Os cristãos primitivos não tinham muitos privilégios e muitas vantagens dos quais nós desfrutamos. Eles não tinham livros impressos. Eles adoravam a Deus em covas, cavernas e câmaras superiores, tinham poucas e simples vestes eclesiásticas, e muitas vezes recebiam a Ceia do Senhor em vasos de madeira, e não de prata ou ouro. Eles tinham pouco dinheiro, não tinham doações às igrejas, nem universidades. Suas crenças eram pequenas. Suas definições teológicas eram escassas. Mas o que eles sabiam, sabiam bem. Eles foram homens de um Livro só. Eles sabiam em quem criam. Se eles tinham vasos comunitários de madeira, eles tinham ministros e professores de ouro. Eles “olhavam para Jesus” e notavam intensamente a personalidade de Jesus. Eles viviam para Jesus, e trabalhavam e morriam por Ele. Mas o que nós estamos fazendo?
(J. C. Ryle)
A cruz é o maior nivelador do universo. Ela leva cada um de nós à estaca zero e oferece um novo começo a toda humanidade.
(Watchman Nee)
Onde a razão não alcança pé, a fé pode nadar.
(Thomas Watson)
Eu gostaria, irmãos e irmãs, que todos imitássemos a ostra. Uma partícula irritante penetra-lhe a concha, e isso a irrita e a faz sofrer. Ela não consegue desfazer-se do mal, mas o que ela faz é “cobrir” aquilo que a irrita com uma substância de alto valor, extraída de sua própria vida, por meio da qual transforma aquele intruso numa pérola! Oh, que façamos o mesmo com as provocações que recebemos de nossos companheiros cristãos, de forma que as pérolas de paciência, docilidade e perdão sejam criadas dentro de nós por meio daquilo que, doutra forma, nos seria prejudicial.
(C. H. Spurgeon)
Os dois fundamentos que constituíam a vida e a alma dos fariseus era sua própria reputação e a reputação do partido a que pertenciam.
(John Owen)
Aprendam a não se agarrar a nenhum bem terreno e estejam prontos a abrir mão de qualquer coisa quando Deus a exigir de suas mãos. Alguns de vocês talvez tenham amigos que lhes são tão caros como a própria alma; e outros podem ter filhos a cuja vida sua própria vida está ligada. Todos têm seus Isaques, aquilo que lhes dá especial prazer. Eu lhes rogo, pelo amor a Deus, filhos e filhas de Abraão: esforcem-se para renunciar a eles a cada instante, por amor a Deus, de forma que, quando chegar o momento de Ele requerer que vocês realmente os sacrifiquem, vocês não consultem carne e sangue, assim como também não fez o bem-aventurado patriarca.
(George Whitefield)
Não posso garantir a todo aquele que lavra a terra que, infalivelmente, terá uma boa colheita; mas uma coisa posso dizer: Deus costuma abençoar o diligente e o prudente. Não posso dizer a todo aquele que deseja filhos: “Case e você terá filhos”. Não posso dizer com certeza absoluta ao que vai à guerra pelo bem de seu país que será bem-sucedido e obterá a vitória. Mas posso dizer, como Joabe: “Esforça-te, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades do nosso Deus, e faça o Senhor o que parecer bem aos Seus olhos” (1Cr 19.13). Não posso garantir que você obterá graça da parte de Deus; mas posso dizer a cada um e a todos: use os meios indicados por Deus, e confie o sucesso de seu esforço e sua própria salvação à boa vontade de Deus. Eu não posso garantir isso a você, pois não há como obrigar Deus a fazer alguma coisa. E, ao mesmo tempo, essa obra é fruto da vontade de Deus, de Seu soberano desígnio: “Segundo a Sua vontade, Ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18). A nós compete fazer aquilo que Deus ordenou, e deixar que Ele faça a vontade Dele. Eu nem precisaria dizer isso, pois o mundo todo, em tudo o que acontece, é guiado por esse princípio. Cumpramos nossas obrigações, entregando a Deus os resultados. A maneira normal de Deus agir é encontrar-se com a criatura que O busca. Sim, Ele já está conosco agora. O sincero uso dos meios de graça já é um autêntico indício da operação de Sua graça. Dessa forma, uma vez que Ele já está conosco, e não demonstrou nenhum empecilho ao nosso bem-estar, não temos razão para desesperar de Sua bondade e misericórdia. Em vez disso, temos toda razão para esperar o melhor em nosso favor.
Seria algo maravilhoso se todos os que professam o Evangelho pudessem, juntamente com o apóstolo, regozijar-se no testemunho da consciência, de que vivem em simplicidade e em sinceridade. Quantos males e escândalos seriam evitados! Mas, ah!, são tantos os que usam o nome de Cristo que parecem não ter a menor idéia dessa parte essencial do caráter cristão. Acredito que algumas poucas considerações sobre esse assunto tão pouco tratado nos serão de bom proveito. Aquele que está mais avançado na vida cristã ainda tem algo para aprender sobre isso; e, quanto mais avançarmos no assunto, maior será nossa paz interior e mais haverá de brilhar nossa luz diante dos homens, para glória de nosso Pai celestial.
A simplicidade e a sinceridade, embora sejam inseparáveis, não são a mesma coisa. A primeira é o fundamento que dá origem à segunda. A simplicidade, antes de tudo, diz respeito à disposição de nosso espírito à vista de Deus, enquanto a sinceridade diz respeito à nossa conduta observável por nossos semelhantes. É verdade, os termos são freqüentemente usados de modo intercambiável, e isso pode ocorrer sem provocar grandes erros; mas, como não são exatamente a mesma coisa, julgo adequado, se queremos falar corretamente, deixar bem clara essa distinção.
Algumas pessoas, mais encantadas com o nome simplicidade do que com a essência do que essa palavra significa, têm atribuído a ela o sentido de infantilidade no falar e no agir, como se entendessem a palavra simples apenas no sentido vulgar, como equivalente de tolo. Mas essa infantilidade produz autêntico desgosto naqueles que têm verdadeiro gosto pelas coisas de Deus e adequado juízo sobre elas. Uma simplicidade artificial ou aparente é uma contradição de termos, e difere tanto da simplicidade do Evangelho quanto a maquiagem difere da beleza.
A simplicidade verdadeira, que é a honra e a força de um crente, é o efeito de uma percepção espiritual das verdades do Evangelho. Ela surge da percepção que temos (e cresce à medida que essa consciência se intensifica) de nossa própria indignidade, do poder e da graça de Cristo e da grandeza de nosso comprometimento com Ele. À medida que o conhecimento dessas coisas passa a fazer parte de nossas vida e experiência, isso nos tornará simples de coração. Essa simplicidade pode ser considerada de duas formas: uma simplicidade de intenção e uma simplicidade de confiança. A primeira se opõe a nossas obras corruptas; a segunda, ao falso raciocínio incrédulo.
A simplicidade de intenção significa que temos somente um alvo, para o qual dirigimos e ao qual subordinamos todos os nossos desejos e tudo o que nos interessa, deliberadamente e sem reservas. Em resumo: que estamos devotados ao Senhor, e pela graça fomos capacitados a escolhê-Lo e a nos consagrar a Ele, de forma que nossa felicidade está em Seu favor, e fazemos da glória e da vontade Dele o supremo alvo de todas as ações. Ele é digno disso. Ele é o supremo bem. Só Ele é capaz de satisfazer a imensa capacidade que nos concedeu, pois Ele nos formou para Si mesmo. E, aqueles que já provaram que Ele é gracioso, sabem que Sua graça “é melhor do que a vida” (cf. Sl 63.3a), e que Sua presença e plenitude podem suprir a falta ou a perda de toda e qualquer necessidade pessoal.
Da mesma forma, Ele, com justiça, requer que sejamos totalmente Dele; pois, além de, como Suas criaturas, estarmos em Suas mãos como barro nas mãos do oleiro, Ele tem um documento de redenção para nós: Ele nos amou e nos comprou com Seu próprio sangue. Ele não hesitou nem vacilou entre dois pensamentos, quando se empenhou em redimir nossa alma da maldição da lei e do poder de Satanás. Ele, no momento de Sua agonia, poderia ter convocado legiões de anjos (se fosse necessário) para Lhe darem assistência ou poderia ter destruído Seus inimigos com uma palavra ou um simples olhar. Ele poderia facilmente ter-se salvado; mas como então teria sido salvo Seu povo ou como teriam se cumprido as promessas das Escrituras? Por essa razão, Ele voluntariamente suportou a cruz, Ele ofereceu as costas a Seus torturadores, Ele derramou Seu sangue, Ele renunciou à própria vida. Nele nós vemos uma admirável simplicidade de intenção!
“E nós, ó Amigo das almas,
não deveríamos ser simples de coração
e totalmente entregues a Ti?
Deveríamos recusar o cálice da aflição de Tua mão ou por Tua causa?
Ou deveríamos desejar beber o cálice do prazer pecaminoso,
quando lembramos o que nossos pecados custaram para Ti?
Devemos desejar ser amados pelo mundo que Te odiou
ou ser admirados pelo mundo que Te desprezou?
Devemos nos envergonhar de professar nossa ligação com um Salvador assim?
Não, Senhor, não permitas que isso aconteça!
Faze com que Teu amor nos constranja;
que Teu nome seja glorificado e Tua vontade seja feita, por nós e em nós.
Que consideremos todas as coisas como escória e esterco
pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Que não desejemos nada que Tu julgues por bem nos negar,
nem nos lamentemos por aquilo de que queres que abramos mão.
E que nem mesmo nos regozijemos naquilo que nos concederes,
a não ser que possamos aproveitá-lo para Ti;
e que sempre desejemos mais Teu amor do que nossa mais cara alegria!”
Essa é a linguagem do coração que foi abençoado com a simplicidade do Evangelho. Ele já foi a fortaleza do pecado, o trono do interesse próprio; mas agora o egoísmo foi destronado, e Jesus reina pelo cetro dourado do amor. Esse princípio preserva a alma das buscas inferiores, sórdidas e idólatras. Ele não admitirá nenhum rival perto do Amado, nem se renderá aos subornos e às ameaças do mundo.
Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo.
Há, igualmente uma simplicidade de confiança. A incredulidade está constantemente levantando objeções, ressaltando e multiplicando dificuldades. Mas a fé no poder e nas promessas de Deus inspira uma nobre simplicidade e lança sobre Ele cada preocupação, Ele que é capaz e se comprometeu a sustentar e a cuidar.
Dessa forma, quando Abraão, em obediência ao chamado de Deus, deixou sua terra e sua parentela, o apóstolo observa: ele “partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8). Para Abraão, era suficiente saber a quem estava seguindo: o Deus todo-suficiente era seu guia, seu escudo e seu grandíssimo galardão (Gn 15.1). Assim, quando forçado a esperar longamente pelo cumprimento de uma promessa, ele não se abalou, não discutiu nem duvidou, mas simplesmente dependeu de Deus, que tinha falado e que também era poderoso para cumprir o que prometera. De forma semelhante, quando recebeu a dura ordem de oferecer o próprio filho, a respeito do qual tinha sido dito: “Em Isaque será chamada a tua descendência”, ele simplesmente obedeceu e dependeu do Senhor para que cumprisse a própria palavra (Hb 11.18,19).
Foi nesse espírito que Davi saiu para enfrentar Golias, e o venceu. E dessa forma os três notáveis não temeram as ameaças de Nabucodonosor, escolhendo antes ser lançados numa fornalha acesa do que pecar contra o Senhor. E dessa forma Elias, num tempo de fome, foi preservado de preocupação e necessidade, e foi sustentado por meios extraordinários (1Rs 17.1-7).
Em nossos tempos, não ficamos na expectativa de milagres, no sentido estrito da palavra, mas aqueles que dependem de Deus de forma simples haverão de deparar-se com tais indicações de Sua intervenção em tempos de necessidade, o que, para eles pelo menos, será uma prova satisfatória de que Ele tem cuidado deles. Quão confortante é, e quão apropriado para nossa declaração de fé, ser capaz de confiar no Senhor na estrada do dever! Crer que Ele suprirá nossas necessidades, dirigirá nossos passos, defenderá nossa causa e controlará nossos inimigos! É isso que Ele prometeu, e faz parte do Evangelho a simplicidade de aceitar Sua palavra contra todo desânimo. Isso nos encorajará a usar todos os meios legítimos, porque o Senhor nos ordenou esperar Nele baseados em Sua Palavra; mas também haverá de inspirar confiança e esperança quando tudo parece falhar (Hc 3.17,18).
Quando não exercem essa dependência, muitos desonram sua profissão de fé, e chegam até a naufragar na fé. O coração deles não é simples; eles não confiam no Senhor; pelo contrário, apoiam-se no próprio entendimento, e suas esperanças e medos recebem influência de vermes como eles mesmos. Isso provoca uma duplicidade de conduta. Eles temem o Senhor, mas servem a outros deuses. Reparando na linguagem deles, às vezes se pensa que o desejo deles é servir apenas ao Senhor; mas, se ficam com medo de que Ele não vai protegê-los ou suprir-lhes as necessidades, fazem aliança com o mundo e procuram tanto segurança quanto vantagens em aquiescências pecaminosas. Eles não podem regozijar-se no testemunho de uma consciência boa. Vivem de forma miserável. Tentam reconciliar aquilo que o Senhor declarou ser totalmente incompatível: servir a Deus e ao dinheiro.
Eles conhecem o suficiente da religião ao ponto de seus interesses mundanos se tornarem desagradáveis, e têm tanta estima pelo mundo que isso os impede de receber qualquer bem-estar verdadeiro da religião. Esses são os mornos na fé, nem quentes nem frios: nem aprovados pelos homens nem aceitos por Deus. É possível que participem das ordenanças [batismo e Ceia do Senhor] e falem como cristãos, mas o gênio deles não é santificado e sua conduta é irregular e reprovável. Eles não são simples e, por essa razão, não podem ser sinceros.
Não preciso me dar ao trabalho de provar que o efeito da simplicidade será a sinceridade. Visto que aqueles que amam o Senhor acima de tudo, que preferem a luz do Seu rosto a milhares de ouro e prata, que foram capacitados a confiar Nele quanto a todas as preocupações e que preferem que Ele lhes controle a vida em vez de eles mesmos fazerem isso – esses serão pouco tentados à insinceridade. Os princípios e os motivos que regem a conduta deles são os mesmos tanto em público como em particular. O comportamento deles será íntegro, pois eles têm um só propósito. Eles falarão a verdade em amor, serão rigidamente pontuais nos negócios e tratarão os outros como gostariam de ser tratados. Porque essas coisas são essenciais para o grande alvo deles: glorificar seu Senhor e manter comunhão com Ele.
Um temor de desonrar Seu nome e de entristecer Seu Espírito os ensinará não só a evitar pecados grosseiros e conhecidos, mas a absterem-se de toda aparência de mal. A conduta deles, por isso, será consistente, e serão capacitados a dizer a todos os que os conhecem que “com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus” eles têm se conduzido no mundo (2Co 1.12).
Para um cristão sincero, o engano e a esperteza, que são considerados sabedoria no mundo, são considerados não apenas ilegítimos, mas também desnecessários. Ele não precisa de pequenos subterfúgios, evasivas e disfarces, pelos quais homens astuciosos se esforçam (embora muitas vezes em vão) para esconder seu verdadeiro caráter e fugir de merecido desprezo. Ele é o que parece ser, e por isso não teme ser descoberto. Ele anda na luz da sabedoria que é lá do alto e se apoia no braço do Todo-Poderoso; por isso, anda com liberdade, confiando no Senhor, a quem serve em espírito no evangelho de Seu Filho.
“De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, preparado para toda a boa obra” (2Tm 2.21).
Essas palavras são tomadas da última carta que o apóstolo Paulo, prisioneiro pela segunda vez em Roma, escreveu a Timóteo. Ele via a deterioração da Igreja e pressentia os tempos difíceis que se aproximavam; por isso, dava instruções a seu filho na fé sobre a maneira de conduzir-se em tempos de ruína. As exortações do grande apóstolo das nações têm, pois, particular importância para nós, os crentes que vivemos em tempos maus.
Em primeiro lugar, o que é um vaso? É um recipiente que serve para conter algo ou simplesmente para adornar. Muitas vezes, a Palavra de Deus compara o homem a um vaso. Como o barro nas mãos do oleiro, assim é o homem nas mãos de Deus, o qual tem o poder para fazer da mesma massa um vaso para honra e outro para usos vis (Jr 18.4-6; Rm 9.21). Em Sua graça, Deus chama o homem – por natureza, pecador e perdido – para lhe dar a salvação e a vida eterna. Deus busca vasos vazios para enchê-los de Si mesmo, de Seu Espírito, como Eliseu, o profeta da graça, se regozijava de que a viúva pobre enchesse de azeite as vasilhas que havia reunido conforme seu pedido (2Rs 4.4).
O crente não somente é comparado a um vaso de barro, o que é muito apropriado para nos dar a entender quão débeis somos, mas também, no que se refere a sua posição diante de Deus, a um vaso de ouro, de prata ou mesmo de bronze polido (2Tm 2.20; Ed 8.27). Redimido pelo sangue de Cristo e revestido da justiça de Deus, o crente é, de fato, um vaso de valor que deve brilhar para a glória de Deus, já aqui na terra, esperando fazê-lo de modo perfeito quando o Senhor for glorificado em Seus santos e admirado em todos os que creram Nele (1Ts 1.10). Deus preparou de antemão esses vasos de misericórdia para o céu, “para que também desse a conhecer as riquezas de Sua glória” (Rm 9.23). Todas as Suas perfeições em graça, bondade, fidelidade, paciência, longanimidade e poder, todo o alcance de Seu amor, serão manifestados nos santos glorificados.
O propósito de Deus ao eleger e preparar vasos para Sua glória é empregá-los para Seu serviço. Assim, separou o apóstolo Paulo como um “vaso escolhido, para levar Meu nome diante dos gentios” (At 9.15). Deus tem resplandecido no coração dos Seus e se tem revelado a eles na pessoa de Cristo para que eles, por sua vez, mostrem algo Dele no modo como vivem.
O crente é refinado pelo fogo da prova, qual metal precioso, para que o fundidor obtenha dele uma jóia
Porém, muitas vezes, os crentes guardam para si mesmos o tesouro que lhes Deus tem posto no coração. Então, Deus permite que o corpo deles, esse vaso de barro, seja quebrado, como foram as vasilhas dos homens valentes de Gideão (Jz 7.19,20), para que a luz brilhe mais exteriormente. Quanto mais débil for o instrumento, mais claro estará que a excelência do poder é de Deus, não do homem (2Co 4.6,7). O crente é refinado pelo fogo da prova, qual metal precioso, para que o fundidor obtenha dele uma jóia (Pv 25.4).
De acordo com 2Timóteo 2.21, duas condições são requeridas para que o utensílio ou vaso possa ser útil ao Senhor: é necessário que ele seja para uso honroso e que tenha sido santificado. O que deseja ser um vaso útil deve apartar-se da iniqüidade, isto é, de tudo o que não é conforme a verdade. Um crente se torna um utensílio para usos honrosos separando-se, purificando-se dos vasos para usos vis. Deus permite que essa mistura de utensílios para usos tão distintos subsista na cristandade a fim de provar o coração dos fiéis. Para que um vaso possa ser usado é exigido que, além de ser novo – imagem da nova natureza –, tenha sal (2Rs 2.20), isto é, que haja uma verdadeira separação, que tenha sido posto à parte para Deus.
Também é preciso que o vaso tenha sido santificado e consagrado a Deus. No que diz respeito a sua posição, todos os crentes são santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre (Hb 10.10,14). Mas, no tocante ao andar diário, somos exortados a nos limpar “de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus” (2Co 7.1). O crente deve ocupar-se dessa santificação. Mediante o poder do Espírito que mora nele, deve combater e vigiar constantemente.
Por uma lado, a Palavra de Deus exercerá sua ação santificadora sobre ele, pois o Senhor mesmo disse: “Santifica-os em Tua verdade”, e acrescentou: “Tua Palavra é a verdade” (Jo 17.17). Por outra lado, a oração o guardará no necessário estado de dependência. Recordemos que um vaso consagrado a Deus não pode se destinar a um uso profano, como o prova o juízo que caiu sobre o ímpio Belsazar no dia em que fez trazer os vasos procedentes do templo de Salomão a fim de beber com seus grandes e adorar seus deuses (Dn 5).
Na medida em que o crente for constante em santificar-se, em consagrar-se a Deus, será um instrumento útil ao Senhor, e não somente útil, mas preparado para toda boa obra. Essas boas obras são o fruto da fé; são a manifestação da vida divina nas circunstâncias de cada dia. Alguém disse que as boas obras são o fruto da separação e do amor. Deus, que preparou os vasos, também preparou de antemão as boas obras “para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
Sejam elas feitas para o Senhor, para os cristãos ou para os homens em geral, devem ser feitas em nome de Cristo e para Deus; isso é o que lhes confere o caráter de boas obras. Cristo “se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade e purificar para Si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Quando o coração está consagrado e ama o Senhor acima de tudo, então, está preparado para toda boa obra. Mesmo que o serviço seja pequeno, insignificante aos olhos dos homens, nem por isso o crente duvidará de fazê-lo com alegria. O próprio Senhor prepara o caminho; devemos apenas percorrê-lo com a força que Deus dá.
O pequeno valor que damos a nossa oração torna-se evidente pelo tempo que dedicamos a ela.
(E. M. Bounds)
Orações frias sempre se congelam antes de alcançar o céu.
(Thomas Brooks)
O segredo de uma vida pura é ter pensamentos puros.
(John Stott)
A pobreza e a aflição roubam o combustível que alimenta o orgulho.
(Richard Sibbes)
As flores são boas, mas as almas famintas preferem pão. Fazer alegorias como Orígenes pode espantar as pessoas, mas seu trabalho é encher-lhes a boca com a verdade, não fazer com que se abram de admiração.
(Charles H. Spurgeon)
Prefiro ser plenamente compreendido por dez a ser admirado por dez mil.
(Jonathan Edwards)
A popularidade tem matado mais profetas do que a perseguição.
(Vance Havner)
Dêem-me cem pregadores que não temam nada a não ser o pecado e não desejem nada a não ser Deus, e eu não darei a mínima atenção ao fato de serem eles ministros ou leigos; sozinhos abalarão as portas do inferno e implantarão o reino dos céus na terra.
Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento.
(François Fenelon)
O pecado deve ser ocasião para grande tristeza, quando não há tristeza em pecar.
(John Owen)
A fé não elimina as dúvidas. Mas a fé sabe para onde levá-las.
(Elisabeth Elliot)
Será que nos encontramos num padrão tão inferior ao dos cristãos neotestamentários que não possuímos mais a fé dos nossos antepassados (com todas as suas realizações e implicações), mas somente a fé emocional de nossos contemporâneos? A oração é para o crente o que o capital é para um homem de negócios. Não se pode negar que a maior preocupação da igreja hoje são as finanças. E, no entanto, esse problema que tanto inquieta as igrejas modernas era o que menos perturbava a do Novo Testamento. Hoje damos mais ênfase à contribuição; eles a davam à oração.
(Leonard Ravenhill)
Nada que não seja decorrente do amor pessoal a Cristo e da comunhão com Ele pode ter algum valor. Podemos saber de cor as Escrituras, pregar com eloqüência e fluência consideráveis, com uma fluidez que as pessoas podem facilmente até confundir com poder de Deus. Mas não devemos nos enganar: se nosso coração não beber profundamente da fonte principal, se o que nos incentiva não é o amor de Cristo que brota de uma realidade prática, o resultado de tudo isso será algo fugaz, passageiro!
(C. H. Mackintosh)
Mate o pecado antes que ele o mate.
(Richard Baxter)
O homem, cujo tesouro é o Senhor, tem todas as coisas concentradas Nele. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas, mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído que nunca é necessário a sua felicidade. E, se lhe acontecer de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não experimentará sensação de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em Quem encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não se importa com a perda, já que, em realidade, nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa – Deus – de maneira pura, legítima e eterna.
(A. W. Tozer)
A vida de Cristo é o modelo a que os cristãos devem se moldar: primeiro sofrer; então, entrar na glória.
Nosso pai foi Adão; nosso avô, o pó; nosso bisavô, o nada.
(William Jenkyn)
Se me contentar em ser nada, não posso ficar ofendido. E, quando for realmente humilde e reconhecer que não passo de um verme, não me queixarei de ser pisado.
(Robert C. Chapman)
Eu me confio totalmente [a Cristo,] a Ele que se dispôs a salvar-me, que sabia como realizar Seu propósito e tinha poder para desempenhar-se da tarefa. Ele tanto me buscou como me chamou por Sua graça.
(Bernard de Clairvaux)
Os santos [os cristãos], por melhor que sejam, não passam de estranhos quando comparados ao peso e à preciosidade da doçura incomparável de Cristo.
(Samuel Rutherford)
Ele, que é o Pão da vida, iniciou Seu ministério tendo fome. Ele, que é a Água da vida, terminou Seu ministério tendo sede. Cristo teve fome como homem e alimentou os famintos como Deus. Ele se sentiu cansado; contudo, é nosso descanso. Pagou tributo; no entanto, é o Rei. Foi chamado de demônio, mas lança fora nossos demônios. Orou; contudo, ouve nossas orações. Chorou, e enxuga nossas lágrimas. Foi vendido por trinta moedas de prata, e redime o mundo. Foi levado como ovelha para o matadouro, e é o Bom pastor. Cristo morreu e deu Sua vida, e, por ter morrido, destruiu a morte.
(Autor desconhecido)
Nunca pense que Deus precisa de um homem com qualidades como você. É você quem precisa de Deus.
(Henry Vögel)
Existe algo sob o sol
que quer meu coração ganhar.
Longe de mim, seja o que for!
Tu tão-somente reinarás.
Meu coração se há de livrar
da terra, e em Ti repousará.
Ah, se pudéssemos sentir-nos mais preocupados com o estado de inanição em que se encontra hoje a causa de Cristo na terra, com os avanços do inimigo em Sião e com a devastação que o diabo tem efetuado nele! Mas infelizmente um espírito de indiferença vem imobilizando muitos de nós.
(A.W. Pink)
Dá-me o tipo de amor que segue à frente de todos, a fé que não desanima à vista de nada, a esperança que não morre mesmo sofrendo decepções, o fervor que arde como fogo. Que eu nunca fique estagnada como um torrão no chão. Torna-me o Teu combustível, Chama Divina!
(Amy Carmichael)
Como você tem reagido nas horas de aflição? Você está bebendo da taça do tremor, sentindo-se débil, sem poder para resistir ao inimigo? É hora de sacudir as amarras pesadas e levantar mãos santas em louvor a seu Redentor. Você está livre, não importa qual seja a prova – então, alegre-se e se regozije, sabendo que o Quarto Homem está na fornalha com você. Cristo se revelará em seu sofrimento, e o fogo queimará todas essas cordas que lhe atam.
(David Wilkerson)
Quando buscamos a Deus em oração, o diabo sabe que estamos querendo mais poder para lutar contra ele, e por isso procura lançar contra nós toda a oposição que é capaz de arregimentar.
(Richard Sibbes)
O principal requisito de um missionário não é, como temos ouvido tantas vezes, ter paixão pelos perdidos, mas ter amor por Cristo.
(Vance Havner)
A natureza da salvação de Cristo é deploravelmente deturpada pelos evangelistas de hoje. Eles anunciam um Salvador do inferno em vez de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do lago de fogo que não têm nenhum desejo de ficar livres de sua carnalidade e de seu mundanismo.
(A. W. Pink)
As riquezas do ministério na Palavra serão proporcionais às provações pelas quais passarmos. Somente podemos dispensar aos filhos de Deus aquilo que tivermos ganho pela experiência. Somente podemos transmitir a eles o que efetivamente aprendemos do próprio Deus.
Se eu não tiver compaixão de meus colegas, como o Senhor teve compaixão de mim, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se posso ferir o outro ao falar a verdade, mas sem me preparar espiritualmente e sem sentir mais dor do que o outro, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se os elogios dos outros me alegram demais e as acusações me deprimem; se não posso passar por mal-entendidos sem me defender; se gosto de ser amada mais do que de amar, de ser servida mais do que de servir, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se quero ser conhecida como quem acertou em uma decisão ou como quem a sugeriu, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se eu ficar no lugar que pertence apenas a Jesus, fazendo-me necessária demais para uma pessoa, em vez de levá-la a se agarrar Nele, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se eu me recusar a ser um grão de trigo que cai na terra e morre, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se eu quero qualquer lugar no mundo a não estar no pó ao pé da cruz, então, não conheço nada do amor do Calvário.
Se me ressinto com aqueles que, segundo meu parecer, me censuram injustamente, esquecendo que, se me conhecessem tanto como eu, me censurariam muito mais, então, não conheço nada do amor do Calvário.
A história da vida de Amy Carmichael foi descrita pelo autor da sua biografia como “A história de uma amante e seu Amado”. Um escritor cristão disse a seu respeito: “A santa enferma, um soldado da Índia”. Ela conheceu o caminho do sofrimento, levando indiscutivelmente em seu corpo as marcas do Senhor Jesus.
A autora foi a primeira missionária enviada à Índia pela Convenção de Keswick, da Inglaterra. Tendo passado quase a vida inteira naquele país, o brilho do grande amor de Deus irradiou-se por meio de todo o seu ser. Se for perguntado a seus “filhos”, aos membros da “Dohnavur Fellowship”, o que mais os impressionou em Amy Carmichael, a resposta é sempre a mesma: “Seu amor”.
(Revisado por Francisco Nunes. Este artigo pode ser distribuído e usado livremente, desde que não haja alteração no texto, sejam mantidas as informações de autoria, tradução, revisão e fonte e seja exclusivamente para uso gratuito. Preferencialmente, não o copie em seu sítio ou blog, mas coloque lá um link que aponte para o artigo.)
Há algumas de suas virtudes que nunca seriam descobertas se não fossem as provações que você experimentou.
(C. H. Spurgeon)
Uma fé provada é uma fé fortalecida. Por meio das provas aprendemos a conhecer nossas próprias debilidades, mas também a fidelidade de Deus, Seus ternos cuidados, mesmo nas dificuldades que nos envia, para que possamos atravessá-las com Ele.
(John Nelson Darby)
Deus, envia-me para qualquer lugar, desde que vás comigo. Coloca qualquer carga sobre mim, desde que me carregues, e desata todos os laços de meu coração, menos o laço que prende o meu coração ao teu.
(David Livingstone)
Muitos de nós estão buscando seus próprios objetivos, e Jesus Cristo não pode servir-se de nossa vida. Se nos entregamos totalmente a Jesus, não temos mais objetivos próprios.
(Oswald Chambers)
Confie nisto: o trabalho de Deus feito da maneira de Deus nunca sofrerá falta de recursos.
(J. Hudson Taylor)
Não coloque a leitura da Bíblia de lado até encontrar seu coração aquecido… Deixe que ela não apenas o informe, mas o inflame.
(Thomas Watson)
Quem entregou Jesus para morrer? Não foi Judas, por dinheiro; nem Pilatos, por medo; nem os judeus, por inveja; mas o Pai, por amor!
Toda sexta-feira, uma pequena lista de artigos cuja leitura recomendamos. Além disso, indicaremos também uma mensagem e um hino para serem ouvidos. Nosso desejo é que lhe sejam úteis para aprofundar seu conhecimento do Senhor, para capacitar você a servi-Lo melhor e para despertar em você mais amor por Ele.
É sempre importante relembrar o que dizemos em Sobre este lugar: as indicações a um autor ou a alguma fonte não implica aprovação total ou incondicional de tudo o que é ali ensinado nem indicado em outros links ou em vídeos relacionados, etc; indica, outrossim, que naquele artigo específico há conteúdo bíblico a ser apreciado.
Artigos que merecem ser lidos
Ashley Madison: Infidelidade. O que a revelação de dados de usuários de um sítio de adultério revela sobre todos nós.
A perda da masculinidade nos nossos dias, por Paul Washer. Meninos que querem viver como homens sem serem homens. Homens que querem continuar se comportando como meninos. O que a Bíblia tem a dizer sobre ser homem? E por que isso é tão fundamental para a saúda da família e da igreja?
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
tudo, sim, por Ti darei.
Resoluto, mas submisso,
sempre sempre seguirei.
Coro
Tudo entregarei, tudo entregarei;
Sim, por Ti, Jesus bendito, tudo entregarei.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
corpo e alma eis aqui.
Este mundo mau renego,
ó Jesus, me aceita a mim!
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego,
quero ser somente Teu.
Tão submisso à Tua vontade,
como os anjos lá no céu.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego.
Oh! Eu sinto Teu amor
transformar a minha vida
e meu coração, Senhor.
Tudo, ó Cristo, a Ti entrego –
oh, que gozo, meu Senhor!
Paz perfeita, paz completa,
glória, glória ao Salvador!
História
Judson W. Van DeVenter foi criado em um lar cristão. Aos 17 anos, creu no Senhor Jesus. Na universidade, graduou-se em arte e trabalhou como professor e administrador de arte do ensino médio. Viajou muito, visitando várias galerias de arte em toda a Europa.
Van DeVenter também estudou e ensinou música. Ele dominava 13 instrumentos diferentes, cantava e compunha. Ele estava muito envolvido no ministério de música da igreja metodista episcopal de que participava. Então, ficou dividido entre a carreira docente bem-sucedida e seu desejo de fazer parte de uma equipe evangelística. Essa luta interior durou quase cinco anos.
Em 1896, Van DeVenter estava conduzindo a música de um evento da igreja. Foi durante essas reuniões que ele finalmente rendeu seus desejos completamente a Deus: ele tomou a decisão de se tornar evangelista de tempo integral. Ele mesmo narra:
A canção foi escrita enquanto eu estava conduzindo uma reunião em East Palestine, Ohio (EUA), na casa de George Sebring (notável evangelista, fundador da Conferência Bíblica Campmeeting Sebring, em Sebring, Ohio, e mais tarde desenvolvedor da cidade de Sebring, Florida). Por algum tempo, eu tinha lutado entre desenvolver meus talentos no campo da arte e ir para o trabalho evangelístico em tempo integral. Por fim, a hora crucial de minha vida veio, e eu entreguei tudo. Um novo dia se iniciou em minha vida. Eu me tornei evangelista e descobri, no fundo de minha alma, um talento até então desconhecido para mim. Deus havia escondido uma canção em meu coração e, tocando um doce acorde, Ele me fez cantar.
Ao se submeter completamente à vontade de seu Senhor, uma canção nasceu em seu coração.
Winfield Scott Weeden publicou vários livros de música religiosa, mas esta canção parece ter sido sua favorita: o título dela está gravado em sua lápide.
“Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno” (1Rs 17.13).
A época era sombria. Por causa dos pecados de Acabe, rei de Israel, a fome assolava o país. O profeta de Deus permanecia escondido, assim como outros cem profetas. Além disso havia entre o povo sete mil homens conhecidos somente por Deus que não haviam dobrado os joelhos diante de Baal, o falso deus (19.18).
Os recursos faltavam por todo lado; no entanto, em uma família fora dos limites do país, não o alimento diário para toda a casa. Durante todo um ano, “da panela a farinha não se acabou e da botija o azeite não faltou, conforme a palavra do Senhor, que Ele falara pelo ministério de Elias” (v. 16). De onde provinha essa abundância? Era claramente uma bênção material; no entanto, segundo os ensinamentos da Palavra de Deus, podemos tomá-la em seu aspecto espiritual: a farinha nos lembra das perfeições do Senhor Jesus; o azeite é figura do Espírito Santo.
Por que justamente nessa casa, ao contrário de tantas outras, havia alimento e sustento? Um dia, o homem de Deus havia encontrado essa viúva e lhe havia pedido um pouco de água e um pedaço de pão. A água escasseava, mas ela estava disposta a dá-la; no entanto, o pão faltava totalmente. Ela não tinha mais que um punhado de farinha e um pouco de azeite. Assim, a morte os esperava, a ela e a seu filho. O profeta lhe disse: “Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui” (v. 13). Como? Desse pouco que lhe sobrava, de seus últimos recursos, devia preparar algo para o profeta, sem deixar nada para ela e seu filho? Sim, e era necessária a fé, a fé na palavra de Deus pronunciada por Seu servo. “Ela foi e fez conforme a palavra de Elias” (v. 15). Esse foi o segredo da bênção.
“Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno”. O Senhor não nos tem feito freqüentemente este pedido? “Ao começar o dia, reserva primeiramente um momento para estar a Meus pés e ouvir Minha voz; para fazer silêncio e dizer como outrora disse o jovem Samuel: ‘Fala, porque o Teu servo ouve’ (1Sm 3.10)”. E no transcorrer de nossas ocupações comuns, provavelmente temos ouvido com freqüência uma voz nos dizer: “Você pensa primeiramente no Senhor?” Pode tratar-se de um assunto relativo à retidão, de realizar um trabalho com esmero, de prestar um serviço a favor de alguém, de pronunciar uma palavra ou, antes, de calar. Busquemos primeiramente a vontade do Senhor quando estamos diante de uma escolha, seja para o trabalho profissional ou com relação a reunir-se ao redor do Senhor, fazer um gasto supérfluo ou dedicar esse dinheiro para o Senhor e Sua obra ou a favor de algum necessitado…
“Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno”. Parece pouca coisa; no entanto, um punhado de farinha e um pouco de azeite era muito para a viúva, pois era todo o sustento que tinha (comp. Lc 21.4). Quanto o profeta apreciou isso, e muito mais o próprio Deus! “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito” (16.10). Pode ser um escrito, uma palavra, uma oração que primeiramente tivemos o desejo de apresentar a Ele. E, se não tomamos o cuidado de fazê-lo, que perda!
A entrega de si mesmo nada mais é do que o simples fato de pôr à disposição constante de Deus aquilo que Lhe pertence.
“Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno”. “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2.18). É bom, sem dúvida, expressar sua confiança em Deus, cantar hinos que celebrem Sua bondade e Sua fidelidade, mas a fé não consiste somente em palavras: ela se traduz em atos. Por exemplo: um jovem, em meio a seus estudos na época de provas, consagrará o domingo, dia do Senhor, ao Senhor ou aos estudos? Se ele dá provas de sua fé entregando primeiramente a Deus o lugar que Lhe pertence e deixando seu próprio trabalho para os dias da semana, certamente ele será recompensado. À primeira vista, é uma perda, como parecia acontecer com a farinha e o azeite da viúva. Mas Deus pode resolver uma prova ou um trabalho igual ou melhor se, por a Ele, Lhe é reservado o tempo que Ele pede, mesmo que essas horas tenham sido “perdidas” no que diz respeito ao estudo.
“Faze dele primeiro para mim um bolo pequeno”. Pela voz do profeta ouvimos a voz do Senhor e Seu desejo de que façamos primeiramente para Ele. As Escrituras relatam que os macedônios “se deram primeiramente ao Senhor” (2Co 8.5). Este é o ponto importante do assunto: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Pv 23.26). O punhado de farinha e o azeite no fundo de uma vasilha representavam todos os recursos da viúva. Dando-os primeiramente ao profeta, a viúva não tinha nada além da morte diante dela… ou a salvação de Deus. De fato, colocando-nos verdadeira e inteiramente à disposição do Senhor Jesus, conscientes de que fomos “comprados por preço” (1Co 6.20), parece que perdemos a vida ao entregá-la ao Senhor, mas “qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará” (Mc 8.35). E essa entrega de si mesmo (que nada mais é do que o simples fato de pôr à disposição constante de Deus aquilo que Lhe pertence) se traduzirá, não por explosões de entusiasmo ou por sonhos de missões em terras distantes, mas pelo primeiro lugar que corajosamente Lhe daremos nos detalhes de nossa vida. Talvez seja um “bolo pequeno”, mas é o segredo da bênção que nos acompanhará dia após dia até que, tendo passado a “fome”, entraremos na casa do Pai.
G. A.
“Para que em tudo [Jesus Cristo] tenha a preeminência” (Cl 1.18).
Quando Deus nos pede que façamos qualquer coisa (como, neste caso, a de alimentar o profeta Elias), ao mesmo tempo nos dá tudo o que é necessário para cumprir. Mas deve-se estar disposto a fazer primeiramente e sem discutir o que Deus pede. É o que nos ensina esse pequeno bolo, prova da fé daquela mulher e “primícias” de uma abundância divina em sua casa.