Primeiro, quero considerar o fato de que vivemos em um mundo onde tudo é temporário. Tudo ao nosso redor está se degradando, morrendo, chegando ao fim. Qualquer que seja nossa atual condição de vida, partiremos em breve.
Beleza é apenas temporária. Sara foi uma mulher muito bonita, mas chegou o dia que em que Abraão, seu marido, disse: “Dai-me a posse de sepultura convosco, para que eu sepulte a minha morta” (Gn 23:4).
A resistência do corpo é apenas temporária. Davi foi um notável guerreiro, mas chegou o dia em que ele mesmo, em sua velhice, necessitou de atenção e cuidados tais como os que dispensamos a uma criança.
Esta é uma verdade dolorosa e humilhante, porém devemos prestar-lhe atenção. É uma verdade que o desafia, se você está vivendo somente para este mundo. Acordará você para o fato de que as coisas para as quais está vivendo são temporárias? Suas diversões e prazeres, seus negócios e lucros em breve acabarão, juntamente com todas as demais coisas em que você tem posto seu coração e sua mente. Você não é capaz de manter consigo estas coisas. Não poderá levá-las à eternidade. O mundo está perecendo. Dará você ouvidos ao que Deus afirmou em Sua Palavra: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2)? “O mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17).
Entretanto, se você é um verdadeiro cristão, essa mesma verdade deve animá-lo e confortá-lo. Todas as suas provações e todos os seus conflitos são temporários. Brevemente chegarão ao fim. Suporte-os com paciência e olhe para além deles. Sua cruz logo será trocada por uma coroa, e você se assentará com Abraão, Isaque e Jacó no reino de Deus.
O trecho escolhido começa com eu [subentendido]. Existem dois grandes eus nas Escrituras, os quais são exatamente opostos. Um é o eu daquele querubim: é a primeira vez que a palavra eu foi usada no universo de Deus e foi quando o rebelde a pronunciou. O outro eu é o de nosso Senhor, o qual Ele usou com Seus discípulos, quando disse “Eu em vós”. O que Satanás realmente queria dizer quando usou pela primeira vez a palavra eu foi: “Não mais Deus, mas eu”. Isso fez dele o arqui-traidor. Quando ele continuou dizendo “Eu irei”, isso foi um ato de auto-traição.
Adão e Eva fizeram a mesma escolha que o diabo já tinha feito: o eu em lugar de Deus. O eu se tornou o centro da visão deles, e eles também disseram: “Não mais Deus, mas eu”. Esse eu é também o centro da sua vida e da minha, e quer viver para si mesmo. Para haver uma nova história em nossa vida, deverá haver primeiro uma mudança no nosso relacionamento tanto com o eu quanto com Deus. Nossa vida devem ser reajustadas de tal maneira que, em vez de “Não mais Deus, mas eu”, seja o: “Já não sou eu, mas Cristo” de Gálatas 2.19,20.
Mas o eu nunca sairá do trono por si mesmo. Ele nunca se rebaixará ou se retirará em favor de Cristo. Ele deve ser removido a fim de ser substituído por Cristo como centro de nossa vida. Como se pode fazer isso? Existe somente um lugar onde isso pode ser feito, e esse lugar é a cruz de Cristo. O caminho de Deus é o caminho da cruz, e o caminho da cruz significa morte. Nós não podemos dizer de uma forma real: “Cristo vive em mim” antes de dizermos: “Eu estou crucificado com Cristo”. Essa é a ordem de Deus, e não pode ser mudada. Quando o velho eu se retira por meio da crucificação, a nova vida entra pela ressurreição. Quando o velho eu cai e morre, o novo eu surge e vive.
Por que razão o velho eu é tão abominável e odioso aos olhos de Deus, para que deva tratar tão drasticamente com ele? Eu estou sempre procurando uma visão nova desse versículo. Alguns anos atrás, compreendi esse verso de uma maneira bem definida como um padrão para minha vida diária. Recentemente, li um folheto e recebi uma nova luz nesse versículo, o qual deu lugar a uma nova linha de pensamento com respeito à razão pela qual Deus teve de levar o velho eu à cruz para ser crucificado com Jesus Cristo. Vou pedir a você que abra a Bíblia em Marcos 10.32-45, e leia esse trecho antes de continuar a ler este artigo.
Nessa passagem, o Senhor Jesus falou a Seus discípulos do sofrimento que O esperava; da zombaria, do tormento e dos acoites, que terminariam em morte de crucificação. Alguém poderia pensar que o coração deles tivesse sido comovido enquanto visualizavam a agonia que esperava o Senhor. Mas muito pelo contrário! As palavras do Senhor Jesus pareciam não dizer nada a eles. Por quê? Porque eles estavam preocupados consigo mesmos. Dois deles, Tiago e João, vieram ao Senhor dizendo: “Mestre, queremos que nos conceda o que Te vamos pedir”. Isto é o ego falando: “Que Tu nos concedas!” Não há nenhum desejo de fazer algo para Ele.
O eu sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O eu quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias e, mesmo ocasionalmente, o tempo.
O Senhor Jesus perguntou: “Que quereis que vos faça?” Quanta graça! Que incomparável altruísmo e humildade! Então, os dois disseram: “Permite-nos que na Tua glória nos assentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda.” “Permiti-nos! Não importa que tipo de lugar os outros dez tenham; qualquer lugar será bom para eles; mas cuida para que nós tenhamos os melhores lugares, por obséquio. Depois que o Senhor nos houver colocado assentados, pode, então, assentar os outros em qualquer lugar.” Lembre-se que estes dois eram ardentes fundamentalistas. Eles acreditavam no céu. Haveria de vir uma Terra Gloriosa, e eles queriam se assegurar de que teriam os melhores lugares ali; eles iriam reservá-los, e queriam obter essa solicitação antes mesmo que os outros tivessem uma chance.
O Senhor fez dessa solicitação uma ocasião para ensinar-lhes mais alguma coisa: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo?” “Sim! Vocês estarão Comigo na Terra Gloriosa, mas há alguma coisa antes da Terra Gloriosa. Há o cálice: a cruz! Vocês estão prontos para ir à cruz? Os lugares que vocês terão na glória irão depender de vocês irem àquela cruz Comigo ou não, de vocês beberem aquele cálice Comigo.”
Eles não tinham pensado nisto! Eles pensaram somente nos lugares que iriam ocupar na glória – puro e extremo egoísmo. Mas a cruz vem antes da glória; o cálice precede o lugar, não somente para eles, mas também para você e para mim. Quando os dez ouviram a conversa, ficaram muito aborrecidos pelo fato dos dois terem se antecipado a eles e pedido os melhores lugares. A raiva deles suscitou do Senhor Jesus estas palavras maravilhosas, as quais prefiguram a cruz e colocam-na bem no centro da experiência cristã:
“Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos” (vv. 43-45).
Não pensariam vocês que a palavra “próprio” os teria atingido até o âmago? O próprio Filho do homem! Ele tinha o direito de vir esperando ser servido, porque era o Filho de Deus. Mas Ele veio também como o Filho do homem, e é assim que Ele próprio se chama aqui. O ego espera obter, Cristo veio para dar. Ele veio não para ser servido, mas para servir, até mesmo para dar a Si próprio à morte na cruz.
O eu sempre espera que alguém o sirva. Ele não vem para servir, mas para ser servido. Sim! O eu quer que todo mundo e todas as coisas o sirvam – pessoas, circunstâncias e, mesmo ocasionalmente, o tempo.
O velho eu tem um grande senso de sua própria importância, e uma presunçosa avaliação das próprias habilidades. Ele fica terrivelmente chateado se sua importância não é reconhecida, se seus dons não são valorizados, se seus direitos não são admitidos ou se não é considerado apropriadamente; tudo porque ele veio para ser servido, e não para servir.
O velho eu sabe muita coisa da Bíblia, mas nada da parte que diz: “Preferindo-vos em honra uns aos outros”, ou de: “Não procurando o que é propriamente seu”, ou de: “Alegrai-vos com os que se alegram”. Sendo assim, isso dá lugar ao ciúme e à inveja, talvez até mesmo à falta de perdão, ressentimento e ódio, tudo porque ele veio para ser servido, não para servir. Ele pode finalmente até fazer uma bondade a alguém, e então quase ter um colapso nervoso porque não foi suficientemente apreciado. Os agradecimentos não foram bastante profusos, porque ele veio para ser servido, não para servir.
Ele se orgulha de seu firme julgamento e sábio conselho e ama ser consultado. Se as pessoas se dão bem sem seu conselho, ou se seu conselho é dado, mas ignorado, então, sua reputação sofre. Ele veio para ser servido. Ele tinha de falar numa reunião e esperava uma grande audiência, mas não havia uma grande audiência; ou talvez a grande audiência estivesse lá, mas simplesmente saiu sem dizer qualquer palavra de como a reunião tinha sido um sucesso ou comentado da mensagem maravilhosa que tinha sido dada. Então, o velho eu foi para casa cabisbaixo e triste, julgando-se falho e sentindo-se extremamente deprimido e aborrecido. Ele não veio para servir, mas para ser servido, e estava desapontado.
Ele queria se entregar ao trabalho cristão, tinha esperado ardentemente por isso, mas pelo quê ele iria ganhar disso e não pelo quê ele representaria ao trabalho. Logo, ele ficou desapontado e cansado, e queria desistir. Por quê? Porque ele não veio para ministrar, mas para ser ministrado; e não recebeu o que esperava.
A Principal Causa do Problema
O problema que você e eu temos em nossa vida e em nosso serviço é devido principalmente ao eu. Naturalmente não pensamos assim! Nós continuamos a fazer exatamente aquilo que começou no Éden: nós tentamos colocar a culpa noutro lugar (cf. Gn 3.12). Mas nenhum de nós pode jamais ser roubado de qualquer paz, alegria, descanso, poder, ou qualquer outra coisa que pertence a nós pelo fato de sermos cristãos, a não ser por causa do velho eu. Ele fica tão inquietado por pequenas coisas. A água é cortada justamente na hora que alguém começa a lavar a louça; a carta não vem no dia exato em que é esperada; ou até mesmo alguém começa a escrever uma carta e acaba a tinta da caneta! Como o velho eu se indigna e se enfurece! Que momentos difíceis! Por quê? Ele está ocupado consigo mesmo, toda a vida gira em torno dele. Ele veio, não para ministrar, mas para ser ministrado. É, então, de estranhar que, para Deus, haja outro lugar para ele a não ser a cruz do Calvário?
Agora voltemos ao nosso verso. “[Eu] estou crucificado com Cristo.” Creio que Paulo estava dando um testemunho pessoal. Ele nos deu a doutrina que está em Romanos 6.6, mas aqui ele dá seu testemunho pessoal de que isso é um fato e de que isso passou a ser sua própria realidade de vida. Paulo está dizendo aqui: “Eu, Paulo, fui crucificado com Cristo, e não é mais o velho homem que é o centro de minha vida; Outro veio para tomar seu lugar. Já não sou eu, mas Cristo!” Podemos dizer o mesmo como uma realidade viva?
Mas quem é Cristo? Qual é Sua vida? Uma vida assim humilde, santa, pura, justa, tal vida de amor: isto é Cristo. Aquele que é tudo isso – este Cristo, não outro – vive em você e em mim. Que espécie de vida Ele vive? Exatamente a mesma espécie de vida que viveu aqui na terra. Não é outra vida. Ele vive exatamente a vida que está vivendo agora à mão direita de Deus. E Cristo vive em mim!
Existem certos princípios que governaram a vida de Cristo quando Ele viveu aqui na terra; princípios bem definidos e afirmados muito claramente na Palavra de Deus, e vou mencionar cinco deles. Eu creio que, se deixar Cristo viver completamente em mim, então, Ele vai viver de acordo com esses mesmos princípios.
Primeiro:Ele vivia puramente para a glória de Deus. Não havia um simples traço de auto-glorificação no Filho do homem. Ele disse em Sua oração sacerdotal: “Eu terminei o trabalho que Tu me deste”. Isso nos ensina que, mesmo antes do desejo de fazer a obra do Pai, o desejo ardente de Seu coração era glorificar Seu Pai. Ele tanto glorificou o Pai que pôde dizer a Felipe, quando este perguntou se poderia ver o Pai: “Aquele que vê a Mim vê o Pai”. Assim, este é o primeiro princípio da vida de nosso Senhor: glorificar a Deus, e não auto-glorificação.
Segundo: Ele viveu para agradar ao Pai. Não houve nenhum agrado próprio em Sua vida. “Eu sempre faço as coisas que Lhe aprazem”; sempre, e não algumas vezes. Este foi um princípio permanente em Sua vida: viver para agradar ao Pai.
Terceiro: Ele viveu em completa obediência a Seu Pai. Não navia nenhum traço de vontade própria Nele. Ele continuamente dizia: “Não seja feita a Minha vontade, mas a Tua”. Em todas as coisas e em todo momento, este também era um princípio permanente na vida do Filho do Homem aqui na terra.
Quarto: Ele vivia em absoluta dependência de Seu Pai. Não havia auto-confiança. Ele disse: “O Filho nada pode fazer de Si mesmo, senão aquilo que vir o Pai fazer”.
Quinto: Ele viveu somente para Seu Pai. Não havia apenas nenhuma vontade própria, mas também nenhum caminho próprio. Ele disse: “O Pai enviou-Me” e “Eu terminei a obra que o Pai me deu a fazer”.
Ora, o Cristo que vive em você e em mim pretende viver exatamente em acordo com esses cinco princípios, de maneira que em nossa vida haverá glorificação do Senhor Jesus Cristo, e não auto-glorificação: nosso viver será somente para agradá-Lo, e não para agrado próprio, mas uma vontade completamente entregue em submissão ao Senhor Jesus Cristo. Nós seremos realmente Seus escravos. Será uma vida vivida sem auto-confiança, nunca fazendo nada de nós mesmos. Crendo que Ele vive Sua vida em nós, nossa dependência estará totalmente Nele.
Paulo aplicou isso a si mesmo. O mesmo Cristo deve viver a mesma vida em você e em mim. Isso é tão profundo, e assim mesmo tão simples: apenas uma Pessoa divina vivendo Sua vida num ser humano. Não é que Cristo vai viver Sua vida em nós com nossa ajuda. Não é que Ele vai nos ajudar a viver a vida cristã. Não é nenhuma dessas duas coisas. É exatamente o que nosso verso diz: Cristo vivendo plenamente Sua vida em nós. Cremos nisso? É essa a vida que você e eu temos vivido até o dia de hoje? Temos estado conscientes de que há uma Pessoa divina dentro de nós, realmente vivendo Sua vida em nós?
Isso não poderia ser afirmado de maneira mais simples. Ainda temos nossa personalidade humana, mas existe outra Pessoa vivendo, e vivendo em todas as áreas de nossa vida, não em uma pequena parte, mas em toda parte. O velho eu está crucificado e, portanto, deve ser despojado como lemos em Efésios. O novo eu, o qual é Cristo em nós, a vida sobrenatural de uma Pessoa sobrenatural deve ser vivida plenamente em nós. Isso é verdade para você e para mim?
Há duas coisas notáveis a respeito da videira. Não existe uma planta cujo fruto contenha tanto álcool e da qual o álcool possa ser destilado tão abundantemente, como a videira. Mas também não existe outra planta que possa tão rapidamente tornar-se selvagem, prejudicando sua frutificação; necessitando assim ser podada impiedosamente.
Eu olho de minha janela e vejo grandes vinhas; o principal trabalho do vinhateiro é a poda. Pode haver uma vinha enraizada tão profundamente em terra boa que não necessite ser escavada, adubada ou aguada, mas a poda não pode ser dispensada, para que ela dê bons frutos. Algumas árvores precisam de poda ocasional, outras produzem fruto perfeito sem nenhuma poda, mas a vinha precisa ser podada. Assim, nosso Senhor nos diz logo no inicio da parábola, que o ramo que dá o fruto o Pai “limpa para que produza mais fruto ainda”.
Considere por um momento o que é essa poda ou limpeza. Não é a remoção de ervas daninhas ou espinhos, ou de qualquer coisa de fora que possa impedir o crescimento. Não;é o próprio corte dos longos brotos do ano anterior, a remoção de algo que vem de dentro, que foi produzido pela vida da própria videira.É a remoção de algo que é a prova do vigor de sua vida; quanto mais vigoroso foi o crescimento, maior a necessidade de poda.
É a madeira genuína e sadia que precisa ser cortada. E por quê? Porque ela consumiria demasiada seiva ao encher todos os longos renovos que cresceram no ano anterior; a seiva deve ser poupada e usada apenas para o fruto. Os ramos com 2,5 ou 3 metros de comprimento são cortados bem perto da raiz, e nada é deixado a não ser galhos de 2,5 a 5 centímetros, suficientes para sustentar as uvas. Somente quando tudo o que não é necessário para a produção dos frutos é cortado impiedosamente, e apenas os ramos suficientes para a frutificação são deixados, é que se pode esperar uma boa colheita.
Que lição preciosa e solene! A limpeza do Vinhateiro não se refere apenas ao pecado neste ponto. É nossa própria atividade religiosa, pois ela se desenvolve no próprio ato de dar fruto. É isso que deve ser cortado e limpo. Temos de usar nossos dons de sabedoria, eloqüência, influência ou zelo para Deus. E esses dons estão sempre em perigo de serem indevidamente desenvolvidos e de virmos a confiar neles.
E assim, após cada estação de trabalho, Deus tem de nos levar ao fim de nossas próprias forças, à consciência da inutilidade e perigo de tudo aquilo que é do homem a fim de sentirmos, então, que não somos nada. Tudo o que é deixado de nós é apenas o bastante pra receber o poder da seiva vivificante do Espírito Santo. Aquilo que é do homem deve ser reduzido a seu nível mais baixo. Tudo aquilo que é inconsistente com a mais completa devoção ao serviço de Cristo deve ser removido. Quanto mais completa a limpeza e poda de tudo o que é do “eu”, quanto menor a superfície que o Espírito Santo precisa cobrir, tanto maior será a concentração de todo o nosso ser, a fim de nos colocarmos inteiramente à disposição do Espírito. Essa é a verdadeira circuncisão de Cristo. Essa é a real crucificação com Cristo, trazendo sempre no corpo, o morrer de Jesus.
Bendita limpeza! Bendita poda! A purificação do próprio Deus! Quanto devemos nos regozijar na certeza de que vamos produzir mais fruto.
“Ó nosso Santo Lavrador, limpa e corta tudo o que há em nós e que poderia tornar-se objeto de exibição ou poderia transformar-se em fonte de auto-confiança e jactância. Senhor, mantém-nos humildes, para que nenhuma carne se glorie em Tua presença. Confiamos em Ti para fazer Tua obra.”
“E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique. E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador” (Lucas 5.4-8).
O Salvador, depois de pregar à multidão, convida Pedro para se fazer ao mar alto e lançar as redes para uma pesca. Pedro responde: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas sobre a Tua palavra lançarei a rede”.
Observe a mistura de bom humor e incredulidade de Pedro! O Mestre havia ordenado que eles lançassem todas as suas redes. Pedro vai lançar apenas uma delas. Jesus lhe ordena lançá-las para apanhar peixes. Pedro nem pensa em tal coisa. “Ora! Depois de labutar durante todo o tempo propício para pescar, e não apanhando nada, deveremos tentar sob o sol quente e próximo da praia? O que dirão os outros pescadores de um procedimento tão tolo? Este homem pode ser excelente Mestre, mas o que Ele sabe sobre pesca? Nós conhecemos bem estas águas; fomos criados perto dela desde meninos. Não obstante, lançarei uma das redes, somente para agradá-Lo, e então Ele aprenderá pelos resultados práticos quão tola foi Sua idéia!” Assim fez.
E o resultado o surpreende. Se as outras redes tivessem sido lançadas, elas teriam recebido parte do peso dessa; agora o esforço é tão grande, que a rede ia-se rompendo toda. Querem agora a ajuda de todos os companheiros para segurar os peixes. Eles estão tão carregados que quase vão a pique. Veja, então, como os pensamentos de Pedro foram transtornados! Naquele intelectual, que nada sabe sobre pesca, ele encontrou Alguém muito mais sábio do que ele e cujas realizações são também mais amplas do que as suas.
Ele se culpa extremamente, então, por sua incredulidade. Quem é este que faz tais coisas? “Senhor, ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador”.
Quão rapidamente pode o Senhor mudar o desânimo em alegria! Nós olhamos para o andamento habitual das coisas, e imaginamos que tudo deve seguir seu curso normal e manter o padrão médio. Mas o olho do cristão deve estar Naquele que pode, num momento, alterar tudo para o bem, e assim reavivar Sua obra, de maneira tal que não haverá capacidade suficiente para colher todos os resultados do beneficio.
Esta é uma metáfora singular usada pelo salmista para descrever suas muitas aflições. Você já viu um lavrador arando o campo à maneira antiga? Ele usa um arado de aço extremamente aguçado, e, à medida que o lavrador ara o campo, esse instrumento se enterra no solo, virando os torrões, desnudando o campo e abrindo grandes sulcos. Trata-se de uma descrição bastante acurada da maneira como Deus trata conosco. Queridos amigos, quantas vezes Deus permite que diferentes pessoas, circunstâncias e eventos entrem em nossa vida. E eles penetram em nossa alma como o arado de aço no solo – lavram profundamente nosso dorso e fazem longos sulcos: cortam, reviram, desnudam a alma e a fazem sangrar.
Foi dito acerca de José que sua alma penetrou no ferro (Sl 105.18). Isso se enquadra muito bem na experiência aqui descrita. A cruz corta profundamente e penetra nossa alma, perturbando-nos, colocando-nos desnudos e sangrando diante de Deus e do homem – revelando quais são nossos pensamentos, manifestando aquilo que sentimos e descobrindo qual a nossa vontade. O ferro e o aço penetram em nossa alma. Que experiência penosa!
Sabemos, porém, a razão pela qual o lavrador ara o campo e faz sulcos longos e profundos? Não é por puro prazer que age assim! O lavrador tem um propósito final. Ele ara o campo, abre valetas e faz sulcos longos e profundos com a idéia de plantar sementes e com a esperança de, por fim, fazer uma dourada colheita. A aradura é feita com o intuito de plantar e colher. Quantos mais profundos e longos sulcos tanto mais fácil será plantar mais sementes e fazer uma colheita maior.
Senhor, prendeste-me na estrada de Damasco; transformaste a autoconsciência em humildade. Lancei-me à jornada transbordando de confiança em mim mesmo; não teria qualquer obstáculo, não experimentava qualquer dificuldade. De repente, numa volta do caminho minha alma paralisou-se. A confiança feneceu. O mundo não mais se me apresentava campo de prazer. Uma sombra estendeu-se sobre a cena, e eu não podia mais encontrar o caminho. Tudo aconteceu por causa de um encontro com um homem – um homem de Nazaré. Antes de encontrá-Lo, meu orgulho pessoal era incomensurável. Meu coração clamava “Escreverei meu próprio destino!” Mas um simples olhar ao Homem de Nazaré me prostrou. Minha glória imaginária transformou-se em cinzas; minha pretensa força tornou-se fraqueza; bati em meu peito e gritei: “Imundo!” Devo queixar-me por ter encontrado aquele Homem? Devo chorar porque um raio de luz numa esquina lançou toda a minha grandeza na sombra? Não, Pai, pois a sombra é o reflexo do resplendor. Foi por ter visto Tua beleza que a humanidade se ofuscou. Foi o crescimento que me tornou humilde. Contemplei por um momento um ideal perfeito, e seu brilho eclipsou minha lâmpada. Não é a noite, mas o dia que me torna cego quanto àquilo que possuo. É a luz que me faz odiar a mim mesmo. É o sol que revela minha imundície. É a aurora que me fala de minhas trevas. É a manhã que descobre minhas vestes insignificantes. É o brilho que mancha meus trajes. É a claridade que enumera minhas nuvens.
Ó Deus, meu Deus, só perco meu caminho quando iluminado por Ti!
O ambiente do mundo sufoca desejos divinos. É contrário ao espírito de oração. Se vivermos e nos movermos numa atmosfera venenosa, certamente nossa vida espiritual será envenenada.
Os discípulos vieram ao Mestre e suplicaram que lhes ensinasse a orar. Jesus disse: “Entra no teu quarto, e, fechada a porta…” (Mt 6.6). É preciso colocar a barreira da porta fechada, deixar o coração e o espírito isolados, sozinhos com Deus. Não precisamos da chave que fecha a porta de uma cela monástica, mas do espírito que fecha a chave para o mundo, recusando-se a ser movido por seus princípios contrários.
É difícil orar porque precisamos usar o cérebro, e a mente é a última fortaleza do diabo. “E vos renoveis no espírito do vosso entendimento [ou mente]” (Ef 4.23). Busque a “mente de Cristo”.
Ore para que a mente seja clarificada na própria oração. Muitos oram sem qualquer noção sobre o que vão pedir. Não há suficiente contemplação e meditação. Se os anjos não podem entrar na presença de Deus com rosto descoberto, quanto menos devemos entrar correndo para falar com Ele com mente despreparada!
É difícil orar porque orar é batalhar. Falemos com o Senhor que não sabemos orar. À medida que formos dando expressão a isso, estaremos desafiando as potestades das trevas. Ao buscarmos a Deus, procurando ligar-nos insistentemente a Ele, iremos rompendo as forças de oposição e, ao mesmo tempo, aprendendo lições de como vencê-las com o poder do Espírito.
Quando estivermos de joelhos, e os céus estiverem fechados como bronze, é um sinal de que entramos numa esfera espiritual e que precisamos lutar. Não é necessário rasgarmos os céus para entrar nessa esfera. Já estamos sentados nos lugares celestiais em Cristo. Porém, quando oramos, tomamos uma arma nas mãos. Precisamos usá-la para batalhar e passar pelas forças de oposição!
Esperar em Deus não é ser passivo, mas ficar na expectativa – como esperaríamos na estação pela chegada de um trem.
Ore sobre suas orações. Veja se há nelas algum elemento de egocentrismo. Veja se está orando com motivos impuros ou por alvos errados. Aquele filho por quem você tem orado, que ainda não conhece Jesus – veja se você não tem orado apenas com o amor de mãe no coração. Afeto humano não é suficiente. Precisa haver um impulso de Deus, um mover divino.
Só podemos orar à medida que tivermos uma visão da necessidade do mundo e sentirmos o amor pelos perdidos que Jesus tinha. Somos um sacerdócio real. Não seremos intercessores enquanto não virmos a necessidade, e só veremos a necessidade se estivermos em contato com Deus.
“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).
Vigilância espiritual
Junto com a oração, é importante vigiar. Oração é o resultado de estar alerta espiritualmente, e vigilância é o resultado de vida espiritual. Um homem desfalecido não tem consciência do que está à sua volta. Ele está vivo, mas inconsciente. Nunca perca consciência do poder e da presença de Deus. Ore, mas não esmoreça!
O vento do Espírito Santo pode soprar hoje. Estamos de prontidão, alertas? Se o vento viesse e as velas não estivessem armadas, e os marinheiros todos dormindo, eles perderiam a oportunidade. Pode ser que um missionário esteja lutando com dificuldades, ou um irmão ou irmã em tristeza e depressão; Deus pode estar procurando por um intercessor, alguém que está vigiando, disposto a orar. Estamos prontos?
Se a igreja se entregasse à oração, o que isso significaria à multidão incontável de pobres e perdidos que estão perecendo longe de Jesus? Deus fenderia os céus e desceria.
Deus coloca a chave de Sua casa de tesouros nas mãos daquele que ora. Vamos orar!
Como manter uma comunhão ininterrupta com Deus é a grande pergunta em muitos corações. Pois a nova vida espiritual, dada a nós quando recebemos o Senhor Jesus (Jo 1.12), só pode ser sustentada por comunhão constante com Deus, que é a sua fonte – assim como ocorre na esfera física: precisamos respirar uma vez e outra vez e ainda mais uma vez a fim de continuarmos vivendo.
Há muito que o bebê tem de aprender enquanto cresce, mas uma coisa antes de todas as demais ele deve fazer: deve respirar! Assim é com os filhos do Senhor: eles têm muito para aprender, e Ele tem muito para fazer no treinamento deles, mas, acima de todas as coisas, eles também devem respirar: respirar na nova vida, dia após dia, em comunhão com Ele. Eles devem, portanto, aprender como viver nessa viva união e comunicação com Ele, e Ele os conduzirá em outras questões de modo gentil, conforme forem capazes de suportar.
A palavra comunhão
O dicionário dá o significado da palavra comunhão como “conversa, intercâmbio de pensamento”, e descreve a comunhão como o ato de “consultar, conversar ou falar com outro”. Isto é o que a comunhão com Deus realmente significa: uma “consulta” incessante a Ele, uma abençoada conversa sobre todos os problemas e dificuldades que nos vêm em nossa peregrinação por este mundo mau de hoje.
O profeta Amós escreveu: “Podem dois caminhar juntos a menos que combinem [ou, marquem um encontro]?” (Am 3.3).
Deus marca um encontro para se reunir com o pecador na cruz do Calvário, e a conversa deve começar lá. Por natureza estamos em inimizade com Deus, mas Deus estava em Cristo reconciliando o mundo com Ele mesmo, e a paz foi feita pelo sangue na Cruz de Jesus (Cl 1.20). Assim, tudo está claro do lado de Deus, e Ele lança um apelo a Seus inimigos e marca um encontro para reunir-se com eles no Calvário, o lugar da reconciliação.
Como o Senhor Jesus pode viver em nós e manifestar Sua própria vida em nós, se não damos o trono inteiramente a Ele?
O lugar chamado Calvário
É aqui, à plena vista deste sacrifício maravilhoso do Filho de Deus (Hb 9.26), que Ele nos traz para o acordo Consigo mesmo. No início, são-nos mostrados nossos pecados pregados no madeiro com Seu Filho (1Pe 2.24), mas a salvação inclui muito mais do que isso. Devemos ser poupados de anos de lutas e fracassos se aprendemos de imediato, como aconteceu com os convertidos nos dias de Paulo, o apóstolo, que nós mesmos fomos mortos na morte de Cristo. O passado foi apagado, o pecador perdoado foi considerado crucificado com o Senhor crucificado, a partir dali unido a Ele e participando de Sua vida. Isso é de fato salvação! “Salvo por compartilhar de Sua vida” (Rm 5.10, Conybeare).
A vontade rendida
Para que essa salvação gloriosa seja percebida em toda a profundidade de seu significado, é necessário que nos rendamos inteiramente a Deus (6.13). Como podemos ser libertados da escravidão do ego e do pecado, se retivermos alguma coisa para o ego? Como pode o Senhor Jesus habitar em nós e manifestar Sua própria vida em nós, se não damos o trono inteiramente a Ele?
Nossa vontade é tudo o que realmente temos de dar para nosso querido Senhor. Ele faz toda a obra se nós apenas O deixamos ter o direito absoluto da direção. Não podemos nem nos salvar nem nos livrar de nossos pecados, nem do ego de forma alguma. Ele nos remiu na cruz do Calvário e fará a obra em nós, se dermos a Ele o controle total. Ele apenas nos pede decisivamente que nos coloquemos do lado Dele contra tudo em nós e em nossa vida do que Ele deve nos colocar em liberdade (2Co 6.14-18).
Em resumo, devemos entregar-nos irrevogavelmente a Suas mãos, para que Ele faça de nós o que Lhe agrada; por Sua graça deve resolutamente dizer: “Sim, Senhor”, para cada indicação de Sua vontade.
O Espírito de Cristo que em nós habita
Quando rendemos a Ele todo o nosso ser, o Espírito Santo toma posse do coração e o limpa de seus velhos desejos (At 15.9) e revela o Cristo vivo como o habitante do que se rende, vivendo no espírito do redimido filho de Deus por Seu Espírito, para que possamos contar daqui por diante com “a provisão do Espírito de Jesus” (Fp 1.19) para todas as nossas necessidades.
O caminhar em feliz conversação começou. O próprio Pai nos ama, porque amamos Seu Filho (Jo 16.27), e Ele conversa com Seus filhos, sussurrando: “Viverei neles e neles andarei” (2Co 6.16).
O ponto mais importante nesse abençoado caminhar com Jesus é que não deve haver nenhuma falha na comunhão.
Depois do primeiro “acordo” com Deus, há muito o que aprender, e não devemos ser desencorajados ou acovardados se não entendermos de imediato como andar com Ele fielmente.
Condições para a comunhão
Vamos ver algumas condições para a manutenção da comunhão.
1. Devemos cuidar para dar ao Senhor de fato os primeiros momentos do dia para consultá-Lo sobre nossa vida
O Senhor precisa de tempo para soprar Sua vida em nós e falar conosco sobre Seus propósitos para nós como revelados em Sua Palavra. Deixe que a primeira meia hora, ou uma hora, do dia, se isso for possível, seja uma real comunhão de coração.
Vamos entrar em Sua presença e sentar aos pés de nosso Pai, aproximando-nos Dele com coração verdadeiro na plena certeza de fé, pois podemos contar com o acesso imediato mediante o sangue precioso de Jesus (Hb 10.19,20), tendo “ousadia para entrar no santo dos santos” por meio Dele.
Tendo entrado na presença do Pai pela fé, abra a Palavra escrita e peça a seu Pai para falar-lhe por meio dela. Volte a sua porção para aquele dia e a leia, não tanto para estudá-la quanto para escutar o que Deus, o Senhor, lhe dirá por ela.
Fale com seu Pai sobre ela, peça-Lhe para revelar seu significado, que alerta ela tem para você. Que repreensão? Que ordem? Que consolação? Enquanto você lê Sua carta, responda a Ele dizendo-Lhe que obedecerá assim que souber como; que confiará Nele para cuidar de você, para guardá-lo durante o dia que está começando. Então, derrame o desejo de seu coração diante Dele, seu desejo profundo de conhecê-Lo melhor e de ser Seu filho obediente.
2. Devemos nos alimentar da comida celestial provida a nós na Palavra do Deus (Mt 4.4)
Há uma vasta diferença entre alimentar-nos espiritualmente da Palavra do Deus (Jr 15.16) e estudá-la com o intelecto. Muitos gastam todo o tempo buscando entender todas as “coisas difíceis de serem entendidas” (2Pe 3.16), ou alimentando a mente curiosa com todos os problemas que podem encontrar, para que sua alma fique de fato faminta em meio da abundância. No horário da manhã, devemos aprender a tomar nosso desjejum espiritual (Jó 23.12).
Lembre-se de que oEspírito Santo é o autor do Livro; portanto, antes de lê-lo, reconheça a presença do Autor, fale com Ele e peça-Lhe para abrir seus olhos a fim de ver coisas maravilhosas na lei Dele.
Podemos pensar na Bíblia como um depósito de comida armazenada para os filhos de Deus durante sua peregrinação na terra, e podemos conhecer a porção que Deus proveu para nossa refeição matinal pelas passagens que são claras e simples para nós, já que o Espírito Santo distribui a cada um segundo sua necessidade e capacidade. Vamos ser como criancinhas e tomar o alimento que é conveniente para nós. Ao chegarmos às “palavras difíceis”, deixemo-las de lado, pois elas fazem parte do alimento sólido (Hb .14), provido para nossas necessidades nos anos futuros, quando formos filhos de Deus plenamente amadurecidos.
Vamos procurar por Deus em Sua Palavra, mais do que por conhecimento sobre Ele, e Ele vai nos revelar a Si mesmo cada vez mais. Ele nos ensinará como estudar Sua Palavra a fim de ganharmos o conhecimento exato dela, mas, principalmente, o que é realmente nosso é somente aquilo que somos capazes de assimilar e viver na vida diária.
3. Devemos aprender a viver momento a momento
Como temos visto, a comunhão com Deus se parece muito com a respiração: só pode ser mantida apenas um momento de cada vez. Devemos recusar a olhar para trás ou para frente, por mais que o inimigo possa nos tentar a assim fazê-lo. Vãs remorsos do passado e temores vagos pelo futuro nos atormentarão a mente o bastante para quebrar nossa comunhão com Deus.
A mente não pode estar ocupada com dois assuntos ao mesmo tempo; por isso, temos de confiar em nosso Senhor para nos guardar permanentemente, até mesmo inconscientemente, enquanto damos nossa atenção completamente a nosso dever em fazer todas as coisas a Seu modo (Cl 3.23).
Mas suponhamos que saibamos ter errado: não deveríamos consertá-lo?
“Comungar” significa consultar-se com o Senhor. Faça isto imediatamente! Dê todos os “erros” reais e até os aparentes imediatamente a Ele. Quando você expuser sua causa diante Dele, peça a Ele para lhe mostrar tudo que deseja que você faça, algum passo que você tenha de refazer.
Se Ele lhe mostrar algo acerca de outra pessoa com quem você tenha errado, Sua Palavra é clara: “Confessai as vossas culpas uns aos outros” (Tg 5.16; ver também Mt 5.23; 18.15).
Isto é sempre necessário para não quebrar a comunhão: uma consciência livre de ofensa para com o homem bem como para com Deus (At 24.16)! Se nenhuma luz especial for dada, deixe todo o assunto com seu Senhor; Ele promete que “Sua glória [presença] será a tua recompensa” (Is 58.8). Ele pode organizar e endireitar tudo que está atrás de você bem como as coisas tortas diante de você. O passado e o futuro estão sob o Seu controle.
4. Devemos estar atentos em não ter nenhuma quebra na comunhão
Se estivermos de fato na caminhada com Deus, veremos que o abençoado Espírito nos faz cada vez mais sensíveis a qualquer brecha nessa santa amizade. Quando estamos conscientes de um fracasso real, devemos voar imediatamente para o trono da graça e nos lançar pela fé na presença de nosso Deus Pai (ver Hb 10.19,20), tendo assegurado o acesso por causa do sangue precioso de Jesus. Oh, precisamos entender mais e mais que viemos a Jesus, o Mediador, e ao sangue da aspersão que fala eternamente por nós no céu (12.22-24)! Somente Seu sangue nos dá a entrada à presença do Pai, não nossa experiência, não nossa obediência, nada, nada a não ser o sangue precioso.
5. Devemos tratar rapidamente com a falha
Não é fácil ir imediatamente a Deus quando conscientes de termos falhado. De fato, a batalha se volta mais sobre este ponto, pois, assim que vamos, somos salvos no próprio ir. O diabo, nossa consciência, nossa vergonha e nosso remorso combinam-se para nos manter longe. Temos um sentimento de que deveríamos primeiro ser “miseráveis” durante algumas horas! Parece tão presunçoso levar o pecado à luz, ousar correr para Deus imediatamente; e, contudo, se nós retardarmos, sabemos que uma queda é apenas a precursora de muitas. O pecado será a mesma coisa horrível e pior três horas mais tarde.
O caminho da vitória na hora da derrota é levantar imediatamente e ir ao Pai, dizendo: “Pai, pequei”, sabendo que está escrito: “E Eu disse: Depois que fizer tudo isto, voltará para Mim […] Somente reconhece a tua iniqüidade […]” (Jr 3.7,13).
É da confissão franca e imediata a Deus que o diabo procura nos afastar e, como não conhecemos bem nosso Pai nos primeiros dias, muitas vezes ele tem sucesso e ficamos afastados de Deus; até em amarga tristeza somos conduzidos para trás.
Veja aquele pobre jovem! Ele havia caído na lama e suas roupas estavam imundas. Talvez tenha sentado na lama e dito: “Eu jamais conseguirei me erguer e manter minhas vestes brancas!”
Não, filhinho do Pai, o desânimo e o lamento só aumentam seu pecado. Levante-se e volte para seu Pai, clamando pelo sangue precioso, pois “quando ainda estava longe, o seu pai o viu, e, movido de íntima compaixão, correndo, lançou-se ao pescoço e o beijou” (Lc 15.20).
Devemos, contudo, nesse ponto, enfatizar que a transgressão e a restauração constantes não são o objetivo de Deus para os Seus remidos.
6. Devemos esperar não cair
Não devemos esperar cair muitas vezes no mesmo pecado, pois o Senhor vivo (Hb 7.25) é capaz de nos guardar de tropeçar (Jd 24). Uma quebra na comunhão mostra que a alma está fora do poder guardador de Deus, e, quando ela vai ao Senhor para restauração, deve esperar diante Dele para saber a causa de sua transgressão: provavelmente algum passo fora da vontade de Deus, pois somente no caminho de Sua vontade Deus se compromete a guardar-nos.
Está escrito: “Se andarmos na luz, como Ele está na luz […] o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos limpa de todo o pecado” (1Jo 1.7). À parte da confissão definida, quando estamos conscientes do fracasso definido, precisamos da aplicação contínua do sangue precioso para manter a comunhão límpida com Deus (1Pe 1.2), e podemos contar com isso se andarmos na luz. Isso está explicado em João 3.21: “Quem pratica a verdade vem para a luz, para que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (ver tb. Ef 5.3).
O sangue de Jesus limpa (gr., continua a limpar) se incessantemente vivermos sob o holofote de Deus, desejando sinceramente que Ele teste (1Ts 2.4) nossa vida, já que toda a obra é feita por Ele e Nele para Sua glória.
Mas e se estivermos conscientes de que há algo bloqueando a comunhão e não soubermos a causa?
Mais uma vez, o remédio é consultar o Senhor. Vá uma vez mais ao trono da graça e peça à Fiel Testemunha (Ap 3.14) para dizer-lhe a verdade e mostrar-lhe o que está errado. Confie que o bendito Espírito irá aplicar o sangue da aspersão, e, enquanto você aguarda, se nada específico é trazido a sua mente, deixe tudo com Deus e siga em calma confiança e descanse sob o sangue purificador. Cuide para não ficar morbidamente ocupado consigo mesmo, pois isso é introspecção, e, se você voltar-se para si mesmo, perderá a comunhão com o Senhor.
Alguém pode dizer: “Sim, eu volto imediatamente a Deus quando estou consciente de ter falhado, e confesso, mas não há a imediata restauração da paz e a consciência da comunhão”. Pode haver uma ou duas razões para isso.
Não conhecemos suficientemente a eficácia do sangue precioso para trazer-nos a certeza da paz. É mesmo possível que possamos, inconscientemente, estar confiando mais em nossa confissão do que na operação de Deus pelo Espírito Santo. Não é a confissão, mas a aplicação do sangue purificador pelo Espírito Santo que restaura imediatamente a comunhão quebrada com Deus. A confissão do pecado é o lado humano, a condição necessária para Deus cumprir Sua parte de perdão e purificação.
Quando pecamos contra o Senhor, e O buscamos para o perdão, devemos nos deixar humildemente em Sua mão para que Ele nos trate como achar apropriado. Ele conhece nosso caráter, e para alguns de nós poderia parecer que o pecado não é tão excessivamente pecaminoso se Ele rapidamente restaurasse o gozo de nossa salvação (Sl 51.12). Pode até ser possível que confessemos nosso fracasso com a tristeza pela perda da alegria, e não com a tristeza por causar dor a Ele. Ele precisa ensinar a Seus filhos quão pecaminoso é o pecado, e fazê-los entender quanto Ele é ofendido (Ef 4.30), muito embora o sangue precioso nos limpe e estejamos novamente em comunhão com Ele (ver Mq 7.7-9).
7. Devemos andar em obediência direta à luz
Se devemos andar em comunhão com o Senhor, é razoável que Ele espere que obedeçamos à toda luz que Ele nos dá, e podemos tomar Dele o espírito de obediência para nos capacitar a obedecer (Ez 36.27). “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo 1.14), Ele disse a Seus discípulos, e a amizade com Jesus deve significar que nos alegramos em cumprir cada desejo Dele.
Se andarmos em obediência no que é de nosso conhecimento, podemos certamente confiar que o fiel Senhor nos parará no momento em que nos vê perto de dar um passo incorreto (Is 30.21). Deve ser dito, como regra, que a marca de andar no caminho da vontade de Deus é um profundo descanso de coração.
É melhor nunca agir quando estivermos em qualquer condição agitada ou apressada da mente; por isso, temos de cultivar a tranqüilidade de espírito e a consciência da presença do Espírito de nosso invisível Amigo.
8. Devemos nos lembrar que a tentação não é pecado
O adversário faz disso sua ocupação para cortar a comunicação entre a alma e o Senhor. Ele ajusta suas táticas àquele que está atacando e atormenta as almas sensíveis procurando mantê-las em constante condenação (veja suas razões em 1Jo 3.21,22) a uma suposta desobediência ou falta de rendição. Se algum passo de obediência é sugerido, e a alma recuar, o maligno de imediato dirá: “Não está rendida!”
O remédio para isso é, mais uma vez, o mesmo: consultar-se com o Senhor.
Enfrente todas as acusações de falta de rendição pela entrega definitiva ao Senhor do ponto específico em questão. Diga-Lhe que Ele sabe que você vai obedecer se puder ter certeza de Sua vontade, e, então, descanse na fidelidade de seu Deus Pai para tornar claro o caminho para você. Ele não espera que Seu filho obedeça sem conhecimento claro da mente do Pai. Sempre que há uma dúvida, é sempre bom submeter o assunto a Deus e esperar, certo de que Ele se encarrega disso.
A tentação não é pecado. Alguém utilmente definiu a verdadeira transgressão como o sim da vontade à tentação. Se a vontade imediatamente rejeita qualquer sugestão maligna, o tentador foi frustrado em seu ataque, embora mesmo nessa situação seja mais seguro buscar de imediato que o Espírito Santo aplique o sangue de Cristo – tão delicada é a comunhão com Deus.
É da maior importância que aprendamos a viver na vontade, e não no campo de nossos sentimentos. A vontade é o ego, a verdadeira pessoa, e é mediante o poder central da vontade que Deus nos controla.
Em todos os ataques da tentação, seja ela súbita ou aguçada, mantenha a calma. Mesmo que multidões de pensamentos terríveis sejam derramadas por sua mente, volte-se de pronto para seu Senhor, e silenciosamente estabeleça diante Dele sua atitude com respeito a todas essas coisas. “Vou escolhê-las ou recusá-las?” “Eu as rejeito!”; então, graças a Deus!, é vitória; o inimigo é posto em fuga.
Por fim, não vamos desonrar nosso Senhor pensando que toda coisa desagradável deve ser Sua vontade. Se estivermos realmente rendidos a Ele, procurando fazer Sua vontade e andando com Ele em comunhão e obediência, tanto quanto pudermos, experimentaremos o que Ele disse: “É Deus que opera em vós tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13). “Porei as Minhas leis em seus corações, e lhes escreverei em suas mentes” (Hb 10.16).
Contanto que em nossa vontade estejamos firmemente decididos a obedecer a Ele, e confiamos a Ele cada momento para nos impedir da busca própria e da auto-indulgência em todas as formas, podemos confiar Nele para inclinar o nosso coração para guardar Sua lei.
Assim, comprovaremos realmente que Seus mandamentos não são penosos e veremos que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve.
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (2Co 13.14).
“A palavra de Deus que opera em vós, os que crestes” (1Ts 2.13)
Um dos primeiros requisitos para o estudo frutífero da Bíblia é o conhecimento de Deus como o Onipotente e do poder de Sua Palavra. O poder da Palavra de Deus é infinito. “Pela palavra do Senhor foram feito os céus. Ele falou e foi feito; Ele ordenou e rapidamente se fez”. Na Palavra de Deus Sua onipotência opera. Ela tem o poder criativo e chama à existência própria a coisa da qual Ele fala.
A Palavra do Deus vivo é uma palavra viva, e ela dá vida. Ela não apenas pode chamar à existência, mas até tornar novamente vivo aquilo que está morto. Seu poder vivificador pode levantar corpos mortos e dar a vida eterna a almas mortas. Toda a vida espiritual vem por meio dela, pois nascemos da semente incorruptível pela Palavra de Deus que vive e permanece para sempre.
Aqui, então, repousa, escondido de muitos, um dos segredos mais profundos da bênção da Palavra de Deus: a fé em sua energia criativa e vivificante. A Palavra trabalhará em mim a mesma disposição ou graça que Ele ordena ou promete. “Ele opera eficazmente naqueles que crêem”.
Nada pode resistir a seu poder quando recebida no coração mediante o Espírito Santo. “A voz do Senhor é em poder”. Tudo depende de se aprender a arte de receber esta palavra no coração. E, no aprendizado dessa arte, o primeiro passo é a fé em sua vida, sua onipotência, seu poder criativo. Por Sua palavra, “Deus chamou as coisas que não são, como se elas fossem”. Tão verdadeiros quanto são todos os feitos poderosos de Deus, da criação à ressurreição dos mortos, é verdadeira também cada palavra dita a nós em Seu Livro Sagrado. Duas coisas nos impedem de crer nisso como deveríamos. Uma é a terrível experiência por toda a volta, e possivelmente em nós também, da Palavra se tornar de nenhum efeito pela sabedoria ou pela descrença humana ou pelo mundanismo. A outra é a negligência do ensino da Escritura, porque a Palavra é uma semente. As sementes são pequenas. As sementes podem estar dormentes por muito tempo. As sementes têm de estar escondidas, e quando elas brotam são de crescimento lento. Porque a ação da Palavra de Deus é escondida e não visível, lenta e aparentemente fraca, não cremos em sua onipotência. Vamos fazer disso uma de nossas primeiras lições. A Palavra que estudamos é o poder de Deus para salvação; ela operará em nós tudo o que precisamos e tudo o que o Pai pedir.
Que perspectiva essa fé abriria para nossa vida espiritual! Veríamos todos os tesouros e bênçãos da graça de Deus que estão a nosso alcance. A Palavra tem poder para clarear nossa escuridão; a nosso coração ela trará a luz de Deus, o sentimento de Seu amor e o conhecimento de Sua vontade. A Palavra pode nos encher de força e coragem para vencer todo inimigo e fazer tudo o que Deus nos pede para fazer. A Palavra limparia e santificaria, operaria em nós a fé e a obediência, se tornaria em nós a semente de cada traço da semelhança a nosso Senhor. Pela Palavra, o Espírito nos conduziria a toda verdade, isto é, faria tudo que está na Palavra verdadeiro em nós, e assim prepararia nosso coração para ser a habitação do Pai e do Filho.
Que mudança viria sobre nossa relação com a Palavra de Deus se realmente crêssemos nessa verdade simples. Vamos começar nosso treinamento para esse ministério da Palavra que todo crente deve exercer, comprovando seu poder em nossa própria experiência. Vamos começar a buscar isto: reservadamente aprender a grande lição da fé, a força poderosa da Palavra de Deus. Nada menos do que isso é o significado de dizer: A Palavra de Deus é verdadeira, porque Deus mesmo a fará verdadeira em nós. Teremos muito a aprender a respeito do que impede esse poder, muito para vencer e ser libertado desses estorvos, muito para render a fim de receber essa obra. Mas tudo será alcançado se apenas nos debruçarmos sobre nosso estudo da Bíblia com a resolução determinada de crer que a Palavra de Deus tem poder onipotente no coração para operar toda a bênção da qual ela fala.
Um outro fruto do amor é a tristeza. Onde há amor a Deus, há um lamentar-se pelos nossos pecados de dureza contra Ele. Um filho que ama o seu pai não pode senão chorar por ofendê-lo. O coração que arde em amor derrama-se em lágrimas. Oh! Como eu poderia abusar do amor de um Salvador tão precioso?! Não sofreu o bastante o meu Senhor sobre a cruz, para que eu O faça sofrer ainda mais? Devo eu dar-Lhe mais fel e vinagre para beber? Quão desleal e insincero eu tenho sido! O quanto tenho eu entristecido o Seu Espírito, negligenciado os Seus mandamentos reais, desprezado o Seu sangue! Isso abre uma veia de tristeza piedosa e faz o coração bater novamente. “Então, Pedro […] saindo dali, chorou amargamente” (Mt 26.75). Quando Pedro pensou em como Cristo afetuosamente o amava; em como ele havia sido levado até o monte da transfiguração, onde Cristo lhe mostrara a glória do céu em uma visão; pensar que ele havia negado a Cristo depois de ter recebido Dele tão notável amor, isso partiu o seu coração de tristeza; ele saiu e chorou amargamente.
Assim testemos o nosso amor a Deus. Nós vertemos as lágrimas da tristeza piedosa? Nós lamentamos a nossa dureza contra Deus, o nosso abuso de Sua misericórdia, a fato de não multiplicarmos os nossos talentos? Quão distantes estão de amar a Deus aqueles que pecam diariamente sem que isso golpeie o seu coração! Eles possuem um mar de pecados, e sequer uma gota de tristeza. Eles estão tão distantes de se preocuparem com isso, que fazem piada de seus pecados. “Quando tu fazes mal, então, andas saltando de prazer” (Jr 11.15, ARC). Ó miseráveis! Cristo sangrou pelo pecado, e vocês riem dele? Esses tais estão distantes do amor a Deus. Acaso ama o seu amigo aquele que ama causar-lhe dano?
Há duas coisas que são absolutamente essenciais para poder receber a salvação: a libertação da culpa e do castigo do pecado e a libertação do poder e da presença do pecado. Um se efetua na obra de reconciliação de Cristo, e o outro se realiza nas operações efetuadas do Espírito Santo. Um é o bendito resultado do que o Senhor Jesus fez para o povo de Deus, e o outro é a conseqüência gloriosa do que o Espírito Santo fez no povo de Deus. Um ocorre quando, depois de haver nascido como mendigo destituído, a fé toma posse de Cristo e, então, Deus o justifica de todas as coisas, e o pecador crente, receoso e penitente, recebe o perdão completo e gratuito. O outro sucede paulatinamente em diferentes etapas sob a divina bênção da regeneração, da santificação e da glorificação. Na regeneração, o pecado recebe sua ferida mortal ainda que não morra totalmente. Na santificação, mostra-se na alma regenerada a cova de corrupção que mora dentro dele e que lhe ensina a desprezar e odiar a si mesmo. Na glorificação, a alma e o corpo são libertados para sempre de todo vestígio e efeito do pecado.
A regeneração é absolutamente necessária para que uma alma entre no céu. Para poder amar as coisas espirituais, um homem tem de ser transformado espiritualmente. “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem” (2Ts 2.10). O homem natural pode ouvir estas coisas, porém não pode amá-las nem achar alegria nelas. Ninguém pode morar com Deus e estar feliz para sempre em Sua presença até que se tenha feito uma mudança radical nessa pessoa para realizar uma transformação do pecado à santidade; e essa mudança tem de se realizar aqui mesmo na terra.
Como alguém pode entrar no mundo de santidade inefável depois de haver passado toda sua vida em pecado (agradando-se dele)? Como poderá cantar o cântico do Cordeiro (Ap 15.3) se o coração não está sintonizado nele? Como poderá contemplar a grande majestade de Deus face a face se nem sequer houvera visto “pelo espelho na escuridão” com os olhos da fé? Tal como dóem os olhos de alguém quando sai a luz do sol do meio-dia depois de estar na escuridão, assim também será quando os inconversos contemplarem Aquele que é a luz. Em vez de querer tal visão, “todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele” (1.7). Sim, tão aterradora será sua angústia que clamarão aos montes e as rochas: “Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto Daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” (6.16). Meu querido leitor, essa será sua experiência a menos que Deus regenere você.
O que ocorre na regeneração é o contrário do que ocorreu na queda. A pessoa que nasce de novo é restaurada a uma união e comunhão com Deus por meio de Cristo e a operação do Espírito Santo: o que estava morto espiritualmente antes agora está vivo espiritualmente (Jo 5.24). Tal como a morte espiritual veio pela entrada de um princípio mau no ser do homem, da mesma maneira se introduz um princípio bom na vida espiritual. Deus lhe comunica um princípio novo, tão real e tão potente como é o pecado. Agora lhe é dada a graça divina, e uma disposição santa se desenvolve em sua alma. Dá-se lhe um espírito diferente ao homem interior. Porém não se criam novas faculdades dentro dele, mas, melhor que isso, se enriquecem suas faculdades originais, e essas adquirem nobreza e poder.
Uma pessoa regenerada é uma nova criatura (2Co 5.17). Meu caro leitor, isso se aplica a sua vida? Que cada um de nós se examine na presença de Deus a respeito destas perguntas! Como está meu coração a respeito do pecado? Existe uma humilhação profunda e uma tristeza segundo Deus, agora que me consagrei? Existe de modo genuíno ódio contra o pecado? Tenho uma consciência imatura para que me perturbem essas coisas que o mundo denomina “pequenas”? Sinto-me humilde quando estou consciente do surgimento do orgulho e da minha vontade própria? Aborreço as minhas corrupções internas? Estão os meus desejos mortos para o mundo e vivos para Deus? Em que medito em meu tempo livre? Parecem-me os exercícios espirituais tempos de alegria e prazer ou incômodos como uma pesada carga? Posso dizer: “Quão doces são ao meu paladar as Tuas palavras! Mais do que o mel na minha boca (Sl 119.103)”? É a comunhão com Deus meu maior gozo? É a glória de Deus mais preciosa para mim do que tudo o que o mundo me oferece?
Todas as bênçãos do Espírito nos foram dadas nas regiões celestiais em Cristo (Ef 1.3), do lado celestial da cruz. Ele “nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (2.3). Porque você foi plantado na morte de Cristo, agora você é unido a Ele na vida Dele. Assim, não é somente “Cristo em você” como sua vida interior, mas “você em Cristo” como sua circunferência, seu meio ambiente, sua esfera. Se você vive na esfera de Cristo, as pessoas com as quais você tem contato se encontram com Ele, pois Ele está envolvendo você. Freqüentemente usamos a expressão “no Senhor”, mas será que sabemos o que ela significa? Em Cristo nos tornamos novas criaturas, as coisas velhas passam e tudo se faz novo; todas as coisas são de Deus. Nós nunca lutamos para entrar nessa vida abençoada nem a aprendemos por nossos próprios esforços. A verdade é que Cristo já concluiu a obra. Somos nós que precisamos cessar com nossos esforços próprios e esconder-nos Nele por fé, dizendo: “Daqui em diante eu estou em Cristo. Ele é meu esconderijo. Estou disposto a deixar as coisas velhas passarem, e a confiar Nele dia a dia para tornar novas todas as coisas”.
(Jessie Penn-Lewis)
A melhor ferramenta de Deus em nossa vida é a ferramenta do sofrimento.
(Corrie ten Boom)
A oração é o pulsar da alma renovada, e a constância desse pulsar é o teste e a medida da vida espiritual.
(Octavius Winslow)
Deus pode encontrar sentido em uma oração confusa.
(Richard Sibbes)
Agora, eu concentro todas as minhas orações em uma, que é esta: que eu morra para mim mesmo e viva somente para Cristo.
(Charles H. Spurgeon)
É teu amigo aquele que te impulsiona para que estejas mais perto de Deus.
(Abraham Kuyper)
As Escrituras nos ensinam a melhor maneira de viver, a maneira mais nobre de sofrer e o modo mais confortável de morrer.