ele cita? Se sabe, concorda com elas? Se não sabe, não há um autor, um dos renomados teólogos que fizeram a KJA que o alertasse sobre isso? Ou um editor temente a Deus que glosasse o texto para evitar esses pontos controversos?

Pouco adiante no texto, finalmente é explicado (em lugar errado, pois isso não deveria estar nos agradecimentos, mas na apresentação) superficialmente como foi feita a tradução. Em suma: o Textus Receptus (não sei porque razão colocado entre aspas) foi uma das fontes usadas, ao lado dos chamados textos críticos. De modo resumido, os textos críticos surgiram a partir do final do séc. 18, quando a Bíblia começou a ser estudada como outro texto de literatura qualquer, sendo questionadas sua inspiração literal, sua inerrância, sua preservação. Segundo alguns autores, o texto crítico cortou da Bíblia a quantidade de versículos correspondente a uma das epístolas de Pedro.

E o texto explica ainda que não é uma tradução da New King James Bible e, finalmente!, sua ligação com a KJ: “A KJA é uma tradução dos mais antigos e fiéis manuscritos nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), preservando o estilo clássico, reverente e majestoso da Bíblia King James de 1611.” Impressionante! Então, a KJ, nem a NKJ, não é tradução de manuscritos fiéis? E como mantém o estilo de outro livro se não é tradução dele? Portanto, a ligação com a KJ é apenas subjetiva, de estilo (sabe-se lá o que isso significa)…

Há outros detalhes nesse texto que ainda poderiam ser comentados, mas são de menor importância.

“Nossos comerciais, por favor!”

Sim, há mais comerciais na Bíblia. Sim, não fora dela, não na luva, não na embalagem, mas na Bíblia mesmo. E comerciais ecumênicos, procurando agradar a bárbaros e citas, judeus e gentios, gregos e troianos, hereges e ortodoxos. São frases de elogio/recomendação à KJA de, por exemplo, Marco Feliciano (pastor que estará com o mega-herege Benny Hinn num evento em São Paulo, que xinga quem não concorda com seus ensinamentos), Éber Cocarelli, da assim chamada igreja internacional da graça, de R.R. Soares, pregador da teologia da prosperidade, da bênção em troca de dinheiro; do já citado Carlos Bezerra e de Ana Paula Valadão (que faz um comentário vazio, superficial, 100% comercial; não é preciso lembrar os ensinamentos dela sobre guerra espiritual, sobre unção do leão, sobre bota de couro de píton…).

Fico aqui em minha primeira e rápida consideração sobre a KJA. O que concluo até aqui? Do ponto de vista editorial, é um produto descuidado, mal produzido, com clara intenção meramente comercial e ecumênica e propositadamente concebido para ser tomado por uma legítima tradução da KJV.

Portanto, aos que a adquiriram e pretendem usar, cuidado!

Que o Senhor guarde nossos pés de tropeçar até Sua volta!

Em breve, voltarei ao assunto.

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Coisas que até um ateu pode ver (Augustus Nicodemus Lopes)

Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em anos recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias sobre a capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da vida e sua complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou aleatória das mutações genéticas necessárias para tal.

Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual ateísta da Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua desconversão do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências de propósito inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular James Shapiro, da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o livro Evolution: A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente a evolução darwinista.
Thomas Nagel
E agora é a vez de Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova York, membro da Academia Americana de Artes e Ciências, ganhador de vários prêmios com seus livros sobre filosofia, e um ateu declarado. Ele acaba de publicar o livro Mind & Cosmos (“Mente e Cosmos”) com o provocante subtítulo Why the materialist neo-darwinian conception of nature is almost certainly false (“Por que a concepção neo-darwinista materialista da natureza é quase que certamente falsa”), onde aponta as fragilidades do materialismo naturalista que serve de fundamento para as pretensões neo-darwinistas de construir uma teoria do todo (Não pretendo fazer uma resenha do livro. Para quem lê inglês, indico a excelente resenha feita por William Dembski e o comentário breve de Alvin Plantinga).
Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por que quando intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à evolução darwinista são descartados por serem “religiosos”. Então, tá. Mas, e quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?

Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.

Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria análise científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos acadêmicos:
“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste assunto” (p. 7).
“Eu tenho consciência de que dúvidas desta natureza vão parecer um ultraje a muita gente, mas isto é porque quase todo mundo em nossa cultura secular tem sido intimidado a considerar o programa de pesquisa reducionista [do darwinismo] como sacrossanto, sob o argumento de que qualquer outra coisa não pode ser considerada como ciência” (p.7).
Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o fundamento do evolucionismo darwinista:
“Mesmo que o domínio [no campo da ciência] do naturalismo materialista está se aproximando do fim, precisamos ter alguma noção do que pode substitui-lo” (p. 15).
Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da vida, menos plausível se torna a explicação naturalista materialista do darwinismo para sua origem e desenvolvimento:
“Durante muito tempo eu tenho achado difícil de acreditar na explicação materialista de como nós e os demais organismos viemos a existir, inclusive a versão padrão de como o processo evolutivo funciona. Quanto mais detalhes aprendemos acerca da base química da vida e como é intrincado o código genético, mais e mais inacreditável se torna a explicação histórica padrão [do darwinismo]” (p. 5).
“É altamente implausível, de cara, que a vida como a conhecemos seja o resultado da sequência de acidentes físicos junto com o mecanismo da seleção natural” (p. 6).
Não teria havido o tempo necessário para que a vida surgisse e se desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações aleatórias:
“Com relação à evolução, o processo de seleção natural não pode explicar a realidade sem um suprimento adequado de mutações viáveis, e eu acredito que ainda é uma questão aberta se isto poderia ter acontecido no tempo geológico como mero resultado de acidentes químicos, sem a operação de outros fatores determinando e restringindo as formas das variações genéticas” (p. 9).
Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais conhecidos do design inteligente:
“Apesar de que escritores como Michael Behe e Stephen Meyer[1] sejam motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos empíricos que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história evolutiva serem explicados plenamente somente com base na física e na química são de grande interesse em si mesmos… Os problemas que estes iconoclastas levantam contra o consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério. Eles não merecem a zombaria que têm recebido. É claramente injusta” (p.11).
Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe falta o sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:
“Confesso um pressuposto meu que não tem fundamento, que não considero possível a alternativa do design inteligente como uma opção real – me falta aquele sensus divinitatis [senso do divino] que capacita – na verdade, impele – tantas pessoas a ver no mundo a expressão do propósito divina da mesma maneira que percebem num rosto sorridente a expressão do sentimento humano” (p.12).
Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão materialista e naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende o mundo material, como a mente e tudo que a acompanha:
“Nós e outras criaturas com vida mental somos organismos, e nossa capacidade mental depende aparentemente de nossa constituição física. Portanto, aquilo que explicar a existência de organismos como nós deve explicar também a existência da mente. Mas, se o mental não é em si mesmo somente físico, não pode, então, ser plenamente explicado pela ciência física. E então, como vou argumentar mais adiante, é difícil evitar a conclusão que aqueles aspectos de nossa constituição física que trazem o mental consigo também não podem ser explicados pela ciência física. Se a biologia evolutiva é uma teoria física – como geralmente é considerada – então não pode explicar o aparecimento da consciência e de outros fenômenos que não podem ser reduzidos ao aspecto físico meramente” (p. 15).
“Uma alternativa genuína ao programa reducionista [do darwinismo] irá requerer uma explicação de como a mente e tudo o que a acompanha é inerente ao universo” (p.15).
“Os elementos fundamentais e as leis da física e da química têm sido assumidos para se explicar o comportamento do mundo inanimado. Algo mais é necessário para explicar como podem existir criaturas conscientes e pensantes, cujos corpos e cérebros são feitos destes elementos” (p.20).
Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se a mente existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se tornado na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E aqui ele cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado renomado:
“O evolucionismo naturalista provê uma explicação de nossas capacidades [mentais] que mina a confiabilidade delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo” (p. 27).
“Eu concordo com Alvin Plantinga que, ao contrário da benevolência divina, a aplicação da teoria da evolução à compreensão de nossas capacidades cognitivas acaba por minar nossa confiança nelas, embora não a destrua por completo. Mecanismos formadores de crenças e que têm uma vantagem seletiva no conflito diário pela sobrevivência não merecem a nossa confiança na construção de explicações teóricas do mundo como um todo… A teoria da evolução deixa a autoridade da razão numa posição muito mais fraca. Especialmente no que se refere à nossa capacidade moral e outras capacidades normativas – nas quais confiamos com frequência para corrigir nossos instintos. Eu concordo com Sharon Street [professora de filosofia na Universidade de Nova York] que uma auto-compreensão evolucionista quase que certamente haveria de requerer que desistíssemos do realismo moral, que é a convicção natural de que nossos juízos morais são verdadeiros ou falsos independentemente de nossas crenças” (p.28).
Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia diz:
“Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Eclesiastes 3:11).
“De um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós” (Atos 17:26-27).
Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é o reflexo da imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos. Infelizmente o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência, tateando, já tocaram.

[1] Os dois são os mais conhecidos defensores da teoria do design inteligente. Ambos já vieram falar no Mackenzie sobre este assunto.

(Fonte)

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